quem são os irmãos de jesus?
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Explicação apologética acerca dos supostos "irmãos" de Jesus. O artigo, extraído do site Veritatis Splendor mostra que a própria Bíblia refuta essa ideia.TRANSCRIPT
Quem são os "irmãos" de Jesus?
03 Outubro, 2006 Escrito por Alessandro Lima Acessos: 22474
Jesus, o primogênito
No Evangelho de São Lucas lemos: "Maria deu à Luz o seu filho primogênito" (Lc 2,7).
Aqui os protestantes enxergam indícios de que o Senhor foi somente o primeiro filho de
Maria. Ora, a palavra "primogênito" só significa primeiro filho, podendo ele ser filho único
ou não.
A própria Escritura Sagrada dá testemunho disto, vejamos:
"O Senhor disse a Moisés: "Faze o recenseamento de todos os primogênitos varões entre
os israelitas, da idade de um mês para cima, e faze o levantamento dos seus nomes."
(Num 3,40) (grifos meus).
Se para que seja primogênito é preciso que haja outros irmãos, como pode haver
primogênitos "da idade de um mês para cima"?
Um outro exemplo está no livro do Êxodo: "e morrerá todo primogênito na terra do Egito,
desde o primogênito do faraó, que deveria assentar-se no seu trono, até o primogênito do
escravo que faz girar a mó, assim como todo primogênito dos animais." (Ex. 11,5).
E a promessa de Deus se cumpre, onde lemos: "Pelo meio da noite, o Senhor feriu todos
os primogênitos no Egito, desde o primogênito do faraó, que devia assentar-se no trono,
até o primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos animais. O
faraó levantou-se durante a noite, assim como todos os seus servos e todos os egípcios e
fez-se um grande clamor no Egito, porque não havia casa em que não houvesse um
morto" (Ex. 12,29-30).
A própria tradição ensina que o Faraó só tinha um único filho. Desta forma, a palavra
"primogênito" em Lc 2,7 não prova que o Senhor teve outros irmãos.
José "conheceu" Maria?
No Evangelho de São Mateus lemos: "José não conheceu Maria [não teve relações com
ela] até que ela desse à luz um filho." (Mt 1,25).
Neste trecho os protestantes entendem que depois do parto, José "conheceu" Maria.
Quem entende o mínimo de exegese bíblia e cultura judaica, saberá que o Evangelho de
Mateus é coberto de "aramaísmos", isto é, expressões típicas da língua aramaica e
hebraica, que quando traduzidas para outra língua não possuem o mesmo significado.
A expressão "até que", "até" ou "enquanto" na linguagem bíblica, diz respeito somente ao
passado. Para que isso fique mais claro vejamos outros exemplos na própria Escritura:
Ainda em Mateus, encontramos a promessa do Senhor à Igreja: "Eis que estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos." (Mt 28,20) (grifo meu). Será que o versículo
quer dizer que após a consumação dos séculos, Jesus não estará mais com a Sua Igreja?
"Micol, filha de Saul, não teve filhos até ao dia de sua morte" (2 Sam 6,23) (grifo meu). O
escritor sagrado quer dizer que depois de sua morte, Micol teve filhos?
Falando Deus a Jacó do alto da escada que este vira em sonhos, disse-lhe: "Não te
abandonarei, enquanto não se cumprir tudo o que disse" (Gn 28,15) (grifo meu). Depois
que se cumprir o que o Senhor disse, Ele então deveria abandonar Jacó?
Em Gênesis lemos: "[Noé] Soltou o corvo que foi e não voltou até que as águas secassem
sobre a terra" (Gn 8,7) (grifos meus). Aqui não significa que o corvo voltou após as águas
secarem, o que se quer é dar ênfase ao fato de que ele não voltou, mostrando que as
águas finalmente secaram.
Desta forma, em Mt 1,15, não significa que depois do parto José deveria "conhecer" Maria.
O Evangelista quer mostrar aqui o milagre da encarnação do Verbo, que aconteceu por
obra do Espírito Santo, sem a intervenção do homem (cf. Is 7,14).
A palavra "irmãos" na Escritura Sagrada
Nossos irmãos protestantes alegam que em diversos lugares, o Evangelho fala dos
"irmãos" de Jesus, como por exemplo: "estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que
estão lá fora tua mãe e teus irmãos querem ver-te" (Mt 12, 46-47; Mc 3,31-32; Lc 8,19-20).
É importante dizer que nas Sagradas Letras, as palavras "irmão", "irmã", "irmãos" e "irmãs"
podem denotar qualquer grau de parentesco. Isto porque, as línguas hebraica e aramaica
não possuem palavras que traduzem o nosso "primo" ou "prima", e serve-se da palavra
"irmão" ou "irmã". A palavra hebraica "ha", e a aramaica "aha", são empregadas para
designar irmãos e irmã do mesmo pai, e não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42,15; 43,5; 12,8-
14; 39-15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23,21), primos segundos (Lv 10,4) e até
parentes em geral (Jó 19,13-14; 42,11). Existem muitos exemplos na Sagrada Escritura.
Observamos no Gênesis que "Taré gerou Abraão, Naor e Harã; e Harã gerou a Ló" (Gn
11,27). E Ló então era sobrinho de Abraão. Contudo no mesmo Gênesis, mais adiante
Abraão chama a Ló de irmão (Gn 13,8).
