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379 ARTICULOS R. interam. Psicol. 41(2), 2007 Revista Interamericana de Psicología/Interamerican Journal of Psychology - 2007, Vol. 41, Num. 3 pp. 379-390 O presente trabalho situa-se no domínio da psicologia social, a área do conhecimento científico que tem por objeto de estudo os processos de interação social (Maisonneuve, 1993a; Rodrigues, Assmar, & Jablonski, 1999), uma ciência de fronteira entre psicologia e sociologia (Maisonneuve, 1993b) que visa caracterizar e explicar as influências mútuas entre os indivíduos e a realidade dos grupos sociais de que fazem parte, ou, em última instância, a sociedade. Considerando-se que a psicologia social, por ser uma ciência “híbrida”, ocupa uma posição de intersecção entre psicologia e sociologia, abre-se também a possibilidade de concepção de projetos distintos para essa área do conhecimento, situados mais próximos de um ou de outro pólo do contínuo indivíduo – sociedade. É pertinente levar em conta a noção de níveis de análise para compreender as peculiaridades entre os estudos característicos dessas duas psicologias sociais. Ao buscar conectar as realidades dos fenômenos psicológicos e sociológicos, os psicólogos sociais explicam a interação social com base em processos situados em posições distintas desse contínuo. Assim, é Representações Sociais, Representações Individuais e Comportamento João Fernando Rech Wachelke 1 Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Brigido Vizeu Camargo Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Resumo Este trabalho é uma revisão da literatura sobre a teoria das representações sociais. Tem por objetivo apresentar um entendimento global acerca da teoria e do fenômeno das representações sociais e da relação entre indivíduo e grupo na teoria, mais especificamente as relações entre representações sociais e individuais e as relações entre representações sociais e comportamento. Tomam-se como base estudos empíricos e ensaios teóricos publicados na literatura científica internacional. Conclui-se que a teoria possui características que a aproximam de um paradigma de pesquisa e indica-se a relevância de investigar de modo mais aprofundado os efeitos de contextos interacionais com objetos sociais e relações entre pensamento social e individual. Palavras-chave: teoria das representações sociais; cognição social; pensamento social; comportamento social; representações individuais. Social Representations, Individual Representations and Behavior Abstract This paper is a bibliographical review about social representations theory. Its objective is to present a global understanding about the theory and phenomenon of social representations, as well as the relationship given by individual and group in the theory, more specifically the relationships between social and individual representations and the relationships between social representations and behavior. Empirical studies and theoretical essays published in scientific international literature are taken as a basis. It is concluded that the theory has characteristics that make it close to a research paradigm and the relevance of investigating in depth the effects of interaction contexts with social objects and relationships between social and individual thinking is indicated. Keywords: social representations theory; social cognition; social thinking; social behavior; individual representations. possível lidar com considerar 1) processos intra-individuais; 2) processos interindividuais e situacionais; 3) processos que sofrem influência de posições na esfera social, como variáveis intervenientes, em situações de interação; e 4) processos que empregam concepções gerais difundidas na sociedade (Doise, 1984). A articulação de níveis de análise em estudos sociopsicológicos fornece uma compreensão mais ampla dos fenômenos de interação social e permite uma maior cobertura dos estudos orientados por teorias sociopsicológicas específicas. A teoria das representações sociais é uma forma sociológica de psicologia social (Farr, 1998), contextualizada numa perspectiva européia com ênfase no estudo das relações intergrupais e numa abordagem cultural e societal dos processos sociopsicológicos (Farr, 1994). A teoria das representações sociais reapresenta um problema que já é, historicamente, de interesse de outras ciências humanas, como a história, antropologia e sociologia (Jodelet, 2001). É uma teoria científica sobre os processos através dos quais os indivíduos em interação social constroem explicações sobre objetos sociais (Vala, 1996). O primeiro estudo orientado por essa perspectiva foi realizado por Moscovici (1961) durante a década de 50, voltado a descrever conhecimentos partilhados pelos diversos setores da sociedade francesa sobre um novo tipo de conhecimento científico e práticas 1 Endereço: R. Octavio Lebarbenchon, 69. Santa Mônica. Florianópolis – SC – Brasil. CEP 88037-290. Telefone: (55 - 48) 3233-3785. E-mail: [email protected]. Este artigo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil

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  • 379ARTICULOS

    R. interam. Psicol. 41(2), 2007

    Revista Interamericana de Psicologa/Interamerican Journal of Psychology - 2007, Vol. 41, Num. 3 pp. 379-390

    O presente trabalho situa-se no domnio da psicologiasocial, a rea do conhecimento cientfico que tem por objetode estudo os processos de interao social (Maisonneuve,1993a; Rodrigues, Assmar, & Jablonski, 1999), uma cinciade fronteira entre psicologia e sociologia (Maisonneuve,1993b) que visa caracterizar e explicar as influncias mtuasentre os indivduos e a realidade dos grupos sociais de quefazem parte, ou, em ltima instncia, a sociedade.

    Considerando-se que a psicologia social, por ser umacincia hbrida, ocupa uma posio de interseco entrepsicologia e sociologia, abre-se tambm a possibilidade deconcepo de projetos distintos para essa rea doconhecimento, situados mais prximos de um ou de outroplo do contnuo indivduo sociedade. pertinente levarem conta a noo de nveis de anlise para compreender aspeculiaridades entre os estudos caractersticos dessas duaspsicologias sociais. Ao buscar conectar as realidades dosfenmenos psicolgicos e sociolgicos, os psiclogossociais explicam a interao social com base em processossituados em posies distintas desse contnuo. Assim,

    Representaes Sociais,Representaes Individuais e Comportamento

    Joo Fernando Rech Wachelke1Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil

    Brigido Vizeu CamargoUniversidade Federal de Santa Catarina, Brasil

    ResumoEste trabalho uma reviso da literatura sobre a teoria das representaes sociais. Tem por objetivo apresentarum entendimento global acerca da teoria e do fenmeno das representaes sociais e da relao entre indivduoe grupo na teoria, mais especificamente as relaes entre representaes sociais e individuais e as relaes entrerepresentaes sociais e comportamento. Tomam-se como base estudos empricos e ensaios tericos publicadosna literatura cientfica internacional. Conclui-se que a teoria possui caractersticas que a aproximam de umparadigma de pesquisa e indica-se a relevncia de investigar de modo mais aprofundado os efeitos de contextosinteracionais com objetos sociais e relaes entre pensamento social e individual.Palavras-chave: teoria das representaes sociais; cognio social; pensamento social; comportamento social;representaes individuais.

    Social Representations, Individual Representations and Behavior

    AbstractThis paper is a bibliographical review about social representations theory. Its objective is to present a globalunderstanding about the theory and phenomenon of social representations, as well as the relationship given byindividual and group in the theory, more specifically the relationships between social and individual representationsand the relationships between social representations and behavior. Empirical studies and theoretical essayspublished in scientific international literature are taken as a basis. It is concluded that the theory has characteristicsthat make it close to a research paradigm and the relevance of investigating in depth the effects of interactioncontexts with social objects and relationships between social and individual thinking is indicated.Keywords: social representations theory; social cognition; social thinking; social behavior; individualrepresentations.

    possvel lidar com considerar 1) processos intra-individuais;2) processos interindividuais e situacionais; 3) processosque sofrem influncia de posies na esfera social, comovariveis intervenientes, em situaes de interao; e 4)processos que empregam concepes gerais difundidas nasociedade (Doise, 1984).

    A articulao de nveis de anlise em estudossociopsicolgicos fornece uma compreenso mais ampla dosfenmenos de interao social e permite uma maior coberturados estudos orientados por teorias sociopsicolgicasespecficas. A teoria das representaes sociais uma formasociolgica de psicologia social (Farr, 1998), contextualizadanuma perspectiva europia com nfase no estudo das relaesintergrupais e numa abordagem cultural e societal dos processossociopsicolgicos (Farr, 1994).

