recepção literária
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UNIVERSIDADE DA AMAZNIAPROGRAMA DE PS-GRADUAO EM COMUNICAO,
LINGUAGENS E CULTURA - MESTRADO
VALDIR GUILHERME ALVES RIBEIRO
RECEPO LITERRIA: a interao entre o texto literrio e o leitor
BELM - PAR
2012
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VALDIR GUILHERME ALVES RIBEIRO
RECEPO LITERRIA: a interao entre o texto literrio e o leitor
BELM-PAR2012
Dissertao apresentada UNAMAUniversidadeda Amaznia, como parte das exigncias doprograma de ps-graduao em comunicao,linguagens e cultura, para obteno do ttulo deMagister Scientiae.
Orientador: prof. Dr. Jos Guilherme Castro
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Slvia Helena Vale de Lima CRB 2/1.028
372.4
R484r Ribeiro, Valdir Guilherme Alves.
Recepo literria: a interao entre o texto literrio e o
leitor / .Valdir Guilherme Alves Ribeiro 2011.
73f.: 21 x 30 cm. il.
Dissertao (Mestrado) -- Universidade da Amaznia,
Programa de Ps-Graduao em Mestrado em
Comunicao, Linguagens e Cultura , 2011.
Orientador: Prof. Dr. Jos Guilherme Castro.
1.
Leitura. 2. Texto literrio. 3. Leitor real. 4. Efeito
esttico. I. Castro, Jos Guilherme. II. Ttulo.
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VALDIR GUILHERME ALVES RIBEIRO
RECEPO LITERRIA: a interao entre o texto literrio e o leitor
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________________
Prof. Dr.: Jos Guilherme Castro
(Orientador)
_________________________________________________________
Prof. Dr.: Lucilinda Teixeira
(UNAMA)
__________________________________________________________
Prof. Dr. Rosngela Darwich(UNAMA)
Dissertao apresentada UNAMA
Universidade da Amaznia, como parte dasexigncias do Programa de Ps-Graduaoem Comunicao, linguagens e Cultura, paraobteno do ttulo de Magister Scientiae.
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A Deus, meus familiares, meus professores e aos
meus amigos...
Companheiros de todas as horas...
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Agradecimentos
A Deus, pai em todas as horas.
A minha esposa Carla, pelo apoio e compreenso.
Aos filhos Vincius e Enzo, pelo carinho e respeito.
UNAMA, pela oportunidade de aprofundar meus conhecimentos.
Ao professor Jos Guilherme Castro, que me orientou com competncia e efetivocompromisso.
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As perspectivas do texto visam certamente a
um ponto comum de referncias e assumemassim um carter de instrues; o ponto dereferncias, no entanto, no dado quanto tal edeve por isso ser imaginado.
(ISER, 1996, p.75)
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RESUMO
Este trabalho dissertativo, embasado nas teorias de Hans Robert Jauss (Esttica darecepo) e Wolfgang Iser (Teoria do efeito), tentou analisar a relao de recepo e do efeito
esttico realizados em alunos da 8 srie do ensino fundamental em uma escola pblica em umespao rural, conhecido como Vila do Cravo no municpio de Concrdia do Par, por meio daleitura do texto O peixe, do escritor paraense Benedicto Monteiro atravs do questionriocomposto por dez perguntas, respondidas pelos alunos para proporcionar a interaoestabelecida entre texto literrio e leitor dentro do espao escolar. Houve dentro deste
processo alguns fatos marcantes em relao leitura do texto como a dificuldade deinterpret-lo no primeiro momento da leitura, e a realizao de novas leituras do texto at o
processo de recepo. O comprometimento com o trabalho no decorrer da pesquisa mostrou-me que possvel a formao de leitores potenciais com capacidade de interpretaes precisasquando se trata de textos literrios de expresso amaznica, juntamente com atualizaesnecessrias realizadas pelos leitores a partir de dicas deixadas pelo leitor implcito no ato daleitura. importante considerar a importncia do efeito esttico ativado no leitor pelo texto,
pois este busca aquele para preenchimento de indeterminao no ato da leitura.
Palavras-chave:leitura, texto literrio, recepo, efeito esttico, leitor implcito, leitor real
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ABSTRACT
This work dissertative, based on the theories of Hans Robert Jauss (Aesthetics of reception)and Wolfgang I ser (Theory of the effect), attempted to examine the relationship of reception
and aesthetic effect achieved in students from the 8th grade of elementary school in a publicschool in a rural areas, known as the Carnation Village in the city of Concord Para, byreading the text "fish," the writer through the Miller Para Benedicto questionnaire consistingof ten questions, answered by students to provide the interaction established between literarytext and the reader in the school. There was in this trial, some striking facts regardingthe reading of the text as the difficulty of playing him at first reading, and performance of newreadings of the text until the receiving process. The commitment to work during theresearch showed me that it is possible the formation of potential readers capable of accurateinterpretations when it comes to literary expression Amazon, along with necessaryupdates made by readers' tips left by the implied reader the act of reading. It is important toconsider the importance of the aesthetic\ effectenabled the reader through the text, becauseit seeks to fill one of indeterminacy in the act of reading.
Keywords:reading literary text, reception, aesthetic effect ,implied reader, real player
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SUMARIO
1CONSIDERAES INICIAIS........................................................................................................9
2 REFERENCIAL TERICO..........................................................................................................17
2.1 O mundo da leitura......................................................................................................................17
2.2 A esttica da recepo: a participao de Hans Robert Jauss.................................................19
2.3 As contribuies de Iser para a Teoria do Efeito...................................................................23
2.4 A unio de duas teorias................................................................................................................27
2.5 A figura do leitor ..........................................................................................................................29
2.6 A interao texto literrio/leitor .................................................................................................32
3.METODOLOGIA ..........................................................................................................................37
3.1 Corpus............................................................................................................................................38
3.2 Campo ...........................................................................................................................................39
3.3 Etapas.............................................................................................................................................39
3.4 Sujeitos..........................................................................................................................................40
3.5 Instrumentos.................................................................................................................................41
3.5.1 O texto........................................................................................................................................42
3.5.2 trabalhando com o texto..........................................................................................................48
4ANLISE E DESCRIO DOS DADOS DA PESQUISA.....................................................48
4.1Desenvolvimento da pesquisa na Vila do Cravo......................................................................48
4.2Anlise dos dados........................................................................................................................50
4.3 Discusso dos dados....................................................................................................................68
5 CONSIDERAES FINAIS........................................................................................................70
6REFERNCIAS..............................................................................................................................73
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1. CONSIDERAES INICIAIS
Vrias iniciativas de incentivo leitura vm sendo criadas na sociedade brasileira
para inseri-la, de vez em nossa sociedade, como uma prtica comum na vida de cada
indivduo e, a cada dia, buscam conscientizar o leitor da importncia deste ato, atravs de
diversos meios de comunicao e de prticas escolares. Contudo, ainda h grande dificuldade,
por parte dos alunos, para fazer um elo de significados da escrita com seu meio, com sua
expresso cultural e com outros atos praticados em sua vida cotidiana. Ao enfatizar a situao
da leitura na vida escolar de cada pessoa, Saraiva esclarece:
A anlise da situao em que se encontra a leitura comprova a ineficcia da escola,pois o aluno manifesta seu desinteresse por essa atividade, evidenciando a distnciaque se estabelece entre a ao pedaggica e o alcance do comportamento desejado.O pretenso leitor assume o papel de decodificador e de eventual intrprete, semalmejar o desenvolvimento de atitudes crtico-reflexivas, e limita suas experinciascom textos literrios s exigidas pela escola, enquanto se restringe, na vidacotidiana, leitura de jornais e revistas (SARAIVA 2001, p.23).
Situao como esta, abordada pela autora, fica comprovada quando resultados de
exames e concursos vestibulares so divulgados por instituies de ensino superior e
publicados em jornais e revistas aps suas realizaes. Foi o que aconteceu no jornal Dirio
do Par em 07/01/2012 que editou em sua primeira pgina: Vestibular da UFPA teve 135 mil
notas zero. Dentre estes nmeros, a disciplina Literatura, que ser um dos objetos deste
estudo, ocupa a segunda colocao com 20.961 zeros atrs apenas da disciplina de Qumica
com 26.619 zeros. Tais resultados preocupam qualquer educador interessado no avano do
processo ensino-aprendizagem em nossa sociedade.
Mesmo ciente dos problemas estruturais encontrados em espaos escolares tenho
conscincia dos benefcios da leitura na vida de cada cidado, capaz de torn-lo mais ativo,capaz de expor opinies e debat-las de maneira coerente. Enfatizarei neste trabalho, questes
relacionadas aos leitores e textos literrios apresentados no espao escolar e fora dele, pois
estes, geralmente no so entendidos por aqueles no momento de uma possvel interao feita
na escola. Por isso mesmo, Antunes diz que:
O trabalho com a leitura ainda est centrado em habilidades mecnicas dedecodificao da escrita sem dirigir, contudo, a aquisio de tais habilidades para adimenso da interao verbal quase sempre nessas circunstncias, no h leitura,
porque no h encontro com ningum do outro lado do texto (ANTUNES, 2003,p.27).
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Isso talvez crie uma barreira na aprendizagem do aluno, afastando assim a
oportunidade de torn-lo um bom leitor e de participar de debates, a partir de leituras feitas
por vontade prpria, utilizando materiais que esto ao seu redor para que compreenda as
diversas alternativas oferecidas pelo texto, e assim, utilizar-se da mensagem para ampliar sua
experincia de mundo. Isso remete ao que afirma Silva (1996, p.45), Ler , em ltima
instncia, no s uma ponte para tomada de conscincia, mas tambm um modo de existir no
qual o indivduo compreende e interpreta a expresso registrada pela escrita e passa a
compreender-se no mundo.
Talvez, as primeiras atividades de leitura desenvolvidas na escola, sirvam de
incentivos a esses leitores iniciantes, para posteriormente, torn-los mais ativos e, de vez,aumentar seu poder de compreenso em todos os tipos de texto, dentre eles o literrio, pois o
papel necessrio, na esttica da recepo, o estabelecimento exato da interao entre o texto
e o leitor.
