raul cruz cena
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Raul Cruzcena
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MANIFESTO
(Hablo por mi diferencia)
No soy Pasolini pidiendo explicaciones
No soy Ginsberg expulsado de Cuba
No soy un marica disfrazado de poeta
No necesito disfraz
Aquí está mi cara
Hablo por mi diferencia
Defiendo lo que soy
(...)
Pedro Lemebel – trecho inicial do texto lido como intervenção num ato político, em setembro de 1986 na cidade de Santiago do Chile
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(...)
Pescadores de pérolas
Em mares azuis-ciano
Águas profundas
Lavando a ilha dos mortos
Em baías de corais
Ânforas
Espalham Ouro
Sobre o fundo do mar imóvel
Deitamos ali
Abanados pelas velas
Dos navios esquecidos
Arremessados pelos ventos pesarosos
Do fundo
Garotos perdidos
Dormem para sempre
Em um abraço profundo
Lábios salgados se tocando
Em jardins submarinos
Dedos de mármore frio
Tocam um sorriso antigo
Sons de conchas
Sussurro
À deriva do amor profundo na maré permanente
O cheiro dele
Lindo de morrer
Em plena beleza de verão
Seu blue jeans
Ao redor de seus tornozelos
Augúrios para meus olhos espectrais
Beije-me
Nos lábios
Nos olhos
Nossos nomes serão esquecidos
Com o tempo
Ninguém se lembrará do nosso trabalho
Nossa vida passará como os traços de uma nuvem
E se dissipará como
O nevoeiro atravessado pelos
Raios do sol
Pois nosso tempo é a passagem de uma sombra
E a nossa vida correrá como
Faíscas através do capim seco.
Eu coloco um delphinium, Azul, sobre seu túmulo.
Texto narrado no trecho final do filme “Blue”, dirigido por Derek Jarman, em 1993
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5 A P R E S E N T A Ç Ã O
6 C E N A R A U L C R U Z P a u l o R e i s
8 V I A J A N T E D E N T R O D A N O I T E I v o M e s q u i t a
14 R A U L C R U Z : A A U S Ê N C I A R E V E L A D A G e r a l d o L e ã o
16 O Q U A D R O E l i a n e P r o l i k
19 A S S A Z R A U L E l i a n e P r o l i k G e r a l d o L e ã o P a u l o R e i s
24 L I T O N O V E L A " A R O S A " R a u l C r u z
27 N Ã O C H O V E U H é l i o L e i t e s
28 T R Ê S T E X T O S D E R A U L C R U Z
30 E X P O S I Ç Ã O C E N A R A U L C R U Z
41 C R É D I T O S P U B L I C A Ç Ã O
42 C R É D I T O S E X P O S I Ç Ã O
S U M Á R I O
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O Serviço Social da Indústria do Paraná - Sesi/PR compreende que a arte e a cultura são essenciais para a transformação social, de
forma que contribuem para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador da indústria, seus familiares e comunidade em geral. Com
base nessa premissa, a Gerência de Cultura do Sesi/PR desenvolve projetos e ações que buscam difundir as artes em todas as suas formas,
oferecendo uma programação cultural diversificada e acessível a todos.
Dentre suas ações culturais, em 2014, foi apresentada a exposição Cena Raul Cruz no Centro Cultural Sistema Fiep, que abordou com
sensibilidade a produção artística de Raul Cruz, artista curitibano com grande atuação nos anos 80, que atuou em várias linhas artísticas
como as artes plásticas, o teatro e a escrita. Essa exposição, que foi pesquisada, desenhada e construída pela equipe de curadores, contou
com o apoio de outras instituições culturais da cidade de Curitiba, como a Fundação Cultural de Curitiba, o Museu de Arte Contemporânea
do Paraná, o Museu da Gravura da cidade de Curitiba, a Galeria Casa da Imagem e o Instituto de Línguas Inter Americano, além de instituições
particulares, que, gentilmente, cederam seus acervos para compor essa mostra.
Durante três meses, as pinturas do Raul Cruz, trechos de suas peças teatrais, textos críticos sobre seu trabalho, músicas e performances
preencheram o Centro Cultural com arte, cores, sons e vídeos. Sua arte foi sentida e estimulada de diversas formas, inclusive a partir de
conversas com seus pares, que viveram de perto Raul Cruz e sua obra. Como resultado desta rica experiência, a exposição Cena Raul Cruz se
materializa novamente através deste catálogo. O Sesi Cultura, enquanto realizador de projetos como este, reafirma seu compromisso com
a valorização e divulgação do trabalho dos artistas e da arte paranaense e brasileira e deseja a todos uma ótima leitura.
