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REALISMOAntonio Castelnou
INTRODUÇÃO
❖ Por volta de 1850, Inglaterra e França eram as nações mais
ricas e prósperas da Europa, devido ao seu desenvolvimento
industrial, quando passaram a predominar o LIBERALISMO
econômico e o REVIVALISMO historicista em todas as artes.
❖ A ARQUITETURA ECLÉTICA criou uma linguagem estética
marcada pela liberdade e pelo primado da fantasia, porém
sem originalidade, promovendo a mistura de fontes de
inspiração, inclusive na decoração interna (Estilo Vitoriano).
❖ Iniciadas em Londres (1851), as EXPOSIÇÕES UNIVERSAIS tornaram-se gigantescas vitrines tanto dos progressos da época
quanto do gosto eclético burguês.
❖Ao mesmo tempo, os artistas realistas empenharam-se em criar imagens da VIDA
COTIDIANA, especialmente cenas da pobreza e do trabalho.
Palácio de Cristal (1851-d.1936, Londres)
Joseph Paxton (1803-65)
Franz Xaver Winterhalter
(1805-73)
Retrato (c.1850)
da Rainha
Vitória (1819-1901)Reinado: 1836-1901
Cônjuge (desde 1840):
Albert de Saxe-Coburg
(1819-61)
ARTE REALISTA
❖ Surgida por volta de 1850, a tendência realista foi fruto do
aumento das críticas tanto à idealização neoclássica
quanto à liberdade de interpretação dos românticos.
❖ Na grande maioria franceses, os realistas afirmavam que
todos os artistas deveriam representar o mundo como ele
é, mesmo que isto exigisse um ROMPIMENTO BRUSCO
com as convenções artísticas e sociais em voga.
❖ Pretendendo ser um registro fiel da realidade, o REALISMO
voltou-se para temas mais populares e atuais, buscando libertar a arte das convenções
sociais e explorar a forma como a sociedade molda as
vidas das pessoas.
Eugène Delacroix
(1798-1863)Le massacre de Chios (1824)
354x429cm
❖ Em uma época de grandes
disparidades entre as classes sociais,
a ARTE REALISTA foi vista como
provocação. E, embora oriunda do
Romantismo, recusava-o pela ênfase
colocada nos sentimentos individuais.
❖ Movidos pelo desafio anti-burguês,
seus artistas basearam suas obras
na objetividade e na veracidade.
Gustave Courbet (1819-77)
Les tamis à grains (1854) – 131x167cm
Les glaneuses (1857) – 85,5x111cm
Jean-François Millet (1814-75)
❖ Rompendo com o que era considerado de “bom gosto”, o REALISMO perdurou até o final do século XIX, rejeitando
inclusive técnicas associadas às Belas-Artes, o que resultou em obras mais “duras”, tanto no aspecto quanto no tema.
Francisco de Goya
(1746-1828)
Tres de Mayo de 1808:
Execução dos defensores
de Madrid (1814)
Óleo sobre tela - 266x345cm
Museo del Prado
Autorretrato (1815)
❖ São os elementos característicos da PINTURA REALISTA:
✓Cientificismo ou Naturalismo:Caráter descritivo e fiel àquilo que é observado e baseado em fatos reais;
✓Nacionalismo: Preferência por temas nacionais e preocupações sociais e políticas de seu tempo e seu lugar; e
✓Materialismo: Crença de que a moral, o intelectual e o emocional do indivíduo são condicionados pelo seu ambiente.
Il Bacio (1859) - 88x112cm
Francesco Hayez (1791-1882)
❖ O maior pintor realista foi o francês
Gustave Courbet (1819-77), que,
após a rejeição de suas obras e
influenciado por ideais
revolucionários, lançou o manifesto e
a exposição Le Réalisme (1855),
convocando todos artistas para uma
crítica social transformadora e
tornando-se um contestador das
elites, pintando, segundo ele próprio,
“cenas e pessoas autênticas”.