Ainda em Gn 14,12, o Evangelho nos relata a prisão de Ló; e no versículo 14 observamos:
"Ouvindo, pois Abraão que seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascido em
sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã".
Jacó se declara irmão de Labão, quando na verdade era filho de Rebeca, irmã de Labão
(Gn 29,12-15).
Assim a qualificação de alguém pela palavra "irmão" ou "irmã" em relação ao Senhor, não
significa necessariamente que fossem irmãos de fato. A única certeza que se pode ter
neste caso é que eram parentes do Senhor.
A quem os Evangelhos chamam de "irmãos" do Senhor?
Os Evangelhos qualificam algumas pessoas como "irmãos" do Senhor. A primeira
referência que encontramos está em São Mateus, onde lemos:
"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago,
José, Simão e Judas?" (Mt 13,55).
Uma passagem correspondente encontramos em São Marcos:
"Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E ficaram perplexos a seu respeito" (Mc
6,3).
1. A importância da expressão " uiós Marias ".
Interessante notar que São Marcos usa a expressão grega "uiós Marias", em português "o
filho de Maria". Considerando Mateus e Lucas, observe o leitor que apenas o "o filho do
carpinteiro" é chamado de "o filho de Maria" e não "um dos filhos de Maria". Isso pode não
fazer muita diferença em português, mas em grego é muito significativo.
Primeiramente pelo fato da mulher ser a última das criaturas no mundo antigo,
normalmente a filiação de alguém sempre referenciava o pai. Por exemplo: "o filho de
Jonas", "o filho de Alfeu", etc. Mas São Marcos ao falar da filiação de Cristo, não aponta
para José, mas para Santa Maria, utilizando uma expressão que normalmente só era
usada para designar filhos únicos.
É claro que esta ocorrência incomum no Evangelho de Marcos não é sem propósito. O
Evangelista que mostrar que Cristo era o único filho de Santa Maria.
2. A Carta de São Paulo aos Gálatas
Segundo nossos irmãos protestantes, os supostos irmãos de sangue de Jesus seriam:
Tiago, José, Simão e Judas. É o que o eles afirmam lendo Mt 13,55 e Mc 6,3, confiando
que estão sendo guiados pelo Espírito Santo. Dizem ainda que São Paulo confirma isto,
pois na carta aos Gálatas ele escreve: "Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer
Cefas [Pedro], e fiquei com ele quinze dias. E dos outros apóstolos [que estão em
Jerusalém] não vi a nenhum, senão a Tiago, irmão do Senhor? (Gl 1,18-19).
Segundo a referência paulina acima, este Tiago, "irmão do Senhor", é de fato um Apóstolo.
Segundo as listas de Mateus, Marcos e Lucas, existiram dois apóstolos de nome Tiago.
Vejamos:
"Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu
irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o
publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o
traidor" (Mt 10, 2-4) (grifos meus).
"Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e
João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão.
Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu;
Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou" (Mc 3,16-19) (grifos meus).
"Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de
apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão; Tiago, João,
Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas,
irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor" (Lc 6,13-16) (grifos meus).
Conforme podemos observar, um Tiago era filho de Zebedeu e o outro filho de Alfeu.
Agora eu pergunto aos meus irmãos protestantes: o que tem Zebedeu e Alfeu com Santa
Maria, Mãe de Jesus"
Ora, é ponto pacífico entre todos os cristãos que Santa Maria só foi casada com São José,
e que não se casou depois. Portanto, este Tiago, o qual São Paulo se refere em sua carta
aos Gálatas não era irmão de sangue do Senhor Jesus; logo, as palavras do Apóstolo não
dão suporte à tese protestante.
3. Distinguindo os Tiagos
Primeiro é preciso fazer uma distinção entre os dois "Tiagos" que foram apóstolos. O
Tiago, filho de Alfeu (cf. Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15) era também chamado de "o menor",
veja:
"E também estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas estavam Maria
Madalena e Maria, mãe de Tiago o menor e de José, e Salomé" (Mc 15,40) (grifos meus).
Este Tiago que era irmão de José, não é filho de Zebedeu conforme vemos em São
Mateus:
"Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde
a Galiléia para o servir. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e
de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56) (grifos meus).
Como vemos acima, a Mãe de Tiago e José não é a mãe dos filhos de Zebedeu. Desta
forma, o Tiago chamado "o menor" em Mc 15,40 era o filho de Alfeu. Com efeito, tanto São
Marcos quanto São Lucas identificam este Tiago como irmão de José.
Podemos então distinguir os dois "Tiagos" assim: Tiago, o Maior, é filho de Zebedeu e
Tiago, o Menor, é filho de Alfeu.
4. Os irmãos dos Tiagos
Na lista dos apóstolos de São Lucas, Judas era irmão do Tiago filho de Alfeu (cf. Lc 6,16),
o que corrobora com o livro de Ato, onde encontramos:
"Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer.
Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de
Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago" (At 1,13) (grifos meus).
Segundo São Mateus e São Marcos este Judas era também chamado Tadeu (cf. Mt 10,3;
Mc 3,18).
Até aqui os filhos de Zebedeu são Tiago (o Maior) e João (cf. Mc 3,16; Mt 10,2). Os filhos
de Alfeu são Tiago (o Menor), Judas Tadeu e José (cf. Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15; At 1,13).
5. Quem é o Tiago referido na carta aos Gálatas?
São Paulo chama um dos "Tiagos" de "irmão do Senhor" (cf. Gl 1,19). Vimos ele ou é um
dos filhos de Zebedeu ou Alfeu, e não de José, portanto, não é irmão de sangue do
Senhor Jesus.
