programa nacional de tecnologia educacional na …educere.bruc.com.br/cd2013/pdf/10315_5445.pdf ·...
TRANSCRIPT
PROGRAMA NACIONAL DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL NA
PROMOÇÃO DE INFOINCLUSÃO DOCENTE
SILVA, Valdirene Moura - UFPE1
Grupo de Trabalho - Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Há de se convir que esse é mais um dos paradigmas enfrentados pela educação: A apropriação da tecnologia na prática docente. Tendo em vista a posição conflitante dos educadores, a proposta desse artigo consistiu em compreender os efeitos perceptíveis da infoinclusão oriundos da implantação do ProInfo na escola da rede pública municipal de Vertentes - Pernambuco. Esse estudo, objetivou-se a investigar a promoção de infoinclusão docente, bem como a inclusão metódica do uso das TDIC nas práticas educativas, obtidas como consequência das ações do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) nas instituições pesquisadas. Destarte, especificamente analisou-se: a disponibilização, pela gestão, do laboratório aos docentes da instituição; A frequência mensal de acesso dos docentes ao laboratório de informática; e a demanda do corpo docente para o uso das TDIC no laboratório. Por sua vez, o caminho teórico-metodológico percorreu entre as concepções de Kenski (2008), Padilha e Cavalcante (2009), Prata (2005), Buzzato (2011), Coll (2010), Gil (2008) e as diretrizes dos Livros Azul, Branco e Verde. As nossas conclusões apontam para a mínima existência de infoinclusão instigada pelo ProInfo, as ações permanecem mais centradas em aulas isoladas e atividades pouco direcionadas ou interdisciplinares, é como se as TIDIC fossem abstratas e portanto quase impossível de serem utilizada na prática pedagógica. Dessa forma, percebe-se ainda que, embora as TDIC não sejam utilizadas de maneira correta, ou seja, explorando todas as suas potencialidades e recursos para aprimorar a prática pedagógica, os seus resultados da educação são perceptíveis e, portanto a sua inserção no contexto educacional deve ser pensado e concretizado. Palavras-chave: Tecnologia; Educação; Docente. Introdução
Em sua complexidade, a temática inserção de tecnologias digitais na educação suscita
uma pertinente inquietude, tanto profissional quanto acadêmica, relacionada à dualidade de
posições que o tema provoca. Diz-se dualidade, pois, ao mesmo tempo em que, na área 1 Mestranda em Educação Matemática e Tecnológica no EDUMATEC da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Pedagoga também pela mesma instituição. Participante do grupo de pesquisa na área de processos de ensino e aprendizagem em educação, com ênfase em tecnologia. E-mail: [email protected].
5035
educativa, uma parcela de profissionais defende, com vigor, a introdução de tecnologias
digitais nas atividades de ensino, aprendizagem e pesquisa, outros tantos se mantém alheios e
resistentes ao uso desses recursos.
Quanto aos gestores das instituições de ensino, as posições conflitantes se repetem.
Enquanto alguns aproveitam os programas de inclusão digital os quais o governo institui para
a implantação de recursos de tecnologias digitais de informação e comunicação (de ora em
diante TDIC), como é o caso do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo),
outros gestores abrem mão dessas possibilidades.
No cotidiano escolar é possível acompanhar os dois discursos simultâneos, aqueles
abertos aos avanços proporcionados pela tecnologia, assim como aqueles que resistem a esse
desenvolvimento. Visto que as tecnologias digitais de informação e comunicação assumem
uma função cada vez mais essencial na sociedade contemporânea, a educação formal procura
meios de atender a essa demanda do mundo do trabalho e do cotidiano dos sujeitos, e estes,
progressivamente, se tornam mais dependentes dos recursos das tecnologias digitais para
diversas tarefas. De fato, as TDIC alteraram a configuração de nossas atividades do dia-a-dia,
desde o uso de caixas eletrônicos de bancos até a comunicação das empresas com seus
funcionários, que atualmente se dá, com frequência, via correio eletrônico.
Com relação às ações do governo no sentido de incluir as TDIC nas escolas da rede
pública, uma delas foi a criação do ProInfo, que disponibiliza, mediante adesão voluntária das
escolas, computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais2.O ProInfo foi criado pela
Portaria nº 522/MEC, de 9 de abril de 1997 com o intuito de introduzir/potencializar o uso das
tecnologias de informação e comunicação nas atividades de ensino e aprendizagem na rede
pública de ensino fundamental e médio.
