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RELATÓRIO 2 B 2ª SESSÃO: Silvae, João Queiroz 5º Ano (Grupo B) Culturgest, 2 Dezembro de 2010

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  • RELATÓRIO 2 B

    2ª SESSÃO: Silvae, João Queiroz

    5º Ano

    (Grupo B)

    Culturgest, 2 Dezembro de 2010

  • 2

    Índice

    Pág.

    RELATÓRIO DA DISCUSSÃO (Procedimentos) 3

    Análise de relevância temática da discussão 4

    Leitura da obra 4

    Agenda da Discussão 4

    Discussão 6

    Paisagem 7

    Exemplos 9

    Conceito de Vida 15

    T5 (Conclusão) 17

    Análise de relevância da discussão por género (Crianças-participantes e Adultos) 19

    1. O que está representado na obra? 22

    2. O que é um Ser Vivo? 23

    3. O que não é um Ser Vivo? 24

    4. Como é que a obra de Bacon dialoga com a história de Édipo? 27

    5. O que é que as obras comunicam ao observador? 31

    Análise etnográfica do registo de vídeo 34

    Retratos e análise de participação por indivíduo (Crianças-participantes e Adultos) 41

    CONCLUSÕES FINAIS 51

    REGISTO DE CONTROLO 56

    Análise da obra e enquadramento no espaço 57

    Avaliação da sessão 58

    Discussão 59

    Observação participante 60

    Avaliação da construção de teorias enraizadas 61

    Avaliação do processo de pesquisa 62

  • 3

    RELATÓRIO DA DISCUSSÃO

    Os resultados apresentados no presente relatório referem-se a um grupo de 15 crianças-participantes (7 rapazes e 8 raparigas)

    com idades compreendidas entre os 10 e os 11 anos de idade e de 2 adultos: professor (CONV1) e investigadora (INV), que

    participaram na Sessão de Filosofia que teve lugar no dia 2 Dezembro de 2010, com a duração de 1 hora e 11 minutos, na

    Culturgest (Lisboa). O grupo de crianças-participantes supracitado pertence à turma do 5º ano de escolaridade do ano lectivo

    2010/2011, e é constituída por um total de 16 crianças (6 rapazes e 9 raparigas).

    Procedimentos

    O R2B reporta-se à sessão que ocorreu a propósito da exposição intitulada Silvae do artista plástico João Queiroz, e procurou

    manter o protocolo de Matthew Lipman assumido por esta investigação.

    A escolha das obras para a Sessão de Filosofia foi motivada pela possibilidade comparativa da teoria que poderia surgir da

    análise efectuada aos dados recolhidos nesta sessão com a que surgiria, posteriormente, na 10ª Sessão A, realizada no dia 6

    de Janeiro de 2011.

    Fig.1 – João Queiroz, s/ título (2008)

    A obra em questão (Fig.1) foi previamente observada e analisada segundo o comportamento revelado pelas

    crianças-participantes do Grupo A em visita à exposição no dia seleccionada. Para promover uma melhor conformidade de

    denominações, a obra referenciada para Discussão será denominada de T5 (T referente a tela e 5 por ser a 5ª das telas

    expostas numa perspectiva física de observação da esquerda para a direita) na mesma sala de exposições.

  • 4

    ANÁLISE POR RELEVÂNCIA TEMÁTICA DA DISCUSSÃO

    A ARTD resultou da análise da Agenda da Discussão (2ª Fase da Sessão) e da Discussão (3ª Fase da Sessão) e manteve

    os objectivos sinalizados no R1A: constituir uma visão de conjunto dos temas lançados na Discussão pelas

    crianças-participantes, numa perspectiva Grounded theory.

    A 2ª Sessão B será a segunda a ser realizada num espaço público e em Discussão directa com a obra de arte em referência,

    sendo que neste caso a obra visada circunscreve-se por conveniência teórica.

    Esta análise manteve-se o mesmo sistema de categorização anteriormente estabelecido: registar a organização natural da

    própria Discussão por fases alternadas ou distintas (Categorização processual); observar a pertinência de um conteúdo-base

    representativo de um tópico que evidencie uma ideia, conceito ou fenómeno que circunscreva ou auxilie a teoria constituída

    (Categorização estrutural); investigar e registar os elementos descritivos da(s) obra(s) e que tipos de relações estabelecem

    entre si (Categorização descritiva); investigar e registar como é que na percepção e experimentação da obra se relacionam

    estes elementos descritivos, ou seja, como é que se estabelece o fenómeno revelador da experiência estética (Categorização

    por valorização).

    Leitura da obra (1ª Fase da Sessão)

    A Leitura da obra teve a duração aproximada de 33 minutos.

    A Leitura da obra iniciou-se com um breve esclarecimento sobre os procedimentos, de como estes de assemelhavam à

    sessão anterior, há excepção de que, no espaço onde nos encontrávamos, as crianças-participantes iriam discorrer sobre a

    obra previamente seleccionada e não com base em textos ou nas novelas de Lipman.

    As crianças-participantes sentaram-se em meia-lua para poderem integrar no seu círculo de Discussão a obra seleccionada

    e deu-se seguimento a um momento de observação/reflexão individual em silêncio das obras.

    Neste momento foi entregue às crianças-participantes o MP4 para registo de som das suas intervenções e como passa-

    palavra.

    Agenda da Discussão (2ª Fase da Sessão)

    A Agenda de Discussão foi registada uma duração aproximada de 5 minutos e 56 segundos.

    Code: AGENDA DA DISCUSSÃO

    Classificação: CATEGORIA PROCESSUAL (teorização activa)

    A constituição da Agenda da Discussão não causou qualquer tipo de constrangimento nas crianças-participantes.

    As crianças-participantes apresentaram 8 questões:

    1. Porque é que caiu um meteorito em cima da água? IND H (Feminino)

    2. Não sei se aquilo é um meteorito IND G (Feminino)

    3. Não sei o que é aquela coisa azul IND J (Masculino)

    4. O que é que aconteceu à floresta? IND C (Feminino)

    5. Porque é que os aliens estão a destruir a lua? IND F (Feminino)

  • 5

    6. Aquilo é terra ou água? IND N (Masculino)

    7. Onde fica aquela paisagem? IND B (Feminino)

    8. Aquela coisa azul é uma árvore a cair? IND E (Feminino)

    Fig. 2 - Agenda da Discussão

    (Diagrama)

    A categoria Agenda da Discussão (Fig.2) formou-se a partir de 8 questões que evidenciaram um carácter descritivo de

    interpretação simbólica muito associado aos elementos que mais se destacam na obra em Discussão. Porém, a necessidade

    de proceder à estruturação da teoria revelada em análise obrigou a que se centralizasse na subcategoria T5 os conceitos que

    qualificam o fenómeno e que evidência a mesma subcategoria como suporte estrutural do fenómeno em análise.

    Assim, a subcategoria Meteorito constituiu-se da suposição de um dos elementos representados na obra poder ser tido como

    um meteorito (1ª e 2ª Questão); a subcategoria Coisa azul constituiu-se do mesmo elemento anteriormente referido mas que

    passa agora à possível definição de uma árvore a cair (3ª e 8ª Questão); a subcategoria Paisagem assumiu a necessidade de

    localizar outra possível descrição simbólica (7ª Questão) à qual se associou a referência a uma Floresta (4ª Questão) ou

    através da uma paisagem terrestre ou aquático (6ª Questão), isto é, subcategoria Terra ou água?; a subcategoria Aliens a

    destruir a lua (5ª Questão) evidenciou a natureza descritiva mais ficcional de todas as questões apresentadas.

    Fig. 3 - Agenda da Discussão

    (ARTD)

    Na ARTD da categoria Agenda da Discussão desta Sessão (Fig.3) a subcategoria T5, tal como já havia sido referido, foi

    constituída apenas como suporte estrutural de um conceito teórico. Assim, nesta ARTD distinguem-se algumas

    0 1 2 3 4

    AGENDA DA DISCUSSÃO

    Meteorito

    Paisagem

    Terra ou água?

  • 6

    particularidades como é o caso da subcategoria Meteorito que surgiu da relação directa entre uma questão assertória

    “Porque é que caiu um meteorito em cima da água?” IND H (Feminino), que foi de imediato seguida de uma afirmação

    negativa “Não sei se aquilo é um meteorito” IND G (Feminino) que por sua vez exigiu uma aclaração do CONV1 “Ele não

    assume que é um meteorito.”. Referimos ainda a subcategoria Coisa Azul que numa primeira questão “Não sei o que é

    aquela coisa azul” IND J (Masculino) descreve o elemento indefinido coisa validado pelo seu atributo azul, posteriormente,

    é devolvida a possibilidade de uma interpretação simbólica que a reconcilia com uma interpretação mais próxima de uma

    encenação do que poderá ser proveniente de um fenómeno genuíno e verificável no real “Aquela coisa azul é uma árvore a

    cair?” IND E (Feminino). Por último, é de referir a subcategoria Paisagem pelo modo como abarca em si todas as relações

    descritivas de carácter panorâmico “O que é que aconteceu à floresta?” IND C (Feminino).

    Discussão (3ª Fase da Sessão)

    O registo da Discussão verificou uma duração aproximada dos 52 minutos e 6 segundos

    Code: DISCUSSÃO

    Classificação: CATEGORIA PROCESSUAL (teorização activa)

    Fig. 4 - DISCUSSÃO

    (Diagrama)

    A categoria Discussão (Fig.4) caracteriza a 3ª Fase da Sessão.

    Nesta sessão, a aparente simplicidade linear com que se dispôs a categoria Discussão e as suas respectivas subcategorias,

    subtrai, por necessidade teórica, a subestruturação complexa das subcategorias que terão de ser apresentadas, posterior e

    autonomamente.

    De um modo mais generalizado podemos enquadrar a subcategoria Paisagem constituída através da descrição directa não

    só da obra em referência mas por influência de uma interpretação perceptiva da experimentação directa de todas as outras

    obras em exposição, ou seja, do contacto vivencial das crianças-participantes participantes com o espaço total da exposição;

    a subcategoria Exemplos definiu-se através dos diferentes conceitos abordados nas argumentações com o intuito de, através

    de narrativas reais, testar supostas verdades hipotéticas ou virtuais mas mais do que isto, conciliar as suas particularidades,

    segundo a sua natureza, um carácter mais descritivo ou de valorização; a subcategoria Conceito de Vida é, de todas as

    subcategorias, a mais abrangente e complexa uma vez que abarca conceitos muito específicos que conduziram a uma

    reflexão profunda das problemáticas associadas à possibilidade ou condição para haver vida e em que casos esta poderia ser

    tida como tal, assim, a teoria gerada através desta subcategoria ofereceu à Discussão e à Sessão (enquanto um todo) a

  • 7

    passagem para o discurso abstracto; por último, a subcategoria T5 (Conclusão), que surge nos últimos minutos da

    Discussão, surge através da intervenção do CONV1 “Digam-me só uma coisa para acabarmos, no quadro que viemos

    discutir e que nos fez derivar por este caminho, vocês pensam que ali está representada vida ou não?” que obriga a uma

    reflexão articulada entre a obra em presença e a simbólica do conceito que a mesma representa.