Esse um dos fatores que me provoca e me deixa interessado pelo tema desta
pesquisa, pois, foi em sala de aula, durante muito tempo, que observei certa rejeio de
leitores por alguns textos literrios. Observei que, em relao a muitas obras conceituadas
pela crtica, a maioria dos alunos mostra-se desinteressada sua leitura. Quais os motivosdesse desinteresse? O que impede os alunos de ler, de entender e de interpretar certas obras?
Questionamentos assim, sempre se fizeram presentes em nossa prtica escolar e formularam
tentativas para, se no resolver, pelo menos torn-los amenos aos efeitos dessa crise de leitura,
dentro da escola.
s vezes, o processo social (meio, espao) em que vive esse leitor, no favorvel e
contribui bastante para que o desenvolvimento da atividade de leitura seja deficitrio,
condicionando e tornando dificultosa a recepo de outras leituras, principalmente nos
espaos escolares mediados pelos professores. Dentro do ambiente escolar, existem textos que
quase sempre, causam nos leitores certo tipo de estranhamento1, pois o leitor ou no conhece
os significados diversos que tm as palavras ou sua mente est cheia de mensagens com
funes apelativas deixadas a ele, pelos meios de comunicao que o cercam diariamente
(rdios, televises, internets, etc.). o que afirma Vera Silva:
1Efeito a ser obtido junto ao sujeito da recepo que tem como objetivo formar e transformar a percepo
esttica do receptor. Termo empregado pelos formalistas russos na dcada de 20.
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Numa poca em que o olho eletrnico da televiso est a no mundo ao redor,padronizando o contedo das informaes, barrando as possibilidades de escolha doreceptor, criando obstculos ao aparecimento de indivduos idiossincrticos,
homogeneizando conscincias e massificando a populao, seria importante trazer luz algumas funes da leitura dentro de um contexto educacional mais abrangente(SILVA, 1996, p. 36-37).
E, nesse sentido que surgem algumas questes sobre o ato da leitura na escola. Ser
que o aluno, mesmo com as dificuldades institucionais, no consegue fazer uma recepo
voltada para seu conhecimento? As leituras escolares precisam de relaes mais prximas
com a realidade do aluno? Quais os mecanismos que seriam utilizados para aproximar o aluno
do texto sem a possibilidade de estranhamento?
Segundo Compagnom (2001, p.147), "os estudos recentes da recepo interessam-se
pela maneira como uma obra afeta o leitor, um leitor ao mesmo tempo passivo e ativo, pois a
paixo do livro tambm a ao de l-lo". Neste caso, a preocupao desta abordagem
estabelecer parmetros descritivos dos textos que captam a ateno do aluno e o motivam a ler
de uma maneira diferente, pois, assim, descobriremos que tipo de texto ser melhor no espao
escolar especfico e, fora dele, tornando-o mais receptivo.
Em 2007, na tentativa de motivar os alunos prtica de leitura, trabalhei com uma
coletnea de textos de Chico Buarque de Holanda2, em um espao rural no municpio de
Concrdia do Par, com alunos do 1 ano do Ensino Mdio. No comeo, eles no se
mostraram receptivos aos textos. proporo que efetuava um trabalho de ampliao dos
conhecimentos dos discentes sobre o que estavam lendo, alguns espaos vazios3se tornaram
importantes para suas interpretaes e foram preenchidos por eles. Tais atitudes mudaram
significativamente, a maneira de alguns alunos se comportarem frente ao material de leitura
em exposio. Eles, embora afirmando que no conheciam o texto, ou que no conheciam o
autor, apresentaram sinais positivos que motivaram esta pesquisa.Algumas afirmaes colhidas ao final das amostras dos poemas de Chico Buarque,
aps a verificao escrita do entendimento dos alunos, estimularam minha curiosidade sobre o
resultado obtido pela recepo dos textos. Ainda que a atividade no tivesse sido realizada
com propsito cientfico, houve consideraes essenciais sobre a recepo que me chamaram
2Escritor e compositor contemporneo brasileiro responsvel por um dos maiores acervos musical da MPB.
3
Termo utilizado por ISER, 1996, terico responsvel pela teoria do efeito esttico, para indeterminaessurgidas no ato da leitura e que provoca no leitor o efeito esttico em decorrncia de sua interao com a obra
literria.
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ateno. Destacam entre elas: a forma que alguns alunos consideraram o texto difcil de
entender; o reconhecimento, por parte dos alunos, de que se tratava de um texto fora de seu
contexto, entre outros comentrios feitos por eles.
O resultado deste trabalho no foi fcil de ser aceito por um profissional que anseia
que seus alunos leiam com prazer. A hiptese levantada, naquele momento, foi de que alguns
alunos aprenderiam a reconhecer marcas importantes na literatura apresentada por Chico
Buarque, e se seriam capazes de preencher alguns vazios que se faziam presentes, nos textos
apresentados em sala de aula, para que eles pudessem chegar ao entendimento e, finalmente,
obtivessem mudanas quanto a sua postura em relao aos textos lidos.
A situao relatada me leva a refletir sobre a recepo de textos literrios, pois seique, em uma sala de aula, encontrarei diversos tipos de leitores. Alguns se recusam a fazer a
leitura e no nos do explicao. Existem alunos que leem por mera obrigao, imposio de
sua famlia e da escola, no tm prazer nenhum em fazer leitura. Por isso mesmo, Silva afirma
que a leitura nunca foi prioridade no Brasil, pois:
Dadas as condies do desenvolvimento histrico e cultural do pas, a leituraenquanto atividade de lazer e atualizao, sempre se restringiu a uma minoria deindivduos que teve acesso educao e, portanto, ao livro. A grande massa da
populao, sem condies para estudar, sempre aderiu aos meios diretos decomunicao, que no exigem educao formal para sua recepo (SILVA, 1996, p.37).
A condio exposta pelo autor coloca-me, novamente, frente ao problema que aflige
a maioria dos estudiosos da rea educacional que acredita na leitura de textos literrios como
incentivos para o ato imaginativo do leitor que, nos dias atuais, parecem ser substitudos pelas
diverses eletrnicas, os shoppings centers, a vida de festas juntamente com prticas
esportivas, como atesta Vera Silva:
Essas atividades que encurtam o tempo que poderia ser despendido com uma leiturade prazer. Na rotina de boa parte dos adolescentes sobra, ento, apenas o espao daleitura como dever, a escola prescrita pela escola. com essa limitao que temosde enfrentar o problema de como propiciar ao adolescente escolar um passaporte deleitura para a vida adulta (SILVA, 2009, p. 39).
Na realidade escolar, deparamo-nos com variadas formas de ensino. Alguns
educadores priorizam textos voltados para a realidade do leitor, outros, para seu meio exterior.
Uns gostam de trabalhar com textos em prosa, outros preferem texto-poema. Ser que existetexto melhor ou pior, dentro da sala de aula? O que leva o aluno ao cansao e ao desnimo? A
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forma de contato que o leitor tem mediante um texto em prosa e um poema reflete essa
recepo de leitura?
A leitura a principal funo do texto escrito, pois, sem ela, no existiria a interao
texto/leitor porque a participao do leitor neste processo fundamental. Por isso, se faz
necessrio um dilogo contnuo da obra com o leitor para tornar a ao de leitura a concretude
do texto. Para Sartre (1993, p. 35), "o objeto literrio um estranho pio, que s existe em
movimento. Para faz-lo surgir necessrio um ato concreto que se chama leitura, fora da, h
apenas traos negros no papel".
Esta metfora sartreana envolve o absoluto valor da leitura para compreendermos
que, sem ela, o valor receptivo das obras literrias no serviria de indagaes por conta dosefeitos provocados no leitor que, por sua vez, busca preencher os vazios determinados pelos
textos no ato da leitura e acrescenta, a cada leitura, seus conhecimentos alargando seus
horizontes, o que faz surgir um leitor propcio ao debate, principalmente no espao escolar.
Neste trabalho, faz-se necessrio estabelecer uma relao texto literrio/leitor com as
condies e com as relaes prximas dos sujeitos da pesquisa que constituiro o eixo da
atividade de recepo da leitura, por parte dos alunos de 8 srie juntamente com alguns
questionamentos: H, realmente, muitas dificuldades de leitura e de interpretao em textosliterrios nas escolas? Quem so hoje os leitores desses textos nas escolas? Em que condies
esses textos so lidos? Por qu? Para qu? Esta opo por considerar que o texto literrio
est interligado leitura escolar e vida do leitor que desloca, para outras esferas da
sociedade, as discusses tericas sobre o texto em si.
Para o desenvolvimento da pesquisa, optou-se pela metodologia da Esttica da
Recepo e pela teoria do efeito esttico, tomando por base, respectivamente, as ideias de
Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser.
Em 1967, quando Jauss cria a expresso "horizontes de expectativas" que determina
a reao do leitor obra literria atravs da recepo, o novo apresentado pelo texto literrio
dialoga com a experincia do leitor, pois a obra cria expectativa, agua a sua lembrana e o
conduz a determinada postura emocional. Segundo, Jauss:
O caso ideal para a objetivao de tais sistemas histrico-literrios de referncia odaquelas obras que, primeiramente, graas a uma conveno do gnero, do estilo ouda forma, evocam propositadamente um marcado horizonte de expectativas em seus
leitores para, depois, destru-lo passo a passo procedimento que pode no servirapenas a um procedimento crtico, mas produzir ele prprio efeitos poticos(JAUSS, 1994, p. 28).
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Neste processo de leitura, tentarei desenvolver a recepo e o efeito esttico da obra
de Benedicto Monteiro4, mais especificamente do conto, "O peixe", com alunos da 8 srie,
pois estes esto no final do ensino fundamental e com grandes possibilidades de ingresso no
Ensino Mdio e vivem no espao que traz caractersticas semelhantes s apresentadas pelo
escritor, no decorrer da narrativa. Portanto, a escolha do texto do poeta paraense para o corpus
da pesquisa se justifica porque o contista fala com autoridade de mata, dos rios, dos igaraps e
das chuvas. Ele foi especialista em transformar a vida amaznica em romance, poesia e arte.
