quÍmica forense: metodologias analÍticas … · 1.quimica. 2.forense. 3. crimes cdd:660 ... a...
TRANSCRIPT
-
MATHEUS DOS SANTOS GARCIA
QUMICA FORENSE: METODOLOGIAS ANALTICAS NA INVESTIGAO DE CRIMES
Assis-SP
2015
-
MATHEUS DOS SANTOS GARCIA
QUMICA FORENSE: METODOLOGIAS ANALTICAS NA INVESTIGAO DE CRIMES
Trabalho de concluso de
curso de Curso apresentado
ao Instituto Municipal de
Ensino Superior de Assis,
como requisito do Curso de
Graduao em Qumica.
Orientadora: Dra. Patrcia Cavani Martins de Mello
rea de Concentrao: Qumica
Assis
2015
-
FICHA CATALOGRFICA
GARCIA, Matheus
Qumica Forense: metodologias analticas na investigao de
crimes/ Matheus Garcia
Fundao Educacional do Municpio de Assis - FEMA -- Assis,
2015.
XXp.
Orientadora: Dra. Patrcia Cavani Martins de Mello
Trabalho de Concluso de Curso Instituto Municipal de
Ensino Superior de Assis IMESA.
1.Quimica. 2.Forense. 3. Crimes
CDD:660
Biblioteca da FEMA
-
QUMICA FORENSE: METODOLOGIAS ANALTICAS NA INVESTIGAO DE CRIMES
MATHEUS DOS SANTOS GARCIA
Trabalho de Concluso de Curso
apresentado ao Instituto Municipal
de Ensino Superior de Assis, como
requisito do Curso de Graduao,
analisado pela seguinte comisso
examinadora:
Orientador: Dra. Patrcia Cavani Martins de Mello
Analisador: Dra. Mary Leiva de Faria
Assis
-
2015
AGRADEDIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus familiares, me e pai, Rita e
Aguinaldo, e irm, Maria Fernanda, por tudo que representa em minha vida, e no
seria nada sem o amor e apoio incondicional que sempre me deram na minha vida.
A minha namorada, Thais, por sempre estar ao meu lado, apoiar e o carinho dado
por esses anos juntos.
Para a professora, Dra. Patrcia Cavani Martins de Mello, pela sua dedicao e total
ajuda na confeco desse trabalho, e sem a orientao e o apoio no conseguiria
conclui-lo.
A todos meus amigos, por todos esses anos de convivncia, onde passamos muitos
momentos de alegria juntos.
-
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade mostrar como a qumica forense engloba anlises
orgnicas e inorgnicas, toxicologia, investigaes sobre incndios criminosos e
sorologia, e suas concluses servem para embasar decises judiciais. A soluo de
um crime, com a punio dos culpados, a meta primordial da justia. Ao desvendar
as circunstncias de um crime, os investigadores fazem um trabalho de grande
importncia: de um lado, protegem a populao da ao de criminosos e de outro,
impedem que inocentes sejam punidos injustamente. Tcnicas de separao como
cromatografia e analticas como espectroscopia, espectrometria de massa,
calorimetria, papiloscopia e termogravimetria so capazes de identificar a substncia
utilizada em um envenenamento, as impresses digitais de envolvidos em crimes,
manchas orgnicas, como sangue, esperma, fezes e vmito, manchas inorgnicas,
como lama, tinta, ferrugem e plvora, e analisar evidncias como fios de cabelo,
peas de vesturio, poeiras e cinzas em locais de crime. O objetivo deste trabalho
demonstrar mtodos usados frequentemente na investigao de crimes e sua
importncia na sociedade. Os resultados demonstrados pela pesquisa foram que as
anlises qumicas apresentaram grande efetividade nas investigaes, mostrando
ser um mtodo a ser seguido para a montagem do inqurito. Para sua confeco
foram levantados trabalhos atuais que relacionaram tcnicas analticas e suas
melhorias, identificao e quantificao de substncias qumicas correlacionadas
ao esclarecimento de inquritos policiais. Observa-se que qumica analtica, seu
conhecimento e habilidade de manipulao, s mais uma importante frente da
cincia que estuda a composio e transformao da matria.
Palavras-chave: Crimes; Forense; Investigao; Qumica.
-
ABSTRACT
This work aims to show how forensic chemistry encompasses organic and inorganic
analysis, toxicology, serology and criminal investigations of fires, and its findings are
used to support judgments. The solution of a crime with punishment of the guilty is
the ultimate goal of justice. To uncover the circumstances of a crime, the researchers
make a major work: on the one hand, protect the population from the action of
criminals and others, prevent innocent are punished unfairly. Separation techniques
such as chromatography and analytical as spectroscopy, mass spectrometry,
calorimetry, papiloscopia and thermogravimetry are able to identify the substance
used in a poisoning, the fingerprint involved in crimes, organic stains such as blood,
sperm, stool, vomiting, inorganic stains such as mud, paint, rust and gunpowder, and
analyze evidence such as hair, clothing, dust and ashes in crime scenes. The
objective of this study is to demonstrate methods often used in the investigation of
crimes and their importance in society. The results shown by the survey were that the
chemical analysis showed great effectiveness in the investigation, proved to be a
method to be followed for the assembly of the investigation. For its preparation have
been raised current studies dealing with analytical techniques and their
improvements, identification and quantification of chemical substances correlated to
clarify police investigations. It is observed that analytical chemistry, knowledge and
handling ability, s another important front of the science that studies the composition
and transformation of matter.
Keywords: Chemistry; Forensics; Crimes; Research.
-
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 - Reaes da ninidrina com componentes celulares. .................................. 15
Figura 2 - Representao esquemtica da gerao de quimioluminescncia do
luminol na presena de perxido de hidrognio. ....................................................... 16
Figura 3 - Cena de um crime isolada ........................................................................ 17
Figura 4- Macroprocesso simplificado de um inqurito policial, do evento at a
sentena final. ........................................................................................................... 19
Figura 5 - Reao para coleta de resduos de chumbo em disparos de armas de fogo
.................................................................................................................................. 21
Figura 6 Armas de fogo e nomenclatura de seus componentes. ........................... 22
Figura 7 Descrio da trajetria de um projtil, comparando entre linha de mira e
linha de tiro. ............................................................................................................... 23
Figura 8 - Exame de Comparao ............................................................................ 24
Figura 9 - Reao de sntese do luminol a partir do cido 3-nitroftlico. Em, A) cido
3-Nitroftlico; B) Hidrazina; C) 5-Nitroftalhidrazina; D) Luminol................................. 25
Figura 10 - Exemplo de um ambiente com e sem luminol e as marcas de um
calado. ..................................................................................................................... 26
Figura 11 - Reao do Luminol ................................................................................. 26
Figura 12 - Reao de Teichman ............................................................................. 28
Figura 13 - Exemplo de Teste Comparativo .............................................................. 33
Figura 14 - Reao de cianoacrilatos ........................................................................ 37
Figura 15 - Digital revelada por cianocrilato .............................................................. 37
Figura 16 - Reao para revelaes de digitais com Nitrato de Prata. ..................... 38
Figura 17 - Composio qumica dos ps reveladores de IPL .................................. 39
Figura 18 - Digital revelada com p negro de fumo. .................................................. 39
Figura 19 - Laboratrio para realizao de procedimentos. ...................................... 41
Figura 20 - Reao Qumica do Reagente Kastler Meyer ......................................... 43
Figura 21 - Cromatgrafo lquido de alta eficincia ................................................... 50
Figura 22 - Instrumentao da Cromatografia lquida de alta eficincia .................... 50
Figura 23 - Sintese mdma. ........................................................................................ 52
-
Figura 24 -Cromatgrafo Gasoso. ............................................................................. 55
Figura 25 - Instrumentao de Cromatografia Gasosa. ............................................ 56
Figura 26 - Resultado cromatogrfica: (1) acetaldedo, (2) metanol, (3) etanol, (4)
acetona, (5) isopropanal, (6) propanal. ..................................................................... 58
Figura 27 - Tcnica EASY-MS .................................................................................. 62
Figura 28 - Sintese THC. ........................................................................................... 61
Figura 29 - Espectroscopia Raman ........................................................................... 64
Figura 30 - Espectro de 4 canetas de tintas diferentes. ............................................ 65
Figura 31 - Espectro de canetas de mesma cor ........................................................ 66
-
SUMRIO
1. INTRODUO ................................................................................. 12
2. AS ORIGENS DA CINCIA FORENSE ........................................... 14
3. A INVESTIGAO DE CENAS DE CRIMES ................................... 17
3.1 INQURITO POLICIAL .............................................................................. 18
3.2 TCNICAS CIENTFICAS APLICADAS INVESTIGAO DE CRIMES . 20
3.2.1 BALSTICA FORENSE ........................................................................................... 20
3.2.2 REAES DE LUMINESCNCIA EM QUMICA FORENSE ............................................ 24
3.2.2.1 Anlise de Smen .................................................................................................... 27
3.2.2.2 ANLISE DE SANGUE ............................................................................................ 28
3.2.2.3 Anlise de Saliva ..................................................................................................... 29
3.2.2.4 Anlise de Urina ....................................................................................................... 29
3.2.3 DNA FORENSE ................................................................................................... 30
3.2.4 COLETA DAS AMOSTRAS ...................................................................................... 31
3.2.4.1 Sangue e Smen ..................................................................................................... 31
3.2.4.2 Tecidos, fios de cabelo, rgos e ossos ................................................................... 32
3.2.4.3 - Saliva, urina e outros fluidos corporais ................................................................... 32
3.2.5 EXAME COMPARATIVO DE DNA ........................................................................... 33
3.2.6 PAPILOSCOPIA .................................................................................................... 34
3.2.7 TCNICAS PARA REVELAO DE DIGITAIS ............................................................ 35
3.2.7.1 - Tcnica do p ........................................................................................................ 38
3.3 EXAMES LABORATORIAIS ...................................................................... 40
4. A CINCIA FORENSE COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE
QUMICA .............................................................................................. 42
4.1. INTRODUO .......................................................................................... 42
4.2 METODOLOGIA ........................................................................................ 44
4.2.1 PREPARO DO REAGENTE DE KASTLE MEYER ........................................................ 44
4.2.2 REVELAO DE MANCHAS DE SANGUE UTILIZANDO O REAGENTE DE KASTLE MEYER
.................................................................................................................................. 44
5. A QUMICA ANALTICA NO CONTEXTO DOS PROCESSOS
INVESTIGATRIOS DE CRIMES E DROGAS DE ABUSO ................ 45
-
5.1. TCNICAS CROMATOGRFICAS PARA QUANTIFICAO DE
DROGAS E SEUS CONSTITUINTES ............................................................. 45
5. 1. 1. CROMATOGRAFIA ............................................................................................. 46
5.1.2. CROMATOGRAFIA CAMADA DELGADA (CCD) ...................................................... 47
5.1.2.1 Anlise de Aldicarb .................................................................................................. 48
5.1.3 - CROMATOGRAFIA LIQUIDA DE ALTA EFICIENCIA (HPLC) ..................................... 49
5.1.3.1 Aplicaes da Cromatografia Lquida de Alta Eficincia Anlise Forense ............. 51
5.1.3.1.1 Analise Ecstasy ..................................................................................................... 51
5.1.3.1.2. Anlise de Cocana .............................................................................................. 53
5.1.3.1.3 Anlise de cido Lisrgico .................................................................................... 54
5.1.4. CROMATOGRAFIA GASOSA ................................................................................. 55
5.1.4.1. Aplicao da Cromatografia Gasosa Anlise Forense ......................................... 57
5.1.4.1.1 Anlise de Etanol no Sangue ................................................................................ 57
5.2 ELETROFORESE CAPILAR ..................................................................... 58
5.3 ESPECTROMETRIA DE MASSAS (MS) ................................................... 59
5.3.1 APLICAES DA ESPECTROMETRIA DE MASSAS (MS) ANLISE FORENSE ............ 60
5.3.1.1 Anlise Maconha .................................................................................................... 60
5.4 EASY AMBIENT SONIC-SPRAY (EASI-MS) ............................................. 62
5.5 ESPECTROSCOPIA RAMAN .................................................................... 63
5.5.1 APLICAES DA ESPECTROSCOPIA RAMAN ANLISE FORENSE........................... 64
5.6 ESPECTROMETRIA ATMICA ................................................................ 66
5.6.1 ESPECTROMETRIA DE ABSORO ATMICA .......................................................... 67
5.6.2 ESPECTROMETRIA DE EMISSO ATMICA ............................................................. 68
5.6.2.1 Aplicaes da Espectrometria de Emisso Atmica Anlise Forense ................... 69
6. CONCLUSO .................................................................................. 71
-
12
1. INTRODUO
A soluo de um crime, com a punio dos culpados, a meta primordial da justia.
