publicaÇÃo oficial da marinha nº 455 mensal · em primeiro lugar os 40 anos da revista da...

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA Nº 455 ANO XLI AGOSTO 2011 MENSAL 1,50

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA ● Nº 455 ● ANO XLI AGOSTO 2011 ● MENSAL ● € 1,50

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O mês de Julho arrastou este ano duas efemérides importantes. Em primeiro lugar os 40 anos da Revista da Ar-mada, cujo primeiro número foi publicado em Julho de 1971. Por outro lado, no passado mês de Julho cumpriu-se igualmente o centenário do nascimento do Almirante Manuel Pereira Crespo (1911-1980), que, como Ministro da Marinha, assinou no dia 30 de Abril de 1971 o despacho que criou a Revista da Armada.

Neste sentido, ao publicar o despacho assinado pelo seu próprio punho, estamos a evocar a memória e a render homenagem ao Almirante Manuel Pereira Crespo, confirmando que a Revista não esquece o seu fundador.

UMA DATA-DUAS EFEMÉRIDES

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3REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 455 - Ano XLI

Agosto 2011

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG

Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção1TEN TSN

Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedacçãoSAJ L

Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício GorjãoCFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e Publicidade

Revista da ArmadaEdifício das Instalações Centrais da

Marinha.1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 213 217 650Fax: 213 473 624

Endereço da Marinha na Internetwww.marinha.pt

E-mail da Revista da [email protected]

Paginação e Produção

Tiragem média mensal6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Revista anotada na ERC

Depósito Legal nº 55737/92ISSN 0870-9343

ANUNCIANTES:ROHDE & SCHWARZ, Lda.MAN FERROSTAL, Lda.LISSA - AGÊNCIA DE DESPACHOS E TRÂNSITOS,Lda.

SUMÁRIO

UMA DATA – DUAS EFEMÉRIDES 2

14

17

26

20

4

67

10

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (5)

NAVIOS HIDROGRÁFICOS

DIA DA MARINHA DO TEJO / MARINHA AGRACIADA COM A MEDALHA DE OURO DO CONCELHO DE ÍLHAVO

NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS

QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIOS

29

CONTRACAPA

31

3433

18

11

21

5

Almirante Manuel Pereira Crespo

Em Malacahá 500 Anos

Visita do Ministro da Defesa Nacional à Marinha

REESTRUTURAÇÃO DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

ORGANIZAÇÕES E INICIATIVAS INTERNACIONAIS

40 ANOS DA REVISTA DA ARMADA / PRÉMIOS REVISTA DA ARMADA

QUINZE DIAS NA ESCOLA DE TECNOLOGIAS NAVAIS

HIERARQUIA DA MARINHA 8 / VIGIA DA HISTÓRIA 35

PONTO AO MEIO DIA

NRP VASCO DA GAMA NA OPERAÇÃO ATALANTA

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (22)

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4 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

Os novos desafios da gestão financeira,orçamental, económica e patrimonial da Marinha

PONTO AO MEIO DIA

O ponto ao meio-dia permite, em termos retrospectivos, eviden-ciar o que já foi alcançado e, em

termos prospectivos, o que falta alcançar e traçar o rumo para atingir os objectivos e propósitos fixados.

A Superintendência dos Serviços Fi-nanceiros (SSF) respondeu, sempre em antecipação, aos desafios da modernidade, adoptando as melhores conceptualizações e inerentes modelos organizacionais, fun-cionais e processuais, ditados pelos valores, pela teorização científica e pelas boas práti-cas conexas com a evolução tecnológica.

A actual conjuntura que teima em tor-nar-se estruturante, muito embora possa ser interpretada como geradora de oportu-nidades, vem tornar mais clara a adopção e a concretização de modelos de gestão que obedecendo à visão estratégica do Almiran-te CEMA consubstanciada na Directiva de Política Naval 2011 (DPN 2011) e concretiza-da, no âmbito funcional financeiro, na Direc-tiva Sectorial da Superintendência dos Servi-ços Financeiros (DSSSF), navega no mar pe-rene dos valores, designadamente, a honra, a disciplina, a lealdade, a integridade, e nos princípios da legalidade, da transparência, do rigor e da cooperação institucional.

Considero como elementos que ala-vancam a função financeira e que se constituem, externamente, como factores acrescidos de credibilidade da Marinha e, internamente, como potenciadores da concretização do produto institucional e do mérito da gestão, os seguintes desafios que, simultaneamente, se assumem como factores resilientes:

O ESFORÇO DA RACIONALIZAÇÃOA Marinha, mercê do esforço de ra-

cionalização, que há vários anos vem encetando e concretizando, conseguiu o equilíbrio entre missão, actividades, tare-fas e os recursos disponibilizados em que incluo, os recursos materiais, humanos, fi-nanceiros, tecnológicos e o recurso tempo.

No entanto, a especial situação orça-mental verificada em 2010, foi substancial-mente agravada para 2011. Efectivamente, a Lei do Orçamento do Estado para 2011, fortemente condicionante, impõe um qua-dro restritivo e de austeridade.

A monitorização e projecção, com absoluto rigor e disciplina, da inerente execução orçamental, naturalmente, sub-

sumida às normas de direito financeiro público, cuja gestão, respeitando a axio-mática dos recursos disponibilizados, terá que observar, para além dos critérios da economia, eficiência e eficácia, o prin-cípio do melhor valor acrescentado na concretização do produto institucional e na edificação das capacidades.

A EDIFICAÇÃO DO QUADRO PLURIANUAL DE PROGRAMAÇÃO ORÇAMENTAL

É fundamental que o impacto no fun-cionamento, da decisão e concretização do investimento, seja vertida no Plano Financeiro de Médio e Longo Prazo. Este inovador plano, que já encontra previ-são no Regulamento de Administração Financeira da Marinha, constituirá um precioso e fundamental elemento da avaliação da sustentabilidade financeira de médio e longo prazo e, concomitante-mente, o elemento de referência na ges-tão dos sectores funcionais da Marinha.

A jusante deste plano, são requeridos métodos científicos de análise e avaliação das despesas de investimento e de fun-cionamento com adopção dos critérios do Valor Actualizado Líquido e do Cus-to/Benefício que terão que incorporar na máxima extensão o conceito de ciclo de vida dos equipamentos e plataformas.

A PLENA ADESÃO À REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DO ESTADO

Importante desafio que exigirá os inter-faces do Sistema Integrado de Gestão da Defesa Nacional (SIGDN) com a Entidade Contabilística Estado (ECE), com o Siste-ma de Informação de Gestão Orçamental (SIGO) e com o Instituto de Gestão da Te-souraria e do Crédito Público (IGCP) que permitam, fundamentalmente, a ligação em tempo real dos sistemas de gestão fi-nanceira e orçamental e a operacionaliza-ção dos Pedidos de Libertação de Créditos (PLC) e dos Pedidos de Autorização de Pagamentos (PAP).

Estes propósitos determinarão a defi-nição de Níveis de Crédito conexos com a expressão orgânica do orçamento da Mari-nha, e exigirão as necessárias e adequadas adaptações na matriz de organização do Sistema de Administração Financeira da Marinha (SAFM), nos processos técnicos e

funcionais já instituídos na operação admi-nistrativa e financeira e, por último, a ges-tão da tesouraria da Marinha e do Estado mediante a concretização plena do concei-to de tesouraria única.

A EFECTIVA PRODUÇÃO DE EFEITOS DO MÓDULO DE CONTROLLING DO SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO DA DEFESA NACIONAL

A contabilidade de gestão, tal como já está parametrizada em SIGDN, constitui um instrumento, ao dispor das Unidades, Estabelecimentos e Órgãos, que deve passar de mero exercício para um efectivo suporte de informação habilitante à excelência na decisão, possibilitando, também, o inerente controlo de custos e a responsabilização da gestão.

A valorização e reforço da função con-trolo, especialmente ao nível sectorial e operacional, são fundamentais no sentido de promover a verificação, desenvolvi-mento, avaliação e informação sobre lega-lidade, regularidade, mérito na utilização dos recursos e boa gestão dos programas, medidas, projectos, actividades, acções, elementos de acção e tarefas.

A CONTABILIZAÇÃO DAS CAPACIDA-DES COMO OS ACTIVOS DA MARINHA

A Marinha, através do processo de pres-tação de contas, proporciona com transpa-rência e rigor, informação credível indis-pensável à apreciação da rentabilidade do investimento e da bondade das decisões em relação aos recursos disponibilizados e ne-cessários à inerente sustentação.

No entanto, o valor patrimonial das ca-pacidades só será rigoroso se integrar os bens intangíveis, que, constituindo o Imobi-lizado Incorpóreo, integram, entre outros, a investigação, o conhecimento, a formação e especialmente o treino, este como condição sine qua non para a edificação da capacidade.

Por último, sabendo que a Autorida-de Funcional e Técnica só pode afirmar--se com competência, valores, princípios e rigor técnico científico, cumpre afirmar que a SSF deve continuar a ser um orga-nismo eficiente, respeitado, prestigiado e constituir um referencial no âmbito da Administração Pública.

J.Esteves NunesCALM AN

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5REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

Oito dias após a sua tomada de posse como Minis-tro da Defesa Nacional, o Dr. José Pedro Aguiar--Branco visitou a Marinha, no passado dia 29 de

Junho, acompanhado pelo Secretário de Estado Adjunto e da Defesa Nacional (SEADN), Dr. Braga Lino, assim cumprindo a tradição de iniciar pela Marinha as visitas protocolares aos ramos das Forças Armadas.

O Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Sal-danha Lopes, recebeu o Ministro da Defesa Nacional na Base Naval de Lisboa com as honras protocolares que lhe são devidas, designadamente uma Guarda de Honra constituída por Estandarte Nacional, Banda da Armada e uma companhia de fuzileiros, enquanto o NRP Baptista de Andrade, fundeado na bacia de manobra do Alfeite, executou as 19 salvas da ordenança.

Após uma curta visita ao Palácio do Alfeite, o MDN, SEADN e comitivas seguiram de autocarro para o NRP Corte Real onde foram recebidos pelo VALM Comandan-te Naval e lhes foi feita uma apresentação sobre a Mari-nha, que realçou diversos aspectos relativos a Portugal como nação marítima, as funções e tarefas da Marinha, bem como o produto das actividades da Marinha ao ser-viço do País. Após a apresentação, o Almirante CEMA conduziu o período de perguntas e respostas, findo o qual as altas entidades e comitivas efectuaram uma vi-sita ao navio.

Em seguida, as altas entidades e comitivas desloca-ram-se para a Esquadrilha de Submarinos, onde teve lu-gar uma apresentação sobre as principais características técnicas e operacionais dos submarinos da classe Tridente e uma breve visita à exposição estática dos Destacamen-tos de Mergulhadores-Sapadores. Antes de prosseguir, o MDN respondeu às questões que lhe foram colocadas pelos jornalistas que acompanhavam a visita.

A visita prosseguiu depois para a Base de Fuzileiros, onde estava patente uma demonstração estática das ca-pacidades do Corpo de Fuzileiros, da Direcção-Geral da Autoridade Marítima e do Instituto Hidrográfico.

No fim da visita, o Almirante CEMA ofereceu aos ilus-tres visitantes um almoço no Salão Nobre do Palácio do Alfeite, a que se seguiu a assinatura do Livro de Honra da Marinha pelo Ministro da Defesa Nacional.

Colaboração do EMA

VISITA DO MINISTRO DA DEFESA NACIONAL À MARINHA

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6 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

REESTRUTURAÇÃO DOESTADO-MAIOR DA ARMADA

Iniciada a 1 de Janeiro de 2010, a reorganiza-ção do Estado-Maior

da Armada (EMA) conhe-ceu recentemente o seu epílogo, com a fusão da Di-visão de Pessoal e Organi-zação (DIVPESORG) com a Divisão de Logística do Material (DIVLOGMAT), que deu origem à Divisão de Recursos (DIVREC). Trata-se do culminar de um processo que, no essen-cial, visava adequar melhor o apoio do EMA à tomada de decisão do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Ma-rítima Nacional (CEMA e AMN), garantindo uma intervenção mais dinâmi-ca na gestão estratégica da Marinha e, ao mesmo tem-po, potenciar as competên-cias dos recursos humanos que lhe estão atribuídos, racionalizar os processos que aí são desenvolvidos e optimizar o espaço físico que lhe está alocado.

Com efeito, depois da criação da Divi-são de Relações Externas (DIVRE) – que agregou secções das Divisões de Operações e de Informações e do Gabinete para a Co-operação – e da Divisão de Planeamento (DIVPLAN) – que integrou secções das Di-visões de Informações, Operações e Comu-nicações e Sistemas de Informação – a jun-ção das Divisões de Pessoal e Organização com a de Logística do Material na Divisão de Recursos (DIVREC) constitui o derradei-ro passo no sentido de dotar o EMA com as três Divisões apontadas pelo estudo que norteou a sua reorganização, tornando-a numa estrutura mais leve, ágil e adequada às realidades. Acresce ainda que, com a reorganização agora con-cluída, o EMA passa a dispor de uma estrutura mais compatível com as suas congéneres, como são os casos do Estado-Maior--General das Forças Armadas (EMGFA) e os estados-maiores internacionais.

Além da actual estrutura ope-rativa, consubstanciada nas três divisões que o compõem, o EMA conta ainda com uma estrutura de apoio que comporta o Gabi-nete de Coordenação Interna, o Serviço de Informática, o Serviço de Publicações, o Gabinete de Heráldica e o Sub-registo.

Muito embora se antevissem poucos as-pectos comuns às áreas do Pessoal e da Logís-tica, o período experimental que antecedeu a junção destas divisões permitiu desenvolver sinergias com o intuito de coordenar, unifor-mizar e validar métodos e procedimentos de trabalho transversais, razão pela qual a sua união, sob a designação de Divisão de Recur-sos, permite, ainda assim, alcançar uma redu-ção dos recursos humanos. Por conseguinte, além da presente configuração do EMA ser mais adequada para dar resposta às crescen-tes solicitações e planear o futuro da Marinha, a reestruturação agora concluída constitui igualmente uma mais-valia no que concerne à

identificação das questões relevantes que carecem de intervenção ou decisão su-perior, ao mesmo tempo que se traduz numa redu-ção de recursos humanos na ordem dos 20%, factor que, além de espelhar um aumento da eficiência, não é despiciente nos tempos de forte restrição financeira que actualmente vivemos.

Mas esta reconfigura-ção trouxe também alte-rações aos processos de gestão interna, uma vez que pretendia conceder uma maior capacidade ao EMA para pensar o futuro da Marinha. Nesta óptica, alcançando-se uma maior e mais clara convergência de assuntos em cada uma das divisões, libertaram-se os chefes de divisão para que estes se pudessem concentrar nas questões de maior relevância, na preparação daquelas que carecem de ser submeti-das à apreciação e decisão

superiores e na definição dos objectivos e das grandes linhas de acção por que regem os tra-balhos a executar no âmbito das respectivas divisões. Para este efeito, foi criada a figura do coordenador de área – o oficial mais antigo e mais experiente de cada uma das áreas que integram cada divisão – a quem compete, sob orientação do respectivo chefe, acompanhar o trabalho desenvolvido pelos oficiais nos pro-cessos recorrentes, garantir o cumprimento de objectivos e de prazos, gerir conflitos de prioridades, assegurar a conformidade e a uni-formização dos documentos produzidos com o normativo vigente, e solicitar as orientações necessárias ao funcionamento, à representação

externa e ao desenvolvimento dos trabalhos da respectiva área.

Em síntese, a reestruturação do EMA ora concluída, respei-tou os critérios de aceitabilidade, adequabilidade e exequibilidade que sustentam qualquer estudo, constituindo mais um passo no processo de dinâmica transfor-macional da Marinha, funda-mental para que a instituição se adapte às novas realidades e responda a cada novo desafio, na busca incessante da eficiência da gestão e da eficácia da acção.

Colaboração doESTADO - MAIOR DA ARMADA

Tomada de posse do CMG Machado da Silva como chefe da Divisão de Recursos.

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7REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

10ª SemanaFinalmente a Fragata “Vasco da

Gama” partiu para Mogadíscio, a fim de efectuar a tarefa mais importante desta missão, escoltar navios do Programa Alimentar Mundial que transportam ajuda humanitária para cerca de 2 mi-lhões de deslocados somalis e navios que transportam material logístico para a Missão da União Africana na Somália (AMISOM), mandatada para conduzir uma Operação de Apoio à Paz, por for-ma a estabilizar a situação no país e criar condições para condução das activida-des humanitárias. Neste caso, a escolta providenciada pela “Vasco da Gama” foi a um navio da AMISOM – PETRA I, navio que pratica velocidades reduzidas e não apresenta quaisquer medidas de protecção própria contra ataques piratas, sendo a Fragata Vasco da Gama a única e mais eficaz medida contra os mesmos.

Durante o trânsito foi possível realizar diversos exercícios de treino interno, ten-do como objectivo manter os elevados níveis de prontidão e adestramento da guar-nição, mantendo sempre o navio escoltado sob vigilância, inclusive participando em treinos de inserção de equipas de segurança por helicóp-tero e extracção por semi-rígida.

Após efectuado o trânsito até Mogadíscio, sem ter sido avistado nenhum movimento sus-peito, as embarcações da AMISOM re-ceberam o navio mercante à entrada do porto, completando assim com sucesso a centésima escolta da EUNAVFOR aos navios em apoio à missão da União Afri-cana. Apesar de alguns tiros terem sido disparados de terra em direcção ao na-vio, estes ficaram a cerca de 1000 metros de distância, sem representarem perigo efectivo. Terminada a transferência lo-gística, iniciou-se, já bem de madrugada, o trânsito de regresso com o objectivo de escoltar o navio em segurança até Mom-baça, no Quénia.

Concluída a tarefa de escolta com sucesso, a Fragata atracou em Mombaça para mais uma paragem logística. Du-rante a estadia no porto, surge a opor-tunidade de divulgar, junto dos navios mercantes, as melhores práticas para evitar os ataques de pirataria.

Este porto à semelhança dos anterio-res também é bastante conhecido dos portugueses, devido ao facto de Vasco da Gama ter sido o primeiro europeu a visitar Mombaça na sua primeira viagem à Índia, no dia 7 de Abril de 1498. Vasco da Gama procurava um piloto que o aju-dasse a levar a sua frota até à Índia, mas não tendo sido bem recebido, levantou ferro e dirigiu-se a Melinde, onde encon-trou hospitalidade e o tão desejado piloto. Com a descoberta do caminho marítimo para a Índia, os portugueses tiveram ne-

cessidade de defender as suas rotas comerciais ao largo da África Oriental, tendo construído no século XVI duas importantes fortalezas no actual Quénia: Mombaça e Melinde. A conquista de Mombaça, em 1528, aos Swahilis foi das mais difíceis em todo o Oriente. Os Portugueses, após terem tomado e parcialmente destruído a cida-

de, iniciaram a construção de uma nova, assim como de uma imponente fortaleza, o Forte Jesus. A fortaleza foi desenhada por um arquitecto italiano ao serviço da Coroa Portuguesa, erguendo-se no topo de uma formação de coral, à entrada do antigo porto de Mombaça. Esta constru-ção é considerada por muitos como uma das mais significativas da arquitectura militar Portuguesa do século XVI na costa oriental africana. Em 1698 foi conquis-tada pelos árabes de Omã, após um cerco de 3 anos.

Graças a uma revolta das tropas afri-canas contra os governantes de Omã, o sultão de Pate, a quem o forte foi ofereci-do, entregou-o aos Portugueses em 16 de Março de 1728. No ano seguinte (1729), uma revolta dos habitantes de Mombaça conduziu a um novo cerco ao forte, for-çando a rendição da guarnição.

Entre 1958 e 1960 o Forte foi recons-truído com o apoio da Fundação Calous-te Gulbelnkian (Portugal). Actualmente é o museu mais visitado do Quénia.

11ª SemanaO Quénia é um país da África Oriental, cuja

capital é Nairobi, limitado a Norte pelo Sudão, Etiópia e Somália, a Leste pelo oceano Índico, a Sul pela Tanzânia e a Oeste pelo Uganda. Este nome surge do Monte Quénia, o seu ponto

mais elevado. No dia 9 de Junho de 2011 a “Vasco

da Gama”, Navio-Almirante da EUNA-VFOR, organizou um evento dedicado aos órgãos de comunicação social em Mombaça, denominado “Media Day”, com o objectivo de esclarecer a sociedade civil, especialmente as populações dos países desta região, sobre as principais missões da EUNAVFOR, a actual si-tuação da pirataria na Somália e os no-vos desafios desta operação.

Este evento contemplou uma apre-sentação introdutória, para contextuali-zar a audiência, e a visualização de um pequeno filme, alusivo às principais ac-ções de combate à pirataria, desenvolvi-das pela “Vasco da Gama” no decorrer da missão. Concluída a apresentação, seguiu-se uma conferência de imprensa presidida pelo Comandante da Força Naval Europeia, dando oportunidade aos órgãos de comunicação social para colocarem as suas questões.

Na sequência desta conferência deu-se início à visita guiada pelo navio, onde se puderam observar os meios de bordo para o combate à pirataria, bem como as caracterís-ticas operacionais enquanto navio de guerra. Terminada a visita pro-cedeu-se ao encerramento do evento com um almoço volante para todos os participantes.

NRP VASCO DA GAMA NA OPERAÇÃO ATALANTA3ª PARTE

O Forte Jesus de Mombaça.

Exercício de Fast Rope .

“Bacardi” a interceptar uma skiff.

