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PROGRAMA TIC OCDE/CERI
Um Estudo de Caso das TIC e do Desenvolvimento Escolar
Escola Secundária Padre António Vieira
Janeiro de 2002
(versão para publicação em Portugal)
Isabel Chagas, Chefe de Equipa
Paula Mano
Rosa Tripa
João Sousa
Centro de Investigação em Educação
da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
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1. Resumo
Consideramos a Escola Secundária Padre António Vieira (ESPAV) como um
exemplo de boa prática, no meio das escolas portuguesas, no que diz respeito à
implementação e vulgarização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no
processo educativo. Desde há longa data que a ESPAV tem participado em eventos sobre as
TIC e tem desenvolvido projectos neste domínio. Actualmente participa no projecto Europeu
de Escolas ENIS.
Sendo uma escola relativamente antiga em Lisboa, tem sabido acompanhar as
grandes mudanças que tem enfrentado. Presentemente, a braços com problemas de insucesso
escolar, devido, em grande parte, a uma mudança na população estudantil, a escola aderiu ao
programa de reforma “Gestão Flexível do Currículo” que lhe tem permitido pôr em prática a
experiência adquirida ao longo de anos no domínio da utilização educativa das TIC, o que
constitui de facto, o seu plano de reforma.
A figura que a seguir se apresenta é a capa de um CD-ROM produzido em 1997 por
um grupo de alunos da disciplina “Oficina Multimédia”, oferecida pela escola. Escolhemos
esta imagem porque nos parece reflectir o espírito da escola. Por um lado virada para aquilo
que é novo e cada vez mais relevante na nossa sociedade - a comunicação multimédia - por
outro lado, ligada a ideais humanistas que se retractam na obra do patrono da escola, o Padre
António Vieira que, no século XVII, foi “missionário, orador, político e escritor e grande
figura da cultura portuguesa que também defendeu os índios do Brasil numa altura em que os
seus direitos e dignidade corriam perigo”1.
Figura 1. O patrono da ESPAV
1 As citações descritivas da escola que se incluem neste texto são provenientes da documentação consultada e disponibilizada pela escola. O anexo B contém uma listagem dessa documentação.
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As secções seguintes do presente relatório contêm, não só informação detalhada acerca
da escola, como também uma evolução do seu projecto de inovação que se centra,
fundamentalmente, na difusão das TIC na escola, nas actividades curriculares e extra-
curriculares e, também, na utilização das TIC como veículo para a criação de uma escola “que
pretende ser uma comunidade de trabalho em que todos, alunos, professores, funcionários e
encarregados de educação contribuam para a criação de um espaço de aprendizagem, de
formação e de realização pessoal”.
2. O passado
A Escola Secundária Padre António Vieira iniciou a sua actividade em fins da década
de 60 como liceu masculino. Integrada numa zona habitacional de Lisboa predominantemente
de classe média e classe média alta, a escola, cujo projecto arquitectónico, pela sua qualidade,
vem mencionado no Guia Urbanístico da Cidade de Lisboa constitui, ainda nos dias de hoje,
um espaço privilegiado e agradável reforçado pelas zonas verdes que a circundam e que dela
fazem parte.
A ESPAV, como costuma ser mencionada pelos seus membros, tem sofrido, ao longo
dos seus anos de vida, transformações profundas que são o reflexo: das mudanças sociais,
culturais e económicas que têm caracterizado as últimas décadas, tanto a nível nacional como
internacional, das reformas educativas ocorridas no nosso país desde 1974, e das mudanças
específicas que se têm operado na zona onde a escola se encontra inserida.
Entre essas mudanças salientam-se, como consequência das reformas operadas após a
revolução de Abril de 1974, a passagem de liceu masculino, cuja população estudantil, se
destinava, maioritariamente, a seguir estudos universitários, a escola secundária com 3º ciclo
do ensino básico, frequentada por jovens habitantes do bairro e também de outras zonas
limítrofes, socialmente menos privilegiadas.
Como escola secundária com 3º ciclo passou a ter a seu cargo os três últimos anos de
formação básica obrigatória que, no nosso país se estende até ao 9º ano de escolaridade, e, a
nível secundário, o oferecimento de cursos profissionais e de cursos gerais (que constituem a
via directa para o prosseguimento de estudos de nível superior).
Fruto do envelhecimento dos habitantes do bairro onde a escola se encontra inserida, a
população estudantil da ESPAV tem vindo a diminuir ou a ser progressivamente preenchida
por jovens vindos de outras zonas, umas mais próximas, outras mais longínquas da chamada
“Grande Lisboa”.
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Em suma, de escola anteriormente caracterizada pela homogeneidade tanto a nível de
população como de objectivos educacionais, a ESPAV passou a ser uma escola caracterizada
pela diversidade e pela multiplicidade de propostas tendo em vista a formação de uma
população de jovens de diferentes proveniências sociais, culturais e étnicas, e com interesses e
motivações muito diversificados.
A nova situação da escola, analisada pelos professores das diferentes áreas
disciplinares e discutida a nível das diferentes estruturas organizacionais da escola, vem
detalhadamente caracterizada no Projecto Educativo da ESPAV para 1998-20012 onde se
identifica como principal problema o insucesso escolar que se deve, em parte, “à inadequação
entre a escola (as situações de aprendizagem) e as características (gostos, valores, prioridades
e capacidades) dos alunos, mas também à desadequação entre o plano curricular e as novas
exigências da sociedade portuguesa em mudança”. Conclui-se, face a este diagnóstico, ser
“urgente criar uma nova relação pedagógica assente numa alteração dos papéis do professor e
do aluno na construção da aprendizagem, e na criação de tudo o que se torne necessário para
que esta nova relação se concretize”. Na identificação das possíveis causas do insucesso vem
explícita a incapacidade da escola em “acompanhar as rápidas transformações económicas,
sociais e tecnológicas da sociedade”.
Tendo em conta o maior problema detectado, ou seja, o fraco rendimento dos alunos e
identificadas as possíveis causas, o plano de reforma da escola para o período a que diz
respeito intitula-se “Educar para a integração e a cidadania” e pretende atingir os seguintes
objectivos gerais:
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−
−
“Promover uma profunda estruturação, horizontal e vertical, no domínio da
organização curricular, nomeadamente no Ensino Básico, que permita uma gestão
pedagógica activa, racional e globalizante dos conteúdos.
Promover uma política de escola que recorrendo a parcerias, apoios,
disponibilização de espaços e serviços da escola junto da Comunidade, conduza à
criação das condições materiais (infra-estruturas e tecnológicas) e humanas que
possibilitem a concretização do objectivo geral anterior.
Desenvolver e requalificar pólos transversais de aprendizagem, isto é, situações
(espaços e tempos) para actividades curriculares e não curriculares que
privilegiem a globalidade dos saberes, a individualização da aprendizagem e do
saber-fazer, o lúdico, o gosto de descobrir, as dimensões cívicas da educação.
2 O Projecto Educativo da ESPAV para 1998-2001 está acessível no site da escola: http://www.esec-pde-antonio-vieira.rcts.pt/pe98e.html
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Organizar um plano sistematizado e coerente de formação de professores em
interacção com a vida lectiva quotidiana, de acordo com as necessidades sentidas
pelos professores.
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− Promover dinâmicas de escola que favoreçam a apropriação de regras de
convivência de saber estar e saber comunicar conducentes a uma cidadania
consciente e responsável.”
Para concretizar os objectivos propostos, são enunciados princípios orientadores que
privilegiam métodos de pedagogia activa, a articulação de diferentes áreas disciplinares e a
participação/aproximação de todos os membros da comunidade escolar. São igualmente
definidos objectivos mínimos e os respectivos critérios de avaliação, assim como os apoios a
prestar de uma maneira geral, nomeadamente, aos projectos da área-escola e às actividades de
complemento curricular. São criados pólos de aprendizagem de natureza oficinal/tecnológica
e linguística e a disciplina de “Iniciação à Tecnologia Informática” passa a ser dirigida aos
alunos dos três anos do básico.
Relativamente aos recursos físicos é dada prioridade: à restruturação e equipamento
das salas de estudo e sua associação a um Centro de Recursos, permitindo que professores e
alunos os utilizem, à criação de espaços lúdicos para o exercício de actividades de animação
cultural, desportiva e científica e à dinamização e apetrechamento dos clubes de rádio, vídeo e
televisão escolar de modo que possam constituir-se como espaços de aprendizagem cívica.
A degradação das instalações escolares tem sido preocupação de longa data dos órgãos
de gestão que, desde aproximadamente 1988, têm proposto a construção de um pólo
tecnológico dotado das infra-estruturas “capazes de proporcionar níveis de excelência que a
construção do futuro exige”. A escola tem vindo ser dotada de salas de apoio, equipamentos
informáticos e ligação à Internet que permitem ampliar as possibilidades de acção educativa e
a oferta de novos cursos tecnológicos.