Ao desvendar as circunstncias de um crime, os investigadores fazem um trabalho
de grande importncia: de um lado, protegem a populao da ao de criminosos e
de outro, impedem que inocentes sejam punidos injustamente (CRQ, 2014).
A Qumica Forense pode ser definida como a cincia que se encarrega da anlise,
classificao e determinao de elementos ou substncias encontradas nos locais
de averiguao ou ocorrncia de um delito ou que podem estar relacionadas a este
(BRANCO, 2005).
Engloba anlises orgnicas e inorgnicas, toxicologia, investigaes sobre incndios
criminosos e serologia, e suas concluses servem para embasar decises judiciais
(CRQ, 2014). o ramo das cincias forenses voltado para anlise e caracterizao
de substncias diversas em matrizes tais como drogas lcitas e ilcitas, venenos,
acelerantes e resduos de incncio, explosivos, resduos de disparo de arma de
fogo, combustveis, tintas, fibras, dentre outros (ROMAO et al., 2011).
Apesar de as investigaes criminais serem o aspecto mais conhecido da qumica
forense, ela no se limita a ocorrncias policiais. O qumico forense tambm pode
dar seu parecer em decises de natureza judicial, atuar em questes trabalhistas,
como determinar se uma atividade perigosa ou insalubre, detectar adulteraes
em combustveis e bebidas, uso de drogas ilcitas, fazer percias em alimentos e
medicamentos e investigar o doping esportivo (CRQ, 2014). So exemplos de
anlises qumicas de interesse forenses possveis s reaes empregadas nas
anlises de disparos de armas de fogo,identificao de adulteraes em veculos,
revelao de impresses digitais, identificao de sangue em locais de crime e
peas relacionadas a estes, bem como constatao de substncias entorpecentes
como maconha e cocana (OLIVEIRA, 2006).
Quando a determinao da natureza de uma substncia qumica torna-se
necessria, ou quando existe a necessidade de deteco de traos de determinadas
-
13
substncias qumicas de interesse forense, torna-se imprescindvel a utilizao de
mtodos qumicos de anlise (OLIVEIRA, 2006).
Este trabalho tem o objetivo de apresentar as tcnicas analticas qumicas
envolvidas no processo de investigao de crimes e utilizadas de forma geral, na
qumica forense.
-
14
2. AS ORIGENS DA CINCIA FORENSE
Por anos, autoridades e indivduos cultivaram a suspeita de que havia muito mais
num crime do que apenas depoimentos: que a cena do crime, a arma de um
homicdio ou, ainda, algumas gotas de sangue poderiam ser testemunhas da
verdade (SANTANA, 2015).
A datiloscopia j era empiricamente empregada pelos japoneses no sculo VII e
pelos chineses no sculo XII (UFEPel, 2014).
O primeiro registro do uso da cincia forense na soluo de um crime vem de um
manual chins para legistas chamado A Limpeza dos Erros, escrito em 1247, onde
o legista examinou os cortes no corpo da vtima, e ento testou uma variedade de
lminas no cadver de uma vaca, concluindo que foi uma foice. Em 1836, James
Marsh desenvolveu o teste de deteco de arsenico, onde um pequeno tecido ou
amostra de sangue entra em contato com zinco e cido sulfrico para comprovar se
houve envenenamento. Desta maneira foi comprovado o envenenamento de 7
crianas e 1 adulto por Mary Ann Cotton, de Low Moorsley, Condado de Durham, no
sculo 19 (SANTANA, 2015).
A antropologia forense (identificao do corpo humano), foi usada como prova em
1897, onde AdolphLuetgert foi declarado culpado pela morte da esposa Louise. Os
policiais investigaram a empresa de salsicha da empresa de Adolph, onde o mal
cheiro os levaram a uma tina de canalizar salsicha, onde encontraram uma aliana e
um anel gravado LL e numa fornalha, pequenos pedaos de ossos. Um antroplogo,
George Dorsey, examinou os ossos para verificar se estes eram humanos, e este
concluiu que eram ossos do p, de dedos da mo, costelas, de dedos do p e do
crnio de uma mulher. Adolph foi condenado pelo crime em jri. J Dorsey enfrentou
muito ceticismo de outros especialistas sobre as provas, pois achavam insuficientes
para identificao da ossada de uma mulher (SANTANA, 2015).
Em 1910 foi descoberto as reaes da ninidrina com componentes celulares (Figura
1). Sdiergfrie Ruhemann verificou que formavam-se substncias coloridas ao reagi-
-
15
la com polipeptdios, protenas e alfa-aminocidos. Em 1954 a ninidrina comeou a
ser utilizada como um reagente usado para a revelao de digitais, pois reagia com
as glandulas sudorparas (UFEPel, 2014)
Figura 1 - Reaes da ninidrina com componentes celulares (SOTOMAYER,
2008).
Em 1973, ficou marcado na histria da quimica forense, a introduo do luminol na
investigao criminal. Este em contato com manchas de sangue em locais de crime,
mesmo que tenha sido lavado, forma um composto azul, fosforescente, que at hoje
empregado na revelao de vestgios de sangue (UFEPel, 2014)A representao
esquemtica da gerao de quimioluminescncia do luminol na presena de
perxido de hidrognio apresentada na Figura 2.
-
16
Figura 2 - Representao esquemtica da gerao de quimioluminescncia do
luminol na presena de perxido de hidrognio (FERREIRA, 2002).
-
17
3. A INVESTIGAO DE CENAS DE CRIMES
Os locais de crime, bem como os elementos de interesse pericial nele contidos
devem ser fotografados do modo como foram encontrados pelo perito ou levantados
por meio de desenhos esquemticos e plantas, que so previstas no cdigo de
processo penal. Os vestgios encontrados na cena do crime (peas, instrumentos de
crime, substncias qumicas etc.) devem ser analisados e interpretados pelo perito e
reportados de modo descritivo em um relatrio denominado laudo tcnico-pericial
(OLIVEIRA, 2006).
Assim, entende-se por levantamento tcnico pericial do local do fato, a reproduo
fiel e minuciosa do espao fsico onde ocorreu um evento de interesse judicirio,
bem como da importncia de cada vestgio coletado e sua relao com o fato
criminoso (OLIVEIRA, 2006). A Figura 3 reproduz a cena de um crime.
Figura 3 - Cena de um crime isolada (CHEMELLO, 2014)
-
18
As principais provas que podem ser encontradas no local so: manchas, impresses
e marcas, armas (brancas ou de fogo), instrumentos, peas de vesturios, plos,
cabelos documentos, venenos, ps, poeiras e cinzas(UFEPel, 2014).
Entre as manchas, por exemplo, destacam-se: traos orgnicos: sangue, esperma,
fezes, vmito; traos inorgnicos: cera, lama, ferrugem, tinta, plvora(UFEPel,
2014).
3.1 INQURITO POLICIAL
O inqurito policial um procedimento administrativo preliminar, de carter
inquisitivo, presidido pela autoridade policial, que visa reunir elementos informativos
com objetivo de contribuir para a form ao da opinio delicti do titular da ao
penal. Tem por objetivo subsidiar a propositura da ao penal. Alm desta
finalidade, o inqurito policial visa colher elementos para o deferimento das medidas
cautelares pelo juiz (DUARTE, 2015).
O enquadramento das atividades desenvolvidas pela percia criminal como um
processo de operaes em servio que ocorre em uma rede interorganizacional
pode incrementar o valor da imparcialidade da Justia Criminal entregue a seus
principais destinatrios (RODRIGUES, 2015).
O Cdigo de Processo Penal em seu Captulo artigo 160 determina que o perito
deve descrever minuciosamente o que examinar e responder aos quesitos
formulados (PC, 2015).
Algumas das obrigaes que o inquerito policial deve ter:
Caracterizar o ambiente geral, a rede interorganizacional e a operao do
servio;
Mapear os principais pblicos do servio;
Descrever o macroprocesso de produo e definir o tangvel e o intangvel
neste servio;
-
19
Identificar o que valor para os principais destinatrios de um servio
destinado a produzir insumo para um valor bsico de Justia;
Contribuir para a aplicao da engenharia de produo em servios
pblicos. (RODRIGUES, 2015).