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8 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

o mesmo não se verifica actualmente, devido à monção de Sudoeste. O período durante o qual a “Vasco da Gama” se encontrou empenhada nesta tarefa serviu essencialmente para confir-mar que os níveis de actividade nos campos

piratas tendem a diminuir nesta época do ano, bem como identificar alterações ao número de navios pirateados existentes nos fundeadouros ou novos pontos de apoio logístico á pirataria.

Alguns dias depois, a “Vasco da Gama” re-gressou ao Corredor de Trânsito Internacional Recomendado (IRTC) para mais uma patru-lha de proximidade, com a ambição de garan-tir a segurança de todos os navios mercantes que transitam naquela área. O IRTC, fica loca-lizado no Golfo de Aden e caracteriza-se por ser um dos poucos locais na área de operações onde as condições meteorológicas são favo-ráveis para a ocorrência de actos de pirataria nesta época do ano, enquanto o Mar Arábico e a Bacia da Somália permanecem desfavorá-veis devido às condições adversas resultantes do período da monção.

No dia 17 de Junho, no decorrer da patrulha das áreas atribuídas, foi recebida uma chamada a reportar a existência de duas dhows suspeitas nas proximidades de um navio mercante. De imediato efectuou-se uma aproximação às dho-ws, com o intuito de investigar a existência de material relacionado com a actividade de pirata-ria. Depois de identificados os indivíduos e de se ter procedido à vistoria das embarcações cons-

No dia 10 de Junho de 2011, na cidade de Mombaça, comemorou-se o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a bordo da “Vasco da Gama”. Como forma de assinalar a celebração desta importante data foi organizada uma exposição a bordo, exi-bindo livros referentes à cultura e história nacional, vídeos promocionais do turis-mo de Portugal, uma colecção de moe-das e selos, porcelanas, postais e material de representação da Marinha, bem como informação sobre empresas portuguesas, onde o principal convidado foi o Embai-xador de Portugal no Quénia, Dr. Ale-xandre Vassalo, juntamente com alguns representantes da comunidade local.

Após os convidados apreciarem a exposição acompanhada de fado e gui-tarra portuguesa como som ambiente, o Comandante da “Vasco da Gama”, CFR Diogo Arroteia, dirigiu algumas palavras aos presentes, começando por referir a importância da cidade de Mombaça na história de Portugal, mencionando al-guns episódios marcantes, como a sua conquista pelos portugueses. Durante o discurso houve ainda oportunidade para oferecer à Biblioteca Nacional de Mom-baça inúmeros livros sobre a arte, cultu-ra, história e literatura portuguesa em três línguas distintas, Português, Inglês e Francês. No final do discurso foi proposto um brinde a Portugal, ao Quénia, a Mom-baça e à “Vasco da Gama”.

O evento culminou com um almoço oferecido pelo Comandante da Força Naval Europeia, onde estiveram presen-tes o Embaixador de Portugal no Qué-nia, o Cônsul de Portugal em Mombaça, Sr. Franklin Pereira e o Comandante da “Vasco da Gama”.

12ª SemanaA “Vasco da Gama” largou de Mombaça,

após efectuar mais uma paragem logística com o objectivo de reabastecer combustível, aguada e mantimentos, tendo servido, igualmente para uns dias de descanso, por forma a enfrentar mais um empenhamento de grande exigência, concentração e dedicação por parte de toda a guarnição no combate à pirataria. Desta forma a Fragata inicia a sua jornada rumo a Norte, passando pela costa do Quénia até alcançar a extensa costa da Somália.

Durante a passagem ao largo da costa Leste da Somália, o navio participou na recolha de in-formações sobre os campos piratas, começando na parte Sul da costa Somali progredindo poste-riormente para Norte. A tarefa atribuída à “Vas-co da Gama” no âmbito da recolha de informa-ções apresentou, à semelhança das anteriores, um especial enfoque nos campos onde a activi-dade humana revela maior intensidade ou onde existiam navios pirateados nos fundeadouros adjacentes. Contudo, esta tarefa de reconheci-mento apresentou uma grande diferença em relação às restantes já realizadas. Enquanto nas anteriores tarefas as condições meteorológicas se encontravam bastante favoráveis, sendo visível grande actividade humana junto aos campos,

tatou-se que estas se dedicavam ao transporte de combustível e mantimentos. Desta forma as dhows foram libertadas e a “Vasco da Gama” re-tomou a patrulha na sua área do IRTC.

No dia 19 de Junho, uma embarcação sus-peita, do tipo skiff, foi detectada por um navio mercante, que relatou em VHF es-tar a ser alvo duma tentativa de ataque. Após a recepção da chamada, a “Vasco da Gama” respondeu prontamente, iniciando a aproximação de forma a in-terceptar a embarcação. Durante a apro-ximação, foram transmitidas diversas recomendações ao navio mercante para tentar repelir o ataque, tendo-se verifica-do a aplicação das mesmas. Numa fase posterior o navio mercante reportou es-tar livre de perigo e a skiff iniciou a fuga. Pouco tempo depois, a mesma skiff foi novamente detectada, por um helicóp-tero da fragata da Marinha Britânica “HMS Richmond”, que relatou a sua posição para a “Vasco da Gama”, por este ser o navio mais próximo do local. Já com o nosso helicóptero no ar, depois de ter rendido o seu congénere britânico, a embarcação foi interceptada e a equipa de fuzileiros da “Vasco da Gama” efec-tuou a acção de abordagem. A bordo da skiff encontravam-se quatro pessoas e diverso material susceptível de ser uti-lizado em actos de pirataria. Uma vez recolhidos todos os elementos de prova e identificados os seus ocupantes, todos de origem Somali, foi apreendida a tota-lidade do material relacionado com a ac-tividade de pirataria. O elemento fulcral nesta intercepção foi a resposta imediata e efectiva das forças que se encontram na área, demonstrando que a coopera-ção entre os vários actores na região é a chave para o sucesso desta Operação.

13ª SemanaNo dia 21 Junho, a “Vasco da Gama” atra-

cou em Salalah, cidade capital e sede de gover-no da província de Dhofar no sul de Omã. Com uma população de cerca de 200 mil habitantes, é a segunda maior cidade do Sultanato de Omã. A história revela que o seu destaque internacio-nal foi alcançado devido ao Frankincense, um ex-tracto retirado de uma árvore usado para fazer perfume e incenso, ficando conhecida como a “capital do perfume da Arábia”. Actualmente a cidade encontra-se perante um período de grande desenvolvimento, o qual teve início no ano de 1975, com a transformação do aeroporto local em aeroporto internacional e ainda com a construção de importantes infra-estruturas ro-doviárias e portuárias.

Após a atracação, deu-se início às diversas acções de reabastecimento do navio e de manu-tenção. No dia 22 de Junho, a “Vasco da Gama” teve a honra de receber a bordo o Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, VALM João da Cruz de Carvalho Abreu. Durante a visita, com a guarnição formada no convés de voo, o Vice-CEMA teve a possibilidade de proferir algumas palavras de motivação e orgulho pelo desempenho do navio, evidenciando a confian-

Exercício de boarding com a cooperação do navio mercante “Petra I”.

Reabastecimento no mar com o USNS “Tippecanoe”.

Exposição do dia 10 de Junho na “Vasco da Gama”.

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9REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

No decorrer da patrulha, o tempo foi apro-veitado para manter os elevados níveis de adestramento e motivação do pessoal, através da realização de exercícios de treino interno/próprio, nomeadamente, exercícios de tiro com armamento portátil, descida vertical por

cabo do helicóptero e recolha por guincho, sendo os dois últimos dedicados às equipas de abordagem e tripulação da aeronave.

Terminado o empenhamento anterior, o navio dirigiu-se para o Estreito de Bab-el-Man-deb, o qual liga o Mar Vermelho com o Golfo de Aden, uma das zonas onde existem mais relatos de actividade suspeita. Nesta região a principal dificuldade está relacionada com a in-tensa actividade piscatória, cujas embarcações facilmente se confundem com possíveis piratas.

ça que a Marinha tem na “Vasco da Gama” para concluir com sucesso o resto da missão. Posteriormente, realizou-se uma apresentação com informação relevante sobre a actividade operacional desenvolvida até ao momento, as-sim como uma breve visita ao Centro de Ope-rações. A visita foi concluída com um al-moço a bordo, oferecido pelo Comodoro Silvestre Correia.

De regresso ao mar, dia 24, dirigimo--nos para o corredor internacional de trá-fego para mais uma patrulha, numa área já conhecida por nós. Embora conhecida, toda a atenção é pouca numa área que, por não ser fustigada pela monção de Sudoeste, permite liberdade de acção aos grupos de piratas que nela operem.

Nestes primeiros dias a área encon-trou-se densamente patrulhada e reinou a calma.

14ª SemanaDurante uma patrulha noctur-

na nas áreas atribuídas, um navio mercante reportou uma avaria, en-contrando-se à deriva, pedido apoio enquanto não chegava assistência ex-terna. A “Vasco da Gama” respondeu prontamente, informando o navio mercante que estava na área e que es-taria atenta a qualquer eventualidade. Enquanto aquele se encontrava a pai-rar, efectuou-se a monitorização e a vigilância atenta da área circundante, no sentido de conferir maior segurança ao navio mercante e à sua tripulação.

Resolvida a situação, foi necessário efec-tuar um reabastecimento no mar, desta vez com o navio americano USNS “Alan-Shepard”, com o objectivo de embarcar combustível garantindo assim os níveis de prontidão exigidos. Esta operação confere a grande vantagem de, ao ser reabasteci-do nas áreas de patrulha, assegurar uma maior taxa de permanência no mar.

O Mar Vermelho estende-se por 1930 qui-lómetros, desde o canal de Suez, a Norte, até ao estreito de Bab-el-Mandeb, a Sul. A sua grande importância geoestratégica está rela-cionada com a ligação ao mar Mediterrâneo através do canal de Suez e ao mar Arábico

pelo estreito de Bab-el-Mandeb e Golfo de Aden, permitindo a passagem ma-rítima entre a Europa e a Ásia, sendo, por isso, utilizado pelas principais rotas comerciais.

O nível das águas do Mar Vermelho é predominantemente sustentado pela ligação ao Golfo de Aden, sendo o estrei-to de Bab-el-Mandeb mantido desim-pedido através de dragagens e rebenta-mentos. Por outro lado, o crescimento de bancos de corais tem aumentado as dificuldades de navegação, chegando mesmo em algumas zonas a reduzir a margem de manobra dos navios mer-cantes face a um ataque.

Após dois dias de patrulha, regres-sámos ao IRTC. Contudo, durante o trânsito nocturno, um navio mercante relatou estar a ser perseguido por em-barcações suspeitas, tendo a “Vasco da Gama” invertido rumo de imediato e aumentado a velocidade por forma a investigar a situação. Passada cerca de uma hora, um helicóptero coreano chegou ao local não tendo detectado qualquer embarcação, pelo que o navio mercante considerou estar fora de pe-

rigo e a “Vasco da Gama” retomou o rumou anterior.

Como se pode verificar, os elementos da guarnição têm de estar sempre vigilantes e prontos a actuar o mais rapidamente possível, para socorrer, ou apenas “descansar”, os cerca de 70 navios mercantes que por aqui passam diariamente.

Colaboração do Comando do NRP VASCO DA GAMA

O VALM Vice-CEMA com o Comandante Diogo Arroteia no Centro de Operações.

Recepção ao Embaixador de Portugal no Quénia, Dr. Alexandre Vassalo.

ACTIVAÇÃO DA EUROMARFOR

A Força Marítima Europeia (EUROMARFOR), que é actualmente comandada por Portugal, foi activada no dia 21 de Junho para a participação no exercício naval CONTEX/PHIBEX, organizado pela Marinha Portuguesa. A Força de navios da EUROMARFOR foi composta pelo Destroyer De Grasse (França), as fragatas “Bartolomeu Dias” (Portugal) e “Navarra”

(Espanha). Com o navio português a assumir as funções de navio-chefe, onde esteve integrado o Staff conjunto liderado pelo CMG Costa e Sousa, o comandante táctico durante o exercício.

Esta foi a última activação da Força Marítima Europeia durante o comando português, como foi referido na cerimónia de acti-vação, que teve lugar no Cais do Jardim do Tabaco, pelo Comandante da EUROMARFOR e Comandante Naval, VALM Monteiro Montenegro, já que no próximo dia 15 de Setembro em Toulon terá lugar a entrega de comando a França.

Saiba mais sobre a EUROMARFOR em www.euromarfor.org

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10 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

D. Sebastião: as vicissitudes de um carácterA MARINHA DE D. SEBASTIÃO (22)

O carácter de D. Sebastião, certamente responsável pelas suas decisões polí-ticas, tem sido alvo de múltiplas análi-

ses, prejudicadas pelas lendas que se seguiram ao desastre de Alcácer Quibir. O trauma desta batalha, onde pereceu o rei de Portugal e onde o país perdeu, senão a sua independência, pelo menos a capacidade autónoma, foi razão de um conjunto de histórias fabulosas acerca do jovem soberano. Não é possível compreen-der o período sebástico sem entender o carác-ter do rei: os seus temores, sonhos, convicções, maneiras de encarar o mundo, o governo e a vida. Mas, para o fazer, é preciso mergulhar nos factos, e eles foram deturpados pela angústia de um povo que viu desaparecer um número incontável dos seus filhos, no que sempre foi visto como uma aventura guerreira sem nenhum sentido ou propósito. Maria Augusta Lima Cruz, numa recente biografia de D. Sebastião, dá bem a medida deste processo procurando se-parar o trigo do joio e alcançar a figura humana de um rei en-tronizado aos 14 anos, rodeado de gente a querer influenciar as suas decisões.

O necessário casamento do rei e a tentativa do consórcio com Margarida de Valois são exemplos paradigmáticos das tensões da época e da influ-ência que a coroa espanhola jogava em Portugal. A França, país natal da noiva, vivia um momento con-turbado, com guerras entre católicos e pro-testantes, que tinha repercussões directas em Portugal. Os piratas franceses assolavam o comércio ultramarino que demandava Lisboa e a coroa gaulesa fazia vista grossa sobre esse assunto, porque assim se via obrigada pelos difíceis equilíbrios internos entre católicos e protestantes. O problema assumiu proporções inaceitáveis, levantando-se um conflito diplo-mático grave quando, em 1566, a ilha da Ma-deira foi atacada e pilhada por um renegado português ao serviço do almirante huguenote Gaspar de Coligny. Por isso, quando Felipe II insistiu para que fosse enviada procuração ao embaixador de Portugal em Madrid, para negociar o casamento, o jovem soberano por-tuguês respondeu que não havia necessidade de o fazer por ora, acrescentando que não via, da parte da França, qualquer sinal de remediar o incidente pendente. Era mais uma descul-pa para protelar o assunto, a que o embai-xador de Espanha, Hernando Carrillo, não dava muita importância, tomando-a por passageira. Segundo as suas palavras, D.

Sebastião estava melindrado mas, “tal como os meninos, quando se lhes tirava um brin-quedo”, acabaria por acalmar. Enganava-se redondamente quanto ao carácter do rei português. Como observou o embaixador de Veneza em Castela (cit. Mª Augusta Lima Cruz), o problema não era apenas a França nem o ataque à ilha da Madeira, mas o con-flito com Madrid e a tutela que o rei de Cas-tela queria manter sobre o sobrinho.

Naturalmente que esta tensão ibérica ti-nha provocado alinhamentos políticos na cor-

te portuguesa, sabendo-se que Dª Catarina e o cardeal D. Henrique representavam, global-mente, duas facções: a rainha pela aproxima-ção a Madrid e o cardeal infante pela autono-mia. E digo “globalmente” porque a posição de D. Sebastião era muito mais radical que a de D. Henrique, alimentada pelo padre Luis Gonçalves da Câmara, seu confessor e con-fidente, e por um pequeno grupo de nobres conselheiros, onde se contava D. Álvaro de Castro, o filho do vice-rei da Índia.

Todos estes factos ajudam a compreender melhor quem foi D. Sebastião, procurando desvendar a sua personalidade, para além dos mitos criados depois de Alcácer Quibir. Nestes primeiros anos de governo, foi um rei que quis romper com um passado recente em múlti-plos aspectos: renegava a relação tutelar de Castela, que crescera na regência, e pretendia cortar com a tradição de uma monarquia mer-cantilista que comprava e vendia as drogas do Oriente e do Brasil. Não o inspiravam as figu-ras de D. João III ou D. Manuel e quis ir bus-car as suas referências mais além, aos reis da primeira dinastia, que construíram Portugal

na luta contra os mouros. D. Afonso III, o con-quistador do Algarve, mereceu-lhe uma espe-cial deferência, mas foi devoto de outros ante-passados mais longínquos do que os recentes senhores do comércio ultramarino. A questão religiosa tinha grande importância e, por isso, se interessou pelo Norte de África. Era muito rigoroso em questões de costumes e compor-tamentos públicos: a sobriedade, a dedicação à causa pública e a abnegação dos cavaleiros, eram traços muito fortes que apreciava e cul-tivava nele próprio. A corte queixava-se de

que o rei decidia mudar-se de terra para terra, sem dar tempo a preparativos e metendo-se ao caminho a cavalo, chegando sempre ao seu destino antes das estruturas próprias da máquina administrativa, cujos funcionários viviam em so-bressalto.

Detestava viver em Lis-boa e, sobretudo, no Paço da Ribeira, que tinha sido man-dado construir por D. Ma-nuel para ficar próximo do movimento dos navios e das fainas de carga e descarga. Se ao seu bisavô encantava o cheiro das especiarias, ele não o suportava de forma alguma e recusava aquele pequeno mundo da casa da Índia, dos mercadores, do bulício cons-tante e da promiscuidade do centro sobrelotado do comér-cio do Oriente. Em Abril de 1569 decidiu que não voltaria

à Ribeira e mandou restaurar o velho Paço da Alcáçova do Castelo de S. Jorge, para sua habitação na capital. Disse-se que o fez em duas semanas, com centenas de operários a trabalhar de noite e de dia, preparando um faustoso aposento de custos elevadíssimos. É mais um mito acerca de D. Sebastião: o Paço era sóbrio apesar de confortável, como escreveu um delegado do Papa que lá ficou alojado em 1570. Sobretudo dele se observa-va toda a cidade e o rio, sem a claustrofobia da Ribeira e muito mais adequado ao rei de Portugal, como realçou Damião de Góis.

A partir de 1570 o rei vive numa ansieda-de crescente que o impele para algo de gran-dioso: imagina-se a combater os mouros, os hereges e todos os inimigos do cristianismo romano, sabendo que tem de ser ele próprio a construir esse destino. Vive entusiastica-mente o espírito tridentino, mas perde-se nele com impulsos ingénuos que o maquiavelis-mo da época se encarregou de armadilhar.

J. Semedo de MatosCFR FZ

D. Sebastião: as vicissitudes de um carácter

“Plano de Lisboa do Século XVI“, segundo uma gravura de «Theatrum Ur-bium» de Georg Braun. Legenda: 1 – Paço da Alcáçova (Castelo de S. Jorge), 2 – Paço da Ribeira, 3 – Alfandega, 4 – Ribeira das Naus, 5 – Cais de Pedra do Terreiro do Paço, 6 – Cais do Carvão (Santa Apolónia).

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11REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

Filho do oficial do Exército Manuel Joaquim Crespo Júnior e de Fernan-da Brandão Pereira Crespo, Manuel

Pereira Crespo nasceu em Lisboa no dia 30 de Julho de 1911. Aluno do Colégio Militar, viu-se obrigado a abandonar aquele estabe-lecimento de ensino por motivos de saúde, tendo completado os estudos secundários no liceu Gil Vicente. Depois disso, ingressou na Faculdade de Ciências de Lisboa, onde con-cluiu o segundo ano do curso de Matemáti-cas. Talvez em resposta a um chamamento íntimo ou a uma vocação que se desconhece, Manuel Pereira Crespo abdicou daquela que se afigurava ser uma promissora carreira académica universitária, em troca de uma vida dedicada à Marinha, ingressando, no dia 1 de Outubro de 1930, já com 19 anos, na Escola Naval. Casaria, cinco anos mais tarde, no dia 14 de Novembro de 1935, com Ema Carmo Sequeira Gonçalves, não tendo dei-xado qualquer descendente.

Promovido a Guarda-marinha no dia 1 de Setembro de 1933, iniciou um perío-do de diversas comissões de embarque a bordo do contratorpedeiro Tâmega e das canhoneiras Faro, Quanza e Bengo. Em 1935, após curta passagem pela Escola de Artilharia Naval, voltou a embarcar, desta feita como oficial de guarnição do aviso Gonçalves Zarco, aí permanecendo até Ou-tubro de 1937. Foi neste navio que realizou a sua primeira longa comissão de serviço nas províncias ultramarinas, desta feita em Moçambique.

Regressado a Lisboa, frequentou o cur-so de especialização em Radiotelegrafia e Comunicações, que concluiu como melhor classificado. Depois disso, entre 1939 e 1943 prestou serviço na Missão Hidrográfi-ca das Ilhas Adjacentes, primeiro como chefe de serviço a bordo do navio--hidrográfico Carvalho Araújo2, e, após promoção a Primeiro-tenente, como oficial imediato do navio-hi-drográfico D. João de Castro.

Em 1943 regressou como oficial imediato ao navio-hidrográfico Carvalho Araújo, seguindo para a Missão Hidrográfica de Angola, onde até 1947 executou inúmeros traba-lhos de hidrografia e geodesia, em cinco campanhas consecutivas.