A P R E S E N T A Ç Ã O
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C e n a R a u l C r u z
A exposição Cena Raul Cruz, mostrada no Centro Cultural Sistema FIEP, no período de 24/08/14 a 19/10/14, propôs uma abordagem extensiva da produção do artista ao reunir seus registros documentais de peças teatrais e performances, trabalhos em pintura, desenho, gravura e também textos. Raul Cruz nasceu em Curitiba, em 15 de fevereiro de 1957, e faleceu em 27 de abril de 1993, em decorrência da aids. Teve atuação intensa na cidade de Curitiba em mais de dez exposições individuais, participou do evento “Moto contínuo”, na concepção das performances ‘Tatuatua ou Bandeira 69’ e ‘Ikebana – a estética do aborto’, das peças de teatro experimental ‘Cartas a Pierre Rivière’, ‘Grato Maria Bueno’, ‘A Ponte’, ‘A outra’, ‘Foz’, entre outras. O objetivo mais amplo desta exposição foi de apresentar a pluralidade de suas investigações poéticas, construir aproximações entre suas experiências em distintas linguagens, e buscar renovados olhares sobre suas pesquisas. O espaço expositivo de Cena Raul Cruz apresentou-se entremeado por uma série de textos críticos abordando momentos específicos de sua obra que evidenciavam e, espera-se, continuem suscitando novos debates e um permanente recolocar de sua obra no espaço da reflexão das artes visuais. A crítica de arte Adalice Araújo, no ano de 1985, fez uma instigante análise do jovem artista e seu lugar nas artes visuais no contexto dos anos 1980:
As telas que irá expor na Galeria Banestado, carregadas de lirismo e mistério, abrem-
nos as páginas de seu diário íntimo, contando-nos as aventuras que acabou de viver
ou sonhar. Com certo humor sardônico esse herdeiro tropicalista de Munch propõe-
nos, nas suas novelas pintadas, verdadeiros melodramas embebidos de tango e rock,
onde explora deliberadamente o kitsch. As cores fortemente contrastantes: verdes,
magentas e amarelos elétricos expressam um ‘zeitgeist’ deliberante que desnuda os
conflitos íntimos da dualidade do ser, da formação religiosa obsessiva da infância; do
onirismo e autoafirmação 1.
Desde o início de suas pesquisas como gravador, em 1982, Raul tem se dedicado a diferentes técnicas na busca daquela que melhor viesse a traduzir as necessidades de sua linguagem plástica. Artista polivalente, a característica figurativa de sua produção nos revela o ser humano como tema central de sua obra. A mulher e o homem no mundo do artista. Um mundo que ele nos oferece, a princípio no desenho, na gravura e na pintura, e cujas exigências estéticas acabarão por levá-lo às artes cênicas, agregando palavra e movimento ao seu universo expressionista cada vez mais exigente.
Renato Negrão,1992.
Paulo Reis
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Foto: acervo da família
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Textos do crítico Ivo Mesquita, Geraldo Leão, Eliane Prolik, Paulo Reis, Hélio Leites, Mariza Bertoli, David Mafra, Denise Bandeira, Graci Mello, André Malinski, Izabella Zanchi e de seu companheiro Renato Negrão, entre outros, compõem um importante panorama crítico de diversificadas leituras sobre a obra de Raul. Na exposição, havia também outros textos que indiretamente colocavam-se como comentários pertinentes à produção do artista, a partir de outros contextos e épocas. Entre eles, trechos do ‘Manifiesto (hablo por mi diferencia)’, de Pedro Lemebel e de ‘Into the Blue’ de Derek Jarman. O primeiro texto buscava um diálogo com o artista chileno Lemebel, apontando o engendramento de uma noção política de sujeito e corporalidade. A tal discussão sobre o corpo na arte dos anos 1980 foi amplamente apontada na exposição e catálogo ‘Perder la forma humana – una imagem sísmica de los años ochenta en América latina’ 1 . Já o texto do cineasta experimental Jarman, narrado no filme ‘Blue’, apontava uma reflexão sobre a produção artística realizada em meio à crise da aids de final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Ao ecoar a afirmação do artista David Wojnarowicz – sou prisioneiro de uma linguagem que não tem uma letra ou signo ou gesto que se aproxime do que estou sentindo 2 – buscou-se discutir pesquisas artísticas da época e seu enfrentamento de certo limiar da linguagem visual. E por último, ensaiaram-se aproximações e diálogos artísticos entre algumas obras dos artistas Leonilson, Hudinilson Jr. e Schwanke e as questões postas na obra de Raul relativas a um sujeito expressivo e crítico. O projeto da exposição assumiu, assim, a vontade de propor aproximações e diálogos entre a poética de Raul e outras produções artísticas, e a de destacar seu lugar relevante entre questões artísticas fundamentais na arte contemporânea. O legado do artista Raul Cruz coloca-se nesta exposição, entre tantas e possíveis abordagens, na trama de algumas questões poéticas mais específicas. Primeiramente apontou-se um elemento narrativo muito presente em suas pesquisas artísticas como, entre outros, na ficção noir da Litonovela ‘A Rosa’ (1984), apresentada em dez litografias e construída ficcionalmente no triângulo amoroso entre dois homens e uma mulher. Ficou também muito evidente o impacto no artista da leitura do livro/dossiê ‘Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão’, de Michel Foucault. Sintomaticamente em três momentos pode-se verificar tal impacto – sua direção e criação teatral da peça ‘Cartas a Pierre Rivière’ (1987), a pintura ‘Retrato de Pierre Rivière’ (1987) e em um ensaio fotográfico do artista como o personagem Pierre Rivière, fotografado por Silvio Aurichio. Para Raul o caso criminal analisado por Foucault parecia incorporar uma crítica às convenções, aos dispositivos reguladores da justiça e da medicina, a certa norma social conservadora. Deixou isto claro no texto de apresentação da peça, escrito na forma de uma carta endereçada a Pierre Rivière – porque como você, ao percebermos que o mundo gira no sentido contrário, indiferente à nossa dor, tomamos atitudes extremas, recriamos abismos 3. Essa intensidade do artista perpassou muitas de suas pinturas, sua série de