    A teoria das representaes sociais reapresenta um problemaque j , historicamente, de interesse de outras cincias humanas,como a histria, antropologia e sociologia (Jodelet, 2001). umateoria cientfica sobre os processos atravs dos quais osindivduos em interao social constroem explicaes sobreobjetos sociais (Vala, 1996). O primeiro estudo orientado poressa perspectiva foi realizado por Moscovici (1961) durantea dcada de 50, voltado a descrever conhecimentospartilhados pelos diversos setores da sociedade francesasobre um novo tipo de conhecimento cientfico e prticas

    1 Endereo: R. Octavio Lebarbenchon, 69. Santa Mnica. Florianpolis

    SC Brasil. CEP 88037-290. Telefone: (55 - 48) 3233-3785. E-mail:[email protected]. Este artigo foi financiado pelo Conselho Nacionalde Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) do Brasil

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    profissionais que se difundia no pas: a psicanlise. Foramestudados os modos pelos quais o conhecimento cientfico apropriado pelo conhecimento leigo.

    Para explicar os sistemas de conhecimento especficosde categorias sociais da Frana, mais precisamente de Paris,investigados por meio de questionrios direcionados aamostras representativas de grupos profissionais e por umaanlise de contedo de meios de comunicao, Moscovicirevitalizou o conceito de representao coletiva, inspirando-se em Durkheim. A mudana do termo representao coletivapara representao social ocorreu com a finalidade deressaltar uma mudana de postura. O novo termo passou aindicar um fenmeno, enquanto o termo tradicional indicavaum conceito. Assim, seria tarefa da psicologia social explicaresse fenmeno (Moscovici, 2003).

    O que proposto pela teoria das representaes sociais um estudo cientfico do senso comum. Por sua vez, osenso comum objeto de estudo da psicologia social porque,de acordo com a teoria das representaes sociais, essamodalidade de conhecimento varia conforme inseresespecficas num contexto de relaes sociais (Doise, 1985),isto , esta forma de conhecimento est ligada realidadedos grupos e categorias sociais, capacitando seus membroscom uma viso de mundo e contribuindo para sua identidadesocial (Abric, 1998; Jodelet, 2001).

    A teoria das representaes sociais constitui-se tendocomo pano de fundo a idia de que o indivduo extraicategorias de pensamento da sociedade. O conhecimentodo senso comum no uma verso primitiva e falha doconhecimento cientfico (Moscovici, 2003): essas formasde conhecimento possuem lgicas que operam com regrasdistintas (Grize, 2001; Rateau, 1995).

    importante apontar que, de modo mais preciso, a teoriadas representaes sociais um desenvolvimento dacorrente sociopsicolgica denominada pensamento social.Trata-se de uma abordagem dedicada investigao dosprocessos cognitivos e construtos relacionados ao modocomo as pessoas pensam no cotidiano (Guimelli, 1999;Flament & Rouquette, 2003). Desse modo, a representaosocial apenas uma dentre outras variedades de construtosdo senso comum, juntamente com ideologias, atitudes,nexus, imagens sociais, dentre outros. No entanto,considera-se que o campo de estudo do pensamento socialestruturou-se de modo mais decisivo, pelo menos no quediz respeito a sua participao na psicologia social francesa,a partir das pesquisas iniciais de Moscovici (1961) e daproposio da teoria das representaes sociais. Assim, emcerto sentido a teoria das representaes sociais confunde-se com o prprio corpo terico do pensamento social. Almdisso, a maior parte das pesquisas conduzidas no campo dopensamento social volta-se para questes relativas srepresentaes sociais. Cabe, de qualquer maneira, esclarecerque a teoria das representaes sociais visa explicar uma formaespecfica do pensamento social, ainda que muitas das

    descobertas tericas e operacionalizaes metodolgicas sejampassveis de transposio para outros construtos dessa natureza.

    A presente reviso busca atender a dois objetivos. O primeiro o de apresentar a teoria em linhas gerais, fornecendo umasntese acerca de seus aspectos essenciais, incluindo definies,origens, processos constituintes e critrios de diferenciaojunto a outros construtos sociopsicolgicos. O segundoobjetivo visa a contribuir para o debate, enfocando dois pontosque envolvem a teoria das representaes sociais no que dizrespeito s relaes entre indivduo e grupo. O primeiro dessespontos ponto busca apresentar avanos tericos acerca derelaes entre representaes individuais e representaessociais, e o segundo trata das relaes entre representaessociais e comportamento. Optou-se por embasar a reviso emcontribuies clssicas e atuais de pesquisadores da psicologiasocial para a teoria.

    A teoria das representaes sociais

    O problema da definio de representaes sociaisRepresentao social designa ao mesmo tempo um

    produto e um processo (Valsiner, 2003). H uma variedadede definies para o fenmeno das representaes sociais,segundo o foco no processo ou produto, e pluralidade deperspectivas de estudo. Segundo Jodelet (2001), arepresentao social, ... uma forma de conhecimento,socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prtico,e que contribui para a construo de uma realidade comuma um conjunto social (p. 22). Para Wagner (1998),representao social simultaneamente um ... contedomental estruturado isto , cognitivo, avaliativo, afetivo esimblico sobre um fenmeno social relevante, que tomaa forma de imagens ou metforas, e que conscientementecompartilhado com outros membros do grupo social e ...um processo pblico de criao, elaborao, difuso emudana do conhecimento compartilhado(p. 3-4). J aperspectiva de Doise (1985), concebe as representaessociais como ... princpios geradores de tomadas de posioligadas a inseres especficas dentro de um conjunto derelaes sociais, e que organizam os processos simblicosque intervm nessas relaes (p. 246).

    Dizendo de outro modo, para abarcar essa diversidadeconceitual e situar alguns aspectos comuns acerca dasdefinies de processos e produtos envolvidos na noode representaes sociais, pode-se dizer que o processo derepresentar resulta em teorias do senso comum, elaboradase partilhadas socialmente (Wagner, 1998), ligadas a inseresespecficas dentro de um conjunto de relaes sociais, isto, a grupos sociais (Doise, 1985), que tm por funes explicaraspectos relevantes da realidade, definir a identidade grupal,orientar prticas sociais e justificar aes e tomadas de posiodepois que elas so realizadas (Abric, 1998).

    Uma representao, segundo a teoria das representaessociais, no uma cpia fidedigna de algum objeto existente narealidade objetiva, mas uma construo coletiva em que as

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    REPRESENTAES SOCIAIS, REPRESENTAES INDIVIDUAIS E COMPORTAMENTO

    estruturas de conhecimento do grupo recriam o objeto combase em representaes j existentes, substituindo-o (Moscovici,1961). Trata-se de uma perspectiva segundo a qual asrepresentaes no so meros elementos mediadores entrecaractersticas ambientais e aes comportamentais, mas sim arealidade que se apresenta aos atores sociais determinandotanto a natureza das caractersticas do ambiente quanto s aesa serem efetuadas (Moscovici, 2003). Busca-se deixar claro quepor representao no se entende reproduo, na teoria dasrepresentaes sociais. Mesmo assim, Ibaez (1992) questionaa adequao do termo, que inevitavelmente carrega umaconotao ligada a noes de imagem e cpia, o que acabaimplicando uma tendncia a uma objetivao de representaes,segundo a qual se poderia olh-las, estando elas localizadasna realidade social. O autor aponta que se a teoria tivesse onome de teoria das produes simblicas coletivas, issoprovavelmente no ocorreria.