Apesar de não ser hidrógrafo, em Outubro de 1947 foi-lhe confiada a che-fia da Missão Geo-Hidrográfica da Guiné, assumindo, pouco depois, o comando da Mandovi, uma canhoneira converti-

da em navio-hidrográfico, destinada a apoiar a Missão. O trabalho desenvolvi-do durante uma década, além do enor-me contributo para a navegação, reve-lar-se-ia crucial para o planeamento e execução da actividade operacional que aí se desenrolou a partir de 1961, quan-do eclodiu a guerra do Ultramar.

Comandou também o patrulha Sal, que deixou para reassumir o comando do navio--hidrográfico Mandovi, onde permaneceu mais cinco anos. Pelo facto de ter sido o pri-meiro classificado do Curso Geral Naval de Guerra, que frequentou em 1951, recebeu o Prémio Almirante Botelho de Sousa.

Em 1956, conhecedores da dimensão dos trabalhos que se desenrolavam na Missão Geo--Hidrográfica da Guiné, os técnicos franceses destacados no Senegal quiseram observar, in loco, a organização implementada pelo

Capitão-tenente Manuel Pereira Crespo. Pela excelência do seu trabalho, o governo francês condecorou-o com o grau de Oficial da Or-dem da Legião de Honra.

Aquando da substituição do Mandovi pelo Pedro Nunes, convertido em navio-hidrográfi-co em 1956, o Capitão-tenente Manuel Pereira Crespo comandou o navio até 10 de Maio de 1957, altura em que cessou igualmente a che-fia da Missão Geo-Hidrográfica da Guiné.

Muito embora não fosse hidrógrafo de formação, Manuel Pereira Crespo esteve cer-ca de 15 anos envolvido nalgumas das mais exigentes missões e tarefas que nesta área a Marinha desenvolveu. Regressou definitiva-mente à metrópole em meados de 1957, vindo prestar serviço na Divisão de Organização do Estado-Maior da Armada (EMA). De referir que, no ano anterior, havia integrado a Co-missão de Redacção dos Anais do Clube Militar Naval, tendo sido responsável pela «Crónica de Marinha» durante oito anos.

Durante a comissão de serviço que prestou no EMA, o Comandante Pereira Crespo fez parte de diversos grupos de trabalho, tendo integrado a Comissão de Estudo e Reforma do Ensino na Escola Náutica, contribuindo também para a reorganização do ensino na Escola Naval.

No dia 11 de Maio de 1959 assumiu o cargo de chefe da Divisão de Organização do EMA, que desempenhou durante mais de quatro anos, acumulando com a presidência da Co-missão Permanente de Infra-estruturas da Ar-mada. Nesse período integrou ainda o Grupo de Trabalho de Planeamento da Rede Costeira de Radar e frequentou um curso sobre guerra atómica.

Em 1960, pelo par de artigos subordinados ao tema Problemas de Estratégia Naval, publicados nos Anais do Clube Militar Naval – «As missões das forças navais na guerra revolucionária» e «Objec-tivos da guerra naval e missões das forças navais» – foi distinguido com o Prémio Almirante Augusto Osório.

Dotado de verdadeira visão estra-tégica, expressou, em várias ocasiões, a necessidade da Marinha proceder a uma reorganização profunda, nomea-damente nas estruturas do Ultramar, ideia que continuou a desenvolver

após publicação, em 1957, do artigo «Esboço duma possível reorganização dos serviços de marinha nas Províncias Africa-nas», nos Anais do Clube Militar Naval.

Atendendo à sua elevada reputação, era frequentemente convidado para integrar gru-

«As actuais limitações do nosso Poder Naval não são imutáveis no futuro nem desanimadoras no presente. As marinhas peque-nas também podem ser grandes: quando todas as suas actividades se enquadram numa doutrina correcta, quando a modéstia do material não significa incapacidade e quando o pessoal, sendo competente, é animado por um elevado espírito de corpo»1.

O Guarda-marinha Manuel Pereira Crespo.

O navio - hidrográfico Mandovi.

ALMIRANTE MANUEL PEREIRA CRESPOORGANIZAÇÃO E VISÃO ESTRATÉGICA COMO VIRTUDES

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12 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

pos de trabalho, sendo de realçar a criação da classe de fuzileiros em 1961, que considerava imprescindível para a defesa dos interesses portugueses em África.

Na sequência da invasão do território do Estado da Índia Portuguesa, pelas tropas da União Indiana em Dezembro de 1961, publi-cou nos Anais do Clube Militar Naval a sua aná-lise dos acontecimentos, colocando ênfase na fragilidade da posição portuguesa, em gran-de medida fruto da disparidade das forças em confronto.

Em 1963 viu promulgada a profunda reformulação da Ordenança do Serviço Naval (OSN), que efectuou durante a sua passagem pelo EMA. Assumiria, em Outubro desse ano, o comando da Flotilha de Draga-minas, que exerceu em acumulação com a frequência do Curso Superior Naval de Guerra. Pelo facto de ter sido o melhor classificado do Curso, foi-lhe atribuído o Prémio Almirante Américo Tomás. No ano seguinte frequentou ainda o Special Weapons Orientation Course, na Intelligence, Military and Special Weapons School Europe.

Concluído o CSNG, cessou igualmente as funções de Comandante da Flotilha de Dra-ga-minas, assumindo a chefia da 1.ª Divisão do EMA (Organização), cargo que desempe-nhou, durante mais de dois anos. Por inerên-cia, voltou a presidir à Comissão Permanente de Infra-estruturas da Armada, precursora da actual Direcção de Infra-estruturas. Importa sublinhar que em 1964 exerceu, por duas ve-zes, as funções de Capitão de Bandeira a bor-do de dois paquetes utilizados na ligação entre Portugal e as províncias africanas, primeiro no Vera Cruz e, pouco tempo depois, no Niassa.

Em 1965 integrou a Comissão de Estudo para as novas instalações do Instituto Hidro-gráfico, sendo de realçar a marca profunda que deixou no EMA, concluídos os cerca de 9 anos em que aí prestou serviço, como atesta o testemunho do Vice-almirante Silva Horta:

«Pela facilidade com que definia e dissecava um problema. Pela abertura de espírito com que escuta-va opiniões e sugestões. Pela clareza do raciocínio que conduzia à solução»3.

Em muitas áreas, e com o seu precioso con-tributo, a Marinha conheceu, em meados dos anos 60, diversos desenvolvimentos, como a criação do Centro de Instrução de Minas e Contramedidas, do Grupo n.º 2 de Escolas da Armada, dos Comandos Navais do Continen-te e dos Açores e do Comando da Defesa Marí-tima da Madeira, além do Centro de Instrução de Táctica Naval (CITAN). Foi também por esta altura que foi criada a esquadrilha de lan-chas do lago Niassa, em Moçambique, essen-cial para contenção dos ataques que se verifica-vam no norte daquela província ultramarina.

A 14 de Setembro de 1966 foi promovido a Comodoro, passando a desempenhar fun-ções de adjunto do Chefe do Estado-Maior da Armada, onde prosseguiu o trabalho de reorganização da Marinha. Foi neste período professor efectivo das cadeiras de Estratégia

e de Organização no Instituto Superior Naval de Guerra, sendo autor do Ciclo de Lições de Estratégia e Ciclo de Lições de Organização, pu-blicações que, durante décadas, constituíram referências para o estudo destas matérias.

Pelo facto de não ser propriamente um in-condicional do regime, a sua nomeação para Ministro da Marinha colheu de surpresa mui-

tos dos seus amigos. Assumiu o cargo no dia 20 de Agosto de 1968, tendo sido promovido a Contra-almirante a 24 de Janeiro de 1969.

Numa interessante entrevista que, como Ministro da Marinha, concedeu aos Anais do Clube Militar Naval em 1969, afirmou que a sua maior preocupação era «modificar as condições em que os militares da Armada vivem e servem»4. Neste sentido, procurou encon-trar uma solução adequada para o problema do Hospital da Marinha e para a assistência médica às famílias dos militares. Quanto às preocupações que não tinham directamente a ver com o pessoal, elas passavam por:

«[…] transformar o Arsenal do Alfeite num estabelecimento fabril eficiente; acabar com as enervantes demoras na construção das novas infra-estruturas; problema do edifício do Minis-tério da Marinha que carece duma solução global; instalação do Instituto Hidrográfico em Paço de Arcos; criar nos Jerónimos um grande centro cul-tural da Marinha que compreendesse o Museu, a Biblioteca, o Arquivo e o Grupo de Estudos de História Marítima (que poderá ser o embrião de uma Academia de Marinha); acelerar a constru-ção das infra-estruturas dos novos navios; cons-truir um supermercado em Alcântara, […]»5.

Na sequência do incêndio que a 18 de Fe-vereiro destruiu as instalações do Instituto Hi-drográfico, que nessa época funcionava na an-tiga Sala do Risco, o Contra-almirante Pereira Crespo compareceu no local, aí acompanhan-do os trabalhos de salvamento e rescaldo. De acordo com o testemunho do Vice-almirante Barahona Fernandes,

«[…] com o seu prestígio e aproveitando o efei-to de choque […] conseguiu em dois dias obter do ministro das Finanças não só uma verba de 70 000 contos […] destinada à reinstalação dos serviços

afectados pelo incêndio, como a oferta por aquele Mi-nistério da cedência imediata de qualquer dos edifí-cios que lhe estavam adstritos […] Após uma rápida visita a alguns deles, foi escolhido o antigo Convento das Trinas […]»6.

Nos quase seis anos que levou como Mi-nistro da Marinha, foram diversos os desen-volvimentos que resultaram da sua iniciativa, designadamente, a reorganização da estrutu-ra das Forças Armadas nas províncias ultra-marinas; a criação do Grupo de Estudos de História Marítima, precursor da Academia de Marinha; a criação da Força de Fuzilei-ros do Continente e da Direcção de Infra--estruturas; as novas instalações do Instituto Hidrográfico; a criação da Revista da Armada e do Gabinete de Heráldica Naval; a assistência hospitalar, médica e medicamentosa ao pes-soal da Armada e seus familiares; a edificação do supermercado da Marinha; e a criação dos Conselhos das Classes da Armada.

Contam-se também, neste período, a construção de diversos navios – alguns deles no Arsenal do Alfeite – além da aquisição de outros no estrangeiro. Relativamente ao Arse-nal do Alfeite, procedeu à sua militarização e reorganização, com o objectivo de aí ser feita

a manutenção dos novos navios da Armada. Tendo em vista esse desiderato, foram cons-truídas a doca seca e a doca flutuante, esta última com recurso ao aço que havia sido im-portado durante a Segunda Guerra Mundial.

Consumado o golpe de Estado, o Contra--almirante Pereira Crespo e outros membros do governo foram levados, sob prisão, para o quartel de Engenharia da Pontinha. Diz no seu último livro que,

«Ao amanhecer, vi o terreiro fronteiro ao edi-fício em que me encontrava preso, cheio de fuzi-leiros, com as suas boinas pretas e os seus cordões vermelhos. Era a tropa que, com tanto trabalho e carinho eu tinha ajudado a criar e a estruturar, para que a Marinha, mais valiosamente, pudesse defender o Ultramar português»7.

Muito crítico do processo que levou à inde-pendência das províncias ultramarinas, consi-derava que não haviam sido acautelados os in-teresses de Portugal nem os dos portugueses que aí viviam. Disso mesmo deixou testemu-nho no seu livro Porque perdemos a guerra (1977) porque, tal como ele antecipara, as facções ri-vais, com apoio militar da União Soviética, de Cuba e dos Estados Unidos, haviam já entrado em conflito aberto em Angola e Moçambique.

Depois de ter sido distinguido com inúme-ros louvores e as mais altas condecorações, a espiral de acontecimentos que se sucedeu ao 25 de Abril de 1974 impediu que a Marinha pudesse continuar a contar com o prestígio, a dedicação e os conhecimentos do Contra-al-mirante Manuel Pereira Crespo. Antevendo o rumo que os acontecimentos iriam tomar, foi ele próprio quem a 29 de Abril de 1974 tomou a iniciativa de pedir a passagem à situação de reserva, que mereceu deferimento uma sema-na depois, no dia 6 de Maio.

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13REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

gar na Academia de Marinha, em sessão solene presidida pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Almirante Saldanha Lopes, uma outra homenagem ao Vice-almirante Manuel Pereira Crespo, na qual foram oradores o Contra-almirante José Leiria Pinto, o Capitão-de-mar-e-guerra Henrique Ser-ra Brandão e o Capitão da marinha mer-cante Joaquim Ferreira da Silva.

Colaboração do EMACFR António Manuel Gonçalves

Membro do CINAV

Em 1980, ultrapassadas as questões ideológicas e sanadas boa parte dos es-tigmas deixados pelo período revolu-cionário, a Marinha soube reconhecer os valiosíssimos serviços prestados pelo Vice-almirante Manuel Pereira Crespo, agraciando-o, no dia 4 de Julho, com a Medalha Naval de Vasco da Gama, es-cassos 11 dias antes de este falecer. Qual ironia do destino, o estabelecimento desta condecoração havia sido uma iniciativa sua enquanto Ministro da Marinha, por sinal o último que o país conheceu.

Dotado de uma visão estratégica ímpar, era considerado um organizador exímio e um trabalhador incansável.

Em paz com a vida, o Vice-almirante Manuel Pereira Crespo faleceu no dia 15 de Julho de 1980 no Hospital da Cruz Vermelha, guardando uma certa mágoa pelo facto de ter sido marginalizado na sequência da Revolução de Abril.

Por ter sido responsável pela sua criação enquanto Ministro da Marinha, a Revista da Armada instituiu em 1983 o Prémio Vice-almi-rante Pereira Crespo, destinado a galardoar o autor da melhor colaboração em cada ano. Em 2006, na sequência da remodelação das respectivas instalações por ocasião do 35.º aniversário, foi igualmente atribuído o seu nome ao espaço que funciona como arquivo, biblioteca e sala de leitura.

No ano 2000, por iniciativa de um grupo de cidadãos, entre os quais se encontravam diversos oficiais da Mari-nha residentes no concelho de Cascais, foi prestada uma homenagem ao Vice--almirante Manuel Pereira Crespo. Aco-lhida pela Câmara Municipal de Cascais, contou, desde a primeira hora, com o apoio da Marinha, tendo sido atribuído o seu nome a uma rua e a uma praceta na freguesia de São João do Estoril, local onde foi igualmente edificado um mo-numento com o seu busto, da autoria do Comandante Sousa Machado .

Em 2005, vinte cinco anos volvidos sobre a sua morte, foi a vez da Escola Naval o ho-menagear, fazendo-o Patrono do curso de ca-detes que entrou para a Marinha naquele ano.

Por ocasião do centenário do nasci-mento do Vice-almirante Manuel Perei-ra Crespo, que se celebrou no passado dia 30 de Julho, foram desenvolvidas várias iniciativas no âmbito da Marinha com o objectivo de prestar homenagem à sua memória. Neste sentido, cumpre destacar a atribuição do seu nome ao auditório do Estado-Maior da Armada, local onde no dia 8 de Julho decorreu uma sessão evocativa da sua prestigiada figura, numa cerimónia presidida pelo Vice-Chefe do Estado-Maior da Arma-da, Vice-almirante Carvalho Abreu, que contou com a presença de anteriores titu-lares do cargo. No dia 26 de Julho teve lu-

PROMOÇÕESAspirante 1 DE OUTUBRO DE 1930

Guarda-marinha 1 DE SETEMBRO DE 1933

Segundo-tenente 1 DE MARÇO DE 1935

Primeiro-tenente 28 DE MAIO DE 1940

Capitão-tenente 31 DE MARÇO DE 1953

Capitão-de-fragata 9 DE JULHO DE 1958

Capitão-de-mar-e-guerra 31 DE JULHO DE 1961

Comodoro (CALM) 14 DE SETEMBRO DE 1966

Contra-almirante (VALM) 24 DE JANEIRO DE 1969

CONDECORAÇÕES- Comendador da Ordem Militar de Avis (1956)- Medalha de Prata/Ouro de Comportamento Exemplar(1958/1967)- Medalha de mérito militar de 2ª classe (1959)- Medalha Naval Comemorativa do V Centenário da morte do Infante D. Henrique (1960)- 2 Medalhas Militares de Serviços Distintos, Prata (1961 e 1963)- Oficial da Ordem da Legião de Honra (França - 1961) - Cruz de 1.ª classe com distintivo branco de Ordem de Mérito Naval (Espanha - 1964)- Medalha de Mérito Militar de 1.ª classe (1968)- Grã-Cruz da Ordem de Mérito Naval (Brasil-1968)- Grã-Cruz da Ordem do Infante D.Henrique (1971)- Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco (Brasil-1969)- Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (Brasil-1971)- Grande Oficial da Ordem de Mérito Naval (Brasil-1971)- Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (Brasil-1972)- Medalha Naval de Vasco da Gama (1980)

PRINCIPAIS TRABALHOS PUBLICADOS

Subsídios para uma Estratégia Naval, Separata dos Anais do Clube Militar Naval, Lisboa, 1954.

Trabalhos da Missão Geo-Hidrográfica da Guiné (1948-1955), Bissau, Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, 1955.

Porque Perdemos a Guerra, Lisboa, Editora Abril, 1977.

«Subsídios para uma estratégia naval», Anais do Clube Militar Naval, n.º 84 e 85, Lisboa, 1954 e 1955, pp. 195-224, 293-329 e 63-95, 253-283

«Portugal na política e na estratégia mundiais», Anais do Clube Militar Naval, n.º 86, Lisboa, 1956, pp. 135-166 e pp 275-298.

«Crónica de Marinha», Anais do Clube Militar Naval, n.º 86-94, Lisboa, 1956-1964.

«Extensão da noção de domínio do mar», Anais do Clube Militar Naval, n.º 86, Lisboa, 1956, pp. 49-54.

«Esboço duma possível reorganização dos serviços de Marinha nas Províncias Africanas», Anais do Clube Militar Naval, n.º 87, Lisboa, 1957, pp. 33-42.

«Problemas de Estratégia Naval. Objectivos da guerra na-val e missões das forças navais» Anais do Clube Militar Naval, n.º 90, Lisboa, 1960, pp. 315-323.

«Problemas de Estatégia Naval. As missões das forças navais na guerra revolucionária», Anais do Clube Militar Naval, n.º 90, Lisboa, 1960, pp. 537-550.

«A invasão do Estado da Índia Portuguesa pela União In-diana», Anais do Clube Militar Naval, n.º 92, Lisboa, 1962, pp. 207-216.

«Alguns aspectos do problema naval português», Anais do Clube Militar Naval, n.º 92, Lisboa, 1962, pp. 875-881.

«Notas sobre a organização da Armada» Anais do Clube Militar Naval, n.º 94, Lisboa, 1964, pp. 45-71 e 307-330.

«As novas fronteiras da estratégia», Anais do Clube Militar Naval, n.º 96, Lisboa, 1966, pp. 629-638.

Busto do Vice-almirante Manuel Pereira Crespo.

O Vice-almirante Manuel Pereira Crespo.

Notas:1 CTEN Manuel Pereira Crespo, Subsídios para uma Estratégia Naval, p. 1242 Com o mesmo nome, foi anteriormente cruzador (1920-1932), e aviso de 2ª classe (1932-1937), antes de ser convertido em navio-hidrográfico em 1937.3 Silva Horta, «Crónica do Clube» vol. CXXX, Janeiro-Março de 2000, p.1404 «Os "Anais" ouvem: O Ministro da Marinha», Anais do Clube Militar Naval, n.º99, 1969, p.270.5 Idem, ibidem, p.271.6 Barahona Fernandes, «Crónica do Clube», p.1387 Pereira Crespo, Porque perdemos a guerra, p.145

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14 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE

Fundação: 4 de Abril de 1949Sede: BruxelasSigla: OTAN/NATOEstados-membros: 28Adesão de Portugal: membro fundadorSite: www.nato.int

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – entre nós conhecida pela sigla inglesa NATO2 – conheceu a sua génese a 4 Abril de 1949, com a assinatura do Tratado de Washington, cujo objectivo visava garantir, através de meios políticos e militares, a liberdade e a segurança dos Estados-membros signatários.

Em virtude da complexa conjuntura política europeia resultante da Segunda Guerra Mundial, os países da Europa Ocidental começaram a evidenciar sérias preocupações relativamente ao carácter expansionista do comunismo, patrocinado pela União das Repúblicas Socialistas So-viéticas (URSS). Com efeito, entre 1947 e 1949 tiveram lugar diversas acções de ingerência política e militar em vários países, como as ameaças directas às soberanias da Grécia, da Noruega e da Turquia, o golpe de Estado perpetrado na Checoslováquia e o bloqueio a Berlim.

Foi desta forma que, em Março de 1948, cinco Estados da Europa Ocidental – Bélgica, França, Holanda, Luxemburgo e Reino Unido – assinaram o Tratado de Bruxelas3, com o intuito de desenvolver um sis-tema comum de defesa, de forma a melhor resistir às ameaças de na-tureza ideológica, política e militar latentes, que, fundamentadamente, receavam poder vir a colocar em causa a segurança dos respectivos países e populações. Tendo em vista a criação de uma aliança transa-tlântica com os Estados Unidos e o Canadá, baseada na segurança mú-tua e nos compromissos de defesa colectiva da Europa Ocidental e da América do Norte, foram então encetadas as negociações. Seguiram--se, depois disso, convites endereçados pelos signatários do Tratado de Bruxelas à Dinamarca, Islândia, Itália, Noruega e Portugal, que abriu caminho à participação destes países no processo que culminou com a assinatura do conhecido Tratado do Atlântico Norte, que assenta nos princípios definidos pela Carta das Nações Unidas, visando o estabeleci-mento de uma paz justa e duradoura na Europa, baseada nos princí-pios da democracia, dos direitos humanos e do estado de direito.