desenhos em nanquim sobre assassinatos (1986), no álbum Raul Cruz/Linóleogravuras (1992), no embate entre a espacialidade do papel e a linha negra contundente de seus últimos desenhos em bico de pena e, entre outros trabalhos, na peça ‘A Ponte’ 4 (1989) em que três homens encenavam no pequeno espaço do palco um jogo complexo de relações homoafetivas. Exposições de arte devem sempre repensar as narrativas da história cultural da arte do período tratado para além daquelas já tornadas hegemônicas. Realizar o levantamento para a exposição implicou posicionar-se frente à produção das artes visuais nas décadas de 1980 e início de 1990 no Brasil e seu contexto histórico marcado pelo fim do AI-5, redemocratização, hiperinflação, crise da aids, movimento das Diretas Já, queda do muro de Berlim, politização da discussão ecológica, desastre de Chernobyl, crescimento de organizações civis de defesa de direitos das mulheres, índios, homossexuais, afro-brasileiros, entre tantas outras discussões. E nas artes visuais observou-se um momento caracterizado, por um lado, pelos conceitos de pós-modernidade, pela transformação e problematização do circuito de artes visuais na chamada ‘volta da pintura’, no fortalecimento da figura do curador e sucesso comercial de certa produção dita jovem. Por outro lado, e ainda muito pouco exploradas na historiografia atual, cumpre trazer as evidências de uma densa cena artística caracterizada por projetos artísticos coletivos voltados para a retomada do espaço público pós-ditadura, releituras do legado artístico e conceitual dos anos 1960 e 1970, exploração das possibilidades do vídeo e propostas poéticas ligadas à performance. Esse catálogo reúne a documentação fotográfica da exposição, focando algumas obras escolhidas e registros de performances e peças teatrais, e também o registro de algumas ações performáticas que ocorreram durante a mostra, textos críticos sobre a obra de Raul Cruz e alguns textos do artista produzidos no contexto de sua produção teatral. Uma exposição é sempre um empreendimento coletivo formado por muitas vozes e é na pluralidade discursiva de textos e imagens deste catálogo que situamos também seu importante legado artístico.
1 Essa exposição aconteceu no Museo Reina Sofia, Madri, de 25/10/2012 a 11/03/2013.
2 David Wojnarowicz, Post-cards from America: X-Rays from Hell em Catálogo ‘Witnesses – against our vanishing’, Artists Space, Nova York, 1989.
3 Programa da peça teatral ‘Cartas a Pierre Rivière’, 1987.
4 A peça ‘A Ponte’ teve direção de Raul Cruz, coreografia de Rocio Infante, cenário de Eliane Prolik e, como atores, Beto Perna, Paulo Daher e Renato Negrão.
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Ivo Mesquita março, 1994.
O VIAJANTE DENTRO DA NOITE
One must take something visible in order to show the invisibie.
walter dahn, pintor, 1986
É possível um artista compor de forma convincente um território para a pintura
contemporânea incorporando figuração, paisagem e espacialidade? Podem esses
elementos ser usados para evocarem dramas psicológicos? As pinturas e desenhos de
Raul Cruz não levantam apenas estas questões, mas as respondem de maneira diferente
de outros artistas de sua geração, num período determinado, quando muitos deles
se defrontavam com os mesmos problemas. Contrastando com esses artistas, Cruz
concentra-se nas possibilidades da figuração. Personagens quase geometrizadas, formas
e torsos abstratos, alongados em quase triângulos ou losangos em uma paisagem ou
interior, onde a complexidade, muitas vezes como um espírito contraditório, é tanto
determinada pela variedade de cores, gestos e atmosfera, como pela relação entre os
elementos construtores do plano, representados com os elementos lineares e gráficos.
A inquietude de Cruz, o deslocamento das figuras pela aceleração do espaço
com ruptura da espacialidade e do plano, o caráter instável de suas imagens indicam
o refinamento de sua pintura e a remitologização de uma visão eloquente da vida e
da morte. Ele criou um léxico de imagens que evocam mundos visíveis e humanos. A
representação expressiva e figurativa é tomada como cânone estético e antropológico
de interpretação do mundo e de inscrição numa tradição enraizada na arte: ele é um
poeta recontando histórias de pesadelos, que nós já ouvimos inúmeras vezes, mas que
Almas, 1989acrílica sobre tela, 60 x 70 cm
acervo Nelson Galvão
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parecem diferentes em suas novas versões porque tocam novos nervos com vontade
primal e desejo.