    Esta última subcategoria T5 (Conclusão), pela importância conceptual que tem para a questão principal desta investigação,

    e pela, sua relação directa ao conceito Quadro exposto na estruturação da subcategoria Exemplos, obrigou a que neste R2B

    se alterasse o protocolo de apresentação da amostragem em relatório, uma vez que se considera pertinente especificar a

    natureza única do contexto teórico final desta Discussão.

    Fig.5 - DISCUSSÃO

    (ARTD)

    Ao observar-se o quadro de ARTD das subcategorias associadas à categoria Discussão (Fig.5), verifica-se que as

    subcategorias Paisagem e Conceito de Vida distinguem-se notoriamente, no que diz respeito aos seus graus de relevâncias,

    das restantes subcategorias. As subcategorias Exemplos e T5 (Conclusão) apesar de os seus graus de relevâncias

    apresentarem pouca expressividade, os conteúdos das mesmas são de extrema pertinência, o que revela como o caracter

    qualitativo da teoria gerada por estas subcategorias patenteia a carácter única da natureza do contexto teórico final desta

    Discussão, tal como já havia sido referido anteriormente. Por último, uma vez que a categoria Discussão foi constituída de

    acordo com o seu carácter teórico, esta não acusa qualquer interesse de natureza directa com as outras obras em exposição

    e do já referido, contacto vivencial das crianças-participantes com o espaço total da exposição.

    Paisagem

    Code: DISCUSSÃO \ Paisagem

    Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização activa

    Fig.6 – Elementos descritivos

    (Diagrama)

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

    DISCUSSÃO

    PAISAGEM

    EXEMPLOS

    CONCEITO DE VIDA

    T5 (Conclusão)

  • 8

    A subcategoria Paisagem (Fig.6) apresenta uma estrutura simples e provém de questões colocadas aquando da Agenda da

    Discussão, pelo que, os s conceitos que a constituem demarcaram um interesse localizado apenas no início da Discussão.

    A subcategoria Paisagem define-se pela descrição de elementos associados a possíveis narrativas, pelo que, um lugar

    desértico ou desabitado, que sempre existiu e por onde ninguém alguma vez passou, pode ser um cenário que corresponde

    à realidade, tal como um dia de nevoeiro denso em que não se consegue vislumbrar a lua, uma floresta incendiada por um

    relâmpago, ou simplesmente uma floresta com árvores, arbustos, um rochedo e um riacho, o fundo do mar com algas e

    alguns peixes, um cenário alienígena ou, ainda, o cenário do filme Rei leão da Walt Disney.

    Por sua vez, a subcategoria Paisagem, estende-se à subcategoria Real ou irreal? que gerou alguma controvérsia: Ex: “Eu

    acho que é a realidade porque pode haver sítios desertos que como ninguém lá foi não se sabe que existem.” IND B

    (Feminino) ou Ex: “Eu acho que depende da interpretação que nós damos… podemos dizer se é realidade ou se não.” IND

    B (Feminino); e à subcategoria Coisa abstrata que surgiu num contexto isolado, de natureza simples e conceptualmente

    interessante mas fechada em si mesma uma vez que não teve desenvolvimento Ex: “Eu acho que o que está lá atrás é uma

    coisa abstracta.” IND O (Masculino).

    (Esta intervenção foi tida como estando fora do âmbito temático do que estava a ser discutido, o que levou ao CONV1

    intervir para refrear argumentações que surgissem fora do contexto em desenvolvimento).

    Fig.7 – Elementos descritivos

    (ARTD)

    Na ARTD da subcategoria Paisagem (Fig.7), tal como já havia sido referido, distingue-se notoriamente a relevância da

    subcategoria Paisagem comparativamente à subcategoria Real ou irreal? de baixa relevância e a subcategoria Coisa

    abstracta praticamente irrelevante.

    Apesar da disparidade de relevâncias aqui apresentadas não se pode deixar de entender o carácter qualitativo da teoria gerada

    por estas subcategorias como o revelador da associação directa que é possível fazer após o percurso feito.

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

    DISCUSSÃO

    PAISAGEM

    Real ou irreal?

    Coisa abstracta

  • 9

    Exemplos

    Code: DISCUSSÃO \ Exemplos

    Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização descritiva e Categorização por valorização

    A subcategoria Exemplos (Fig.8) está muito associada à explicação ou estruturação através de narrativas que surgiram para

    sustentar as devidas argumentações. A natureza dos elementos que constituem a subcategoria Exemplos anuncia uma fase

    da Discussão de fortes referências reais, contudo, de caris hipotético ou virtual.

    Em relação a esta subcategoria é importante referir que estas argumentações, hipotéticas ou virtuais, sustentam uma

    concepção antropomórfica dos fenómenos físicos ou naturais dos vários exemplos apresentados (Fig.8) que encontra uma

    oposição natural numa visão mais empírica ou cientifica dos mesmos fenómenos.

    A subcategoria Exemplos apresenta uma estrutura linear e aparentemente simples. A referida aparência linear oculta, na

    verdade, uma constituição mais alargada e complexa de um subcontexto conceptual inerente a cada um dos Exemplos

    apresentados, o que obriga a apresentação e explanação de cada uma destas subcategorias isoladamente.

    Fig. 9 – Relâmpago

    (Diagrama)

    Num primeiro momento surge a subcategoria Relâmpago (Fig.9) logo após à determinação da subcategoria Paisagem,

    Fig. 8 – Exemplos (Diagrama)

  • 10

    preserva uma certa correspondência com a Agenda da Discussão e com a interpretação directa do possível cenário

    representado na obra ou antes, do que poderá ter acontecido para que este se apresente como tal ao observador. Porém, o

    conceito de relâmpago tornou-se num tema transversal à interpretação dos elementos ou do cenário representado na própria

    obra, ou seja, através da subcategoria Relâmpago estabeleceram-se três possíveis posições argumentativas alinhadas pela

    intervenção do CONV1 “E o relâmpago para ti é um ser vivo ou não?”:

    1 Posição defende que o relâmpago, mesmo tratando-se de um acontecimento, uma vez que Existe, então, é alguém Ex: “É

    um acontecimento, e os acontecimentos podem ser seres vivos, ninguém prova que não o são.” IND C (Feminino) ou ainda

    Ex: “Porque ele acontece, está na vida, está no mundo, está na Terra, e eu acho que ele é um ser vivo.” IND A (Feminino);

    2 Posição defende que o relâmpago é apenas um fenómeno da natureza Ex: “Eu acho que o relâmpago não é alguém, é

    alguma coisa, é uma coisa, porque o relâmpago não está bem vivo para dizermos que é alguém” IND J (Masculino) ou Ex:

    “Eu acho que o relâmpago não é ninguém porque um relâmpago não tem sentimentos.” IND E (Feminino);

    3 Posição sugere que o relâmpago de facto vive porque acontece mas não se trata de um ser vivo Ex: “Eu acho que a

    diferença (…) entre viver e existir é porque se nós existimos é porque nascemos e depois morremos. E depois se vivermos

    é tipo o relâmpago: vive mas não é um ser vivo.” IND G (Feminino).

    A subcategoria Relâmpago (Fig.9) apresenta intersecções externas das quais destacam-se as relacionadas com o Conceito

    de Vida, uma vez que esta subcategoria estruturou o conceito dominante e transversal a todas as teorias geradas a partir

    deste momento.

    Vulcão

    Code: DISCUSSÃO \ Exemplos \ Vulcão

    Classificação: SUBCATEGORIA 2 - Categorização descritiva

    Fig. 10 – Vulcão

    (Diagrama)

    A entrada do exemplo Vulcão emergiu de um lapso auditivo uma vez que a palavra referida havia sido “cão”, porém, foi de

    imediato rebuscado pelo CONV1 (Masculino) e permaneceu em Discussão Ex: “Um vulcão também é um ser vivo?”.

  • 11

    Ao dar continuidade à questão em aberto, a subcategoria Vulcão (Fig.9) estabelece-se no contexto da dinâmica de discurso

    colectivo acima descrito, ou seja, através da defesa argumentativa de posições estabelecidas em torno do tema transversal

    Conceito de vida, como se pode verificar nas intersecções externas estabelecidas. Assim, as argumentações apresentadas

    definiram conceitos muito específicos relacionados com o Conceito de vida em oposição demarcada e concreta:

    1 Posição, descreve o vulcão como um Ser vivo, ou seja, mantém uma linha de pensamento antropomórfico Ex: “Eu acho

    que a vida é qualquer coisa de ter actividade, não no sentido de se mexer mas de ter actividade própria. Um vulcão é um ser

    vivo porque tem actividade própria: deita a lava.” IND B (Feminino);

    2 Posição, defende que o vulcão Não é um ser vivo mas apenas um fenómeno da natureza Ex: “Não, porque o vulcão é só

    a saída da lava do centro da terra.” IND L (Masculino).

    Água

    Code: DISCUSSÃO \ Exemplos \ Água

    Classificação: SUBCATEGORIA 2 - Categorização descritiva

    Fig. 11 – Água (Diagrama)

    A entrada do exemplo Água (Fig. 11) surge de uma pergunta directa do IND J (Masculino), que mantem uma visão mais

    empírica ou científica dos mesmos fenómenos visados, à IND C (Feminino) cuja protagoniza a posição antropomórfica da

    Discussão Ex: “[IND C], para ti a água é um ser vivo?”.

    Na conceptualização teórica da subcategoria Água foi necessário estabelecer não só Qual é a sua função? através de

    argumentações algo naïfs associadas ao ciclo da água Ex: “E depois vai para o xixi, e depois vai outra vez pelos esgotos…”

    IND J (Masculino), bem como, em simultâneo, foram estabelecidas posições sustentadas por argumentações que definiram

    conceitos em oposição concreta (à semelhança do que se verificou para a subcategoria Vulcão).