Importa sublinhar que só em 1952, por decisão do então Conselho do Atlântico Norte que reuniu em Lisboa entre 20 e 25 de Fevereiro, a NATO se converteu numa organização permanente, com sede em Pa-ris. No entanto, a primeira cimeira da NATO só se realizou em 1957. Na prática, as cimeiras são reuniões especiais do North Atlantic Council (NAC), que constitui o órgão de decisão política da Aliança, sendo pre-sididas pelo Secretário-Geral da NATO. Realizam-se, regra geral, em momentos determinantes da conjuntura político-militar euro-atlântica, contando com a participação, ao mais alto nível, dos países-membros, que se fazem representar pelos respectivos Chefes de Estado e de Go-verno. Durante estas reuniões magnas, são aprovadas as linhas de ac-ção política e estratégica da Aliança, os convites para adesão de novos

ORGANIZAÇÕES E INICIATIVAS INTERNACIONAIS

membros, as iniciativas internacionais e as parcerias a desenvolver com países terceiros.

Uma vez que é neste forum que são tomadas as decisões estrutu-rantes e estratégicas, a necessidade de reunir começou a fazer-se sentir logo em 1954, depois de na Conferência das Quatro Potências (França, Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética), realizada no início desse ano em Berlim, não ter sido possível chegar a consenso quanto à reuni-ficação da Alemanha, em grande medida graças à posição intransigente da URSS. Inaugurada a escalada relativamente à questão da unificação alemã, os Estados Unidos e o Reino Unido rejeitaram, em Maio desse ano, a proposta da União Soviética para integrar a NATO, tendo forma-lizado convite à Alemanha Federal.

Sob a égide da União Soviética, a 14 de Maio de 1955 era assina-do o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar que congregava os de-nominados países socialistas da Europa de Leste. No final daquele ano, a URSS assinou com a Alemanha Oriental um Tratado – que esteve na génese da República Democrática Alemã (RDA) – no qual lhe concedia prerrogativas de Estado, abrindo caminho à separação formal do território alemão, que se manteve por 36 anos.

Em 1956, num claro atropelo aos princípios da ordem internacional, a União Soviética pôs cobro à revolta popular que eclodiu na Hungria. No ano seguinte, intensificaram-se, em vão, os esforços internacionais a favor da reunificação alemã, que passava pela realização de eleições livres em todo o território. Primeiro, aquando da reunião ministerial do Conselho do Atlântico Norte, que teve lugar em Bona, e, pouco de-pois, em Berlim, quando os governos da Alemanha Federal, França, Estados Unidos e Reino Unido assinaram, em conjunto, uma Declara-ção em que defendiam a integridade do território alemão. De nada ser-viram, pelo que as duas superpotências se envolveram numa corrida às armas nucleares, conhecida como Guerra Fria.

Em 1989, no âmbito da Conferência para a Segurança e Coo-peração na Europa (CSCE), e num claro sinal das mudanças que se anteviam a Leste, um total de 23 países da NATO e do Pacto de Varsóvia iniciaram conversações com vista à redução do arma-mento e das forças estacionadas na Europa.

Na sequência dos alargamentos que a NATO conheceu, no-meadamente daqueles que se sucederam à queda do Muro de Berlim e à unificação da Alemanha, chegou-se à conclusão de que a Aliança teria rapidamente que se adaptar, sob pena de não estar à altura dos desafios e ameaças do mundo pós-Guerra Fria e em crescente globalização. Em bom rigor, os alargamen-tos da NATO constituíram uma forma da Aliança incrementar a segurança, estendendo os limites da estabilidade a uma zona euro-atlântica mais vasta, em certa medida como complemento de outras tendências mais abrangentes de integração em curso, como os alargamentos da própria União Europeia (UE) e o pro-cesso de consolidação da Organização para a Segurança e Co-operação na Europa (OSCE). Foi desta forma que, em 1990, na primeira cimeira pós-Guerra Fria, foram aprovadas as linhas de acção tendo em vista a aproximação da Aliança aos países que acabavam de abandonar Pacto de Varsóvia.

«Caracteriza-se a nossa época pela vontade que os Estados manifestam em se agrupar, em se unir, em se federar não só para aumentar as suas forças e multiplicar o seu potencial defensivo, mas também para alargar os mercados dos seus produtos ou, até, garantir as fontes de abastecimento das matérias-primas. […] À desilusão comercial seguiu-se a desilusão política: surgiu a Guerra Fria. A Rússia, faltando aos compromissos assumidos em Ialta e Potsdam, colocando sob apertado controle os países da Europa Oriental, bloqueando as vias de abastecimento a Berlim, apoiando os levantamentos comunistas em várias partes do mundo, obstruindo os trabalhos da O.N.U. pelo uso e abuso do direito de veto, criou um clima de medo que atingiu a própria América. […] Perante o risco de uma abdicação total da sua soberania e da adesão forçada a uma experiência que não se mostrava, ainda, a todos convincente, a Europa não hesitou muito tempo: escolhendo o que entendeu ser o mal menor ligou-se aos Estados Unidos, através da Aliança Atlântica, numa tentativa para restabelecer o equilíbrio político que assim passava, pela primeira vez na História, da escala europeia à escala mundial»1 . Com efeito, através dos alargamentos de que foi alvo, das parcerias entretanto criadas e das operações out-of-area que vem desenvolvendo, a NATO é hoje um actor global.

3. A GLOBALIZAÇÃO DA ALIANÇA

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15REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

O Conceito Estratégico adoptado na cimeira de Roma em 1991, além de delinear uma abordagem baseada no diálogo, na cooperação e na manutenção de uma capacidade de defesa colectiva, apontava, também, para uma menor dependência em relação às armas nucleares, que deve-ria ser acompanhada de importantes alterações nas forças militares da NATO, incluindo reduções substanciais na sua dimensão e disponibili-dade, aumento da sua mobilidade, flexibilidade e capacidade de adapta-ção a diferentes cenários, contemplando uma maior utilização de forças multinacionais. Neste contexto, foram igualmente tomadas medidas visando a redução da estrutura do comando militar da Aliança e desen-volvidos procedimentos no âmbito da gestão de crises e da manutenção de paz. Com efeito, o novo conceito estratégico privilegiava as questões de segurança através de parcerias que, dentro em breve, começariam a ser criadas, primeiro com os denominados países de Leste, situação que se estendeu ao Cáucaso, ao Mediterrâneo, ao Médio Oriente e ao Pacífi-co. Foi assim constituído o Conselho de Cooperação do Atlântico Norte (NACC), cuja finalidade era supervisionar os desenvolvimentos futuros, dando lugar em 1997 ao Euro-Atlantic Partnership Council (EAPC), cria-do com o objectivo de salvaguardar a liberdade e a segurança dos seus membros, agora numa região euro-atlântica alargada. Neste sentido, a primeira prova de fogo à capacidade de adaptação da NATO aos novos tempos foi, sem dúvida, a resposta dada às guerras que eclodiram nos Balcãs, na sequência da desagregação política da Jugoslávia.

No sentido de desenvolver a confiança e as boas relações entre dois blocos até há poucos anos antagonistas, e que haviam saído beliscadas pelos confrontos e autonomias que registaram na ex-Jugoslávia, em 1997 era assinado o Acto Fundador NATO-Rússia, numa demonstração de inte-resse comum para as questões de segurança e estabilidade.

Em 2002, na sequência dos ataques ocorridos no ano anterior nos Estados Unidos, a cimeira de Praga ficou marcada pela adop-ção do conceito militar de defesa contra o terrorismo e pela decisão de apoiar os países-membros da NATO na intervenção no Afega-nistão, através da International Security and Assistance Force (ISAF). Dois anos mais tarde era declarado operacional o conceito denomi-nado NATO Response Force (NRF).

Por ocasião da cimeira que marcou o 60.º aniversário da Aliança, foi aprovado o regresso dos gauleses à estrutura militar da NATO, que estes haviam abandonado, de forma voluntária, em 1966. Aliás, foi na sequên-cia daquela decisão que em 1967 a sede da NATO foi transferida de Paris para Bruxelas.

Com a aprovação do Conceito Estratégico de Lisboa, procurou-se sis-tematizar as linhas de evolução anteriores, incorporando, como novida-de, a segurança cooperativa no rol de tarefas essenciais da Aliança, a par da defesa colectiva e da gestão de crises4.

No que concerne ao seu funcionamento a NATO assenta, no essen-cial, em dois pilares, um de âmbito civil e outro militar. No primeiro encontramos instituições como o Conselho do Atlântico Norte (NAC), o

Secretariado Internacional, a Assembleia do Atlântico Norte e os diversos Comités, enquanto a componente militar integra o Comité Militar (MC), o Estado-Maior Internacional (IMS), os Altos Comandos, os Comandos Subordinados e as Agências Militares.

PARCERIA PARA A PAZ

Fundação: 10 de Janeiro de 1994Sigla: PfPEstados-membros: NATO+22

Talvez por se tratar do primeiro passo nesse sentido, a Parceria para a Paz (PfP)5 é, consensualmente, considerada a iniciativa mais importante introduzida pela Aliança desde o final da Guerra Fria. Foi na cimeira que se realizou em Bruxelas em 1994, que a NATO deci-diu estender o paradigma da estabilidade e segurança a toda a Euro-pa, do Atlântico até ao Cáucaso, convidando os países-membros do NACC e outros Estados participantes na CSCE a juntarem-se num vasto programa de cooperação, conhecido como Parceria para a Paz.

Muito embora o programa da PfP seja vocacionado para a co--operação no âmbito da defesa, estabelece, para cada país, e de acordo com os seus intentos, uma parceria bilateral com a NATO, contribuindo para a redução de ameaças à paz e para o incremen-to da confiança recíproca. De acordo com o Documento Quadro da PfP, a Aliança compromete-se a manter consultas com qual-quer país Parceiro, sempre que este entenda existir uma amea-ça directa que ponha em causa a sua integridade territorial, bem como a sua independência política ou a sua segurança.

Em 1997, a cimeira que teve lugar em Madrid coincidiu com a pri-meira reunião do denominado Euro-Atlantic Partnership Council (EAPC), onde têm igualmente assento todos os membros da PfP. De resto, é ao EAPC que compete definir o quadro que regula a cooperação entre a NATO e os demais países Parceiros, cujos propósitos visam: favorecer a transparência dos processos de defesa nacionais; garantir o controlo democrático das forças armadas; manter a capacidade e disponibilida-de para participar em operações sob mandato da ONU ou no quadro da OSCE; fomentar a cooperação com a NATO em termos de planea-mento, treino e exercícios militares; e desenvolver a interoperabilidade das forças, para operar de forma integrada e sem restrições com as dos membros da Aliança. Cumpre referir que, além dos pontos referidos, a cooperação no âmbito da PfP cobre uma vasta gama de possibilidades, não se confinando unicamente aos aspectos militares e de defesa.

A Parceira para a Paz é, antes de mais, um programa de cooperação bilateral entre cada um dos países parceiros e a própria NATO, adequa-do às prioridades de cada Estado, no sentido de garantir a estabilidade, diminuir as ameaças e fortalecer as relações, não só com a Aliança mas também entre os países PfP.

Os países da NATO (■), da Parceria para a Paz (■), do Diálogo do Mediterrâneo (■), da Istanbul Cooperation Initiative (■), dos Contact Countries (■) e aqueles com quem a Aliança mantém relações privilegiadas (■).

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16 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

volvidos localmente pelo Reino Unido. No sentido de facilitar a aproxi-mação a potenciais países interessados na ICI e no DM, a Aliança criou em 2006 o Regional Co-operation Course no NATO Defence College.

A exemplo do que sucede com as demais parcerias desenvolvidas pela Aliança, foi entretanto criado o Istanbul Cooperation Initiative Group, que integra conselheiros políticos dos 28 países da NATO. É a este Gru-po que compete definir os procedimentos e desenvolver actividades re-levantes para os países do ICI, assegurando ainda a sua implementação.

CONTACT COUNTRIES

Fundação: 28 de Novembro de 2006Sigla: CCEstados-membros: NATO+3

A partir de 1990, tendo em vista a concretização de parcerias de co-operação com países terceiros não abrangidos pelas áreas consideradas cruciais para a Aliança, a NATO iniciou, a título informal, contactos bila-terais com alguns Estados. Ao contrário do que sucede com as parceiras atrás referidas, para estes países foi desenvolvido um quadro informal de relações com a NATO, tendo o primeiro deles sido posto em prática com o Japão. Num processo que evoluiu com alguma lentidão, só em 2004 foi aprovada a designação Contact Countries, também conhecida como Partners Across the Globe, por sinal na mesma altura em que foi de-cidido criar a ICI. No entanto, os primeiros passos concretos só foram dados na cimeira de Riga, já em 2006. Tratando-se de um processo mais flexível do que as parcerias propriamente ditas, permite que os países contribuam política e militarmente para as operações que se desenvol-vem no quadro da NATO, participando também na sua preparação, como aconteceu com as missões no Kosovo e no Afeganistão, esta últi-ma ao abrigo da ISAF. Tendo em vista esse desiderato, a Aliança desen-volveu o conceito das Combined Joint Task Forces (CJTF).

Reforçadas por via das operações reais as relações entre a Aliança e os países que participam com forças militares, na cimeira Bucareste em 2008 considerou-se oportuno definir os procedimentos a adoptar com outros possíveis parceiros, em qualquer ponto do mundo.

Em grande medida graças às parcerias desenvolvidas pela NATO, tem sido possível obter os meios humanos e materiais necessários para as operações que decorrem sob a égide da Aliança, primeiro na Bósnia e no Kosovo, passando depois para Operação Active Endeavour no Medi-terrâneo, pela longa presença no Afeganistão e pela ajuda humanitária aquando do sismo no Paquistão, além das forças navais empenhadas em mitigar os actos de pirataria que se sucedem ao largo da Somália, até às intervenções que decorrem na Líbia.

Além dos 28 Estados que actualmente integram a NATO, através das diferentes parcerias – Parceria para a Paz (22), Diálogo do Medi-terrâneo (7), Istanbul Cooperation Iniciative (4) e Contact Countries (3) – a Aliança mantém ainda relações privilegiadas com países como a Bósnia, o Kosovo, o Iraque, o Afeganistão, o Paquistão e a Coreia do Sul, sendo de prever que o mesmo possa vir a suceder na Líbia, e, quem sabe, na Somália, logo que ultrapassados os actuais impasses.

Criada com o objectivo de garantir a segurança mútua dos Estados signatários, na região do Atlântico Norte que se desenvolve para norte do Trópico de Câncer, constata-se que a Aliança se tornou, entretanto, um actor global, como o provam as mais recentes intervenções em te-atros designados por out-of-area. Foi igualmente nesta estratégia que se inseriu o Périplo de África efectuado pelos navios do Standing NATO Ma-ritime Group 1 (SNMG 1) em 2008, pelo que a influência da NATO já se estende, presentemente, a cerca de 70 países.

CFR António Manuel GonçalvesMembro do CINAV

DIÁLOGO DO MEDITERRÂNEO

Fundação: 10 de Janeiro de 1994Sigla: DM/MDEstados-membros: NATO+7

Foi igualmente na cimeira de Bruxelas em 1994, que a Aliança deci-diu avançar para uma parceria de aproximação aos países mediterrâni-cos, num processo designado como Diálogo do Mediterrâneo (DM). Em boa verdade, o DM constitui parte integrante da abordagem cooperativa que a NATO desenvolve com vista à segurança na área euro-atlântica, que passa pela estabilidade em toda a região do Mediterrâneo. Com-preensivelmente, o DM tem como objectivo contribuir para um melhor entendimento entre a Aliança e os países da região, procurando desfazer eventuais equívocos relativamente às funções da NATO. Constituindo um processo bilateral progressivo, o DM passa, no essencial, pelo apro-fundar das relações entre a Aliança e cada um dos países aderentes. Ao proporcionar a todos o mesmo quadro de intercâmbio e actividades conjuntas, contribui para o reforço de outros processos e iniciativas inter-nacionais que se desenvolvem na região, como são os casos do Processo de Barcelona, o Processo de Paz do Médio Oriente e a Iniciativa 5+5 Defesa.

Tidos como elementos-chave para o progresso dos níveis de estabili-dade almejados pela Aliança, um dos propósitos do DM é fazer com que aqueles países partilhem com a NATO a sua visão no que respeita à se-gurança na região. Por conseguinte, existe uma permanente preocupação em trazê-los para: participar em actividades científicas, troca de informa-ção e planos de emergência civil; frequentar cursos nas escolas da NATO; controlar e verificar armamento; e compartilhar responsabilidades das forças militares no que concerne à protecção do meio ambiente.

Em 1997, com o intuito de facilitar a articulação entre a NATO e os países do DM, foi criado o Grupo de Cooperação Mediterrânica, que lhe conferiu melhor orientação e uma acção mais dinâmica, alargando as pos-sibilidades de cooperação a mais de 700 actividades e eventos a realizar em cada ano.

ISTANBUL COOPERATION INITIATIVE

Fundação: 28 de Junho de 2004Sigla: ICIEstados-membros: NATO+4

Ciente da deslocação do eixo de segurança da Europa para leste, a cimeira que em 2004 se realizou em Istambul aprovou o reforço da cooperação com determinados países do Médio Oriente, ao abrigo do Documento Quadro da Istanbul Cooperation Initiative (ICI). Face à sensibi-lidade da questão, e uma vez que Israel integra o Diálogo do Mediterrâ-neo, o documento prevê a possibilidade da participação da Autoridade Palestiniana no ICI, mediante aprovação prévia do NAC.

Em Março de 2005 teve lugar no NATO Defence College, em Roma, a conferência NATO and the broader Middle East region, que juntou mais de uma centena de altas patentes, parlamentares, académicos e especialis-tas em segurança, oriundos dos países da NATO e do Golfo Pérsico, numa troca de ideias e experiências que permitiu desenvolver a forma de pôr em prática os objectivos delineados para a ICI que é, em grande medida, complementar do Diálogo do Mediterrâneo. De forma análo-ga, oferece a possibilidade dos países beneficiarem da cooperação com a NATO, através de programas individuais especialmente adequados para o efeito, que incluem planeamento civil de emergência, reformas na área da defesa, melhoria das relações entre as autoridades civis e militares, promoção da cooperação entre os ramos militares, combate ao terrorismo e à proliferação de armas de destruição maciça, concreti-zando-se, estas últimas, através da partilha de informação privilegiada (intelligence) e da cooperação marítima lato sensu.

Não obstante, a implementação da ICI só foi iniciada em 2006, com a visita do NAC ao Kuwait, que na ocasião acolheu a Conferência de Coope-ração com os países do Golfo. Posteriormente, o NAC participou em 2008 e 2009 em conferências de idêntico teor no Bahrein e nos Emiratos Árabes Unidos, respectivamente, tendo este esforço de aproximação aos países do Médio Oriente saído beneficiado pelos programas bilaterais desen-

Notas:1 Serra Brandão, «Os Doze Anos da N.A.T.O.», Anais do Clube Militar Naval, Abril-Junho de 1961, pp. 329-332.2 North Atlantic Treaty Organization.3 OTratado de Bruxelas representou o primeiro passo para a segurança da Europa Ocidental, dando origem à Organização do Tratado de Bruxelas, que, mais tarde, em 1954, esteve na génese da União da Europa Ocidental (UEO), formalmente extinta no passado mês de Junho, à qual Portugal aderiu a 27 de Março de 1990.4 CFR Nuno Sardinha Monteiro, «Conceito Estratégico de Lisboa», Revista da Armada, n.os 449 e 450, Fevereiro e Março de 2011, p. 4 e p. 5.5 Partnership for Peace.

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17REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

Seguidamente o Almirante CEMA fez a entrega do prémio “Al-mirante Pereira Crespo”, destinado à melhor colaboração no ano de 2010 com que foi contemplado o CMG Luís Pedro Pinto Proen-ça Mendes, então Comandante do N.R.P. Sagres, pelos artigos “Navio-Escola “Sagres”–Volta ao Mundo 2010”, publicados respec-tivamente nos números 439, 440, 441, 442, 443, 444, 445, 446 e 447.

Posteriormente o Almirante Saldanha Lopes enalteceu os lau-reados reconhecendo o valor dos trabalhos premiados que con-tribuíram para a difusão cultural da Marinha e valorização da Revista da Armada.

Dentro das solenidades do Dia da Marinha, decorreu no passado dia 30 de Junho, na Casa da Balança, por ocasião das Comemorações dos 40 Anos da Revista da Armada,

a cerimónia de entrega dos prémios da Revista da Armada refe-rentes ao ano de 2010.

O CEMA, Almirante Saldanha Lopes procedeu à entrega do prémio “Comandante Joaquim Costa”, destinado ao melhor tra-balho publicado na R.A. no ano de 2010 ao VALM Victor Manuel Bento e Lopo Cajarabille pelo artigo “O complexo do submarino” publicado no número 446.

PRÉMIOS

O Almirante CEMA entrega o prémio " Comandante Joaquim Costa" ao VALM Victor Manuel Bento e Lopo Cajarabille.

O Almirante CEMA entrega ao CMG Luís Pedro Pinto Proença Mendes o prémio " Almirante Pereira Crespo" .

No dia 30 de Junho realizou-se na Casa da Balança uma cerimónia em que foi evocado o 40º aniver-

sário da Revista da Armada, se procedeu à entrega dos Prémios Revista da Armada 2010 e foi inaugurada a Exposição “40 anos da Revista da Armada – O traço inconfun-dível do Comandante Sousa Machado."

Presidiu à sessão o Chefe do Estado--Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes, estando presentes o Vice-Chefe do EMA, VAlm Carvalho Abreu, o Almiran-te Vieira Matias, Presidente da Academia de Marinha, vários almirantes, oficiais, sargentos, praças, familiares e amigos do Comandante Sousa Machado.