Les baigneuses (1853) - 193x227cm
L'atelier du peintre (1855) – 359x598cm “Uma alegoria verdadeira de sete anos
Gustave Courbet (1819-77) de minha vida artística e moral”
Le Désespéré
(1844/45)
45x55cm
Gustave Courbet
(1819-77)
Le Sommeil
(1866)
1,35x2,00m
L'origine du monde
(1866)
46x55cm
La Reencontre
ou Bonjour
Monsieur
Courbet
(1854)
129x149cm
Femme nue
avec chien
(1868) - 65x81cm
❖Entre grandes expoentes
do REALISMO francês,
cita-se: Camille Corot
(1796-1875), Honoré
Daumier (1808-79),
Théodore Rousseau
(1812-67) e Jean-
François Millet (1814-75),
além da animalista Rosa
Bonheur (1822-99).
Camille Corot
(1796-1875)
L'atelier de
l'artiste
(1865/70)
46x56cm
Le pont de
Mantes (1868-70)
46x60cm
Le carrosse de troisième classe
(1864) - 65x90cm
Honoré Daumier (1808-79)
Jean-François
Millet (1814-75)
Angelus (1857/59)
56,5x66cm
Chênes
Apremont
(1855) - 64x100cm
Théodore Rousseau
(1812-67)
Rosa Bonheur
(1822-99)
Le Sombrage
(1849)
133x260cm
❖ A ESCULTURA REALISTA trabalhou de forma naturalista, afastando-se do neoclássico e
adotando novos processos industriais que permitiam a maior reprodução.
❖ Na França, destacaram-se os escultores ANIMALIERS – como
Antoine-Louis Barye (1795-1875) e Emmanuel Frémiet (1824-1910) –, que realizaram obras de animais.
Emmanuel Frémiet (1824-1910)Jeanne d’Arc (1874)
4,00m
Emmanuel Frémiet
(1824-1910)
Antoine-Louis
Barye
(1795-1875)
Pan com filhotes de ursos (1867) – 182cm
Dois cães
sentados
(1899)
Leão e serpente
(1831) - 178cm
Tigre e crocodilo
(1831) - 100cm Theseus
matando o
Minotauro
(1840)
Gorila
Carregando
uma mulher
(1887)
44cm
Emmanuel
Frémiet
(1824-1910)Renommées
des Sciences
et des Arts
Renommée
du Commerce
Pierre Granet
(1842-1910)
Renommée de l’Industrie
Léopold Steiner (1853-99)Margem esquerda (Les Invalides)
Pégases de
les pylones
du Pont Czar
ALEXANDRE III
(1896/1900)
Margem direita (Champs-Élysées)
40x160m (h=17m)
❖ Depois de 1870, ocorreram concursos
para monumentos colossais destinados
a promover a Terceira República
Francesa, depois das duas tentativas
anteriores: 1792/1804 e 1848/52.
❖Foi a partir de quando se destacou a
obra excepcional de Auguste Rodin
(1840-1917), de polêmico realismo,
assim como de sua aprendiz e amante
Camille Claudel (1864-1943).
Retrato de
Auguste Rodin aos
40 anos (1880)
Retrato de
Camille Claudel
aos 20 anos (1884)
Auguste Rodin
(1840-1917)
Les portes d l’enfer (1880-1917)
635x400x85cm (Musée Rodin)
Danaïde (1885)
Le Baiser
(1888/89)
181,5cm
Le Penseur
(1904)
1,86m
Le trois
ombres
(1884)
Camille Claudel
(1864-1943)
La Valse
(c.1895)
43cm
Le chemin de la vie ou La Destinée ou L'âge mûr (1899)
Vertumnus et Pomona
ou L’Abandon (1905) - 92cm
Rodin (1892)
40cm
ARTE ROMÂNTICO-REALISTA NAS AMÉRICAS
❖ Tanto o ROMANTISMO quanto o REALISMO aportaram
no continente americano em meados do século XIX,
mesclando-se e produzindo versões adaptadas às
diferentes paisagens, sentimentos e contextos nacionais.
❖ Nos EUA, essas correntes coincidiram com a época da
sua expansão territorial e afirmação da sua identidade, o
que conduziu a um processo de valorização nacional.