    Assim, a 1 Posição, descreve a Água como um Ser vivo e mantém uma linha de pensamento antropomórfico Ex: “É assim

    eu acho que a água é um ser vivo porque ela nasce quando aparece, vive quando está por exemplo no rio e morre quando a

    bebemos.” IND H (Feminino); e a 2 Posição, defende que a Água Não é um ser vivo, não tem vontade própria, é apenas

    um elemento da natureza Ex: “Não, acho que a água é... só evapora-se, acho que é um elemento da natureza, não é um ser

    vivo, é um elemento da natureza.” IND F (Feminino).

    As intersecções externas observadas (Fig. 11) permitem referir que o conceito de Água irá participar ou sustentar

    argumentações focadas na subcategoria Nascer & Morrer.

  • 12

    Quadro

    Code: DISCUSSÃO \ Exemplos \ Quadro

    Classificação: SUBCATEGORIA 2 - Categorização por valorização

    Fig. 12 – Quadro

    (Diagrama)

    A complexidade teórica da subcategoria Quadro enquadra e justifica a necessidade de apresentar cada um dos exemplos

    isoladamente. A subcategoria Quadros (Fig.12) apresenta uma estrutura complexa e um subcontexto conceptual que se

    destaca do contexto em que se desenvolveu e no qual está naturalmente inserida.

    A entrada da subcategoria Quadro surge de um exemplo comum associado ao que determina O que não um ser vivo? Ex:

    “Porque por exemplo, o quadro, o quadro não nasce, não vive nem morre.” IND Q (Masculino), porém, a sua definição

    alarga-se: não é um ser vivo porque é um objecto e não faz nada; existe mas é isento de sentimentos “está cá mas não tem

    vida, não tem o seu próprio… ele é ele mas não tem consciência própria do que é ele.” IND F (Feminino); as tintas que dele

    fazem parte “(…) as tintas usadas para pintar o quadro, têm células.” IND J (Masculino).

    Neste contexto desponta, então, a necessidade de estabelecer Qual é a sua função? que numa primeira fase passa pelo

    conceito de existência ao ser exposto para que as pessoas o possam ver Ex: “Um quadro pode existir e também pode viver

    porque a vida dele é ser visto pelas pessoas.” IND B (Feminino); numa fase posterior, que fecha a Discussão, a função do

    Quadro volta a ser definida segundo os elementos figurativos que o constituem, mas depressa ganha uma outra dimensão,

    aquela que o associa ao pintor Ex: “O pintor pode ter feito a pintura para as pessoas imaginarem, só que aquilo é fazer uma

    coisa que calhou e que ficou bonita só para depois as pessoas imaginarem o que é. Pode não ter vida, pode ter pensado numa

    coisa qualquer e ter posto, ou então pensou em qualquer coisa pôs lá e depois deu uns retoques. Não [parece] que seja

    qualquer coisa que nós [pudéssemos conhecer], natural.” IND H (Feminino), mas o Quadro permanece no observador na

    medida em que “Fica [no pensamento] porque todas as pessoas começam a imaginar o que poderá ser.” IND H (Feminino).

  • 13

    Determinada a função de um quadro, estabelece-se a necessidade de compreender Qual é a sua natureza? e esta é definida

    por um nascer através da acção do pintor mas apenas no contexto de possibilitar a sua existência no real, o que o distingue

    do ser vivo Ex: “(…) um quadro, existe no nosso planeta, existe, está cá mas não vive, não tem vida.” IND F (Feminino); é

    constituído de moléculas Ex: “Como os corantes, ficam com esta cor por causa dos corantes.” IND H (Feminino). A natureza

    do quadro estende-se à sua Relação com o tempo que apesar de existir, Ex: “(…) ele [o quadro] não nasceu, nem está a

    viver, nem morreu.” IND Q (Masculino) mas, pode superar o tempo médio de vida de um ser humano Ex: “Um quadro pode

    durar 100 anos que ainda está bom. Quer dizer, isso não é vida sobre-humana, há pessoas que já viveram mais mas [muito

    mais do que isso] é um pouco impossível acontecer.” IND O (Masculino), ou até mesmo, permanecer muito para lá do

    tempo de existência de um ser humano, que por natureza está sujeito à sua própria incapacidade de se manter vivo Ex: “E

    nós também se passarmos muito tempo vivos, chegamos a um tempo que já vivemos muito e não temos capacidade para

    viver mais. Pronto, já não temos capacidade. E a parede, os quadros não têm capacidade de fazer isso, só se os destruirmos,

    à mão, eles não morrem por si [mesmos].” IND O (Masculino). Resta referir que o Quadro enquanto Criação do homem

    estruturou-se através da intervenção do CONV1 que agregou ao conceito de vida defendido pela IND C (Feminino) o

    seguinte “(…) na altura que ele [o quadro] foi pintado podemos considerar que foi o nascimento dele, enquanto está exposto

    ao olhar das pessoas está a viver, se um dia for destruído, morre.”, de facto o nascimento do quadro tem origem no seu

    autor, o pintor, que o cria para que as pessoas possam observar e imaginar a identificação dos elementos que o constituem

    e as suas possíveis relações mas algo de enigmático permanece na definição desta criação Ex: “Deus criou o homem e o

    homem criou o quadro.” IND F (Feminino).

    As intersecções externas observadas (Fig.12) apresentam ligações concordantes com a teoria definida pela conceptualização

    da subcategoria Quadros, de facto, esta subcategoria manteve-se participante do contexto transversal da subcategoria

    Conceito de Vida e alimentou o interesse permanente de distinguir as divergências conceptuais entre Existir vs Viver vs

    Ser Vivente.

    Parede

    Code: DISCUSSÃO \ Exemplos \ Parede

    Classificação: SUBCATEGORIA 2 - Categorização descritiva

    Fig. 13 – Parede

    (Diagrama)

  • 14

    A subcategoria Parede (Fig.13) apresenta uma estrutura elementar e um subcontexto conceptual que se destaca por

    encontrar-se praticamente todo estruturado nas intersecções externas observadas. Assim, o exemplo Parede surge para

    exemplificar o que existe mas não é um ser vivo, que está sujeito à intervenção do homem para permanecer (existir) ou ser

    destruída (deixar de existir) uma vez que não pode morrer por si mesma, mas também surge para contextualizar o que não

    ficou completamente explicito, ou seja, a diferença entre vida própria e função Ex: “(…) a parede não é um ser vivo porque

    a parede foi feita pelo homem, não vai ter vida própria, vai ter a vida que o homem lhe deu (…).” IND N (Masculino).

    Fig.14 – Exemplos

    (ARTD)

    Na ARTD da Discussão (Fig.14), a categoria Discussão foi constituída como suporte metodológico (associado ao protocolo

    assumido) e estrutural do fenómeno em análise. Por outro lado, devido à tipologia gráfica adoptada para apresentação desta

    análise, foi permitido agregar a totalidade do subcontexto conceptual inerente a cada uma das subcategorias, ou seja, todas

    as subcategorias que a partir desta se dilatam e a estruturam, pelo que não serão abordadas isoladamente mas em conexão

    conjunta.

    Assim, a subcategoria Exemplos apresenta uma relevância muito baixa uma vez que se constitui apenas de uma referência

    singular de cada exemplo que constitui o contexto narrativo-interventivo desta fase da Discussão. Com uma maior

    relevância destaca-se, no seu todo, a subcategoria Relâmpago, seguida da subcategoria Quadro com uma relevância média-

    alta na sua generalidade. As subcategorias Vulcão, Água e Parede apresentam graus de relevância médio-baixos, contudo,

    uma vez que se trata de uma análise de natureza qualitativa, as questões e teorias sustentadas através destas subcategorias

    permitiram, por exemplo, definir a diferença entre o conceito Existir e o conceito Ser Vivo, ou ainda, possibilitou o

    desabrochar da diferença conceptual do conceito Vida própria e do conceito Função.

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

    DISCUSSÃO

    EXEMPLOS

    RELÂMPAGO

    1 Posição: Existe é alguem

    2 Posição: É um acontecimento

    3 Posição: Vive mas não é um ser vivo

    VULCÃO

    1 Posição: Ser vivo

    2 Posição: Não é ser vivo

    ÁGUA

    Qual é a sua função?

    1 Posição: É um ser vivo

    2 Posição: Não é um ser vivo

    QUADRO

    Qual é a sua função?

    Qual é a sua natureza?

    Relação com o tempo

    Criação do homem

    PAREDE

  • 15

    Conceito de Vida

    Code: DISCUSSÃO \ Conceito de Vida

    Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização descritiva e Categorização teórica

    Fig. 15 – Conceito de Vida

    (Diagrama)

    A subcategoria Conceito de Vida (Fig. 15) assume-se como integradora de conceitos cujas significações procuram assumir

    uma teoria de cariz conclusivo. A subcategoria Conceito de Vida surge no início da Discussão e prolongasse até a um

    momento que se irá designar de pré-conclusivo.

    No que diz respeito às dinâmicas argumentativas presentes nesta Sessão verificou-se que a subcategoria Exemplos (de

    natureza essencialmente descritiva) acompanhou a subcategoria Conceito de Vida (de natureza essencialmente teórica)

    numa parceria muito próxima para permitir uma sustentação conceptual conjunta. Assim, se na subcategoria Exemplos os

    elementos que a constituíram forneceram a estrutura necessária à verificação dos argumentos, na subcategoria Conceito de

    Vida as argumentações que sustentaram essa mesma estrutura permitiram salientar a teoria que delas surgia.

    Numa primeira fase as questões que estruturam a subcategoria Conceito de Vida foram:

    O que é um ser vivo? definiu-se numa primeira fase como “As plantas nascem, reproduzem-se, crescem e morrem (…).”

    IND M (Masculino), ou seja, o conceito de ser vivo obriga ao percurso de um ciclo de vida que cumpra todas as fases da

    sua existência até à sua morte;

    O que não é ser vivo? é a antítese do conceito de ser vivo, “Porque a água não é um ser vivo para mim porque ela nunca

    morre, é como o quadro.” IND J (Masculino), contudo pode ainda definir um acontecimento ou fenómeno natural “O

    relâmpago é um momento natural: acontece, desaparece” IND J (Masculino);

    Posteriormente, em simultâneo com as subcategorias acima mencionadas, surge a preocupação de definir o que diferencia

  • 16

    conceitos derivados dos anteriores mas simultaneamente, mais específicos:

    Existir vs Viver vs Ser vivente é uma subcategoria complexa na medida em que para além de ter sido princípio criador de

    duas posições divergentes 1 Posição: Existir = Viver e 2. Posição: Existir não é viver, também determinou a definição

    do conceito de Existir e do conceito Viver.