Para o escritor, o homem paraense e a diversidade do Estado, ao seu redor, j eram suficientes
para que a inspirao surgisse.
A minha inquietao sobre o tema escolhido para a pesquisa baseia-se nas teorias daEsttica da Recepo e como o aluno poder sofrer o efeito esttico da obra, dentro do
ambiente escolar e fora dele, e, consequentemente, perceber detalhes importantes de textos
referentes aos contedos de suas sries e de sua vida cotidiana.
J desenvolvi vrias atividades relacionadas leitura e sua recepo em escolas
pblicas, exemplo j citado anteriormente, e os resultados no foram suficientes para uma
recepo desejada, mesmo sabendo quais as dificuldades encontradas nos meios em que se
desenvolvem esses trabalhos educacionais. Nesta pesquisa, so esperados resultados maisabrangentes, quando o referente o texto literrio de expresso amaznica, pois esse tipo de
texto desperta vrias discusses, dentro dos campos sociais, o que fora vrias maneiras de
interpretao pelos alunos que frequentam as escolas e vivem nesta regio desde os primeiros
anos de vida.
Segundo Hans Robert Jauss (apud Compangnom, 2001), "uma obra uma resposta a
perguntas colocadas por um horizonte de expectativas". A interpretao das obras deveria,
portanto, enfocar no as experincias de um indivduo, mas tambm a histria da recepo de
uma obra e sua relao com as normas estticas e com o conjunto de expectativas mutveis
que permitem que ela seja lida em diferentes pocas. Este mar de significaes firma a
importncia da pesquisa para um aprofundamento mais sensato sobre a recepo literria e a
leitura. Esta aperfeioa ainda mais os indivduos que buscam diversas maneiras de fazer
interpretaes, mostrando-se assim disponveis a modificaes que o texto sofrer e as
mudanas que o leitor tambm sofrer. Segundo Culler (1999):
4Um dos maiores escritores do contexto amaznico, sua obra aborda a vida cotidiana do homem amaznico e
fala de cidades, de gua, de mata e de animais desta regio.
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A literatura no apenas faz da identidade um tema; ela desempenha um papelsignificativo na construo da identidade dos leitores. O valor da literatura h muito
tempo foi vinculada s experincias vicrias dos leitores possibilitando-lhes como estar em situaes especficas e desse modo conseguir a disposio para agir e sentirde certas maneiras. As obras literrias encorajam a identificao com os
personagens, mostrando as coisas do seu ponto de vista (CULLER, 1999, p. 110).
As obras literrias, alm de encorajar a identificao do leitor com a personagem,
tambm o auxilia a ter sua prpria opinio. As novelas, os programas, os poemas e os
romances se dirigem a ns de maneira que exigem identificao e essa identificao funciona
para poder assumir, criar identidade. Tornamo-nos quem somos nos identificando com as
figuras sobre as quais lemos. Isso vai ao encontro das ideias de Iser (apud Compagnom 2001),para o leitor, a obra o que dado conscincia; pode-se argumentar que a obra no algo
objetivo que existe independentemente de qualquer experincia do leitor".
Neste caso, a crtica pode assumir a forma descritiva de um movimento progressivo
do leitor atravs de um texto, alm de analisar como os alunos produzem sentido fazendo
ligaes com seu cotidiano e preenchem coisas deixadas sem dizer, para depois antecipar
normas estabelecidas no texto e terem suas expectativas frustradas ou confirmadas. Neste
ponto, observa que o terico enuncia o conceito de leitor virtual ou imaginrio, que preencheas lacunas, dentro do texto, o que facilita a interpretao da mensagem contida na obra.
Vrios autores enfatizam em suas obras esta relao do texto literrio com os leitores
e no mostram resultados convincentes a respeito do assunto. Para Iser (apud Compagnom,
2001), "O leitor passa por diversos pontos de vista oferecidos pelo texto e relacionam suas
diferentes vises e esquemas, ele pe a obra em movimento e se pe ele prprio igualmente
em movimento. Isso implica afirmar que uma obra s se encontra em movimento
proveniente do ato da leitura. O mesmo acontece com quem l, pois a imaginao do leitor
buscar significaes para as palavras escritas e dar-lhe-o significados para seu mundo.
Assim, para Iser, todo ato de leitura movimenta tanto a obra quanto o leitor.
Para Igardem (apud Compagnom, 2001, p.149), O texto literrio caracterizado
por sua incompletude e a literatura se realiza na leitura (...) o objeto literrio autntico a
prpria interao do texto com o leitor." Esta abordagem, por parte do terico, tambm
integra o ato da leitura para o processo de ao imaginativa sem exagerar, visto que, a
literatura torna-se objeto identitrio a cada leitor que consegue fazer sua interao com esse
tipo de texto.
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A afirmao do leitor em nossa sociedade torna-se fundamental no espao escolar,
porque sua maneira de compreender e de praticar dilogos na interao com o texto e com o
mundo tem importncia relevante aos resultados interpretativos de textos literrios na escola e
em outras instituies educacionais do pas. Segundo Compagnom (2001, p.150) o texto
instrui e o leitor constri. Em todo o texto, os pontos de indeterminao so numerosos, como
falhas, lacunas, que so reduzidas, suprimidas pela leitura. Eis a, a carga de
responsabilidade apresentada aos leitores que, s vezes, no tem dimenso de sua importncia
para o crescimento educacional do Brasil e ainda contam com o descaso de quem os formam.
Por tudo que j foi explicitado, em relao ao texto literrio, leitura e aos leitores
so os direcionamentos desta pesquisa, e recaem nos moldes da esttica da recepo e dateoria do efeito esttico aplicados para os alunos do 8 srie de uma Escola Estadual,
localizada em um espao rural no Municpio de Concrdia do Par, Escola Joo Braga de
Cristo, na Vila do Cravo.
Neste estudo, tomarei como suporte epistemolgico, as teorias de Hans Robert Jauss,
de Wolfgang Iser, como tambm as contribuies de Compangnom, de Regina Zilberman, de
ngela Kleiman, de Culler entre outros. Esses fundamentos tericos embasaro os estudos
sobre recepo, efeito, leitor, distncia esttica e horizonte de expectativas. A via da pesquisainiciar pela compreenso do que entendo sobre o leitor e a esttica da recepo, conceito que
medeia no s a leitura do texto trabalhado na dissertao, como tambm, a interao
proposta entre texto/leitor.
As necessidades escolares de conhecer resultados referentes ao estudo da leitura e da
recepo literria, dentro e fora do espao escolar que nos impulsionam para a pesquisa
deste trabalho, pois trabalhos relacionados a esses temas sero de grande importncia para
conhecimentos de professores e alunos. Portanto, este trabalho ser traado com indicadores
que facilitam maior compreenso do texto literrio. Assim, o objetivo geral desta pesquisa
ser analisar a relao de recepo de alunos da 8 srie do ensino Fundamental, por meio da
leitura de textos regionais.
Quantos aos objetivos especficos podem destacar:
Descrevera relao receptiva dos alunos em relao atividade desenvolvida pela leitura
de texto literrio amaznico.
Identificar a linguagem dos leitores a partir da interpretao do texto "O peixe", do escritor
Benedicto Monteiro.
Interpretar o processo de recepo e do efeito esttico do leitor atravs do texto O peixe.
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A perspectiva deste trabalho busca, alm de outras razes, desenvolver o incentivo
leitura de textos literrios, pois sabemos que a leitura, no espao escolar, ganha amplitude e
estimula sua imaginao, at mais do que outro espao do qual disponibiliza o leitor e outros
tipos de texto. Certamente, formalizarei minha teia s ideias sobre leitura apresentada pela
teoria literria, juntamente com as teorias que enfocam mais especificamente o leitor e sua
maneira de apropriao e de criao de sentidos para o texto.
2. REFERENCIAL TERICO
2.1-O mundo da leitura
Upa! Upa!L vai Silvio galopandoUpa! Upa!(...)Upa! Upa!Silvio no caiUpa! Upa!Ele um bom cavaleiro.
O texto acima foi que me trouxe para o mundo da leitura. O autor... No me lembro.
A professora Maria Jos fez a mediao do texto; o espao era o grupo escolar Cnego IncioMagalhes, em So Francisco do Par. O ano era 1973 e a srie, a primeira. Os tempos
correram, mudaram e me encontro escrevendo e buscando formas de expressar a outros, uma
maneira em que textos interagem com o leitor, tornando-o um ser ativo com o trabalho nas
estruturas expressivas de textos, o que pode criar mecanismos de decifr-lo em cada ato de
leitura. certo que no consigo lembrar o verso do meio do poema, mas nada me impede de
faz-lo de minha maneira, utilizando-me da recepo, do efeito esttico e do leitor implcito,
que so os eixos centrais do meu estudo, para me tornar um coautor, pois, segundo Iser:
a recepo e o efeito esttico formam os princpios centrais da esttica da recepo,que, em face de suas diversas metas orientadoras, operam com mtodos histrico-sociolgicos (recepo) ou teortico-textuais (efeito). A esttica da recepoalcana, portanto, a sua mais plena dimenso quando essas duas metas diversas seinterligam (ISER, 1996, p.7).
A necessidade de trabalhar textos enunciada a cada ator social. Raul Seixas j
mencionava numa cano: cada um de ns um universo. As possibilidades interpretativas
dos textos so colocadas na sociedade, para que o sujeito alfabetizado tenha possibilidade derealizar interpretaes textuais, assim:
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A atividade de leitura se faz presente em todos os nveis educacionais dassociedades letradas. Tal presena sem dvida marcante e abrangente comea no
perodo de alfabetizao, quando a criana passa a compreender o significado
potencial de mensagens registradas atravs da escrita. Aps esta fase de iniciao, oaluno continua a se encontrar com livros textos (SILVA, 1996, p.31).
Por isso, no basta ficar admirando aquele ou outro autor, a capa do livro, da revista
ou do jornal, se bem que o livro de minha primeira lio se no me falha a memria era verde,
um verde claro com algumas figuras ocupando seu espao.