    Falar em teorias do senso comum pode implicar tambmuma aproximao excessiva com as caractersticas de teoriascientficas, levando a identificar similaridades com asrepresentaes sociais, quando na verdade os produtos dessasduas formas de conhecimento cincia e senso comum -estruturam-se e operam de modo distinto. Laszlo (1997) sugereque se fale em narrativas, construes criadas e compartilhadassocialmente para construir e organizar experincias sociais demodo a tornar o mundo inteligvel, dando referncias a memriasindividuais. Carugati, Selleri e Scappini (1994) abordam asrepresentaes sociais como arquiteturas de cognies.Moscovici (1988) tambm se refere a uma representao socialenquanto uma rede de conceitos e imagens que interagem entresi, cujos contedos evoluem continuamente.

    O processo de representao social permite s pessoasinterpretar e conceber aspectos da realidade para agir em relaoa eles, uma vez que a representao toma o lugar do objetosocial a que se refere e transforma-se em realidade para os atoressociais. As representaes sociais tanto so normativas,inserindo objetos em modelos sociais, quanto so prescritivas(Moscovici, 2003), servindo de guia para aes e relaes sociais(Abric, 1998). A finalidade das representaes sociais classificaros eventos da vida social segundo uma grade de interpretaogrupal, permitindo aes relativas a esses acontecimentos.Segundo Moscovici (1961), a representao social uma formade conhecimento que visa a transformar o que estranho emfamiliar, por meio da agregao da novidade a estruturas deconhecimento j existentes e dotadas de certa estabilidade.Valsiner (2003) afirma que o processo da representao socialdiz respeito construo de signos para lidar com um futuroimediato desconhecido, delimitando sua incerteza; nessesentido, as representaes sociais transformam o futuro empassado.

    Assim, as representaes sociais, enquanto forma deconhecimento, possuem finalidade at certo ponto oposta doconhecimento cientfico. A cincia traa o caminho inverso,buscando estranhar fenmenos que primeira vista sofamiliares ou inteligveis, para chegar a conhecimentos vlidos

    sobre a realidade (Moscovici, 2003). As representaes sociaispossuem uma lgica especfica que se aproxima do pensamentoingnuo: aspectos racionais e irracionais so integrados, dando-se prioridade s concluses e solues que s premissas (Abric,1996; Moscovici, 2003). Menciona-se o pensamento ingnuoporque uma forma de conhecimento que no se debrua sobresi mesma, sendo absorvida por seus contedos, voltando-separa resultados prticos (Rouquette, 2005).

    Critrios para o reconhecimento de representaes sociaisA noo de representao social apresentada pode parecer

    demasiado ampla, o que dificultaria a realizao de estudoscientficos rigorosos. Por esse motivo, essencial oestabelecimento de critrios para definir representaes sociais.Wagner (1998) apresenta cinco critrios derivados de um carterscio-gentico teoricamente suposto, que especificam osprocessos e produtos scio-representacionais. Esse carterscio-gentico refere-se s caractersticas das representaessociais que so devidas ao fato de elas serem produzidas ecompartilhadas por membros de grupos sociais. Apesar de noterem repercutido extensivamente na comunidade acadmica,trata-se de critrios pertinentes que, se observados, garantiriammaior validade, transparncia e especificidade aos estudos derepresentao social. Por esse motivo, cabe enumer-los.

    O primeiro desses critrios o consenso funcional: papeldesempenhado pela representao para manter a unidade dogrupo, orientar as autocategorizaes e interaes de seusmembros (Wagner, 1998). Um segundo critrio a relevncia: asrepresentaes sociais referem-se a objetos sociais relevantespara os atores sociais em questo (S, 1998; Wagner, 1998). Oobjeto das representaes sociais o objeto implicado emprticas, especialmente prticas de comunicao (Rouquette,2005). O critrio de prtica aponta que uma representao existese acompanhada por correspondncia nas prticas realizadaspor uma quantidade razovel de pessoas num grupo reflexivo.O comportamento associado representao deve constituirparte da rotina do grupo (Wagner, 1998).

    O quarto critrio denomina-se critrio de holomorfose,segundo o qual as representaes sociais sempre contmreferncias pertena grupal, por serem parte da identidadesocial. A respeito da questo sobre diferenas entrerepresentaes sociais e individuais, o critrio deholomorfose adquire importncia fundamental para delinearlimites entre processos de pensamento localizados empontos distintos do continuum individual - social. Enquantoo conhecimento mais individualizado baseia-se emexperincias pessoais que no dizem respeito ao grupo, asrepresentaes sociais trazem meta-informaes sobre ele. Cadaindivduo vinculado a um grupo possui, potencialmente,conhecimento sobre como outros membros se comportariamnuma dada situao ou pensariam sobre ela (Wagner, 1998). Aspessoas geralmente tendem a projetar suas crenas em outraspessoas que partilhem sua pertena grupal, quando se trata decrenas fundadas em representaes sociais; o mesmo noacontece com crenas ligadas a representaes individuais. As

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    pessoas conseguem discernir com alguma competncia entrecrenas que so partilhadas e formam um sistema de sensocomum especfico a um grupo ou categoria social, ou mesmohegemnico, e entre representaes que lhes sejam particulares.Por essa razo, o critrio de holomorfose til para distinguirentre representaes sociais e individuais, ao passo que outrosaspectos funcionais, estruturais e de compartilhamento podemno s-lo (Wagner, 1995). Alinhado com o critrio deholomorfose, h o critrio de afiliao, segundo o qual possveldelimitar uma realidade scio-grupal dentro da qual certarepresentao existe. o lado objetivo do critrio deholomorfose, permitindo validar este ltimo (Wagner, 1998).

    Wagner (1998) aponta que nem todos os critriosapresentados esto necessariamente presentes em todasas representaes, uma vez que h diferenas estruturais efuncionais em representaes de diferentes tipos, como asrepresentaes cujos objetos so objetos culturalmenteconstrudos, aquelas que se dirigem as condies e eventossociais contemporneos e representaes de idiascientficas socializadas.

    Origens das representaes sociaisEm certo sentido, as representaes sociais, enquanto

    fenmenos dinmicos ligados a contextos sociaisespecficos, so caractersticos das sociedades modernas(Moscovici, 2003). Isso ocorre devido ao desenvolvimentodos mtodos e das tecnologias de comunicao, que semodificaram consideravelmente com o advento daModernidade. Diferente do que acontecia nas sociedadestradicionais, em que as representaes coletivas eram fatossociais coercitivos e partilhados por praticamente todos osintegrantes de uma civilizao, na era moderna houve umadescentralizao dos detentores de poder, agentes sociaisresponsveis pela legitimao e produo do conhecimentosocial. O conhecimento cientfico constitui um exemplo deempreendimento que surge para contestar representaesfundadas em sistemas feudais ou religiosos. Aliada aoadvento dos meios de comunicao de massa, essa alteraoviabilizou a emergncia de novos ncleos sociopsicolgicosde produo de conhecimento do senso comum e umaconseqente diversificao das representaes, bem comoa reduo de sua estabilidade (Duveen, 2003).

    Se, num sentido amplo, as representaes coletivas dassociedades tradicionais e as representaes sociaismodernas podem equivaler-se (Moscovici & Markov,2003), por outro lado possvel identificar diferenassignificativas em suas propriedades. As representaescoletivas so muito abrangentes, constituindo sistemascognitivos compartilhados por grandes coletividades, comouma sociedade inteira. Alm disso, so quase estticas, porassim dizer: a mudana ocorre s em condies excepcionais,de crise. As representaes sociais apresentam estabilidadevariada, mas devido fluidez da comunicao dos temposatuais, alteram suas configuraes de contedo e estruturacontinuamente. A abrangncia das representaes sociais

    tambm consideravelmente mais limitada, situando-se emgrupos definidos (Moscovici, 1988).