Iniciou a sessão o VAlm Vilas Boas Tavares, Director da Comissão Cultural da Marinha, que depois de saudar o Al-mirante CEMA salientou a importância da Revista da Armada neste seu quadra-gésimo aniversário e congratulou-se com a exposição sobre a obra do Comandante Sousa Machado.

Seguidamente, foram entregues os “Prémios da Revista da Armada” refe-rentes ao ano 2010 como se pormenoriza em baixo.

Depois o CAlm EMQ Luís Roque Martins, Director da Revista da Arma-da fez a apresentação da exposição “40 Anos da Revista da Armada – O traço inconfundível do Comandante Sousa

Machado” evidenciando a figura do Co-mandante como distinto oficial de Ma-rinha e notável artista plástico, explicou como foi preparada a exposição e men-cionou as principais características do homenageado.

O Almirante CEMA usou da palavra para felicitar a Revista da Armada pelo seu aniversário, evidenciando a sua im-portância e registando com agrado a realização da exposição. Terminou cum-primentando a família do Comandante Sousa Machado não só pela sua presença mas também pela cedência de importan-tes peças para o evento.

O CEMA percorreu então, toda a ex-posição acompanhado dos Alm´s Vilas Boas Tavares e Roque Martins que lhe fo-ram apresentando as obras expostas.

Antes de se despedir o Almirante Salda-nha Lopes deixou uma mensagem no Livro de Honra em que expressou o seu apreço por tudo o que lhe foi dado observar.

40 ANOS DA REVISTA DA ARMADA

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18 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

No âmbito do 40º aniversário da Revista da Armada, está patente ao público na CASA DA BALANÇA uma exposição sobre a obra artística do Comandante Sousa Machado.

O Comandante Raul de Sousa Machado e o Capelão João Soares Cabeçadas formaram o grupo de oficiais que, por volta de 1970, começou a trabalhar a ideia de dotar a Marinha de uma publicação que pudesse contribuir para reforçar o Espírito de Corpo na Instituição e, ao mesmo tempo, tivesse carácter informativo.

Coube ao Ministro da Marinha, Almirante Manuel Pereira Crespo, pôr a ideia em execução, apontando ca-minhos e estabelecendo directivas.

E assim, o Comandante Sousa Machado aparece liga-do à Revista desde o seu primeiro número, pois como ele dizia uma revista tem que ser ilustrada, tem que ter “bonecos” a amenizar-lhe a monotonia da mancha escrita.

E é aqui que entra o verdadeiro artista que foi Raul de Sousa Machado, que colabora na Revista não só com os seus desenhos, mas também com histórias muito bem elaboradas como aquelas em que descreve os seus tem-pos vividos em Angola, nas Terras do Fim do Mundo, ou com adaptações, em que para além do texto execu-tava primorosamente as ilustrações como em “As Sete Viagens de Sindbad Marinheiro”, de “O Livro das Mil e Uma Noites”.

Porém, uma das características mais vincadas naqui-lo que fazia era a forma como expressava a sua enorme Cultura Naval. Pormenor este que só será perfeitamente apreciado por quem esteja imbuído dessa mesma cultura, como se pode observar na aguarela em que mostra um marinheiro a utilizar o prumo na sondagem, no desenho do alcache das praças ou na forma correctíssima da laça-da da manta de seda. O mesmo se poderia dizer em rela-ção a mecanismos por ele desenhados, ou então na forma como ele “altera” a situação para mostrar com mais facili-dade uma determinada função.

Não esqueço que conheci o Comandante em finais dos anos 50, como instrutor de armamento portátil na Escola Naval e como ele muitas vezes, para explicitar a demonstração, desenhava no quadro um rebatimento, às vezes torcido, ou introduzindo um pequeno truque, conseguindo assim tornar perfeitamente clara a ideia que queria transmitir.

Nesta Exposição é apresentada uma amostra repre-sentativa da sua obra, não esquecendo que só na Revista da Armada ilustrou cerca de mil páginas.

Raul de Sousa Machado entrou para a Escola Naval em 1939 e os primeiros trabalhos que se conhecem dele são de 1943. Refiro-me, nomeadamente, a um desdobrá-

vel no Livro “A Bordo do Navio Chefe”, de Maurício de Oliveira, onde, numa folha inferior a um A4, inseriu com notável mestria toda a Esquadra do Plano Maga-lhães Corrêa, de tal forma que se reconhecem todas as unidades, inclusive, ao longe, a proa do “Sam Brás”! Era ainda guarda-marinha…

Também dessa data, num trabalho primoroso a tinta da china, oferecido ao seu camarada Abel de Oli-veira, desenha o “Afonso de Albuquerque” no salva-mento de náufragos no Mar dos Açores durante a II Guerra Mundial.

De 1945 é a frondosa árvore de Díli, que servia para amarração dos navios, que pintou da tolda do “Barto-lomeu Dias” quando chegou a Timor como oficial do Aviso “Gonçalves Zarco”, pintura que hoje se encontra no Museu de Marinha e que constitui uma memória afectiva para tantos marinheiros.

Também do mesmo período é a série de postais co-loridos sobre motivos africanos que executou em Mo-çambique, antes de partir para Timor, e que, de acordo com o Comandante Saturnino Monteiro, que ofereceu o conjunto à Revista da Armada, teria sido, quanto se sabe, o seu primeiro trabalho remunerado.

Uma pintura representando o Comandante Gui-lherme Conceição Silva, ainda jovem, pertence tam-bém a esta época.

A exposição, não podendo conter tudo o que o Comandante Sousa Machado executou com enorme mestria, apresenta, em grupos, obras muito significa-tivas, como o conjunto de aguarelas em que figuram marinheiros com os seus uniformes ao longo dos anos e que executou para o Livro do Centenário do Corpo de Marinheiros e cujos originais se encontram, hoje, na Liga dos Combatentes.

Também de enorme interesse é a série de ilustra-ções executada para os Cantos dos Lusíadas da edição de 1972, comemorativa do 4º Centenário da sua publi-cação, por encomenda do Ministro da Marinha, Almi-rante Manuel Pereira Crespo, se bem que a caravela da capa já fosse obra dele na edição de 1960, de que se diz, até, ter sido ligeiramente corrigida pelo Almirante Gago Coutinho.

Depois, quero referir os desenhos sobre instrumen-tos náuticos que ilustraram o artigo do Comandante Estácio dos Reis para a Revista “Oceanos”, não só pelo rigor na representação desses instrumentos, mas tam-bém pela correcção como são utilizados; e ainda para esta revista um desenho aguarelado sobre o Tratado de Tordesilhas, em que a verdade histórica é desenha-da com enorme dose de humor.

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19REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

Da sua experiência enquanto professor da Escola Naval e da Escola de Artilharia Naval, e dos muitos desenhos didácticos que executou para manuais, não se conseguiram obter nenhuns exemplares até agora, e dessa arte fica-nos apenas as suas magníficas ilustra-ções para os dois livros que escreveu para a Editorial Verbo, em que aproveitou os ensinamentos que o bre-vet da Aviação Civil lhe proporcionou.

Não posso esquecer também a forma como retra-tou o Cabo Pezinhos, criação do Alm. Malheiro do Vale, mas que durou para além do falecimento deste e só desapareceu com a morte de Sousa Machado, tal foi a força do seu traço, que conseguiu conferir à imagem do cabo a verdadeira imortalidade.

Um conjunto de caricaturas tiradas, quase todas, do Álbum do Curso Superior Naval de Guerra de 1973/1974 mostram bem o traço do artista, que na sua própria caricatura assina com um significativo “EU”.

De grande beleza são também as ilustrações que fez para as poesias, na sua maioria da autoria de pes-soal civil da Marinha, onde sobressai a simplicidade e a leveza do traço, em conjuntos muito bem consegui-dos e em que evidencia uma enorme espiritualidade.

E a graça que apresentam desenhos como o cartaz Anti-tabaco, - não conheço melhor a nível na-cional -, o grumete na “passagem da linha” e o esfor-ço do marinheiro a introduzir o veleiro numa garrafa.

Vem depois um conjunto, que não é mais do que uma amostra das centenas de desenhos que ilustram anedotas, contos e os animais a bordo.

As anedotas, algumas delas roçando o pica-resco, que faziam a delícia da marinhagem e não só, chegaram a ser mal interpretadas por algu-mas famílias que não estavam de forma alguma dentro do espírito de camaradagem que une os marinheiros.

As figuras que ilustraram os contos, para serem bem entendidas, têm que ser vistas conjuntamente com os textos, mas expuseram-se aquelas que pela expressão da imagem, por si só, se justificam.

O mesmo se passa com os animais, em que o traço do Comandante Sousa Machado fixa as carac-terísticas mais salientes, como o caso do cão Monde-go - descendente um tanto falsificado de cão da Serra da Estrela, tinha o pêlo preto, emaranhado, crespo…

O que se disse até aqui diz respeito às ilustra-ções, arte a que o Comandante Sousa Machado de-dicou mais tempo como artista e que o consagrou como um grande ilustrador. Mas o Comandante executou praticamente todas as Belas Artes, com excepção da Arquitectura.

Na Pintura trabalhou a aguarela, o guache, o acrílico, o óleo, a gravura de água-forte, o pas-tel, o linóleo, o lápis e a pena.

Pintou retratos como os do Comodoro Cunha Ara-gão e do Comandante Oliveira e Carmo, para o Museu de Marinha, do Conde de S. Vicente, para a Escola Na-val e do Comandante Conceição Silva, para o Plane-tário, para além do par de Bosquímanes que atestam, com enorme mestria, a sua passagem pelas Terras do Fim do Mundo e que se apresentam na Exposição.

A nível da Escultura ficaram famosos os bustos de Henrique Seixas, para a Messe de Cascais, e da Rainha D. Amélia, para o Instituto de Socorros a Náufragos, aqui apresentados, mas ainda o Brigadeiro-General Bartolomeu da Costa, junto do Dique do Arsenal, o Al-mirante Manuel Pereira Crespo, em S. João do Estoril, e os Condes de Barcelona, no Monte Estoril.

São ainda de mencionar o baixo-relevo do Museu Marítimo de Macau e, ainda na arte do azulejo, o magnífico painel que se encontra na Estação Pol Nato de Ponta Delgada.

Na Medalhística são inúmeros os seus trabalhos, executados para muitos cursos da Escola Naval e Ins-tituições e refiro apenas a moeda comemorativa da re-construção da Fragata D. Fernando II e Glória, a série de navegadores aqui apresentados e dos navios classe “Vasco da Gama”, o que o levou a executar, também, medalhas para as fragatas da Grécia e da Turquia, construídas juntamente com as nossas na Alemanha.

Foi com imenso prazer que acompanhei o Co-mandante Sousa Machado nos seus últimos seis anos na Revista da Armada. Vi-o trabalhar, desenhava com imensa facilidade e segurança, o que, como ele dizia muitas vezes, era um dom que Deus lhe dera. E era mesmo, uma vez que nunca frequentou qual-quer escola de aplicação, para além do contacto com alguns artistas seus amigos. Dava gosto conversar com ele, era uma pessoa de fino trato que adornava os seus comentários por vezes com alguma ironia.

Foi com imensa satisfação que ele recebeu o grau de Comendador da Ordem de Santiago da Espada com que o Presidente da República o agraciou em 2001 e lhe foi entregue em cerimónia solene no Mu-seu de Marinha, pelo Chefe do Estado-Maior da Ar-mada Alm. Vieira Matias.

Foi pena que o título de Pintor de Marinha não lhe tivesse sido outorgado em vida. No entanto, para me-mória futura ficará certamente o Comandante Raul de Sousa Machado como o Pintor de Marinha nº 1.

E para finalizar fica um desejo, desejo que o Co-mandante Sousa Machado me transmitiu numa en-trevista que lhe fiz: que toda a sua obra fosse, um dia, editada em livro.

Cabe à Marinha e à Revista da Armada satisfazer esse desejo.

LUÍS ROQUE MARTINSCALM EMQ

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20 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

VIGIA DA HISTÓRIA 35

CARREIRA DA ÍNDIA

Já em ocasião anterior aqui se referiu que os jesuítas que seguiam embar-cados para a Índia tinham, por obri-

gação, mandar notícias acerca do sucedi-do na viagem.

É sabido que uma viagem para a Ín-dia representava, na maior parte dos casos, um extremo sacrifício que, não raro, levava à morte.

A carta escrita, pelo padre Gonçalo da Silveira, de Cochim em Janeiro de 1557, após ter concluido a viagem, descreve a experiência vivida.

Escreve ele ( grafia actualizada ): “Deixando a recordação da navega-

ção que fizemos desse para este outro mundo, porque assim como a morte não a pinta senão quem morre, nem se pode ver pintada senão quem está morrendo, assim o que passam os que navegam de Portugal para a Índia não no pode con-

tar senão quem o passa; e assim como os homens que, pela primeira vez se viram na hora da morte, lhes parece que nunca ouviram falar, assim quem se viu na-queles golfões não lhe lembrava coisa que lhe tivessem dito da verdade e ter-ror presentes ... nem menos a angústia e agonia em que se vêm os passageiros ... nunca podemos vivamente representar connosco mesmos quanto mais pintar, sem errar muito, a quem está em Lisboa. Nunca se viram suores de morte como se suam na costa da Guiné; nunca se vi-ram membros frios como os que cortam os ventos do Cabo da Boa Esperança; nunca se viram desmaios mortais como os que se passam nos balanços que as naus fazem neste Cabo; nunca se viram dar golpes na vida como as machadadas que dão os mares neste Cabo; nunca se viu morrer homem cercado de temores

e saudades do que neste mundo deixa e no outro se espera como os que se vêm nesta Carreira, vendo muitos mortos e lançados ao mar. E todos os outros com quem fica e entre os quais anda, vê-los a todos para morrer de fome, de sede, de doenças gravíssimas; e de perigos do mar inumeraveis, de baixos, de pene-dos, de costas, de encontro com naus“. O autor, mais adiante, refere que quem embarca tem a noção da aventura acres-centando:

“... e por tão averiguado têm os pilotos ser seu remédio o perigo desta viagem que todos têm por aforismo que as naus de Portugal para a Índia e da Índia para Portugal, Deus as leva e Deus as traz“.

Com. E.GomesFonte: Documente Indica

HIERARQUIA DA MARINHA 8

CAPITÃO-TENENTE

Existe alguma controvérsia relativa-mente à origem do posto de capi-tão-tenente. Defendo a tese de que

esta designação surgiu ligada às funções de substituto do comandante, isto é, de imediato do navio. Porém, há outra tese que considera o posto de capitão-tenente resultante da agregação das funções dos oficiais que desempenhavam cargos náu-ticos a bordo, com as funções dos capitães de infantaria embarcados para combater no mar ou em terra.

A segunda tese é sustentada por argu-mentos desenvolvidos com base em An-tónio do Couto (Memórias Militares, p. 240), quando este afirma que, no século XVII, «… o serviço do mar se faz com a infanta-ria, especialmente entre os Portugueses». Acrescenta que os capitães de infantaria deveriam «frequentar uma Aula Náutica quando estivessem em terra e andando em-barcados tomarão o sol, farão a sua derrota, e o seu assunto para o que se instruirão com os pilotos», tal como especifica o Regimento dos Capitães de Mar e Guerra em Segundo nas Naus de Estado, e dos Capitães de Infantaria com exercício de Capitães Tenentes, e dos Tenentes e Alferez que embarcassem nas mesmas, de 24 de Março de 1736, (Códice n.º 185 da Colecção Pombalina, Biblioteca Nacional, reservados).

Embora a tese anterior pareça razo-ável, tem uma grande fragilidade, re-sultante dos postos de tenente do mar (depois designado primeiro-tenente) e de segundo-tenente só terem sido cria-dos em 1762, por decretos, respectiva-mente, de 30 de Julho e de 5 de Abril. Até aí não havia o posto de tenente a bordo dos navios portugueses. Como se refere adiante, tal posto apenas surgiu no quadro das reformas do Marquês de Pombal, que começaram a integrar os oficiais náuticos, em especial, os pilotos e mestres, numa estrutura hierárquica de postos militares, que passou a regu-lar os diferentes níveis de autoridade na Marinha e que, em 1768 foi equiparada à do Exército.

Nestas circunstâncias, sustento a minha preferência pela tese da origem do posto de capitão-tenente ligada ao imediato do navio, nos seguintes factos:

1º - A palavra tenens (ou tenente) foi usada em Portugal até ao fim do século XIII para designar o rico-homem que exer-cia a magistratura superior, por delegação régia, nas divisões territoriais do país. Dito de outra forma, a palavra tenente era usa-da para denominar o substituto ou repre-sentante do titular da autoridade;

2º - A bordo dos navios portugueses a de-signação de capitão era reservada para o co-mandante, que dispunha de amplos pode-res técnicos, comerciais, jurídicos e militares;

3º - A partir do Regimento do Capitão de Mar e Guerra e mais oficiais das Fragatas da Coroa, de 31 de Março de 1722, e do Re-gimento antes referido, datado de 24 de Março de 1736, sabe-se que os capitães-de--mar-e-guerra, comandantes dos navios de alto bordo, tinham como adjuntos os capitães-tenentes;

4º - O Decreto de 5 de Abril de 1762, que criou o posto de segundo-tenente da Armada, refere que: «o posto de se-gundo-tenente da Armada corresponde a tenente de Infantaria, não havendo até então na Armada inferior ao de Capitão de Mar e Guerra, posto algum além do de capitão-tenente».

São estes factos que tornam mais plau-sível admitir que o posto de capitão-tenen-te tenha surgido para identificar aquele que, a bordo, está imediatamente subordi-nado ao capitão-de-mar-e-guerra e que o coadjuva e, na sua ausência, impedimento ou falta, o representa ou substitui.

António Silva RibeiroCALM

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21REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

to permitia o abrigo de uma quantidade significativa de navios, oferecendo-lhes boas condições de comércio e reabasteci-mento. A cidade cresceu, pois, como uma entidade prestadora de serviços, que não dispunha de espaço vital para sustentar a sua população, mas sobrevivia à custa das taxas alfandegárias com que compra-va quase todos os bens necessários para a sua sobrevivência e para o apoio aos navios.

Acresce ainda que o sistema de mon-ções asiático favorecia aquela posição como ponto de encontro de diferentes rotas. Os mercadores chineses vinham em Abril para regressarem em Maio. Os seus produtos tinham como destino privilegiado o Ocidente, pretendendo comprar a pimenta de Java ou Achém que chegava por essa altura. Da Índia partia-se em Abril ou Setembro, de forma que as suas fazendas estavam em Malaca quando lá chegavam os chineses ou ou-tros comerciantes vindos do norte. Para o sul, em direcção ao Arquipélago, saía-se em Dezembro ou Janeiro, mas as merca-dorias chineses não se destinavam a esse espaço de menor exuberância. Contudo,

UMA CIDADE SOBRE O ESTREITOO Mundo Oriental alcançado pelos

portugueses em 1498, quando Vasco da Gama chegou a Calecut, era multiface-tado na sua própria homogeneidade, reservando espaços próprios que comu-nicavam por vias muito estreitas, cujo controlo assumia um valor estratégico extraordinário. O Oceano Índico era o elemento central que unia os po-vos desde a África Oriental ao limiar do Mar da China, através das rotas marítimas, separando--os, simultaneamente, e protegen-do as suas singularidades étnicas e culturais pela distância. Neste extensa superfície marítima circu-lava um formigueiro de navios de diferentes portes, transportando mercadorias de uns portos para outros, ao ritmo cadenciado das monções asiáticas. Facilmente distinguimos duas grandes re-giões: uma delas compreendendo o Índico Ocidental e central, entre o continente africano e a linha da Península Malaia e Samatra; e a outra, a leste desta mesma linha, compreendendo o Arquipélago da Insulíndia, o Mar da China e as costas e ilhas que, para norte, se prolongam até ao Japão. A estes dois espaços – com as suas gen-tes, costumes, culturas e religiões – podemos chamar de Mundo Índico, que o historiador francês Denis Lombard definiu, a traço grosso, como uma estrutura de dois pólos centrípetos, na Índia e na China, entre os quais circulam os múltiplos transportadores de mercadorias. Os dois impérios têm configuração e estabilidade diver-sa, mas assemelham-se na condição de consumidores e transformadores, clien-tes de um comércio marítimo onde não participam. As condições geográficas e a relação com uma potência dominante definem assim as duas áreas físicas, cada uma com a sua dinâmica própria, mas unidas pelo Estreito de Malaca, por onde circulam as mercadorias que trocam entre si.

Estes factores determinariam, só por si, o valor estratégico do estreito corredor, definido entre a Península Malaia e a ilha de Samatra, onde todo o fluxo marítimo teria de passar. Compreendendo-se uma parte da importância que tinha a cidade de Malaca, na medida em que o seu por-

voltava-se a tempo de vender aos chine-ses as drogas de Banda e das Molucas, bem como a já dita pimenta. Malaca era o local certo para o encontro de quem vinha nas rotas da China, da Índia e das ilhas do sul, permitindo o comércio e o regresso a casa sem grandes delongas. A cidade dispunha de armazéns e agentes comerciais, e estava organizada para ser-vir este movimento marítimo, retirando

daí os seus proveitos próprios.Diz a lenda que tinha sido

fundada por Paramjçura, rei de Palimbão, vassalo de um rei de Java. Procurando libertar-se desta tutela opressiva provocou a cólera do seu soberano e foi atacado por ele. Refugiou-se nos juncos e ou-tras embarcações que tinha no rio, mas foi obrigado a retirar para Sin-gapura, cujo governador lhe deu abrigo e protecção. Não honrou da melhor forma essa hospitalidade e, na primeira oportunidade, ma-tou o anfitrião, apoderando-se do seu território. Sucede porém que o senhor de Singapura era genro do poderoso rei de Sião que veio tirar desforra da afronta sofrida, obrigando Paramjçura a fugir para o sertão, e a procurar abrigo junto do rio Muar. Diz-nos o boticário Tomé Pires, que recolheu o teste-munho desta história em Malaca cerca de um século depois, que por ali viveu durante seis anos “& pes-cavam & as vezes furtavã & rouba-vam Champanas que vinham to-mar água doce”. E acrescenta que, quando da fuga de Palimbão, Pa-

ramjçura teve a ajuda de “celates”, homens que viviam da pirataria

nos estreitos e espaços confinados entre a miríade de ilhas e ilhéus daquela região.

