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Relatório de final de iniciação científica
Processo:
Estudo eletroquímico para determinação seletiva de α-lapachona e β-lapachona usando um
eletrodo compósito de epóxi- grafite
Aluna: Ana Beatriz Azevedo
Orientador: Ricardo Queiroz Aucélio
Co-orientadora: Joseany de Moraes Santos Almeida
Departamento de Química
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Resumo
O projeto teve como objetivo a determinação dos isômeros α-lapachona e β-lapachona
através da voltametria anódica por onda quadrada (VOQ), utilizando um eletrodo de epóxi-
grafite feito no laboratório. O meio eletrolítico consiste em uma solução aquosa contendo o
surfactante catiônico CTAB (1,2 × 10-4 mol L-1), tampão fosfato (4,0 × 10-2 mol L-1; pH 6,0) e
KNO3 (1,0 mol L-1). O surfactante catiônico conseguiu melhorar a difusão e a interação do
eletrodo com os analitos, produzindo um processo reversível para β-lapachona e quasi-reversível
para α-lapachona que melhorou a detecção da corrente total através da VOQ. Os sinais de α-
lapachona e β-lapachona foram detectados em -370 mV e -190 mV, respectivamente, após uma
pré-concentração em 400 mV durante 140 s, usando uma frequência de 30 Hz e uma amplitude
de pulso de 40 mV e com um passo potencial de 20 mV. O limite de detecção instrumental foi
na ordem de 10-7 e 10-6 mol L-1 para α-lapachona e β-lapachona, respectivamente e a faixa
dinâmica linear foi na ordem de duas grandezas. A determinação de α-lapachona e β-lapachona
no extrato etanólico fortificado presente no cerne da planta Tabebuia Impetiginosa foi obtida
através da uma extração líquido-líquido usando, acetato de etila e solução de bicarbonato de
sódio 2,5 %, que promoveu a separação de α-lapachona e β-lapachona dos interferentes da
amostra, incluindo o lapachol que é o componente majoritário presente na amostra. Os resultados
concordaram, em um nível de confiança de 95%, com os obtidos utilizando a cromatografia
líquida de alta eficiência (HPLC) com detecção absorciométrica.
Palavras-chave: eletrodo de epóxi-grafite; α-lapachona; β-lapachona; voltametria de onda
quadrada; extração líquido-líquido.
Resumo da produção científica
Apresentação de trabalhos em eventos científicos:
“Determinação da concentração micelar crítica de surfactantes catiônicos utilizando pontos quânticos de
grafeno amino-funcionalizados como sonda fotoluminescente” Toloza CAT, Khan, S, Azevedo ABO,
Peréz-Gramatges A, Aucelio RQ, 18º Encontro Nacional de Química Analítica (ENQA) CD de Resumos
OUT 022, Florianópolis, Brasil, setembro de 2016.
Obs: Esse trabalho estava relacionado com o projeto original da candidata, que foi posteriormente
alterado por razões logísticas e por conta do potencial de publicação mais rápido do assunto do novo tema
do projeto.
Artigo científico: O artigo científico referente ao projeto está em processo de elaboração e
deverá ser submetido em breve.
1 Introdução
Os isômeros α-lapachona e β-lapachona são substâncias de origem natural pertencente à
classe das naftoquinonas, encontrado, em pequenas quantidades, nas plantas da família
Bignoniacea e com atividade fungicida comprovada [1,2]. Diversas atividades biológicas das
naftoquinonas, tais como antitumoral [3], bactericida [4], inibidora do HIV [5], moluscicida [6]
entre outras, foram comprovadas. Isto despertou grande interesse pela química das bignoniáceas
nos últimos anos. De Souza e colaboradores mostraram que lapachol, β-lapachona e α-lapachona,
têm atividade contra o fungo Fusarium oxysporum [2]. Ao contrário dos agentes quimioterápicos
convencionais, a β-lapachona foi relatada para induzir seletivamente a morte celular em
humanos, em células cancerígenas, mas não em células normais [7]. Neste contexto particular, a
β-lapachona resultou em um tratamento promissor na fase I dos testes de câncer pancreático,
câncer de cabeça e pescoço e leiomiossarcoma [8].
A principal abordagem na determinação de α-lapachona e β-lapachona e de outras
naftoquinonas presentes em extratos de plantas é baseada na cromatografia líquida de troca
iônica (HPLC) e na fotometria de absorção e detecção UV [9,10]. Steinert et al. propôs a
cromatografia líquida de alta eficiência na região do ultravioleta (HPLC-UV) para separar e
determinar as naftoquinonas em extratos de Tabebuia avellanedae (Bignoniaceae) [9].
Naftoquinonas foram isoladas com extrato etanólico da raiz da Zeyheria montana (genus
Tabeluia) e foi quantificado, com sucesso, através da HPLC-UV [10].