Este projecto educativo, fruto de discussão entre os professores das diferentes áreas
disciplinares e aprovado em Conselho Pedagógico em 1998, está na continuidade dos
projectos educativos anteriores da escola, iniciados em 1994 e integrados nos princípios da
“Escola Cultural”. Desde então que a escola tem assumido uma preocupação pelo
desenvolvimento, na comunidade escolar, de atitudes e valores para a cidadania, sob o lema
“ser um cidadão do mundo”. Uma das consequências de tais perspectivas tem sido o
encorajamento da realização de actividades lúdicas e extra curriculares, concretizadas com a
criação de Clubes e sua integração nas actividades curriculares formais, o envolvimento de
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todos os membros da escola - alunos, professores, pais, funcionários - e o estabelecimento de
colaborações ou parcerias com outras instituições.
Neste âmbito, propostas inovadoras nos domínios curricular e extracurricular foram
surgindo e implementadas com o recurso às TIC. Estas têm sido perspectivadas como
“ferramentas de trabalho indutoras de novos processos de aprendizagem e comunicação”. Em
tais iniciativas têm participado professores com experiência no domínio das TIC,
nomeadamente, professores que tinham integrado o pólo da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa do projecto Minerva, o qual, entre 1986 e 1993 teve como objectivo
disseminar a utilização do computador nas escolas portuguesas. Deste grupo inicial resultou a
criação de um núcleo de professores em TIC na escola que permitiu a continuação das
tendências desenvolvidas no Minerva acerca da utilização educativa das TIC, e também a
concretização de diferentes actividades tendo em vista a consecução dos sucessivos projectos
educativos da escola. Entre essas actividades destacam-se:
a criação do projecto “Travessias” que se iniciou em 1996 e que pretendia
constituir-se como espaço de comunicação através da publicação de uma revista -
“Travessias” - e da criação de documentos vídeo, concebidos e realizados por
alunos e professores. Os alunos participantes podiam ser tanto do ensino básico
como secundário e, no início do projecto, contava-se com a participação
permanente de duas turmas (60 alunos) da Área da Comunicação.
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O “Clube de Educação Ambiental” que tinha como objectivo o desenvolvimento
de projectos na área do ambiente e conservação da natureza, no qual se integrava
o projecto europeu do programa Comenius “Jovens repórteres do ambiente” que
implicava o recurso à Internet. No âmbito das actividades deste clube, os alunos,
colocados no papel de “jornalistas”, publicavam os resultados das suas
investigações quer nos jornais escolares, quer na imprensa regional ou diária e
trocavam opiniões através da Internet com os seus colegas europeus que
investigavam problemas idênticos. A ESPAV participou neste projecto nos anos
lectivos de 1996/97 e 1997/98.
O “Espaço 3D”, ou atelier de informação gráfica, modelação tridimensional e
animação assistidos por computador. Este espaço iniciou-se como um clube que
durou de 1987 a 1989 e continua a ser anunciado nos folhetos de divulgação da
escola. É uma iniciativa que parece estar na origem da criação da disciplina de
“Oficina Mulitmédia” dirigida aos alunos do secundário.
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O curso de “Formação Tecnológica de Produção Multimédia”, apoiado e co-
financiado pelo PRODEP e que, em conjugação com o “Espaço 3D”, constituiu
fonte de experiência aos professores envolvidos e lançou as sementes para a
concepção e concretização dos cursos oferecidos actualmente.
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Trabalhos de projecto no âmbito da disciplina de “Introdução às Tecnologias de
Informação” (disciplina de opção do ensino básico) desenvolvidos por
professores das áreas disciplinares de Matemática, Português e Geografia.
Criação de dois círculos de estudos em colaboração com o centro de formação de
uma associação de escolas da qual a ESPAV faz parte, designados: “Dimensões
pedagógicas das TIC no quotidiano escolar” (com início no ano lectivo de
1997/98) e destinados à formação dos professores da escola no domínio das TIC.
Em 1996, o Ministério da Educação lançou um novo programa de encorajamento à
utilização das TIC no processo educativo, designado Nónio Século XXI, ao qual as escolas
podiam concorrer apresentando projectos onde seria possível pedir financiamento de diferente
ordem, como por exemplo, para a aquisição de hardware, software, formação, e apoio
específico ao projecto. A ESPAV concorreu com o projecto designado “Cidadania no limiar
do séc. XXI” que obteve aprovação e financiamento parcial, o que permitiu uma abordagem
significativa dos seus objectivos:
“Dar continuidade às actividades desenvolvidas anteriormente na escola no
domínio das TIC.
Aprofundar competências operatórias na utilização das TIC perspectivadas como
indutoras de uma renovação do processo ensino/aprendizagem e da relação
pedagógica.
Desenvolver capacidades de pesquisa, organização e construção de novos
modelos de ensino/aprendizagem junto de alunos e professores.
Criar uma comunidade de informação com vista a uma cidadania activa,
democrática e participada no limiar do séc. XXI”.
Pretendia-se também com este projecto dar uma maior coerência entre as actividades
lectivas formais na sala de aula e as actividades de âmbito extracurricular de que a escola já
tinha experiência assinalável, assim como consolidar a rede informática a fim de generalizar a
utilização das TIC a todos os membros da escola, o que implicaria, entre outros aspectos, uma
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“maior racionalização no aproveitamento pedagógico dos equipamentos informáticos já
existentes”.
Além do prosseguimento dos projectos já em desenvolvimento, propôs-se a produção
e manutenção de um site da escola na WWW, a produção de uma intranet para facilitar e
fomentar a comunicação intra-escola e a consolidação de um Centro de Recursos na
Mediateca. Dadas as normas do concurso segundo as quais cada escola concorrente deveria
associar-se a uma instituição que lhe pudesse prestar apoio, tendo em vista a consecução dos
objectivos, a ESPAV associou-se ao Centro Nónio da Faculdade de Ciências da Universidade
de Lisboa.
Como forma de dinamizar a utilização das TIC no processo ensino/aprendizagem das
diferentes áreas disciplinares oferecidas na escola, o projecto considerava as seguintes
vertentes, dirigidas a um público alvo constituído tanto pelos alunos inscritos nas áreas
respectivas como pelos professores:
Científica - envolvendo as áreas de Matemática, Física, Química e Biologia. Os
objectivos desta vertente consistiam em promover a utilização dos diferentes
recursos informáticos existentes na escola no apoio às actividades lectivas,
nomeadamente como recurso audiovisual, como fonte de simulação e jogo, nas
“actividades de carácter experimental de exploração e investigação”, na realização
de trabalhos de projecto, no estímulo ao trabalho em grupo dos professores,
quebrando o seu isolamento, no apoio a alunos com diferentes ritmos de
aprendizagem.
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Artística - envolvendo as áreas de Computação Gráfica (Espaço 3D, já acima
referido, e Oficina Multimédia). Pretendia-se que os alunos desenvolvessem
capacidades de visualização e construção de objectos tridimensionais e de
utilização de ferramentas informáticas na sua vertente gráfica. Pretendia-se,
também, promover uma maior abertura do corpo docente à utilização destes
recursos na sala de aula.
Comunicação - envolvendo os projectos iniciais da escola já referidos neste
relatório como o “Travessias” e o núcleo dos “Jovens repórteres para o ambiente”.
Incluía, também, novas iniciativas como: a criação do “espaço CD-ROM” com a
participação de uma turma do 12º ano e que pretendia familiarizar os alunos com
as potencialidades das TIC, integrar no quotidiano escolar estas tecnologias como
recurso, promover nos alunos capacidades de recolha, interpretação e
reconstrução da animação; a concretização do projecto “EXPO98” que tinha como
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objectivo estudar o processo de renovação urbana sofrido pelo espaço
anteriormente degradado que deu origem à Exposição Internacional de 1998; a
colaboração em projectos nas áreas da Psicologia, Português, História e
Tecnológica. Estas iniciativas que encorajam os alunos a utilizar as TIC como
recursos comuns para a boa consecução das suas tarefas, integravam-se ou
usavam como recursos muitos dos materiais e conhecimentos produzidos noutros
projectos ou disciplinas que faziam parte do conjunto de iniciativas da ESPAV
com recurso às TIC.
A estabilidade do corpo docente e a faixa etária em que a maioria se inclui (entre os 30
e 50 anos, tendo estes últimos aumentado significativamente), traduz um elevado grau de
qualificação profissional, mas também, possivelmente, uma natural resistência à mudança e
inovação pelo que, no Projecto Educativo da Escola, se faz referência à necessidade de
criação de acções de formação específicas para que as reformas previstas se possam realizar.
Segundo os dados de um questionário aplicado aos professores pelo Conselho Executivo da
escola, a maioria fez uma apreciação positiva da escola, demonstrou gostar do que fazia e
manifestou-se positivamente em relação à necessidade da entrada da escola no processo de
autonomia, na altura em discussão a nível governamental. A dinâmica da escola que se
evidencia através dos projectos em curso atrás descritos, deixa transparecer um envolvimento
positivo dos professores na reforma em curso.