Quem é este Tiago a quem o Santo Apóstolo se refere? O Maior (filho de Zebedeu e irmão
de João) ou o Menor (filho de Alfeu e irmão de Judas)?
Em Atos lemos que o Tiago, irmão de João foi morto após perseguição de Herodes:
"Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para
os maltratar. Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João" (At 12,1-2) (grifos
meus).
Isto aconteceu depois que São Paulo esteve em Jerusalém para ver os Apóstolos, pois o
seu relato em Gl 1,18-19 é o mesmo evento narrado por São Lucas em Atos 9:
"Chegando a Jerusalém, [Paulo] tentava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam,
não querendo crer que se tivesse tornado discípulo. Então Barnabé, levando-o consigo,
apresentou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, e que
lhe havia falado, e como em Damasco pregara, com desassombro, o nome de Jesus. Daí
por diante permaneceu com eles, saindo e entrando em Jerusalém, e pregando,
destemidamente, o nome do Senhor" (At 9, 26-28).
Assim, quando São Paulo esteve em Jerusalém para conhecer os apóstolos, os dois
"Tiagos" estavam vivos, mas se prestarmos atenção na seqüência entre os capítulos 1 e 2
da carta aos Gálatas, veremos que o Tiago referido em Gl 2,9 parece ser o mesmo de Gl
1,19. O capítulo 2 da carta aos Gálatas se refere ao Concílio de Jerusalém, narrado em At
15, quando o Tiago, filho de Zebedeu já havia sido morto (cf. At 12,1-2).
Com efeito, Rufino ("Comentário ao Credo dos Apóstolos", 37) e Eusébio de Cesaréia
("História Eclesiástica", II,23), ambos historiadores da Igreja Antiga, registraram a Tradição
Apostólica que identifica Tiago, autor da Epístola de Tiago, como irmão do Senhor. É
sabido que o autor da Epístola a Tiago, é o Tiago filho de Alfeu, irmão de Judas Tadeu (cf.
Jd 1,1), o autor da Epístola de Judas.
6. Identificando os "irmãos" de Jesus
Vimos que São Paulo dá testemunho da Tradição Apostólica de identificar Tiago, filho de
Alfeu, como irmão do Senhor Jesus. Lembremos que este Tiago tem com irmãos Judas
Tadeu e José.
Ora, exatamente os nomes Tiago, Judas e José que encabeçam a lista dos "irmãos" de
Jesus na lista dos Evangelistas, lembremos:
"Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E ficaram perplexos a seu respeito" (Mc
6,3) (grifos meus).
"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago,
José, Simão e Judas?" (Mt 13,55) (grifos meus).
7. Identificando a mãe dos "irmãos" de Jesus
Para ficar ainda mais claro que Tiago, José e Judas são primos de Jesus, vamos
identificar mãe deles.
Os evangelistas relataram que além da Mãe de Jesus, outras mulheres estavam próximas
ao calvário. Vejamos:
"Havia ali [no Calvário] também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido
Jesus desde a Galiléia para o servir. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe
de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56) (grifos meus).
Segundo São Mateus eram elas: Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José e a mãe dos
filhos de Zebedeu. Com efeito, Tiago e José que também são irmãos de Judas Tadeu tem
por mãe uma Maria que não é a mãe do Senhor. Os filhos de Zebedeu são Tiago Maior e
São João, cuja mãe também estava na cena da crucificação.
"E também estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas estavam Maria
Madalena e Maria, mãe de Tiago o menor e de José, e Salomé" (Mc 15,40).
São Marcos eram elas: Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José que também são
irmãos de Judas e Salomé. Em concordância com São Mateus, Salomé só pode ser a mãe
dos filhos de Zebedeu, isto é, a mãe de Tiago Maior e São João. Novamente a Maria mãe
de Tiago, Judas e José não é a Maria mãe de Jesus. Esta Maria tinha por marido Alfeu.
"Estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria [esposa] de Cleofas, e
Maria de Mágdala" (Jo 19,25).
São João identifica Maria esposa de Cleofas como tia de Jesus, isto é, irmã de Santa
Maria. Ora, sabemos que Tiago Maior e São João não são primos de Jesus, caso contrário
seriam chamados "irmãos do Senhor"; assim, Salomé não é a Maria esposa de Cleofas.
Esta Maria, esposa de Cleofas, é a mãe de Tiago, José e Judas. Portanto, estes "irmãos"
de Jesus, são na verdade seus primos, filhos de Maria, tia de Jesus.
Como na antiguidade os homens normalmente eram conhecidos por dois nomes, alguns
acreditam que Cleofas é o outro nome de Alfeu. Outros sustentam a tese de que Cleofas é
o marido de um segundo casamento de Maria, tia de Jesus. Com efeito, somente Tiago é
referido como filho de Alfeu (ver item 2 deste artigo), enquanto se diz apenas que Judas e
José são seus irmãos.
Sendo Alfeu e Cleofas, a mesma pessoa ou não, isso não oferece qualquer problema, pois
de fato Tiago, Judas e José, são filhos de Maria, tia de Jesus; não importando se Tiago
Menor é filho de Alfeu e Judas e José filhos de Cleofas.
8. Quem é Simão?
Em Mt 13,55 e Mc 6,3 encontramos o nome de Simão junto com os de Tiago, José e
Judas.