Voltametria foi empregada em estudos redox e na determinação de naftoquinonas [11-
14]. A redução eletroquímica de α e β-lapachonas foi estudada por Oliveira-Brett et al.,
utilizando a voltametria cíclica (VC), voltametria de onda quadrada (VOQ) e voltametria de
pulso diferencial (VPD) em um meio hidroalcóolico. O processo de redução, promovido pelo
eletrodo de carbono vítreo (ECV), para a β-lapachona, ácido 3-sulfônico-β-lapachona e β-
lapachona 3-bromo-β-lapachona foi reversível e dependente do pH. Entretanto, para a α-
lapachona o processo foi irreversível no pH 4,5 e quasi-reversível para pH 7,0. Outro estudo
sobre a redução eletroquímica de β-lapachona e seu derivado de ácido 3-sulfônico em meio
aquoso também foi feito usando ECV. Os resultados indicaram um processo de redução
reversível e dependente do pH e a evidência de interação entre a β-lapachona e a topoisomerase
[14]. Abreu et al., relatou a determinação eletro-analítica individual da redução de α-lapachona e
β-lapachona usando o ECV em solução aquosa etanólica (20%) e meio tamponado (pH 4,5), por
meio da VOC e VPD com LOD de 0,41 mg L-1 [12].
Os eletrodos feitos de carbono são amplamente utilizados como sensores eletroquímicos
devido à sua janela de potencial operacional favorável em uma ampla faixa de pH. Eles são
dispositivos de baixo custo e fáceis de modificar e manusear [15]. Adams, em 1958, introduziu
os compósitos, os quais são constituídos de uma fase condutiva mista de carbono e um material
isolante, como resinas, polímeros e óleos [15-17]. Os compósitos são microscopicamente
heterogêneos e apresentam propriedades de materiais precursores [18]. Os eletrodos compósitos
podem ser aplicados em uma ampla faixa de pH e potencial e também apresentam uma boa
condutividade, baixo custo, estabilidade mecânica e versatilidade na maneira em que podem ser
preparados. Mudanças químicas, principalmente com surfactantes, podem melhorar a
sensibilidade e a seletividade em analitos específicos. Além disso, mudanças reprodutíveis
podem ser facilmente feitas na a superfície do eletrodo [19,20].
Semaan et al., desenvolveu um compósito de poliuretano-grafite para determinação de
furosemida em fármacos através de VOQ. A resposta do analito foi linear até 7 mg L-1. Não
houve necessidade de renovação constante da superfície do eletrodo, uma vez que o analito não
adsorveu no material do eletrodo [20]. Mais recentemente, Balbin-Tamayo et al., validou o
compósito de epóxi-grafite para ser usado como sensor de DNA [21]. Eletrodos feitos com
diferentes proporções de epóxi/grafite foram caracterizados por VC, espectroscopia de
impedância eletroquímica e microscopia eletrônica de varredura por emissão de campo. A
melhor resposta eletroquímica, usando VOQ, para a guanosina monofosfato e a adenina foi
obtida usando uma resina endurecedora de epóxi-grafite nas proporções 3,3/2,5/1m/m/m.
Neste trabalho, um método eletroanalítico sensível, usando voltametria de onda quadrada
(VOQ) e eletrodo compósito de epóxi-grafite (EGE), para determinar simultâneamente α-
lapachona e β-lapachona em amostras de extrato etanólico de T. impetiginosa foi desenvolvido.
As condições experimentais foram ajustadas de tal forma a se ter um sinal voltamétrico intenso e
seletivo na resposta eletroquímica. A resposta analítica foi melhor em um meio contendo o
surfactante catiônico CTAB. Uma separação prévia de α-lapachona e β-lapachona do interferente
lapachol foi obtida através da extração líquido-líquido no extrato etanólico do cerne de T.
impetiginosa.
2 Experimental
2.1. Instrumentação
O método voltamétrico foi desenvolvido utilizando-se um potenciostato / galvanostato
(m-AUTOLAB Type III, Metrohm, Holanda) interligado a um computador e operando no modo
de onda quadrada de análise voltamétrica e voltametria cíclica. O eletrodo de trabalho foi de
epóxi-grafite e foi feito de acordo com o trabalho de Balbin-Tamayo et al. [21]. Utilizou-se o Ag
/ AgCl (KClsat) como eletrodo de referência do sistema eletroquímico e um fio de platina como
eletrodo auxiliar. Uma célula eletroquímica de 15 mL, feita de borosilicato, foi utilizada com
uma tampa de Teflon, a qual proporcionou o acesso dos três eletrodos até a solução. As medidas
de pH foram feitas em um pHmetro (modelo mPA-210, MS Tecnopon, Brasil) usando um
eletrodo de vidro combinado com um eletrodo de referência Ag / AgCl (KClsat). As análises de
cromatografia foram feitas em um cromatógrafo líquido de alta eficiência (modelo 1200, Agilent
Technologies, Japão), equipado com detecção de absorção fotométrica, em um forno de coluna
(mantido a 30oC) e em um Agilent Eclipse XDB–C18 com coluna (250 × 4.6 mm e tamanho
médio de partícula de 5 μm, EUA).
2.2. Reagentes e materiais
Todas as soluções foram preparadas utilizando água deionizada (resistividade inferior a
18 Mcm) obtida a partir de um purificador de água Milli-Q Gradient Sistem A10, Millipore
(EUA). α-Lapachona (140oC), β-lapachona (155oC) e lapachol (142-143oC), foram obtidos
segundo os procedimentos obtidos na literatura [22-24]. Todas as naftoquinonas foram
purificadas e caracterizadas por métodos espectroscópicos e os resultados concordaram com os
dados da literatura [25-27]. O brometo de hexadeciltrimetilamônio (CTAB) e o ácido acético
(grau analítico) foram adquiridos da Sigma-Aldrich (EUA). O nitrato de potássio, fosfato de
sódio monobásico e o fosfato de sódio dibásico foram obtidos na Merck (Alemanha). O álcool
metílico e etanol (todos com grau HPLC) foram obtidos na Tedia (Brasil). O acetato de etila e o
bicarbonato de sódio foram adquiridos da Isofar (Brasil), o ferrocianeto de potássio foi obtido na
Autolabor (Brasil) e o tampão Tris.HCl foi comprado na Synth, Brasil.