    As representaes sociais so construdas e difundidaspor meio da interao pblica entre atores sociais, em prticasde comunicao do cotidiano (Moscovici, 1961; 2003). Por meioda comunicao que ocorre dentro dos grupos prprios etambm num contexto intergrupal so negociadas convenespara lidar com os eventos da realidade. Os pontos de refernciapara pensar sobre e agir em relao aos objetos sociais so,desse modo, especficos a posies especficas no contextosocial, isto , a grupos, estruturados em maior ou menor extenso(Doise, 1985). Para Wagner (1998), as representaes sociaisindicam um fenmeno especfico de grupos cujos membrosefetivamente se definem como integrantes de um grupo econhecem os limites e critrios para definir quem participa dogrupo ou no. So os chamados grupos reflexivos, distintosdos grupos nominais ou taxonmicos, que so definidosarbitrariamente por um observador externo (geralmente opesquisador), independentemente do reconhecimento depertena grupal pelos membros.

    Cabe ressaltar que as representaes sociais tm acomunicao de massa como condio de possibilidade edeterminao (Jodelet, 2001), pois por meio da comunicaoem larga escala que idias podem difundir-se extensivamente echegar a membros de grupos sociais, gerando debate na esferapblica. Assim, o conhecimento social criado e recriado, tendocomo vetores os veculos de comunicao social (Camargo,2003). O modo como so comunicadas as representaes tambm importante. Representaes difundidas segundo sistemas decomunicao distintos quanto a objetivos, destinatrios,recursos argumentativos e contextos de relaes intergrupaisem que se situam implicam diferenas nos contedos eestruturas representacionais (Moscovici, 1961).

    Em alguns casos, as representaes parecem veicularcrenas arcaicas, ligadas a sistemas de pensamento mais amplos,mantidos por grupos sociais por sculos (Jodelet, 2001).Moscovici e Vignaux (2003) apresentam a hiptese de que asrepresentaes sociais originam-se de idias-chave quepermeiam o pensamento social, que possuem longa durao eestabilidade. Assim, as representaes sociais ancoram-se anesses temas antigos, os themata. Os autores comparam essasidias-fonte a axiomas de teorias do senso comum, sendo asrepresentaes sociais neles ancoradas o equivalente a teoremasderivados. As representaes sociais, assim, poderiam sertomadas como temas metodolgicos passveis de aplicao acampos da realidade, funcionando como chaves interpretativas.Para Rouquette (2005) as representaes sociais so geradaspor ideologias. As representaes sociais seriam um espcimengerado e englobado por uma formao ideolgica, de nvelhierrquico superior enquanto forma de pensamento.

    Estrutura e funcionamento das representaes sociaisEm relao ao funcionamento das representaes sociais,

    Moscovici (1961) identifica dois processos principais:objetivao e ancoragem. A objetivao o processo por

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    meio do qual um conceito ou noo abstrata ganha forma etorna-se concreta por meio de imagens ou idias (Vala, 1996),resultando numa organizao estrutural dos contedossemelhante a um mapa conceitual (Doise, Clemence, &Lorenzi-Cioldi, 1992). A ancoragem o processo de classificarinformaes sobre um objeto social em relao a estruturasde conhecimento anteriormente existentes; assim asrepresentaes sociais dependem de uma memria coletiva(Moscovici, 2003).

    Muitos avanos foram alcanados por pesquisasdestinadas a investigar as maneiras como as representaessociais se organizam, operam e se modificam. O estudo docampo de representao, isto , da estrutura das relaesentre conhecimentos (Capozza, Falvo, Robusto & Orlando,2003) equivale ao estudo do processo de objetivao (Doise,Clemence & Lorenzi-Cioldi, 1992). A Escola de Aix-en-Provence (Abric, 1998) prope um estudo fundamentadoem pesquisas experimentais para conhecer a estrutura dasrepresentaes sociais (Abric, 2001; Moliner, 1994).

    Os conceitos, idias ou noes que compem asrepresentaes sociais organizam-se numa estrutura deconhecimento (Abric, 1998) que relaciona estes elementos,segundo uma lgica natural, diferente da lgica formal acadmica(Rateau, 1995). Essa organizao estrutural possui naturezahierrquica, o que implica dizer que os sistemas de cogniesinterligadas diferenciam-se quanto a suas naturezas e funesrelativas representao.

    Anteriormente apresentamos a comparao derepresentaes sociais a redes dinmicas de conceitos e imagens(Moscovici, 1988) e arquiteturas de cognies (Carugati, Sellerie Scappini, 1994). So noes que de certo modo j assumemseu carter estrutural, pois trazem implcita a necessidade deprincpios de organizao e encadeamento de elementoscognitivos.

    Uma representao social estruturada formada por doissistemas de cognies: sistema central e sistema perifrico(S, 1996). O sistema central compreende as cognies quedeterminam a identidade da representao, isto , a existnciade sistemas centrais diferentes que indica a existncia derepresentaes diferentes, enquanto que representaescom sistemas centrais idnticos, no importando as demaiscognies, podem ser consideradas idnticas (Abric, 1998).Outras funes do sistema central so dar estabilidade representao e organizar seus elementos (Abric, 2003).

    O sistema central contm os elementos mais estveis darepresentao, o que significa que so resistentes a mudanas(Abric, 2003). Bauer (1994) afirma que as representaes sociaisfuncionam como um sistema imunizante que neutralizaativamente inovaes simblicas atravs de sua ancoragem emformaes tradicionais. Uma mudana no sistema centralacarreta uma mudana de representao: so elementos no-negociveis (Abric, 2003). As cognies centrais so maisfreqentes e aparecem fortemente ligadas s outras cognies(Campos, 2003). Alm disso, os componentes desse sistemageralmente so abstratos e tratam de aspectos normativos da

    representao, ligados a sistemas de valores (Abric, 2003). Comohiptese a ser verificada, possvel associar os elementos dosistema central com os themata mencionados anteriormente,como unidades cognitivas estveis e durveis (Abric, 1996).

    Os elementos no-centrais constituem o chamado sistemaperifrico. Enquanto os elementos centrais so mais abstratos epossuem natureza normativa, os elementos perifricos referem-se a scripts de prticas concretas, so como esquemas, denatureza mais funcional: descrevem e determinam aes(Abric, 2003; Flament, 2001). So esses elementos maisconcretos, em ligao com os elementos centrais, quegarantem que a representao social seja um guia de leiturapara a realidade, relacionando-se com eventos do cotidianodos atores sociais (Campos, 2003). Talvez por esse motivo,seu significado tenha menor flexibilidade.

    Tradicionalmente se pensava que o sistema central possuiriauma funo geradora, isto , daria sentido aos demais elementosda representao (Abric, 1998); no entanto, h indcios empricosde que, mesmo que os elementos centrais permaneam osmesmos - devido a sua maior estabilidade -, seus significadospodem ser interpretados de diferentes modos conforme ocontexto de comunicao ou ativao da representao. Assim,a funo do sistema central assemelha-se a uma marcaodenotativa, viabilizando a comunicao mais por meio dertulos para orientar interaes com significados fluidos quepela gerao de significados numa determinada direo (Moliner& Martos, 2005).

    J os elementos perifricos so mais concretos e possuemsignificados menos flexveis, sendo pertinentes a situaes maisparticulares, em vez de definir a representao para muitosindivduos. So elementos mais instveis, que se modificamcom facilidade devido a alteraes no contexto dos grupossociais e sua relao com algum objeto social. Servem comoproteo para o sistema central, adaptando-se a alteraescontextuais ao mesmo tempo em que preservada a integridadedo sistema central (Flament, 2001). A diferena entre elementoscentrais e perifricos no questo de salincia quantitativa,mas, sobretudo, qualitativa: efetivamente o papel diferenciadona representao, por tratar-se de elementos vinculados asistemas diferentes, que permite distinguir entre uns e outros. Anecessidade de apoiar-se em alguns elementos, ditos centrais,para definir a representao que os diferencia do sistemaperifrico (Flament, 1994).