Quando São Mateus e São Marcos elencam os apóstolos, sempre colocam o nome dos
irmãos em seqüência. Ex: Pedro e André, Tiago Maior e João, etc.
Nestas mesmas listas, próximo aos nomes dos irmãos Tiago Menor e Judas Tadeu, os
evangelistas citam um Simão: "Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu [...]" (Mt
710,3-4) e "[...] Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador" (Mc 3,18).
Com efeito, Eusébio de Cesaréia em sua "História Eclesiástica" registra que este Simão
era primo do Senhor e filho de Cleofas:
"Após o martírio de Tiago [menor] e a destruição de Jerusalém, ocorrida logo depois,
conta-se que os sobreviventes dos Apóstolos e discípulos do Senhor vindos de todas as
partes se congregaram e com os consangüíneos do Senhor 'havia um grande número
deles ainda vivos' reuniram-se em conselho para verificar quem julgariam digno de
suceder a Tiago. Todos unanimemente consideraram idôneo para ocupar a sede desta
Igreja Simeão, filho de Cléofas, de quem se faz memória no livro do Evangelho (Lc 24,18;
Jô 19,25). Diz-se que era primo do Salvador. Efetivamente, Hegesipo [historiador antigo]
declara que Cléofas era irmão de José" (HE III,11).
Conclusão
Os "irmãos" de Jesus são seus primos, filhos da irmã da Mãe do Senhor, cujo nome é
também Maria; são eles Tiago, José, Judas Tadeu e Simão. Este é o testemunho da
Sagrada Escritura e da Memória dos primeiros cristãos.
Tréplica - Quem são os "irmãos" de Jesus
15 Junho, 2007 Escrito por Alessandro Lima Acessos: 1222
1. Introdução
No dia 03 de Outubro de 2006, foi publicado no Veritatis Splendor o artigo “Quem São os ‘irmãos’ de
Jesus” (http://www.veritatis.com.br/article/3974) de minha autoria. O mesmo artigo também teve
publicação no sítio católico Universo Católico em 16 de Outubro de 2006 como o título “Quem
seriam os "irmãos de Jesus”? O referido artigo foi mencionado e comentado em uma lista
protestante de orientação batista-fundamentalista(2). Este comentário (1) realizado pelo sr. Hélio de
Meneses Silva (também fundador da mesma lista) foi publicado no dia 15 de fevereiro de 2007 e é
objeto de nosso presente artigo.
2. Motivação
Este trabalho não é necessariamente uma tréplica à réplica apresentada pelo sr. Hélio, se é que
podemos chamar de réplica o seu comentário ao meu artigo, que jugo se de péssimo gosto, não por
discordar dos meus argumentos e da doutrina católica, mas por querer convencer o leitor não pela
força dos argumentos, mas por questionamentos vagos movidos por juízos de valor denunciados
pela forma desrespeitosa com a qual se refere aos meus argumentos. Por esta razão, nosso desejo
não é necessariamente contra-argumentar em todos os pontos, nas nos pontos relevantes
denunciando ao leitor os artifícios enganadores usados pela apologética protestante no Brasil.
3. Minhas Observações
3.1. A questão da primogenitura de Cristo
No meu artigo (3) comento a objeção protestante em afirmar que Cristo teve outros irmãos porque é
chamado de primogênito filho de Santa Maria (cf. Lc 2,7). Argumento dizendo que a palavra
“primogênito” não se aplica somente a um primeiro filho, mas também a filhos únicos (cf. Num 3,40;
Ex. 11,5; 12,29-30). Desta forma concluo que o termo não é suficiente para se afirmar a existência
de outros irmãos de sangue de Jesus.
O sr. Hélio contra-argumenta (1) afirmando que Deus assim se expressou em relação ao primeiro
filho pois é normal que casais jovens venham a ter outros filhos. Veja:
"Quando um casal jovem e saudável tem o primeiro filho, faz sentido dizer que ele é o primo-gênito
(primeiro-nascido, primeiro-entre-os-vários-nascidos), porque é normal e esperado que eles ainda
venham a ter outros filhos. Assim, no instante em que se referiu aos “primogênitos varões entre os
israelitas, da idade de um mês para cima” (Num 3:40), Deus, uma vez que estava falando sobre os
primeiros filhos de mulheres bem jovens, usa as palavras normalmente usadas pelo povo. Mas,
quando o Evangelho de Mateus foi escrito, em torno do ano 37 d.C., quando Jesus já estava morto e
Maria provavelmente já estava na menopausa e muito provavelmente já estava viúva, então, se a
cinquentona Maria somente tivesse tido um filho, o uso normal da linguagem teria sido a palavra uni-
gênito (único nascido, filho único), e não primo-gênito."
3.1.1 A Etimologia da palavra “primogênito”
O sr. Hélio além de pretender conhecer os pensamentos de Deus, e a idade dos israelitas que
estavam no Egito no tempo do cativeiro, sofisma ignorando a etimologia da palavra “primogênito”.
A palavra “primogênito” vem do latim “primogenitis” ou “primogenitum” (primo=primeiro,
genitus/genitum=gerado ou nascido). Desta forma, um filho único não deixa de ser primogênito
porque não possui outros irmãos. Nosso contendor fundamentalista quer aplicar uma dependência
ao significado da palavra que simplesmente não existe, seja na sua etimologia ou seja no sentido
bíblico.