No ato da leitura, o leitor aciona o seu conhecimento prvio, observando o
conhecimento lingustico, o vocabulrio, fora a utilizao do imaginrio que consiste eminternalizar textos que caram em seu gosto. Assim, no s o texto pelo qual iniciei este texto
e minha vida acadmica, como outros textos esto intimamente ligados minha memria e no
que foi construdo, no decorrer de minha vivncia como leitor. Esses elementos so
considerados essenciais no ato de cada leitura.
Segundo Kleiman (2004):
As hipteses do leitor fazem com que certos aspectos do processamento, essenciais compreenso, se tornem possveis, tais como o reconhecimento global e instantneode palavras e frases relacionadas ao tpico bem como inferncias sobre as palavrasno percebidas durante o movimento do olho durante a leitura que no linear, oque permitiria ler tudo, letra por letra e palavra por palavra, mas sacdico, o quesignifica que o olho d pulos para depois se fixar numa palavra e da pularnovamente uma srie de palavras at fazer nova fixao (KLEIMAN, 2004, p.36).
As palavras de Kleiman mostram que o sentido do texto construdo por meio de
diversos nveis de conhecimento. Porm, a leitura mais contemplativa aquela em que o leitor
sente prazer e a identifica em desafio enfrentado cotidianamente, pois o texto literrio
considerado fator esttico e social. Sendo a obra literria concretizada no ato da leitura,quando analisada, a interpretao depender do conhecimento de mundo de cada um, porque
ela considerada uma atividade que produz significados, uma vez que os textos so abertos e
entremeados de no dito, requerendo do leitor um movimento cooperativo e consciente.
Assim, com meu conhecimento prvio, posso completar o texto que iniciei este captulo:
Upa! Upa!L vai Silvio galopandoUpa! Upa!
Com seu cavalo encantado.Upa! Upa!Silvio no caiUpa! Upa!
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Ele um bom cavaleiro.
Os textos literrios nos permitem interagir com realidades que esto sempre noscirculando, visto que a imaginao, assim como o tempo do ser humano, no param, mas suas
imagens interpretativas, muitas vezes, no transbordam ao ponto de se definir em situaes de
sentido. As formas literrias que aparecem, a todo instante, so proporcionadas a cada
receptor, pelo ato da leitura e seu poder receptivo dado pelo poder imaginativo de cada
leitor. Isso, ento, possibilitar tecer minha abordagem pelas teorias de Hans Robert Jauss e
de Wolfgang Iser.
2.2-A esttica da recepo: a participao de Hans Robert Jauss
Em 1967, na Universidade de Constana, Hans Robert Jauss- maior expoente da
Esttica da Recepo- inaugura o mtodo em que seu principal objetivo recai na valorizao
do leitor que, ativamente, desenvolve os sentidos dos textos. Jauss defende algumas
possibilidades de se fazerem mudanas na maneira de conceber a recepo desses tipos de
textos e tece crticas histria da Literatura nas teorias predominantes daquela poca, como a
teoria marxista, que, com uma viso sociolgica, procurava demonstrar a ligao entre
literatura e realidade social, considerando como literrias obras que refletiam situaes
relacionadas aos conflitos sociais de poder - a viso marxista vincula a obra literria a uma
esttica classista,
a relao entre literatura e leitor possui implicaes tanto estticas quanto histricas.A implicao esttica reside no fato de j recepo primria de uma obra pelo leitorencerrar uma avaliao de seu valor esttico, pela comparao com outras obras jlidas. A implicao histrica manifesta-se na possibilidade de, numa cadeia derecepes, a compreenso dos primeiros leitores ter continuidade e enriquecer-se degerao em gerao, decidindo, assim, o prprio significado histrico de uma obra e
tornando visvel sua qualidade esttica (JAUSS, 1994, p. 23).
O leitor, para Jauss, tende a trazer para a realidade fatos de textos ficcionais, bem
como transportar para a fico fatos de textos que se dizem histricos, dependendo do
entendimento real que ele carrega em seu repertrio, mediante leituras feitas em outras obras
em que ele adquire conhecimento para us-lo posteriormente, em outras obras, que ir
conhecer. Baseado no saber prvio, Jauss formula o conceito de horizonte, mudanas
conforme as expectativas do leitor. Este horizonte responsvel pela primeira reao do leitor
obra. Jauss faz uma apresentao terica a partir de sete teses que tentarei explicit-las.
A primeira tese de Jauss versa a respeito da historicidade literria, pois esta coincide
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com a atualizao da obra literria, fato primordial da histria da literatura pelo dinamismo
experimental que os leitores fazem, diante de uma obra literria, em determinado perodo,
pois, segundo o Jauss (1994, p.24), Uma renovao da histria da literatura demanda que se
ponham abaixo os preconceitos do objetivismo histrico e que se fundamentem as estticas
tradicionais da produo e da representao numa esttica da recepo e do efeito.
Portanto, para cada obra lida, no instante da leitura, as reflexes do leitor se fazem
atualizadas pelos fatores literrios que os relacionam com os acontecimentos vividos ou lidos
por ele, em situaes propcias para sua recepo.
Em sua segunda tese, Jauss cria a expresso "horizontes de expectativas" que
determina a recepo. O novo apresentado pelo texto literrio dialoga com a experincia doleitor. A obra cria expectativa, mexe em sua lembrana e o conduz a determinada postura
emocional, pois ela que examina a experincia literria do leitor. A obra predetermina a
recepo, oferecendo orientaes a seu receptor; cada sujeito pode reagir individualmente a
um texto, mas a recepo um fato social (este o horizonte que marca os limites, dentro dos
quais uma obra compreendida em seu tempo). Para Jauss:
Assim como em toda experincia real, tambm na experincia literria que d a
conhecer pela primeira vez uma obra at ento desconhecida h um saber prvio, eleprprio um momento dessa experincia, com base no qual o novo de que tomamosconhecimento faz-se experiencivel, ou seja, legvel, por assim dizer, num contextoexperiencial. Ademais, a obra que surge no se apresenta como novidade absolutanum espao vazio, mas, por intermdio de avisos, sinais visveis e invisveis, traosfamiliares ou indicaes implcitas, predispe seu pblico para receb-la de umamaneira bastante definida. (JAUSS,1994, p. 28)
Segundo o autor, o leitor real participa ativamente da obra conforme seu horizonte de
expectativa relacionado com o da obra atravs das experincias trazidas por ele no ato da
leitura, pois sem esta experincia ser difcil uma relao comunicativa entre o texto e o leitor.
A terceira tese condiz maneira como o texto pode satisfazer o horizonte de
expectativas do leitor ou provocar o estranhamento e o rompimento deste horizonte:
A maneira pela qual uma obra literria, no momento histrico de sua apreciao,atende, supera, decepciona ou contraria as expectativas de seu pblico inicialoferece-nos claramente um critrio para a determinao de seu valor esttico(JAUSS: 1994, p.31).
O terico acredita que o valor decorre da percepo esttica que a obra capaz de
suscitar. A distncia entre as expectativas do leitor e sua realizao denominada por Jauss de
distncia esttica e determina o carter artstico de uma obra literria (idem). Como o
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horizonte de expectativas varia no decorrer do tempo, uma obra que surpreendeu pela
novidade, pode tornar-se comum e sem grandes atrativos para leitores posteriores. Por isso, as
grandes obras sero aquelas que conseguirem provocar o leitor de todas as pocas, permitindo
novas leituras em cada momento histrico.
A quarta tese de Jauss prope algumas relaes atuais do texto com a poca de sua
publicao. Neste caso, utiliza-se da hermenutica para examinar melhor as relaes do texto
com a poca de seu aparecimento. O texto responder a necessidades do pblico com o qual
dialoga:
A reconstruo do horizonte de expectativa sob o qual uma obra foi criada erecebida no passado possibilita, por outro lado, que se apresentem as questes para
as quais o texto constitui uma resposta e que se descortine, assim, a maneira pelaqual o leitor de outrora ter encarado e compreendido a obra (JAUSS: 1994, p, 35).
Significa descobrir como o leitor da poca pode perceb-la e compreend-la,
recuperando o processo de comunicao que se instalou, no momento em que a obra foi
lanada. Seu programa de ao investiga a literatura em trs aspectos: diacrnico (recepo
das obras literrias ao longo do tempo), sincrnico (mostra o sistema de relaes da literatura
numa dada poca e a sucesso desses sistemas) e o relacionamento entre a literatura e a vida
prtica o que mostra a dinmica interpretativa do leitor no ato da leitura.O terico, na quinta tese, aborda o efeito diacrnico, pois no momento da leitura, o
texto deve dialogar com outras leituras j realizadas. Ele diz que uma obra no perde seu
poder de ao ao transpor o perodo em que apareceu. Ento aparece a necessidade de situar
uma obra na sucesso histrica, levando em considerao a experincia literria que
propiciou. a histria do efeito:
o novo torna-se categoria histrica quando se conduz a anlise diacrnica daliteratura at a questo acerca de quais so, efetivamente, os momentos histricosque fazem do novo em uma obra literria o novo; de em que medida esse novo j
perceptvel no momento histrico de seu aparecimento; de que distncia, caminhoou atalho a compreenso teve que percorrer para alcanar-lhe o contedo (JAUSS,1994, p. 45).
Em sua sexta tese, Jauss abre espao para o aspecto sincrnico. Para ele, esse aspecto
fator importante para a compreenso do leitor num momento especfico da historiografia
literria. As obras destacadas que provocam efeitos so aquelas em que foi feita anlise do
simultneo e das mudanas, comparando os cortes e descobrindo os pontos de interseco, a
fim de definir seu carter articulador e acionando o processo da evoluo literria, em seus
momentos formadores e nas rupturas. Assim comenta Jauss:
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Considerando-se que cada sistema sincrnico tem de conter tambm seu passado eseu futuro, na condio de elementos estruturais inseparveis, o corte sincrnico que
passa pela produo literria de determinado momento histrico implicanecessariamente outros cortes no antes e no depois da diacronia (JAUSS, 1994,p.48).
O autor determina a relao causada no leitor quando este se depara com a
perspectiva instrutiva trazida por um novo texto aos seus olhos relativizando sua maneira de
tecer comparaes a outros textos j vistos pelo leitor, deixando assim, fluir-se atravs da
novidade.