A atividade pericial regulada pelo Cdigo de Processo Penal (CPP). Os peritos so
classificados como auxiliares da justia, com conhecimento especializado em
determinada rea, sujeitos disciplina judiciria e aos mesmos impedimentos dos
juzes. A percia criminal integra uma rede constituda para entregar um valor bsico
de Justia, composta por um ciclo judicial e outro policial (RODRIGUES, 2015). A
Figura 4 ilustra um fluxograma dos processos em um inqurito policial.
Figura 4- Macroprocesso simplificado de um inqurito policial, do evento at a sentena final (RODRIGUES, 2015)
-
20
3.2 TCNICAS CIENTFICAS APLICADAS INVESTIGAO DE CRIMES
3.2.1 Balstica Forense
A Balstica Forense uma disciplina, integrante da criminalstica, que estuda as
armas de fogo, sua munio e os efeitos dos tiros por elas produzidos, sempre que
tiverem uma relao direta ou indireta com infraes penais, visando esclarecer e
provar sua ocorrncia (IGP, 2015)
A balstica investiga as armas, as balas e as feridas produzidas por ambos no alvo,
entre outros exames no corpo. Graas a tais evidncias, o perito descobre
informaes como calibre do projtil, qual arma (branca ou de fogo) foi usada,
distncia e posio em relao vtima. Quanto s armas de fogo, vestgios de
plvora indicam o disparo de munio ou a distncia da ferida de entrada
(TEIXEIRA, 2015).
A carga de inflamao, tambm chamada de mistura iniciadora ou primer,
responsvel por deflagrar a combusto da plvora (carga de projeo) contida no
estojo e a expulso do projetil atravs do cano da arma. A proporo e os elementos
presentes na mistura iniciadora variam de acordo com o tipo de espoleta (fogo
central ou circular) e de munio. Geralmente, a espoleta constituda por um
composto explosivo (estifnato de chumbo), um oxidante (nitrato de brio, dixido de
chumbo ou nitrato de chumbo), um combustvel (trissulfeto de antimnio ou siliceto
de clcio), sensibilizantes (trinitrotolueno, tetraceno) e aglutinantes (goma-arbica,
resinas celofane e goma-laca). Os elementos Pb, Sb e Ba so os principais
marcadores qumicos presentes nos resduos inorgnicos produzidos por disparos
de armas de fogo dos resduos deixados pela espoleta, a plvora tambm. Alm
pode ser analisada(ROMAO et al., 2011).
Na coleta dos resduos, para confirmao de presena de chumbo, coloca-se tiras
nas mos do suspeito que ao serem borrifadas com soluo acidificada de
rodizonato de sdio, onde em caso de resultado positivo, se apresenta uma
-
21
colorao avermelhada. A reao qumica envolvida no processo consiste na
complexao de ons chumbo pelos ons rodizonato representada na Figura 5:
Figura 5 -Reao para coleta de resduos de chumbo em disparos de armas de fogo (CHEMELLO, 2014)
Segundo os estudos que so submetidos balstica forense, esta pode ser dividida
em: balstica interna, balstica externa e balstica dos efeitos (CRIMINALISTICA
FORENSE, 2015).
a) Balstica interna: campo de estudo dos fenmenos que produzem,
essencialmente, a acelerao do projtil (CRONEMBERGER, 2012).Conhecida
tambm como balstica interior, a parte da balstica que estuda a estrutura,
mecanismos e funcionamento das armas de fogo, o tipo de metal usado na sua
fabricao bem como, a sua resistncia s presses desenvolvidas na ocasio do
tiro (CALVACANTI, 2015).
As armas de fogo (Figura 6) so criteriosamente analisadas nesse ramo da balstica
forense, assim sendo, alm do estudo do funcionamento das armas, da sua
estrutura e mecanismos, este ramo da balstica descreve at mesmo as tcnicas do
tiro (CRIMINALISTICA FORENSE, 2015).
-
22
Figura 6 Armas de fogo e nomenclatura de seus componentes (SCOPEL, 2015).
b) Balstica externa: conhecida tambm como balstica exterior, estuda a trajetria
do projtil (Figura 7), desde a sada da boca do cano da arma at a sua parada final
(repouso) (CAVALCANTI, 2015).
A balstica exterior analisa as condies do movimento, velocidade inicial do projtil,
sua forma, massa, superfcie, resistncia do ar, a ao da gravidade e os seus
movimentos intrnsecos (CRIMINALISTICA FORENSE, 2015).
-
23
Figura 7 Descrio da trajetria de um projtil, comparando entre linha de mira e linha de tiro (Disponvel em:
).
c) Balstica dos efeitos: conhecida tambm como balstica terminal ou balstica do
ferimento, estuda os efeitos gerados pelo projtil desde que abandona a boca do
cano at atingir o alvo (CALVACANTI, 2015).
Dentro dessas divises de estudos de balsticas, exames de eficincia,
metalogrfico, de comparao e de segurana podem ser feitos para que as
evidncias sejam coletadas: (CRIMINALISTICA FORENSE, 2015).
a) Exame de eficincia: tem por finalidade verificar se a arma de fogo eficiente
para a realizao de disparos. Os procedimentos periciais iniciam pela identificao
da arma, descrio de suas caractersticas, avaliao de sua estrutura, testes de
eficincia e avaliao dos resultados (IGP, 2015)
b) Exame metalogrfico: destina-se a recuperao das numeraes de srie
destrudas. A metodologia utilizada consiste em polir a rea a ser investigada e em
seguida aplicar os reagentes qumicos apropriados para a revelao da numerao
(INSTITUTO GERAL DE PERICIAS, 2011).
c) Exame de comparao (Figura 8): visa estabelecer a conexo entre a arma de
fogo e o projtil, entre a arma e o estojo, entre projteis e entre estojos. O
-
24
procedimento pericial adotado segue rotina padronizada no Brasil e no Exterior, com
o emprego de um moderno microscpio comparador auxiliado por processo de
captura de imagens permitindo a anlise em vdeo de alta resoluo (INSTITUTO
GERAL DE PERICIAS, 2011).
Figura 8 - Exame de Comparao (PICHETH, 2015)
d) Exame de segurana: utilizado quando se busca identificar se os mecanismos
de segurana da arma de fogo questionada estoeficientes, assim, esclarecendo as
dvidas quando a possibilidade de disparos acidentais (INSTITUTO GERAL DE
PERICIAS, 2011).
3.2.2 Reaes de Luminescncia em Qumica Forense
Molculas do sangue podem ser excitadas quimicamente por meio de fluorocromos
produzindo luminescncia por reao de oxidao com o grupo heme. Esses testes
em que se utilizam reaes de luminescncia servem para detectar vestgios em
-
25
cenas de crimes em que no h manchas visveis a olho n. Para estas reaes
utiliza-se o composto luminol (5-amino-2,3-di-hidro-1,4-ftalazinadiona) (Figura 9),
que pode ser obtido a partir do cido 3-nitroftlico (PORTAL DA EDUCAO, 2015).
Figura 9 - Reao de sntese do luminol a partir do cido 3-nitroftlico. Em, A)
cido 3-Nitroftlico; B) Hidrazina; C) 5-Nitroftalhidrazina; D) Luminol.
(FREITAS, 2012)
Na cena do crime nem sempre h evidncias visveis de sangue, porm, o luminol
reage com quantidades muito diminutas de sangue. Sua sensibilidade pode chegar
aos impressionantes 1/1.000.000.000, mesmo em locais com azulejos, pisos
cermicos ou de madeira, os quais tenham sido lavados (UNICENTRO, 2015).
A eficcia do produto to grande que possvel a deteco de sangue mesmo que
j tenham se passado seis anos da ocorrncia do crime. A reao qumica produzida
no afeta a cadeia de DNA, permitindo o reconhecimento dos criminosos ou das
vtimas. Por isto, ele recomendado para locais onde h suspeita de homicdio e
superfcies que, aparentemente, no exibem traos de sangue. A Figura 10
apresenta um exemplo de um ambiente com e sem luminol e as marcas de um
calado realadas pela quimiluminescncia do luminol (UNICENTRO, 2015).
-
26
Figura 10 - Exemplo de um ambiente com e sem luminol e as marcas de um
calado (UNICENTRO, 2015).
Ao borrifar o luminol sobre uma mancha de sangue, os grupamentos heme frricos
(Fe3+) perdem mais um eltron e vo para um novo estado de oxidao, formando
dessa maneira intermedirios instveis contendo Fe4+, que ento catalisam
suaoxidao, produzindo assim a luminescncia, enquanto so reduzidos
novamente a Fe3+. De um modo simples, as molculas se livram da energia extra
sob forma de ftons de luz visivel, pois para isso acontecer hemoglobina e o luminol
precisam entrar em contato; o ferro presente na hemoglobina acelera a reao entre
o perxido de hidrognio e o luminol. Nesta reao de oxidao, o luminol perde
tomos de nitrognio e hidrognio e adquire tomos de oxignio, resultando em um
composto denominado 3-aminoftalato. A reao deixa o 3-aminoftalato em um
estado de energia mais elevado, pois os eltrons dos tomos de oxignio so
empurrados para orbitais mais elevados. Os eltrons retornam rapidamente para um
nvel de energia menor, emitindo a energia extra em forma de um fton de luz. A
finalidade deste processo segue demonstrado na Figura 11. (FREITAS, 2012)
Figura 11 - Reao do Luminol (BARBOSA, 2000)
-
27
3.2.2.1 Anlise de Smen
O smen um vestgio secretado pelo homem e pode ser encontrado na forma de
manchas nas roupas, cho, tapetes e outros; nas formas lquida e seca. Aps
secagem. D um efeito engomado aos tecidos (UNICENTRO, 2015).
O estudo dos fluidos seminais na cena do crime est diretamente relacionado
individualizao da evidncia biolgica para confronto com possveis suspeitos. A
coleta de vestgios de smen deve ser feita com a mxima cautela, j que se deve
preservar ao mximo a presena de espermatozides na amostra (PORTAL DA
EDUCAO, 2015).
Os procedimentos que devem ser realizados pela percia forense so:
Verificao se de fato a mancha trata-se de smen ou no;
Identificao da origem (se humano ou no);
Determinao do grupo sanguneo;
Determinao do tipo de ejaculao (se interna ou externa);
Determinaes toxicolgicas (se h ou no presena de drogas);
Exames de DNA
Um teste presuntivo comum utilizado para identificar a possvel presena de
evidncias de smen o teste de fosfatase cida, durante o qual um substrato
qumico vai produzir uma cor quando reage com a enzima fosfatase cida que est
presente no esperma (POCKET MAC LABS, 2014).