Segundo o sr. Hélio, Cristo deveria ser chamado de unigênito se realmente fosse filho único de Sua
Mãe. Se nos orientarmos por esta idéia, São João Batista não pode ser considerado filho único de
Izabel e Zacarias, pois não é chamado de filho unigênito do casal. Alguém poderia objetar dizendo
que a Sagrada Escritura dá testemunho que Izabel gerou somente João Batista, tornando
desnecessário o uso do adjetivo. E por acaso o mesmo não ocorre com Maria?
3.1.2 O adjetivo “unigênito” e seu emprego na Sagrada Escritura
O adjetivo “unigênito” (“monogenes” no grego bíblico) é aplicado na Sagrada Escritura somente no
NT e em pouquíssimas nove passagens (Lc 7,12; 8,42; 9,38; Jo 1,14; 1,18; 3,16; 3,18; Hb 11,17;
1Jo 4,9). Nas primeiras três, Lucas registra a filiação única de um enfermo ou morto para que
possamos entender o sofrimento dos pais que estavam perdendo toda sua prole. Em todas as
demais, o adjetivo é utilizado com o fim de mostrar que só Jesus é Filho de Deus, segundo a
natureza divina, eliminando a possibilidade de outros possíveis Filhos de Deus segundo a natureza
divina. Como se vê o uso de “unigênito” não é comum e foi empregado em circunstâncias bem
específicas.
3.1.3 A “Regra de Ouro” do sr. D.L. Cooper
Ainda segundo o sr. Hélio, quando lermos “primogênito” deveríamos aplicar o sentido comum,
segundo a “regra de ouro” do sr. D.L.Cooper:
“Quando o sentido simples da Escritura faz senso comum, não procure nenhum outro sentido;
portanto, tome cada palavra no seu significado literal - usual - ordinário - primário (a não ser que os
fatos do contexto imediato, estudados à luz de passagens relacionadas e de verdades axiomáticas e
fundamentais, claramente indiquem o contrário)".
Primeiro, devemos lembrar ao nosso contendor fundamentalista que “Antes de tudo, sabei que
nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida
por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de
Deus" (2 Pd 1,20-21). Portanto, as regras de exegese bíblica podem nos ajudar a sondar o
verdadeiro sentido da Escritura, mas não é nada conclusivo já que este conhecimento depende da
revelação do Espírito Santo.
Segundo, as palavras utilizadas pelo escritor sagrado muitas vezes possuem significado diverso
daquele que é empregado em nosso tempo, devido à própria estrutura da língua bíblica e suas
expressões. Veja se aplicarmos a “regra de ouro” que o sr. Hélio nos recomenda em Gn 13,8
deveríamos entender que Labão é irmão de Abraão. No entanto é seu sobrinho (cf. Gn 11,27). Ou
ainda deveríamos entender que Cristo em Lc 14,26 e Jo 12,25 está nos mandando odiar nossa
família para seguirmos o Evangelho. Como na linguagem semítica (hebraico e aramaico) não há
superlativo, o verbo “odiar” foi usado para indicar que aquilo que “não se odeia” é preferível ao que
“se odeia”.
Como se vê, a “regra de ouro” que o sr. Hélio adota para entender a Escritura não é tão dourada
assim, não é mesmo? Acrescentando a isto, o sr. Hélio coloca suas próprias idéias como senso
comum, pois só na sua cabeça “primogênito” é o primeiro de muitos filhos, quando quer dizer
apenas o primeiro.
3.1.4 O primogênito do Faraó
No meu artigo (3) argumento que segundo a Tradição o Faraó irmão de Moisés só tinha um único
filho e que a Escritura se refere a ele como filho primogênito. Neste meu argumento tento
demonstrar mais uma vez que um filho pode ser primogênito sem precisar ter outros irmãos.
O sr. Hélio depois de levantar falso testemunho contra a Tradição Católica e ainda sem apresentar
provas, recorre a um terceiro que afirma: “segundo Merrill Unger (Arqueologia do Velho Testamento,
p.72), o faraó que teria sucedido ao Faraó do Êxodo (muito provavelmente este foi Amenotepe II -
que reinou entre 1450-1425 A.C., segundo evidências cronológicas que o próprio autor apresenta)
não era o único filho, conforme afirma a errônea tradição católica!”.
Como sabemos, não podemos tomar como certeza algo que esteja no campo do “muito
provavelmente”. Eles tomam algo que ainda está no campo da pesquisa para lançar acusações
gratuitas à Tradição Católica.
Devemos afirmar que outros estudiosos (4) do tema discordam da opinião do Prof. Merril. É o caso
do Prof. Larry Richards que em um de seus trabalhos (5) nos informa:
"O antigo inimigo de Moisés, Tutmés III, estava morto. O novo faraó, Amenotepe II, tinha cerca de
22 anos quando foi confrontado por Moisés, com oitenta anos na época. Quando os dois se
encontraram, o contraste foi além da idade. Houve também confronto de estilos de vida e de
atitudes: um conflito entre mansidão e orgulho. Moisés estivera quarenta anos no Egito, onde
aprendera a ser alguém. Durante os quarenta anos no deserto, aprendera a ser um ninguém. Agora
Deus estava para mostrar o que é capaz de fazer com alguém que esteja disposta a ser um
ninguém".
Como vemos, para o Prof. Richards, Amenotep não é um filho do faraó que enfrentou Moisés, mas é
o próprio.