❖ Liderado por escritores como Ralph Waldo Emerson (1803-82) e Henry
David Thoreau (1817-62), o TRANSCENDENTALISMO foi um
movimento filosófico e poético norte-americano das primeiras décadas do século XIX que afetou todas as artes.
❖Voltando-se à NATUREZA e à vida no campo, seus expoentes valorizavam a
intuição, a emoção e o espírito.
Ralph W.
Emerson
(1803-82)
Henry D.
Thoreau
(1817-62)
❖ Celebrando as belezas intocadas
de sua terra natal, os norte-
americanos – especialmente os
membros da River Hudson School
fundada por Thomas Cole (1801-
48) – retrataram emocionalmente
paisagens, criando verdadeiros
“sermões visuais” sobre as glórias
naturais da América.
View from Mount Holyoke,
Northamptom MA, after a Thunderstorm
ou The Oxbow (1835) - 131x193cm
Falls of the Kaaterskill
(1826) - 92x109cm
❖ Além de Cole, seus maiores expoentes
foram Thomas Doughty (1793-1856),
Asher Brown Durand (1796-1886) e
John Frederick Kensett (1816-72).
A Cordilheira Shandaken (c.1854)
Asher B. Durand (1796-1886) Denning’s Point,
Hudson River (1839)
Thomas Doughty (1793-1856)
J. F. Kensett (1816-72)
Lago George (1860)56x87cm
❖Embora alemão, Emanuel Gottlieb Leutze (1816-68) foi criado na Filadélfia
PA. Entre 1841 e 1859, viveu na cidade de Düsseldorf (Alemanha) e
transformou-a em um centro irradiador de arte. Ao retornar aos EUA,
naturalizou-se e se tornou o maior pintor americano do romantismo patriótico.
Washington Crossing
the Delaware (1851)
Óleo sobre tela - 379x648cm
Metropolitan Museum of Art
(New York, EUA)
❖A geração que se seguiu à da Hudson River School foi ainda mais longe com a
paisagem devido aos pintores de intrepid limners (“limites intrépidos”):
Frederic Edwin Church (1826-1900) e Albert Bierstadt (1830-1902).
Frederic E. Church (1826-1900)
Niagara Falls (1859) - 169x303cm
Rocky Mountains (1863)
Albert Bierstadt (1830-1902)
❖ Uma terceira geração mostrou-se
mais realista, sendo seus maiores
nomes Winslow Homer (1836-1910)
e Thomas Eakins (1844-1914).
The Biglin Brothers racing (1872) - 61,2x91,6cm
Thomas Eakins (1844-1914)
Winslow Homer (1836-1910)
The fog warning (1890) - 76x122cm
A fair wind ou Breezing up (1876)
❖ No Brasil, somente após o período
da Regência (1831/40) e a
maioridade de D. Pedro II (1825-91)
que o ROMANTISMO chegou ao
país, vindo carregado de lusofobia.
❖Buscando inspiração em seu
próprio passado histórico e natureza
exótica, a arte brasileira incluiu ação
e emoção aos ideais nacionalistas.
Victor Meirelles
(1832-1903)D. Pedro II (1864)
❖ De bases literárias, a arte
romântica brasileira buscou o
sentimentalismo, com temas que
exploravam o drama amoroso; e o
ufanismo, construindo um perfil
glorioso e genuinamente brasileiro.
❖Por meio do movimento do
INDIANISMO, retratou o indígena
como símbolo patriótico e herói
nacional (Mito do Bom Selvagem). Iracema (1881/84) - 168x265cm
José Maria de Medeiros (1849-1925)
Pedro Américo
(1843-1905)Casamento da
P. Isabel (1864)
❖ Com a Abolição (1888)
e a República (1889),
as tendências realistas
acentuaram-se – assim como
as correntes impressionistas
–, mas não conseguiram
suplantar a ARTE
ROMÂNTICA que se fez
presente até as primeiras
décadas do século XX.Tiradentes esquartejado (1893)
Pedro Américo (1843-1905)
Almeida Júnior
(1850-1899)Saudade (1889)
❖ Um dos precursores da arte romântica no Brasil foi o pintor e
arquiteto gaúcho Manuel Araújo de Porto Alegre (1806-79),
o Barão de Santo Ângelo, que também foi poeta, jornalista,
diplomata e político atuante no Rio de Janeiro RJ.