Trata-se de um teste presuntivo porque a enzima AP tambm est presente nas
secrees vaginais, de modo que o teste no pode distinguir entre os dois. Para
confirmar a identificao smen, um teste para o antgeno especfico da prstata,
P30 (PSA) protena no smen usualmente realizada, usando mtodos
imunolgicos. Alm disso, os espermatozoides podem ser corados e visualizadas ao
microscpio para confirmar a presena de smen (POCKET MAC LABS, 2014).
A exposio de manchas de smen luz UV pode ser utilizada tambm como
-
28
apenas para uma avaliao preliminar, j que a reao luz UV no exclusiva do
smen. O smen possui altas concentraes da enzima Fosfatase cida em sua
composio, desta forma ao aplicar o reagente Fenolftalena Bifosfato Tetrassdio a
uma mancha suspeita do material a ser analisado, caso seja revelada uma
colorao avermelhada, h comprovao da presena desta enzima (LASAPE,
2015).
A reao de Florence baseada na formao de cristais de iodeto de colina, que se
encontram presentes no esperma sob a forma de fosforil-colina e lecitina. Os cristais
so vistos na forma de lminas rombides de colorao parda (PORTAL DA
EDUCAO, 2015).
Testes confirmatrios como o teste a fresco, tambm podem ser utilizados na
investigao de vestgios de smen. A anlise realizada em microscpio a fresco
para a determinao de espermatozoides, j que a determinao de um
espermatozoide ntegro j suficiente para confirmar a presena de smen. Porm,
no deve descartar o fato de que h muitos homens azoosprmicos, como os que
foram submetidos vasectomia (PORTAL DA EDUCAO, 2015).
3.2.2.2 ANLISE DE SANGUE
Para confirmar a presena de sangue, os cientistas podem usar o testecristalino
chamado de Teichman, no qual cristais de Teichmann, constitudos por cloridratos
de hematina, so adicionados ao sangue,reagem com a hemoglobina e causam a
cristalizao (POCKET MAC LABS, 2014).
Na reao, os cristais de Teichmann so constitudos por cloridratos de hematina,
cuja molcula seria formada pela unio de uma molcula de hematina com molcula
de cido clordrico. Ocorre a eliminao de uma molcula de gua e forma- se o
cristal, como mostrado na Figura 12 (BARBOSA, 2000).
Figura 12 - Reao de Teichman (BARBOSA, 2000)
-
29
Aps a confirmao, os investigadores forenses querem saber se o sangue
humano, e em caso afirmativo, qual o tipo. Para identificar as espcies, pode-se usar
um teste de precipitao imunolgica. Este teste envolve a adio de anticorpos
contra as protenas humanas e da amostra de sangue desconhecida em uma matriz
de gel, que submetida a uma corrente elctrica para permitir sua separao por
eletroforese. Se as amostras de sangue se combinarem forma-se uma linha
(precipitina), identificando a amostra como de origem humana. Posteriormente
feito teste de tipagemsangnea para determinar o tipo de sangue do mancha de
sangue e fator Rh. Para os ensaios de tipagem de sangue, soros anti-A e anti-B so
adicionados para a mancha de sangue e observado para a coagulao, ou
aglutinao (POCKET MAC LABS, 2014).
3.2.2.3 Anlise de Saliva
No existem testes rpidos para localizar manchas de saliva. Se uma mancha ou
fluido suspeita for encontrado, testes laboratoriais podem verificar a presena de
amilase, uma enzima abundante na saliva(POCKET MAC LABS, 2014). Se positivo,
a concentrao de amilase pode ser determinado com ensaios tais como o ensaio
de difuso radial, teste Phadebas ou teste de amido. (NOGUEIRA, 2005)
3.2.2.4 Anlise de Urina
Tal como acontece com saliva, manchas de urina so difceis de encontrar e os
investigadores devem se basear na cor amarela e odor para encontrar uma
correspondncia possvel. Para confirmar a presena de urina, os cientistas usam
testes que identificam ureia, cido rico, creatinina, e de outras substncias
vulgarmente encontrados na urina (POCKET MAC LABS, 2014).
-
30
3.2.3 DNA Forense
O DNA Forense aplicado na identificao de suspeito em casos de crimes sexuais
(estupro, atentado violento ao pudor, ato libidinoso diverso da conjugao carnal);
identificao de cadveres carbonizados, em decomposio, mutilados, etc; relao
entre instrumento lesivo e vtima; identificao de cadveres abandonados; aborto
provocado; infanticdio; falta de assistncia durante o estado puerperal; investigao
de paternidade em caso de gravidez resultante de estupro; estudo de vnculo
gentico: raptos, sequestros e trfico de menores; e anulao de registro civil de
nascimento (DOLINSKY, 2007).
Alm dos cuidados que devem ser tomados com todas as evidncias criminais e
civis, nos casos que envolvem a anlise de DNA, deve-se ter ateno em relao
contaminao das evidncias criminais que contenham material gentico
(DOLINSKY, 2007).
Ao longo de investigaes criminais, os principais materiais submetidos a anlise de
DNA incluem sangue e manchas de sangue; smen e manchas de smen; fios de
cabelo (com raiz); tecidos, ossos e rgos. Outras fontes como urina, saliva e fezes
tambm podem ser analisadas mas deve-se ressaltar que somente clulas
nucleadas servem para genotipagens de DNA nuclear (PARADELA, 2015).
As evidncias localizadas em cenas de crime devem ser, independentemente das
condies, fotografadas antes de tocadas ou movidas. A sua localizao relativa no
ambiente e as condies do material devem ser documentadas atravs de fotos,
filmagem ou, na ausncia destes recursos, por meio de esquemas e relatrios
detalhados. Ao receber as amostras, o laboratrio forense deve verificar e registrar a
presena e o estado do empacotamento, dos selos e etiquetas. Os dados sobre a
evidncia devem ser verificados. Caso se realize algum teste preliminar no material,
este procedimento deve ser registrado (PARADELA, 2015).
O DNA resiste bem ao calor (temperatura de at 100C no o destri), mas existe o
problema da contaminao, que a deposio de material biolgico de outra pessoa
na amostro. Para um controle do material biolgico coletado, faz-se necessrio a
-
31
documentao a identificao de todas as pessoas que ficaram responsveis pela
guarda da amostra (DOLINSKY, 2007).
3.2.4 Coleta das amostras
3.2.4.1 Sangue e Smen
O material biolgico na forma lquida geralmente coletado por absoro. Sangue e
smen ainda lquidos podem ser removidos com o auxlio de uma seringa
descartvel ou uma pipeta automtica, sempre estreis, e transferidos para um tubo
de laboratrio, tambm estril. Quando j coaguladas, as amostras sanguneas
devem ser transferidas ao tubo utilizando-se uma esptula livre de agentes
contaminantes. O sangue lquido coletado deve ser preservado com
anticoagulantes(PARADELA, 2015).
Como na coleta de qualquer amostra biolgica para fins diagnsticos, deve-se
considerar a amostra potencialmente contaminada e utilizar as precaues de
biossegurana padronizadas pela legislao e pelos programas de acreditao
laboratorial. essencial manter o cuidado na identificao da amostra e na garantia
da obteno de todos os dados necessrios (MELO et al., 2010).
Manchas secas de sangue ou smen depositadas em peas de vesturio, lenis e
outros objetos que podem ser removidos para o laboratrio devem ser isoladas e
transportadas na forma em que esto. Em geral este transporte se d em caixas de
papelo fechadas e lacradas, contendo a correta identificao do material. Quando
estas manchas esto localizadas sobre objetos maiores que no podem ser
removidos por inteiro ao laboratrio, a regio contendo o material deve ser cortada
para envio ao laboratrio. Recomenda-se tambm que uma regio sem amostras
evidentes seja tambm retirada a fim de servir como controle para os testes
laboratoriais(PARADELA, 2015).
-
32
3.2.4.2 Tecidos, fios de cabelo, rgos e ossos
Amostras de tecidos so usadas quando no for possvel a coleta de sangue
(paciente falecido), o tecido e o sangue apresentarem diferente gentipo (mutaes
somticas em doenas neoplsicas ou mosaicismos) ou o tecido for a nica fonte de
cidos nucleicos para potenciais agentes infecciosos (MELO et al., 2010).
O ideal o congelamento em nitrognio lquido ou a colocao do tecido em uma
soluo de preservao de cidos nucleicos. Quando isso no for possvel,
recomenda-se que a amostra de tecido seja colocada em banho de gelo e
transportada com gelo para melhor preservao dos cidos nucleicos,
especialmente do RNA. Amostras muito pequenas podem ser embrulhadas em gaze
embebida com salina, a fim de evitar que a amostra resseque (MELO et al., 2010).
Como em todos os casos, quando as evidncias so constitudas de tecidos, fios de
cabelo, rgos ou ossos deve-se descrever o seu estado e fotografar. Este tipo de
material pode ser coletado com o auxlio de instrumentos como bisturis e pinas,
sempre estreis. Cada item deve ser acondicionado separadamente, selado e
identificado. Para os fios de cabelo, deve-se utilizar as amostras contendo raiz.
(PARADELA, 2015).
3.2.4.3 - Saliva, urina e outros fluidos corporais
Amostras de urina ou saliva na forma lquida devem ser transferidas para garrafas
plsticas ou de vidro estreis. Preferencialmente, o material deve ser isolado de
fontes de luz e armazenado em refrigerador. Se as amostras estiverem na forma de
manchas, pode-se proceder conforme descrito para manchas de sangue e smen
(PARADELA, 2015).
Volume das amostras, tempo desde a ltima mico, presena de inflamao e
outros fatores podem afetar a obteno de cidos nucleicos. No caso da urina, o
tempo da amostra e a temperatura ambiente deve ser minimizado, j que o pH baixo
e a alta quantidade de ureia rapidamente degradam o DNA, especialmente acima de
-
33
25C. Caso exista necessidade de armazenamento das amostras, esta deve ser
congelada a -70C, mas, mesmo assim, pode haver diminuio da capacidade de
detectar alguns microrganismos (MELO et al., 2010).
3.2.5 Exame Comparativo de DNA
O DNA pode ser extrado de uma pequena amostra de qualquer material biolgico,
como sangue, cabelo, unha, smen, saliva, urina. O exame de DNA d-se de forma
comparativa (Figura 13), ou seja, de cada uma das amostras so selecionados
trechos significativos do DNA (locus)(PARADELA, 2015).