Mais uma vez o sr. Hélio toma como verdade suprema opiniões muito questionáveis. Aliás, toda
opinião devido à sua natureza subjetiva não pode jamais ser tomada como algo indiscutível.
Ainda que o faraó que enfrentou Moisés tivesse sido sucedido por um outro herdeiro seu (o que até
me parece muito razoável), nada impede que este outro herdeiro tenha nascido depois da morte de
seu primogênito. Afinal, o faraó continuou vivo e casado, com toda a possibilidade para gerar outros
filhos. Portanto a existência de um outro herdeiro também não é fato conclusivo para se afirmar que
o primogênito referido no Êxodo não era filho único.
3.1.5 “Primogênito” pode ser também “Unigênito”
Um outro exemplo de que a Bíblia não aplica as orientações do sr. Hélio está aqui: "Tu lhe dirás:
assim fala o Senhor: Israel é meu filho primogênito." (Ex 4,22). Estas palavras fazem parte das
orientações que Deus mandou Moisés dar ao Faraó a fim de libertar o povo de Israel do cativeiro.
Agora pergunto, naquele tempo existia alguma outra nação na Terra que era chamada e escolhida
por Deus como um filho? Alguém poderia dizer que Deus estava considerando a futura conversão
dos povos pagãos, que então seriam filhos subseqüentes. Entretanto, com o Advento do
Cristianismo, não existe Israel e a Igreja, mas todos que crêem no Evangelho, seja judeu ou pagão
são chamados a constituir um único povo santo (cf. Rm 10,12; Gl 3,28; Cl 3,11).
O próprio Cristo que é o Filho Único de Deus, também é chamado primogênito: "E novamente, ao
introduzir o seu Primogênito na terra, diz: Todos os anjos de Deus o adorem" (Hb 1,6; ver Sl 96,7).
Com efeito, Cristo é chamado primogênito em outras passagens do NT (cf. Rm 8,9; Cl 1,18; Ap 1,5)
como referência de que Jesus foi o primeiro homem a receber a vitória sobre a Morte. No entanto,
este não é o sentido aplicado em Hb 1,6 que se refere somente à filiação divina de Cristo em
relação ao Pai.
Temos provas suficientes que filhos “unigênitos” também podem ser chamados de “primogênitos”.
As especulações do sr. Hélio não servem para se concluir que somente pode ser chamado
“primogênito” um filho que tenha ou que venha a ter outros irmãos.
Toda esta discussão não serve para provar se a Mãe de Jesus teve ou não outros filhos. O que
queremos mostrar é que o adjetivo “primogênito” adotado na filiação de Cristo em relação à Sua
Mãe, não é conclusivo para se afirmar que ele teve outros irmãos de sangue.
Aqui queremos que o leitor note como a apologética do sr. Hélio de Meneses que transformar suas
opiniões pessoais em verdades indiscutíveis, além de querer utilizar “regras exegéticas” bem
questionáveis...
3.2 Expressões temporais na Escritura
No meu artigo (3) comento que a expressão “até que” utilizada em Mt 1,25 não pode ser usada para
se concluir que José teve relações com Maria após o nascimento de Jesus. Lá lemos: "José não
conheceu Maria [não teve relações com ela] até que ela desse à luz um filho".
Escrevo sobre vários exemplos em que as expressões “até que”, “até” ou “enquanto” são usadas na
Escritura para referenciar um ato passado e não um ato no futuro, pois esta é uma construção
própria da linguagem semita.
Mas o sr. Hélio em vez procurar provar meu possível erro por outros exemplos da Escritura ou até
questionando os exemplos citados, fugiu pela tangente apresentando suas próprias idéias, como se
elas fossem mais verdadeiras que a construção da linguagem bíblica. Veja um trecho de seu
comentário:
"[...]Não precisamos de nenhum pseudo eruditismo em grego (nem em nada) para responder, basta
o bom senso comum a qualquer linguagem de qualquer povo: Quando eu falo sobre uma coisa
normal (como beber água, marido e esposa se unirem no sexo, etc) e digo que ela NÃO foi feita até
um certo instante, fica implícito que foi feita depois disso [...]".
Para o nosso contendor fundamentalista, a expressão “até que” foi utilizada por Mateus não para dar
ênfase ao milagre da concepção e nascimento divinos de Cristo, mas para dizer que José teve
relações sexuais com Maria. Agora pense o leitor com toda sinceridade, o que era mais significativo
apresentar aos cristãos: a certeza de que Cristo é Deus ou que Sua Mãe após seu nascimento teve
relações com José?
Devemos lembrar que era comum que as jovens judias fizessem votos que poderiam ser mantidos
mesmo depois do casamento com o conhecimento e consentimento do noivo (ver Nm 30). Através
de escritos históricos contemporâneos dos evangelhos (9), temos a informação de que Maria
Santíssima fez votos de virgindade.
Note o leitor que quando o Anjo faz o anúncio da concepção de Jesus, Santa Maria já estava
desposada com José (cf. Lc 1,27), isto é, ela já estava casada com ele ou estava para se casar. Por
que então ela se surpreende ao saber que ficará grávida (cf. Lc 1,34) se fosse ter relações sexuais
com José?
3.3 “Irmãos” na Sagrada Escritura
No meu artigo também me refiro ao fato de que na linguagem semita, a palavra “irmãos” ou “irmãs”
também podem se referir a parentes próximos e, portanto não se pode afirmar que os intitulados
“irmãos” de Jesus sejam irmãos de sangue como pretende a tese protestante.