    Assim, a 1 Posição: Existir = Viver resume-se a uma única intervenção que devido ao seu conteúdo revelou uma natureza

    muito peculiar para esta investigação pelo que se enquadra no contexto da dupla-categorização: “Um quadro pode existir e

    também pode viver porque a vida dele é ser visto pelas pessoas.” IND B (Feminino). A 2. Posição: Existir não é viver

    concentra um forte vínculo ao argumento do estar cá, contudo, estar cá não a estar vivo, assim, o recurso aos Exemplos

    tornou-se numa prática demonstração na qual se estruturaram as argumentações, pelo que, salienta-se as intervenções da

    IND F (Feminino) pelo manifesto interesse desta investigação no teor das suas argumentações: “Um quadro pode existir e

    não ter vida, ele existe, está cá mas não tem vida, não tem o seu próprio… ele é ele mas não tem consciência própria que é

    ele.”, e ainda, “(…) existir e viver são coisas diferentes. O ser humano vive, existe porque está cá, existe e vive, vive a sua

    vida, nasce e morre. E não ser um ser humano é por exemplo um quadro, existe no nosso planeta, existe, está cá mas não

    vive, não tem vida.” IND F (Feminino).

    O conceito de Existir constrói-se a partir da ideia de nascimento “(…) nós existimos porque nascemos e depois morremos.”

    IND G (Feminino), enquanto o conceito de Viver refere que o nosso corpo está capacitado para viver apenas durante um

    determinado período de tempo “ (…) E nós também se passarmos muito tempo vivos, chegamos a um tempo que já vivemos

    muito e não temos capacidade para viver mais. Pronto, já não temos capacidade.” IND O (Masculino), porém, é a função

    respiratória que confere ao conceito de Viver a sua base essencial “Para vivermos, precisamos de oxigénio.” IND A

    (Feminino).

    Condição para haver vida é uma subcategoria que apresenta uma estrutura interna simples, contudo, de um grande

    interesse conceptual. Assim, refere um vínculo à origem não como réplica idêntica mas com algumas características que

    nos conferem a nossa própria autenticidade Ex: “Nós não somos um objecto novo, somos mais ou menos uma réplica com

    algumas diferenças.” IND E (Feminino), porém foi com base na conjugação de conceitos anteriormente referidos que se

    chegou ao conceito de Célula Ex: “Eu acho que célula é alguma coisa que cresce connosco, porque a própria da célula é

    um ser vivo.” IND B (Feminino). Uma vez que as argumentações em torno da temática Condição para haver vida ficaram

    aquém de lhe conferir alguma consistência conceptual, o CONV1 propôs que este mesmo conceito fosse trabalhado

    posteriormente “De certeza, uma ou mais coisas em comum. Se calhar não há uma que seja comum a todos mas há um par

    delas ou três que seja condição para haver vida, condição sem a qual a vida não é possível. Vamos pensar nisso a partir da

    Discussão de hoje.”.

    A subcategoria Conceito de Vida (Fig. 15) apresenta intersecções externas à subcategoria Relâmpago e à subcategoria

    Vulcão, o que rebate a necessidade já referida de recorrer aos exemplos como prática demonstrativa de apoio às

    argumentações.

  • 17

    Fig. 16 – Conceito de Vida

    (ARTD)

    Na ARTD da subcategoria Conceito de Vida (Fig.16), tal como anteriormente havia sido referido, a tipologia gráfica

    adoptada para apresentação desta análise, apenas agrupou a totalidade do subcontexto conceptual inerente à subcategoria

    Conceito de Vida, ou seja, todas as subcategorias que a partir desta se dilatam e a estruturam. Assim, a subcategoria

    Conceito de Vida apresenta uma relevância média e constituiu-se de argumentos abrangentes à totalidade do conceito em

    análise. Com uma maior relevância destaca-se, a subcategoria O que é um ser vivo?, seguida da subcategoria Condição

    para haver Vida e da subcategoria Células com relevâncias médias na sua generalidade. Estas subcategorias encontram-

    se conceptualmente muito associadas. As subcategorias O que não é um ser vivo? apresenta um grau de relevância baixo,

    seguida das subcategorias Nascer & Morrer, Viver e Respirar com graus de relevâncias igualmente baixos.

    As restantes subcategorias apresentam graus de relevância bastante baixos, contudo destaca-se a subcategoria 1 Posição:

    Existir = Viver com um grau de relevância aparentemente irrelevante pois, o seu conteúdo revelou uma natureza muito

    peculiar para esta investigação num contexto de dupla-categorização tal como havia sido anteriormente referido.

    T5 (Conclusão)

    Code: DISCUSSÃO \ T5 (Conclusão)

    Classificação: SUBCATEGORIA 1 - Categorização descritiva e Categorização por valorização

    Fig. 17 – T5 (Conclusão)

    (Diagrama)

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53

    DISCUSSÃO

    CONCEITO DE VIDA

    O que é um ser vivo?

    O que não é ser vivo?

    Existir vs Viver vs Ser Vivente

    1 Posição: Existir = Viver

    2 Posição: Existir não é Viver

    Existir

    Nascer & Morrer

    Viver

    Respirar

    Condição para haver vida

    Células

  • 18

    A subcategoria T5 (Conclusão) (Fig. 17) foi introduzida como propósito final da Discussão assim que o CONV1 remeteu

    a temática Condição para haver vida para uma análise posterior. O CONV1 avançou de imediato com esta última proposta

    com o objectivo de recuperar a obra proposta num contexto argumentativo já muito explorado: “Digam-me só uma coisa

    para acabarmos, no quadro que viemos discutir e que nos fez derivar por este caminho, vocês pensam que ali está

    representada vida ou não?”. Esta decisão que se enquadra na dinâmica de monotorização da Discussão, permitiu observar

    como os conceitos anteriormente abordados, e que evidenciaram como as necessidades argumentativas dos discursos

    apresentados se afastaram do objecto em Discussão – a obra, prosseguiram em consonância com a obra que até então

    permaneceu apenas no silêncio da sua presença física. Assim, a subcategoria T5 (Conclusão) (Fig. 17) apresenta uma

    estrutura muito simples mas rica na constituição de percepções e reflexões, que se estende à subcategoria Representa Vida

    ou não? que se constituiu inicialmente de narrativas interpretativas muito próximas das percepções iniciais e apresentadas

    na subcategoria Paisagem e na subcategoria Exemplos, até que no limiar do término da Discussão a IND H (Feminina)

    introduz uma perspectiva peculiar e fora de todos os contextos abordados até àquele momento: “O pintor pode ter feito a

    pintura para as pessoas imaginarem, só que aquilo é fazer uma coisa que calhou e que ficou bonita só para depois as pessoas

    imaginarem o que é. Pode não ter vida, pode ter pensado numa coisa qualquer e ter posto, ou então pensou em qualquer

    coisa, pôs lá e depois deu uns retoques, não parece que seja qualquer coisa que nós conhecemos, natural. (…) Se fosse uma

    coisa real já estava lá e ele só tinha copiado. Se é uma coisa como eu disse, não, porque não há vida. Pode haver é vida na

    pintura e isso é outra coisa. (…) porque todas as pessoas começam a imaginar o que poderá ser.”. Ou seja, o pintor oferece

    ao observador a possibilidade de imaginar através daquilo que ele pinta, que não tem necessariamente ser algo retirado do

    real, identificável ou antes, copiado, porque pode ser apenas algo esteticamente agradável ao olhar, neste caso, a obra não

    representa vida. Surge então a ideia de que, apesar de que foi referido, ainda há a possibilidade de haver vida na pintura,

    mas esse facto remete-se a outra coisa que fica por esclarecer para terminar com um retorno à vivência da obra através da

    capacidade do observador de imaginar.

    Fig. 18 – T5 (Conclusão)

    (ARTD)

    Na ARTD da subcategoria T5 (Conclusão) (Fig.18), tal como nas ARTD anteriores, apenas agrupou a totalidade do

    subcontexto conceptual inerente à subcategoria T5 (Conclusão). Assim, a subcategoria T5 (Conclusão) apresenta uma

    relevância diminuta pois reporta-se apenas às intervenções dos facilitadores que abriram a temática em análise. Por sua vez

    esta subcategoria estende-se apenas à subcategoria Representa Vida ou não? que neste contexto apresenta uma relevância

    bastante elevada.

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

    DISCUSSÃO

    T5 (Conclusão)

    Representa vida ou não?

  • 19

    ANÁLISE DE RELEVÂNCIA DA DISCUSSÃO POR GÉNERO

    (Crianças-participantes e Adultos)

    A ARDG do R2B manteve o protocolo proposto no R1A. A ARDG da Discussão trata de um tipo de análise mais fechada

    que se desenvolveu a partir da análise dos interesses temáticos revelados pela Discussão de modo a possibilitar que se

    constituam as questões de referência (Fig.19).

    A ARDG (Crianças-participantes) do R2B mantém os mesmos parâmetros metodológicos delineados e apresentados no

    R1A, pelo que, apenas incide nos comentários e argumentos mais relevantes das crianças-participantes para as questões de

    referência. A ARDG (Adultos) das intervenções da INV e do CONV1 foram de igual modo consideradas separadamente,

    por serem adultos.

    Tal como no R1A, a ARDG da 2ª Sessão B, permitiu que se constituísse o RAPI (Crianças-participantes) e RAPI (Adultos)

    de cada indivíduo considerado.

    Fig. 19 – Questões de referência

    (Diagrama)

    Na 2ª Sessão B a ARDG (Crianças-participantes e Adultos) considerou as seguintes questões de referência:

    1. O que está representado na obra? que se baseou na subcategoria temática Paisagem (subtraída directamente da

    Agenda da Discussão e da própria Discussão, é reveladora de um forte cunho descritivo-simbólico) e pela

    subcategoria temática Exemplos (constituída aquando da Discussão onde foram introduzidos vários elementos

    descritivos ou de valorização muito integrados em narrativas de sustentação ou exploração das argumentações). Por

    estas duas subcategorias suportarem a fase inicial e massivamente a primeira fase da Sessão justifica-se que se esta

    questão se constitua como questão de referência para verificação mais fechada da teoria.