    Os elementos representacionais so ativados diferentementesegundo a natureza do objeto social visado, as relaes dogrupo com o objeto, o contexto de enunciao da representaoe a finalidade do objeto na situao (Campos, 2003). Quantomais ativado um elemento, mais importante ele para essasituao especfica, enquanto outros elementos podempermanecer adormecidos (Abric, 2003).

    Moliner (1995) acrescentou perspectiva estrutural umadimenso avaliativa. Assim, os elementos representacionaispodem ser classificados quanto sua centralidade (central ouperifrico) bem como segundo um potencial avaliativo (descritivoou avaliativo). Elementos simultaneamente centrais e descritivos

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    constituem definies, ou caractersticas de todos os objetosprocessados pela representao. Elementos perifricos edescritivos formam um conjunto de descries, contendo ascaractersticas mais provveis e freqentes do objeto social darepresentao. Elementos centrais e avaliativos fornecemnormas, ou seja, critrios para avaliar o objeto. Finalmente, oselementos perifricos e avaliativos tratam de expectativas, oucaractersticas desejadas referentes ao objeto. Esse modelointegrando centralidade e o continuum descritivo avaliativoformam o que o autor chama de modelo bidimensional derepresentaes sociais.

    H tambm contribuies importantes da abordagemestrutural no que diz respeito s transformaes derepresentaes sociais. O que define mudana numarepresentao social a alterao de seu sistema central, que fazcom que a representao perca sua identidade original. Umacontestao de elementos perifricos, devido a mudanascontextuais ou novas prticas sociais, no ameaa a coernciada representao, por deixar seu ncleo central intocado e,portanto, no implica transformao representacional. Porm,quando h contestao de elementos do sistema central, podeocorrer um processo de transformao. Sabe-se que, nessescasos, o sistema perifrico serve como escudo para os elementosdo sistema central, viabilizando mecanismos de defesa darepresentao (Flament, 2001).

    A transformao das representaes pode ocorrer pormudanas ocasionadas na relao do grupo com o objeto, nasrelaes integrupais, ou em outras mudanas do contexto social.Ainda que os elementos centrais busquem dar estabilidade representao, as representaes sociais so construtosdinmicos, e portanto sofrem alteraes (Moliner, 2001a). Emverdade, um estudo de representaes sociais que leve em contauma dimenso cronolgica capaz de identificar fases distintasde estgios evolutivos representacionais: emergncia,estabilidade e transformao (Moliner, 2001b).

    H estudos experimentais (Andriamifidisoa, 1982; Domo,1984; Flament, 200;Guimelli, 1989) que demonstram os processosde transformao das representaes sociais quando osgrupos vem-se forados a adotar prticas em contradiocom elementos do sistema central da representao. Nessecaso, uma noo que adquire importncia a dareversibilidade da situao. Quando os membros do grupopensam que a situao que os leva a novas prticas reversvel, ocorrem mudanas no sistema perifrico, masque so integradas representao. Quando a situao dasnovas prticas tida como irreversvel, ento podem ocorrertrs tipos de transformao. Quando as prticas podem sergerenciadas pelo sistema perifrico, formam-se os chamadosesquemas estranhos, configuraes de elementos que, aomenos provisoriamente, evitam a contestao do sistemacentral. No entanto, a proliferao desse tipo de formaoleva mudana do sistema central; a isso, chama-setransformao resistente. Um segundo tipo de transformaoconsiste no caso em que as novas prticas no contradizem

    totalmente o ncleo central, e novos elementos sogradativamente acrescentados a ele, constituindo uma novarepresentao. Trata-se da transformao progressiva. Porfim, quando as novas prticas atacam o ncleo de modoinegocivel pelo sistema perifrico, tem-se umatransformao imediata do sistema central e,conseqentemente, da representao, no que seconvencionou chamar transformao brutal (Abric, 1998).

    Alm disso, tambm so estudadas as relaes entrerepresentaes sociais diferentes. As representaes sociaispodem ser autnomas, isto , possurem um sistema centralbem definido, ou no. No segundo caso, remete-se a outrasrepresentaes sociais (Flament, 2001). Vergs (2005) afirmaque h casos em que algumas representaes sodependentes de outras, especialmente no caso de objetossociais novos, que so elaborados em referncia a outrosmais antigos. Segundo Morin e Vergs (1992), na dcadaanterior a aids enquadrava-se nessa situao, sendoclassificada de modo semelhante a objetos como doena eflagelo social. Mas cabe lembrar que, segundo a noo deancoragem, no h uma representao pura, no sentidode independente das outras.

    Numa perspectiva estrutural, foram identificados doistipos de relaes entre representaes sociais: encaixe ereciprocidade. Na relao de encaixe, a representao socialde um objeto dependente de outro contm o objetohierarquicamente superior, de natureza normativa, comoum elemento em seu sistema central. Representaesencaixadas em outras so no-autnomas, referem-se aomesmo tipo de valor, diferenciando-se na dimenso funcionaldo sistema central. A relao de reciprocidade implica duasrepresentaes em que cada um dos objetos sociais a quese referem est presente no sistema central da outrarepresentao. Esses elementos cruzados so de ordemfuncional, sendo os elementos normativos especficos decada representao (Abric, 2003).

    H uma outra perspectiva de estudo do campo darepresentao, apresentada pela Escola de Genebra. Trata-se de uma perspectiva no consensual das representaessociais, que so tomadas como princpios geradores devariaes entre tomadas de posio de indivduos. Essesprincpios esto ligados a inseres especficas dentro deum conjunto de relaes sociais e organizam os processossimblicos que intervm nessas relaes (Doise, 1985; Doise,Clemence & Lorenzi-Cioldi, 1992). Assim, o estudo noenfoca propriamente estruturas representacionaisobjetivadas de um grupo, mas em vez disso d nfase aospontos de referncias que orientam o debate social,permitindo o posicionamento de grupos e indivduos emdiversas localidades desse espao de conhecimento.Segundo a perspectiva de Genebra, so esses princpiosorganizadores, esses pontos de referncia que esboam ascondies e os termos de discusso e elaborao dopensamento sobre um dado objeto social, que socompartilhados. As pesquisas voltadas para essa

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    perspectiva permitem um estudo da ancoragem, por delimitaras diferenas de pessoas e categorias sociais comcaractersticas e estatutos distintos no que diz respeito asuas concepes partilhadas sobre objetos sociais (Doise,Clemence & Lorenzi-Cioldi, 1992).

    importante vincular as teorias provenientes das Escolasde Aix-en-Provence e Genebra, pois ambas secomplementam, cada uma enfocando um dos dois processosidentificados por Moscovici (1961). A perspectiva estruturalprioriza o estudo da objetivao e da organizao internadas representaes, enquanto que a Escola sua tratasubstancialmente da ancoragem do conhecimento adinmicas sociais (Molinari & Emiliani, 1996). A princpiopoder-se-ia pensar que so teorias incompatveis, pois aescola francesa apresenta resultados que sustentam umaviso segundo a qual h elementos compartilhadosextensivamente no grupo e que determinam a representao,enquanto a perspectiva sua no abordaria umcompartilhamento propriamente de cognies constituintesde representaes, mas de contextos orientadores para atomada de posio individualizada. No entanto, Rateau (2004)apresenta resultados de experimentos que evidenciam arelao de complementaridade entre os estudos das duasvertentes. Ao investigar a representao social de estudantessobre os estudos, identificou a existncia de trs princpiosorganizadores da representao, isto , as representaessituam-se em relao finalidade pragmtica dos estudos,finalidade intelectual, e o investimento realizado. Mesmosituando suas representaes tomando como refernciaessas trs dimenses, os grupos pesquisados, estudantesde diversos nveis, apresentam estruturas representacionaise, mais especificamente, sistemas centrais tambm distintos.Ou seja, princpios transversais e abstratos so partilhadospor vrios grupos, mas em cada um deles ocorrem tomadasde posio especficas, consensuais e no negociveis emfuno da insero sociopsicolgica das pessoas. Cadagrupo remete-se a uma representao prpria, com sistemacentral e perifrico, situada num espao de debate comum aoutros grupos que mantenham relaes com o objeto socialreferente s representaes.