O sr. Hélio de Meneses assim contra-argumenta:
"Ué, mas todos os versos que existem sobre os irmãos de Jesus são do Novo Testamento, em
grego, e aqui existe uma palavra perfeita para primo e para prima, que é usada, por exemplo, em
Luc 1:36 ‘E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto
mês para aquela que era chamada estéril;’ É Deus o verdadeiro autor de cada palavra da Bíblia, Ele
está escrevendo em grego e o domina melhor que ninguém, Ele não usou a palavra primo e sim
irmão, por que, com que finalidades vocês querem torcer as palavras gregas de Deus???".
O “exegeta” Hélio de Meneses talvez parece desconhecer que a palavra grega “suggenes” utilizada
em Lc 1,36 não significa primo ou prima, mas parente, membro da mesma família, clã ou nação. É a
mesma palavra usada em Mc 6,4; Lc 1,58 e Rm 9,3 só para citar alguns exemplos.
Das versões mais conhecidas em língua portuguesa, somente a Almedia Corrigida e Fiel traduziu
“suggenes” como prima. Todas as outras (sejam católicas ou protestantes) traduziram como
parenta.
Até mesmo as principais versões inglesas, KJV (King James Version) e a NIV (New International
Version) traduziram “suggenes” como “kin”, “cousin” ou variações (“kinwoman”, “kinsfolk” e etc) que
significam parente ou membro de um mesmo povo.
A palavra grega que mais se aproxima de primo ou prima é “anepsios”, que no NT só é empregada
em Cl 4,10. E mesmo assim tem sentido mais geral.
3.4 O semitismo na linguagem bíblica
O sr. Hélio também parece desconhecer o fato de que a linguagem bíblica, seja ela no hebraico,
aramaico, grego, latim, português, inglês e etc, se orienta pela concepção semítica do eterno e
terreno, o que se reflete logicamente na linguagem. Mesmo o AT, que foi todo traduzido para o
Grego (versão conhecida por Septuaginta ou LXX (10), que por acaso o nosso contendor crê que
ela não existiu...) usou a palavra grega “adelphos” (irmão em português) para Ló que era sobrinho
de Abrão, quando poderia ter usado “suggenes” ou “kin”. Será que os escribas da LXX não sabiam
de tudo isto?
Além disso, os escritores dos Evangelhos e Epístolas sempre tinham em mente as palavras
hebraicas, mesmo quando escreviam em grego. Isto vale principalmente para São Paulo. Há uma
forte evidência de que São Lucas, em certos pontos, estava traduzindo documentos semíticos com
grande cuidado. A LXX, para Mal 1, 2-3, traduz: "Eu amei Jacó e odiei Esaú". São Paulo, em Rm 9,
13, cita exatamente da mesma forma que a tradução grega. Ainda que os tradutores da LXX
conhecessem o hebraico e o grego - e assim também Paulo - utilizaram um modo muito estranho de
se expressar em grego, quando poderiam usar “Eu amei mais Jacó que Exaú”.
Outro exemplo, São Paulo, em 1Tes 4, 5 diz que os gentios "não conhecem a Deus". Ele usa o
termo "conhecer" no sentido do hebraico “yada”, um termo amplo que significa conhecer e amar.
Com efeito, não são raras as vezes em que podemos afirmar que certa palavra hebraica
encontrava-se na mente de São Paulo, que se expressava em grego.
Desta forma, não importa em que língua antiga as Escrituras foram escritas. Mesmo no grego, a
estrutura da linguagem é semítica.
3.5 A Carta de São Paulo aos Gálatas
Em Gl 1,19 São Paulo se refere a um Tiago, como irmão de Jesus (“adelphos”). Digo no meu artigo
que este mesmo Tiago é referido como um dos apóstolos, portanto não poderia ter sido um irmão de
sangue do Senhor, já que os Tiagos apóstolos, um é filho de Alfeu e o outro de Zebedeu.
Transcreverei versículo segundo as mais conhecidas traduções protestantes em português:
“E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Almeida Corrigida e Fiel).
“Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Almeida Atualizada).
Vejam agora as principais traduções protestantes em inglês:
“But other of the apostles saw I none, save James the Lord's brother” (American Standard Version,
1901 e King James Version). Tradução: “Mas dos outros apóstolos não vi nenhum, salvo Tiago
irmão do Senhor”.
Mas o sr. Hélio diz que a tradução correta é "E não vi nenhum outro dos apóstolos, mas vi Tiago, o
irmão do Senhor".
Qual seria a razão de São Paulo citar um “irmão” de Jesus totalmente fora do contexto? Por acaso
este suposto “irmão” de Jesus que segundo o sr. fundamentalista não era apóstolo era alguma
personalidade relevante no seio da Igreja para se citado de forma tão abrupta?
Em Gl 2,9 há fortes indícios de que este mesmo Tiago é referido como uma das colunas da Igreja,
junto com Cefas (Pedro) e João.
Mas o sr. Hélio de Meneses quer que acreditamos que sua “tradução” seja preferível a de
especialistas no assunto. O Embuste é notório! Já que a Verdade não lhe corrobora, então ele cria
uma.