As lendas são o produto da imagi-nação humana, transformadas ao longo dos tempos, de acordo com os medos, interesses e jogos de poder, muitas vezes compondo imagens políticas, num mun-do onde o poder das figuras se constrói com histórias que correm de boca em boca. Os “celates” são os senhores dos estreitos (a palavra selat quer dizer, em língua malaia, estreito) parecendo evi-dente que a aliança com eles foi a base do poder de Paramjçura e dos seus descen-dentes, ao longo de todo o século XV. Ou seja, o hospitaleiro soberano, prestador de apoio ao comércio marítimo, também

Afonso de AlbuquerqueLivro de Lisuarte de Abreu

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22 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

dispunha de uma poderosa arma, que as-sentava no conhecimento profundo dos labirintos do mar, tão complexos como são os diferentes acessos ao estreito. E para o controlo desses labirintos contava com a aliança dos “celates”. A lenda es-pelha pois a realidade de um poder real e efectivo, tão complexo e dissimulado quanto eram os jogos políticos entre as diferentes sociedades do Extremo Oriente.

À CONQUISTA DE MALACA

A cidade tinha uma importân-cia estratégica extra-ordinária, de que os portugueses se foram apercebendo a pouco e pouco, com a aprendi-zagem que fizeram do Índico, nos primeiros anos da sua presença no Oriente. Suponho que a mais antiga referência que a ela se faz, está no manuscrito do Relato Anónimo da Viagem de Vasco da Gama (dito de Álvaro Velho), num capítulo anexo em que fala de “certos reinos que estam de Calecut para a banda do sul”. De forma errónea ali se diz que é reino de cris-tãos, o que mostra bem quais eram os sonhos e desejos dos por-tugueses de então e as dificuldades em obter uma informação correcta sobre o Mundo Índico. Quando Vasco da Gama chegou a Lisboa, em 1499, muitas eram as convicções sobre a existência de reinos cris-tãos no Oriente, e mui-tos desses reinos eram, de facto, muçulmanos, como acontecia com Malaca. Mas a apren-dizagem foi-se fazendo nas viagens seguintes e, em 1505, quando D. Francisco de Almeida foi nomeado o primei-ro vice-rei da Índia, já não existiam grandes equívocos quanto aos pontos principais e dominantes do espaço marítimo e comercial do Índico. No Regimen-to que, nessa altura, D. Manuel lhe entre-gou, lá está uma referência à cidade do estreito: “vos lembramos que sempre te-nhais grande cuidado de mandar alguns homens a descobrir assim como a Malaca e a quaisquer outras partidas que ainda

não forem tão sabidas”. Para este pri-meiro reconhecimento recomendava o rei que se embarcasse gente de confiança em “navios da terra que para lá forem”. Contudo, os problemas com Castela so-bre a definição de um limite oriental do espaço de jurisdição definido em Tor-desilhas começam a esboçar-se por esta altura, sendo seguro que o reino vizinho queria incluir nos seus domínios a Penín-sula Malaia e a cidade que a controla. De forma que o soberano português inten-sifica as suas recomendações quanto ao Extremo Oriente, escrevendo em 1506

que devem ser enviados navios a Malaca e, se possível, que lá vá o próprio vice-rei para conquistar a cidade, construir uma fortaleza e deixar uma armada que a de-fenda e controle.

A sucessão de cartas que complemen-tam o Regimento de 1505 mostram bem a impaciência do rei que pretende dar ordens à distância, sem entender muito bem e atempadamente o que se passa no

Índico. Os documentos dão indicações pormenorizadas sobre pessoas e navios, sobre movimentações para o Mar Ver-melho, Golfo Pérsico, Malabar e Mala-ca, imaginando, talvez, que os inimigos dos portugueses eram umas pequenas almadias com gente armada de setas e zagaias, semelhantes às que defronta-vam na Guiné. D. Francisco de Almeida não podia cumprir o que lhe era orde-nado nas cartas de Lisboa, sem pôr em sérios riscos a posição portuguesa. Não tinha gente para tanta fortaleza, nem navios para tantas missões. Apesar de

tudo, antes da chegada dos rumes ao Índico, e quando ainda esta-va a tentar organizar o domínio português, enviou um pequeno reconhecimento ao Extremo Oriente. Em Agosto de 1506, três homens embarcaram disfarçados no navio de um mouro, chama-do Nine Mercar. Um deles era filho de Gas-par da Gama, o judeu convertido que viera da Índia com Vasco da Gama e que se tornara uma fonte privilegiada de informações sobre

todo o Oriente. A mis-são não era fácil e o principal perigo era a denúncia da sua situação ou a própria desconfiança dos mouros. Na verdade o navio teve de arribar ao Coromandel e a missão foi descoberta. Os três por-

tugueses tiveram de fugir e esconder-se até encontrarem uma via que os trouxe de re-gresso a Cochim, onde chegaram em Novem-bro desse mesmo ano. Gorara-se a primeira tentativa para alcançar Malaca, crescendo a impaciência do rei e o desespero de D. Fran-cisco.

Em 1508 D. Manuel decide enviar, a partir de Lisboa, uma arma-da de quatro naus para demandar a Península Malaia, seguindo direc-

tamente do Cabo da Boa Esperança para Oriente,

passando por fora da Ilha de Madagás-car, em direcção à ponta norte de Sa-matra e ao estreito. A expedição zarpou do Tejo a 5 de Abril, sob o comando de Diogo Lopes de Sequeira, mas a viagem

O Oceano Índico no Atlas Vallard – ci. 1547. Manuscrito da Huntington Library

Oceano Índico – Assinalados os pontos mais relevantes para a estratégia portu-guesa quinhentista.

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23REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

foi muito difícil, com grandes atrasos que fizeram perder a monção e obrigaram a arribar a Cochim em Abril de 1509. Se-queira podia ter seguido logo em Maio para o Oriente, no período habitualmen-te designado por monção pequena, mas os navios precisavam de reparações e reabastecimento, de forma que adiou a expedição até à chamada monção gran-de, largando no final de Agosto. Gaspar Correia diz-nos que o rei de Cochim lhe forneceu pilotos para a viagem e a infor-mação é bastante credível, parecendo-me essa terá sido outras das dificuldades do capitão. O caminho era difícil e exigia um conhecimento adequado dos perigos a vencer. Gaspar da Gama, numa carta que escreveu ao rei, em Novembro de 1506, dizia claramente que uma das dificuldades para ir a Malaca era a fal-ta de pilotos credenciados para a viagem.

Lopes de Sequeira al-cançou Malaca em Setem-bro de 1509 e estabeleceu os contactos necessários com o respectivo sultão, para montar a sua feitoria e deixar uma represen-tação nacional. A cidade tinha uma organização política adaptada ao co-mércio, com as comunida-des residentes agrupadas segundo etnias e cumpli-cidades religiosas. Os Gu-zerates tinham privilégios especiais, por serem mu-çulmanos, mas havia um representante tâmil, outro do arquipélago e um chinês. Com a chegada de Sequeira os guzerates imediatamente se aperceberam de quem eram os navios que ali estavam, e não perderam um minuto para conspirarem e obterem a anuência real para impedir o estabelecimento. A reacção do sultão foi aquela que sempre tinham os soberanos do Oriente, quando recebiam alguém que não consideravam bem-vindo: prome-tiam paz e amizade, mas protelavam as conversações de forma infinda; os incau-tos que se deixavam enredar nestes cantos de sereia acabariam por ficar presos na armadilha das monções. Passada a épo-ca favorável, ficavam impedidos de sair dos portos pelo mau tempo ou por ventos adversos, prisioneiros num cárcere mete-orológico, sem abastecimento e à mercê de todas as circunstâncias. Foi isso que foi preparado para os homens de Lopes de Sequeira que, apesar de tudo, consegui-ram entabular conversações e fazer um

acordo para montar a feitoria. Foi mes-mo nomeado um feitor e organizado o grupo que deveria ficar em Malaca, mas levantou-se uma conspiração que foi des-coberta a tempo por denúncia. Salvou--se a armada, que levantou ferro e saiu do porto, mas ficou em terra Rui Araújo – o feitor nomeado – e mais uns quantos portugueses. Temerosos de uma reacção com a artilharia, os mouros tentaram con-tinuar as negociações envenenadas, mas o capitão não voltou ao fundeadouro e, em Janeiro de 1510 largou a caminho da Índia

sem ter alcançado o principal objectivo para que fora preparada. Ainda não che-gara o momento de Malaca portuguesa mas nem tudo correu mal na expedição de Sequeira. Se, por um lado ficou clara a posição do sultão e das comunidades javanesa e guzerate, também se percebeu que os chineses aceitavam a presença por-tuguesa sem problemas, e a comunidade tâmil via-a com a perspectiva de ganhar um protagonismo que nunca seria possí-vel nas circunstâncias do momento. Foi Nina Chatu, o chefe dessa comunidade, que protegeu os portugueses cativos e fez chegar a Afonso de Albuquerque as in-formações necessárias para a intervenção definitiva que veio a realizar-se no ano seguinte.

A HORA DE ALBUQUERQUE

Quando aqui falei da conquista de Goa, em 1510 (RA, nº443), referi a situa-ção criada na sequência da primeira con-quista, com os portugueses acossados na

cidade pelas tropas do Hidalcão, a reti-rarem para a cidadela e para os navios, numa altura em que a monção não per-mitia a largada para o mar. Albuquerque teve a visão estratégica da importância de Goa, conseguindo perceber que ela substituiria com vantagens a base que D. Manuel mandara construir em Ange-diva, em 1505. Também expliquei que esta retirada culminava um conjunto de operações mal sucedidas, e que o regres-so a Goa se tornara decisivo para o futuro do Grande Capitão, compreendendo-se

as razões porque coloca-ra nessa operação um es-pecial empenho. Quando saiu de Goa, em Agosto de 1510, encontrou ao largo uma armada por-tuguesa, comandada por Diogo Mendes de Vasconcellos, acabada de chegar de Lisboa com instruções para se dirigir a Malaca. Não creio que o rei D. Manuel tivesse uma noção exacta da im-portância desta cidade no contexto do comér-cio oriental, mas sentia a pressão de Castela que se preparava para o assalto ao Oriente. Mais do que uma ideia precisa sobre o que se passava no Ín-dico, o rei português via o vizinho “a tentar entrar no seu quintal”, e fazia todos os esforços para chegar a Malaca antes que qualquer sucesso

espanhol inviabilizasse o domínio português naquelas paragens. Albuquerque fez com Diogo Mendes o que os soberanos orientais faziam com os seus inimigos: atrasou-o com conver-sas e preparativos até que fosse tarde para partir para o Extremo Oriente, na monção grande de Setembro. Assim, conseguiu que ficasse para reforçar a nova ofensiva sobre Goa, onde obteve o sucesso que se conhece.

Nesse ano, Vasconcellos teria de inver-nar na Índia mas, na monção de Abril, era inevitável que fosse cumprir as ordens reais, tanto mais que já era conhecido o insucesso de Diogo Lopes de Sequeira. E, ao aproximar-se a época, cresceu a ansiedade e a tensão com o governador da Índia que o instava a acompanhá-lo ao Mar Vermelho. Dividido entre o cum-primento das ordens do rei e o que lhe mandava Afonso de Albuquerque, resol-veu embarcar a coberto da noite e tentar sair em segredo, mas foi traído pelas con-dições de tempo e ficou encalmado na

Nau Flor de la Mar.

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24 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

barra. Preso e julgado por desobediência, regressou a ferros ao reino, enquanto os mestres e pilotos foram enforcados e o comando dos navios entregue a homens da confiança do governador. O incidente é deveras insólito, tanto mais que Albu-querque tinha recebido notícias de Ma-laca em Fevereiro, através de uma carta de Rui Araújo, dando-lhe a ideia de que as condições pareciam amadurecidas para o ataque à cidade. Aparentemente, o governador saiu de Goa em Março com o objectivo definido de ir ao Mar Vermelho e, muito à sua maneira, já com os navios a navegar, ouviu o conselho e decidiu fazer o que D. Manuel ordenara a Vasconcellos e este tinha querido cum-prir a todo o custo: inverteu o rumo e fez-se no caminho do sul, em direc-ção à cidade do estreito.

Passou por Ca-nanor e Cochim, onde deixou al-guns navios ve-lhos, e rumou ao Cabo Comorin e a Ceilão, guinan-do em direcção à ponta norte de Samatra, onde começa o Estreito de Malaca. Leva-va 18 velas de di-versos tipos, entre as quais a grande “Flor do Mar” que fora para a Índia com João da Nova, na armada de D. Francisco de Almeida, que combatera em Diu e em Goa e que agora era a nau capitânia. A 1 de Julho de 1511 (ou a 28 de Junho) fundeava em frente de Malaca, entabulando as costumadas negociações para um entendimento de paz com o sultão. Pretendia a devolução dos portugueses cativos e a permissão para construir uma feitoria, mas a pri-meira condição era primordial e deveria ser cumprida, antes de qualquer acordo. Digamos que só aceitava negociar fosse o que fosse depois dos compatriotas es-tarem a bordo e em segurança. O que se passou durante as semanas que se segui-ram é algo que se adivinharia sem ler os documentos: um diálogo de surdos, em que cada parte não arreda pé, e em que o sultão vai dando a impressão que cede para regressar, de seguida, ao ponto de partida. Enganou-se, contudo, no inter-locutor para estes jogos. A primeira ac-ção armada foi uma pequena flagelação na praia e um ataque aos navios mouros que estavam no porto, sendo o suficien-te para fazer recuar o sultão que soltou

alguns portugueses. Mas era tarde para essa decisão. Agora, Albuquerque que-ria a restituição de toda a mercadoria desembarcada por Diogo Lopes de Se-queira em 1509, lugar para construir uma fortaleza que protegesse a feitoria e vassalagem ao rei de Portugal. O sultão, de novo, protelou decisões e o ataque foi lançado.

Malaca está à beira um rio que a separava de outro núcleo populacio-nal, havendo uma pequena ponte que permitia a passagem e a ligação entre os dois pólos. Naturalmente que essa ponte era fundamental para a ligação entre as forças inimigas e o governador pensou em toma-la, lançando duas va-

gas de assalto (na véspera ou no dia de Santiago) que, desembarcadas de um e outro lado do rio, deviam convergir no objectivo. Os batéis chegaram pouco antes do alvorecer e uma das forças alcançou a ponte sem problemas, mas a outra ficou perigosamente retida nas ruelas da cidade e foi necessário retirar. Os relatos deste ataque estão descritos com grande pormenor pelos cronistas João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda, apenas com pequenas divergências que, certamente resultam de diferentes interpretações. Diz Bar-ros que, depois da primeira tentativa gorada, vindo as águas vivas da Lua Nova, o governador mandou que An-tónio de Abreu subisse o rio com um junco, para abalroar a ponte e destruí--la. Acontece que o navio encalhou antes de lá chegar e ficou preso num banco de areia à mercê de todas as flagelações. Assim esteve “nove dias contínuos com suas noites” resistindo como pôde. Castanheda não relata este episódio do junco com o mesmo por-menor, mas refere que na preia-mar

de “10 de Agosto, sexta-feira”, o junco chegou à ponte e a abalroou, facto que Barros diz ter ocorrido numa sexta--feira, mas no dia 8. Dia 10 de Agosto é dia de S. Lourenço e seria uma referên-cia certa e inesquecível para qualquer testemunho local, e é essa a data que Giovani da Empoli – um italiano que esteve presente na campanha e que tudo observou – corrobora como tendo sido a da tomada da cidade. Acontece, no entanto, que a sexta-feira, referida pelos dois cronistas, foi dia 8 e não dia 10. Para além disso, a maior maré, cor-respondente à Lua Cheia daquele mês de Agosto, teve lugar no dia 9, não sendo provável que o navio perma-

necesse encalhado na maior maré e desencalhasse na seguinte. Parece--me lógico, portan-to, concluir que o navio desencalhou na maior preia-mar ou na anterior, o que ocorreu no dia 8 de Agosto, sexta--feira. A referên-cia de Castanheda ao dia 10 resulta de uma confusão que Giovanni da Empoli ajuda a decifrar: à derro-cada da ponte, na sexta-feira, dia 8,

seguiram-se comba-tes que permitiram

a consolidação da conquista no dia de S. Lourenço, 10 de Agosto de 1511, a des-peito de terem continuado as pilhagens e escaramuças diversas. É este o dia que deve ser considerado como o da tomada de Malaca por Afonso de Albuquerque.

Após a conquista, foi finalmente or-ganizada a feitoria e construída uma fortaleza de pedra, junto ao rio e com um desenho simples, apenas com as capacidades necessárias para defender o fundeadouro. O primeiro capitão no-meado foi Rui de Brito Patalim, a quem foram entregues cerca de 300 homens para a defesa da praça. Rui Araújo, que ali estivera cativo desde 1509 e conhecia muito bem a vida comercial da cidade, foi o primeiro feitor, e Nina Chatu, o chefe da comunidade tâmil que protege-ra os portugueses, passou a ser o repre-sentante de todas as comunidades co-merciantes (Bendara) de Malaca. Aliás, é dele que partem várias iniciativas de natureza comercial, e é sob a sua orien-tação que se organiza a primeira viagem às ilhas das especiarias, comandada por António de Abreu.

MalacaGaspar Corrêa - Lendas da Índia

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25REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

DEPOIS DA CONQUISTAA principal preocupação de Afonso de

Albuquerque, depois da conquista, foi cons-truir uma fortaleza que garantisse a sobera-nia nacional na cidade e apoiasse uma es-quadra que exerceria a soberania no estreito. Queria também que Malaca não perdesse a sua prosperidade económica e, para isso, necessitava de manter as antigas relações co-merciais e permitir o acesso aos mercadores que ali se dirigiam todos os anos. Como dis-se atrás, a importância daquele ponto tinha a ver com a sua localização geográfica e com as circunstâncias climáticas que ali juntavam diversas rotas, mas assentava também nas condições criadas pelos homens, no sentido de apoiar os navios e os viajantes com suas fazendas. A compo-nente genética era fundamental e ex-pressava-se na pres-tação de serviços apoiada pelo po-der do sultão que, agora, tinha de ser mantido, sob pena do fluxo comercial ser desviado para outro porto. O go-vernador manteve a maioria das estru-turas existentes, não excluindo nenhu-ma comunidade de comércio que se sujeitasse às regras já definidas para a Índia, pagando as taxas necessárias para a obtenção da licença (o “cartaz”).

Nina Chatu obteve uma posição de privilégio decorrente do apoio que tinha dado a Rui Araújo e do esforço que fez para promover a vinda dos portugue-ses, mas também pela sua importância enquanto comerciante e investidor, com capacidade de armar navios, manter ou desenvolver relações de comércio e cola-borar no que deveria ser uma paulatina substituição de soberania. De chefe e co-ordenador da comunidade tâmil (xaban-dar), com o encargo dos mercadores de Bengala, Pegu e Paçem, passava a assu-mir funções semelhantes às do anterior Bandara e assumindo esse título.

Outra comunidade importante para a administração portuguesa era a dos chineses. Os primeiros contactos com os viajantes que vinham do Celeste Império a Malaca tinham sido feitos pelo pró-prio Diogo Lopes de Sequeira, em 1509, transmitindo uma excelente impressão deles. Em Julho de 1511, quando chegou a armada de Albuquerque, havia navios

chineses no porto que se ofereceram--se para colaborar na conquista, mas o governador não aceitou a proposta por razões de segurança. Em 1512 foram eles que tomaram precauções e não vieram à cidade, mas voltaram em 1513, tencio-nando continuar a sua actividade normal com a nova administração. De resto Jorge Álvares e um escrivão (de que não sabe-mos o nome) lograram alcançar o litoral chinês, embarcando num dos seus juncos e fazendo a viagem com espaço alugado, à maneira de todos os comerciantes do Extremo Oriente. Foi a abertura da porta para uma relação intensa, que teve mui-tas vicissitudes e variantes, mas com um re-gularidade representativa de Portugal que

durou de 1557 até 20 de Dezembro de 1999.Afonso de Albuquerque tratou tam-

bém de proceder à exploração comercial das ilhas do Extremo Oriente e, ainda no ano de 1511, fez sair uma pequena armada de duas naus e uma caravela que foram até às chamadas Ilhas das Es-peciarias. Muitas especulações abusivas têm sido feitas acerca desta expedição, nomeadamente atribuindo-lhe a missão de alcançar as Molucas, o que, de todo, não aconteceu. Os documentos da épo-ca – as cartas escritas pelo próprio Albu-querque e pelos primeiros capitães de Malaca – referem-se às ilhas de Banda, onde os navios chegaram efectivamen-te. A viagem foi apoiada por Nina Cha-tu e precedida por um navio a seu cus-to e mando, que deveria anunciar por toda a parte a nova situação de Malaca, convidando os múltiplos entrepostos comerciais da Insulíndia a procederem com os novos senhores, como sempre tinham feito com os anteriores. É evi-dente que os resultados desta diploma-

cia foram diversos – sobretudo porque as cumplicidades religiosas eram muito fortes – mas não consigo imaginar que esta viagem não tivesse outro percurso que aquele que seguiam todos mercado-res do sul, pousando de terra em terra, vendendo e comprando por aqui e por ali, até chegarem a Banda, onde adqui-riam a noz moscada, o macis e o cravo que os molucos ali vinham vender.