Produzida no quadro de uma arte das cidades - manifestação da cultura urbana
como a de um grande grupo de artistas aparecidos no ocidente dos anos 80 - suas
cenas reportam à singularidade das névoas das madrugadas curitibanas, povoadas
de vampiros e fantasmas. Os quadros seduzem pelo encanto sensual da superfície
pictórica, que retém insinuações de vivências fugazes ou percebidas à flor da pele na
atmosfera adensada e, por vezes, tensa dos centros urbanos com todas as suas feridas.
Cenas noturnas, torturas sentimentais, corpos desejantes, sexo insatisfeito, esperma e
sangue. Cada uma dessas cenas, anônimas, mas ainda assim estranhamente específicas,
apresenta indivíduos, qualquer indivíduo, carregados de compaixão mas numa apoteose
de anonimato. São testemunhas de quê? O que acontece entre eles? Estas são algumas
das perguntas que o espectador se faz sem chegar a nenhuma conclusão. Não importa
o seu significado. Importa a provocação que elas causam ao afirmarem, de um lado,
a pintura como experiência capaz de expressar o imediato e o sensível, de dar forma,
melhor que nenhum outro meio de expressão, a visões, mitos, sonhos e sofrimentos, e,
de outro, ao afirmarem a sexualidade como força subjetiva de autoestima (enquanto
a energia do gesto confere uma vitalidade natural às figuras, elas sugerem sua própria
emancipação e autonomia, o que inclui sua orientação sexual).
Cruz revela uma tocante coragem nessa crença, sobretudo por trazer à luz o que se
considera da esfera do privado, transformando a alegoria psicomoral, tradicional centro
da vida, em um espetáculo narrativo. Toda sua obra tem uma história interior, o viajante
noturno que se põe a caminho, deixando para trás todas as limitações para encarcerar-
se na incerteza dos jogos do desejo. Trazem de volta para a terra perdida do patriarcado
detalhe da obra O princípio da ciência, 1990
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qualidades associadas com o feminino na tradição romântica - imaginação, intuição,
expressividade, alma - que confere à sua arte uma urgência emocional. É um retrato
de família disfarçado. Elementos arquetípicos, alusões religiosas, clichês sobre a vida e
a inteligência invadem a paisagem e os interiores sublinhados pelos rosas, vermelhos,
azuis, cinzas e negros e adquirem um significado que se sobrepõe à sua própria realidade.
A melancolia invernal que invade a cena evoca toda espécie de nostalgia numa ilusão
de beleza. Emergem para oferecer uma visão profundamente conflitiva de uma Curitiba
que fala melancolicamente, embora, às vezes, com uma voz destrutiva. Suas referências
pessoais, sua quase melodramática sinceridade em sua visão apocalíptica têm pouco em
comum com um certo lirismo embaçado dos artistas institucionalizados do Paraná.
Para fazer as coisas ainda mais difíceis, os trabalhos de Cruz criam paradoxos:
medo e desespero acoplam-se ao riso cataclísmico e ao grotesco, confrontando o
onanismo dos neo-estilos com a tentativa de introduzir algo de imediato na relação entre
arte e experiência. Estes trabalhos abandonam a cultura visual marcada pela herança
formal modernista e apontam para todas as questões que parte da arte contemporânea
reprime para evitar olhar para a realidade. Expressa pela linguagem pictórica do presente,
sua obra é, ao mesmo tempo, indutora da angústia que a engendra e de liberação. O
resultado é um eloquente e construído testemunho de uma obra em diferentes meios,
que celebra algo além do imediato histórico, pois ela batalha para escapar da obviedade
da vida urbana.
A cama do artista, 1985acrílica sobre tela, 90 x 130 cm
acervo da família
A partner, 1989acrílica sobre tela, 70 x 90 cm
acervo da família
Retrato de Leonor Botteri, 1990acrílica sobre tela, 48,7 x 58,4 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba
O princípio da ciência, 1990acrílica sobre tela, 80 x 80 cm
acervo Fundação Cultural de Curitiba
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RAUL CRUZ: A AUSÊNCIA REVELADA
Penso que sempre vi o trabalho do Raul como um paradoxo, por mostrar, ou melhor,
descrever um drama que não era acompanhado por uma fatura dramática, onde os meios
usados não guardavam as marcas de uma mão (um corpo) envolta em drama, que deixasse
na matéria do quadro pistas do seu dilaceramento. O drama era descrito – mas por uma mão
sábia – com distanciamento.
Olho para as novas pinturas do Raul, enxutas, pequenas, com grossas molduras, e
chama a atenção o fato que todos os quadros, ou quase, são construídos ao contrário da
pintura tradicional que se faz por acréscimo de matéria sobre a tela. O Raul constrói suas
figuras construindo na realidade o que está à sua volta, para que, por contraste, a “figura”
se apresente pela sua própria falta.
Vejo então que o trabalho do Raul mostra o que não aponta, operação deceptiva
que desmonta meu olhar, obrigando-me a repensar o meu ponto de vista, meu lugar no
mundo. Contornadas por planos de cor ou definidas pela tinta retirada por um estilete, as
suas essências nos olham, separadas do mundo por grossas molduras que contêm o que não
é do mundo. Contêm o que se não estivesse contido transbordaria para uma existência fora
da arte.