Na ltima tese, Jauss destaca a relao literatura e sociedade, pois, esta relao
literria pr-forma compreenso de mundo do leitor, repercutindo ento em seu
comportamento social e afirma que essa leitura literria abre novos caminhos para o leitor, no
mbito da experincia esttica, pois o leitor ser capaz de visualizar aspectos de sua prtica
cotidiana atravs da literatura e ser afetado pelo que se representa identificar-se com as
pessoas em ao, dar-se- assim livre curso imaginativo pelas emoes despertadas, como se
estivesse participando de uma cura (katharsis). Portanto, para Jauss:
A funo social somente se manifesta na plenitude de suas possibilidades quando aexperincia literria do leitor adentra horizonte de expectativa de sua vida prtica,
pr-formando seu entendimento de mundo, e, assim, retroagindo sobre seucomportamento social. (JAUSS, 1994, p. 50).
Ao proferir seu discurso em Constanz, Jauss mostrou-nos dois tipos de modelo em
vigor no processo de fazer histria da literatura, e nos fala da carncia presente nas obras a
partir de sua historicidade. Para que esse contexto fosse modificado, props a histria da arte
fundamentada em outros princpios e inclui a perspectiva de um coprodutor diante da
interao com um texto literrio, pois esta seria a primeira meta a ser alcanada pelo terico.Da a dimenso de recepo e do efeito da literatura sintetizarem os dois aspectos
imprescindveis histria: o carter esttico e o papel social da arte. Esses se concretizam no
relacionamento do leitor com o texto, alm de imporem a apresentao de um novo conceito
de leitor ideia marxista em que o leitor parte do mundo apresentado e do formalismo que
necessita dele como sujeito da percepo, um seguidor das indicaes do texto na busca de
fazer novas descobertas. E isso afirma Jauss:
Contudo, a obra literria pode tambme, na histria da literatura, tal possibilidadecaracteriza a nossa modernidade mais recente inverter a relao entre pergunta eresposta e, atravs da arte, confronta o leitor com uma realidade nova, opaca, aqual no mais se deixa compreender a partir de um horizonte de expectativa
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predeterminado (JAUSS, 1994, p. 56).
Mediante esses fatos, Jauss utiliza categorias como horizontes de expectativas e
emancipao para tecer sua concepo de leitor, pois, para Zilberman (1989, p. 114), o leitor
de Jauss consiste no foco a partir do qual cumpre examinar a literatura luz da esttica da
recepo, sendo resultado e pela emancipao a obra ao desafiar um cdigo vigente, vai
oferecer ao leitor novas dimenses existenciais(ZILBERMAN, 1989, p.113).
Alm desses conceitos aplicados por Jauss que muito ajudaro, nesta pesquisa, outro
fator que ser relevante e interessa verdadeiramente, o leitor, para que este trabalho ganhe
dimenses escolares e situe pessoas interessadas neste assunto que considero complexo, em
atividades estudantis, porm, importante, no espao escolar. o que abordaremos agora.
2.3. As contribuies de Iser para a Teoria do Efeito
As motivaes para estimular a leitura, em textos literrios, so feitas de diversas
maneiras. s vezes, ns no temos a dimenso do sentido que o leitor utiliza para fazer
interpretaes. Wolfgang Iser aposta no imaginrio, como a ltima posio prevista no ato da
recepo, para que o leitor seja capaz de configurar sentido a partir destes atos imaginativos:
As perspectivas do texto visam certamente a um ponto comum de referncias eassumem assim o carter de instruo; o ponto comum de referncias, no entanto,no dado enquanto tal e deve ser por isso imaginado. nesse ponto que o papel doleitor, delineado na estrutura do texto, ganha seu carter efetivo. Esse papel ativaatos da imaginao que de certa maneira despertam a diversidade referencial das
perspectivas da representao e a renem no horizonte de sentido (ISER, 1996, p.75).
Na concepo iseriana, o sentido (meaning) relaciona-se construo do
significado/experincia esttica, enquanto a significao (significane) tem relao com a
resposta ao significado/experincia construdo.
Para Iser:
Os estudos focados nos modos como os textos tm sido lidos e assimilados nosvrios contextos histricos, com o objetivo de reconstruir as condies histricasresponsveis pelas reaes provocadas pela literatura; os estudos voltados para asreaes e suscitadas nos leitores pelo efeito esttico, entendido como interao queocorre entre o texto e o leitor (1999, p. 20).
A teoria iseriana do efeito esttico, mesmo estando fundamentada no texto, considera
que, tanto os textos como o leitor tm um repertrio de conhecimento e de normas sociais,
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estticas e culturais que fazem sua interao no instante da leitura. Essa interao, segundo
Iser, prefigurada por um leitor implcito que agua a imaginao do leitor real e lhe permite
uma projeo interpretativa no ato da leitura.
importante afirmar que Wolfgang Iser, para chegar ao leitor implcito, verificou
vrias formas de se formar leitor, inclusive o leitor ideal, porm ele v a impossibilidade desse
leitor, pois este deveria ter o mesmo cdigo utilizado por quem escreve. Assim:
O leitor ideal representa uma impossibilidade estrutural da comunicao. Pois umleitor ideal deveria ter o mesmo cdigo que o autor. Mas como o autor transcodificanormalmente os cdigos dominantes nos seus textos, o leitor ideal deveria ter asmesmas intenes que se manifestam nesse processo. Se supormos que isso
possvel, ento a comunicao se revela como suprflua, pois ela comunica algo queresulta da falta de correspondncia entre os cdigos de emissor e receptor (ISER,1996, p. 65).
Na afirmao de Iser (1996), o leitor ideal deveria ser capaz de realizar, na leitura, o
potencial de sentido do texto ficcional o que seria improvvel, visto que, a histria da
recepo dos textos literrios mostra atualizaes sempre de maneiras diferentes obra. Alm
desta definio, o terico ainda cita outros autores e suas definies como o caso de
Riffaterre com seu arquileitor que serve a apreenso emprica do potencial de efeitos do texto;
Fish tem, no seu leitor "informado" efeitos do texto no leitor, e Wolf, com o leitor
"intencionado", o leitor que marca posies no texto e escolhe o personagem que o satisfaz.
Ainda, considerando as ideias de Iser, observa-se que:
As perspectivas do texto visam certamente a um ponto de referncia e assume assimo carter de instrues; o ponto comum de referncias, no entanto, no dadoenquanto tal e deve ser por isso imaginado. nesse ponto que o papel do leitordelineado na estrutura do texto, ganha seu carter efetivo. Esse papel ativa atos daimaginao que de certa maneira despertam a diversidade referencial das
perspectivas da representao e renem no horizonte de sentido (ISER, 1996, p. 65).
Parece que essa maneira de concepo iseriana de fundamental importncia no
desenvolvimento da leitura esttica, pois, aliada aos estmulos produzidos no imaginrio do
leitor, o incita a assumir um papel ativo na construo da fico. O cumprimento do papel do
leitor implcito se d a partir de atos de imaginao, os quais conferem carter transcendental
obra literria.
Por meio das prefiguraes do leitor implcito, o leitor real d coerncia ao universo
de representaes textuais. Ao construir um horizonte de sentido para a obra, o leitor noapenas organiza as vrias perspectivas do texto, mas tambm estabelece um ponto de vista a
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partir do qual compreende a sua situao no mundo. O leitor real acaba por encontrar nesse
modo transcendental, uma referncia que lhe permite orientar a sua experincia de mundo. O
sentido do texto assim, apenas imaginvel na experincia do leitor real, que busca
correspondncia entre seu ponto de vista. A recepo mais que um processo semntico. Ela
um processo de experimentao, de uma configurao do imaginrio projetado no texto. Em
outras palavras, o leitor o sujeito desejado na obra e pela obra. Segundo Iser:
O papel do leitor se realiza histrica e individualmente, de acordo com as vivnciase a compreenso previamente construda que os leitores introduzam na leitura. Issono aleatrio, mas resulta de que os papis oferecidos pelo texto se realizamsempre seletivamente. O papel do leitor representa um leque de realizaes que,
quando se concretiza, ganha uma atualizao determinada (ISER, 1996, p. 78).
Assim, as perspectivas de um texto visam certamente a um ponto comum de
referncias entre texto e leitor que vislumbram um carter instrutivo, um ponto comum de
referncias, pois isso se faz dado importante para o processo imaginativo. A relao obtida
entre o texto e o leitor sempre se faz num processo de leitura em suas informaes sobre os
efeitos provocados nele. Cria-se, portanto, uma relao desenvolvida constantemente pelo
processo de realizaes. Com isso, Iser cria seu leitor implcito que o espao que se d entre
texto e leitor. Por isso, o cumprimento do leitor implcito se d a partir de atos da imaginao,
os quais conferem carter transcendental obra literria, por meio das prefiguraes
elaboradas por esse leitor. O leitor real d coerncia ao universo de representaes textuais.
A atividade de leitura em textos ficcionais sempre ter continuidade no leitor real,
responsvel pela coerncia ao universo de representaes textuais, no ato da leitura. Iser
tambm esclarece sobre as funes do leitor implcito:
A concepo do leitor implcito designa ento uma estrutura do texto que antecipa apresena do receptor. O preenchimento desta forma vazia e estruturada no se deixaprejudicar quando os textos afirmam por meio de sua fico do leitor que no seinteressam por um receptor ou mesmo quando, atravs das estratgias empregadas,
buscam excluir seu pblico possvel. Desse modo, a concepo de leitor implcitoenfatiza as estruturas de efeitos do texto, cujos atos de apreenso relacionam oreceptor a ele (ISER, 1996, p. 73).
O leitor implcito no tem existncia real, mas antes uma estrutura do texto,
podendo ser regulada por uma espcie de jogo que propicia a interao entre o texto e o leitor.