O pó de grafite de grau espectroscópico foi da Ringsdorff-Werke GMBH (Alemanha).
A resina epóxi foi obtida a partir de um kit comercial de pasta Araldite®. A pasta de alumínio (1
m) foi adquirida da Fortel (Brasil). O gás nitrogênio, marca comercial, foi comprado na Linde-
gases (Brasil). Os filtros de seringa de PTFE (0,45 μm) foram comprados na Whatman (Reino
Unido). O cerne natural da T. impetiginosa (Ipê Rosa) foi comprado em um mercado local.
2.3. Construção e caracterização do eletrodo de epóxi-grafite
Para a construção do eletrodo de epóxi-grafite foi utilizado o procedimento descrito na
literatura [21], com pequenos ajustes. A resina epóxi e o endurecedor (do kit de Araldite) foram
misturados em quantidades iguais, antes da adição do pó de grafite. Esses componentes foram
misturados a fim de se obter um compósito homogêneo constituído de 3%m/m de uma mistura
resina-endurecedor e 97% m/m de grafite. Antes do compósito de epóxi-grafite endurecer, ele foi
introduzido na ponta de um capilar de vidro (aproximadamente 10 mm), onde já tinha um fio de
cobre, estabelecendo o contato elétrico entre o fio de cobre e o compósito. Após 24 h, a
superfície do compósito foi polida usando uma lixa (1200 e 600 grão) e depois realizou-se um
polimento final utilizando alumina em suspensão (1 μm). A área ativa de superfície do eletrodo
foi determinada usando medidas de VC (de -250 até +650 mV na faixa de varredura de 20-100
mV s-1) de uma solução de K4[Fe (CN)6] (1,0 × 10-3 mol L-1) usando uma solução de K2SO4 (0,5
mol L-1) como eletrólito suporte. Varreduras sequenciais (Figura 1) geraram uma corrente de
pico (Ip) que aumenta linearmente em função da faixa de varredura (v), de 20 a 100 mV s-1.
Como a concentração de espécies eletroativas (C) foi 1,00 × 10-6 mol cm-3, foi possível estimar a
área eletroativa como 0,0078 cm2 pela simplificação da equação de Randles-Sevcik: A =
Ip/(2,686 × 105 v1/2 n3/2 C D1/2 ), onde D é 6,32 × 10-6 cm2 s-1 e n=1.
Figura 1: (A) Voltamogramas cíclicos em diferentes velocidades de varredura de potencial para o sistema
ferrocianeto / ferrocianato em solução 1,0 × 10-3 mol L-1 de K3[Fe(CN)6]/ 0,5 mol L-1 de K2SO4. (B) Curva da
variação da corrente de pico com a raiz quadrada da velocidade de varredura. Dados retirados da Figura 2A.
2.4. Soluções-estoque e soluções padrões
Quantidades apropriadas de cada uma das naftoquinonas (α-lapachona, β-lapachona e
lapachol) foram usadas para preparar as soluções estoque de 1,0 × 10-2 mol L-1 e 1,0 × 10-3 mol
L-1 em metanol. Soluções mais diluídas de naftoquinonas foram preparadas para diluir nas
soluções estoque com metanol. As concentrações finais dos componentes presentes na solução
eletrolítica de trabalho foram: tampão fosfato (4,0 × 10-2 mol L-1; pH 6,0), nitrato de potássio
(1,0 mol L-1) e o surfactante catiônico CTAB (1,2 × 10-4 mol L-1) em água deionizada. A
presença de α-lapachona e β-lapachona diminuiu a concentração micelar crítica do CTAB
-400 -200 0 200 400 600 800
-1.4
-0.7
0.0
0.7
1.4
2.1 A100 mV s
-1
20 mV s-1
I (A
)
Potential (mV) x Ag/AgCl
5 6 7 8 9 101.0
1.2
1.4
1.6
1.8
2.0 BI (A
)
v1/2
(normalmente em 9,2 × 10-4 mol L-1 [28]), o que torna o sistema eletrolítico rico em micelas e
estruturas pré-micelas.
2.5. Preparação da Amostra
Como descrito por Lima et al. [29], o cerne da T. impetiginosa (Ipê Rosa) foi triturado
finamente (aproximadamente 1 g). Depois, porções de 125 mg do pó resultante foi extraído,
utilizando etanol, em um banho de ultrassom (5 min) e depois o extrato foi passado por um filtro
seringa (0,45 μm) e coletado em um balão volumétrico de 10,00 mL. Todos os extratos da
amostra foram realizados em triplicata.
2.6. Extração líquido-líquido
Um procedimento de extração líquido-líquido usando, acetato de etila e solução de
bicarbonato de sódio 2,5 % foi feito para separar α-lapachona e β-lapachona dos interferentes da
amostra incluindo o lapachol que é o componente majoritário presente na amostra.