Com o intuito de incluir as escolas públicas do Brasil na “Era Tecnológica”, em 14 de
junho de 2010 pela Lei nº. 12.249, instituiu-se o Programa Um Computador por Aluno
(PROUCA), visando ainda uma maior e melhor integração entre aluno/escola/família. O
PROUCA3 busca integrar o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem entre
alunos e professores das escolas públicas, além de promover a inclusão digital pedagógica,
atentando ainda para o fato de que esta pode acrescentar qualidade à ação educativa, dado o
leque de recursos oferecidos pelas TDIC. Para tanto, se disponibilizam equipamentos
2 http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=462&id=244&option=com_content&view=article, acesso em 02/02/2010 3 Fonte: www.uca.gov.br acesso em 10 /04/2011
5036
portáteis, como os laptops que poderão ser utilizados nos espaços escolares (sala de aula,
biblioteca, laboratório, etc.) por estudantes e professores, de acordo com regras a serem
estabelecidas, assim como também poderão ser manuseados em casa, iniciando assim o
processo de inclusão digital de familiares e da comunidade em geral.
Não é de hoje que se aponta os benefícios para o processo de ensino e aprendizagem
com a introdução das TDIC na educação formal, dentre os quais pode-se citar a dinamização
da aula, a possibilidade de autoria compartilhada nas interfaces de discussão, a interação, etc,
bem como também se pode fortalecer a cidadania pelo acesso mais diversificado à
informação. Em outras palavras, quanto mais evoluímos, mais necessitamos ter acesso às
transformações que a tecnologia promove e que são de nosso direito usufruir. Já se
posicionava a respeito disso, Freire (1979, p. 22):
Se o meu compromisso é realmente com o homem concreto, como a causa de sua humanização, de sua libertação, não posso por isso mesmo prescindir da ciência, nem da tecnologia, com as quais me vou instrumentando para melhor lutar por esta causa.
Entretanto, somente a posse dos equipamentos e o acesso à rede mundial de
computadores, que sustentam o uso das TDIC, não garantem a sua utilização para fins
educativos. Aliás, nenhuma tecnologia, por maior que seja a excelência dos recursos
oferecidos, é educativa per si. A fé cega nos recursos da Ciência (qualquer que seja ela), como
promotores inquestionáveis do bem estar humano, é um paradigma da modernidade que caiu
por terra no século XX. Uma tecnologia adquirirá a qualidade de ser educativa de acordo,
sobretudo, com as concepções de ensino e aprendizagem dos agentes envolvidos nesse
processo.
Em virtude disso, por mais louvável a intenção que suscitou a criação do ProInfo, e
recentemente do PROUCA, parece ser relevante tomar ciência dos resultados de sua aplicação
no cotidiano escolar. Essa é a proposta desta investigação, a saber: compreender os efeitos
perceptíveis de infoinclusão oriundos da implantação do ProInfo na escola da rede pública.
Objetivou-se com esse estudo investigar a promoção de infoinclusão docente, bem
como a inclusão metódica do uso das TDIC nas práticas educativas, obtidas como
consequência das ações do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) nas
instituições pesquisadas. Para tanto analisou-se a disponibilização, pela gestão, do laboratório
aos docentes da instituição;A frequência mensal de acesso dos docentes ao laboratório de
5037
informática para fins de pesquisa pessoal, para atividades escolares; a demanda do corpo
docente ao programa e à gestão no que diz respeito ao uso de TDIC nas práticas educativas.
O referencial teórico se deu pelo diálogo com autores tais como: Prata (2005) Padilha
(2009) Kenski (2008), Zabala (1998), entre outros, trabalhando em torno de conceitos sobre
as tecnologias no contexto educacional, instalação de novo paradigma e a relação da prática
docente e das tecnologias no processo de ensino aprendizagem, parcialmente desenvolvidos
nos itens a seguir.
AS TECNOLOGIAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL: A CONQUISTA DE UM NOVO PARADIGMA
Ao eleger uma temática para investigação, certamente sente-se a necessidade de
mergulhar em aspectos históricos que descortinem o contexto na qual ela se instala. Os
avanços ocorridos na segunda metade do século XX, e primeira década do século XXI,
promoveram consigo uma revolução no que diz respeito à disseminação ampla do
conhecimento e a tecnologia digital e, atrelada a ele, produz novas exigências pessoais e
profissionais aos sujeitos.