3.6 O Testemunho Histórico de Rufino e Eusébio
Devemos reconhecer que indícios não são provas, mas ajudam a encontrá-las. Por esta razão, os
textos bíblicos de Gl 1,19 e Gl 2,0 não são suficientes para afirmarmos que São Paulo se refere ao
mesmo Tiago. Para isto precisaríamos do testemunho de pessoas que viveram no tempo dos
apóstolos, ou que tiveram a oportunidade de colher informações sobre aquele tempo.
Este é o caso de Rufino e Eusébio, que historiadores da Igreja Primitiva, tiveram a oportunidade de
colher informações de outras fontes sobre as personalidades apostólicas (principalmente de Fílon de
Alexandria, Sócrates, Heracles, Pápias e Júlio Africano).
O sr. Hélio tenta desqualificar a prova apresentada com a afirmação de que Eusébio e Rufino não
foram inspirados pelo Espírito Santo. Ora, será que o sr. Hélio consideram inspirados pelo Espírito
Santo as decisões do Sínodo de Jâmnia que restringiram em 90 d.C (em plena Era Cristã!) os livros
do sagrados em 66 excluindo, os deuterocanônicos e todo o NT? Será que ele também considera
como inspirado pelo Espírito Santo, o historiador judeu Flávio Josefo (séc. I) que afirma que a
revelação de Israel acabou no tempo do prof. Esdras enquanto Cristo diz que foi até João Batista
(cf. Lc 16,16)? Se ele for coerente com suas afirmações então deve considerar, já que se
fundamenta nestas fontes para justificar a mutilação que os protestantes fizeram à Bíblia no séc.
XVII.
Um documento histórico não precisa que seu autor seja inspirado para comunicar a Verdade, caso
contrário deveríamos considerar como inspirados Pero Vaz de Caminha, Rui Barbosa e outros.
Os registros de Eusébio e Rufino são históricos e não tratados teológicos. Ainda que fossem
tratados teológicos, os mesmos não precisam ser inspirados para comunicarem a Verdade, basta
que sejam coerentes com ela.
Se Rufino e Eusébio escreveram ou não inspirados pelo Espírito Santo, isto não abona e nem
desabona seus respectivos testemunhos históricos. Porém, (até que alguém prove o contrário)
merecem crédito por terem sido pessoas próximas ao tempo dos Apóstolos e terem tido acesso a
escritos de historiadores mais antigos, escritos estes que não chegaram até o nosso tempo.
Enquanto o sr. Hélio nega que Tiago (filho de Alfeu) foi primo de Cristo, baseando-se em
conjecturas, nós temos a nosso favor testemunhos históricos que confiram este parentesco. Em
resumo ele apresenta como prova o subjetivo e eu o objetivo. A quem se deve dar a razão?
4. Conclusão
Conforme o leitor pode observar, esta é mais uma prova do tipo de apologética que os protestantes
se prestam a fazer. Por que não apresentam argumentos sólidos, com fundamentos acadêmico,
histórico ou científico? Por que não contra-argumentam de forma sóbria e elegante?
O motivo é claro. Quem não tem razão tem mais é que apresentar argumentos mais do que
subjetivos, tentar a todo custo desqualificar evidências objetivas, dizer que o contendor é um tolo
para baixo e seus argumentos são ridículos. E foi exatamente isso que o sr. Hélio fez em sua
“refutação” (melhor dizer reclamação!).
Embora a Escritura seja materialmente suficiente, ela não o é formalmente. Significa que toda
Verdade está na Escritura (suficiência material), mas a Escritura não é suficiente para demonstrar
toda Verdade (insuficiência formal). Por exemplo, na Escritura podemos encontrar a instituição do
Batismo, mas não podemos apenas por ela provar se batismo deve ou não ser ministrado às
crianças.
Devemos lembrar que o testemunho comum dos Pais da Igreja é de que Jesus não teve outros
irmãos de sangue. Tal é o testemunho de Pápias (6), Jerônimo (7), Agostinho e Basílio Magno (8) e
tantos outros (Efrém da Síria, Ambrósio de Milão, Epifânio de Salamina, João Crisóstomo, São Cirilo
de Alexandria, Idelfonso de Toledo e João Damasceno). Não foi diferente com os Pais da Reforma
(11).
Caso a Mãe de Jesus não tivesse permanecido Virgem até a morte, não teria sido venerada como a
“Sempre Virgem” nas liturgias da Igreja Primitiva desde o séc. II (12).
Notas
(1) http://br.groups.yahoo.com/group/solascripturatt/message/2525.
(2) Acreditam que somente o texto da Tradução Tradicional (TT) contém o verdadeiro texto sagrado
das Escrituras.
(3) “Quem São os ‘irmãos’ de Jesus”. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/3974.
; http://www.caditaguai.com.br/conteudo/estudos/arquivos/pentateuco.pdf
(5) Unger, Merril H. Arqueologia do Velho Testamento. Editora Batista Regular. São Paulo: 1980. p
72.
(6) Pápias de Hierápolis - Outros Fragmentos. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/330.
(7) Da Virgindade Perpétua de Maria. http://www.veritatis.com.br/article/3688.
(8) pud Gregory Alastruey, Tratado da Virgem Santíssima, BAC, Madri, 1952, p. 36.
(9) Proto-Evangelho de Tiago em Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia. Editora Novo Século. São
Paulo: 2004.
(10) Tradução da LXX para o inglês. Disponível em http://www.ecmarsh.com/lxx/
(11) Os Reformadores Protestantes e Maria. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/54
(12) Maria, Sempre Virgem. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/3876.
Alessandro Lima