Molduras que separam o que é arte do que é mundo, não como emoldurar uma
pintura para enfeitá-la ou para realçar o que seria uma visão ideal do próprio mundo, mas que
(como parênteses) abrem na concretude do real uma brecha, ponto onde o real se mantém
em suspenso, vazio, eterna possibilidade.
Geraldo LeãoCuritiba, 1988/92
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Sem título,acrílica sobre tela, 60 x 50 cm
acervo da família
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O QUADRO
Ellane Prolik
O quadro é uma pintura emoldurada. Superfície de um espaço interno e subjetivo.
O ato de pintar como concreção precária é consciência, instinto, desejo, sentimento e
razão. A tela pintada como um caso passional do artista e do espectador é uma cena
imposta e desaparecida. A vida e a pintura são um drama do espírito. O tempo é suspenso
no quadro. A veiculação do olhar se dá simultaneamente na forma e na cor. A superfície
que impõe presenças em um relato visual de personagens e planos. O imaginário retém
em si uma temporalidade circular e profunda: a origem é uma pulsão anterior. A moldura
interessa à pintura. A obra de Raul não é expansão para fora da tela, e não é decoração.
A moldura significa sobrepor, contrapor e transpor num senso pós-moderno. O espaço
de representação incorpora a trama expressionista. Os objetos particularizados em
confronto e imersão. O fundo monocromático é vazio ou com formas e áreas que se
presenciam mutuamente, em contraste. A cor e a carga afetiva, Bokun, Pierre Rivière,
Maria Bueno e Salomé. Retratos e criaturas, invadidos e invasores. Homens cujo espírito
treme e cintila, lá onde as paredes do mundo parecem infinitamente quebráveis.*
* Antonin ArtaudRetrato de Pierre Rivièreacrílica sobre tela, 60 x 50 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba
Performa, 1983acrílica sobre papel, 70 x 100 cm
acervo Fundação Cultural de Curitiba
Aquário, 1985 acrílica sobre tela, 70 x 110 cm
acervo da família
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ASSAZ RAUL
Raul Cruz, que produziu um corpo de obras singular durante os anos 1980 e início
de 90, sempre se mostrou avesso à teorização e racionalização sobre seu trabalho e
sobre a arte em geral. No entanto, achamos indispensável nos deter, mais uma vez,
em sua obra, a fim de buscar uma mirada mais focalizada para sua produção gráfica.
A exposição RAUL CRUZ – DESENHOS1 propõe um olhar mais concentrado
sobre seu desenho, linguagem à qual o artista se dedicou durante toda sua trajetória
artística e que perpassou também suas pesquisas na pintura e gravura. Nascido
em 1957 e falecido prematuramente em 1993, em decorrência da aids, Raul estava
inserido no contexto da produção de jovens artistas no início dos anos 80, em Curitiba,
e teve participação efetiva em importantes movimentações artísticas como o grupo
Convergência (80/81) e Bicicleta (82). Em 83, participou do evento Moto Contínuo, que
marcou uma importante baliza para a arte brasileira. Junto a outras manifestações
nacionais, como o grupo “A Moreninha” (RJ) e “3NÓS3” (SP), Moto Contínuo abriu
outra perspectiva para a produção artística mais jovem, não unicamente ligada à
chamada “volta da pintura”, subscrevendo um leque maior de pesquisas como as
ações urbanas, performances e trabalhos coletivos.
O desenho na virada dos anos 70/80, período da repressão política, teve presença
relevante no Brasil e somou-se à cena local através das Mostras de Desenho Brasileiro.
Juntamente a este contexto, a presença de algumas exposições em Curitiba, como a
Sem título, 1988/89nanquim sobre papel, 31,6 x 21,2 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba
Eliane ProlikGeraldo LeãoPaulo Reis
1Exposição no Museu de Arte Contemporânea do Paraná em 2006.
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do artista Darel Valença, na Sala Miguel Bakun, e uma mostra sobre o expressionismo
alemão, no MAC/PR, foram decisivas para a formação do pensamento gráfico do
artista. Em sua primeira exposição individual, no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos,
em 1982, ele apresentou uma série de desenhos que uniam o caráter gráfico da escrita
e a presença da palavra, o uso simbólico da cor e uma profusão de elementos que
anunciavam a constituição de uma mitologia própria.
Dos trabalhos em papel vergé, de 1984, à série Crimes e Assassinatos de 1985/86,
o percurso do artista é o do abandono de certo naturalismo, remanescente da época da
Escola de Belas Artes e a afirmação da linha como valor gráfico não representacional e,
ao mesmo tempo, como meio de expressão de uma subjetividade. A concisão, aparente
no traço de Raul desde 1984, indica a dedicação do artista à disciplina do desenho,
permitindo a prática de uma narrativa mínima e um olhar mais atento aos valores
de luz e tensões já dados pelo campo do papel. Raul, como os grandes desenhistas
(lembremos dos textos de Matisse), supera a polaridade entre a linha e o espaço
pensados como cheio e vazio, presença e ausência. Uma de suas grandes qualidades é
que o gesto, que registra a ação de um corpo, faz o que não é gesto - o espaço, no caso
o papel -, tornar-se ainda mais presente e nunca “vazio” ou “neutro”. Tal operação
difere das tentativas convencionais nas quais uma linha “ocupa” o papel, violentando
um espaço “vazio”. Simultaneamente ao fato da linha ganhar mais domínio, o aspecto
dramático de seus desenhos foi, porém, exacerbado. Adicione-se a esse novo fazer
gráfico, o exercício com a linóleo-gravura, com seus gestos rápidos e subtração de
Sem título, 1988nanquim sobre papel, 48 x 33 cm
acervo Museu de Arte Contemporânea do Paraná
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matéria. Outras linguagens artísticas agregaram-se à poética do artista para reforçar,
também, suas pesquisas plásticas, como a performance e o teatro em seu caráter de
ocupação cada vez mais econômica do espaço (cênico) e no jogo teatral/ficcional das
personagens e situações.