    Com isso, conclui-se a primeira etapa da reviso,apresentando-se um panorama geral sobre a teoria dasrepresentaes sociais, ainda que necessariamente restritoa alguns autores e abordagens. Com base nessesfundamentos, possvel partir para a problemtica maisespecfica das relaes entre indivduo e grupo no contextoda teoria das representaes sociais.

    Relaes entre indivduo e grupo na teoria dasrepresentaes sociais

    Representaes sociais e representaes individuaisUma preocupao legtima para o psiclogo social

    consiste em inquirir sobre a extenso em que os indivduoscompartilham representaes sociais e tm crenas e

    comportamentos orientados por elas, ou mesmo a maneiracomo os indivduos participam para constru-las e comunic-las. Afinal, como interagem as representaes sociais e asrepresentaes individuais? Nesse ponto, a relao entreindivduos e representao to importante quanto complexaem sua apreenso, por exigir um esforo de aproximaoentre nveis de anlise distintos.

    Freqentemente, o aprendizado de contedos derepresentaes sociais ocorre antes de uma conceituaosobre objetos da realidade. Crianas so capazes de emitirjulgamentos razoavelmente sistemticos antes de teremidias estruturadas sobre as coisas; no desenvolvimentodas representaes sociais, a valorizao precede aconstruo de conceitos slidos (Duveen & De Rosa, 1992).Se pensarmos nas relaes entre cognies individuais epensamento social, estudar as representaes sociais estudar as regulaes de metassistemas cognitivos de ordemsocial no sistema cognitivo individual (Doise, Clemence &Lorenzi-Cioldi, 1992). Assim, as representaes sociais sosistemas objetivos de restries (Rouquette, 1995). SegundoDoise (2001a), os mesmos indivduos podem referir-se ametassistemas diferentes de acordo com as especificidadesdas situaes com que se deparam.

    As representaes sociais precisam ser transformadasem representaes intra-individuais para que possam explicarou orientar crenas e comportamentos individuais(Deveureux, 1961 apud Wagner, 1994). Seria improvvelsupor que os indivduos pertencentes a um grupo socialcompartilham os mesmos elementos de uma representaosocial, como uma espcie de consenso simplista (Rose,Efraim, Gervais, Joffe, Jovchelovitch & Morant, 1995), e queessa representao provocaria os mesmos efeitos em suasrepresentaes cognitivas particulares. De fato, as duasperspectivas detalhadas na seo anterior tratam dessaquesto. Para a Escola de Genebra, as representaes soestudadas enquanto conhecimento especfico de indivduosque se situam num espao de discusso comum (Doise,Clemence, & Lorenzi-Cioldi, 1992). Para a Escola de Aix-en-Provence, existem elementos estruturais centrais que definema especificidade das representaes e so de fatocompartilhados, mas h tambm elementos perifricos quedo conta dos contextos particulares em que essas teoriasso empregadas no cotidiano, abarcando o conhecimentoidiossincrtico e no-compartilhado. Os elementosperifricos so os aspectos individualizados dasrepresentaes sociais (Abric, 1998; Flament, 2001).

    pertinente apontar que a posio desenvolvida nopresente trabalho baseia-se num espao de explicao macro-redutivo das relaes entre representaes sociais erepresentaes intra-individuais, conforme o princpio daprioridade taxonmica para explicar as relaes entre nveisde agregao hierarquizados de fenmenos. Segundo esseprincpio, atribudo por Wagner a Harr, necessriocompreender os fenmenos em nvel molar para explicarfenmenos de um nvel de agregao sub-ordenado, de nvel

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    molecular. No presente caso, as representaes sociais soo fenmeno de nvel superior e as representaes individuais,o de nvel inferior: de acordo com a perspectiva adotada, asrepresentaes do indivduo s fazem sentido secontextualizadas em seu meio social (Wagner, 1994).

    A partir de uma perspectiva macro-redutiva, faz sentidopartir das representaes sociais, isto , do pensamentocoletivo, para explicar processos sociopsicolgicoscomumente estudados sob uma tica individual. Nessesentido, os fenmenos caractersticos do domnio dacognio social, que se ocupa de como os indivduosformulam percepes sobre os outros, atribuem causas realidade social, e formam e mantm atitudes sociais(Rodrigues, Assmar & Jablonski, 1999), poderiam serconsiderados como contrapartes individuais da realidadecoletiva das representaes sociais. Adotando-se essemodelo, a teoria das representaes sociais passa a disporde grande capacidade integrativa em psicologia social.

    De fato, em diversas situaes aparenta ser vlido estudaras atitudes como representaes sociais (Doise, 2001b), ouconceber a atitude como um aspecto subjetivo de representaese valores compartilhados por grupos (Jaspars & Fraser, 1984).Mesmo em nvel coletivo, sugere-se que a atitude, ou cargaafetiva, seja tomada como uma dimenso presente narepresentao social (Moscovici, 1961).

    Tambm uma tentativa de integrar os domnios daatribuio de causalidade e das representaes sociaispoderia complementar significativamente os avanosrealizados pelas duas perspectivas, uma vez que ambos oscampos lidam com muitos problemas em comum (Hewstone,2001). possvel vincular as teorias de atribuio decausalidade e as representaes de modo anlogo aoproposto acima para as atitudes, subordinando asatribuies a teorias de senso comum que as orientariamnuma ou noutra direo. Assim, as representaes sociaisatuariam como mediadoras de atribuies individuais(Moscovici, 2003).

    Se por um lado esse projeto de integrao entre cogniosocial e a teoria das representaes sociais geracontrovrsias, apresenta-se coerente dentro de um espaode explicao macro-redutivo. No se pretende implicar,contudo, que o recurso a noes de nvel macro seja capazde dar conta de todos os aspectos de fenmenos de umnvel mais molecular. Explicaes situadas num espaohomolgico (isto , explicaes de fenmenos micro pormeio a uma realidade micro e explicaes de fenmenosmacro com base em recursos explicativos tambm situadosno nvel macro) mostram-se adequadas (Wagner, 1994) ecobrem aspectos distintos dos explicados conforme ummodelo macro-redutivo.

    Ao delimitar como objetivo estudar representaesindividuais e sociais em relao umas s outras, cabe listaralgumas perguntas norteadoras de base. O que distingueuma variedade de representao da outra? Noutras palavras,quais as caractersticas distintivas das representaes

    sociais e das representaes individuais? Partindo de umaexplicao macro-redutiva, como as representaes sociaiscriam as condies para desenvolvimento dasrepresentaes cognitivas individuais? E finalmente, em quesituaes as representaes sociais adquirem relevncia paraos indivduos?

    A respeito da questo sobre diferenas entre representaessociais e individuais, o critrio de holomorfose, j apresentado,adquire importncia fundamental para delinear um limite entrepensamento social e individual. Ao adotar como critrio para adefinio de representaes sociais a caracterstica deholomorfismo, abre-se a possibilidade de conceber odesenvolvimento de representaes individuais baseadas naexperincia pessoal. Por sua vez, essas representaesparticulares so constantemente balizadas por representaessociais, que so trazidas tona medida que situaes comrelevncia para os grupos que detm essas representaesentram em evidncia no contexto social. Algumas dessas teoriasde senso comum condicionam a experincia individual, e dosentido s representaes idiossincrticas que so construdastendo como pano de fundo esses ambientes cognitivos.