  • 20

    2. O que é um Ser Vivo? está fortemente fundamentada na teoria que se manteve mais activa durante toda a

    Discussão, com a ressalva do momento próximo do final da mesma, e que monopolizou a fortemente a teoria

    constituída na Sessão entendida como um todo;

    3. O que não é um Ser Vivo? contrapõe e equilibra a questão anterior que pelo seu antagonismo conceptual óbvio

    proporcionou o desafio a uma teoria que ao longo da Discussão se almejava mais fechada e próxima de um conceito

    dominado, ou seja, fechado;

    4. Como se define Conceito de Vida? que se coloca como agregadora da 2ª e 3ª questão mas através de uma tipologia

    de conceitos derivado de subcategorias distintas, ou seja, as subcategorias Viver e Existir estruturadas e

    desenvolvidas na ARTD;

    5. Esta obra representa vida ou não? faz referencia às intervenções dos facilitadores num momento muito próximo

    do final da Discussão que permitiu associar a totalidade de conceitos revelados pela Discussão ao objecto em

    discussão – A obra.

    1. O que está representado na obra?

    Fig. 20 – 1. O que está representado na obra?

    (Diagrama)

    A questão 1. O que está representado na obra? (Fig. 20) apresenta uma estrutura simples. Esta subcategoria deriva da

    intervenção directa co CONV 1 que foi de imediato seguida pela intervenção da IND A (Feminino) “Eu acho que depende

    da interpretação que nós damos, podemos dizer se é realidade ou se não.”. A intervenção da IND A inaugurou o espaço

    discursivo às subcategorias subsequentes cuja denominação dependeu inteiramente dos termos retirados da linguagem das

    próprias crianças-participantes.

    Assim, realidade não só é o termo referido que dá nome à própria subcategoria Realidade Ex: “Eu acho que é a realidade.”

    IND A (Feminino) como também se compõe de elementos descritivos que, observados na obra, fazem referencia a elementos

    análogos existentes no mundo real aos quais todos podemos aceder, pelo que, se transpõe naturalmente (em muitos casos

    segundo a metodologia da dupla categorização) para a subcategoria Elemento paisagístico Ex: “Eu acho que aquilo é uma

    floresta incendiada.” IND E (Feminino). A subcategoria Imaginação refere elementos associados à enfatização de alegorias

  • 21

    a referências alienígenas mas também à observação pertinente que se contrapõe à subcategoria Realidade Ex: “Eles

    pintaram aquilo mas pode não ser realidade. (…) pode ser realidade mas também pode não ser. Aquele sítio pode não

    existir.” IND N (Masculino). A subcategoria Abstracto também segue a linha do termo mencionado em discussão Ex: “Eu

    acho que o que está lá atrás é uma coisa abstracta” IND O (Masculino) que define o que se observa como indefinido uma

    vez que não se encontra um termo específico que identifique no real qualquer elemento representado e não identificável,

    mais, Ex: “Não sei o que é aquela coisa azul.” IND J (Masculino), ou seja, não sei o que é não deixa de ser uma expressão

    que anuncia ausência de identificação, aquela coisa anuncia algo inominável contudo localizável, a menção à sua cor azul

    descreve a única qualidade de valor que nos próxima efectivamente da localização do elemento referido na obra.

    Fig. 21 – 1. O que está representado na obra?

    (ARDG - Crianças-participantes)

    A ARDG (Crianças-participantes) apresenta a subcategoria 1. O que está representado na obra? (Fig. 21) derivada da

    intervenção directa da IND A (Feminino), que tal como já havia sido referido, abriu o espaço discursivo às subcategorias

    subsequentes, porém, com uma relevância bastante diminuta.

    Assim, a subcategoria 1. O que está representado na obra? estende-se com a sua maior expressão de relevância apenas

    para o género feminino na subcategoria Elemento paisagístico, seguida da subcategoria Realidade como uma relevância

    média-alta muito próxima para ambos os géneros; com valores médios-baixos apresentam-se a subcategoria Imaginação

    para ambos os géneros e a subcategoria Abstracto apenas para o género masculino.

    Fig. 22 – 1. O que está representado na obra?

    (ARDG - Adultos)

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    1. O que está representado na Obra?

    Realidade

    Elemento paisagístico

    Imaginação

    Abstracto

    MASC

    FEM

    0 1 2

    1. O que está representado na Obra?

    Realidade

    Elemento paisagistico

    Imaginação

    Abstracto

    CONV1

    INV

  • 22

    A ARDG (Adultos) da subcategoria 1. O que está representado na obra? (Fig. 22) apresenta um panorama de relevância

    bastante diminuto com apenas algumas sinalizações para o CONV1 que se referem à intervenção que abre a própria questão

    e à intervenção que incita à focalização das argumentações associadas à subcategoria Realidade Ex: “Onde fica aquela

    paisagem?”.

    2. O que é um Ser Vivo?

    Fig. 23 – 2. O que é um Ser Vivo?

    (Diagrama)

    A questão 2. O que é um Ser Vivo? (Fig. 23) apresenta uma estrutura alargada e algo complexa devido à sua natureza

    fortemente descritiva das qualidades e actividades inerentes a um ser vivo. A questão é formulada de um modo sucinto surge

    através da intervenção do CONV1 “E então, afinal, o que é para vocês um ser vivo?” após um vasto movimento

    argumentativo que associou e/ou contrapôs os vários exemplos mencionados através das características e qualidades dos

    mesmos. Assim, o ser vivo Existe Ex: “(…) ele acontece, está na vida, está no mundo, está na Terra (…).” IND A

    (Feminino), exprime-se através dos seus sentimentos, é um Acontecimento associado necessariamente à natureza Ex: “É

    um acontecimento, e os acontecimentos podem ser seres vivos, ninguém prova que não o são!” IND C (Feminino) e anuncia

    Vontade própria Ex: “Um ser vivo tem vontade própria, não é uma coisa que acontece.” IND J (Masculino); é Visível Ex:

    “eu acho que um ser vivo é algo que nós podemos ver, ser, às vezes pode não ter sentimentos. Por exemplo nós não sabemos

    que um relâmpago tem sentimentos como nós não sabemos se uma planta tem sentimentos, mas a planta continua a ser um

    ser vivo e pode não ter sentimentos.” IND A (Feminino); depende do fenómeno específico que é a sua Criação (proveniente

    da sua concepção) Ex: “ (…) sem uma mãe e um pai ninguém pode nascer (…).” IND J (Masculino) sendo que assim está

    vinculado ao Ciclo da vida Ex: “Ser vivo é alguém que nasce e que morre.” IND B (Feminino) e esta revela-se

    inclusivamente microscopicamente nas Células Ex: “Eu acho que célula é alguma coisa que cresce connosco, porque a

    própria da célula é um ser vivo.” IND B (Feminino); necessita de Respirar Ex: “Quando nós morremos ficamos sem ar,

    nós para vivermos precisamos de respirar.” IND A (Feminino); possui Actividade própria como o seu próprio movimento

    exterior ou interior (dos diversos órgãos internos que o constituem) Ex: “(…) nós mexemo-nos por nós próprios, as plantas

    mexem-se por si próprias, os animais mexem-se por si próprios.” IND Q (Masculino); Sente-se seja através de outros seres

    vivos ou a si mesmo Ex: “Acho que um ser vivo é uma coisa que pode ser vista, ser sentida, uma coisa que pensa, que

  • 23

    sente.” IND E (Feminino); e ainda, é Animal Ex: “ (…) tu és um animal, nós todos somos animais, o gato também é (…).”

    IND Q (Masculino).

    A construção do conceito o que é um ser vivo abriu um vasto leque de narrativas que se conjugaram e se estruturaram

    mutuamente, sendo que, no seu contexto mais fechado, a ideia subliminar que assistiu quase todas as argumentações

    preanunciava o conceito de ser humano que cada uma das crianças-participantes é e que utilizaram como matéria teórico-

    experimental mais manifesta e verificável.

    Fig. 24 – 2. O que é um Ser Vivo? (ARDG - Crianças-participantes)

    A ARDG (Crianças-participantes) apresenta a questão 2. O que é um Ser Vivo? (Fig. 24) com uma forte relevância para a

    actividade do género feminino na constituição da subcategoria em análise.

    As subcategorias que representaram uma maior relevância foram Criação com uma ligeira diminuição para o género

    masculino, Existe e Sentimentos apenas para o género feminino. A subcategoria Actividade própria apresenta uma

    relevância alta para ambos os géneros. As restantes subcategorias apresentam graus de relevância médios-baixos ou, em

    alguns casos diminutos.

    As subcategorias que apresentam níveis de relevância diminutos ou de alguma irrelevância, não conferem a mesma

    equivalência aos conteúdos que as constituem pois, a sua valorização, é sempre qualitativa. Verifique-se o caso da

    subcategoria Acontecimento “É um acontecimento e os acontecimentos podem ser seres vivos, ninguém prova que não o

    são!” IND C (Feminino), esta argumentação assinalada uma enorme firmeza discursiva e ideológica que anuncia a

    necessidade de prova, quiçá, do foro científico que exige uma demostração e a existência de uma prova consistente.

    Consequentemente, a mesma subcategoria Acontecimento abriu espaço argumentativo à subcategoria Vontade própria

    “Um ser vivo tem vontade própria, não é uma coisa que acontece.” IND J (Masculino), onde o termo composto vontade

    própria surge para confrontar o termo acontecimento, ou seja, assistimos a uma destruturação conceptual, apesar de ambas

    as concepções servirem o mesmo conceito - ser vivo.

    0 1 2 3 4 5 6 7 8

    2. O que é um Ser Vivo?

    Animais

    Criação

    Células

    Ciclo de vida

    Existe

    Acontecimento

    Sentimentos

    Vontade própria

    Actividade própria

    Vísivel

    Respirar

    Sente-se

    MASC

    FEM

  • 24

    Fig. 25 – 2. O que é um Ser Vivo?

    (ARDG - Adultos)

    A ARDG (Adultos) da questão 2. O que é um Ser Vivo? (Fig. 25) apresenta um certo contraste na relevância das

    intervenções dos facilitadores.

    O CONV1 reforçou as suas intervenções com questões que se referem directamente ao assunto em discussão e que

    pretenderam reforçar a assertividade das argumentações que pretendiam dar resposta à questão principal “Então o que é que

    distingue um ser vivo dos outros seres? é essa a questão!”. Este comportamento reforçou a administração de uma atenção

    mais focada e menos desviante dos interesses que alimentavam o decorrer da Discussão.

    A participação da INV para a subcategoria Actividade própria com uma relevância diminuta apenas trouxe algum cunho

    de leveza ao conceito em discussão mas que se enquadrava nas intervenções referentes à actividade dos órgãos internos que

    constituem o corpo dos seres vivos e que não dependem da vontade deliberada do próprio ser vivo “Há um movimento

    interno, nas entranhas!”.

    3. O que não é um Ser Vivo?

    Fig. 26 – 3. O que não é um Ser Vivo?