No ano lectivo de 1999/2000 a ESPAV aderiu ao projecto de reforma promovido pelo
Ministério da Educação, a “Gestão Flexível do Currículo” para o ensino básico que, em
termos gerais, “visa promover uma mudança gradual nas práticas de gestão curricular. Tem
em vista melhorar a eficácia da resposta educativa aos problemas surgidos da diversidade dos
contextos escolares e assegurar que todos os alunos aprendam mais e de um modo mais
significativo”3. A gestão flexível permite que cada escola, dentro dos limites do currículo
nacional, possa “organizar e gerir autonomamente todo o processo de ensino/aprendizagem.
Este processo deverá adequar-se às necessidades diferenciadas de cada contexto escolar,
podendo contemplar a introdução no currículo de componentes locais e regionais”. A adesão a
este projecto governamental deu à escola, não só o suporte legal para a consecução de alguns
dos objectivos enunciados no seu projecto educativo, como também a justificação para
disseminar as iniciativas previstas e outras criadas mais tarde.
3 Disponível em: http://www.deb.min-edu.pt/NewForum/brochura.htm
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3. O presente
As observações integradas no presente estudo de caso iniciaram-se com uma visita
de diferentes membros da equipa de investigação à escola durante o “Dia da Escola” que
constava de apresentações artísticas-culturais-desportivas, incluídas na “Semana da Ciência”
que actualmente é comum ser comemorada em muitas escolas portuguesas. Sobre a utilização
das TIC o seguinte testemunho de um colega brasileiro, presentemente a colaborar com a
equipa da Faculdade de Ciências, constitui um bom princípio para uma descrição do presente
da escola no que diz respeito ao seu projecto de reforma e inovação:
A escola possui computadores ligados à Internet onde os alunos podem fazer os seus trabalhos. Possui também um kit multimédia em cada andar, para uso dos professores em suas aulas. Este kit tem computador, vídeo, gravador e televisão, podendo ser apresentadas fitas de vídeo ou programas no computador, com um aparelho de som bastante bom. Os alunos de comunicação estavam apresentando um trabalho que fizeram em uma disciplina e demonstraram domínio sobre o material (TIC).
Participamos na apresentação de um projecto que me chamou bastante atenção, em que participavam alunos africanos, onde a presença das TIC fez a diferença. Os alunos distribuíam contos e poesias de artistas africanos e apresentaram fotografias suas ou da sua família, mostrando a cultura de seu povo. Trabalho muito elaborado, com uso de data-projector, texto e música.
Nas áreas de Matemática e Física, foram apresentadas experiências bastante académicas, sem ligação ou contribuição das TIC. Segundo a directora da escola, os professores usam principalmente a Internet para seus trabalhos de pesquisa mas não como meio para o seu trabalho docente. Uma razão de não usarem os computadores é referente à avaliação, que é feita de maneira tradicional, assim também como o tempo disponível. Com aulas tradicionais consegue-se terminar os conteúdos, e com a informática, leva-se muito mais tempo, não se cobrindo todo o conteúdo proposto no currículo.
Observei que a parte administrativa faz uso da informática pois as salas e gabinetes têm computadores ligados à rede.
Os professores com quem contactámos, mostraram-se bastante simpáticos e receptivos. Os alunos ficaram bastante tímidos com a presença de pessoas estranhas nas apresentações. A escola estava bastante movimentada com as festividades e tinha numerosos visitantes.
Penso que a escola está bem servida de equipamento, precisando, no entanto, incentivar seu uso pelos professores, motivando-os para que no seu trabalho docente usem as TIC como MEIO.
Este testemunho toca em alguns aspectos essenciais da situação actual da escola:
desenvolvimento de projectos no âmbito das TIC realizados pelos alunos e
integrados em algumas disciplinas formais do currículo da escola;
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− fraca utilização das TIC como auxiliar do processo de ensino/aprendizagem pelos
professores das disciplinas curriculares;
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criação de condições para disponibilizar computadores, hardware multimédia e
ligação à rede que permitam uma utilização eficaz destes recursos por alunos e
professores.
−
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criação de espaços adequados onde estes recursos possam ser utilizados como
suporte às actividades curriculares e extracurriculares.
troca e partilha de experiências, conhecimentos e vivências entre todos os
membros, numa perspectiva consistente com os princípios do Projecto Educativo
da Escola de “Educação para a Cidadania”.
ambiente positivo que se respira na escola, entre todos os elementos, traduzido
pela disponibilidade para a comunicação, troca de ideias, colaboração e entre-
ajuda.
Entre as iniciativas incluídas na reforma e que traduzem o estado actual da escola,
destacamos as seguintes, por terem sido aquelas que foram referidas com maior detalhe por
todas as pessoas com quem contactámos.
Recursos TIC disponíveis
A ESPAV dispõe actualmente de cinco “salas de computadores” completamente
equipadas (figura 2) que a certas horas são manifestamente insuficientes dado o elevado
número de frequentadores. Esta situação conduz a que presentemente se discuta a criação de
mais salas disponíveis para os alunos, o que obriga a conseguir pessoal capaz, não só de gerir
o movimento próprio nestas salas, mas também de resolver eventuais problemas técnicos de
fácil resolução que possam surgir.
Existem computadores em muitos outros locais da escola: a sala de professores está
equipada com quatro, na sala dos encarregados de educação existem dois que também são de
acesso livre ao pessoal docente. A maioria dos gabinetes de cada grupo disciplinar tem um
computador. Existem também quatro computadores na sala de recursos ou mediateca que são
de acesso livre a todos os alunos que o requeiram, através de um sistema de requisição. Tal
sistema serve, não só, para os serviços administrativos gerirem o movimento da mediateca,
como também para controlarem o tipo de uso dado às máquinas solicitadas (pode servir, por
exemplo, como prevenção à consulta de sites menos aconselháveis).
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Impressora
12 computadores
Scanner
Mesas De
Trabalho
Porta
1
2
3
4
12
11
10
98 7 6 5
Figura 2. Modelo de uma sala de computadores
Os serviços administrativos, secretaria, e Conselho Executivo estão também
equipados. A razão computadores/alunos é de um computador por 6 alunos, o que
corresponde a uma situação invulgar e invejável no panorama das escolas portuguesas.
Todos os computadores existentes estão conectados em rede e com ligação à Internet
segundo duas vias diferentes: através de RDIS (Rede Digital com Integração de Serviços)
cujos custos de utilização são pagos pela escola e através da rede RCTS (Rede Ciência
Tecnologia e Sociedade) da responsabilidade da Fundação para a Computação Científica
Nacional, cujo acesso é gratuito a todas as escolas portuguesas.
Um dos grandes objectivos da escola é que todas as salas de aula tenham acesso à
Internet, permitindo a sua utilização como fonte de informação e esclarecimento (por
exemplo, acesso ao dicionário electrónico) mas também como veículo de comunicação entre
turmas ou entre escolas. O acesso à Internet na sala de aula poderá ser também, segundo as
previsões dos professores que habitualmente usam as tecnologias, uma forma de encorajar os
colegas mais recalcitrantes na utilização das TIC como recurso no processo de
ensino/aprendizagem.
Contribuindo para a disseminação das TIC e seu melhor funcionamento nas
aprendizagens das diferentes disciplinas curriculares e para promover uma maior
interactividade entre as diferentes disciplinas, estão também a ser criados os chamados
“carrinhos multimédia” (ou “kit multimédia”) que consistem em estruturas metálicas movíveis
que podem transportar: um computador, um monitor, um leitor de vídeo, um leitor de DVD,
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um data show, e uma webcam. O computador está instalado com software adequado que
permite tirar partido das potencialidades de todo este hardware e preparado para ser
facilmente ligado a um local adequado em cada sala de aula. Nas salas de aula com ligação à
Internet será possível assistir ou participar em videoconferências ou em outras actividades de
comunicação em tempo real. Assim, professores de diferentes disciplinas podem estar a
contactar de uma sala para a outra. Os alunos podem estar a falar de uma sala para a outra e
ver-se através da câmara de vídeo, o que é muito divertido e muito motivador. Em princípio,
ficará disponível um kit para cada um dos três pisos da escola. Neste momento já estão
prontos dois kits e espera-se o computador que irá completar o terceiro.
O carrinho surgiu, também, como uma necessidade prática de poder deslocar com
maior facilidade o equipamento multimédia para as salas, porque a escola não tem condições
financeiras para ter todas as salas equipadas, pelo menos com um computador. A ideia foi
inspirada por professores da escola que participaram num encontro de escolas ENIS na
Dinamarca em 2000 onde lhes foi apresentado um recurso semelhante. O uso do “carrinho
multimédia” na ESPAV ainda está em fase experimental. Estão a decorrer presentemente
sessões de formação na própria escola com o objectivo de familiarizar os professores com este
novo recurso. Estas acções têm tido uma adesão muito positiva.