Uma gruta (1863) - 114,7x168,2cm
Estudo para sagração de D. Pedro II (c.1841)
80x100cm
❖ Entre os expoentes do
ROMANTISMO cita-se os
pintores brasileiros Victor
Meirelles (1832-1903),
Pedro Américo (1843-
1905), Almeida Júnior
(1850-1899) e Rodolfo
Amoedo (1857-1941).
Primeira Missa do Brasil (1861)
Victor Meirelles (1832-1903)
Moema (1866)
Independência ou morte! ou O Grito do Ipiranga (1888) – 415x760cm
Pedro Américo (1843-1905)
Dom Pedro II (1872)
205x288cm
Descanso da Modelo
(1882) - 98x131cm
Almeida Júnior (1850-1899)
Rodolfo Amoedo (1857-1941)Moça com livro
(c.1850) 50x61cm
O último tamoio (1883) - 180x262cm
Marabá
(1882)120x171cm
❖ Também por influência literária, o
REALISMO atingiu a arte brasileira
entre 1870 e 1890, passando a
abordar temas étnicos e políticos
de forma objetiva e jornalística.
❖Um dos precursores foi o pintor
italiano radicado no Brasil Giovanni
B. Castagneto (1851-1900).Porto do Rio de Janeiro (1884)
Giovanni B. Castagneto (1851-1900)
Cândido
Almeida Reis
(1838-89)Alegoria do Rio
Paraíba do Sul
(1866)
❖ Outros expoentes da
ARTE REALISTA brasileira
foram os pintores Benedito
Calixto (1853-1927), Pedro
Alexandrino (1856-1942),
Belmiro de Almeida (1858-
1935) e Henrique
Bernardelli (1858-1936).
Pe. Anchieta escrevendo na praia (1900) - 170x288cm
Bendito Calixto (1853-1927)
Pedro Alexandrino
(1856-1942)Cozinha na roça
(1894)
Belmiro de Almeida (1858-1935)
Marechal Deodoro (c.1892)
Henrique Bernardelli
(1858-1936)
Arrufos (1887) - 89x116cm
A tagarela
(1893)
❖Aqui, a escultura romântico-realista teve como base
Marc Ferrez (1788-1850), membro da Missão Francesa; e seu
aprendiz Chaves Pinheiro (1822-84), atingindo o auge com
Rodolfo Bernardelli (1852-1931), irmão de Henrique.
Chaves Pinheiro
(1822-84)Alegoria do
Império brasileiro
(1871) – 1,92m
Busto de
D. Pedro I (1826)
Marc Ferrez
(1788-1850)
Rodolfo Bernardelli
(1852-1931)Moema
(1894)
Iracema e Peri
(1899)
CONCLUSÃO
❖ Tanto os românticos quanto os
realistas – que predominaram na
primeira e segunda metade do
século XIX – marcaram o período
em que a arte pela arte – resultado
da situação de excepcionalidade
em que os artistas se colocavam –
adquiriu uma força considerável.
Almeida Júnior
(1850-1899)Caipira picando
fumo (1893)
❖ Por volta do último quartel
daquele século, novas
CORRENTES ARTÍSTICAS
iriam despontar na Europa, as
quais, embora ainda calcadas
no interesse historicista, vão
criar as bases para a futura
revolução modernista.Femme lisant dans un paysage (1870)
Camille Corot (1796-1875) - 37,5x54,3cm
Auguste Rodin (1840-1917)Étude pour Le Secret
(1910) - 12,5cm
BIBLIOGRAFIA
❑JANSON, H. W.; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
❑LITTLE, S. Ismos: entender a arte. Lisboa: Lisma, 2006.
❑PINTURA NO BRASIL, A. São Paulo: Abril Cultural, 1985.
❑PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 1998.
❑STRICKLAND, C. Arte comentada: da Pré-História ao Pós-Moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.