Inicialmente preparou-se uma amostra simulada mista, a partir de solução estoque de α-
lapachona, β-lapachona e lapachol na concentração 1 × 10-4 mol L-1 em metanol. Em seguida 1
mL dessa amostra foi adicionado ao funil de separação e na sequência 5 mL de acetato de etila e
5 mL de solução de bicarbonato de sódio 2,5 % foram adicionados ao funil nessa ordem. Uma
agitação por cerca de 2 mim foi feita e a mistura foi deixada em repouso até que a separação das
fases fosse observada. Em seguida a coleta da fase aquosa que ficou na parte inferior foi feita e
esta foi descartada, pois continha os interferentes da matriz. A fase orgânica que contém os
analitos de interesse foi lavada 4 vezes com 5 mL de solução de bicarbonato de sódio 2,5 % para
eliminação do excesso de acetato de etila e em seguida 4 lavagens com H2O foram realizadas
para retirar o excesso de bicarbonato de sódio, a fase aquosa era sempre coletada e descartada.
Após as lavagens, coletou-se em um tubo graduado a fase orgânica que foi levada ao
aquecimento em banho-maria para evaporação dos resíduos de acetato de etila e após a
evaporação o conteúdo residual foi retomado com 1 mL de metanol. Uma alíquota de 250 µL foi
adicionada à célula eletroquímica e analisada.
Esse mesmo procedimento foi realizado na amostra real de cerne de T. impetiginosa (Ipê
Rosa), porém esta amostra foi previamente fortificada com uma solução estoque de α-lapachona
e β-lapachona na concentração 1 × 10-2 mol L-1, pois estes estão presentes em quantidades abaixo
do limite de detecção do método e o lapachol estava presente em altas concentrações, pois este é
o componente majoritário presente na amostra. A fortificação do extrato foi feita com 600 µL de
solução estoque de α-lapachona e β-lapachona na concentração 1 × 10-2 mol L-1 e 1 mL do
extrato fortificado foi utilizado para a realização do procedimento de extração líquido-líquido
descrito acima.
2.7. Medições Voltamétricas de α-lapachona e β-lapachona
Todos os experimentos voltamétricos foram realizados depois da purga com gás inerte da
solução na célula eletrolítica (aproximadamente 2 min) e antes da medição. Também foram
realizados experimentos de VC para avaliar o processo redox na faixa de -900 mV a +600 mV,
usando 4 × 10-4 mo L-1 de α-lapachona e β-lapachona na solução eletrolítica de trabalho que
continha CTAB. Medições de VOQ foram realizadas, usando a solução eletrolítica de trabalho,
para avaliar o processo redox e também para determinar analiticamente α-lapachona e β-
lapachona. Realizaram-se experimentos de diagnóstico redox na faixa de +600 mV a -900 mV.
Determinações analíticas foram obtidas com uma pré-concentração analítica em +400 mV por
140 s (sob regime de transporte convectivo e purga com gás nitrogênio). Após o tempo de
equilíbrio (1 min) sem agitação e purga, as medidas de +600 mV até -900 mV foram realizadas
usando 30 Hz, 20 mV de passo potencial e 40 mV de amplitude de pulso. O sinal analítico foi
obtido em potenciais de -370 mV e -190 mV após adições sequenciais de 10 µL de solução
estoque 1 × 10-3 mo L-1 de α-lapachona e β-lapachona, respectivamente.
2.8. Análise da Cromatografia
As amostras extraídas foram analisadas por HPLC-UV sob uma eluição isocrática com
metanol/solução 5% de ácido acético (80/20% v/v) [29]. A vazão da fase móvel foi 1 mL min-1 e
o volume de amostra injetado foi 10 μL. Sob essas condições, o tempo de retenção de α-
lapachona e β-lapachona foi de 3,9 min e 4,3 min, respectivamente. As curvas analíticas foram
construídas através da injeção de 20 μL de soluções estoque de α-lapachona e β-lapachona com
faixa de concentração de 1 × 10-5 mol L-1 a 4 × 10-4 mol L-1. As análises foram realizadas em
triplicata com detecção absorciométrica em 278 nm.
3 Resultados e Discussão
3.1. Estudos preliminares visando a determinação seletiva de α-lapachona e β-lapachona
Processos redox envolvendo naftoquinonas em substratos à base de carbono
especialmente no caso do ECV são muito conhecidos, e tem sido amplamente abordados na
literatura [12,30]. No entanto, esses estudos são quase sempre realizados com apenas uma
naftoquinona, pois outras naftoquinonas tendem a ter potenciais redox muito próximos, e a
avaliação de misturas torna a realização de tais estudos muito desafiadora devido a interferências
significativas. Portanto, é desejável alcançar condições seletivas que possibilitem a observação
simultânea do comportamento de diferentes naftoquinonas, permitindo também a sua detecção.
No caso específico deste trabalho, dois isômeros da naftoquinona (α-lapachona e β-
lapachona) foram escolhidos. Estudos indicaram que a interferência mútua imposta por este par
de isômeros pode ser minimizada por uma combinação de meio eletrolítico adequado e
condições instrumentais / experimentais adequadamente escolhidas (força iônica, pH, proporção
e tipo de mistura eletrolítica, potencial aplicado e tempo de deposição, freqüência, amplitude de
pulso e passo potencial), que foram os mesmo utilizados por Almeida et al. [31] na determinação
do lapachol, que é uma outra naftoquinona dessa classe.
Um estudo usando VC (Figura 2A) mostrou que, para α-lapachona, os picos 1 e 4 estão
respectivamente relacionados à oxidação (em -442 mV) e à redução (em -503 mV), enquanto que
para β-lapachona, os picos 2 e 3 estão respectivamente relacionados com a oxidação (em -190
mV) e redução (em -344 mV) usando 100 mV s-1 na faixa de potencial de -1000 mV a 1000 mV
e sem transporte de massa convectivo forçado. Vários ciclos de VC foram feitos para verificar a
estabilidade do processo e, mesmo após 15 ciclos (Figura 2A), não houve evidência de uma
diminuição na magnitude dos picos, indicando que as espécies na interface eletrodo-solução são
prontamente e repetidamente convertidas nas formas oxidadas e reduzidas.