Figura 13 - Exemplo de Teste Comparativo (Disponvel em:
)
No mnimo, so 13 loci so analisados verificando-se o comprimento das sequencias
das bases do DNA (alelos). A partir disso, so gerados perfis de DNA que so
comparados entre si. A relao entre os alelos que vai mostrar se existe vinculo
gentico familiar ou no. Depois, so realizados clculos estatsticos para estimar o
nmero de vezes em que esse perfil ocorre na populao. A possibilidade de que
duas pessoas tenham as mesmas sequencias dos trechos de DNA estimada em
uma em seis bilhes (DOLINSKY, 2007).
-
34
3.2.6 Papiloscopia
A papiloscopia a cincia que trata da identificao humana atravs das papilas
drmicas (salincias da pele) existentes na palma das mos e na sola dos ps, mais
conhecida pelo estudo das Impressesdigitais (AGENCIA BRASIL, 2015).
Se baseia em alguns princpios fundamentais, os quais esto relacionados com a
identificao humana. O princpio da perenidade, descoberto em 1883 pelo
anatomista holands Arthur Kollman, diz que os desenhos datiloscpicos em cada
ser humano j esto definitivamente formados ainda dentro da barriga da me, a
partir do sexto ms de gestao. O princpio da imutabilidade, por sua vez, diz que
este desenho formado no se altera ao longo dos anos, salvo algumas alteraes
que podem ocorrer devido a agentes externos, como queimaduras, cortes ou
doenas de pele, como a lepra. J o princpio da variabilidade garante que os
desenhos das digitais so diferentes, tanto entre pessoas como entre os dedos do
mesmo indivduo, sendo que jamais sero encontrados dois dedos com desenhos
idnticos. Como praticamente impossvel existir duas pessoas com a mesma
digital, e tambm pelo fato da existncia de um reduzido nmero de tipos
fundamentais de desenhos possvel, via de regra, classificar uma impresso digital
(CHEMELLO, 2014).
Esta cincia dividida em cinco reas:
- Datiloscopia: processo de identificao por meio das impresses digitais);
- Quiroscopia: identificao das impresses palmares;
- Podoscopia: identificao das impresses plantares;
- Poroscopia: identificao dos poros
- Critascopia: identificao das cristas papilares (AGUIAR, 2015).
O mtodo da papiloscopia prtico, pois obter impresses digitais um
procedimento relativamente simples, rpido e de baixo custo quando comparado aos
outros mtodos, uma das razes que muito usado em investigaes, e tambm
muito utilizados pelos peritos papiloscopistas, pois tudo no homem se modifica com
-
35
o passar do tempo, menos os desenhos na palma das mos e na extremidade dos
dedos, at mesmo em cadveres (AGUIAR, 2015).
3.2.7 Tcnicas para Revelao de Digitais
Existem diversas tcnicas para coleta de fragmentos papilares no local do crime. A
percia, quando entra na cena de um crime, observa vrios aspectos. No que diz
respeito ao assunto, a observao de objetos deslocados da sua posio original
pode revelar vestgios papilares nos objetos que apresentam superfcie lisa ou
polida. A estes vestgios se d o nome de Impresses Papilares Latentes (IPL), que
podem confirmar ou descartar a dvida de quem estava na cena do crime. H
basicamente dois tipos de IPL: as visveis e as ocultas. As visveis podem ser
observadas se a mo que as formou estava suja de tinta ou sangue. J o princpio
da variabilidade garante que os desenhos das digitais so diferentes, tanto entre
pessoas como entre os dedos do mesmo indivduo, sendo que jamais sero
encontrados dois dedos com desenhos idnticos. Como praticamente impossvel
existir duas pessoas com a mesma digital, e tambm pelo fato da existncia de um
reduzido nmero de tipos fundamentais de desenhos possvel, via de regra,
classificar uma impresso digital. (CHEMELLO, 2014).
Algumas substncias qumicas, caractersticas da excreo humana podem ser
identificadas e associadas a uma cena criminal.Para se revelar uma impresso
digital com sucesso preciso escolher um agente qumico ou fsico que reaja com
os componentes orgnicos, inorgnicos, citoplasma e substncias gordurosas
liberados pelas glndulas da pele crinas, sebceas e apcrinas sem contaminar
a superfcie onde a impresso se encontra (AGENCIA BRASIL, 2015). A Tabela 1
relaciona as principais substncias presentes no suor humano e as glndulas que as
excretam.
-
36
Tabela 1 Substncias qumicas caractersticas da excreo humana que podem ser identificados e associados a uma cena criminal (PEREIRA, 2010).
Entre algumas substncias qumicas que podem ser citadas a este propsito esto:
cianoacrilato, ninidrina, amido black, nitrato de prata e diazafluorenona (DFO),
violeta genciana, P fluorescente e decaldador de gelatina(CHEMELLO, 2014).
No uso de cianoacrilato, que o reagente mais utilizado nas investigaes, os
vapores de cianoacrilato reagem com a umidade das impresses digitais e muito
til sobre a maioria das superfcies no porosas, como plsticos, metais, vidros e
papis plastificados (Figura 14 e 15). Tambm produz excelentes resultados em
Glndula Compostos Inorgnicos Compostos Orgnicos
Sudorparas
Cloretos
ons metlicos
Amnia
Sulfatos
Fosfatos
gua
Aminocidos
Uria
cido ltico
Acares
Creatinina
Colina
cido rico
Sebceas
cidos graxos
Glicerdeos
Hidrocarbonetos
lcoois
Apcrinas
Ferro
Protenas
Carboidratos
Colesterol
-
37
isopor e sacolas plsticas apresentar a reao do cianoacrilato com umidade
(CHEMELLO, 2014).
Na reao, o vapor de cianoacrilato de etila resulta em uma camada polimrica
branca no formato da impresso digital, a revelando (ANDRADE, 2015).
Figura 14 - Reao de cianoacrilatos (ANDRADE, 2015)
Figura 15 - Digital revelada por cianocrilato (ANDRADE, 2015)
A ninidrina, outro reagente muito usado, baseia-se na reao com os aminocidos e
assim capaz de revelar impresses papilares que foram depositadas h at 50
anos, especialmente quando deixadas sobre papel. excelente para superfcies
porosas. Reao representada na figura 1 (CHEMELLO, 2014).
-
38
J no caso de uso de nitrato de prata, a reao acontece com cloretos e sais de
secrees da pele (Figura 16). Muito empregado para revelar impresses em
papelo, papel jornal e madeira. (SEBASTIANY et al., 2013).
Figura 16 - Reao para revelaes de digitais com Nitrato de Prata
(SEBASTIANY et al., 2013).
Com exceo dos cloretos de prata, mercrio e chumbo, todos os outros so
solveis em gua. exatamente uma destas excees, o cloreto de prata, que
permite a visualizao da IPL. Na figura acima, XCl(aq) representa qualquer sal de
cloro excetuando os j mencionados , como o cloreto de sdio dissolvido
[NaCl(aq)] (CHEMELLO, 2014)
3.2.7.1 - Tcnica do p
A tcnica do p a mais utilizada entre os peritos. Nasceu juntamente com a
observao das impresses e sua utilizao remota ao sculo dezenove e continua
at hoje. usada quando os vestgios se localizam em superfcies que possibilitam
o decalque da impresso, ou seja, superfcies lisas, no rugosas e no adsorventes.
A tcnica do p est baseada nas caractersticas fsicas e qumicas do p, do tipo de
instrumento aplicador e, principalmente, no cuidado e habilidade de quem executa a
atividade. As composies qumicas dos ps mais utilizados na tcnica do p so
apresentadas na Figura 17 (LIMA, 2014).
-
39
Figura 17 - Composio qumica dos ps reveladores de IPL (Pereira, 2010)
Esta tcnica tem como principais vantagens seu baixo custo e sua simplicidade de
aplicao. Vale lembrar que as cerdas do pincel podem danificar a IPL. Alm dos
pincis, a tcnica tambm pode ser realizada com spray de aerossol ou atravs de
um aparato eletrosttico. A Figura 18 ilustra uma digital revelada com p negro de
fumo (LIMA, 2014).
Figura 18 - Digital revelada com p negro de fumo (GMSM, 2015).
50 % xido de ferro xido de ferro 25 % Resina % Negro 25 - de - fumo P DE COR PRETA 45 % Dixido de mangans Dixido de mangans % xido de ferro 25 25 % Negro - de - fumo % Resina 05 % Negro 60 - de - fumo Negro - de - fumo 25 % Resina 15 % Terra de fuller % xido de titnio 60 xido de titnio 20 % Talco 20 % Caulin P DE COR BRANCA % Carbonato de chumbo 80 15 % Goma arbica Carbonato de chumbo % Alumnio em p 03 02 % Negro - de - fumo
-
40
Um exemplo claro que esta tcnica funciona foi o caso que ocorreu em junho de
2001, foi executado em Indiana, nos Estados Unidos. Esse foi o desfecho de uma
das investigaes criminais mais famosas daquele pas nos ltimos anos. Timothy
James McVeigh e Terry Nichols foram condenados pela exploso de uma bomba
num prdio do governo em Oklahoma City, em 1995. O atentado matou 168pessoas.
Durante o julgamento de McVeigh, em 1997, alm dos depoimentos de pessoas que
diziam t-lo visto planejando o crime, ou que testemunharam seu dio contra as
instituies americanas, apenas duas evidncias fsicas foram apresentadas. Duas
impresses digitais. Uma num recipiente contendo nitrato de amnia a mesma
substncia utilizada na fabricao da bomba encontrado em sua casa e outra
deixada na caminhonete que explodiu na frente do prdio em Oklahoma
(LIMA,2014).
3.3 EXAMES LABORATORIAIS
Aps a etapa de coleta de vestgios, cabe ao perito criminal proceder anlise
laboratorial dos mesmos (Figura 19). Tais anlises podem ser realizadas utilizando-
se mtodos fsicos e qumicos. (OLIVEIRA, 2006)
Como exemplos de mtodos fsicos, podem ser citados: a pesagem de peas e
amostras, a determinao de ponto de fuso de substncias slidas, visualizao de
elementos ocultos utilizando-se lentes de aumento (lupas e microscpios ticos) e
fontes de luzes especiais (ultravioleta e polarizada), dentre outros. (OLIVEIRA,
2006).
Quando a determinao da natureza de uma substncia qumica torna- se
necessria, ou quando existe a necessidade de deteco de traos de determinadas
substncias qumicas de interesse forense, torna-se imprescindvel a utilizao de
mtodos qumicos de anlise (OLIVEIRA, 2006), sendo tais anlises qumicas o
tema principal deste trabalho
-
41
Figura 19 - Laboratrio para realizao de procedimentos (REAL, 2014).