Muitas obras de Raul Cruz permaneceram inéditas, como boa parte da série
de desenhos dos anos 1988 e 89, agora mostrados. Trata-se da produção de um
desenho sintético e amadurecido que mantém lado a lado a potente afirmação do
desejo, certa ironia e a presença de um mundo sempre ameaçador. O artista trabalha
a dramaticidade da figuração e a inteligência visual do espaço, não permitindo que a
figura habite passivamente e sem complexidade o “fundo” retangular. Nesta série,
o risco que indica uma figura recorta e reafirma o branco do papel. Com agilidade,
a superfície abre-se para novos espaços, capazes de se desdobrarem flutuantes no
repente do desejo e da comunicação. O gesto gráfico que sulcava a cor em muitas de
suas pinturas e criava tensão e drama em suas linóleo-gravuras, agora se explicita em
toda sua argúcia nos desenhos a nanquim.
A crise econômica, o marasmo político do governo Sarney e o aparecimento
devastador da aids colocaram um fim à euforia do começo da década de 80. A essa
‘euforia’, na verdade, a construção de um novo mercado de arte contemporânea
“jovem”, cuja produção respondia refletindo sobre as possibilidades das formas
artísticas tradicionais, lidas com um distanciamento vindo da Pop Art, ao tratar da
realidade de um país recém saído de 20 anos de ditadura militar. Enquanto artistas
como Jorge Guinle, tratavam de manter o foco sobre as questões mais amplas do Sem título, 1988/89
nanquim sobre papel, 47,7 x 33,2 cmacervo Museu de Arte Contemporânea do Paraná
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estatuto da pintura e da representação, outros, como Leonilson e o próprio Raul,
colocavam as questões individuais no centro de suas investigações. Leonilson, na
pintura Leo não consegue mudar o mundo (1989), ao contrapor a impossibilidade da
mudança à afirmação de um coração pulsando entre `abismo´ e `luzes´, configura o
panorama de certa produção ligada à subjetividade.
No espaço entre o desencanto e a asserção de um sujeito, mesmo que
fragmentado, construíram-se muitas poéticas neste período. A contribuição de Raul
para este cenário está em constituir uma discussão de viés também irônico dessas
pulsões individuais, “expressionistas”, ao apresentá-las de uma forma narrativa
declarada, mas com um distanciamento técnico que contradizia um possível discurso
direto e expressivo. O artista trabalhou a dimensão do sujeito e sua inadequação
ao mundo, especialmente revelada pela argumentação sobre a crença, a fé e sua
crítica, as paixões, a sexualidade e o desejo homossexual. O espaço da intimidade foi
desvelado em seus silêncios por um desenho sintético. O corpo da narrativa, - a tinta
mais o papel -, é vigorosamente ativado e um outro corpo, o do narrador/personagem,
é presença constante. As sombras e espectros que ora aparecem perturbadores são,
em alguns trabalhos, projeções da própria figura. Abismos e luzes se encontram como
continuidade, e não oposição, momento de impasse, onde não há redenção, nem
crime ou pecado.
Sem título, 1986nanquim sobre papel, 23,2 x 10,5 cmacervo Fundação Cultural de Curitiba
Sem título, 1988/89nanquim sobre papel, 47,6 x 33,2 cm
acervo Museu de Arte Contemporânea do Paraná
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LITONOVELA “A ROSA” (1984)
Coleção: Fundação Cultural de Curitiba
A série de dez litogravuras “A Rosa” foi denominada pelo artista de “Litonovela”. Essa sequência possui uma narrativa dramática, os personagens, uma mulher e dois homens, formam um “triângulo amoroso”. A série formada por dez litogravuras, na ordem determinada pelo artista, foi gravada e impressa nas oficinas da Casa da Gravura, em papel Acqua Velim Salto, com uma tiragem de dezoito exemplares, sendo dezessete para comércio e uma prova do artista. (trecho da monografia “Raul Cruz: obra gravada”, de Denise Bandeira, 1994)
O casamento, 24x19 cm A rosa, 22x18 cm Expresso, 20x14 cm
Não se pode dizer saudade, 21x19 cm Cedo, 11x23 cm Adeus, 18x17 cm
Tarde, 11x21 cm
Éramos nós, 15x23 cm
Imagem, 12x22 cmO anel, 16x23 cm
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NÃO CHOVEU
Na tarde do sábado em que o poeta Alberto Cardoso foi enterrado, choveu. E foi a maior chuva que nós, seus amigos,
tomamos nas costas. Foi descer a ladeira fria e o mundo desabou em água sobre o cortejo. O céu ameaçava negro pros lados de
Santa Cândida, indiferentes os bem-te-vis, sanhaços e outros passarinhos não catalogados cantaram à passagem do féretro.