O site da escola e a criação de uma intranet
A escola tem um site publicado há tempo considerável se compararmos com outras
escolas do mesmo nível de ensino em Portugal. O site inclui informação geral sobre a escola,
suas origens, quem foi o seu patrono, localização e características de quem a frequenta. Tem
publicado o projecto educativo de escola correspondente ao período de 1998-2001, o
regulamento interno e a organização curricular da escola, detalhes relativamente a algumas
disciplinas, referência aos projectos - nacionais e europeus - em que a escola se encontra
envolvida e inclui também algumas páginas com trabalhos de alguns professores e alunos.
Contudo, segundo as explicações de todos os professores entrevistados, inclusivamente da
directora da escola, este site apresenta-se “parado” há algum tempo pois não tem sido
actualizado regularmente como mandam as actuais regras de publicação e sustentação de um
site na WWW. Este facto tem sido preocupação de todos e, após demorada reflexão e
deliberação entre os membros da escola mais envolvidos, foram criadas condições para
resolver esta situação que passam pela formação de um conjunto de professores sobre
publicação na Internet e a criação de uma intranet que irá dar origem, no futuro, à
reformulação do site existente ou à criação de um novo.
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O site existente foi criado pelo anterior director da escola e contou com a
participação de alguns colegas, nomeadamente, um professor de Física e Química,
actualmente em sabática que ali publicava os trabalhos dos seus alunos do 9ºano, um colega
de Filosofia que usava a página por si construída como ponto de contacto com os seus alunos
e que é conhecida por todos na escola, e um professor de Artes que também aí publicou a sua
página pessoal.
Segundo a opinião de alguns dos professores contactados, o site centrava-se num
número reduzido de pessoas, mostrava uma participação relativamente baixa dos alunos e
precisava de transmitir uma imagem mais global da diversidade das actividades em curso e de
todos os membros da escola. Para proceder à sua reformulação constituiu-se um grupo de
cerca de 12 professores de diferentes áreas disciplinares que estão presentemente a frequentar
uma acção de formação na modalidade de projecto. Esta acção, realizada na escola e
coordenada por dois dos seus professores, integra a aprendizagem de publicação na WWW,
incluindo utilização da aplicação Frontpage, e o desenho da estrutura do próprio site. O
objectivo primeiro é a criação de uma intranet, ou seja, uma página interna da escola.
O grupo de professores a cargo da renovação do site da escola é muito heterogéneo
no que diz respeito à experiência em TIC e às motivações, atendendo a que nele se incluem
professores com longa experiência no domínio das TIC (pelo menos dois deles dinamizam a
acção de formação) e outros que se denominam a si próprios como “autodidactas”. Fazem
também parte deste grupo professores que têm participado em acções de formação
organizadas pelo programa ENIS e outros que se ofereceram para participar, simplesmente
por estarem interessados e com vontade de colaborar.
O site interno que se pretende publicar, segundo os professores envolvidos, irá
contemplar um conjunto de aspectos entre os quais se destacam:
passagem de informação a nível interno, utilizando uma modalidade de correio
interno através da criação de pastas pessoais para onde será canalizada toda a
informação que for surgindo. Assim, cada professor, dada a facilidade de acesso à
rede que existe na escola, pode, de uma maneira fácil e cómoda, manter-se
actualizado acerca dos eventos em que terá de participar. Poderá, também, ter
acesso a outro tipo de dados importantes que continuamente são recebidos pelos
órgãos centrais da escola, consultando regularmente a sua caixa de correio interno
pessoal. Este recurso não se limitará aos professores mas será expandido, em fases
seguintes, aos alunos e funcionários;
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disseminação do uso deste recurso, primeiramente entre os professores, pensando
nos mais recalcitrantes que, assim, poderão sentir maior motivação para consultar
a sua caixa do correio e, posteriormente, procurar tirar partido de todos os outros
recursos disponíveis, familiarizando-se progressivamente com as TIC;
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−
promoção de “interactividade interna”, facilitando e encorajando a comunicação
e a colaboração entre os professores, o que é importante por si só no domínio do
desenvolvimento profissional dos professores, particularmente no domínio de uma
melhor utilização das TIC nas suas próprias disciplinas, mas que também poderá
facilitar as parcerias entre disciplinas, o que constitui um aspecto consignado no
programa de reforma a que a escola aderiu de gestão flexível dos currículos;
encorajamento da utilização deste recurso como instrumento de trabalho entre
professores e alunos. Nas páginas da intranet poderão ser colocados: jornais das
turmas, materiais para consulta e estudo, fichas para os alunos com resoluções e
testes para responderem, obtendo resposta rápida e individualizada do professor.
Cada disciplina poderá ter um espaço dedicado onde será incluído, por exemplo, o
programa, links para outros sites relevantes, trabalhos realizados pelos alunos,
entre outros documentos julgados de interesse para apoio ao processo
ensino/aprendizagem;
disponibilizar documentação importante para toda a comunidade escolar, tal
como, legislação, cursos e programas oferecidos pela escola, dados sobre o
aproveitamento dos alunos, saídas profissionais do mercado de trabalho (de forma
a abranger os alunos do 9º ano que não quiserem seguir a via normal de ensino e
os do 12º ano que queiram ter conhecimento de cursos médios disponíveis),
acesso a sites que informem acerca dos programas e cursos oferecidos pelas
instituições de ensino superior;
possibilitar o acesso à base de dados das obras existentes na Mediateca,
permitindo a pesquisa e a requisição de livros a qualquer membro da escola a
partir de qualquer computador, evitando, assim, qualquer deslocação
desnecessária.
É convicção de professores implicados neste processo que a intranet é um fortíssimo
instrumento de trabalho pois permite um acesso muito mais instantâneo que a Internet, devido
à maior largura de banda que é possível utilizar. Além disso, se devidamente concebida, o que
implica a tomada de numerosas decisões quanto à estrutura, conteúdos e acesso diferenciado,
15
os professores sentir-se-ão muito mais à vontade em publicar os seus primeiros trabalhos,
sendo encorajandos a utilizar este recurso e a criar novas formas de o utilizar.
A construção desta intranet constituirá, também, uma fase experimental para
compreender e concretizar a melhor forma de participação de alunos na construção de
materiais e na publicação na Web. Alguns professores mostram receio quanto ao tipo de
utilização que os alunos poderão fazer da Internet, não só como recurso de informação mas
também como local de publicação quando a página da escola estiver novamente disponível.
Assim, pretende-se incluir alunos na construção da intranet que serão seleccionados entre os
alunos dos professores envolvidos com que estão a desenvolver projectos multimédia.
Também serão contactados alunos que estão presentemente inseridos em clubes, como o de
rádio e o de cinema e a Associação de Estudantes da escola.
Passado o processo de concepção, construção, publicação e testagem da intranet, é
intenção da equipa envolvida neste projecto construir o site da escola com os materiais
considerados adequados para serem disponibilizados a um público mais vasto. Pensa-se que,
ao longo de todo este processo, os professores directamente envolvidos aumentem as suas
competências no domínio da publicação na Internet, podendo prestar apoio aos colegas que
continuam a demonstrar dificuldade na utilização deste recurso. Está implícito que todos
esperam, como consequência fundamental, a utilização generalizada da intranet/Internet por
alunos e professores não só como fonte de informação, mas, fundamentalmente, como
ferramenta de comunicação e recurso original para novas aprendizagens adequadas ao
programa de reforma inerente ao Projecto Educativo de Escola.
Novas Tecnologias de Informação - nova disciplina oferecida pela escola
A principal razão que levou a escola a aderir ao programa de “Gestão Flexível do
Currículo”, mais conhecido por “flexibilização” entre os professores, foi o grave problema de
insucesso verificado na escola. A existência de alunos no ensino básico (a que este programa
de reforma se destina exclusivamente) com muitas carências e dificuldades de diferente
natureza levou a que um grupo de trabalho de desenvolvimento curricular, criado na escola,
tentasse encontrar modalidades de alteração das práticas lectivas e de funcionamento na
escola. Tais alterações conduziriam a uma maior autonomia, traduzida no desenvolvimento de
determinadas competências e conhecimentos úteis para estes alunos que, previsivelmente, não
tencionam continuar os estudos no secundário após completada a escolaridade obrigatória4.
4 Que no nosso país corresponde ao fim do ensino básico, ou seja, à conclusão do 9º ano.
16
Já era convicção de professores na escola, muito antes do lançamento daquele
projecto de reforma, que os alunos desde o início do 3º ciclo do ensino básico - 7º ano -
deveriam aprender a utilizar as TIC na óptica do utilizador. Diferentes razões apoiavam este
argumento: a desigual preparação a este nível com que os alunos ingressavam, devido não só
a enormes diferenças entre eles no que diz respeito à acessibilidade ao computador fora da
escola (nomeadamente em casa), mas também devido a diferenças significativas na formação
proporcionada pelas diferentes escolas do 2º ciclo de onde os alunos provinham.