Os gráficos da raiz quadrada de v (com v variando de 40 a 100 mV s-1) em função do Ip
para a redução de ambas lapachonas foram lineares, com R2 = 0,989 para a α-lapachona (pico 4)
e R2 = 0,997 para a β-lapachona (pico 3). A partir desse mesmo estudo (Figura 2B), observou-se
que o processo redox da β-lapachona (picos 2 e 3) é claramente reversível, uma vez que tanto a
oxidação quanto a redução possuem intensidades próximas. Além disso, a literatura [30] afirma
que processos eletroquímicos envolvendo este tipo de naftoquinona são reversíveis devido à
rápida cinética e disponibilidade de prótons para o processo de protonação de duas fases afetando
ambos os grupos carboxílicos, levando-o a ser visto como um processo de uma etapa envolvendo
dois elétrons e dois prótons. Para a α-lapachona, resultado semelhante ao descrito por Abreu et
al., [12] foi observado, com um comportamento diferente do que é geralmente esperado a partir
de naftoquinonas em meio aquoso [12] com o VC apresentando um pico catódico intenso e um
anódico menos intenso. Segundo Abreu et al., o comportamento eletroquímico da α-lapachona é
mais dependente do pH que da β-lapachona, uma vez que a redução de α-lapachona, em pH 4,5,
é considerada irreversível, envolvendo a transferência de dois elétrons. Além disso, em pH 7,
uma espécie intermediária semi-reduzida formada por α-lapachona sofre clivagem que favorece
uma ressonância que resultará em uma espécie intermediária mais estável (espécie semi-
reduzida) que é estabilizada pela forma canônica de ligação de hidrogênio que prevalece durante
a VC [12] resultando em um processo quasi-reversível. O aumento de Ip em função de √f (Figura
2C) foi diretamente proporcional e linear (R2 = 0,974 e 0,997 para α-lapachona e β-lapachona,
respectivamente), o que é uma indicação de que o processo foi controlado pela difusão de
reagentes [32].
-1000 -500 0 500 1000-6
-4
-2
0
2
4
A
Potential x Ag/AgCl (mV)
o
a
o
a
oxidation
reduction
4
3
2
1
I (
A)
-1000 -500 0 500 1000
-4
-2
0
2
4 B
6 7 8 9 10
-1
-2
-3
-4
I (
A)
v 1/2
34
2
1
I (
A)
Potential x Ag/AgCl (mV)
2 4 6 8 10 12 14 160
-5
-10
-15
-20
-25
-30
-35C
I (
A)
f 1/2
Figura 2: (A) Voltamogramas cíclicos sequenciais (linha a-o) para α-lapachona e β-lapachona (ambos em 4,0 × 10-4
mol L-1) a 100 mV s-1. (B) Voltametria cíclica usando v de 40-100 mV s-1 para α-lapachona e β-lapachona na
presença de CTAB 1,2 × 10-4 mol L-1. (C) Estudo de √f × Ip com f na faixa de 10 a 200 Hz usando tampão fosfato
(4,0 × 10-2 mol L-1 e pH 6), CTAB (1,2 × 10-4 mol L-1), KNO3 (1 mol L-1) em v = 100 mV s-1.
3.2. Estudo da influência do pH e do surfactante
Os surfactantes representam um importante papel no processo eletroquímico, pois eles
conseguem mediar à interação entre as espécies eletroativas e o eletrodo [33,34]. Eles também
podem influenciar processos redox e minimizar a passivação da superfície do eletrodo causada
pela adsorção de produtos eletrogerados ou por componentes da matriz da amostra [35,36]. Além
disso, eles melhoram a solubilidade de analitos hidrofóbicos e facilitam o transporte de massa
[37,38].
Um estudo com CTAB antes da concentração micelar crítica (CMC), próximo à CMC e
após a CMC (Figura 3A) foi feito com o objetivo de melhorar a resposta eletroquímica e além
disso, a presença de CTAB pareceu melhorar a difusão das lapachonas, já que o eletrodo realizou
um melhor transporte e uma reação redox mais eficiente. As micelas e os agregados pré-micelas
confinaram os reagentes e produtos envolvidos na reação fazendo a concentração local (dentro
da micela normal ou entre os monômeros que formam a estrutura micelar) ficar muito alta, mas
melhorando a cinética da reação. A formação de radicais também é favorecida, pois eles são
estabilizados pelo sistema de micelas.
Na Figura 3A é possível observar que a melhor separação dos sinais de α e β-lapachona
ocorre quando se trabalha com o CTAB antes da CMC, nas outras condições que seriam na CMC
e abaixo da CMC é possível observar para os sinais de redução que ocorre uma sobreposição dos
picos que pode estar sendo influenciada pela cinética da reação. Assim, o meio tamponado em
pH 6 e contendo CTAB foi escolhido para estabelecer o método quantitativo voltamétrico.