Para Iser (1996, p.73) "uma estrutura que projeta a presena do receptor. Dessa forma, o
leitor implcito no mera abstrao, ele leva atravs do ato imaginativo do leitor real as
diferentes formas deste leitor interpret-lo. Por isso, esse tipo de leitor traz condicionada uma
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atividade constitutiva da estrutura do texto, que se torna real atravs de aes imaginativas
que so estimuladas pelo leitor implcito. A realizao do papel do leitor implcito acontece a
partir de atos imaginativos nos quais lhe so dados carter transcendental obra literria. o
que afirma o terico ao se referir fico do leitor no ato da leitura:
Nesse sentido, o esquema descrito do papel do leitor uma estrutura do texto. Mas,como estrutura textual, o papel do leitor representa, sobretudo, uma inteno queapenas se realiza atravs dos atos imaginativos estimulados no receptor. Assimentendidos, a estrutura do texto e o papel do leitor esto intimamente unidos (ISER,1996, p. 75).
O leitor, na tentativa de emitir respostas s perguntas sobre o acontecimento vivido
no instante da leitura, remete a uma significao para o sentido (significado). Por isso, no
seria possvel se chegar significao, resposta formulada a partir de problematizao da
experincia esttica, levando em considerao valores, normas, cdigo entre outros fatores,
sem a constituio da experincia esttica (ou significado). Liga-se interiormente ao efeito
literrio formulao da significao, fazendo ligaes de maneira expressiva esfera da
teoria da recepo. Assim, o sentido do texto refere-se ao efeito provocado pelo processo de
leitura no leitor, no acontecendo sem sua atividade.
O sentido construdo, no texto, pelo leitor, resulta propriamente de uma atividade
essencialmente social apesar de termos como produto final, a atualizao do objeto esttico na
conscincia do leitor e ficar em seu plano individual, representacional. Isso leva a crer que a
obra literria algo virtual na concepo iseriana, portanto no h identificao com a
realidade do texto e nem com as disposies caracterizadoras do leitor. O terico no trabalha
com a possibilidade de isolamento dos plos institudos por ele (plo artstico e plo esttico),
porque seno reduziria a obra tcnica de representao do texto ou psicologia do leitor.
Para Iser (1996), o texto construdo por meio das perspectivas do autor, mas s serealiza por meio do ato, que o efeito experimentado pelo leitor na produo de sentido.
Segundo ele, se o texto literrio produz um efeito, esse efeito libera um acontecimento, pois
traz uma perspectiva para o mundo presente que no estava contida nele. Esse processo
constitudo por dois fatores, a saber: a seleo e a combinao.
A seleo uma das responsveis pelo carter de acontecimento do texto literrio
porque possibilita uma transformao da referncia. Toda transformao da referncia um
acontecimento, porque agora os elementos da realidade de referncia so retirados de suasubordinao (ISER, 1996, p.11). Nesse sentido, em seu processo de construo, o texto
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literrio modifica a realidade, j que, ao retirar elementos da realidade de referncia, o autor
indiretamente a transforma, retirando-a das amarras do mundo emprico e concedendo-lhe
uma gama de interpretaes, pois, para Iser, repetir a realidade a partir de um ponto de vista
j exced-la (idem).
A combinao consiste na ligao dos elementos do texto selecionados pelo autor.
Vale ressaltar que, na combinao tambm se constri o carter de acontecimento do texto,
porque nela os sentidos dolxico so ultrapassados (ISER1996, p.12). Primeiramente, no
processo de construo do texto, o autor seleciona elementos da realidade e depois os
combina, procedimento esse que se estende ao receptor, o qual, no processo de leitura,
tambm seleciona e depois combina elementos. Iser conclui: Por isso o texto tem carter deacontecimento, pois na seleo a referncia da realidade se rompe e, na combinao, os
limites semnticos do lxico so ultrapassados (idem).
importante ter conscincia de que a leitura extrada de textos literrios e
relacionada sua historicidade faz com que cada leitor crie uma gota de significado, pois, na
medida em que sua comunicabilidade interfere no ato comunicativo, o leitor ter
possibilidades de criar interpretaes de maneiras diferentes. Veja o que afirma Vera Aguiar:
Imagine-se que a leitura seja um percurso que prepara o leitor, progressivamente, aser capaz de fruir a literatura para adultos. Da a complexidade crescente de textos,segundo a idade de seu destinatrio. Extenso, estrutura e temas abordadosrelativizam-se e dimensionam-se de acordo com a maturidade de seu leitor
potencial. (AGUIAR, 2010, p. 39)
Portanto, o leitor implcito de Iser justamente o que articula as estruturas objetivas
do texto e o leitor explcito poderia ser o indivduo histrico que acolhe positivamente ou com
negatividade uma criao artstica a qual ficaria ligado pela prpria recepo. O plano social
acessado na interao texto/leitor.
2.4A unio de duas teorias
Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser partem da idia de que o texto s existe a partir
da atuao do leitor. No entanto, enquanto, para aquele, o texto est ancorado no momento
histrico- a historicidade literria para este, o texto apresenta uma estrutura de apelo que
colabora para o efeito e para a reao do leitor frente obra.
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Enquanto Jauss (1994) trata a recepo num momento condicionado por via de um
destinatrio para caracterizar um efeito em um tempo proposto pelo texto, embora tanto a
recepo quanto o efeito ocorram na relao texto/leitor, existe um ponto diferencial nas
teorias: a recepo propiciada pelo sujeito, enquanto que o efeito realizado no sujeito, mas
delimitado, de maneira especial, pela relao texto/leitor e no por um nico plo da
interao, trazendo sempre, no ato da leitura, questes referentes tanto para o texto quanto
para o leitor. Assim, as posies de Jauss e Iser, no so, nem nunca foram totalmente
homlogas. Ao passo que Jauss est interessado na recepo da obra, na maneira como ela
ou deveria ser recebida; Iser encontra-se no efeito (wirkung) que causa, o que vale dizer, na
ponte que se estabelece entre um texto possuidor e suas propriedadeso texto literrio, comsua nfase nos vazios, dotados, pois, de um horizonte aberto e o leitor (LIMA, 2002, p.52).
Assim, ao observarmos questes referidas por Lima (2002), a recepo refere-se
assimilao documentada de textos, enquanto o efeito a prefigurao da recepo, causando
um potencial de efeito cujas estruturas pem a assimilao em ao e a controlam at certo
ponto. Reforando os pensamentos: a recepo de uma obra medida pelo destinatrio, e o
efeito desta obra estaria regulado pela interao texto/leitor.
O efeito esttico realiza-se atravs de mediao, o que leva o leitor a construirexpectativas atravs do preenchimento de vazios deixados pelo texto; a recepo tem um
contato mais direto, denunciada por um horizonte de expectativas jogado no ato da leitura,
atravs do tempo.
Portanto, o leitor concebido por Wolfgang Iser efetivar as indicaes do texto sendo
concreto e individualizado, pois em Jauss, ele se socializa no coletivo. O efeito esttico leva
em considerao uma disposio cognitiva do leitor. Cada leitor possui uma maneira de ver,
de sentir as estruturas textuais, o que torna a temtica em jogo com frmulas emocionais e
cognitivas que condicionam os preenchimentos dos vazios nos textos literrios. Assim, a
esttica da recepo alcana sua plenitude em seus dois princpios centrais: a recepo e o
efeito que abrangem, na recepo da obra, as disposies histricas e sociais do leitorcomo
requereu Jauss mesmo que considerem na anlise do efeito, as disposies cognitivas e
emocionais do leitor, respectivamente.
importante frisar as disposies, tanto a histrico-sociolgica (do leitor de Jauss)
que considera a historicidade um meio de recorrer s obras literrias em sua recepo, quanto
emocional-cognitiva (do leitor de Iser) que ativa sua participao e permite a existncia da
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obra o que faz o sentido literrio ser sempre virtual e estar sempre preso ao texto mexendo
com a vivncia do leitor real.
Estudos constantes do ato de leitura em outras cincias tentam dar conta da maneira
como se processa esta relao do texto com o leitor e vice-versa, no momento da interao
texto/leitor. necessrio frisar que o acontecimento vivido pelo leitor de Jauss possui
dimenso cognitiva e emocional, mesmo que seja centralizado a um leitor coletivo. O mesmo
acontece com o leitor de Iser que possui dimenso histrica e social, mesmo que este seja
centralizado em apenas um indivduo. A referncia entre os sistemas sociais permite esta
juno de aspectos, isto , certos caracteres de nvel coletivo nos indivduos que compem um
grupo social, da mesma forma que caracteres individuais esto diludos na coletividade.Segundo Jauss (1994), importante considerar as condies histricas e as
evidncias (que podem ser comprovadas) que moldam e influenciam na atitude do receptor do
texto em relao ao contexto social. Nesse sentido, dentro da teoria da recepo, Jauss tende
para uma linha de estudo que privilegia a reconstruo histrica como cenrio para recepo
do leitor. Por outro lado, Iser procura aprofundar as relaes interacionais entre texto e leitor,
teorizando a recepo (resposta) do leitor a partir dos pontos de indeterminao presentes nos
textos e acionados pelo ato da leitura. Cabe ressaltar que a teoria recepcional no anula aimportncia da criao literria, ou seja, o papel do autor, pois este est subentendido. Centra-
se, apenas, no resultado final, o texto. As escolhas, as estratgias de construo textual e o uso
que o autor faz da linguagem revelam-se no prprio texto, bem como os aspectos culturais,
polticos, ideolgicos, discursos e intertextos, peas fundamentais para dinamicidade e
estmulo ao leitor para o trabalho interpretativo.
2.5A figura do leitor
O leitor nem sempre teve um papel privilegiado no processo da anlise e da crtica
literria, foi s no sculo XX, que surgiram as teorias cujo principal objeto de interesse a
resposta do pblico s obras literrias. So duas as principais tendncias tericas orientadas
para o leitor: as teorias de resposta americanas e a esttica da recepo alem. Contudo,
tambm a crtica fenomenolgica, a desconstruo, a crtica psicanaltica, a semitica
estruturalista, e at a New Criticism americana contriburam de alguma forma para avanar
mais um pouco na conquista da autoridade do leitor enquanto sujeito ativo, no processo
interativo da leitura na concretizao da literatura.
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O papel do leitor e os pontos de indeterminao do texto so fundamentais para que
ocorra a interpretao. Por isso, preciso que a interao entre a trade autor-obra-leitor seja
efetivada no ato da leitura. Porm, o leitor real (ou emprico), ao se deparar com um texto,
tem reaes variveis e dinmicas, podendo tanto realizar uma leitura que vai ao encontro do
leitor implcito ou recusar-se a entrar no jogo, fechar o livro e desistir da leitura e isso
ocorrer a qualquer momento com iniciativas apresentadas pelo leitor no momento do ato da
leitura.