Assim, começaram a criar-se, desde 1995 as chamadas “oficinas” onde alunos
acompanhados pelos seus professores podiam desenvolver projectos, geralmente integrados
nas disciplinas curriculares, com o recurso às TIC. Era uma forma de se dedicarem aos seus
estudos ao mesmo tempo que se iam apercebendo das possibilidades que as tecnologias
oferecem. Aqui, aprendiam a pesquisar em bases de dados e na Internet, recolher e tratar
imagens, e trabalhar as ferramentas base: processamento de texto, folha de cálculo, base de
dados, aplicações de apresentação. Estas aprendizagens consideravam-se importantes não só
para os alunos que não tencionassem prosseguir os seus estudos mas também para aqueles que
pretendessem ingressar nos programas oferecidos no secundário onde cada vez mais se exige
que os alunos cheguem com um conjunto de competências em TIC na óptica do utilizador.
Esta experiência prévia levou a que o grupo de trabalho de desenvolvimento
curricular, juntamente com o Conselho Pedagógico da escola, criassem uma nova disciplina
opcional, intitulada “Novas Tecnologias de Informação” (NTI). Optou-se por esta designação
para não se confundir com outra disciplina de opção que já faz parte do currículo regular
nacional: a “Introdução às Tecnologias de Informação” que consiste, basicamente, na
introdução ao estudo da informática e que tem sido escolhida, sobretudo, pelos alunos que
pretendem prosseguir os seus estudos nesse domínio.
As NTI pretendem familiarizar todos os alunos da escola com as TIC e abrir-lhes os
horizontes quanto às suas possibilidades como ferramentas de trabalho, não se limitando aos
jogos e às plataformas de conversa em tempo real. É uma disciplina de natureza transversal e
fundamentalmente de complemento às restantes disciplinas, proporcionando o recurso às TIC.
Assim, não há um programa fixo pré-estabelecido. Os professores que se oferecem para
leccionar esta disciplina reúnem-se no início do ano para definir alguns objectivos gerais e
criar uma programação muito genérica. As metodologias de aprendizagem mais comuns são o
trabalho de projecto, em que se encoraja a troca de experiências e o trabalho colaborativo, em
que os alunos com mais conhecimento e experiência podem ajudar os outros. Os alunos
desenvolvem projectos escolhidos por eles, ou sob proposta dos professores da disciplina, ou
17
sugeridos por professores de outras disciplinas que gostariam que os alunos aprofundassem
determinado tema. Nesta disciplina também é possível trabalhar no âmbito dos dois projectos
Comenius em que a escola tem estado envolvida. As duas horas semanais de funcionamento
desta disciplina estão localizadas nos dois últimos tempos do horários dos alunos, permitindo
àqueles que não se inscreveram poderem sair mais cedo da escola e ter tempo para se
dedicarem a outras actividades. As NTI foram programadas para funcionar durante os três
anos que constituem o 3º ciclo. A organização, embora muito flexível, é a seguinte: no 7º ano
são abordados os princípios básicos de utilização das TIC, envolvendo os tópicos atrás
descritos relativamente às oficinas experimentais antes da implementação da “flexibilização”.
No 8º ano, prevê-se a abordagem de ferramentas com aplicação nas disciplinas científicas e na
Matemática. O 9º ano será dedicado às artes e expressões.
Cada turma tem dois professores. A maior parte dos professores ofereceram-se como
voluntários para a leccionação desta disciplina nos diferentes anos, tendo sido necessário
recorrer a outros de fora, dada a procura dos alunos pela disciplina. Relativamente às 3 turmas
do 7º ano, todos os alunos de duas turmas se inscreveram. Muitos alunos da terceira turma
não se puderam inscrever devido a actividades que realizam fora da escola. Em 2000/01
iniciou-se a disciplina nas duas turmas existentes do 8º ano e prevê-se o início do seu
funcionamento no 9º ano para 2001/02.
Apesar de se respirar um sentimento geral de que esta iniciativa está a originar
resultados positivos nas aprendizagens e na participação dos alunos, os professores comentam
tratar-se de um grande esforço devido a determinados factores de origem pedagógica,
sociológica, psicológica e tecnológica (no que diz respeito à rápida desactualização dos
recursos existentes) que precisam ser encarados e ultrapassados. Entre eles apontam-se os
seguintes:
alguns alunos têm uma certa preguiça em criar trabalhos que tenham
originalidade. Geralmente limitam-se ao “copy and paste” a partir do que vão
encontrando na Internet;
−
−
−
alguns alunos não mostram interesse ou sensibilidade relativamente a aspectos de
composição e estética dos seus trabalhos. Limitam-se em ir fazendo sem conceber
primeiro aquilo que gostariam de fazer;
as reacções dos alunos face às limitações da tecnologia são muito diferentes.
Alguns querem que tudo aconteça “já!”, impacientando-se e desinteressando-se
pelo trabalho. Outros são mais pacientes (talvez porque o material de que dispõem
é de melhor qualidade);
18
−
−
há alunos que não demonstram qualquer apetência pelas TIC, tendo por vezes
comportamentos destrutivos relativamente aos materiais existentes;
as turmas do 8º ano são particularmente difíceis, talvez devido à idade dos alunos
(adolescência) ou à sua falta de interesse por temas de ciência. Neste caso,
decidiu-se criar um jornal em cada turma, o que originou maior interesse e
participação.
Apesar de tudo, muito já foi feito de que a comunidade escolar teve conhecimento:
no dia da escola, numerosos artigos realizados pelos alunos foram expostos, podendo ser
apreciados pelos restantes colegas, pelos pais e outros visitantes; no Natal a escola enviou
cartões de Boas Festas elaborados nessas aulas e o jornal da escola, projecto de maior
complexidade está em progresso, embora lento. Cada turma criou o seu logotipo e
presentemente trabalham os temas escolhidos para serem publicados. No futuro, esses jornais
ficarão disponíveis na intranet e, posteriormente, serão seleccionados para publicação no site
da escola.
Oficina Multimédia - Um dos orgulhos da ESPAV
A nível secundário a escola oferece cursos integrados em 4 agrupamentos5. Em todos
eles oferece os cursos necessários para o prosseguimento de estudos universitários, os
chamados “cursos gerais” e dois cursos tecnológicos (de carácter profissionalizante) que são
os de “Artes e Ofícios”, integrados no 2º agrupamento e o de “Comunicação” integrado no 4º
agrupamento. No currículo de todos os cursos integrados, em todos os agrupamentos, consta
uma disciplina designada “Oficina Multimédia”, mais conhecida por “OMM”. O tempo de
horas lectivas desta disciplina em cada agrupamento é diferente, sendo o máximo de seis
horas semanais no curso tecnológico de “Artes e Ofícios” e o mínimo de 2 horas nos cursos
do 1º agrupamento.
Os princípios desta disciplina remontam a 1996/97 onde foi possível, através de
financiamento obtido através do PRODEP oferecer um curso em horário pós-laboral a alunos
do 12º ano ou que já o tivessem concluído. O resultado final foi um CD-ROM interactivo
integrando os trabalhos produzidos e cuja capa reproduzimos na introdução do presente
relatório. O sucesso do curso e a possibilidade de novo financiamento do PRODEP permitiu a
criação de um novo curso, com o mesmo título mas agora destinado a alunos dos cursos
tecnológicos do 10º ao 12º anos, e integrado no horário lectivo normal. Os bons resultados
5 1ª agrupamento - ciências; 2º - artes; 3º - economia; 4ª - humanidades
19
obtidos levaram à elaboração de uma proposta, apresentada ao Ministério de Educação, da
criação oficial da disciplina “Oficina Multimédia” para figurar em todos os cursos de nível
secundário oferecidos pela escola. A proposta foi homologada e o curso encontra-se
presentemente em pleno funcionamento.
Os objectivos da OMM são os seguintes:6
−
−
−
−
−
compreender a importância das novas tecnologias nos processos criativos, na
produção de bens de cultura e na sua divulgação;
compreender a importância dos meios informáticos na economia dos processos de
investigação e projectação, nomeadamente através da representação bi e
tridimensional das componentes do projecto;
compreender a importância dos meios informáticos na economia dos processos de
divulgação dos bens de cultura e saber, nomeadamente, através de suportes
digitais rígidos (CD-ROM), bases de dados interactivas e Internet;
aceder à projecção, nas suas vertentes bi, tridimensional e interactiva, com
recursos a aplicações informáticas;
aceder à compreensão das metodologias operativas das novas tecnologias de
forma a possibilitar a permanente actualização e a aprendizagem ao longo da vida
activa.