Na terça-feira em que o Raul Cruz partiu, não choveu. Não fui ao enterro. Não sei se o céu ficou triste. Nem se os passarinhos
cantaram. Não sei se houve poema. Por isso deixo aqui esse pedaço de silêncio.
Silêncio que ele tão magistralmente modelava, fosse em teatro, nas telas ou em palavras.
Como esquecer o silêncio de Maria Adélia na abertura da peça “Grato Maria Bueno”? Tom Waits se esgoelando no
radinho. Postada em frente da penteadeira, acompanhava a música com a cabeça. Na penumbra, por um momento preciso,
o palco se transforma numa gravura alemã, num gobelino em tom pastel. Uma cena tão harmoniosa que me dei ao luxo de
gravar na bagunça de minha memória. Lembrança que acendo sempre. Muitos dirão: “também, assistiu 12 vezes”. Retruco na
hora. Assistiria mais, não fosse a destruição do Teatro da Classe (ou Teatro 13 de maio, ou Teatro José Maria Santos, ou... ou...)
monumento vivo do abandono cultural do Estado.
Os feixes de promessas de reconstrução ficaram no ar e acabaram por debaixo do matagal em que se transformou o local.
Para dar início à reconstrução não é necessário uma política cultural, é preciso de uma boa enxada. Uma carpinagem cultural. Ou
estarão apostando em nosso esquecimento? Ou em mais um novo estacionamento? Dúvida cruel nesta cidade onde tudo acaba
em Shopping ou na Rua 24h.
No entulho, uma placa corroída pela ferrugem do esquecimento, ainda anuncia: “Cia das Índias apresenta hoje: Grato
Maria Bueno”.
Como é possível esquecer na cena seguinte o silêncio da beleza clássica de Jacqueline na Estação acenando saudades?
Ou então, da cena em que ela, suspensa em seu desespero, revira a bolsa atrás do comprimento milagroso? Ou da cena em que
uma cadeira é transformada em altar e Maria Bueno refuga a grinalda, a flor e o manto santificado?
Como é possível esquecer a devota da Letícia que atravessa a cidade toda segunda-feira e na humanidade de suas chinelas
de dedo consertadas com arame, usando sabão de pedra, lava o átrio e a alma aos pés da Santinha Municipal. Debruçado nessa
qualidade de esperança, peço a Maria Bueno que acomode o nosso Raul num sítio profundo e silencioso, de onde ele possa ouvir
as rosas ensaiarem suas cores e os passarinhos a ordenarem suas peninhas novas.
Hélio LeitesO Estado do Paraná09.05.1993
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Um homem ilumina o outro
Um homem sente fisicamente a passagem do outro
Um homem sente a presença do outro
O silêncio entre três homens
Um homem pisa no outro
O outro idolatra, mistifica
Um homem serve de ponte para o outro
Um homem dá as costas para o outro, se debate
Um homem fala por sinais, caminha sobre cadeiras
Infinitamente atrás de outro que divaga
Um homem beija o outro no rosto
Um homem manipula outro homem
Um usa a voz de comando e o outro obedece cegamente
Um homem vendado
Um homem amarrado
Um homem oprimido
O homem oprimido
O homem é o outro do outro
O homem e seu duplo
O homem e o espelho
o espelho
a porta
a janela
os corredores
as portas e as janelas
Três portas e uma estranha ocupação
Os outros não vão saber do que se trata
O que são aqueles rituais
A não ser que olhem para si próprios
Um homem risca em seu corpo símbolos e regiões de cor
Um homem conspira com outro contra um terceiro
Um homem serve de apoio ao outro
Dois homens são um só
Três homens chegarão a algum lugar
Três homens passam sobre um abismo
Um homem com vertigem que não pode olhar para baixo nem para cima
Outro que não pode olhar para os lados
Um não olha prá frente nem olha prá trás
Dois homens se cumprimentam
Os homens tem maneiras particulares de se cumprimentar
Um homem nada apoiado em uma cadeira
em uma escada
Um homem anda mas é o chão que se move
Pela janela do trem é a paisagem que se vai
Só a lua acompanha.
Texto de Raul Cruz coreografado por Rocio Infante para peça de teatro A Ponte, 1989
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T R Ê S T E X T O S D E R A U L C R U Z
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Meu muito caro Pierre,
Por ser tão parecido conosco, por ser tão parecido comigo, porque
comungamos todos na dor e no vazio, porque recriamos tudo na nossa
infindável tragédia, porque se mergulhássemos como você nessa estranha
lucidez a que só temos acesso em pequenos momentos de grande dor
ou prazer, sucumbiríamos também à irresistível sedução da paixão e da
morte. Porque nossa grande verdade é a solidão e porque nos afastamos da
realidade sempre que nos aproximamos de nós mesmos, por isso é que lhe
escrevo. Porque como você, ao percebermos que o mundo gira no sentido
contrário, indiferente à nossa dor, tomamos atitudes extremas, recriamos
abismos. Por ter degolado sua mãe e seus irmãos para lavar a alma de
seu pai, pelos seus vinte e um anos de vida terrestre e porque teve uma
compreensão tão particular da vida é que lhe escrevo e subscrevo-me,
Sempre seu, Raul.