-
42
4. A CINCIA FORENSE COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE
QUMICA
4.1. INTRODUO
Com o crescimento de seriados televisivos demonstrando as tcnicas e estratgias
que so usados por Cientistas Forenses usam nas investigaes criminais, se torna
uma oportunidade em demonstrar o uso didtico de algumas dessas tcnicas em
sala de aula, devido que a cincia forense ser uma rea interdisciplinar, que envolve
fsica, biologia, medicina, qumica, matemtica (UNICENTRO, 2015).
A demonstrao visual, desperta o interesse do jovem aluno, sendo uma importante
arma na busca de obter o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, trazendo uma
nova tcnica para o aprendizado(ROSA; SILVA; GALVAN, 2013).
A prtica de identificao de sangue totalmente vivel para a aplicao no ensino
mdio em virtude dos simples materiais e reagentes utilizados, que so de fcil
acesso e encontram-se presentes em grande quantidade nos laboratrios
escolares(ROSA; SILVA; GALVAN, 2013).
O sangue um vestgio frequentemente encontrado em cenas de homicdio e outros
crimes com envolvimento de violncia fsica.Muitas vezes, no se consegue vincular
o suspeito mancha de sangue encontrada, mas o resultado negativo de tal
confronto til para descartar o envolvimento de um cidado (JUNIOR, 2015).
Para possibilitar o aluno a visualizar um trabalho de um cientista forense, onde a
prtica em campo mais usado na investigao de vestgios de sangues na
investigao, utilizaremos o Reagente de Kastler Meyer para a identificao de
sangue.
O sangue, aosair do organismo, degrada-se. A hemoglobina oxida-se, o tomo de
ferro muda de heme para hemina ou hematina, o qual ocasiona alterao da cor da
mancha de sangue de vermelha para marrom.No estado frrico, o grupo heme
possui atividades catalticas e capacidade de participar em reaes redox como um
-
43
grupo de enzimas chamadas peroxidases. Essa atividade empregada como base
dos testes presuntivos para identificao de sangue. Neste teste a hemoglobina
presente nas hemcias decompe o perxido de hidrognio (funciona como
peroxidase) em gua e oxignio nascente. Ento, este oxignio promover a forma
colorida da fenolftalena, evidenciando a amostra de sangue.As reaes de
formao do reativo de Kastle-Meyer, de ionizao da fenolftalena e reao dos
mesmos com o sangue, esto demonstrados na Figura 20.
Figura 20 - Reao Qumica do Reagente Kastler Meyer (CHEMELLO, 2015)
-
44
4.2 METODOLOGIA
4.2.1 Preparo do Reagente de Kastle Meyer
Em um recipiente, adicionar 20 g de NaOH com 90 ml de gua destilada. Aps isso,
adicionar 1 g de fenolftalena e 10 ml de etanol e agitar at a dissoluo dos
reagentes.Em fogo brando, adicionar 20 g de p de zinco metlico, e aquecer at o
desaparecimento da cor rsea da soluo.
4.2.2 Revelao de Manchas de Sangue Utilizando o Reagente de Kastle Meyer
Utilizando uma haste flexvel umedecido em soro fisiolgico ou gua destilada,
passe em mtodo de esfregao na amostra de sangue. Em seguida, pingue uma
gota do reagente de Kastle-Meyer na haste flexvel, seguido de uma gota de gua
oxigenada (5%). Quase instantaneamente, ocorrer uma mudana de colorao no
algodo. Uma cor vermelha intensa poder ser visualizada, indicando a presena de
sangue.
-
45
5. A QUMICA ANALTICA NO CONTEXTO DOS PROCESSOS INVESTIGATRIOS DE CRIMES E DROGAS DE ABUSO
Dentro das Cincias Forenses, a Qumica Forense, tem por objetivo a realizao de
exames laboratoriais em vrios tipos de amostras orgnicas e inorgnicas
encaminhadas para fins periciais, a pedido de autoridades policiais, judicirias e/ou
militares. A anlise toxicolgica para evidenciar o uso de drogas de abuso pode ser
realizada em diferentes amostras biolgicas, como urina, sangue, cabelo, saliva
entre outras (GOMES, 2011). H tambm metodologias eficientes para a
identificao de suspeitos em ocorrncias criminais, um exemplo seria a utilizao
de reativos qumicos para a identificao de traos de resduos de tiros, exploses,
incndios, fibras, solos, que em muitas vezes estes resduos apresentam uma
complexidade na sua composio, dificultando uma anlise quantitativa
completa.Apesar das tcnicas utilizadas serem consagradas, necessria uma
evoluo permanente destas metodologias, de modo a se obter de forma mais
eficiente resultados confiveis dos materiais encontrados (REIS et al., 2014).
O uso de substncias psicotrpicas, normalmente derivadas de plantas, na busca de
experincias religiosas ou mesmo de prazer e bem-estar, remete a humanidade s
prprias origens. Tais drogas atuam no sistema nervoso central (SNC), modificando
o humor, a conscincia, os sentimentos, as sensaes, o estado de viglia, dentre
outros. Porm, o uso abusivo, inconsequente e indiscriminado um fenmeno mais
recente e cada vez mais disseminado nas sociedades contemporneas (ROMAO et
al., 2011).
A maioria dos mtodos desenvolvidos para identificar a presena de drogas de
abuso em dependentes qumicos aplicada a uma destas classes de compostos,
onde vrios procedimentos de preparo de amostras, um maior tempo de anlise, ou
vrias corridas cromatogrficas podem ser necessrios. Dessa forma, mtodos
alternativos e mais eficientes que atendam a todas as classes de drogas so cruciais
para o sucesso da toxicologia forense (MOTA; DI VITTA, 2014).
-
46
5.1. TCNICAS CROMATOGRFICAS PARA QUANTIFICAO DE
DROGAS E SEUS CONSTITUINTES
5. 1. 1. Cromatografia
A cromatografia um mtodo fsico-qumico de separao. Ela est fundamentada
na migrao diferencial dos componentes de uma mistura, que ocorre devido a
diferentes interaes. A separao cromatogrfica baseada na distribuio dos
componentes entre uma fase estacionria e uma fase mvel. Esta separao resulta
das diferenas de velocidade dos componentes arrastados pela fase mvel devido
s diferentes interaes com a fase estacionria, onde passa a mistura, havendo
interaes diferentes entre seus componentes (soluto) com as respectivas fases. A
fase estacionria fixa (se a separao for feita em coluna, a fase estacionria fica
fixada a coluna), sendo um material poroso, slido ou lquido viscoso. J a fase
mvel pode ser lquida ou gasosa, a qual se move atravs da coluna (MOTA; DI
VITTA, 2014).
Atravs do clculo do tempo de reteno de um determinado analito sobre um
determinado tipo de cromatografia, possvel comparar e chegar identidade da
espcie presente na mistura analisada. Existe a possibilidade tambm da juno dos
cromatgrafos e de espectrmetros, os quais juntos potencializam o trabalho,
levando a resultados mais rpidos nas anlises realizadas (MOTA; DI VITTA, 2014).
Devido alta preciso e confiabilidade dessas tcnicas, elas so muito utilizadas na
deteco ou separao de substncias que esto em pequenas quantidades em
uma mistura. Assim, na rea forense a cromatografia tem grande utilizao na
toxicologia, dosando drogas de abuso e auxiliando a elucidar crimes (GOULART et.
al., 2012).
Os principais mtodos cromatogrficos utilizados na rea forense so: cromatografia
de camada delgada (CCD), cromatografia gasosa (CG) e cromatografia lquida de
-
47
alta eficincia (CLAE) (ANDRADE et. al., 2010).
As tcnicas cromatogrficas so de larga aplicao em qumica e bioqumica, na
pesquisa e na indstria. Estas tcnicas cromatogrficas variam desde as de extrema
simplicidade, que podem ser facilmente manipuladas por no peritos, at as de alta
sofisticao, usadas por especialistas. Entre esses dois extremos existem muitas
variaes de maior ou de menor complexidade. Entre os mtodos modernos de
anlise, a cromatografia ocupa um lugar destaque devido a sua facilidade em efetuar
a separao, identificao e quantificao das espcies qumicas, por si mesmo ou
em conjunto com outras tcnicas, como por exemplo, quando acoplada a
espectrofotometria ou a espectrometria de massas (RONSANI, 2010).
5.1.2. Cromatografia Camada Delgada (CCD)
A cromatografia em camada delgada uma tcnica de adsoro lquido-slido, na
qual a separao se d pela diferena de afinidade dos componentes de uma
mistura pela fase estacionria. Est embasada na separao de substncias por
meio das suas diferentes velocidades de migrao em razo da afinidade relativa
com solventes, fixando-se numa fase slida. A CCD um mtodo simples, rpido e
econmico, sendo a tcnica predominantemente escolhida para o acompanhamento
de reaes orgnicas (GOULART et al., 2012).
A CCD tem vrias aplicaes importantes, tais como: estabelecer se dois compostos
so idnticos, verificar a pureza de um composto (complexidade e muitas vezes a
natureza), determinar o nmero de componentes em uma mistura, determinar o
solvente apropriado para separao em uma coluna cromatogrfica, monitorar a
separao de uma mistura em uma coluna cromatogrfica ou acompanhar o
progresso de uma reao. um mtodo extremamente conveniente, pois uma
tcnica rpida, reproduzvel e necessita apenas uma quantidade muito pequena de
amostra (1-100mg) (ANDRADE et al., 2010).
Neste mtodo a fase estacionria uma camada fina formada por um slido
granulado (slica, alumina e poliamida) depositado sobre uma placa que deve atuar
-
48
como suporte inerte. Na CCD gotas da soluo a ser separada so aplicadas em um
ponto prximo ao extremo inferior da placa. Aps a secagem da placa, ela
colocada em um recipiente contendo a fase mvel, de modo que somente sua base
fique submersa (GOULART et al., 2012).
O solvente comea a molhar a fase estacionria e sobe por capilaridade. Aps o
deslocamento da fase mvel, deixa-se a placa secar, e posteriormente realizada a
revelao da placa com reativos que dem cor as substncias de interesse. O
parmetro de maior importncia na CCD o fator de reteno, que a razo entre a
distncia percorrida pela substncia e a distncia percorrida pela fase mvel. Esse
fator determinar se a substncia analisada confere com a substncia padro
(GOULART et al., 2012).