A metodologia utilizada é a de trabalho projecto a partir de problemas propostos ao
longo das aulas. Promove-se o trabalho de grupo colaborativo mas também o trabalho
individual, dependendo das tarefas que estão a ser realizadas no contexto dos problemas
abordados. As aulas, em geral, são dadas em parceria, quando há mais de 6 alunos por turma.
Os principais tópicos abordados são os seguintes: conceitos fundamentais de
hardware e software, dispositivos de armazenamento, redes e comunicações; sistemas
operativos e comandos; metodologias de projectação, sistemas de representação e aplicações
específicas; desenho vectorial e imagens raster; modelação bi e tridimensional; digitalização
de som e vídeo; integração de meios scripto e hipermédia.
Os professores presentemente responsáveis por esta disciplina que se consideram a si
próprios mais como dinamizadores do que propriamente como “leccionadores”, têm formação
básica em arquitectura e, ao longo da sua experiência na ESPAV, têm vindo a dinamizar e a
participar em acções de formação sobre informática gráfica, assim como, segundo as suas
próprias palavras “têm aprendido com os colegas e com os alunos!”.
6 Programa acessível em http://www.esec-pde-antonio-vieira.rcts.pt/multimed.htm
20
Os resultados obtidos pelos alunos têm sido considerados como excelentes pelos seus
professores, o que é demonstrado pelas boas classificações. A percepção dos professores é
que os alunos, de uma maneira geral, gostam da disciplina pois mostram muito empenho e são
capazes de dedicar muito do seu tempo na consecução de um determinado projecto. Segundo
uma das professoras entrevistadas “isto acontece porque os alunos têm enorme prazer naquilo
que estão a fazer! Está mais relacionado com eles, está mais relacionado com o mundo fora da
escola.”
As TIC como ferramenta nas diferentes disciplinas curriculares
A utilização das TIC como ferramenta no processo ensino/aprendizagem das
diferentes disciplinas curriculares, tanto no básico como no secundário, continua a ser um
problema no contexto do programa de reforma da ESPAV.
A julgar pelos comentários dos entrevistados, pelas observações realizadas e pelos
resultados dos inquéritos aos professores, são relativamente poucos aqueles que se sentem
capazes de inovar as suas práticas lectivas através da aplicação das diferentes possibilidades
de utilização das TIC como auxiliares do processo ensino/aprendizagem. De uma maneira
geral, os professores sentem-se condicionados por um programa cujo aproveitamento dos
alunos é submetido a provas de avaliação que, a nível do básico, são da responsabilidade da
escola e, a nível do secundário, são de âmbito nacional. Por esta razão optam, nas aulas
formais, em particular no nível secundário, por um ensino eminentemente transmissivo e
demonstrativo.
Desde há pelo menos 15 anos que um grupo de professores de diferentes áreas,
sobretudo da Matemática, da Língua e da Física, muitos deles antigos participantes no
projecto Minerva, se preocupa com o assunto e tem tomado iniciativas tendo em vista a
formação dos colegas e a disseminação das TIC como ferramenta das aprendizagens
consignadas no currículo. A ideia original era organizar um espaço com computadores onde
tal formação poderia ser concretizada e à qual os colegas interessados poderiam recorrer para
aprender novas perspectivas, discutir como estas poderiam ser concretizadas e aconselhar-se
acerca de eventuais problemas que fossem surgindo. Estas iniciativas surtiram bons efeitos e,
a pouco e pouco, alguns professores começaram a integrar as TIC nas suas práticas, embora
ainda se esteja muito longe de uma prática generalizada.
Uma professora pertencente a esse grupo inicial explicou-nos que o que se pretende
disseminar não são as tecnologias em si mas as metodologias para uma utilização que apoie
os projectos dos alunos. O objectivo é “criar um espírito na escola de integração das
21
tecnologias com toda a naturalidade, na sua parte curricular, nas áreas disciplinares, tanto na
parte a nível do currículo obrigatório, como nas áreas transversais.” Os círculos de estudo
continuam a realizar-se na escola, dinamizados por um grupo alargado de colegas. Contudo,
muitas dificuldades persistem. Entre elas destacam-se:
Uma forma particular de resistência à mudança. Neste momento já é aceite que as
TIC podem trazer benefícios à aprendizagem e tornar as aulas mais cativantes
para os alunos; também já há um certo domínio sobre muitas das modalidades de
TIC actualmente existentes. Contudo, os professores sentem que ainda não sabem
tudo e receiam que algo corra mal durante a aula.
−
−
−
−
−
Os próprios alunos são uma limitação. Há alunos que sabem mais do que os
professores acerca do computador, da Internet e do modo como funcionam. A
alguns professores isso causa uma perturbação que os inibe de abordar as TIC,
enquanto que outros são capazes de aproveitar estas situações para inovar as suas
práticas envolvendo uma crescente participação dos alunos.
As aulas requerem uma preparação demorada e complexa que implica o
conhecimento, por parte do professor, acerca da tecnologia específica que vai ser
utilizada, o que obriga, muitas vezes, a praticar o hardware e o software que vão
ser utilizados, assim como a estruturação didáctica que, por se centrar
basicamente nos alunos, é muito diferente daquela a que os professores,
principalmente os mais velhos, estão habituados a fazer.
O funcionamento das aulas. Os alunos geralmente em grupo, virados para o
computador, muitas vezes completamente absorvidos pelo que lá se passa, de
costas para o professor, falando uns com os outros e de repente, chamando
impacientemente o professor, para que as dúvidas mais díspares sejam
esclarecidas, cria um novo tipo de “confusão” que está longe daquela “confusão”
a que os professores experientes, de uma maneira geral, estão habituados a gerir.
O regime de voluntariado em que os professores trabalham. Com excepção de
algumas indicações nos currículos de Matemática acerca do uso de calculadoras
gráficas, não existe actualmente no país uma política educativa que defina
claramente a utilização educativa das TIC no processo ensino/aprendizagem das
disciplinas curriculares. Consequentemente, aqueles professores que não têm
formação ou interesse particular nas TIC não se sentem obrigados a utilizá-las na
sua prática lectiva.
22
Inexistência de mecanismos de avaliação no domínio das TIC, integrados nas
disciplinas curriculares. Deste modo, as competências que a investigação tem
apontado ser possível desenvolver nos alunos através do recurso às TIC não são
actualmente tidas em consideração e, consequentemente, não constam nas provas
de avaliação nem do ensino básico nem do ensino secundário.
−
Estes dois últimos factores, obviamente, não são inerentes à escola mas sim a uma
situação a nível nacional que urge resolver. A questão da avaliação tem sido discutida na
ESPAV. Segundo a Directora da Comissão Executiva, esta questão tem sido abordada em
diferentes momentos no presente ano lectivo, nomeadamente ao nível do Conselho
Pedagógico, onde se tem tentado equacionar os critérios de avaliação neste domínio e os
respectivos pesos a atribuir-lhes. A ideia tradicional de avaliação centrada nos resultados dos
testes é actualmente posta em causa pela introdução das TIC no processo
ensino/aprendizagem, devido às novas competências que os alunos demonstram e aos
diferentes tipos de actividades. Torna-se necessário que se repensem modalidades alternativas
de avaliação que traduzam de modo mais válido e fiável aquilo que os nossos alunos estão a
aprender.
4. Principais Hipóteses
Após os dias passados na escola a tentar compreender o papel que as TIC têm aí
desempenhado, as hipóteses que deram início a este estudo parecem, agora, demasiado
redutoras para não dizer simplistas. O que se passa é demasiado complexo para que seja
possível colocar duas perspectivas diferentes, uma em alternativa da outra e optar, claramente,
por uma delas. Possivelmente as duas alternativas coexistem, ou não, ou existem outras;
possivelmente factores não pensados previamente estão presentes, condicionando
significativamente aquilo que se pretende estudar.
Apesar destas limitações que são inerentes ao próprio desenho do presente estudo, foi
possível discutir as hipóteses colocadas e, com base nos dados obtidos, contribuir para a
compreensão de uma tecnologia que, certamente, já interfere nas nossas vidas, poderá vir a ter
um papel mais claro na educação e na formação de todos nós e cujo futuro continua a ser
difícil de prever.