-1000 -500 0 500 1000-12
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6 A
apos CMC
na CMC
antes da CMC
I (
A)
Potencial (mV)
6 7 8 9
-3
-4
-5
-6
-7 B
A
pH
beta-lapachone
alfa-lapachone
I (
A)
Figura 3: Voltametria cíclica do processo redox 2 × 10-4 mol L-1 de α e β-lapachona em meio aquoso na presença de
CTAB antes da CMC (8,1 × 10-4 mol L-1), na CMC (1,0 × 10-3 mol L-1) e após CMC (1,5 × 10-3 mol L-1). Condições
experimentais: tampão fosfato (4 × 10-2 mol L-1; pH 6), KNO3 (1 mol L-1) em meio aquoso a v = 100 mV s-1.
Influência da resposta do pH empregando a voltametria de onda quadrada para a determinação simultânea de α e β-
lapachona.
Na faixa de pH avaliada (6,0 a 9,0) utilizando tampão fosfato, ambos os picos de redução
foram mais intensos entre pH 6,0 e 7,0. Nessa faixa, as intensidades relativas de cada um dos
picos, avaliadas por meio de voltametria de onda quadrada (VOQ). Na Figura 3B, as
intensidades dos picos voltamétricos com máximos em -370 mV e -190 mV para α e β-
lapachona, respectivamente, são mostradas em toda a faixa de pH estudada. Observou-se uma
clara diminuição da resposta nas condições mais básicas de pH para a β-lapachona. O pH 6,0 foi
escolhido para prosseguir com o desenvolvimento do método porque produziu mais resultados
reprodutivos e estáveis.
3.3 Otimização de condições experimentais e instrumentais para análise de α e β-
lapachonas usando VOQ
Os isômeros α e β-lapachonas acumulam na superfície do eletrodo (sob transporte
convectivo forçado e purga com N2) na mesma faixa não importando o potencial aplicado (na
faixa de +600 a -900 mV), o que permite uma pré-concentração dos analitos antes da
quantificação. Os parâmetros instrumentais empregados para a voltametria de onda quadrada
amplitude de pulso de 40 mV e frequência de 30 Hz, foram os mesmos adotados por Almeida et
al., usando um passo potencial de 20 mV, pois estas foram as condições que melhor se
adequaram ao método. A corrente de redissolução medida após diferentes tempos de pré-
concentração foi monitorada e uma saturação é alcançada após 140 s. Para fins quantitativos, 140
s de acumulação do analito em +400 mV foram usados para medir a VOQ da corrente de
redissolução do analito. A VOQ foi usada para quantificar simultaneamente esses isômeros. As
condições empregadas foram as mesmas usadas por Almeida et al., (Tabela 1).
Tabela 1: Condições para determinação de α e β-lapachonas por VOQ.
Parâmetro Valor
Mistura Eletrolítica CTAB (1,2 × 10-4 mol L-1) / tampão fosfato (4 × 10-2 mol L-1;
pH 6) / KNO3 (1 mol L-1)
Potencial de Deposição 400 mV
Tempo de Deposição 140 s
Amplitude 40 mV
Passo Potencial 20 mV
Frequência 30 Hz
Sinal Monitorado em -370 mV e -190 mV
Alcance do Potencial de Varredura 600 a -900 mV
3.4 Determinação analítica de α e β-lapachonas usando VOQ
Voltamogramas correspondentes aos sinais da α-lapachona (-370 mV; pico 1) e β-
lapachona (-190 mV; pico 2) são mostrados na Figura 4A. A concentração das lapachonas foi
variada de 1,0 × 10-6 mol L-1 a 1,3 × 10-5 mol L-1 para construção das curvas analíticas (inserção
na Figura 4A) que confirma que o sinal analítico (corrente de pico) foi diretamente e linearmente
proporcional à concentração de ambas lapachonas na célula eletroquímica (R2 = 0,997 para o
pico 1 e R2 = 0,995 para o pico 2). As equações da curva de adição padrão foram Ip (μA) = (9,0 ×
10-2 ± 6,0 × 10-4) Cα-lapachona (mol L-1) + (3,1 × 10-8 ± 4,5 × 10-9) com base no pico 1 e Ip (μA) =
(4,8 × 10-2 ± 2,3 × 10-4) Cβ-lapachona (mol L-1) + (5,0 × 10-8 ± 4,5 × 10-9) com base no pico 2,
cobrindo o intervalo até 1,3 × 10-5 mol L-1) de analito. As medições foram realizadas em três
repetições e os erros associados à sensibilidade e ao coeficiente linear foram calculados como
desvios-padrão.
-1200 -800 -400 0 400 8000
-1
-2
-3
0.0 4.0x10-6
8.0x10-6
1.2x10-5
0.0
-0.2
-0.4
-0.6
-0.8
-1.0
-1.2
-1.4
I (
A)
concentration (mol L-1)
A
2
1
I (
A)
Potential (mV)-1200 -800 -400 0 400 8000
-2
-4
-6
-8
-10
-12
-142
1
0.0 4.0x10-6
8.0x10-6
1.2x10-5
0
-2
-4
-6
-8
-10
I (A)
concentration (mol L-1)
B
I (
A)
Potential (mV)
-1200 -800 -400 0 400 8000
-4
-8
-12
-16C
EEG
ECV
I (
A)
Potential (mV)
Figura 4: Curva de adição analítica VOQ de α-lapachona e β-lapachona cobrindo a faixa de concentrações de 1,0 ×
10-6 mol L-1 a 1,3 × 10-5 mol L-1 usando: (A) eletrodo de epóxi-grafite e (B) eletrodo de carbono vítreo (ECV). (C)
Sinal de fundo medido usando eletrodo de epóxi grafite (EEG) e eletrodo de carbono vítreo (ECV).