5.1.2.1 Anlise de Aldicarb
O Aldicarb trata-se de substncia do grupo dos carbamatos, presente no produto
comercial Temik, com finalidade inseticida e nematicida, sendo formulado pela
impregnao de grnulos de gesso com soluo de aldicarb e um agente de liga,
recebendo ainda uma camada de cobertura. Tal formulao visa reduo da
formao de poeira e conseqente risco de exposio por via cutnea. Assim, o
produto apresenta-se na forma de grnulos de cor cinzaescuro. O aldicarb na forma
de grnulos amplamente encontrado no comrcio irregular sob o nome
chumbinho, sendo indevidamente utilizado como raticida (SABINO, 2015).
O diagnstico da intoxicao por aldicarb embasado, via de regra, na avaliao
clnica e na medida da atividade das colinesterases plasmtica e eritrocitria. A
possibilidade do emprego de anlise qumica para a identificao do agente txico
no material biolgico de indivduos intoxicados pode auxiliar o clnico na presteza do
atendimento ao paciente e no estabelecimento de medidas de preveno, alm de
ser indispensvel em situaes que envolvam litgios (XAVIER, 2007).
O material (alimento) supostamente contaminado e recebido nestas condies
apresenta caractersticas diversas, podendo ser essencialmente lquido (caf, leite,
sopas, sucos e outras bebidas) ou slido (carne crua ou preparada, biscoitos
-
49
recheados, confeitos etc) (XAVIER, 2007).
No trabalho de (XAVIER, 2007), foram utilizados amostras de suco gstricos de ces
e gatos supostamente mortos por intoxicao de aldicarb, utilizando mtodo analtico
qualitativo com cromatografia de camda delgada. Foram utilizados 50 amostras de
suco gastrico de gatos e ces mortos supostamente por intoxicao de aldicarb,
adicionou-se a soluo com a amostra diclorometano, acetona, ter de petrleo,
cloreto de sdio, sulfato de sdio anidro, cloreto de platina e iodeto de potssio.
As amostras foram homogeneizadas com basto de vidro, mantidas em temperatura
ambiente por 60 minutos e submetidas metodologia analtica.
Os resultados mostraram que em todas as amostras demonstraram a presena de
aldicarb, e, como foram feitas em vrias solues, demonstrou-se capaz de
identificar amostras de aproximadamente 10g/g de amostra.
5.1.3 - Cromatografia Liquida de Alta Eficiencia (HPLC)
A cromatografia lquida de alta eficincia (HPLC) uma tcnica responsvel por
grandes avanos na rea cromatogrfica. A HPLC utiliza suporte com partculas
diminutas responsveis pela alta eficincia, sendo um mtodo adequado para
separao de espcies inicas e macromolculas. Devido utilizao de colunas
com grande capacidade de separao a realizao da HPLC requer a utilizao de
equipamentos especficos, com o uso de bombas e colunas que suportem altas
presses necessrias para eluio da fase mvel. Assim a realizao da HPLC
necessita da utilizao de um cromatgrafo (Figura 21 e 22) composto de bomba,
coluna cromatogrfica, detector e registrador (GOULART et al., 2012).
-
50
Figura 21 - Cromatgrafo lquido de alta eficincia (Disponvel em:
http://gepronas.ufsc.br/infraestrutura-3/equipamentos/)
Figura 22 - Instrumentao da Cromatografia lquida de alta eficincia (JESUS, 2015).
A cromatografia lquida de alta eficincia (HPLC) um mtodo onde a fase mvel
um lquido que passa sob alta presso no interior da fase estacionria para
assegurar um fluxo constante e assim, garantir uma separao mais eficiente do que
outros mtodos de cromatografias liquidas (TONHI et al., 2002). A fase mvel deve
ser um solvente que dissolva a amostra sem que qualquer interao qumica ocorra
-
51
entre ambas. A fase estacionria dever ser compatvel com o detector, possuindo
polaridade adequada para permitir a separao adequada dos componentes da
amostra. J a coluna cromatogrfica deve ser confeccionada de material inerte e
que resista a altas presses. Por fim os detectores devem apresentar ampla faixa de
aplicao, sendo que os mais utilizados so os espectrais (GOULART et al., 2012).
A tcnica tem como vantagem a sua adaptabilidade para determinaes
quantitativas com boa sensibilidade, a possibilidade de separar espcies no
volteis e termicamente instveis (TONHI et al., 2002).
5.1.3.1Aplicaes da Cromatografia Lquida de Alta Eficincia Anlise Forense
5.1.3.1.1 Analise Ecstasy
O composto 3,4-metilenodimetoxianfetamina (MDMA), um dos componentes ativos
mais encontrados no mercado do ecstasy, um derivado anfetamnico, classificado
como droga alucingica. Alm do MDMA, outras anfetaminas, seus derivados e
compostos como cafena, aspirina e paracetamol so normalmente encontrados.
Portanto, o termo ecstasy normalmente usado quando se refere a droga na forma
como ela vendida, onde a sua composio total desconhecida (ROMO et al.,
2011).
Segundo a ONU, o aumento no nmero de apreenses de determinada classe de
drogas de abuso indicativo do aumento no consumo desta substncia. Este
crescente aumento no consumo est na vantagem de como uma droga sintetica,
no precisa de espao para o cultivo, como outras drogas, e de que a sntese da
MDMA so relativamente simples e de fcil camuflagem, pois os comprimidos
podem ser de qualquer formato, cor e tamanho(ROMAO et al., 2011).
-
52
Figura 23 - Sintese mdma (Disponvel em: <
http://www2.dq.fct.unl.pt/cadeiras/qpn1/molweb/2002/ecstasy/S%C3%ADntese
%20do%20Ecstasy.htm>).
O trabalho de Costa et al. (2009) descreve a determinao de 3,4-
metilenodioximetanfetamina (MDMA) em comprimidos deEcstasypor cromatografia
lquida de alta eficincia com deteco por fluorescncia.
Em 47 comprimidos com resultado positivo em MDMA divididos por suas
caractersticas fsicas, foram triturados completamente e adicionados metanol, e
aps a soluo, uma alquota de 1 ml foram transferidas para um balo volumtrico
de 100 ml e completou-se com agua e assim feito a anlise(COSTA et al., 2009).
A importncia de se fazer a anlise em cromatografia lquida de alta eficincia que
as substncias so termolbeis e sofrem degradao no bloco de injeo do
cromatgrafo a gs, e assim teriam que ser necessrios outros tipos de reaes de
derivatizao, o que implicaria em um custo e tempo de anlise maiores(COSTA et
al., 2009).
Os resultados obtidos mostram que nos comprimidos h variao em nveis de
MDMA, o que evidenciado na comparao entre outros lotes, o que prova que
-
53
no existe controle na produo dos comprimidos. Esta anlise mostra que caso
uma pessoa tenha uma grande variao no consumo da droga, e se h uma
mudana no fornecedor, est pode aumentar o nvel de intoxicao de forma
drstica, levando a uma superdosagem(COSTA et al., 2009).
Outra forma de identificao de MDMA em comprimidos de ecstasy foi feito pela
anlise de EASI-MS, no trabalho descrito por Romo et al. (2011), onde um spray de
cido frmico em metanol preparado, sob uma vazo de 20 L min-1 e uma
presso de 7 bar, onde o angulo entre a entrada do espectrofotmetro e a fonte de
ionizao foi de 45. O tempo de cada anlise foram de aproximadamente 10
segundos.Os resultados demostram que em dez replicatas de corridas
cromatogrficas que as solues padres de MDMA tiveram valor de 3,0 g com
variao de 0,2. Assim demonstra uma tcnica bem conceituada na anlise de
comprimidos de Ecstasy.
5.1.3.1.2. Anlise de Cocana
A cocana um alcalide encontrado e isolado de folhas do vegetal Erytroxylum
coca Lam, um arbusto ramificado originrio da zona tropical dos Andes. Ilegal em
vrios pases do mundo, a cocana pode ser comercializada, principalmente sob
duas formas: a) na forma de cloridrato; ou b) na forma de base livre (pasta base,
cocana base livre, merla, free-base e crack). A principal diferena entre as formas
est na via de administrao: o cloridrato, normalmente um p branco e cristalino,
adminstrado por via intravenosa e por inalao intranasal, j a cocana base livre
administrado via intrapulmonar, por apresentar baixo ponto de fuso e volatilizar-se
em torno de 95C (ROMO et al., 2011)
Com um menor custo do que o cloridrato de cocana, a pedra ou crack hoje uma
das drogas em grande expanso no mercado ilcito, principalmente entre os
indivduos de classes populacionais de menor poder aquisitivo (ROMO et al., 2011)
.
No trabalho de OLIVEIRA et al. (2009) foram analisadas amostras de cocana e
-
54
crack para determinao de padres de cocaina purificados na tcnica de
cromatografia lquida de alta efiencincia, onde foram dissolvidas em acetonitrila e
divididas em diferentes volumes e padres.
Os resultados demonstraram presena de cocana em todas as amostras
analisadas, com teores nas amostras de cocana entre 37,4% e 95,6% e nas de
crack 13,6% e 21,6% demonstrando o menor teor de crack em relao com cocana,
como esperado. Alm disso, a tcnica se mostrou boa repetibilidade e acuracidade,
alm de uma alta frenquencia nas anlises, cerca de 80 anlises/dia (OLIVEIRA et
al.,2009).
5.1.3.1.3Anlise de cido Lisrgico
A dietilamida do cido lisrgico (LSD) uma substncia semissinttica, produzida a
partir do cido lisrgico, alcalide produzido pelo Claviceps purpurea, fungo
pertencente ao gnero Claviceps, que representa um grupo de ascomicetos
patognicos. Pode ser sintetizado por diversas rotas, partindo-se do cido lisrgico
natural ou produzido a partir da ergometrina ou ergotamina (LORDEIRO, 2011).
O LSD considerado uma das substncias psicotrpicas mais potentes, ingerido
de forma oral e encontrando geralmente em forma de selos de papel ou
comprimidos, em concentraes entre 25 e 150 g da substncia (LORDEIRO,
2011).
Na determinao para quantificar o LSD em selos por Marinho e Leite (2010), foi
utilizada a tcnica de cromatografia liquida de alta eficincia, onde a soluo com
amostras foi adicionado de acetonitrilo e carbonato de amnio. O mtodo
apresentou boa linearidade e preciso, assim como limites e seletividade em
diferentes nveis de concentraes.
Os resultados obtidos mostraram linearidade de preciso sastifatria, com limites de
deteco e quantificao de 0,01 e 0,05 g LSD/selo e mdia de 67,55 g de
LSD/selo, comprovando que a tcnica apresentou um desempenho satisfatrio para
determinao de LSD.