Porém, ao nos determos na vida primitiva dos homens, na pré-história, identificamos,
desde então, a presença de ferramentas criadas para facilitar as tarefas. O homem primitivo, a
partir de um ponto, detinha o domínio tanto de utensílios quanto de técnicas para caça, pesca e
a sua própria defesa contra os predadores. Tudo isso se trata de tecnologias. Assim sendo,
pode-se concluir que a tecnologia está presente nos fazeres da espécie humana, desde tempos
remotos.
Partindo desse contexto, reporto-me a Kenski (2008, p. 16) que afirma:
A Guerra Fria iniciada logo após a Segunda Guerra Mundial e que durante quase 50 anos dividiu o mundo em dois grandes blocos de poder – impulsionou a ciência e a tecnologia de forma jamais vista na história da humanidade. Trouxe inovações como: isopor, forno de microondas, relógio digital e o computador.
A década de 90 se configurou em um marco de transição de entrada no século XXI,
com uma presença marcante da tecnologia digital. Porém, ao nos debruçarmos sobre o papel
da educação na sociedade da informação, há a necessidade de ampliar o conhecimento das
propostas governamentais com relação à tecnologia.
5038
Para aprofundarmos em relação às propostas da inclusão tecnológica no Brasil,
buscamos respaldo em documento oriundos da Conferência de Ciência e Tecnologia que
surgiu em 1985, por iniciativa do primeiro Ministro da Ciência e Tecnologia: Renato Archer.
Com o intuito de ampliar a participação da sociedade brasileira na definição de uma política
tecnológica para o país.
Por outro lado, a segunda conferência aconteceu em setembro de 2001, trazendo
consigo discussões sobre a importância da inovação tecnológica como instrumento de
competitividade e passou a ser chamada de: “2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação” (CNCTI) onde em 2002 mediante as discussões e debates realizados publicou-se
o livro Verde.
Posteriormente, na 3ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação
realizada em Brasília, entre 16 a 18 de novembro de 2005, a qual resultou o Livro
Branco,apresentado pelo então Ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg. Em
conseguinte, convocada por Decreto Presidencial em três de agosto de 2009, realizou-se nos
dias 26 a 28 de maio de 2010 a 4ª Conferência, com o título: “Política de Estado Ciência,
Tecnologia e Inovação com vista ao Desenvolvimento Sustentável”, e resultou o Livro Azul.
Pode-se concluir que os livros citados anteriormente trazem objetivos específicos da área de
tecnologia na educação, composto de planejamento, orçamento de infraestrutura e execução
de ações concretas nesta área.
No entanto, o ato de educar em uma sociedade marcada pelas excessivas informações,
não é tarefa fácil, vez que é necessário muito mais do que treinar as pessoas para uso das
tecnologias. É válido ressaltar ainda, o fato de que enquanto vários adultos fogem do contato
com interfaces virtuais, para as crianças esse contato já está incorporado na lógica infantil.
Partindo desse contexto, é necessário se pensar nos recursos das TDIC como alternativas
legítimas e atrativas para se atrelar às atividade educativas. Assim nos adverte o capítulo 4 do
livro verde (p. 45):
A atração que as novas tecnologias exercem sobre todos – de formuladores de políticas e implementadores de infra-estrutura e aplicações de tecnologia de informação e comunicação até usuários de todas as classes e idades – pode levar a uma visão perigosamente reducionista acerca do papel da educação na sociedade da informação, enfatizando a capacitação tecnológica em detrimento de aspectos mais relevantes.
5039
Ao se pensar nas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação no contexto
educacional, é pertinente compreender o leque de funções oferecido por elas. Há de se
ressaltar duas questões que suscitam vários debates atuais, relacionados ao tema, e cujas
respostas podem ser uma pista para a ocorrência dos inúmeros mal entendidos que surgem
quanto à inclusão de TDIC no processo ensino – aprendizagem, a saber: Os projetos
relacionados às TDIC, que chegam às escolas vêm acompanhados de um suporte
epistemológico e operacional para os professores que desenvolverão as propostas? E quanto
aos alunos, há um plano de introdução destes nas atividades com as TDIC? Quem é a
preocupação central?