    (Diagrama)

    0 1 2 3 4

    2. O que é um Ser Vivo?

    Animais

    Criação

    Células

    Ciclo de vida

    Existe

    Acontecimento

    Sentimentos

    Vontade própria

    Actividade própria

    Vísivel

    Respirar

    Sente-se

    CONV1

    INV

  • 25

    A questão 3.O que não é um Ser Vivo? (Fig. 26) apresenta uma estrutura simplificada e bastante contrastante com a

    subcategoria anterior, porém, no que diz à sua formulação, surge num contexto muito idêntico ao da 2ª questão. A questão

    3.O que não é um Ser Vivo? surge directamente da intervenção do CONV1 “(…) O que é que a faz não ser um ser vivo

    por comparação a outras coisas que consideras que são seres vivo, como tu próprio?”, cujo efeito imediato é evidente na

    constituição das subcategorias que a estruturam, cuja significação contrapõe directamente algumas subcategorias

    secundárias que estruturaram e teorizam a 2ª Questão.

    Assim, a subcategoria Não vive que se estende directamente às subcategorias Não respira, Não comunica e Não tem

    sentimentos contrapõe-se claramente às subcategorias inerentes à 2ª Questão como Respirar, Actividade própria,

    Sentimentos, entre outras. Porém, entre todos os argumentos apresentados para sustentabilidade desta resistência

    conceptual surge uma intervenção que para esta investigação impõe-se tanto pelo seu próprio conteúdo significativo como

    pela sua ligação que estabelece à presença das obras e ao próprio espaço que abarca ambos os interlocutores Ex: “Porque

    por exemplo, o quadro: o quadro não nasce, não vive, nem morre!” IND Q (Masculino). A subcategoria Acontecimento

    natural está muito associada à subcategoria Exemplos Ex: “O relâmpago é um momento natural: acontece, desaparece.”

    IND J (Masculino)

    Não é alguém e Objecto / Coisa são subcategorias conceptualmente geradas por associação directa à subcategoria

    Exemplos através da noção de relâmpago que por não ter sido gerado por alguém não é, por sua vez, alguém (que age e

    reage à semelhança do ser vivo humano) mas sim uma coisa Ex: “Eu também acho que o relâmpago [não] é ninguém], é

    uma coisa que surge por causa de uma trovoada ou por causa de alguma coisa, não é alguém que tem sentimentos, que fala,

    que diz olá, adeus, nem tem nada disso, é uma coisa que acontece, é um objecto… não sei explicar o que é um relâmpago!”

    IND G (Feminino). Contudo, a subcategoria Objecto / Coisa ainda abarca a ideia de objecto como coisa que não vive mas

    que se usa, que vai ter a função que o homem lhe der Ex: “ (…) a parede não é um ser vivo porque a parede não tem… foi

    feita pelo homem, não vai ter vida própria, vai ter a vida que o homem lhe deu, e depois, (…) tu podes tocar em qualquer

    coisa, tu dizes, um ser vivo é uma coisa que se vê e que se toca, eu estou a ver este chão, estou a tocá-lo mas não é nenhum

    ser vivo (…).” IND N (Masculino).

    Fig. 27 – 3. O que não é um Ser Vivo?

    (ARDG - Crianças-participantes)

    0 1 2 3 4 5 6 7

    3. O que não é um Ser Vivo?

    Não vive

    Não tem sentimentos

    Não respira

    Não comunica

    Acontecimento natural

    Objecto / Coisa

    Não é alguém

    MASC

    FEM

  • 26

    A ARDG (Crianças-participantes) apresenta, para a generalidade do fenómeno em análise, a questão 3.O que não é um Ser

    Vivo? (Fig. 27) com uma relevância baixa, contudo, e tendo em consideração estes limites, denota-se uma maior relevância

    na participação do género feminino na constituição da subcategoria. A questão 3.O que não é um Ser Vivo? foi constituída

    apenas como suporte estrutural de um conceito teórico.

    As subcategorias que representaram uma maior relevância para o género masculino foram Acontecimento natural com

    uma ligeira diminuição para o género feminino Ex: “O relâmpago é um momento natural: acontece, desaparece.” IND J

    (Masculino) e Não vive com uma diminuição algo significativa para o género feminino Ex: “(…) o quadro, o quadro não

    nasce, não vive, nem morre.” IND Q (Masculino).

    A subcategoria Não tem sentimentos apresenta uma relevância média apenas para o género feminino Ex: “Eu acho que o

    relâmpago não é ninguém porque um relâmpago não tem sentimentos.” IND E (Feminino).

    Com um grau de relevância médio-alto emergem as subcategoria Objecto/Coisa com um ligeiro destaque para a

    participação do género masculino e uma ligeira diminuição para o género feminino Ex: “Porque há muitas coisas no mundo

    que não vivem, não têm vida. Por exemplo, os nossos sapatos não têm vida, porque podem ter sido feitos, mas não vão ser

    acabados só porque uma pessoa os deita para o lixo e eles não vivem, só se usam.” IND M (Masculino). As subcategorias

    Não respira apresenta um grau de relevância médio apenas para o género feminino Ex: “Eu acho que ele [o relâmpago]

    não respira, ele não consegue viver, ele não consegue estar cá, ele não consegue comunicar connosco, ele não respira, não

    tem vida. Quando nós morremos ficamos sem ar, nós para vivermos precisamos de respirar.” IND A (Feminino).

    As subcategorias Não é alguém e Não comunica apresentam níveis de relevância muito diminutos.

    Fig. 28 – 3. O que não é um Ser Vivo?

    (ARDG - Adultos)

    A ARDG (Adultos) da questão 3.O que não é um Ser Vivo? (Fig. 28) apresenta uma relevância diminuta e apenas do

    CONV1, pelo que se pode afirmar que as crianças-participantes desenvolveram a teorização do conceito subjacente à

    questão por si mesmas e sem necessidade de uma mediação mais incisiva.

    0 1 2 3

    3. O que não é um Ser Vivo?

    Não vive

    Não tem sentimentos

    Não respira

    Não comunica

    Acontecimento natural

    Objecto / Coisa

    Não é alguém

    CONV1

    INV

  • 27

    Tal como já havia sido referido a intervenção do CONV1, que foi algo salientada, provocou um efeito imediato constituição

    das subcategorias apresentadas “ (…) O que é que a faz não ser um ser vivo por comparação a outras coisas que consideras

    que são seres vivo, como tu próprio?”.

    A intervenção Ex: “Mas não é ser vivo porque não tem sentimentos ou porque não pode respirar? A [IND G] disse duas

    coisas: não pode ser um ser vivo, porque não pode ter sentimentos e não pode respirar.” acentua um carácter impulsionador

    de uma maior assertividade nas argumentações. Este último exemplo apresentado é exemplo de dupla-categorização uma

    vez que participa de ambas categorias Não respira e Não tem sentimentos.

    4. Como se define Conceito de Vida?

    Fig. 29 – 4. Como se define Conceito de Vida?

    (Diagrama)

    A questão 4. Como se define Conceito de Vida? (Fig. 29) apresenta uma estrutura simplificada, porém, extensa. A

    denominação para esta subcategoria ocorreu por adaptação à necessária correspondência com a solicitação directa do

    CONV1 “ (…) Eu só preciso perceber melhor esse conceito de vida.”, e ainda, muito próximo do final da Sessão, quando

    reforça a mesma solicitação “ (…) só tentar resolver esta questão: pensar mesmo que não fique resolvido, pensar qual é a

    condição da vida, qual é a condição para haver vida, qual será a condição para haver vida?”. Assim, consequentemente, a

    4ª Questão reflete a procura natural de um conceito que se quer mais fechado ou refinado, pelo que, as subcategorias que a

    organizam são sustentadas pela procura incisiva e reflectida por parte das crianças-participantes.

    A questão 4. Como se define Conceito de Vida? constituiu-se das seguintes subcategorias:

    A subcategoria Necessidade de respirar descreve-se como uma necessidade que se impõe para possibilitar e manter a vida

    de um Ser vivo e que também se verificou ter sido bastante apurado pelo modo instigador como o CONV1 o moderou Ex:

    “Mas eu pergunto, basta respirar para podermos falar de vida? É preciso haver respiração para podermos falar de vida?

    Basta que haja respiração para se poder falar de vida? E pode-se falar de vida sem respiração?”.

    A subcategoria Comunicar surge num contexto associado ao relâmpago que não consegue viver, não consegue permanecer

    (mesmo enquanto fenómeno natural) e “(…) não consegue comunicar connosco(…).” IND A (Feminino). Posteriormente,

    o mesmo conceito aflora ainda uma outra reflexão “Um quadro pode existir e também pode viver porque a vida dele é ser

    visto pelas pessoas.” IND B (Feminino), ou seja, a obra existe e vive no momento em que se estabelece uma relação visual

  • 28

    com o ser humano. O argumento, algo confuso, que esta intervenção projectou na Discussão levou a que o CONV1

    indagasse se um quadro seria um ser vivo. A negação evidente assumiu, contudo, um carácter algo animista Ex: “Um quadro

    pode existir e não ter vida. Ele existe, está cá mas não tem vida, não tem o seu próprio… Ele é ele, mas não tem consciência

    própria de que é ele.” IND F (Feminino), ou seja, a obra existe apesar de não ser vida e existe mediante a premissa de que

    não tem consciência de si (de que ele – o quadro – é o próprio). Apesar desta última intervenção estar directamente associada

    à 5ª Questão, o seu enquadramento sequencial, associado ao conceito teorizado pela subcategoria Comunicar, revela-se de

    uma enorme pertinência teórica para esta investigação na medida em que observa os contextos narrativos que elucidam

    como é que a obra discursa com as crianças-participantes observadoras e como é que estas discursam com a obra, ou seja,

    que tipo de relação intrínseca obra/Criança se desenvolve no indizível e que posteriormente, se revela através dos seus

    discursos verbais.

    A subcategoria Estar activo constitui-se de um conceito que se define por dar significado ao termo actividade que é algo

    que se entende “ (…) não no sentido de se mexer mas de ter actividade própria.” IND B (Feminino) e que pode passar pela

    actividade de um “ (…) conjunto de vários seres vivos pequeninos, as células (…).” IND L (Masculino) responsáveis pela

    força motriz da água ou do vento, sem que nunca esteja em causa que a actividade seja realmente própria. Uma vez mais o

    fenómeno real ou natural associa-se a um outro fenómeno que se pretende científico mas que ainda não se separou da sua

    explicação animista.