    Mesmo que um dado indivduo possua crenas quequestionem os contedos da representao de seu grupo,ele tem conscincia da existncia da representao social, eprovavelmente saber que se trata de um conhecimentomais ou menos atribudo quela categoria social de que fazparte, ou a uma outra. No caso, a representao social nodetermina sua representao individual, mas serve como umareferncia para que esta seja construda. Percebe-se que, segundoessa perspectiva, no h conflito entre as noes derepresentaes do grupo e do indivduo, ao mesmo tempo emque respeitada a especificidade de cada uma.

    Assim, por exemplo, seria perfeitamente vivel que nosanos 50 os integrantes do partido comunista francsconsiderassem a psicanlise como uma doutrinapseudocientfica com objetivo oculto de disseminar osvalores norte-americanos (Moscovici, 1961) ao mesmo tempoem que um simpatizante desse partido discordasse dessaconcepo, entendendo a psicanlise de modo no tonegativo ou mesmo refutando a idia tpica de seu grupo.Mesmo assim, esse simpatizante teria alguma conscinciado que os comunistas pensavam, bem como outrossegmentos relevantes, e at mesmo opostos, da sociedade.Alis, mesmo refutando os elementos da representao doscomunistas sobre a psicanlise, o prprio emprego dasmesmas dimenses de avaliao para caracterizar esseobjeto social j implicaria uma influncia da representaosocial na representao individual. Breakwell (1993),buscando apresentar pontos de ligao entre a teoria daidentidade social com a teoria das representaes sociais, jlevantou a hiptese de que a disponibilidade e emprego doconhecimento das representaes sociais por um indivduoprovavelmente so funo de sua posio no grupo e relaocom o objeto social.

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    Existe um outro ponto a considerar que complexifica asinteraes entre representaes sociais e representaesindividuais. A identidade social a parcela do autoconceitoindividual que deriva do conhecimento de pertena a gruposou categorias sociais (Tajfel, 1982). Na sociedadecontempornea, todas as pessoas pertencem a uma grandequantidade de categorias sociais (Tajfel, 1973): ao mesmotempo em que um indivduo brasileiro, por exemplo, podeser partidrio de idias polticas de esquerda, pertencer auma categoria profissional de engenheiros, e torcer por umdeterminado clube de futebol. No entanto, algumas dessaspertenas so para ele mais importantes que outras, tantonum nvel geral quanto em situaes especficas. Breakwell(1993) aponta a necessidade de realizar pesquisasinvestigando as relaes entre mltiplas pertenas grupaisde um mesmo indivduo e representaes sociais. Quaisrepresentaes so ativadas, nesses casos?

    H que se levar em considerao que as pessoas no seorientam por uma nica representao social frente a umdado objeto social, mas potencialmente por tantos quantossejam os grupos de que os indivduos tomam parte.Evidentemente, algumas dessas representaes mostram-se mais pertinentes ao se levar em conta que algumaspertenas grupais gozam de maior valorao por parte doindivduo de que outras. Parece razovel supor que umarepresentao social torna-se relevante para um indivduo,sobretudo quando a pertena grupal correspondente representao lhe seja saliente (Vala, 1996). Um aspecto dateoria das representaes sociais que justifica a execuode estudos o da conjugao das teorias do senso comumcom o funcionamento cognitivo individual, para verificarse, efetivamente, e em que condies, as pessoas orientam-se por representaes de diversos grupos em situaes deativao diferencial das pertenas grupais.

    Alm disso, Breakwell (1993) tambm questiona sepoderia haver uma interao entre representaes sociais.Caso isso seja verdade, o conhecimento proveniente decontextos grupais diferentes, vinculado a pertenas grupaisde um mesmo indivduo, pode mesclar-se em representaesindividuais devido sua coexistncia para o indivduo. Maisuma vez, isso tambm se configura como uma hiptese a serverificada em pesquisas.

    Representaes sociais e comportamentoPara finalizar, pertinente apresentar algumas

    consideraes sobre as relaes entre representaes sociaise comportamento. Cabe esclarecer que o sentido dado palavra comportamento, aqui, o de ao observvel, emitidapor indivduos seja em contextos particulares ou interaesclaramente sociais. Na literatura sobre representaessociais, o termo comportamento freqentemente assume aforma de prticas sociais. Nesse caso, interessa ocomportamento emitido por indivduos enquanto membrosde grupos. Embora Rouquette (1998) aponte para acomplexidade da noo de prticas sociais e para a polissemia

    do termo, empregaremos comportamentos e prticas sociaiscomo sinnimos no presente trabalho, julgando que isso dconta dos fins propostos para a argumentao.

    Bergmann (1998) considera as representaes sociais comodisposies comportamentais adquiridas, juntamente com osoutros conceitos sociopsicolgicos de valores e atitudes, commaior estabilidade que as ltimas. Para a teoria dasrepresentaes sociais, o comportamento ao refletida(Wagner, 2003). Prever comportamento a partir de representaessociais no uma operao direta, pois h grande quantidadede variveis que atuam na determinao de aes humanas. Ateoria das atitudes j avanou significativamente quanto a isso.Segundo um desenvolvimento terico recente sobre as atitudes,a teoria do comportamento planejado (Ajzen, 2001), as pessoasagem conforme suas intenes e percepes de controle sobreo comportamento, sendo as intenes influenciadas pelasatitudes frente ao comportamento e normas subjetivaspercebidas.

    Uma reflexo semelhante pode ser feita segundo a teoriadas representaes sociais. H diversos tipos de aes emitidas,e apenas uma parcela dessas formas de comportamento poderiaser explicada pelas representaes sociais s quais osindivduos aderem. Vala (1996) refere-se a isso como adistino entre comportamentos representacionais ecomportamentos situacionais. No primeiro caso, caractersticasdo ambiente imediato em que ocorre a ao no-relacionadas representao seriam menos importantes, e assim o contedoda representao social teria significativo valor preditivo sobrealguma ao efetuada. J no caso de comportamentossituacionais, as caractersticas do contexto, e no a representaosocial, so mais salientes e, portanto, dirigiriam o comportamento;e nesse caso a representao social possuiria, no sentido deprever comportamento, menos importncia.

    O estudo das relaes entre representaes sociais e atitudespermite tambm consideraes acerca da ligao entrerepresentaes e comportamento, tomando as atitudes comopredisposies comportamentais mais individuais e de nvelmais micro. Buscando realizar uma articulao com a teoria docomportamento planejado de Ajzen (2001), as representaessociais poderiam servir como referncia para a percepo denormais subjetivas por parte dos indivduos; afinal, umarepresentao social fornece aos atores sociais indicaes sobreo que e como agir referente a um objeto social qualquer.

    Rouquette (2005) prope relaes hierrquicas entre algunsconstrutos do pensamento social formalizadas numa arquiteturacognitiva. O autor situa as representaes sociais num nvelsuperior s atitudes; assim, um conjunto de atitudes seria geradapor uma representao social. Abric (2003) fez uma reviso deestudos estruturais que demonstram que as atitudes dependemdas representaes sociais, mas estas dependem pouco dasprimeiras. Mudanas induzidas no sistema central provocamalteraes significativas nas atitudes, enquanto quecontestaes de elementos perifricos no o fazem. Por outrolado, mudanas de atitudes provocam apenas mudanas nosistema perifrico; como o sistema central no sofre mudanas,

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    pode-se dizer que a representao permanece a mesma nessescasos.

    A prpria noo de sistema perifrico, proveniente daperspectiva estrutural, tambm til para evidenciar as relaesentre representaes e comportamento individual. De acordocom Flament (2001), os elementos perifricos permitem a ligaoentre elementos abstratos e essenciais representao econtextos particulares de uso ou relevncia da representao;atuam como esquemas ou scripts de aes relativas ao objetoda representao social, e, portanto, em certo sentido, permitemexplicar o comportamento.