Compreendendo ser de grande relevância se ter clareza quanto questões levantadas,
recorda-se Kenski (2008), que afirma: “Da análise de novos projetos e propostas de ensino
mediado pelas TDIC, busco examinar uma questão bem atual sobre quem é o centro do
processo educativo: O conhecimento, o aluno ou as tecnologias.” (p.09).
Os tempos atuais nos demandam refletir sobre a evolução do processo pedagógico nos
contexto educacional. Sobretudo se lembrarmos, que pelo fato das TDIC ainda serem de
acesso restrito, no universo da população de nosso país, seu uso ainda é privilégio de poucos,
ferramenta de exercício de poder e domínio. Portanto, a educação formal, principalmente as
instituições públicas, precisam entrar em compasso com as exigências do contemporâneo
combatendo à exclusão digital. Diante desse aspecto Kenski (2008. p.19) nos dirá:
Na ação do professor na sala de aula e no uso que ele faz de suportes tecnológicos que se encontram à sua disposição, são novamente definidas as relações entre o conhecimento a ser ensinado, o poder do professor e a forma de exploração das tecnologias disponíveis para garantir melhor aprendizagem pelos alunos
Na área educacional esse fato se repete, por isso a conquista das escolas e dos
profissionais da área (gestores, coordenadores, professores) em relação às TDIC traz uma
singularidade sem dúvida alguma de grande representatividade para toda a comunidade
escolar, e é certamente a conquista de um novo paradigma na educação. É ainda incipiente a
forma como são incorporados os recursos tecnológicos nas escolas, para Padilha e Cavalcante
(2009.p.08):
As inovações tecnológicas já chegaram às escolas e universidades, porém, a mudança dá-se muito mais na estrutura física da escola, com a construção de laboratórios equipados, podendo até chegar no mesmo discurso dos professores e gestores. Entretanto nas práticas pedagógicas docentes, nas formas de ensinar e aprender essa mudança ocorre muito pouco.
5040
Nessa perspectiva, é notório as dimensões que podem atingir o uso da tecnologia na
educação formal. Partindo do pressuposto de que é importante contextualizar o conhecimento
para que a construção de saber seja mais efetiva, convém considerar também a tecnologia
digital como algo além de um recurso a mais para os professores aperfeiçoarem suas
respectivas aulas.
A introdução das TDIC deve ser guiada por concepções contemporâneas de
aprendizagem e com metodologia consistente, com o intuito de resultar em projetos de
inclusão tecnológica de forma competente desde o início do percurso escolar. Na realidade,
diante do que vem sendo discutido e publicado, podemos inferir que a mudança ainda está
restrita praticamente ao âmbito do discurso.
A RELAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE E DAS TECNOLOGIAS NO P ROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
A prática docente desejável é constituída por uma dinâmica muito exigente que
envolve como diz Zabala (1998), uma série de níveis de competências tais como: os
conceituais, atitudinais, procedimentais. Pode-se, dessa forma dialogar com três desafios: o
saber olhar, o quê olhar e como olhar.
As tecnologias que hoje são consideradas novas em pouco tempo perdem a atualidade
em virtude da celeridade das mudanças ocorridas nessa área de saber, e isso é preocupante em
relação à educação formal visto que a lentidão com que a escola metaboliza essas mudanças
deixa sempre a instituição um passo atrás de seu tempo. Também convém lembrar, que por
diversas vezes a inserção das tecnologias na escola são interpretadas de maneiras simplistas
pelos educadores. Fazer uso das possibilidades das TDIC vai além de saber operar um
computador, necessita da uma concepção de aprendizagem consistente relacionada às novas
linguagens que circulam socialmente. Lembra Prata (2005.p.95):
O computador é um recurso que possibilita interações com diferentes formas de representação simbólica (gráficos, textos, hipertextos, som, movimentos, ícones, imagens) e permite o acesso a muitas e mais diversas fontes de informações (CD – ROM e internet).
O caráter interativo, proporcionado por ambientes virtuais de aprendizagem e suas
interfaces, podem desenvolver o potencial de trabalho colaborativo entre alunos, sobretudo se
incorporado aos fazeres na sala de aula presencial. Nessa perspectiva, há possibilidade de
5041
contribuição para o redirecionamento de práticas ultrapassadas, que ainda se fazem presentes
na cultura educacional brasileira, pois, nessa nova perspectiva o aluno tem um recurso a mais
para construção de seus conhecimentos. É compreensível certa resistência dos educadores,
frente a esses novos desafios. A excessiva carga de funções atribuídas à docência, além do
receio de ver desqualificada a sua experiência profissional produzem um receio
compreensível. Nesse sentido recordo Buzzato (2011.p.10):
O que torna a formação do professor um desafio fantástico não é a ideia ingênua de que podemos /devemos recomeçar do zero, mas justamente a necessidade de integrar o novo com o que já temos/sabemos, a partir do que já temos/sabemos, transformando esse conjunto de práticas, habilidades e significados da mesma forma como novos letramentos transformam os seus percussores.