Estudos usando eletrodo de epóxi-grafite ou o ECV foram feitos a fim de comparar os
sinais e comportamentos dessas naftoquinonas isômeras nestes substratos. O experimento usando
ECV foi realizado nas mesmas condições empregadas para o eletrodo de epóxi-grafite. A curva
de adição padrão usando o ECV foi Ip (μA) = (5,3 × 10-1 ± 7,3 × 10-3) Cα-lapachone (mol L-1) + (1,0
× 10-6 ± 5,9 × 10-8) (R2 = 0,969) usando o pico 1 e Ip (μA) = (4,1 × 10-1 ± 3,8 × 10-3) Cβ-lapachone
(mol L-1) + (2,0 × 10-7 ± 2,4 × 10-8) (R2 = 0,994) usando o pico 2. Embora cobrindo
aproximadamente a mesma faixa de concentração e permitindo sensibilidades semelhantes, a
área do eletrodo do carbono vítreo é aproximadamente três vezes maior que a área do eletrodo de
epóxi-grafite. Observou-se também que o sinal de linha de base (sinal de fundo) produzido pelo
eletrodo de epóxi-grafite foi significativamente menor que o produzido pelo ECV, o que
possibilitou melhor poder de detecção (Figura 4C). No entanto, aparentemente, a resolução
alcançada por qualquer um dos eletrodos permite determinações seletivas em faixas
relativamente mais altas de concentração dos isômeros (acima de 10-6 mol L-1).
As medidas foram realizadas em triplicata e os erros associados à sensibilidade e
coeficiente linear foram calculados como desvio-padrão. O limite de detecção e quantificação
instrumental foi na ordem de 10-7 e 10-6 mol L-1 para α-lapachona e β-lapachona, respectivamente
e foram calculados usando, respectivamente, 3sb/m e 10sb/m, onde sb é o desvio-padrão de dez
medições consecutivas de sinal da menor concentração de analito na curva de adição analítica e
m é a sensibilidade dessa curva. A Figura 5 um sinal produzido pelo analito no nível do LOQ é
mostrado contra o sinal em branco. A precisão instrumental de 2% foi obtida a partir de dez
medições consecutivas de sinal (medidas após a pré-concentração) produzido pelos padrões
analíticos em duas diferentes concentrações (2 × 10-6 mo L-1 e 1 × 10-5 mo L-1).
-1200 -800 -400 0 400 800
-0.2
-0.3
-0.4
-0.5
-0.6
I (
A)
potential (mV)
Figura 5: Voltamogramas mostrando a diferença entre o sinal produzido pelo (1) branco (2) α e β-lapachonas em
uma concentração equivalente ao LOQ e LOD, respectivamente.
3.5 Interferência do lapachol e β-lapachona sulfonada na determinação de α e β-lapachona
no extrato etanólico de T. impetiginosa
A interferência do lapachol, que também é uma naftoquinona e está presente em
quantidades majoritárias nas amostras analisadas foi estudada. α-lapachona e β-lapachona
(ambos isômeros do lapachol) foram avaliados na presença desse analito. O sinal correspondente
ao voltamograma por VOQ do isômero α-lapachona (pico 1) é completamente sobreposto pelo
lapachol (Figura 6A), pois ambos apresentam resposta no mesmo potencial. Em contraste, o sinal
voltamétrico correspondente a β-lapachona (pico 2) por VOQ, não sofreu interferências
significativas com a adição de lapachol. Portanto, uma determinação isolada de β-lapachona na
presença de lapachol é viável. Porém uma determinação simultânea de α-lapachona e β-
lapachona na presença de lapachol não é possível, e de acordo com os estudos feitos, é
necessário um pré-tratamento da amostra para que garanta a seletividade do método na
determinação simultânea dos analitos estudados no presente trabalho em relação à presença de
lapachol.
Outra naftoquinona, a β-lapachona sulfonada também foi avaliada como possível
interferente na determinação simultânea de α e β-lapachona. A interferência da β-lapachona foi
avaliada na presença dos analitos de interesse α-lapachona e β-lapachona. O sinal correspondente
ao voltamograma por VOQ dos isômeros α-lapachona (pico 1) e β-lapachona (pico 2) sofrem
interferência da β-lapachona sulfonada (Figura 6B), pois à medida que concentrações crescentes
do interferente é adicionada ambos os sinais para α-lapachona e β-lapachona aumentam.
Portanto, uma determinação simultânea na presença desse interferente é inviável.
-1200 -800 -400 0 400 800
0
-1
-2
-3
-4
-5
-6 g
a
beta
alfa
I (
A)
potencial (mV) -1200 -800 -400 0 400 800
0.0
-0.5
-1.0
-1.5
-2.0
-2.5
-3.0
-3.5
-4.0
g
a
beta
alfa
I (
A)
potencial (mV) Figura 6: Voltamogramas de misturas contendo α-lapachona e β-lapachona (6 × 10-5 mol L-1) e outras
naftoquinonas: A) mistura com lapachol e B) mistura com β-lapachona sulfonada. Concentrações indicadas para as
naftoquinonas: a) branco; b) 0 mol L-1; c) 2 × 10-5 mol L-1; d) 4 × 10-5 mol L-1 e e) 6 × 10-5 mol L-1. Condições
otimizadas experimentalmente (Tabela 1).