Malaca conquistada há cinco séculos (10 de Agosto) tentou continuar o pa-pel que sempre tivera, mas a distância a que estava dos centros decisórios e a dificuldade de compreensão, por parte do poder régios e do próprio governo da Índia, das singularidades do mundo

oriental, foram de-teriorando a sua vo-cação inicial. Numa primeira fase, a coroa interessou--se por todo o tipo de comércio, mas as taxas e a forma como era exercido o poder sobre os comerciantes fez com que nascesse uma diáspora de portugueses e seus descendentes, que se estabeleceram em vários locais do Extremo Oriente, internando-se na imensa teia das ro-tas orientais, com relacionamentos

que não eram con-troláveis. Não vi-

nham a Malaca desde que não fosse ab-solutamente necessário, e ganharam as suas próprias formas de poder, assentes em cumplicidades que pouco ou nada tinham a ver com a sua condição de nacionais. Encontraram o seu próprio espaço no Extremo Oriente, ali casaram, tiveram filhos que falavam o português e a língua de suas mães asiáticas, e, em muitos casos alcançaram um notável su-cesso. Foi através deles que se reataram as relações com a China e que se conse-guiu o estabelecimento em Macau em 1557. A soberania nacional sobreviveu até à conquista pelos holandeses em Ja-neiro de 1641 e a cidade foi a porta de entrada num mundo onde milhares de portugueses tiveram sucesso e obtive-ram riqueza. Uns regressaram à pátria – como Fernão Mendes Pinto – outros por lá ficaram e se adaptaram.

J. Semedo de MatosCFR FZ

MalacaA. Bocarro - Livro das Plantas de todas as Fortalezas, Cidades e Povoações do Estado da Índia Oriental.

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26 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

No Departamento de Propulsão e Energia a teoria traduzida em projectos é materializada

na prática oficinal que verifica a jus-teza dos raciocínios conceptuais. Com as indesejáveis falhas, também se… aprende!

Foi assim que depois de passar em “AUTOCAD” se desenvolveu o pro-jecto dum “Dunker”, um simulador da cabina de pilotagem dum helicóp-tero, destinado ao treino de guarni-ções que caiam ao mar. O projecto, já em execução, a pensar em economias e destinado aos operadores dos nos-sos «Lynx Mk 95», tem evoluído de modo a introduzir o maior realismo possível e poderá ser adaptado a ou-tras aeronaves de asa móvel, civis ou militares (v.g. os da FAP), poupando, nessa imperativa formação, os sempre onerosos encargos de compra, aluguer ou deslocamento ao estrangeiro.

O projecto, inteligentemente co--financiado pelo BPI, implica ainda uma piscina e uma ponte rolante ade-quadas e, devidamente certificado, poderá concorrer, interna e externa-mente, com as marcas já presentes no mercado. Claro que Provas de Aptidão Profissional deste teor fazem disparar a motivação dos alunos...

Outra PAP, com significativas eco-nomias (1/3) para a Armada, foi, há anos, a Calandra, que tem como função principal dobrar chapas metálicas e que no caso deste “Dunker” permitiu fazer o seu anel de suspensão.

Laboratórios didácticos de Hidráuli-ca, de Pneumática e de Automatização permitem agilizar o conhecimento vei-culado nas aulas teóricas. Neste último domínio, os Autómatos «Simatic 5» (futuramente os «Simatic 7»), que, nos navios, controlam vários equipamentos de bordo (só nos submarinos da classe «Tridente» há cerca de trinta destas uni-dades) são aqui escalpelizados.

Nas Oficinas está concluído, na se-quência do Desenvolvimento Tecno-lógico efectuado no Departamento, um carro de combate a incêndios, que embora construído para dar resposta a um caso concreto, está preparado para outras aplicações... “Urbi et Orbe”!

Sem pretendermos ser exaustivos, pudemos observar um carro de teste de Sistemas Hidráulicos e, com aplicação estritamente militar, um transportador de torpedos, já internamente testado mas a aguardar oportunidade de obter

a homologação que importa ousar para lhe proporcionar outros voos, como os que a EID, fruto duma feliz parceria, realiza no seu campo de acção.

Destaque ainda para a viatura de carga ligeira, o “Dumper”, concretizado para auxiliar nas tarefas e trabalhos de… jardinagem.

Tudo conduzindo a um auto-finan-ciamento determinante para uma, ain-da muito longínqua, autonomização nacional em domínios em que a coope-ração internacional, sempre bem-vinda, melhor se alicerça se entre… pares.

Não tomámos como modelo de fun-cionamento este Departamento mas a própria coerência orgânica, com raiz na Direcção do Serviço de Formação da Superintendência dos Serviços do Pessoal, antecipa a filosofia normati-va e a praxis seguida no terreno, sob a orientação dum Comando que neces-sariamente envolve não só os Chefes dos oito Departamentos coordenados por um Director Técnico Pedagógico, como afinal toda uma engrenagem ad-ministrativa e militar para que a infra--estrutura assegure o eficiente pulsar quotidiano dos 750/dia alunos que em média a Escola acolhe ao longo dos 365 dias do ano lectivo (em 2010, 4538 for-mandos) que, aqui, não se compadece com férias ditas escolares, e que faz da ETNA o maior campus escolar do País.

Continuando o nosso olhar pelos Departamentos, segundo um critério que se procurou fosse meramente fun-cional, elegemos no passo seguinte o Departamento de Armas e Electrónica que aglutina o pessoal, no que respeita a manutenção técnica do material, em duas grandes classes; os que se ocupam das Armas (das extintas classes de Arti-lheiros e Torpedeiros-Detectores, as da Artilharia que hoje incluem os Mísseis e os das Anti-Submarinas) e os associa-dos aos sistemas electrónicos e sensores.

Foi assim que fomos dar com uma turma de grumetes, um dos quais uma MiF, que estudavam, naquele momen-to, a peça Bofors. Eram do Curso de Formação de Praças que, ao fim dos já referidos nove meses, os lançará nesta vida de Marinheiros que escolheram.

A clássica Oerlikon (20mm), já des-vendada, e a de 76mm americana, (re-cuperada de fragatas há muito desa-parecidas e instaladas nas corvetas da Classe «João Coutinho») que se lhes se-guirá, figuram neste programa do CFP (Curso de Carreira).

Em Cursos de Aperfeiçoamento pontuais (Os Plano de Actividades de Formação da Marinha n.º 2 - PAFM2 – por oposição aos 1 – de Carreira) serão tratadas as de 100mm (Creusot Loire), na sua versão original (nas corvetas da Classe «Baptista de An-drade» e 60 tiros/minuto) e só para

QUINZE DIAS NA ESCOLA DE TECNOLOGIAS NAVAIS

Discutindo o projecto.

Quem faz um, faz um cento!

A Calandra entre outras máquinas.

Para maior segurança dos homens e dos..torpedos.

2ª PARTE

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27REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

aqueles que, além de merecerem, ti-verem a sorte de ser nomeados para as «Vasco da Gama» o seu modelo actual (80 tiros por minuto), mais so-fisticada, ou, alternativamente, para os seleccionados para as fragatas da nova Classe «Bartolomeu Dias» a de 76mm (a nova Otto Melara) que, nes-ta matéria, introduzem uma pertur-bação logística na desejável e procu-rada uniformização dos equipamen-tos de qualquer esquadra.

No nosso deambular, noutra sala, um sargento Artilheiro (de trinta, hoje nada surpreendentes, anos!) dava uma aula a uma turma do Cur-so de Formação de Sargentos, o mais antigo, já com 15 anos de Marinha, assentara praça aos 18 anos de idade. Nunca será tarde…

Estudavam a Direcção de Tiro DDWCS das «Vasco da Gama», a, ori-ginalmente holandesa «Signaal» e que hoje, depois de um outro proprietário, é da francesa «Thales» o que de algum modo traduz a interdependência que, nos nossos dias, caracteriza a globaliza-ção das economias mas que pode com-prometer a autonomia militar que uma indústria nacional asseguraria.

Permita-se-nos recordar que a última DT analógica foi a das abatidas fragatas «João Belo» que, nos fins da década de sessenta, foram o salto tecnológico que abalou a nossa Armada, o que, infeliz-mente, vem ocorrendo, entre nós, por sobressaltos geracionais que por vezes ultrapassam os clássicos 30 anos, mais do que o tempo necessário para a Fran-ça ter integralmente autonomizado a sua esquadra, ultrapassando fragilida-des, sucessivos falhanços e, por vezes, clamorosos desaires que, no entanto, conduziram ao, v.g., famoso Exocet ou a Espanha, que da «Descubierta» con-cebida a partir das nossas corvetas vai já na avançada classe «Bazan» e que, por via doutras parcerias, prossegue na construção dos seus próprios sub-marinos e não só.

Noutro andar deparámos com qua-tro aspirantes da Escola Naval, da Clas-se de Engenheiros Navais do Ramo de Armas e Electrónica, às voltas com o radar «Kelvin Hughes 1007», um dos equipamentos que detalhadamente es-calpelizam durante o Estágio de 25 dias, antes de, em Maio, embarcarem para a viagem que na volta os fará Guarda Marinhas, já Oficiais da Armada.

Na escadaria alegrámo-nos ao reco-nhecer um «Decca 974», assumindo, com muita dignidade, a sua condição de peça de museu, mas a cujo presti-moso PPI soubemos que as novas ge-

rações, intolerável falta de respeito, chamam ... «prato de sopa». Em abono da verdade aquele com que demandá-mos, em 1962, a Baía da Rosema, em S. Tomé, não deveria ser maior que um prato de fruta... mas que alegria deu ao seu jovem Navegador quando o seu eco surgiu, ali, bem na proa do nosso Patrulha, o NRP «Madeira»!

Outro Curso pontual, específico das «Vasco da Gama», era o do Telefone Submarino que em silêncio Electróni-co pode ser utilizado entre navios de superfície e que estava a ser ministra-do aos futuros membros do Departa-mento duma das novas Fragatas, no caso o Chefe do Departamento, o Che-fe do Serviço (há alguns anos eram dois Serviços, o das armas A/A e o das A/S, traduzindo assim uma economia, funcional ou financeira).

Na sala mesmo ao lado decorria uma aula prática do Curso de Sargen-tos Electrotécnicos - Alistamento, em que seis alunos, sob a orientação de um Sargento, estudavam, no âmbito das «Acções de Manutenção Correctiva», a reparação das avarias mais previsíveis da clássica Mesa de Registos do Centro de Operações, muito semelhante (mas não igual!) às já existentes nos CIC dos anos cinquenta e sequentes.

Num espírito de cooperação com entidades exteriores, um grupo da Polícia Marítima (PM), nem todos oriundos da Armada, estava a fazer um Curso de Navegação de modo a colmatar notadas falhas no desempe-nho dessas novas funções, indepen-dentemente doutras duplicações de recursos de duvidosa eficiência que vão desmantelando a desejada efi-cácia. Da dúzia de alunos, entre eles uma senhora, certamente pontificava o mais antigo, com 22 anos ao serviço da Armada dos quais 15 na PM.

Assegurada a propulsão e a energia, dotado dos sensores e das armas que jus-tificam a sua classificação como Navio de Guerra, é a altura de se garantir a efi-ciência da sua utilização Militar-Naval e de Serviço Público e de se estabelecerem, isolado ou integrado em Forças Navais ou no Sistema de Autoridade Marítima, redes de vária ordem que a assegurem. Disso se ocupa o Departamento de Co-municações e Sistemas de Informação.

Não admira pois que, concluída a re-cruta, todos os grumetes que optaram por uma carreira embarcada, tenham uma primeira iniciação na língua em que comunicarão e no recurso comunica-cional que hoje mais presente está onde a palavra tecnologia não seja coisa vã; a informática!

Uma aula da Direcção de Tiro

Uma futura equipa de Armas e Electrónica.

Destacados da Escola Naval.

À "volta" dos "problemas" é que se aprende.

Seguindo atentamente a instrução.

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28 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

Treinando aos pares.

Simular ... em terra!

Sinergias interdepartamentais... e não só.

Outras sala, outras preocupações.

A iniciação, já vimos, à utilização Bá-sica de Computadores começa pela agi-lização na Dactilografia, num crescen-do de dificuldade e de ritmo de batidas em que o olhar se pode fixar no texto só porque os dez dedos acabarão por ir automaticamente às teclas. No termo desta aprendizagem é lhes conferida formação que lhes permite o acesso à European Computer Driving Licence.

Depois de mês e meio desta instru-ção basilar, informaticamente conduzi-da, será então a sua Formação entregue aos Departamentos que os formarão, excepto para os que aqui permanecerão até completarem o Curso de Formação de Praças, os já referidos nove meses.

É este, assim, um Departamento transversal a toda a Armada.

Numa sala começam, aquelas, por ser iniciadas, a par de outras matérias, nos Procedimentos Radiotelefónicos que uniformizam o modo e, mesmo, o vocabulário que asseguram a precisão, a rapidez e a fiabilidade da informa-ção oral trocada pela onda Táctica. Um programa informático encarrega-se do ensino prático que os porá à vontade no ACP125[i] que a NATO, inspirada na experiência americana da II GG, compi-lou e vai actualizando

Métodos clássicos de comunicação não são desdenhados. Sinais de Ban-deiras são diariamente içados no Mas-tro de Sinais para que os vão reconhe-cendo, antes mesmo de os aprenderem a compor (ATP I Vol. II). As bandeiras nacionais com que no mar se poderão cruzar vão sendo também, identica-mente, apresentadas. Como na Escola Naval!

Mais difícil é o Morse Luminoso pois obriga a uma total concentração para retirar dos “traços” e “pontos” as letras que formarão as palavras, as frases e, no todo, a informação que importa passar. A complexidade e o ritmo, informatica-mente monitorizados, a que são trans-mitidas cresce a ponto de ser necessário que, ao lado do que lê, um camarada vá escrevendo... lá estava um par a treinar--se para o exame final.

Como o homógrafo, o Morse acústico passou à história em nome da transmis-são electrónica de textos e… muito mais!

Ao longo dos corredores voltámos a cruzar-nos com equipamentos que nos falam doutros tempos mas numa sala fo-mos surpreender um Curso de Sargentos Artífices Electrotécnicos do Ramo de Co-municações envolvido num Equipamen-to Receptor, traduzindo as sinergias inter-departamentais, já que um dá a Forma-ção e o outro disponibiliza pontualmente os equipamentos operados no mar e no

ar, a bordo das unidades navais da Mari-nha de Guerra, e em terra nas Unidades e Serviços, todos sob as ordens do Chefe do Estado Maior da Armada.

De notar que estes Cursos consagram o último mês e meio, do derradeiro ter-ceiro ano, à elaboração de uma Prova (prática) de Aptidão Profissional (a PAP) em efectivo (neste contexto, pala-vra desnecessária) trabalho de Grupo.

Numa numerosa turma, além de grumetes e marinheiros, havia pessoal

militarizado do Troço de Mar, mui-tos deles oriundos do Serviço Militar--naval, que, num Curso de Aperfeiço-amento na Operação do Sistema de Fiscalização e Controlo das Actividades de Pesca (AKO02), em conjunto estu-davam, a partir o monitor do sargento Instrutor, o SIFICAP, o Sistema de Fis-calização e Controle das Actividades da Pesca instalado nos navios da Marinha de Guerra dedicados ao Serviço Públi-co e de outras entidades externas, nem todas sob a mesma autoridade o que, a somar à exiguidade de meios, introduz certamente desnecessárias disfunções.

Numa Zona Reservada, janelas gra-deadas, códigos de acesso, portas blin-dadas e outra parafernália como a entra-da, balizada por um sistema de controlo electrónico, visitámos a sala onde se guardam as Publicações Classificadas. Aí um Sargento e dois Cabos praticavam a sua rotina, a mesma que nas embaixa-das onde a Armada tem pessoal seu, Sargentos dependentes dos Adidos de Defesa, que aí asseguram o seu perfeito controlo, manutenção e actualização do Registo, regularmente inspeccionado, a par das instalações diplomáticas, pelo Gabinete Nacional de Segurança.

Noutra sala, um computador por na-vio constitui um Simulador da Esquadra que permite o treino de Comunicações usando agora o ACP 127, operando como navios reais, no mar. O software aplica-do é o MOST4 ou o MMHS (acrónicos de Message Operation System for Ships e Military Message Handling System). De facto, aí, um Computador por navio, mesmo numa pequena esquadra, deve permitir um complexo entrosamento a que não tivemos ocasião de assistir como em outras salas, juncadas de computado-res, onde não estavam a decorrer aulas.

Importa referir que toda a Formação que se situava no extinto CFI (Centro de Formação Informática) está agora insta-lada aqui e que o trabalho, no âmbito da rede do Sistema Integrado de Defesa Na-cional, é desenvolvido em ambiente Web.

A preocupação de assegurar equiva-lências, em termos Educativos, nacionais e mesmo europeus, das aptidões adqui-ridas conduziu a que, para os níveis mais elevados, se estabelecesse um protocolo com o Instituto Politécnico de Setúbal, vindo dar aulas no Departamento al-guns dos seus professores, o que permi-te a contínua actualização do Currículo destas matérias em permanente evolu-ção e a adequada qualificação por parte do Ministério da Educação.

Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves1TEN

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29REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

O Mar, os Vikings e o Portugal perdido...e dos Açores, tal como em muitos outros países da Europa, mesmo aqueles com um território menos disperso do que o nosso…

Finalmente, a loucura total, imaginei que se iria construir um museu flutuante com navios que prestaram bons serviços na Marinha Por-tuguesa, como as Magalhães Correia – que vi apodrecer em morte lenta, indigna - e até com um dos nossos submarinos, que agora se pre-param para, definitivamente, sair de cena, de um serviço esforçado e muito prolongado…

Haveria críticas, de que um tal museu ce-lebraria a guerra. Que não ajudaria a forma-ção dos mais jovens, que lembraria a guerra e muitas outras balelas, a que a Suécia – indiscu-tivelmente um país altamente desenvolvido e civilizado, voltado para a paz, não valorizou

muito. Talvez os suecos acreditem, como eu acredito, que a cidadania de um país se construi preservando a memória das suas instituições …

Fechei os olhos num banco, jun-to ao mar em Gotemburgo e pude ver-me num banco de jardim, junto à Torre de Belém, em Lisboa. Con-segui até ver o sinal iluminado de “Museu Marítimo Flutuante de Lisboa”. Na entrada um Marinhei-ro, fardado, já grisalho, nos seus 70 anos, cobrava bilhetes aos visitan-tes. Em cada navio um outro mari-nheiro, do mesmo grupo etário e há muito na reforma, explicava a cada visitante os pormenores técnicos in-teressantes deste ou daquele navio –

uma vez que nele tinha servido…Havia filas e um outro marinheiro, um jovem de 20 anos, sentado no banco ao lado do meu dizia á sua namorada, eu também estou na Marinha…

Abri os olhos, ia chover e corri para abrigo. Ainda bem dirão muitos, foi tudo um sonho louco…Contudo, sabem alguns, Portugal foi, e sempre será no mar que se encontrou e não se definirá nunca sem o mar. Defender Portugal deveria ser defender o mar. Talvez por termos esquecido desta verdade, que nos estará escrita nos genes, nos encontremos no lugar frio e ventoso em que agora surgimos, perdidos e aguardando um D. Sebastião que tarde em definir-se por entre a neblina… .

Quanto a mim, não se preocupem os leitores, voltei a Lisboa. Bastarão dois dias de comentários políticos, para me curarem deste “bafo delirante”, que subitamente me acometeu. Perdoem, ainda, ter-lhes falado de forma tão aberta deste sonho, tenho sempre esperança que outros me compreendam e, de voz em voz, o sonho se torne realidade…Seria bonito de se ver. Seria também honroso. Principalmente, seria português...

Doc.

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (5)

“Porto calmo de abrigoDe um futuro maiorPorventura perdidoNo presente temor

Não faz muito sentidoNão esperar o melhorVem da névoa saindo a promessa anterior

Quando avistei ao longe o marAli fiquei…”

Ao Longe o Mar, Pedro Ayres Magalhães, Madredeus

Fui a Gotemburgo, na Suécia. Deu-se nessa cidade um evento científico ao mais alto nível europeu e mundial. O Congresso Eu-ropeu de Aterosclerose. A aterosclero-se é a doença crónica mais comum do mundo dito civilizado, responsável por entidades tão comuns como o são os enfartes do miocárdio, os aciden-tes vasculares cerebrais (as vulgares “tromboses”, do léxico popular) e pela doença aterosclerótica das arté-rias periféricas…comum e, também, cada vez mais frequente...Trata-se de uma situação tão generalizada, que, para se fugir dela, é preciso ao longo da vida ter cuidado com alimentação, ou, pasmo dos pasmos, ter nascido num país pobre. Um qualquer local onde ainda se vive da terra, com co-mida pobre em gordura animal e rica em fibras e vegetais…A mim, alma simples, pe-queno nas análises e nas associações, parece-me sempre uma metáfora que Deus arranjou para igualizar ricos e pobres. Uma forma de mostrar aos ricos que a abundância tem custos…

Contudo, não foi o conhecimento daquela entidade médica que mais me impressionou, nem que trago hoje aqui. O que me impres-sionou profundamente é que Gotemburgo é uma cidade voltada para o Mar. Trata-se de uma cidade que ainda hoje é o porto sueco mais importante e desempenhou esse papel ao longo da história daquele país nórdico. Foi daquele porto que partiram ao longo do tem-po as terríveis hordas de “Homens do Norte”, que antes dos portugueses atravessavam o Atlântico Norte, invadindo as ilhas britâni-cas, e atingindo sítios tão longínquos como a Islândia, a Groenlândia e até – sabe-se hoje – a América do Norte.