Maria Bueno gostava de baile
moça de família não sai com soldado
moça de casa não trai seu amante
santa de casa não faz milagre.
Rosa de pano manchada de sangue
busto de gesso, peito apertado dor de ciúme
dor da saudade, acórdão, farda surrada
carmim de passar no rosto
água de flores, amor mal fadado
coração paranaense: vestido de noiva
em mulher mal falada.
Texto de Raul Cruz publicado no programa da peça de teatro Cartas a Pierre Rivière, 1987.Texto de Raul Cruz publicado no programa da peça de teatro Grato Maria Bueno, 1992.
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Exposição CENA RAUL CRUZno Centro Cultural Sistema FIEP - Curitiba
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Display mostrando ensaio da peça A Ponte, com Renato Negrão, Raul Cruz e Beto Perna.
Performance Tatuatua ou Bandeira 69, com Renato Negrão, Jacqueline Daher e Beto Perna.
Ensaio da peça A Ponte, com Renato Negão, Raul Cruz e Beto Perna.
Peça Grato Maria Bueno, com Jacqueline Daher.
Evento de expansão - Performance de Edith Camargo cantando a música ‘Cortei o dedo”, de Raul Cruz e Carlos Careqa. Discotecagem de Rádio Ga Ga.
Evento de expansãoInusitada Companhia Traço. Raul Cruz. Performance.
Evento de expansãoUma leitura dramática sobre a obra de Raul Cruz. Proposição de Letícia Guimarães / Cia do Abração. Centro Cultural Teatro Guaíra - Mini Auditório.
Foto: Cia do Abração
Evento de ExpansãoBate-papo com Beto Perna, David Mafra e Paulo Reis. Centro Cultural SESI Heitor Stockler de França.
Evento de ExpansãoBate-papo com Fernando Rosembaum. Centro Cultural Sistema FIEP.
Evento de ExpansãoOficinas de pesquisa nas artes gráficas e a obra de Raul Cruz. Voltadas para o público infanto-juvenil. Bicicletaria Cultural.
Evento de ExpansãoPerformance de encerramento - Kátia Drumond e Chiris Gomes cantando as músicas Cortei o dedo, de Carlos Careqa e “God bless the child”, de Billie Holiday.s
40 Foto: acervo da família
PU
BLI
CA
ÇÃ
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EN
A R
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L C
RU
Z Organização Paulo ReisLuana Navarro Elenize Dezgeniski
Textos críticosEliane ProlikGeraldo LeãoHélio LeitesIvo MesquitaPaulo ReisRaul Cruz
EdiçãoEliana BorgesRicardo Corona
Fotografia Elenize DezgeniskiLidia Ueta
Design gráficoEliana Borges
RevisãoNylcéa Thereza de Siqueira Pedra
isbn 978-85-64029-19-4
REALIZAÇÃO
2016
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Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná
Centro Cultural Sistema FIEP Curitiba
Edson CampagnoloPresidente do Sistema FIEP
José Antonio FaresSuperintendente do Sesi no Paraná
Anna Paula ZétolaGerente de Cultura do Sesi no Paraná
Neiane da Silva Azevedo AndreatoGerência de Cultura
Ana Luiza Suhr ReghelinGerência de Cultura
Laura Maria Toledo FelisminoGerência de Cultura
Paulo ReisCurador
Luana NavarroCuradora adjunta
Elenize DezgeniskiCuradoria de eventos de expansão
Elenize Dezgeniski e Luana NavarroProdução
Guilherme JacconAssistência de produção
Gislaine Pagotto e Fran FerreiraMediadoras
Danilo Fialho DuarteMarcenaria
Cristian Teles e Fernanda StancikEquipe de Montagem Curitiba
Fernando de ProençaAssessoria de Imprensa
Adriana AlegriaDesign gráfico
AgradecimentosÁldice Lopes, Ana González,Ana Luiza Reghelin, André Malinski,Berenice Mendes, Beto Perna, Bicicletaria Cultural, Carlos Careqa, Chiris Gomes, David Mafra, Débora Zanatta,Denise Bandeira, Edith de Camargo, Eliane Prolik, Gabriel Gallarza, Geraldo Leão, Helio Leites,Ivo Mesquita, Jacinta Caron,Karin van der Broocke,Kátia Drumond, Letícia Guimarães,Luiz Alberto Borges da Cruz (Foca),Marco Mello, Mila Jung, Nelson Galvão, Paulo Daher, Rafael Camargo,Ricardo Corona, Selvática Ações Artísticas, CiaSenhas de Teatro e Funcionários do Centro deDocumentação e Pesquisa do Museu de Arte Contemporânea do Paraná e do Centro de Documentação e Pesquisa Guido Viaro
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