A adição de uma alíquota do extrato etanólico do cerne da T. impetiginosa fortificado
com α e β-lapachona (1 × 10-3 mol L-1) sem nenhum tipo de pré-tratamento foi adicionada
diretamente dentro da célula eletroquímica e produziu um sinal amplo e largo, o que indicou que
a matriz interfere na análise. Para separar α e β-lapachona dos componentes da amostra incluindo
o lapachol, o procedimento de extração líquido-líquido foi realizado, o que permitiu recuperação
de α-lapachona e β-lapachona de 94% e 95%, respectivamente. Além disso, uma avaliação do
processo de extração foi feita através da injeção de uma alíquota da fase aquosa e uma da fase
orgânica após a extração em um HPLC, e o resultado comprovou a presença de lapachol na fase
aquosa e na fase orgânica a presença das duas naftoquinonas, alvo de estudo do presente
trabalho. Amostras do extrato do cerne da T. impetiginosa foram analisadas, com sucesso, a fim
de determinar α e β-lapachona. A concentração média de α-lapachona e β-lapachona (com limite
de confiança de 95% e n=3) no extrato fortificado do cerne de T. impetiginosa foi de 1,53 × 10-5
± 1,2 × 10-7 mol L-1 e 1,49 × 10-5 ± 1,4 × 10-7 mol L-1, respectivamente. A análise de diferentes
alíquotas do extrato foram feitas em três dias diferentes e os resultados (média das três
replicatas) estão mostrados na Tabela 2. Uma amostra simulada para α e β-lapachona, contendo o
interferente lapachol foi preparada e esta foi analisada por VOQ, após passar pela extração
líquido-líquido. Os resultados obtidos são reportados na Tabela 2.
Tabela 2: Concentração de α e β-lapachona (analisada em três dias, com n=3 replicatas) em amostra
simulada e na madeira da T. impetiginosa (Ipê Rosa) após separação por extração líquido-líquido.
Amostra Dia Concentração α-lapachona
(mol L-1)
Concentração β-lapachona
(mol L-1)
Amostra simulada
1 9,72 × 10-5 ± 1,8 × 10-7 7,52 × 10-5 ± 4,2 × 10-7
2 9,80 × 10-5 ± 1,1 × 10-7 7,75 × 10-5 ± 3,9 × 10-7
3 9,60 × 10-5 ± 1,4 × 10-7 7,92 × 10-5 ± 3,5 × 10-7
Extrato de T.
impetiginosa
(Ipê Rosa)
1 1,53 × 10-5 ± 1,2 × 10-7 1,49 × 10-5 ± 1,4 × 10-7
2 1,51 × 10-5 ± 1,0 × 10-7 1,47 × 10-5 ± 1,7 × 10-7
3 1,55 × 10-5 ± 1,3 × 10-7 1,51 × 10-5 ± 1,9 × 10-7
As mesmas amostras simuladas e de extrato da madeira T. impetiginosa também foram
analisadas por HPLC e os resultados (três amostras feitas em três replicatas) são mostrados na
Tabela 3 junto com os obtidos pelo método proposto por VOQ. Os resultados são
estatisticamente concordantes entre si, pois o teste t Student (usando o valor da média geral) deu
um valor para tcalculado = 1,3 e 1,7; tcalculado = 1,1 e 2,2 e tcrítico = 2,2 e 2,2; tcrítico = 1,2 e 2,2 para α e
β-lapachona, respectivamente, em um nível de confiança de 95% (n1 = n2 = 12) para a amostra
simulada e amostra real, respectivamente. A análise da variância (fator único) usando cada valor
médio como um resultado independente produziu um Fcalculado de 1,6 e 3,0; 1,2 e 4,7 e Fcrítico de
4,9 e 5,0; 1,5 e 4,7, em um nível de confiança de 95% e n1 = n2 = 12 para as amostras simuladas
e real.
Tabela 3: Determinação de α e β-lapachona em amostras simulada e no cerne da madeira de T.
impetiginosa (Ipê Rosa) fortificados.
Amostra Método Concentração
α-lapachona
(mol L-1)
Concentração de
β-lapachona
(mol L-1)
Amostra
Simulada
VOQ a 9,71 × 10-5 ± 1,1 × 10-6 a 7,75× 10-5 ± 2,0 × 10-6
HPLC-
UV
9,79 × 10-5 ± 1,0 × 10-6 7,91 × 10-5 ± 8,2 × 10-7
Extrato
Madeira
Fortificado
VOQ a 1,53 × 10-5 ± 2,0 × 10-7 a 1,49 × 10-5 ± 2,0 ×10-7
HPLC-
UV
1,53 × 10-5 ± 3,6 × 10-7 1,42 × 10-5 ± 6,9 × 10-7
a Procedimento de extração para separar analito
4 Conclusão
Um método voltamétrico foi desenvolvido para quantificar simultaneamente α-lapachona
e β-lapachona e foi aplicado em análises de extratos do cerne da T.impetiginosa na presença do
interferente lapachol. Um eletrodo de epóxi-grafite produzido no laboratório forneceu uma
resposta linear e sensível além de baixo ruído. A utilização de CTAB no eletrólito suporte (em
pH 6,0) possibilitou picos redox intensos e reversíveis para as lapachonas. O procedimento de
extração líquido-líquido utilizado para separar α-lapachona e β-lapachona do lapachol, além de
outros potenciais componentes, presentes em extratos de plantas, permitindo assim determinação
seletiva e simultânea dos analitos.
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