23
Hipótese 1
No caso da ESPAV a tecnologia tem sido, claramente, um forte catalisador da
reforma da própria escola. Devido à convicção e intervenção de um conjunto de professores
pioneiros no domínio das TIC e ao apoio prestado consecutivamente pelos órgãos dirigentes
da escola, decisões importantes foram tomadas que tiveram as consequências que a seguir
destacamos:
a criação de novos tipos de sala de aula - as salas de computadores - que, por sua
vez, originaram novos ambientes de aprendizagem, traduzidos em diferentes tipos
de actividades, maneiras de estar na sala de aula (tanto para os alunos como o
professor), interacções entre alunos, alunos e professor e, eventualmente, entre
outros participantes com os quais é possível trabalhar atendendo aos novos
recursos;
−
−
−
−
−
−
a utilização de novos auxiliares do processo ensino/aprendizagem, por vezes sob a
iniciativa dos alunos mas que permitem uma nova abordagem dos temas em
estudo, e, principalmente, uma maior participação dos alunos em todo este
processo, ao realizarem projectos sob temas à sua escolha ou sugeridos pelos
professores, cujos produtos é possível pôr à disposição (e à critica) da comunidade
escolar e fora dela;
a modernização da biblioteca escolar, a Mediateca, constituindo um centro de
recursos que permite o acesso de todos a uma diversidade muito maior de recursos
de consulta do que aqueles que estavam disponíveis no início da escola. O
trabalho de pesquisa tornou-se, nesta escola, uma actividade essencial, como
complemento aos procedimentos de aquisição e de construção do conhecimento;
a formação específica de professores, conduzindo a uma diversidade de
modalidades de acções, enquadradas no plano nacional de formação contínua de
professores, concretizadas por professores da escola e em colaboração com um
centro de formação;
a criação de novas disciplinas curriculares, portadoras de novos conteúdos,
competências e metodologias de ensino para os currículos do básico e do
secundário;
a concepção de uma intranet que permitirá criar não só novos mecanismos e
hábitos de comunicação entre os membros da escola, como também novas
maneiras de trabalhar entre os professores e entre estes e os alunos.
24
Estas inovações poderão concorrer para a resolução do insucesso da escola, o grande
problema da ESPAV e para o plano “Educar para a Integração e a Cidadania” que constitui a
presente grande meta da escola. Muitas das inovações trazidas pela aplicação das TIC poderão
trazer oportunidades para a consecução dos objectivos deste projecto.
A fronteira torna-se assim difícil de definir. No caso da ESPAV as TIC parecem ser
simultaneamente um catalisador imprescindível das reformas ocorridas na escola, mas
também um veículo com potencialidades próprias que permite solucionar problemas
educacionais específicos. Realça-se aqui a possibilidade de todos os alunos terem acesso a
formação básica de utilização das TIC na óptica do utilizador, o que não acontece em muitas
escolas portuguesas.
Hipótese 2
O que foi possível descrever no presente estudo de caso parece seguir o tradicional
padrão de difusão das reformas e inovações descrito por Rogers (1995)7. Num breve exercício
é possível identificar aspectos observados neste estudo que estão contemplados na teoria de
Rogers, senão vejamos.
Segundo Rogers, um importante factor na taxa de adopção de uma inovação é a
compatibilidade entre os valores, crenças e experiências passadas dos indivíduos num
determinado meio social. A ESPAV, como meio social, é caracterizada pela estabilidade do
corpo docente com longa experiência de trabalho em comum. A experiência passada revela a
partilha de ideias quanto à importância de uma inovação no domínio das TIC. A capacidade
de pôr em marcha um Plano Educativo de Escola que envolve a negociação entre os membros
da escola, organizados pelos diferentes órgãos administrativos (dos quais encarregados de
educação e alunos têm assento em alguns), revela a existência de compatibilidades ou a
capacidade de negociação entre os seus membros. A estas características acrescentam-se
outras também referidas por Rogers, tais como: os inovadores são membros da escola e de,
uma maneira geral, membros prestigiados não só pelos conhecimentos e experiência que têm
no domínio das TIC, mas também pelos lugares que têm ocupado e pelas iniciativas que têm
dinamizado na escola. Um dos inovadores iniciais foi presidente da escola durante vários anos
e a actual directora, além de apoiar esta inovação, é, também ela, utilizadora das TIC nas suas
diferentes actividades, nomeadamente como auxiliar no processo de ensino/aprendizagem de
Matemática de que é professora; a difusão das TIC está orientada para os clientes, neste
7 Rogers, E. (1995). Diffusion of innovations (4ª Edição). New York: Free Press.
25
caso os professores. As numerosas acções de formação e a disponibilidade demonstrada pelos
inovadores para tirar dúvidas e prestar apoio quando pedido são disso exemplo.
Segundo Rogers o processo de inovação-decisão compreende cinco diferentes etapas:
1) conhecimento, 2) persuasão, 3) decisão, 4) implementação e 5) confirmação. As
observações realizadas na escola apontam que o processo de difusão da inovação aí ocorrido
se encontra na etapa 4. Diferentes iniciativas estão em pleno funcionamento enquanto outras
(aplicação das TIC nas aulas regulares) ainda se encontram, possivelmente entre o estádio 2
de persuasão e o estádio 3 de decisão. A escola parece estar a viver um período
particularmente sensível neste processo, ou seja, possivelmente dependerá dos resultados da
implementação dos projectos em curso, o prosseguimento da difusão com sucesso desta
inovação.
Aquele autor considera diferentes categorias de pessoas no domínio de adopção da
inovação: 1) os inovadores; 2) quem adopta de início; 3) maioria de início; 4) maioria tardia;
5) atrasados ou quem não adopta. É possível prever, num determinado processo de difusão de
inovação, as percentagens relativas de cada um destes tipos. No caso da ESPAV, apesar de
não se disporem de dados para fazer uma identificação precisa, poder-se-à prever uma
situação de maioria de início o que corresponde a que cerca de 34% dos professores da escola
estão em pleno processo de adopção das TIC nas suas práticas.
O breve exercício acabado de realizar serve para reafirmar a utilidade da
fundamentação teórica e prática que a obra de Rogers proporciona. Contudo, no caso do
processo de difusão de inovação no meio escolar, deveria entrar-se seriamente em conta com
a abordagem de questões relacionadas com as culturas de escola e o desenvolvimento
profissional dos professores, apenas para referir algumas das linhas de investigação em
educação que mais poderão contribuir para a compreensão dos factores que determinam a
adopção das TIC no processo educativo.
Hipótese 3
Os dados obtidos apontam para a confirmação desta hipótese porque, sem
professores interessado em adoptar as TIC e sem professores competentes para integrar as
TIC na aprendizagem não é possível uma implementação eficaz. Contudo, não é este o único
elemento, e a eficácia das TIC poderá envolver este aspecto mas também todos os outros que
são apresentados na hipótese alternativa. Assim, os resultados da implementação das TIC são
determinados por um conjunto de factores em que se destacam: a cultura da escola, traduzida
aqui na consideração de todos os membros da comunidade educativa, nas relações que se
26
estabelecem entre eles e no clima que se “respira” de tais relações, a gestão da escola como
tendo papel chave nas diferentes decisões com implicações na implementação das TIC, o
apoio prestado pelos órgãos governamentais, dando oportunidade de tempo e,
fundamentalmente, reconhecendo as iniciativas e os esforços dos inovadores, o equipamento
que deve ser continuamente actualizado e mantido em boas condições de utilização, os alunos
que precisam ser ouvidos e ser-lhes dadas oportunidades para uma participação mais activa. A
questão não deve ser posta simplesmente em termos de competências mas, também, dos
sentimentos, das percepções e das expectativas das pessoas envolvidas.
Hipótese 4
Os dados apontam para a hipótese alternativa. Esta situação não é específica daquela
em que se enquadra a implementação das TIC, mas tem sido verificada em muitas inovações
no domínio da educação. Um exemplo já não muito recente corresponde à difusão das
metodologias por descoberta no processo de ensino/aprendizagem das ciências. Os alunos
socialmente privilegiados beneficiam geralmente sempre mais com as inovações do que os
alunos menos privilegiados. O fosso entre eles aumenta em vez de diminuir. Isto significa
que, se se pretende uma implementação eficaz das TIC na educação, não basta que todos os
alunos tenham acesso à tecnologia e respectiva formação na escola mas deverão ser criados
mecanismos para apoiar aqueles que tiverem mais dificuldades ou que não poderão pedir
apoio fora da escola. Neste caso, o modelo de Rogers poderá ser insuficiente para
compreender estes processos de difusão das inovações, como já se viu atrás ao abordar a
hipótese 2, mas dever-se-à recorrer, também, aos conhecimentos produzidos por diferentes
linhas de investigação no domínio da sociologia da educação.
Hipótese 5
Os dados obtidos no presente estudo não servem para apoiar esta hipótese e são
insuficientes para fundamentar a discussão mais profunda que tais afirmações merecem. O
que se verifica é que, tendo por base metodologias de aplicação fundamentadas na experiência
da escola e na investigação educacional, as TIC trazem novo contributo à educação e
formação dos jovens, sendo um recurso que alarga as possibilidades de pesquisa e de
comunicação de uma forma que, até agora, nenhum outro recurso foi capaz de fazer.
A utilização que se faz de cada recurso depende de cada um. Um bom projecto
educativo, certamente orientará o jovem de qualquer idade a tirar o máximo das
potencialidades que esse novo recurso poderá proporcionar. As práticas observadas na
27
ESPAV, apesar das dificuldades, dos erros (com os quais se aprende) e das limitações,
apontam neste sentido; e certamente muitas outras escolas em todo o mundo partilham esta
perspectiva.