-
55
5.1.4. Cromatografia gasosa
A cromatografia gasosa(CG) uma das mais importantes tcnicas analticas
disponveis atualmente. Em curto espao de tempo tornou-se a principal tcnica
para separao e determinao de compostos volteis e/ou volatilizveis. O poder
de resoluo excelente alcanado permite a determinao de dezenas de
compostos diferentes em matrizes complexas.Outro diferencial da tcnica vem a ser
sua grande sensibilidade e elevada detectabilidade.A cromatografia gasosa pode ser
aplicada em amostras gasosas, lquidas ou slidas, desde que os analitos sejam
volteis ou possam ser volatilizados sem sofrer decomposio trmica (PENTEADO;
MAGALHES; MASINI, 2008).
A CG uma tcnica muito utilizada para a identificao de vrias sustncias em
uma mesma amostra por ter uma alta sensibilidade. Essa sensibilidade faz com que
a quantidade de amostra a ser utilizada seja pequena (em g). Essa tcnica
apresenta algumas desvantagens, pois depende da volatilidade do analito, mas
como vantagem, apresenta elevada capacidade de separao e operacionalmente
simples (RONSANI, 2010).
Em linhas gerais, os principais componentes de um cromatgrafo a gs so: cilindro
de gs (1), controlador de vazo (2), injetor (3), coluna (4), detector (5), aquisio de
dados (6) e sistema de controle do instrumento (7) (RONSANI, 2010) (Figuras 24 e
25).
Figura 24 -Cromatgrafo Gasoso (SHIMADZU, 2015)
http://www.shimadzu.com.br/analitica/produtos/gc/gcxgc-qms.shtml).
-
56
Figura 25 - Instrumentao de Cromatografia Gasosa (RONSANI, 2010).
A amostra introduzida no injetor aquecido (com o auxlio de uma micro-seringa),
onde vaporizada e transferida com o auxlio do gs de arraste para a coluna
cromatogrfica colocada dentro de um forno pr-aquecido. Os componentes da
amostras so eludos e conduzidos para o detector conectado na sada da coluna. O
detector emite um sinal eltrico que registrado graficamente sob a forma de picos
(PENTEADO; MAGALHES; MASINI, 2008).
A cromatografia gasosa classifica-se, de acordo com a natureza da fase
estacionria, em cromatografia gs-slido (CGS) e cromatografia gs-lquido (CGL).
Na cromatografia gs-slido (CGS), a fase estacionria um slido com uma grande
rea superficial e a separao baseia-se em mecanismos de adsoro das
substncias neste slido. A CGS usada principalmente na anlise de gases
permanentes e compostos apolares de baixa massa molecular (RONSANI, 2010).
Na cromatografia gs - lquido (CGL) a fase estacionria um lquido pouco voltil,
recobrindo um suporte slido ou as paredes de colunas capilares. A separao
baseia-se em mecanismos de partio das substncias entre a fase lquida e a fase
-
57
gasosa. A utilizao CGL corresponde cerca de 95% do total de aplicaes
(RONSANI, 2010).
5.1.4.1. Aplicao da Cromatografia Gasosa Anlise Forense
5.1.4.1.1 Anlise de Etanol no Sangue
O etanol o constituinte essencial de bebidas alcolicas e, certamente, a droga de
abuso mais antiga dentre as conhecidas hoje. Atualmente, o consumo abusivo de
lcool se configura como um dos maiores problemas de sade pblica no mundo
(AKKARI, 2015).
A determinao de etanol em sangue uma das anlises mais frequentes e
importantes realizadas pelos laboratrios de toxicologia clnica e forense, com nvel
mximo aceitvel em sangue de 0,2 g/L, determinado pela legislao brasileira para
a conduo de veculos.Alm do etanol, outros compostos volteis de relevncia
toxicolgica tambm devem ser determinados em amostras biolgicas. Os lcoois
metanol e isopropanol tambm so depressores do sistema nervoso central, com
nveis txicos inferiores ao do etanol, responsveis por diversas intoxicaes fatais
(FELTRACO; ANTUNES; LINDEN, 2009).
A deteco e quantificao do etanol so de grande importncia tanto para
pesquisas como para a prtica clnica, mbito forense, monitorizao do uso de
lcool no ambiente ocupacional e em outras situaes onde o consumo de lcool
inadequado (AKKARI, 2015).
Na anlise de Feltraco, Antunes e Linden (2009), onde procurou a determinao de
acetaldedo, metanol, etanol, acetona e isopropanol utilizando a cromatografia
gasosa em amostras de sangue. Com 100 L de amostra, 50 L de n-propanol como
soluo de trabalho de padro interno e 400 L de gua destilada,em tubo de ensaio
com tampa de rosca, contendo cloreto de sdio, onde a soluo foi homogeneizada
e levada para anlise.
-
58
Os resultados demonstraram preciso, exatido e sensibilidade na tcnica, que so
adequados para o diagnstico das intoxicaes por estes compostos (FELTRACO,
2009).
Figura 26 - Resultado cromatogrfica: (1) acetaldedo, (2) metanol, (3) etanol,
(4) acetona, (5) isopropanal, (6) propanal (FELTRACO, 2009).
5.2 ELETROFORESE CAPILAR
A eletroforese capilar (CE) uma tcnica separativa muito sensvel, que foi
desenvolvida com base nos conhecimentos adquiridos com a cromatogafia lquida
de alta eficincia (HPLC). Embora esteja relacionada com a eletroforese clssica em
gel, difere desta de muitas formas. A CE permite a separao de biomolculas com
uma eficincia muito superior que possvel em HPLC, e permite tambm a
quantificao de pequenas molculas que no podem ser analisadas por
eletroforese em gel (UALG, 2015).Apresenta-se como tcnica analtica
complementar HPLC e GC. A Tabela 2 abaixo apresenta uma comparao
racional entre estas trs tcnicas de separao (COSTA, 2008).
-
59
Tcnica Vantagens Desvantagens Solues
CG
Alta capacidade de separao dos picos; Alta sensibilidade e seletividade
Inadequada para anlise de compostos polares, termolbeis e de baixa volatibilidade; Consumo de gases de alta pureza
Uso de reaes de derivatizao
HPLC
Permite a anlise de compostos orgnicos, mesmo os termoinstveis; Maior flexibilidade para otimizao Das sepaes, por permitir a variao tanto da fase mvel quando da fase estacionria; Facilidade de automao e acoplamento a sistemas de preparo de amostras online.
Menor capacidade de separao; Grande consumo de solventes orgnicos; Elevado custo operacional
Desenvolvimento de colunas analticas mais eficientes e de menor tamanho, permitindo melhores separaes e menor consumo de solventes
CE
Alta capacidade de separao; - Baixo consumo de solventes; - Menor necessidade de preparo de amostras.
Alta sensibilidade
Preparo de amostras com etapa de pr-concentrao; - Uso de procedimentos eletroforsticos de pr-concentrao online. - Utilizao de detectores altamente seletivos (como os detectores de fluorescncia induzida a laser ou espectretros de massas).
Tabela 2 -Comparao entre as principais tcnicas de separao utilizadas em toxicologia forense (COSTA, 2008).
A eletroforese capilar na rea investigativa muito usada para descobrimento de
DNA de corpos carbonizados, ajudando assim identificar a vtima, alem de anlise
de drogas lcitas e ilcitas (AGENCIA FAPESP, 2015).
5.3 ESPECTROMETRIA DE MASSAS (MS)
A espectrometria de massas uma tcnica usada para o estudo das massas de
tomos, molculas ou fragmentos de molculas. Para se obter um espectro de
massa, as molculas devem estar no estado gasoso e aps isso, partir de fases
condensadaspara serem ionizada. Trata-se de uma tcnica destrutiva, ou seja,
necessita-se de alquotas das amostras que sero destrudas no decorrer da
-
60
anlise, porm uma tcnica com bastante sensibilidade, sendo amplamente
utilizada em diversas aplicaes (MOTA; DI VITTA, 2014).
A partir do reservatrio do sistema de amostragem, molculas neutras so inseridas
no espectrmetro, o qual apresenta feixes de eltrons responsveis pela ionizao
dessas molculas. Placas aceleradoras e de focalizao mandam esses ons na
direo de um tubo analisador, porm antes passam por um campo magntico, para
que pela diferena de suas cargas e massas, sofram diferena na trajetria. O
campo separa os ons em um padro chamado espectro de massas. A leitura dos
espectros possibilita conhecer ou comparar com espectros de bancos de dados, a
identidade das espcies-problema (MOTA; DI VITTA, 2014).
Existem diferentes tipos de espectrmetros, suas escolhas dependem
especificamente do tipo de analito que est sendo trabalhado, quanto a sua
quantidade e sensibilidade, por exemplo (ROMO et al., 2011).
5.3.1 Aplicaes da Espectrometria de Massas (MS) Anlise Forense
5.3.1.1 Anlise Maconha
A maconha um psicoativo, produzida que provoca alteraes mentais, a partir da
planta Cannabis Sativa. A maconha contm cerca de 400 substncias qumicas,
porm o responsvel pelo psicoativo o THC (delta-9-tetraidrocanabinol). A
maconha usualmente fumada em forma de cigarros ou em cachimbos, porm pode
ser misturada a comida ou feito ch da planta. Quando fumada, o THC passa pelos
pulmes e cai na corrente sangunea, que transporta a substncia qumica para os
rgos, inclusive ao crebro. No crebro, O THC se conecta a stios chamados
receptores canabinoide nas clulas nervosas e influencia a atividade dessas clulas.
Presso, memria, concentrao, percepo sensorial e de tempo, podem ser
afetados com seu uso (MOTA; DI VITTA, 2014).
-
61
Figura 27 - Sintese THC (RODRIGUES, 2015).
Na planta do canbis, o THC apresenta-se essencialmente como cido
tetrahidrocanabinico (THCA, 2-COOH-THC). Geranilpirofosfato (GPP) reage com o
cido olivetlico, atravs de ao enzimtica, originando cido anabigerlico, que
catalisado pela enzima THC cido sintase, dando origem ao THCA. Como tempo, ou
por aquecimento, o THCA descarboxilado, produzindo-se THC (RODRIGUES,
2015)
A deterinao de Cannabis pode ser feito espectrometria de massa, como descrito
por OLIVEIRA (2005), onde se usou a tcnica de microextrao em fase slida por
headspace. Uma amostra de cabelo de 10 mg foi descontaminada com
diclorometano, e apos isto, adicionou 50ng do padro interno deuterado na amostra,
e assim foi feito a hidrolise com NaOH e submetido a anlise.
Os resultados forma mais efetivos quando o usurio era de alta frequencia de
consumo, neste caso, todas a