A alma da cidade – e note o leitor que se trata de uma cidade bem mais pequena do que Lisboa – está dedicada ao mar. Esta ati-tude reflecte-se nos nomes das ruas, que ce-lebram Deuses da Mitologia Viking, estátuas de nobres que foram construtores navais e até uma estátua imponente de Poseidon – o Deus

do Mar, da mitologia clássica grega.A cidade mantém uma actividade maríti-

ma abrangente, que inclui pesca, construção naval e comércio, incluindo ligações marí-timas, por ferry, para muitas outras cidades europeias. Permanecendo o mar como um “grande empregador”…Contudo, o que mais me impressionou foram uma série de navios no passeio marítimo “ turístico”, perto do Hotel. Aproximei-me, numa noite vento-sa, e descortinei uma série de navios de guer-ra. Só com maior aproximação percebi que se tratava do “Goteborgs Maritima Museum” – um dos maiores museus de navios flutuan-tes do mundo. Havia um destroyer, de 1952, “O Smaland” e um submarino “O Nordka-paren” de 1962, bem como uma miríade de

outros navios auxiliares da Marinha Sueca, como abastecedores, rebocadores, entre ou-tros…mais adiante um outro navio, lançado ao mar em 1906, com muitas semelhanças com a nossa Sagres, “o Viking”, também lá estava a atraindo visitas curiosas… Descobri ainda que a Suécia também teve a sua Com-panhia das Índias Orientais, com particular ênfase no comércio com a China, que atingiu o seu auge no século XVIII, e que Gotembur-go foi o centro desse lucrativo comércio.

Ora até aqui esta história é sensaborona e sem prazer. Foi a partir daqui que tive um sonho (…alguns chamar-lhe-ão um de-lírio…). Imaginei que em Lisboa era uma cidade assim voltada para o mar. Imaginei que ainda se mantinha toda uma actividade naval – à qual, por herança histórica, temos tanto ou mais direito que os suecos. Sonhei, imagine só o leitor amigo e paciente, que Lisboa ainda se mantinha como o centro de pesca local e longínqua que em tempos ocu-pou. Acreditei, ainda, que Lisboa ainda era um importante pólo de Marinha Mercante, construção naval e um centro de transportes navais (mistos) que permitiam levar pessoas e os seus veículos para as ilhas da Madeira

O Mar, os Vikings e o Portugal perdido...

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30 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

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31REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

Realizou-se no passado dia 25 de Junho, no Rio Tejo, Cais das Colunas, o Dia da Marinha do Tejo. Numa iniciativa integrada nas Festas da cidade de Lisboa, o Dia da Marinha do Tejo contou com a presença do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Saldanha Lopes, do seu antecessor, Almirante Melo Gomes, do Presidente da CM Lisboa, Dr. António Costa e do Professor Car-

valho Rodrigues. O Cais das Colunas foi palco para muitas embarcações típicas do Tejo nomeadamente, canoas, catraios, varinos, faluas e fragatas que navegaram no rio.

Recorde-se que a chamada Marinha do Tejo foi institucionalizada, em 2008, como “pólo vivo do Museu de Marinha”.

Presidida pelo Presidente da Câmara Municipal, Engº José Ribau Esteves, decorreu no passado dia 25 de Abril no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Ílhavo, a sessão solene comemorativa do Dia do Município.

Neste dia de Festa, Ílhavo quis dar público testemunho de um conjunto de instituições e personalidades que prestigiaram e valorizaram o património humano e material de Ílhavo.

A Marinha, representada pelo Vice-chefe do Estado Maior da Armada, VALM Carvalho Abreu, foi agraciada com a medalha de Ouro do Concelho, a mais importante condecoração honorífica do Município de Ílhavo.

No final da cerimónia, o VALM Carvalho Abreu em nome das entidades e personalidades homenageadas, expressou o seu mais sincero e profundo reconhecimento ao Município de Ílhavo por esta distinção, tendo aproveitado para relembrar a excelente relação de cooperação institucional, nomeadamente na valorização da Cultura, da Economia e do Conhecimento do Mar.

DIA DA MARINHA DO TEJO

MARINHA AGRACIADA COM A MEDALHA DE OURO DO CONCELHO DE ÍLHAVO

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32 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

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33REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2011

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QUARTO DE FOLGA

Norte (N)♠ ♥ ♦ ♣

A A A 7 10 9 9 4 8 2 6 5 3 Este (E)

♠ ♥ ♦ ♣ D 10 10 R V 7 9 7 4 8 4 3 2

Oeste (W)♠ ♥ ♦ ♣R 8 D D

9 4 8 V 3 5 10 5 2 Sul (S)

♠ ♥ ♦ ♣ 6 R R A D V 6 V 2 7 6 5 3

JOGUEMOS O BRIDGEProblema nº143

PALAVRAS CRUZADASProblema nº425

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº143

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 425

Todos vuln. Qual deve ser o plano de jogo de S para tentar cumprir o con-trato de 6♥, recebendo a saída a ♣D?

Analisando as 2 mãos facilmente se constata que o cumprimento poderá estar na boa colo-cação de ♦D, fazendo até 13 vazas se estiver em E com os ♦ 3-3. Todavia, conforme já referi em problemas anteriores, o recurso a uma passagem só deve ser escolhido se não houver a possibilidade de explorar outras hipóteses. É o caso desta situação, pois no naipe problemáti-co de ♦ dispõe de RV na mão e de A9 no morto, pelo que poderá aproveitar esta conjugação para utilizar a técnica da eliminação e colocação em mão, obrigando a defesa a jogar o naipe e aumentando as suas possibilidades de melhor o poder manejar. Vejamos como: faz de A, joga ♠ para o A e outra para cortar; vai ao morto no A de trunfo e joga outra ♠ para cortar de alto à cautela; volta ao morto no 9 de ♥ acabando o destrunfo e joga a última ♠ para corte e eliminação do naipe; dá a mão à defesa em ♣, eliminando igualmente este naipe, e obriga-a a jogar ♦ para evitar o corte e balda que lhe entregava o jogo; caso a mão fique em E deixa seguir para o 9 do morto e “caçou” a D, tal como elas estão; na hipótese de W ter jogado o 10, fazia de A e nessa altura teria mesmo que fazer a passagem; se a mão tivesse ficado em W a jogada de ♦ teria sido para o seu AV.

Horizontais: 1 - Ilha do Golfo de Tonquin, dependente da China; apelido de físico e político francês. 2 – Fundador da dinastia dos Aglábidas (756-812); máquina para fazer tecidos. 3 – Símb. quím. do níquel; ligar; ruim. 4 – Nome de um rio português na confusão; planta apocinácea do Brasil (pl). 5 – Espécie de assento que se coloca sobre as costas dos cavalos; es-pécie de bigorna. 6 – A que tem boas maneiras. 7 – Cair; árvore de que se fazem zagaias. 8 – É quase namorico; partícula negativa (inv). 9 – Altar; acaso; consoante dobrada. 10 – Chefe de um grande número de tribos ára-bes; seis letras de oferenda. 11 – Baía do Golfo de Tonquin, nas vizinhan-ças das ulheiras de Hong-Hai; viagem sem rumo.

Horizontais: 1 – Ainao; Marat. 2 – Ibraim; Tear. 3 – Ni; Atar; Mau. 4 – Oda; Orelias. 5 – Sela; Tais. 6 – Maneirosa. 7 – Ruir; Zaga. 8 – Namoric; Oan. 9 – Ara; Azar; TT. 10 – Madi; Ofedea. 11 – Along; Error.

Verticais: 1 – Ainos, Anama. 2 – Ibidem; Aral. 3 – Nr; Alarmado. 4 – Aaa; Anuo; IN. 5 – Oito; Eira. 6 – Martirizo. 7 – Rear; Café. 8 – At; Lioz; Rer. 9 – Remissao; Dr. 10 – Aaaa; Agateo; 11 – Trust; Antar.

Verticais: 1 – Raça asiática que se encontra nas ilhas Iesso, Sacalina, e nas Curilhas; lago do Brasil na margem esquerda do Solimões. 2 – No mesmo lugar; grande lago salgado da Ásia. 3 – Duas de anuro; assustado. 4 – Três vogais iguais; o mesmo que anual; prefixo de negação. 5 – Sete mais um; local onde se secam os cereais; 6 – Torturo. 7 – Vassoirar o forno depois de aquecido (inv); Semente do cafezeiro. 8 – Símb. quím. do astato; pe-dra calcária, cuja granulação é muito fina; três letras de terra. 9 – Perdão; doutor. 10 – Quatro vogais iguais; semelhante à ágata. 11 – Sindicato de especuladores, constituído com o fim de determinar a alta do preço de um valor ou de uma mercadoria, açambarcando-os; guerreiro e poeta árabe do século VI autor da epopeia O Romance de Antar.

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Nunes MarquesCALM AN

Carmo Pinto1 TEN REF

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10 11

TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR CUMPRIR A 2 MÃOS

CONVÍVIOS

● Realiza-se no próximo dia 16 de Setembro o almoço-convívio dos “Filhos da Escola” de Junho de 1999.Para mais informações os interessados deverão contactar:Ricardo Silva TM-969067808; 912295603, E-mail: [email protected]

" FILHOS DA ESCOLA " - JUNHO 1999

●Realizou-se no passado dia 7 de Maio o sexto almoço-convívio do Núcleo de Marinheiros do Concelho de Alandroal, acompanhados dos seus familiares, no restaurante

NÚCLEO DE MARINHEIROS DO CONCELHO DE ALANDROAL

“O Tarro”, na Aldeia da Venda, Freguesia de Santiago Maior. O convívio contou com cerca de cinquenta convivas. O próximo almoço-convívio ficou marcado para Maio de 2012, provavelmente na área do Portão Verde, com possível visita a Base Naval de Lisboa e Escola de Fuzileiros. A Comissão Organizadora agradece aos que compareceram neste convívio e faz votos para que no próximo ano sejamos muitos mais.

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34 AGOSTO 2011 • REVISTA DA ARMADA

NOTÍCIAS PESSOAISCOMANDOS E CARGOS FALECIDOS

NOMEAÇÕES● CMG MN Nelson Octávio Castela Lourenço dos Santos nomeado Director do Hospital de Marinha ● CFR MN Francisco Manuel Gamito Ferreira Quaresma Guerreiro nomeado Director do Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica ● CFR MN Joaquim Manuel Cordeiro Mateus nomeado Director da Unidade de Tratamento Intensivo de Toxicodependência e Alcoolismo.

● CMG REF EMQ Victor Manuel Barahona Couceiro ● CMG REF Gabriel Lobo Fialho ● 1TEN ECN REF João Farrajota Rocheta ● SAJ TF REF José Luís Ganhão ● 1SAR A REF Ventura Sobreira ● CAB A REF Rui dos Anjos Pereira ● 1MAR TFH RES Mário João Rodrigues Gonçalves Raimundo ● AG 1ª CL Paulo Alexandre da Silva Magano Moreira ● 2MAR FZ RC André Miguel Nora da Encarnação ● AUX LIMP Guilher-mina Maria Lopes de Carvalho Martins.

CONVÍVIOS

Realiza-se no próximo dia 8 de Outubro em Évora, o almoço-convívio da guarnição do NRP Roberto Ivens 1970/72 comissão do Ultramar--Angola, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Para mais informação os interessados deverão contactar: Fogueiro 32 Carvalhal TL-266088980, TM-965127290; Silvais [email protected].

●Realizou-se em 18 de Junho no restaurante “O Fandango”, em Benavente, o almoço-convívio de confraternização dos elementos da 1ª guarnição da fragata “Comte Sacadura Cabral” e seus familiares, tendo reunido mais de 80 pessoas. Após as palavras proferidas pelo primeiro Imediato, CALM Ribeiro dos Ramos, seguiu-se a apresentação por elemento da organização com a leitura de alguns poemas e evocação de silêncio pelos camaradas já falecidos. Após o repasto que decorreu com muito agrado, foi partido o bolo já ao fim da tarde.

Está previsto para o próximo ano nova confraternização, devendo os interessados contactar: Joaquim Ferreira-TM 965718510; arsé[email protected]; António Serrão-TM 919068793.

GUARNIÇÃO DO NRP ROBERTO IVENS 1970/72

1ª GUARNIÇÃO DO NRP COMANDANTE SACADURA CABRAL

●Em 28 de Maio realizou-se o X Convívio de Marinheiros de Meda, ten-do participado cerca de 70 pessoas, (43 “Filhos da Escola”) incluindo os seus familiares. Do programa constou uma Recepção no Salão Nobre da Câmara Municipal de Meda sendo recebida pelo Presidente da Câmara e dois vereadores e nas suas palavras de boas vindas a promessa da atri-buição de uma toponomia na cidade ao Alm Roboredo e Silva, homem ilustre deste concelho. Seguiu-se uma singela homenagem e deposição de uma coroa de flores no Monumento aos Ex-Combatentes. Efectuou-se depois um almoço/convívio no restaurante das Piscinas Municipais com a participação do vereador da Cultura.

De tarde e após visita à Biblioteca Municipal e Feira do Livro, no Centro Cultural, efectuou-se uma prova de vinhos na Adega

“Vinilourenço” no lugar de Poço do Canto.O convívio terminou ao fim da tarde com um lanche no Parque de Campismo sempre acompanhados com música folclórica e o desejo de que

para o ano um novo convívio se venha a concretizar.

MARINHEIROS DE MEDA

●No passado dia 24 de Maio comemorou-se o 20º aniversário do NRP Comandante Álvares Cabral sendo o dia assinalado com uma visita da guarnição a Santarém.

A chegada contou com uma recepção na Casa Pedro Álvares Cabral/Casa do Brasil, estando presente o Vereador da Cultura e Património da Câmara Municipal de Santarém, Dr. Vítor Gaspar. Depois da recepção de boas vindas, o Comandante do navio proferiu algumas palavras de agradecimento à Câmara Municipal, aproveitado ainda para enaltecer esse grande português que foi Pedro Álvares Cabral. O Dr. Vitor Gaspar dirigiu algumas palavras de agradecimento pela visita da guarnição da "Álvares Cabral" a Santarém e, por fim, houve troca de lembranças insti-tucionais. Seguiu-se uma visita guiada à zona histórica da cidade, tendo oportunidade de visitar a Igreja Nª. Srª. da Graça e numa singela homenagem depositar uma coroa de flores no túmulo do navegador e visitado a Igreja de Marvila e o Jardim/Miradouro das Portas do Sol.

A visita terminou em ambiente de franco e salutar convívio, com um agradável almoço num restaurante típico da região, na expectativa que nos próximos anos o aniversário possa ser comemorado com o navio em plena operacionalidade.

NRP COMANDANTE ÁLVARES CABRAL20º ANIVERSÁRIO

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Navios Hidrográficos

4. O IATE REAL AMÉLIA IV

Originalmente denominado “Ranshee”, foi construído em 1899 nos estaleiros “Ramage and Ferguson”, em Leith, na Escócia, de acordo com os planos de um cruzador inglês de 2ª classe.

Adquirido por Portugal, chegou a Lisboa em 2 de Novembro de 1901 para substituir o iate “Amélia III”, em trabalhos oceanográficos e igualmente servir de iate real.

Tratava-se de um navio com casco em aço de duplo fun-do, apresentando as seguintes características:

Deslocamento máximo ................................................1.370 toneladasComprimento fora a fora ........................................... 71,40 metrosBoca ............................................................................................8,80 “Calado .......................................................................................4,62 “Velocidade.................................................................................15 nós

Possuía duas máquinas alter-nativas de três cilindros de tríplice expansão de 1.800 HP, e duas cal-deiras que trabalhavam à pressão de 180 psi. Dispunha também de uma máquina de gelo, o que cons-tituía novidade para a época.

Largou de Lisboa, pela primei-ra vez com guarnição portuguesa, em 6 de Novembro de 1901.

Na qualidade de iate real o “Amélia IV” fundeou várias ve-zes em Cascais e praticou o porto de Setúbal, especialmente para visitas ao Sanatório do Outão. Em 1903 escalou portos espa-nhóis e franceses do Mediterrâ-neo. Nesse ano e nos seguintes até 1907 fundeou em Lagos a fim de D. Carlos receber cumprimentos da esquadra inglesa que habi-tualmente ali terminava as suas manobras de Verão. De registar a ida a Génova, em Março de 1906 e Janeiro de 1907, para transpor-tar material destinado à Exposição Mundial de Milão e em Março, com a Rainha e os dois Príncipes a bordo, numa visita a Sevilha.

No que respeita a trabalhos científicos, um dos principais objec-tivos das observações e das campanhas oceanográficas foram os es-tudos ictiológicos. Após as campanhas realizadas nos últimos anos do século XIX no Algarve, que se reportaram ao conhecimento do atum, seguiu-se, em 1902, o estudo da sardinha, por se recear que o início da actividade da pesca de arrasto a vapor provocasse a sua escassez. Relativamente à falta da sardinha o Rei deu uma entrevista ao jornal francês “Petit Parisien”, em Fevereiro de 1903, já que este fenómeno era sentido em águas francesas.

Em 1902 o “Amélia IV” efectuou em Maio sondagens em Se-túbal, em Junho arrasto em Sesimbra, sondagens e arrasto em Albufeira em Julho e uma Campanha Oceanográfica no Algarve em Agosto. Em Junho e Julho de 1903 fez observações em Sesim-bra e Setúbal, maioritariamente actividade piscatória, observa-ções que se repetiram em 1904 nos meses de Verão em Sesimbra, Cabo Raso e Sagres.

Depois do atum e da sardinha os estudos dedicaram-se aos tuba-rões, tendo em 1904 o Rei publicado “Os esqualos obtidos nas costas de Portugal durante as Campanhas de 1896 a 1903”. Foram efectuadas em 1905 sondagens em Sesimbra e nesse ano D. Carlos iniciou elaboração de uma carta com todas as sondagens conheci-das até 60 milhas da costa e a ser apresentada na escala 1/100.000.

A partir de 1906, com o sensível agravamento da situação política, o Rei limitou os seus embarques e deste modo realizou apenas uma observação oceanográfica em Junho a Sesimbra e somente quatro em 1907, ao largo do cabo Espichel.

Em 6 de Outubro de 1907, por altura da realização de uma regata de vela, o Rei esteve pela última vez a bordo. Decorridos três me-ses, em 1 de Fevereiro de 1908, era assassinado no Terreiro do Paço quando regressava de Vila Viçosa. D. Carlos o Monarca Sábio, no di-zer do Príncipe Alberto I do Mónaco, ficará na História como o Pai da Oceanografia Portuguesa. Uma homenagem que perdura à sua obra é a inclusão do nome “Amélia” entre os mais famosos navios da era da exploração que decoram o frontal do Museu Oceanográfico do Mó-naco. Ainda nesse ano de 1908, em Agosto, D. Manuel II e sua mãe

embarcaram indo até ao cabo Raso e a Outão. Foi esta a última viagem do “Amélia IV” como iate real.

A revolta do 5 de Outubro veio a surpreender o navio fundeado frente à Junqueira, que para não ser tomado pelos revoltosos foi fundear a Cascais e posteriormen-te transportou a Família Real da Ericeira para Gibraltar.

Em 12 de Setembro de 1911 passou a ser classificado como aviso de esquadra e rebaptizado com o nome de N.R.P. “Cinco de Outubro”. Saiu para o mar a 28 de Setembro e até Dezembro de 1912 cumpriu missões no Continente e na Madeira, tendo a partir de Ja-

neiro de 1913 e até à data do seu abate dedicado-se, prioritariamente, ao serviço da hidrografia.

Em Março de 1913 largou para trabalhos hidrográficos. Fazendo parte da Missão Hidrográfica da Costa de Portugal participou nos le-vantamentos destinados a actualizar os planos hidrográficos da cos-ta marítima portuguesa e a oceanografia do mar adjacente e ainda efectuou campanhas nos Arquipélagos da Madeira e Açores. Pelo seu comando passaram, entre outros, os capitães de fragata Hugo de Lacerda e Almeida Carvalho cujos nomes viriam, algumas décadas mais tarde, a ser atribuídos a navios hidrográficos.

Em 11 de Março de 1930 foi abatido como aviso e passou a na-vio hidrográfico mantendo contudo o mesmo nome. De Dezembro desse ano a Fevereiro de 1936, foi comandado pelo então 1º Tenente Américo Thomaz que viria a ser Ministro da Marinha e, mais tarde, Presidente da República.

Largou para o Funchal em Junho de 1936 a fim de iniciar a Cam-panha Hidrográfica da Madeira e dos Açores mas regressou a Lisboa em Outubro, sem ter completado a missão, devido ao seu mau esta-do de conservação. Em 14 de Janeiro de 1938 foi abatido ao efectivo um navio que participou em acontecimentos relevantes da História Contemporânea Portuguesa. Terminou a sua vida sob a designação de N.R.P. “Cinco de Outubro” mas foi por ventura aquele que mais serviços prestou à hidrografia nacional de entre os quatro iates que ostentaram o nome “Amélia”, evocando o notável contributo que o Rei D. Carlos prestou ao estudo e à investigação das ciências do mar.

Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO

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Navios Hidrográficos

4. O IATE REAL AMÉLIA IV