Qualquer interao social no pode prever nem descrever, em sua plenitude, a
experincia recebida por seus leitores. Assim, em textos literrios, tambm impossvel saber
como cada leitor produzir sentidos a partir do texto, pois o ser humano (leitor) sempre trarnovidades em cada ato imaginativo, na leitura. No ter nunca repetio desses atos, pois,
mesmo que os textos se repitam, o poder imaginativo do leitor continua transformando a obra.
Por isso, sempre haver inmeras possibilidades de interpretao de um texto, devido s
inmeras maneiras e capacidades que tem o leitor de produzir e de relacionar novos elementos
de forma significativa, pois, segundo Costa Lima diante do texto ficcional, o leitor
forosamente convidado a se comportar como um estrangeiro, que a todo instante se pergunta
se a formao de sentido que est fazendo adequada leitura que est cumprindo(1979, p.24).
O ponto comum entre os leitores, enquanto seres humanos em exerccio a prpria
existncia, a realidade da vida e do mundo que os cerca. Este ponto apreendido de maneiras
diferentes e no poderia ser representado de outra forma na estrutura literria - oral ou escrita
- se no pela prpria linguagem (signos convencionais e arbitrrios). Em todo momento, a
leitura exige a interpretao por parte do leitor a fim de suprir ou de preencher os espaos
vazios contidos, no texto. Tal atividade interpretativa s possvel graas capacidade
imaginativa do leitor combinada aos demais fatores intrnsecos ao texto. Segundo Iser
(1996:73), o preenchimento dos vazios se realiza mediante a projeo do leitor. Essas
projees, porm, no devem ser independentes do texto ou movidas apenas pelo imaginrio
ou pelas expectativas do leitor. Os elementos presentes, no texto, como um itinerrio a ser
seguido, podero romper com as expectativas do leitor, fazendo-o (re) construir, substituir ou
anular suas representaes projetivas habituais.
Os vazios fazem parte da estrutura do texto, assim como as suas negaes como
afirma Iser, e servem para orientar ou comandar a ao projetiva do leitor. Deste modo, a
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proposta valer-se das teorias iserianas e identificar alguns aspectos relacionados teoria da
recepo.
O no reconhecimento textual imediato inferido pelo leitor a primeira passagem
para entrar no jogo da literatura, ou seja, o estranhamento (conceito formulado a priori pelos
formalistas russos) ou desfamiliarizao causado pelo gnero literrio (indefinido)
apresentado. Para determinadas comunidades interpretativas, o texto pode no causar tanto
estranhamento se levadas em conta s propostas (ps) modernistas do sculo XX, quanto s
manifestaes artsticas.
Foi a partir dos discursos na Universidade de Constncia que Jauss elaborou seu
questionamento sobre o processo de se fazer histria da literatura. Neste processo o autordemonstrou ser possvel ao leitor encontrar na literatura aspectos de sua prpria existncia.
Essa conscincia imanente feita pela leitura da obra literria indica a possibilidade de um
texto contar com um coprodutor. Por esse motivo a interao texto literrio/leitor me
proporciona a dimenso da recepo e do efeito que esto contextualizados na vida
sociocultural de cada leitor.
Para enfatizar, ainda mais, nossa reflexo sobre a importncia de uma interao do
texto e o leitor, Zilberman tenta mostrar-nos que existe uma distino abrangente entre o leitorimplcito e o leitor histrico. Ela explica que:
O leitor implcito [ uma] noo importada de W. Iser, discernido a partir dasestruturas objetivas do texto, e o leitor explcito, [um] indivduo histrico que acolhe
positiva ou negativamente uma criao artstica, sendo, pois, responsvel pelarecepo propriamente dita dessa (ZILBERMAN, 1989, p.114).
Enquanto em Iser, tm-se as estruturas textuais responsveis por fazerem emergir o
leitor implcito. Esse leitor s existe na proporo em que o texto promove sua existncia.
Assim, o leitor processa suas experincias por meio das transferncias imanentes das
estruturas oferecidas pelo texto. Dessa forma, o papel do leitor realizado histrica e
individualmente.
O leitor introduz, em sua leitura, suas vivncias e sua compreenso, porm essa
concretizao somente se realizar mediante as estruturas de efeito contidas no texto. Para
Iser (1996, p.79), A compreenso de leitor implcito descreve, portanto, um processo de
transferncia pelo qual as estruturas do texto se traduzem nas experincias do leitor atravs
dos atos de imaginao. O leitor implcito umaconstruo presente no texto e percebida
pelo leitor real, por meio das instrues do prprio texto.
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Iser (1996) no descarta a possibilidade da permanncia do processo histrico
presente no momento da concretizao de um texto pelo leitor. Pelo contrrio, admite que um
texto possa evocar uma srie de interpretaes, mas intersubjetivas, porque, certamente, o
prprio texto direciona esse procedimento por meio das estruturas nele veiculadas.
Algumas estruturas textuais so responsveis por fazerem emergir o leitor implcito.
Esse leitor, na realidade, somente existe na proporo em que o texto promove sua existncia.
Nesse sentido, o leitor processa suas experincias por meio das transferncias imanentes das
estruturas oferecidas pelo texto, atravs do leitor implcito.
Dessa forma, o papel do leitor se realiza histrica e individualmente, de acordo com
as vivncias e a compreenso previamente constituda que os leitores introduzem na leitura.Por isso, Iser pde afirmar que o texto literrio j antecipa os resultados do efeito sobre o
leitor, mas este que os atualiza de acordo com seus prprios princpios de seleo. Afirma,
ainda, que a qualidade esttica de um texto literrio est na estrutura de realizao desse
texto, em sua organizao, para que provoque, no leitor, as selees e os resultados que
estabelecem as experincias reais da leitura. Iser (1996) completa: Assim entendidos, a
estrutura do texto e o papel do leitor esto intimamente unidos.
Iser (1996) no descarta a possibilidade de imanncia do processo histrico presenteno momento da concretizao de um texto pelo leitor. Pelo contrrio, admite que um texto
possa evocar uma srie de interpretaes, mas intersubjetivas, porque, de certa forma, o
prprio texto direciona esse procedimento por meio das estruturas nele veiculadas.
2.6 - A interao texto literrio/leitor
Segundo Iser (1996:51), aobra literria tem dois plos, (...) o artstico e o esttico: o
plo artstico o texto do autor e o plo esttico a realizao efetuada pelo leitor. Na
concepo iseriana, o primeiro plo torna a obra literria em um processo virtual que no
estabelece conexo nem com a realidade do texto nem com as caractersticas dispostas do
leitor. J o segundo, diz respeito concretizao realizada pelo leitor e que ns no podemos
de maneira alguma, separar os plos, pois reduziramos tecnicamente a representao do texto
ou as representaes psicolgicas do leitor. Para justificar esta diviso, o autor afirma:
claro que a prpria obra no pode ser idntica ao texto nem a sua concretizao,mas deve situar-se em algum lugar entre os dois. Ela deve inevitavelmente ser decarter virtual, pois no pode reduzir-se nem realidade do texto nem
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subjetividade do leitor, e dessa virtualidade que ela deriva seu dinamismo. Como oleitor passa por diversos pontos de vista oferecidos pelo texto e relaciona suasdiferentes vises a esquemas (ISER, 1985, p. 48).
Pelo que afirma o terico, a interao est centrada em todos os pontos da trade
autor/texto/leitor e haveria impossibilidade de interao se alguma parte ficasse de fora do ato
de leitura, pois no teria comunicao eficiente para dispor as partes, porm Iser disponibiliza
a inteno do leitor para fazer da obra um ponto rotativo atravs de sua leitura, porque ele
diverge ou converge das ideias expressas pelo texto, alm de coloc-las disposio de outros
leitores com quem encontrar pontos em comum relacionados obra.
Nota-se, nesta afirmao de Iser, que a construo dos sentidos se d por um efeito
experimentado pelo leitor e no apenas por uma definio preestabelecida pelo autor da obra.
Reforando essa interao, Compagnon afirma que:
A literatura tem uma existncia dupla e heterognea que se concretiza somente pelaleitura. O Objeto literrio autntico a prpria interao do texto como o leitor, umesquema virtual em que o texto instrui e o leitor constri (COMPAGNON, 2001, p.150).
A interao, em seu sentido prprio, alguma coisa que no existiria em si, pois,
para haver interao, sempre ser preciso dois componentes, estabelecendo inferncia, sejam
a partir do primeiro ou do segundo elemento. No caso do texto e do leitor, a disposio de
ambos deve equivaler-se, e, portanto, estarem ligadas ao processo que entenderemos como
efeito esttico. Iser cria uma alternativa terica para ajudar o processo de interao entre texto
literrio/leitor pelo plo do texto, pois, Iser utiliza sua definio de leitor implcito como um
leitor que:
No tem existncia real; pois ele materializa o conjunto das preorientaes que um
texto ficcional oferece, como condies de recepo, a seus leitores possveis. Emconsequncia, o leitor implcito no se funda em um substrato emprico, mas sim naestrutura do texto (...). A concepo de leitor implcito designa ento uma estruturado texto que antecipa a presena do receptor (ISER, 1996, p.73).
Para Iser, o leitor implcito uma construo presente no texto e percebida pelo leitor
real por meio das instrues do prprio texto. Esta dinmica se estabelece como um jogo. O
terico ainda observa como fator importante o repertrio trazido pelo leitor. Trata-se este de
um conjunto de normas sociais, histricas, culturais trazidas pelo leitor como bagagem
necessria sua leitura. Para que a leitura se efetive, de acordo com este pensador,
necessria uma interseo entre o repertrio do leitor real e o repertrio do leitor implcito.
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A recepo mais que um processo semntico. Ela um processo de
experimentao, de uma configurao do imaginrio projetado no texto. Em outras palavras: o
leitor o sujeito desejado na obra e pela obra. Por essa razo, a interao entre o texto e o
leitor um processo desejado na leitura e que nem sempre comportar resultados desejveis.