    A subcategoria Viver (ciclo da Vida) agrega o conceito de ciclo de permanência e de um fim generalizado a todos os seres

    vivos Ex: “ (…) as flores ou as plantas precisam da água, os humanos precisam do oxigénio, então, chegámos a uma

    conclusão que quase todos os seres vivos precisam de mais ou menos, as mesmas coisas para crescerem, sobreviverem e

    depois morrerem, como todos os seres vivos.” IND G (Feminino) como também agrega o desenvolvimento do conceito de

    vida microscópica Ex: “Eu acho que um ser é ser vivo porque é constituído dessas células, moléculas, disso tudo.” IND L

    (Masculino). A subcategoria Viver (ciclo da Vida) estende-se ainda à subcategoria Reprodução que institui o nascimento

    como acontecimento primordial da vida que premeia a estrutura base do conceito de ser vivo Ex: “Eu acho que para se ser,

    ser vivo, é preciso ter… sem uma mãe e um pai ninguém pode nascer e o relâmpago eu acho que não é um ser vivo porque

    não nasceu de ninguém e apareceu assim do nada.” IND M (Masculino). Esta argumentação arreigou-se em simultâneo com

    a visão animista subjacente ao fenómeno natural Ex: “A nuvem criou o relâmpago!” IND C (Feminino).

    A subcategoria Existir estabelece-se em distinção ao conceito estruturado pela subcategoria Viver (ciclo da Vida) num

    contexto relacionado directamente com o real natural “Eu acho que é assim: existir e viver são coisas diferentes. (…) Um

    quadro, existe no nosso planeta, existe, está cá mas não vive, não tem vida.” IND F (Feminino) ou ainda, “A lua existe mas

    não é um ser vivo.” IND J (Masculino), como também encarou um contexto de argumentação acesa para prostrar o sentido

    animista sustentado por outras intervenções Ex: “Então precisas de mãe para existir!” IND J (Masculino).

    A subcategoria Tempo limitado surge da intervenção do IND O (Masculino) que converteu numa narrativa alegórica uma

    manifestação de cariz intimista do seu panorama vivencial para abordar como estamos sujeitos à crueza da própria vida,

    pois permanece enquanto tal apenas por tempo limitado enquanto uma simples parede ou uma obra resistem, na medida do

    possível, a esse tempo limitado Ex: “ Os humanos, os animais e as plantas, eles têm… Por exemplo: as plantas se as

    arrancarmos elas podem continuar a viver se cuidarmos delas muito bem, mas se não cuidarmos elas morrem, e nós também,

    se passarmos muito tempo vivos, chegamos a um tempo que já vivemos muito e não temos capacidade para viver mais.

  • 29

    Pronto, já não temos capacidade. E a parede, os quadros não têm capacidade de fazer isso, só se os destruirmos, à mão, eles

    não morrem por si.”.

    No âmbito dos interesses teóricos desta investigação, a percepção de que a obra não morre por si mesma torna presente na

    Discussão a perspectiva do tempo vivencial na qual o sujeito – ser humano – se circunscreve, enquanto a obra permanece

    no imprevisto ou acidental porque está circunscrita numa outra existência, quiçá, atemporal.

    Fig. 30 – 4. Como se define Conceito de Vida?

    (ARDG - Crianças-participantes)

    Na ARDG (Crianças-participantes) da questão 4. Como se define Conceito de Vida? (Fig. 30) denota-se uma maior

    relevância na participação do género feminino na constituição geral da subcategoria.

    De acordo com o que foi inicialmente referido, de modo a dar resposta à solicitação directa do CONV1, a questão 4.Como

    se define Conceito de Vida? revela um grau de relevância médio para o género feminino e baixo para o género masculino

    Ex: “Todos os seres vivos têm alguma coisa em comum que os faz seres vivos.” IND H (Feminino).

    Com a maior expressão de relevância neste contexto surge a subcategoria Necessidade de respirar mas apenas para o

    género feminino Ex: “Sim, para vivermos precisamos de oxigénio.” A (Feminino); a subcategoria Viver (Ciclo da Vida)

    apresenta uma relevância média-alta para o género feminino e uma ligeira diminuição para o género masculino Ex: “ (…)

    um ser vivo nasce, vive e morre, a célula nasce, vive, forma o cabelo, as unhas.” IND B (Feminino); a subcategoria Existir

    apresenta uma relevância média-baixa para ambos os géneros; a subcategoria Reprodução apresenta uma relevância média

    para o género feminino e com uma diminuição para o género masculino Ex: “Nós não somos um objecto novo, somos mais

    ou menos uma réplica com algumas diferenças.” IND E (Feminino); a subcategoria Estar activo apresenta um grau de

    relevância média-baixa para o género masculino e diminuta para o género feminino Ex: “Eu acho que a vida é qualquer

    coisa de ter actividade, não no sentido de se mexer mas de ter actividade própria (…).” IND B (Feminino).

    A subcategoria Comunicar apenas para o género feminino e a subcategoria Tempo apenas para o género masculino,

    apresentam ambas graus de relevância muito baixa.

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

    4. Como se define Conceito de Vida?

    Tempo limitado

    Necessidade de respirar

    Comunicar

    Estar activo

    Viver (Ciclo da vida)

    Reprodução

    Existir

    MASC

    FEM

  • 30

    Fig. 31 – 4. Como se define Conceito de Vida?

    (ARDG – Adultos)

    A ARDG (Adultos) da questão 4. Como se define Conceito de Vida? (Fig. 31) apresenta uma relevância elevada

    comparativamente às suas análogas. Assim, denota-se uma maior relevância na participação do CONV1 em grande contraste

    com a INV.

    No contexto do que já havia sido referido os elementos que constituem a teoria subjacente à subcategoria 4. Como se define

    Conceito de Vida? foi determinante para o desenvolvimento de todo o conceito aqui explorado pelas argumentações das

    crianças-participantes, pelo que, nesta análise o seu grau de relevância médio sugere uma forte incidência na moderação do

    referido conceito. Este fenómeno volta a espelhar-se na subcategoria Viver (Ciclo da vida) que apresenta um elevado grau

    de relevância para o CONV1 Ex: “De acordo com o teu exemplo parece-me que o argumento que querias é: podemos existir

    mas para viver temos que nascer e morrer. O que é que acham disto? Podem existir várias coisas mas para viver só vivem

    aquelas que nascem e morrer. Alguém tem alguma coisa a dizer?” e muito baixa para a INV.

    Com uma expressão um pouco mais baixa mas muito próxima da anterior, tanto para o CONV1 como para a INV, surge a

    subcategoria Necessidade de respirar Ex: “Mas eu pergunto, basta respirar para podermos falar de vida? É preciso haver

    respiração para podermos falar de vida? Basta que haja respiração para se poder falar de vida? E pode-se falar de vida sem

    respiração?” CONV1.

    As subcategorias que apresentam grau de relevância baixa são Existir apenas para o CONV1 e Reprodução tanto para o

    CONV1 como para a INV. Com relevâncias diminutas e apenas para o CONV1 surgem as subcategorias Estar activo e

    Tempo limitado.

    As intervenções assíduas do CONV1 ofereceram um forte dinamismo à Discussão e uma exigência de assertividade

    argumentativa que possibilitou o falto final para um discurso mais abstracto e abertamente direcionado para o âmbito dos

    interesses teóricos desta investigação.

    As parcas intervenções da INV acompanharam de muito perto os interesses solicitados pelo CONV1 mantendo uma atitude

    de proximidade das suas intervenções e partilha adequado às circunstâncias.

    0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

    4. Como se define Conceito de Vida?

    Tempo limitado

    Necessidade de respirar

    Comunicar

    Estar activo

    Viver (Ciclo da vida)

    Reprodução

    Existir

    CONV1

    INV

  • 31

    5. Esta obra representa vida ou não?

    Fig. 32 – 5. Esta obra representa vida ou não?

    (Diagrama)

    A questão 5. Esta obra representa vida ou não? (Fig. 32) apresenta uma estrutura simplificada e muito focalizada no

    âmbito dos interesses teóricos desta investigação, tal como já havia sido referido.

    A denominação adoptada para esta questão ocorreu por correspondência à solicitação directa do CONV1 muito próximo do

    final da sessão “Digam-me só uma coisa para acabarmos, no quadro que viemos discutir que nos fez derivar por este

    caminho, vocês pensam que ali está representada vida ou não?”.

    Esta questão foi explorada pelas crianças-participantes durante um curto período de tempo, contudo, o carácter assertivo

    que as suas intervenções revelaram permitiram constituir um conceito evidenciado. A mesma subcategoria permite

    estabelecer duas fases muito precisas na construção desses mesmos conceitos: numa 1ª fase a resposta directa à questão

    baseou-se na interpretação narrativa dos elementos que supostamente constituem a obra (à semelhança da fase inicial de

    exploração dos elementos provenientes da Agenda da Discussão); a 2ª fase surge por instigação da INV “Alguém tem uma

    opinião diferente, que [esta obra] não seja representativa de vida?” e aqui surge um misto de intervenções que incidem na

    vontade do pintor e consequentemente na função da obra.

    A questão 5. Esta obra representa vida ou não? constituiu-se das seguintes subcategorias:

    A subcategoria Representa vida constituiu-se da interpretação de possíveis cenários sustentados pelas ligações

    estabelecidas entre a nomeação ou identificação dos elementos que supostamente constituem a obra. A questão em si foi

    entendida como uma questão directa ao que no corpo da obra, a tela, se pode imaginar como estando representado, assim, a

    grande maioria defendeu que a obra representa vida mesmo que dizimada. Numa destas interpretações, apesar do avanço

    teórico oferecido durante toda a Discussão, registou-se, ainda, interpretações de carácter animista Ex: “Acho que sim, há

    vida! Para mim aquele sítio é um sítio desértico perdido no nevoeiro e sendo o nevoeiro um ser vivo, acho eu, ele tem vida

    e as plantas também são vida.” IND B (Feminino).

    A subcategoria Função da obra torna-se numa subcategoria de valorização por estar muito focalizada no âmbito dos

    interesses teóricos desta investigação. Assim, a pintura provoca efeitos exteriores a si mesma porque exige que seja

    observada e posteriormente que essa observação alimente ou estimule a imaginação de quem a observa, porém, revela-se

    um escasso vislumbre de uma responsabilidade a que esta se subjuga – a relação de recíproca obra/observador Ex: “Um

    quadro pode existir e também pode viver porque a vida dele é ser visto pelas pessoas.” IND H (Feminino).