É perceptível a presença de um marco de transição em nossa sociedade, marco de
entrada no século XXI, que tem como ponto de referência o uso tecnológico na vida social e
que deveria já ter repercutido na educação. No entanto, é necessário saber não só como fazer
uso da TDIC, mas sobretudo fazê-lo de modo a desenvolver criticidade tantos dos professores
quanto dos alunos. Como afirma Lyotard apud Kenski (2008, p.18):
A única chance que o homem tem para conseguir acompanhar o movimento do mundo é adaptar-se à complexidade que os avanços tecnológicos impõem a todos, indistintamente. Este é também o duplo desafio para educação: adaptar-se aos avanços das tecnologias e orientar o caminho de todos para o domínio e a apropriação crítica desses novos meios.
Enfim, aderir aos avanços tecnológicos se constitui um grande desafio assim como
também fazer o uso deles de maneira favorável e positiva auxiliando e facilitando as nossas
ações cotidianas também é.
Portanto, incorporar a criticidade, não é tarefa fácil, por isso mesmo requer exercício
diário de reflexão sobre as ações e principalmente nas consequências causadas por elas. Essa
atividade torna-se cada vez mais complexa mediante a quantidade de informações a qual o
mundo contemporâneo exige para sobrevivermos frente a tantos desafios principalmente na
área educacional.
Metodologia
Destarte, por mais louvável a intenção que suscitou a criação do ProInfo, e
posteriormente do PROUCA, parece ser relevante tomar ciência dos resultados de sua
5042
aplicação no cotidiano escolar. Essa é a proposta desta investigação, a saber: compreender os
efeitos perceptíveis de infoinclusão oriundos da implantação do ProInfo na escola da rede
pública. As escolas escolhidas são do município de Vertentes, Pernambuco, e a pesquisa se
ocupará, em sua fase inicial, de levantar dados quali-quantitativos, por meio de questionários,
análise de cronogramas, de observação, e entrevistas semi-estruturadas, sendo os instrumentos
aplicados ao corpo docente. Espera-se que, em etapa subsequente, a análise do material
permita distinguir efeitos do ProInfo, nessas instituições, no quesito infoinclusão docente.
Sendo o objeto de estudo dessa investigação a infoinclusão docente que deriva da
adesão ao ProInfo no ambiente escolar, compreende-se que será pertinente desenvolver uma
pesquisa exploratória, que segundo Gil (2008, p. 27):
Têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...] são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, tipo aproximativo, acerca de determinado fato.
Assim sendo, essas delimitações da pesquisa permitem rigor metodológico e
fundamentação teórica, proporcionando uma melhor análise dos dados que serão coletados. É
válido ressaltar ainda a advertência de Santos quanto às questões que envolvem grandes
debates na pesquisa social: “os métodos quantitativo e qualitativo não são incompatíveis; pelo
contrário, estão intimamente imbricados e, portanto, podem ser usados pelos pesquisadores
sem caírem na contradição epistemológica” (2007, p. 51).
No decorrer da investigação foram aplicados aos docentes questionários e entrevistas
semi-estruturadas. Também foram realizadas: a análise do material ProInfo; observações de
atividade nos laboratórios, e registros fotográfico com intuito de alicerçar a análise dos dados
coletados.
Os quarenta e dois (42) professores participantes da investigação foram selecionados
mediante a escolha das Escolas Municipais Sol Nascente e Teatro Mágico4 localizadas no
município de Vertentes - Pernambuco. É pertinente lembrar, que uma localiza-se no centro da
cidade e a outra na zona rural da mesma. A análise de dados foi construída acerca do diálogo
que se estruturou no seguinte tópico: Dialogando com a realidade do cotidiano dos docentes.