O leitor implcito se constitui numa estrutura textual que mostra como conduzir a
leitura. Esse leitor s existe quando o texto determinar sua existncia e as experincias
processadas no momento da leitura. Esses processos so estruturas imanentes ao texto. A
partir dessa ideia, o leitor passa a ser percebido como uma estrutura textual que se refere ao
leitor implcito e o ato estruturado que ser realizado pelo leitor real.
Para Iser (1996, p.75) o ponto comum de referncias, no entanto, no dadoenquanto tal e deve ser por isso imaginado. nesse ponto que o papel do leitor, delineado na
estrutura do texto, ganha seu carter efetivo".
importante a compreenso dessa relao texto/leitor na concepo iseriana,
fazendo sempre do texto um sistema perspectivo em que os elementos textuais so
selecionados atravs de estratgias e combinados por meio do repertrio. O texto tem a
dimenso de oferta de diferentes vises do objeto, isto , por meio de vrios pontos de vista
apresentados, esta ocorrncia se d porque cada perspectiva, no apenas permite umadeterminada viso do objeto intencionado, como tambm possibilita a viso das outras
perspectivas do texto. Essa viso resulta do fato de que as perspectivas referidas no texto, no
so separadas entre si, muito menos se atualizam paralelamente.
Durante a leitura, a perspectiva do leitor pode se diferenciar da perspectiva da obra, o
que ocasiona uma fuso dos horizontes tanto do texto como do leitor e ainda, leva o leitor a
refletir sobre suas ideias de vida e sua viso de mundo. O leitor tem essa possibilidade de
fazer a identificao de um elemento que, em um determinado momento, era percebido de
uma maneira e, depois, torna-se perceptvel de outra maneira, diferente de seu primeiro
significado, muitas vezes distanciando o leitor de sua condio real e isso faz com que esse
leitor reflita sobre essa mudana, o que se torna uma variao das perspectivas do texto e do
leitor.
O problema de interpretao tem sido um dos focos abordados por Iser (1996)
atravs da sua esttica do efeito. Para o terico, o texto ficcional, e at mesmo o no
ficcional, no so figuras plenas, mas discursos marcados por indeterminaes chamados
vazios que pedem uma intensificao da atividade imaginativa do leitor. O sentido, tal
como para Eco (2001), surge da interao do texto com o leitor. Na concepo de Iser (1996,
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p.53), no faz sentido se perguntarmos o que um texto quer dizer ou o que um autor quer
dizer, mas o que sucede com o leitor quando sua leitura d vida aos textos ficcionais.
A temtica iseriana, neste sentido, sobre o efeito na relao texto-leitor no valida
qualquer interpretao, como poderamos pensar. Um leitor que apenas projeta sobre os textos
seus interesses e seus devaneios sem observar as instncias de controle, no alcanar
sentidos implcitos trazidos a ele.
Meu trabalho aparecer nesta perspectiva, ativando uma conectabilidade com texto e
com leitores, pois essas instncias de controle, tambm chamadas de estruturas centrais de
indeterminao, so os vazios que acionam a interao texto-leitor para possibilitar a entrada
de uma estrutura complementar do leitor, visualizando a narrativa, sua maneira, epreenchendo o espao vazio do texto com a experincia repassada a ele pelo leitor implcito,
enquanto estrutura textual, o que possibilita assim o processo de comunicao. Os vazios
possibilitam as relaes entre as perspectivas de representao do texto e incitam o leitor a
coordenar estas perspectivas.
Os vrios tipos de leitura invocam elementos conhecidos ou determinados para
suprimi-los. As estruturas centrais de indeterminao, no texto, so os vazios e suas negaes.
Eles so as condies para a comunicao, pois acionam a interao entre texto e leitor e, atcerto nvel, a regulam. A presena de vazios se faz em todo tipo de texto, mas, nos ficcionais,
eles entram como elementos estruturais de suma importncia, pois levado por atos
imaginativos, o leitor real busca, tambm, os vazios acionados pelo leitor implcito no
momento da criao textual.
Em textos ficcionais, a explorao dos vazios adquire as seguintes formas: so
reduzidos para que se sobressaia a mensagem. Nesse caso, a inteno do texto geralmente
didtica ou doutrinria. Iser cita como exemplo o romance de tese e obras escritas com fins
polticos. So ardilosamente manipulados para fins comerciais, como ocorre de acordo com a
ideia iseriana, no romance seriado ou nas telenovelas, que no so tematizados e, s vezes, at
absolutizados, exigindo do leitor uma intensa atividade projetiva e assegurando um alto
padro de excelncia artstica.
importante enfocar que cada leitor traz, em sua memria, maneiras provenientes de
uma perspectiva quando faz uma projeo do seu ponto de vista, acerca do que poder
acontecer. Esse processo da leitura se torna cada vez mais dinmico e a expectativa do leitor
poder ser confirmada ou no. Esse fato ir depender das ocorrncias de informaes
propostas, no texto, ou pelo narrador ou por outro personagem que identifique o leitor que
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prontamente estabelece cises no texto, mediante alguma lgica constante de memria e de
projeo. Porm, esses mecanismos de percepo, para serem desenvolvidos, so necessrios
que o leitor leia com disponibilidade o que as perspectivas textuais informam e no, o que ele
bem quer. As modificaes pelas quais deve passar o leitor real assumem a funo que a obra
lhe reserva para compor, com o texto, o ponto de vista eficaz ativamente ligado por um leitor
implcito.
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3. METODOLOGIA
Captar formas de leitura em textos literrios, presentes em nosso cotidiano, no nos
faz maiores nem menores que o outro leitor. Cada um se expressa de acordo com a forma que
condiz a sua capacidade imaginativa. Porm, o prazer de ler no est centrado em todos de
uma mesma maneira. Mesmo assim, no pode haver discriminao a quem, por algum
motivo, opta por ler textos a seu gosto e no se dedica ao texto literrio que a tematizao
deste trabalho. Observo ao meu redor, a cada instante, nos nibus, nas passarelas, em sales
de festa, nas igrejas, indivduos centrados naquilo que querem e almejam e no no que eu
quero. Por isso, importante sempre ficar vontade e deixar o outro tambm vontade.A base desta formao, no caso literria, nos possibilita esteticamente, visualizar e
nos incorporarmos no sentido da sociedade, nas maneiras em que as interpretaes de mundo
so assim deslocadas por ns. No h possibilidade de conhecimento total. Quem, em sua
formao, aprendeu tudo? Conhecemos sujeitos capazes de entender todo tipo de textos
literrios? Mesmo um crtico do Romantismo, por exemplo, dominar pelo menos a metade
dos textos desta poca? Imagine os textos que versam sobre esta escola, uma pessoa poderia
ser dona absoluta da verdade sobre a escola romntica? Sabemos sim, que ela pode teracumulado conhecimentos diversos, mas nem por esse motivo as pessoas que esto ao seu
lado, so obrigadas a saber as mesmas coisas e vice-versa. Segundo Freire:
Cada um de ns um ser no mundo, com o mundo e com os outros. Viver ouencarnar esta constatao evidente, enquanto educador ou educadora, significareconhecer nos outros no importa se alfabetizando ou participantes de cursosuniversitrios; se alunos de escola do primeiro grau ou se de membros de umaassemblia popular o direito de dizer a sua palavra. Direito deles de falar a quecorresponde o nosso dever de escut-los. De escut-los corretamente, com aconvico de quem cumpre um dever e no com a malcia de quem faz um favor
para receber muito mais em troca. (FREIRE, 1992, p. 26).
Este trabalho tem um carter analtico, j que se debruar sobre a estrutura de
saberes adquiridos durante toda vivncia de leitores, confrontando-a com a prpria produo
dos mesmos. Seguindo os pressupostos da Esttica da Recepo, de Hans Robert Jauss e da
teoria do efeito de Wolfgang Iser, esta anlise se volta para o conhecimento da estrutura de
apelo em que foram edificados textos de expresso amaznica, atravs do exame de maneiras
construtivas e de colocao das perspectivas de aluses presentes no texto, por meio da
apreciao dos procedimentos do narrador. Dessa forma, ser possvel analisar o efeito
esttico que o texto proporcionar no leitor, a freqncia em que os vazios sero preenchidos
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e onde ocorrem as lacunas na estratgia narrativa, nas aes das personagens ou no papel
atribudo ao leitor.
3.1 Corpus
Atravs da leitura do texto O peixe, desenvolverei atravs dos horizontes de
expectativas do texto e dos leitores da pesquisa uma anlise textual centrada no efeito e na
recepo literria. Conhecimentos pertinentes aos estudos literrios e culturais relativos aos
contedos desenvolvidos nesta pesquisa sero desenvolvidos de uma maneira descontrada e
sem pressa, pois dissertar sobre leitura nunca foi tarefa fcil porque as circunstncias queenvolvem este tipo de trabalho sempre se tornam difceis pelo contato com diversos leitores.
Irei considerar como parte essencial desse processo a interao texto/leitor.
Primeiramente, cito aqui, a importncia do texto de Benedicto Monteiro O peixe como um
conto capaz de despertar interesse na maioria dos leitores uma vez que se trata de uma leitura
que envolve objetos que esto ao alcance dos entrevistados e que ser capaz de sensibiliz-los
pela propriedade com que o autor retrata a regio amaznica, narrando fatos que, com certeza,
fazem parte da vida dos alunos da pesquisa.Depois considerarei a importncia dos leitores como coparticipantes na produo de
sentido do referido conto, na medida em que eles levam para a narrativa suas expectativas,
suas experincias com marcas anteriores de leituras j realizadas, e por fim, fatos vividos por
eles o que facilitar aos leitores seguir pistas deixadas pelo texto, pois os mesmos elaboraro
suas hipteses, refutando ou reafirmando suas ideias para, a partir da, constituir sentido para
o texto.
No decorrer do trabalho sero apresentadas narrativas literrias de expresso
amaznica e de textos tericos, atravs dos quais as anlises posteriores sero fundamentadas.
Dentre estas, a anlise da recepo de uma obra e do efeito causado por ela ao leitor como
plo constituinte, como tambm a de