  • 32

    O conceito estabelecido pela subcategoria Criação refere-se directamente à acção exercida pelo pintor aquando da produção

    da obra e no qual foi igualmente referida pela IND H (Feminino) a sua intenção do pintor como intermediário activo entre

    a obra e o observador ao facultar a possibilidade de o observador vir a imaginar, seja através de um acto controlado seja por

    puro acaso “ (…) aquilo é fazer uma coisa que calhou e que ficou bonita só para depois as pessoas imaginarem o que é

    (…)”, seja através de elementos irreconhecíveis aos observador ou identificáveis, sendo estes últimos considerados naturais,

    existentes na dimensão real “ (…) ele só tinha copiado.”. A mesma intervenção da IND H (Feminino) terminou com a

    seguinte declaração: “Pode haver é vida na pintura e isso é outra coisa.”, que apesar do extremo interesse teórico, ficou por

    desenvolver.

    A subcategoria Tempo para além de registar o conceito das marcas evidentes de um tempo que passa e desgasta

    naturalmente a obra sem qualquer interferência do homem, também regista o conceito mais singular de toda a Discussão ao

    vaticinar o prenúncio de um período de existência para a pintura que lhe confere a possibilidade de imortalidade Ex: “ (…)

    um quadro que nunca irá ser destruído, nunca morre!” IND Q (Masculino).

    Fig. 33 – 5. Esta obra representa vida ou não?

    (ARDG - Crianças-participantes)

    Na ARDG (Crianças-participantes) da questão 5. Esta obra representa vida ou não? (Fig. 33) apresenta para a

    generalidade do fenómeno em análise uma relevância baixa, contudo, expõe conceitos elaborados num curto espaço de

    tempo com o anúncio da finalização da Sessão. Uma vez mais constata-se uma maior participação do género feminino,

    contudo, que em aspectos qualitativos, a participação do género masculino determinou aspectos em tudo singulares para a

    criação de teoria fundamental para esta investigação.

    A questão que sustenta a questão 5. Esta obra representa vida ou não? derivou de uma solicitação directa do CONV1

    pelo que aqui apresenta-se apenas como suporte estrutural de um conceito teórico.

    Assim, para esta ARDG (Crianças-participantes) revela-se a subcategoria Representa vida com uma relevância alta para o

    género feminino e uma ligeira diminuição para o género masculino Ex: “Eu acho que tem vida porque aquelas coisas verdes

    a mim parecem-me peixes. Eu acho que é só por causa disso: há algas, há planta…” IND H (Feminino); a subcategoria

    Criação apresenta uma relevância igualmente alta para o género feminino mas com uma relevância diminuta para o género

    masculino Ex: “Deus criou o homem e o homem criou o quadro!” IND F (Feminino); a subcategoria Função da obra

    apresenta uma relevância média para o género feminino e mas com uma relevância diminuta para o género masculino Ex:

    “Um quadro pode existir e também pode viver porque a vida dele é ser visto pelas pessoas.” IND B (Feminino); por fim, a

    subcategoria Tempo apresenta um grau de relevância médio mas apenas para o género masculino Ex: “Por exemplo, há

    0 1 2 3 4 5 6

    5. Esta Obra representa vida ou não?

    Representa vida

    Função da Obra

    Criação

    Tempo

    MASC

    FEM

  • 33

    quadros romanos que estão todos partidos, que já perderam imensas coisas, que estão todos a cair, todos velhos, as tintas já

    estão a cair. Podem destruir-se sem ser o homem a destruir.” IND L (Masculino).

    Fig. 34 – 5. Esta obra representa vida ou não?

    (ARDG - Adultos)

    A ARDG (Adultos) da questão 5. Esta obra representa vida ou não? (Fig. 34) apresenta uma maior relevância na

    participação do CONV1 mas, para esta questão, com uma proximidade diminuta mas constante por parte da INV.

    No contexto do que já havia sido referido, a questão 5. Esta obra representa vida ou não? surge por correspondência à

    solicitação directa do CONV1, porém foi acompanhada pela intervenção da INV que insiste na questão proporcionando

    uma dinâmica conjunta da Ex: “Alguém tem uma opinião diferente, que aquilo não seja representativo de vida?”.

    As subcategorias que maior relevância apresentaram para a dinâmica da Discussão, através do desempenho e intervenção

    dos facilitadores foram: a subcategoria Representa vida a moderação do CONV1 apresenta a possibilidade de abrir uma

    ramificação da questão inicial Ex: “E portanto achas que tem vida. Alguém tem outra opinião?” enquanto que a intervenção

    da INV apenas pretende que suscitar clarificação de intervenção Ex: “Para ti, aquilo é um espaço submerso, está debaixo

    de água?”; e a a subcategoria Criação a intervenção do CONV1 expõe a possibilidade de fusão de conceitos anteriormente

    abordados tais como o conceito de ciclo de vida, função da obra, ao fenómeno de criação artística “Mas de acordo com o

    argumento da Francisca na altura que ele foi pintado podemos considerar que foi o nascimento dele, enquanto está exposto

    ao olhar das pessoas está a viver, se um dia for destruído, morre.”, tendo o mesmo sido posteriormente reforçado pela INV

    “Mas então, nasce ou não nasce, um quadro?”.

    Nesta fase final da Discussão pode-se observar uma maior cumplicidade na partilha da moderação da Discussão na medida

    em que o CONV1 e a INV mantêm uma atitude de proximidade das suas intervenções bem como uma partilha teórica

    adequado às circunstâncias.

    0 1 2 3 4

    5. Esta Obra representa vida ou não?

    Representa vida

    Função da Obra

    Criação

    Tempo

    CONV1

    INV

  • 34

    ANÁLISE ETNOGRAFICA DO REGISTO DE VIDEO

    Para a AERV desta sessão adaptou-se por uma abordagem dedutiva, na medida em que foi observado um evento específico

    e fortemente conduzido pela questão desta investigação, e que foi anteriormente objectivado e delineado no R1A.

    Esta análise mantém o protocolo assumido e teve em conta: a relação dos comportamentos físicos com o espaço físico

    envolvente; desses comportamentos físicos com a obra previamente seleccionadas; e ainda, a associação dos

    comportamentos físicos aos momentos e à qualidade dos discursos dos intervenientes. Assim, a AERV mantém-se

    organizada de acordo com dois momentos específicos: 1º Momento refere-se aos comportamentos referentes ao momento

    em que as crianças-participantes entraram em contacto com o espaço onde a obra visada estava exposta e a observação

    directa da mesma; o 2º Momento refere-se aos registos comportamentais durante o decorrer da própria Sessão.

  • 35

    Análise etnográfica do registo de vídeo

    TEMPO CATEGORIA ACÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO OBSERVAÇÃO

    1º Momento

    LEITURA DA OBRA Preparação da Sessão (Vídeo MOV08B)

    Colocação das crianças-participantes sentadas no chão em meia-lua sentadas de frente para a obra. IND G informa que a mãe não deixa que esta seja filmada. Posicionar a câmara para registo de vídeo de todas as crianças-participantes. CONV1 comenta o facto de as meninas estarem todas juntas bem como os rapazes pelo que pede que se misturem (mudança de lugares) INV explica que o objecto da Discussão será a obra e que as crianças-participantes deveram observá-la e agir como numa sessão de filosofia das que têm na sala de aula. Preparação do suporte para registo da Agenda de Discussão.

    Dinâmica comportamental: Atenção algo dispersa, crianças-participantes não observam a obra mas o que se passa neste centro em meia-lua CONV1 repreende IND Q

    00:05:27 00:05:51

    Início da 2ª Sessão (B)

    Primeiros registos de observações da obra (IND A, IND N) Registo dos nomes (cábula a ser utilizada pela INV por ainda não ter fixado o nome das crianças-participantes)

    Momento de empatia

    2º Momento 00:07:17 00:08:02 00:11:57

    AGENDA DA DISCUSSÃO

    Início da Agenda da Discussão Registo e leitura das questões

    Carlota pede esclarecimento de dúvidas, INV explica que as questões a serem colocadas irão constituir a Agenda da Discussão. CONV1 explica que as perguntas que se irão fazer sobre o quadro funcionam como as que se fazem para um texto IND H coloca a 1ª Questão seguida de IND G; IND J; IND C; IND F; IND N; IND B; IND E. CONV1 relê as perguntas

    Dinâmica comportamental: Crianças-participantes atentas ao CONV1 e INV Introspectivas Movimentos subtis de inquietude e conversas de sussurro com o parceiro do lado (atitude generalizada)

    3º Momento 00:13:13

    DISCUSSÃO

    Comentário às questões inicia-se com a IND G IND J está agitado, sussurra, levanta o braço para se inscrever na Discussão e inclina-se para trás IND A levanta o braço discretamente enquanto restantes participantes ouvem e observam IND J; IND L levanta o dedo para se inscrever na Discussão

    Dinâmica comportamental: Comportamentos generalizados: atentos aos comentários da IND G

    00:14:19 INV interrompe para colocar MP4 00:17:14 00:17:31

    REALIDADE (Real/irreal)

    Interpretação da obra CONV1 dá palavra ao IND L; alguns observam a pintura seguindo com o olhar a proposta de leitura apresentada pelo IND L Intervenção do IND L causou reacções imediatas: IND N; IND G e IND A inscrevem-se na Discussão (dedos no ar) CONV1 dá palavra ao IND N (dedo apontado segue o percurso da sua narrativa IND A intervém com tom de voz muito baixo e gesticula de modo a representar um movimento aquático representativo de um dos elementos que “identifica” na obra; IND F intervém com voz hesitante; grande maioria dos participantes observa a obra de modo a poderem acompanhar o percurso da narrativa que apresenta e a interpretação da mesma; IND E apresenta a sua apresentação; IND C mantém braço no ar e intervém em apoio a relato anterior; IND B intervém com uma outra interpretação (expressão facial com forte mímica dirigida à colega do lado IND F; IND L apresenta interpretação IND C interroga IND B sobre a sua intervenção IND M responde e introduz na Discussão o conceito de que o que está pintado não tem de ser necessariamente real (explanação analítica) CONV 1 devolve a mesma questão à Discussão

    Interpretação da obra: narrativas hipotéticas que procuram associar elementos representados na obra Dinâmica comportamental: Comportamentos atentos às intervenções, silêncio respeitador e respostas participativas; vozes serenas e tons relativamente baixos CONV1: moderação constante na autorização de intervenções da Discussão Comportamentos atentos e expectantes Intervenção assertiva CONV1 instigação à reflexão

  • 36

    (devolução da questão ao grupo) 00:19:49 00:21:25

    RELAMPAGO Se existe é alguém Coisa / fenómeno Ser vivo Não tem sentimentos Chuva (exemplo de ser vivo)

    Pedido de várias