4 Nome fictício atribuído com a finalidade de preservar a identidade dos sujeitos envolvidos na pesquisa.
5043
DIALOGANDO COM A REALIDADE DO COTIDIANO DOS DOCENTE S
Nos últimos anos a sociedade demanda que um novo paradigma seja incorporado aos
processos de ensino e aprendizado desenvolvendo-se na escola, a saber: o uso das tecnologias
na educação.
A escola convive com um mundo cada vez mais saturado de informações, e as
tecnologias atreladas ao cotidiano escolar representam uma possível ponte entre o
conhecimento e a criticidade, assim, esse desafio que deve ser pensado e incorporado o
quanto antes nas práticas pedagógicas atuais, consegue ser cada vez mais presente em nosso
dia-a-dia, vez que só a introdução delas na realidade da escola não gera por si só
aprendizagem.
Destarte, as invenções, sejam elas: ipod, celular, mp3, mp4, vídeo game, enfim, todas
elas já circundam naturalmente o cotidiano das pessoas, é válido ressaltar as questões
socioeconômicas do indivíduo. Mas, mesmo que não se possua o equipamento, as linguagens
e a lógica da era digital já permeiam toda a sociedade, sobretudo a juventude.
Com o intuito de investigar como os docentes lidam com esse contexto vivenciado
pelos discentes, buscou-se compreender os efeitos da infoinclusão oriundos da implantação do
ProInfo em algumas escolas da rede pública municipal da cidade de Vertentes – PE.
Na área da educação há grandes diferenças quanto à questão de gênero, em um total de
42 docentes apenas 12% são do sexo masculino e 88% feminino. Como podemos ver no
gráfico a seguir:
Fonte: Dados originados da coleta de dados do campo de pesquisa.
Frente aos dados coletados, uma das primeiras interpretações consiste na relação da
tecnologia com a idade, o que nos remete as discussões trazidas por Coll (2010) sobre a nova
sociedade - Sociedade da Informação e Comunicação, na qual a geração deveria se alicerçar
no desenvolvimento proposto pelas TDIC. Porém, diante de sérias resistências dos docentes
em relação aos avanços tecnológicos, cada vez se torna mais difícil o bom aproveitamento dos
recursos disponibilizados na escola para a prática docente.
5044
Quanto à faixa etária dos professores envolvidos na investigação pode-se dizer que são
pessoas maduras, pois cerca de 44% estão entre os 38 a 48 anos. Entretanto, também é bom
ressaltar que é uma geração que não vivenciou a implantação das inovações em ações
corriqueiras do dia-a-dia e esta talvez seja a que mais resiste à inserção de novas tecnologias
virtuais nas práticas docentes, como podemos conferir no gráfico II:
Fonte: Dados originados da coleta de dados do campo de pesquisa.
Até podemos compreender as limitações impostas pelo fato das pessoas resistirem a
mudança na lógica que orientava o seu dia a dia antes do advento dos computadores, no
entanto, é necessário em qualquer função sobretudo naquelas que dizem respeito à educação
que os profissionais se atualizem e acompanhem o seu tempo.É inútil tentar ignorar e se
ausentar dessa condição. Já nos adverte Brunner apud Coll (2010, p.290):
A escolha do termo “alfabetização” para referir-se a este conjunto de aprendizagens mostra sua importância. Com efeito, o termo refere-se originalmente à língua escrita e à cultura letrada, baseada na capacidade de ler e escrever, e, como é sabido, o texto escrito, a leitura e a escrita estão na base da educação escolar e do surgimento, consolidação e universalização dos sistemas estatais de educação.
É bastante pertinente que se tenha uma alfabetização digital para se conviver na
sociedade atual, pois cada vez mais carecemos desses saberes dificultamos nossas ações
cotidianas. Quando nos reportamos à prática docente, essa realidade não muda, pelo contrário,
concentra-se ainda mais, porque existem inúmeras expectativas em relação ao trabalho do
professor.
Ao tratar de alfabetização digital é conveniente lembrar, que a maioria dos docentes
reclamam da falta de formações continuadas. São as próprias formações que instigam os
professores a serem dinâmicos (pelo menos é que espera-se), no entanto, apenas preparam
para o uso sistemático das tecnologias digitais. É incompreensível que em pleno século XX,
54% do total de docentes investigados utilizem apenas livro didático em suas aulas como
mostra o Gráfico III:
5045
Fonte: Dados originados da coleta de dados do campo de pesquisa.