    Entretanto, a distino entre representao ecomportamento contestada por alguns autores. Para Wagner(1994), a representao no explica a ocorrncia decomportamentos; o prprio comportamento faz parte darepresentao. Dizer que a representao explica ocomportamento seria, assim, seguir o raciocnio dos prpriosatores sociais, e no uma realidade cientfica. Aes seriamexemplos do contedo representacional, num outro tipo deregistro. Para o autor, o que deve ser explicado no a relaoentre representao e comportamento, mas a relao do complexorepresentao-ao e suas conseqncias na realidade social.Como exemplo, citado o caso de um protesto universitrioocorrido na Blgica, em que a existncia de representaesdivergentes entre estudantes, e conseqentes problemas decomunicao, explicariam o fracasso do movimento.

    J Rouquette (1998) afirma que as representaes exercemcoero varivel sobre as prticas sociais: uma ao pode serrevista ou recalculada a partir dos contedos representacionais,no implicando, portanto, determinao direta. Asrepresentaes sociais seriam um componente da situao euma direo para a prtica, semelhantes a dados de um problema.

    As influncias de representaes sociais e prticas sociaisso de mo dupla. Para Rouquette (1998), as representaessociais so condies de prticas e as prticas so agentes detransformao de representaes. Ambas possuem efeito umassobre as outras: como mencionado anteriormente, ao tratar detransformaes representacionais, a adoo de prticas sociaiscontraditrias com uma representao pode provocar mudanastanto no sistema perifrico quanto central (Abric, 1998). Hsituaes, que envolvem configuraes especficas comoconflito intergrupal ou comportamento cooperativo, em que hevidncias para considerar a determinao de prticas pelasrepresentaes. E finalmente, h ocasies em que representaese prticas formam uma relao circular interagindo mutuamente,dificultando a identificao de uma relao de causalidade. Aindano se chegou, contudo, a um modelo nico das relaes entrecomportamentos e representaes sociais. (Campos, 2003).

    Consideraes finais: contribuio da teoria dasrepresentaes sociais para a psicologia social

    Aps enumerar sobre os aspectos bsicos da teoria dasrepresentaes sociais, torna-se claro seu valor, que vem sesustentando desde sua proposio inicial nos anos 60. Mais

    que uma compreenso de base acerca dos processosconstituintes de um fenmeno especfico, ela inaugurou umaforma distinta de enquadrar os fenmenos sociopsicolgicos,seguindo pressupostos diferenciados da perspectiva dacognio social, que por sua vez situa as investigaes emnveis de anlise intra-individuais e interpessoais, mais prximade uma psicologia geral. Fundamentalmente, a corrente dopensamento social adquiriu fora, primeiramente na Frana eposteriormente em uma variedade de pases no continenteeuropeu e latino-americano, a partir da adoo no meio cientficoda teoria das representaes sociais, que viabilizou uma outravia de investigao das relaes entre psicologia e sociedade.

    Se a teoria das representaes sociais for considerada emseu carter mais amplo, a partir da perspectiva de Moscovici(1961), pode-se questionar at que ponto ela se trata de umateoria no sentido clssico do termo, com todas as hiptesesdela decorrentes passveis de verificao emprica. Algumasnoes e construtos propostos pelo autor so difceis deoperacionalizar e aparentam servir mais como pressupostos debase que como relaes que possam ser postas prova. Assim,entende-se, como j observou um dos autores deste trabalho(Camargo, 2005), que a teoria das representaes assemelha-semais a um paradigma de pesquisa, uma estrutura de conceitos eprocessos que possibilita uma nova via de acesso aosfenmenos cognitivos, que a uma teoria formal. Note-se,contudo, que algumas abordagens especficas mesmo dentroda rea de representaes sociais, como a escola estrutural deAix-en-Provence, fazem uso de teorias no sentido mais comumdo termo, como por exemplo a teoria do ncleo central.

    Assim, a teoria das representaes sociais contm elementospara caracterizar em linhas gerais um domnio de investigaodentro da psicologia social. Prova disso a multiplicidade deperspectivas que vem se dedicando a aspectos especficos dosfenmenos apontados por Moscovici, as quais, apesar demanterem sempre um vnculo com a teoria inicial e suasconcepes, gradativamente formam sistemas tericos emetodolgicos prprios, cada vez mais especficos.

    O crescimento da adoo da teoria em diversos contextosinternacionais demonstra que ela bem sucedida como recursocientfico. Certamente, contudo, h muito espao paraaprimoramentos, de modo a refinar o quadro terico, seja emtermos de uma maior formalizao da teoria, seja em termos deespecificar com mais preciso a estrutura conceitual. Talvez oponto essencial para nortear investigaes futuras na teoriadas representaes sociais diga respeito a sua maior integraocom outras teorias da psicologia social, oriundas da tradio dacognio social.

    Ao abordar esse ponto, cabe buscar integrar investigaessituadas em nveis de anlise distintos. Relacionar conhecimentosobre fenmenos situados em nveis integrupais e societais,tpico de teorias como a teoria das representaes sociais, como conhecimento sobre processos que vem sendo avaliadossob uma perspectiva mais psicolgica, tornar mais til eabrangente a teoria das representaes sociais junto s demaisreas sociopsicolgicas. Os estudos que buscam articular

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    representaes com atitudes, atribuio de causalidade,esteretipos, relaes intergrupais, dentre outros, tanto auxiliama situar a teoria das representaes sociais na psicologia socialquanto podem dar indicaes de novos rumos de pesquisa aproblemas encontrados no mbito dessas outras teorias. Afinal,mesmo que partindo de pressupostos diferentes sobre ofenmeno psicolgico, as abordagens da cognio social e dopensamento social chegam a resultados que acrescentam aoscorpos tericos uma da outra.

    Buscou-se, com a presente reviso, apontar soluesintegrativas que alguns dos principais autores dedicados aoestudo das representaes sociais tm encontrado para construiruma ligao entre a psicologia social do indivduo e do grupo.So possibilidades promissoras vinculando representaes aocomportamento e s representaes individuais. Nesse sentido, pertinente assinalar a necessidade de dar ateno ao processode ativao das representaes sociais por indivduos. Aindaque se deva admitir que o pensamento do indivduo umamodalidade de pensamento social, seguramente h algunsaspectos que lhe so mais particulares. nesse sentido que sebuscou falar de representaes individuais; no comoconstrutos psicolgicos associais ou de natureza oposta ao derepresentaes sociais, mas sim como estruturas cognitivasbaseadas na experincia subjetiva e menos pblicas ecompartilhadas. Considerando a importncia de compreender arelao entre esses construtos cognitivos mais individualizados(o que no implica no serem uma forma de pensamento social)e representaes sociais, torna-se essencial conceber projetosde pesquisa voltados para o estudo do contexto de interaodo ator para com o objeto social, bem como os processos deativao de elementos de representaes compartilhadas e suatransposio para esquemas de pensamento mais particulares.

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    REPRESENTAES SOCIAIS, REPRESENTAES INDIVIDUAIS E COMPORTAMENTO

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    Received 22/12/2006 Accepted 29/07/2007

    Joo Fernando Rech Wachelke mestre em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e pesqui-sador associado do Laboratrio de Psicossociologia da Comunicao e Cognio Social (LACCOS) da mesmauniversidade.Brigido Vizeu Camargo doutor em psicologia social pela cole des Hautes tudes en Sciences Sociales eprofessor associado do departamento de psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. coordenadordo Laboratrio de Psicossociologia da Comunicao e Cognio Social (LACCOS) da mesma universidade.

    R. interam. Psicol. 41(3), 2007

    JOO FERNANDO RECH WACHELKE & BRIGIDO VIZEU CAMARGO