5. Projecção para o futuro
Apresenta-se em seguida o quadro 1 que sumariza alguns dos resultados do presente
estudo.
Quadro 1 - Organização dos dados recolhidos
Avaliação da Mudança
1. Padrões de difusão −
−
−
−
−
−
Projecto Educativo da Escola
Equipamento adequado
Criação de uma intranet
Criação de novas disciplinas
Formação de professores
Apoio informal
2. Valorização e envolvimento
do pessoal docente −
−
−
−
Envolvimento crescente (encorajado por um grupo inicial de
cerca de 20% dos professores)
Trabalho voluntário
Valorização pessoal, profissional
Fraca valorização pelo Ministério da Educação
3. Papel da liderança −
−
−
Implementação do Projecto Educativo da Escola
Apoio às iniciativas envolvendo a reforma
Dinamização das relações/reuniões entre os diferentes órgãos da
escola
4. Ligação TIC/Reforma − Ligação muito estreita. O programa de reforma a que a escola
aderiu da Gestão Flexível do Currículo permitiu pôr em prática
muitas das iniciativas de implementação das TIC
5. Infraestruturas das TIC −
−
−
−
−
5 salas de aula preparadas com cerca de 12 computadores cada
Mediateca/sala de recursos
Internet (em reformulação)
Intranet (em construção)
Razão 1 computador para 6 alunos
6. Eficácia − Variável consoante as iniciativas: sucesso das disciplinas novas
(NTI, Oficina Multimédia); aumento da utilização das TIC por
28
alunos e professores, embora este últimos continuem a não as
utilizar na prática lectiva; formação de professores
diversificada e adequada; utilização das TIC nas salas de
estudo e nas áreas de projecto.
7. Rigor académico − Não estão disponíveis ainda dados que permitam estabelecer
uma relação de causa efeito entre os resultados obtidos e as
iniciativas tomadas no âmbito da reforma. O que se dispõe
presentemente são as percepções dos membros da escola.
8. Equidade −
−
−
−
Todos os alunos podem inscrever-se nas NTI
Grande heterogeneidade quanto aos recursos informáticos de
que os alunos dispoem em casa
Diferente apoio prestado pelos pais
As raparigas apresentam mais dificuldades a princípio mas
depois produzem trabalhos de melhor qualidade que os rapazes.
9. Sustentatibilidade −
−
−
−
−
−
Corpo docente muito estável
Avaliação do Projecto Educativo da Escola de 1998/2001
Negociação em 2001/2002 de um novo Projecto Educativo
Aplicação a concursos de financiamento
Pais aprovam iniciativas envolvendo a aprendizagem das TIC
Estabelecimento de protocolos e parcerias com instituições de
ensino superior
O processo de reforma está ainda em curso e poucos dados concretos estão
disponíveis que permitam uma prospectiva mais segura acerca da sustentabilidade do mesmo.
Contudo, dada a experiência da escola, os resultados já conseguidos e as continuadas
iniciativas com o objectivo de encorajar uma generalizada participação dos professores,
prevê-se que o projecto continue e conduza a resultados positivos. É de realçar que, tal como
foi referido na discussão das hipóteses de estudo, para uma implementação eficaz das TIC,
não bastam os aspectos que foram pesquisados neste estudo. O contributo de outras áreas de
investigação, assim como uma compreensão mais aprofundada da cultura desta escola são
factores importantes para uma previsão mais fiável do futuro. De qualquer forma, o quadro
resumo aqui apresentado que faz referência aos tipos de acção em curso e projectados pela
ESPAV, poderá servir de base a outras escolas que pretendam proceder à implementação das
TIC.
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6. Anexo A - Metodologia
O estudo iniciou-se com uma série de contactos com os professores da escola que
pudessem dar-nos uma ideia da receptividade da mesma para a realização do estudo. Uma
professora, que consideramos como contacto-chave, fez-nos uma primeira descrição da actual
situação da escola e das possíveis limitações na realização de todos os mecanismos de recolha
de dados previstos no plano de estudos.
Foi também esta professora que estabeleceu contacto com a Directora do Conselho
Executivo da Escola que aceitou em realizar uma primeira reunião com a chefe de equipa do
presente estudo. Nessa reunião estavam presentes além da chefe da equipa de investigação, a
directora da escola e a professora com quem estabelecemos o primeiro contacto e que, ao
longo de todo o estudo, prestou apoio na consecução de todas as actividades planeadas.
Negociação de entrada
Foi-nos explicado que a escola tem sido objecto de múltiplos estudos e investigações
pelo que os professores se encontram um pouco saturados em corresponder a todas as
solicitações, principalmente em responder a todos os questionários que têm surgido. Face às
limitações detectadas e tendo como referência o plano de estudos programado para a presente
investigação, ficou decidido:
Entrevistar a Directora do Conselho Executivo da Escola que se prestou a dar
apoio e a prestar esclarecimentos sempre que necessário. Esta professora,
interveniente activa no processo de reforma da escola, prestaria também os
esclarecimentos necessários quanto a este aspecto.
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Entrevistar 5 professores envolvidos nas diferentes iniciativas no domínio das
TIC. Alguns destes professores integram a Comissão Executiva da escola pelo
que também podiam dar a sua visão acerca do processo de reforma. Um desses
professores, com longa experiência na aplicação das TIC na escola, incluindo a
criação das salas de computadores, dos espaços de acesso às TIC e da criação da
intranet, respondeu também a algumas das questões previstas no guião da
entrevista para o técnico.
Entrevistar 6 alunos em grupo e alunos no fim da assistência a algumas aulas.
Assistir a pelo menos a 10 horas de aulas em disciplinas à escolha da escola.
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Aplicar os questionários, que seriam colocados nos cacifos dos professores.
Avisaram-nos que a taxa de resposta deveria ser muito baixa, atendendo à
saturação de documentos deste tipo a que os docentes têm sido solicitados a
responder. De facto, a taxa de resposta foi muito baixa - 18%.
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Dada a dificuldade em conseguir marcação de hora com encarregados de
educação decidiu-se contactar directores de turma que têm dados acerca das
reacções dos encarregados de educação relativamente às reformas processadas na
escola ou, então, acrescentar perguntas a este respeito aos professores e aos
alunos entrevistados.
Colocar documentação à nossa disposição. A escola mantém um acervo
considerável de informação acerca dela própria que está disponível,
nomeadamente, no site, em documentação produzida e também nos jornais que
publica.
Comunicar todas as iniciativas da escola às quais a equipa estaria logo à partida
convidada a assistir, como por exemplo, a semana da ciência e o dia da escola.
O período de recolha de dados ultrapassou largamente o previsto no plano do
estudo. O período de recolha de dados durou cerca de 15 dias, ultrapassando
largamente o previsto no plano da investigação.
Procedimentos de Recolha e Análise dos Dados
A equipa, constituída por quatro elementos, consultou inicialmente os documentos
enviados pela coordenação da investigação. Discutiram-se, fundamentalmente, os
instrumentos de recolha de dados e tomaram-se decisões quanto à sua adaptação aos
objectivos do estudo e às limitações que a escola pudesse apresentar. Estas limitações seriam
orientadas para os objectivos, mas com muita flexibilidade, de modo a poder recolher outras
informações relevantes.
Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas. A análise de conteúdo processou-
se tendo por base estas transcrições. As entrevistas aos professores foram individuais e
duraram cerca de uma hora cada. As entrevistas aos alunos foram realizadas em grupo como
forma de conseguir uma participação mais activa da sua parte.
Os guiões para as observações das aulas foram utilizados com muita flexibilidade.
Optou-se por ir desenhando uma narrativa de cada aula a partir das anotações que iam sendo
tiradas periodicamente pelo observador.
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Procedeu-se a uma análise minuciosa do site da escola, assim como aos documentos
a que tivémos acesso. A sua análise foi orientada pelos objectivos do estudo, assim como
pelas hipóteses formuladas.
7. Anexo B - Documentos utilizados para análise
• Projecto Educativo da ESPAV para 1998/2001
• Site da ESPAV na Internet
• Regulamento da ESPAV
• Programa da Gestão Flexível do Currículo
• Projecto Nónio - Cidadadania no Limiar do Sec XXI - da responsabilidade da ESPAV
• Relatório da Visita ao Dia da Escola relatado por Estevão Ribeiro da Universidade do
Estado de S. Catarina, Brasil.
• Desenvolvimento da Informática Gráfica na ESPAV - documento apresentado na
exposição organizada no âmbito do Netdays de 1997
• “Conhecer África”. Prospecto distribuído pelos alunos de Comunicação durante a
apresentação feita no Dia da Escola
• Boletim Informativo da Escola
• 5 números da Revista “Travessias”
• 1º número do Jornal “Tok’a Ler”, que faz parte do projecto “Travessias”
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