Os conflitos são sempre importantes, pois são eles que nos encorajam frente aos
nossos ideais, enquanto não nos inquietamos em relação às injustiças praticadas, repetimos os
mesmos erros, porém, quando há o confronto, certamente teremos mais certeza em lutar pelas
nossas conquistas, ou seja, aceitar que ainda há professores que estão em descompasso com as
necessidade do contemporâneo e que por isso é necessário planejar ações sistemáticas para
que ultrapassem e não repitam a sua didática retrógrada é imprescindível para evoluir nesse
aspecto Reporto-me a Kenski (2008, p. 21):
A evolução tecnológica não se restringe apenas a novos usos de determinados equipamentos e produtos. Ela altera comportamentos. A ampliação e a banalização do uso de determinada tecnologia impõem-se à cultura existente e transformam não apenas o comportamento individual, mas de todo o grupo social. Elas transformam sua maneira de pensar, sentir, a agir.
É mister proferir ainda que a transformação só acontecerá mediante a conscientização
dos professores. Ou seja, quando as tecnologias fizerem sentido na vida desses profissionais,
o comportamento se modificará. O futuro da profissão docente vai depender do destino que
cada um dará aos novos instrumentos que a cultura lhe oferece.
A reportagem publicada na revista VEJA (10/2011), argumenta que o mundo está
sendo dominado pelas inovações do facebook, inclusive chamando de nova geração, cerca de
800 milhões de internautas que passam no mínimo duas horas diárias envolvidos em recursos
propostos pela rede social supracitada. Esse dado representaria em números, uma população
que ocuparia o terceiro lugar como país mais populoso do planeta, país esse, virtual.
É válido salientar um dado bastante significativo em relação à carência de
possibilidades concretas de infoinclusão docente, tendo em vista que 73% dos docentes ainda
não possuem computadores, fator esse que influencia e determina diversas práticas
pedagógicas tradicionais presentes no trabalho pedagógico desses referidos profissionais
podemos conferir no gráfico IV:
5046
Fonte: Dados originados da coleta de dados do campo de pesquisa.
Nesse sentido, recorda-se Almeida (2005.p 109):
O computador, em um futuro muito próximo, tornar-se-á propriedade privada do indivíduo, o que permitirá o retorno do indivíduo do poder de determinar os modelos da educação.
Contudo, em um futuro não tão distante, seremos todos inevitavelmente envolvidos
nesse contexto, direta ou indiretamente, a preocupação que insiste em permanecer é: Como
estamos nos preparando para lidar com essa realidade que se aproxima rapidamente do nosso
cotidiano? Será que teremos criticidade de distinguir se a tecnologia constrói modelos
coerentes para educação de qualidade? E nossa colaboração ajuda nesse processo?
O problema não é conduzir o processo de inserção da TDIC no contexto educacional,
muito menos se fazer parte dos que já a utilizam em suas práticas pedagógicas. A
preocupação maior nos remete a discernir sobre a responsabilidade presente nessa inserção,
ou seja, é extremamente necessário comprometimento do profissional em saber “como” e
“para que” fazer, pois o objetivo pedagógico deve ser garantido. Percebe-se que quando há o
uso do computador é para programas básicos como podemos comprovar no gráfico V:
Fonte: Dados originados da coleta de dados do campo de pesquisa.
Compreende-se, portanto que para avançar em relação à infoinclusão docente se faz
necessário uma maior apropriação de conceitos relacionados à tecnologia na educação, vez
5047
que os dados revelaram conhecimentos abstratos e insuficientes. Vamos observar os gráficos
VI, VII e VIII:
Fonte: Dados originados da coleta de dados do campo de pesquisa.
Os referidos gráficos representam o quanto os docentes quando fazem o uso do
computador, fazem sem ter objetivos pedagógicos. É preocupante a forma como a inclusão
das TDIC pode acontecer, acredita-se que os resultados podem ser bastante preocupantes e até
irreversíveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluída a pesquisa, retoma-se a pergunta inicial que originou a investigação, a
saber: compreender os efeitos perceptíveis de infoinclusão oriundos da implantação do
ProInfo na escola da rede pública. Destarte, constatou-se que os laboratórios são
pouquíssimos utilizados, é como se os docentes não fizessem parte do mundo que a ênfase nas
tecnologias torna-se cada vez mais presente.
Assim sendo, objetivou-se com esse estudo investigar a promoção de infoinclusão
docente, bem como a inclusão metódica do uso das TDIC nas práticas educativas, obtidas
como consequência das ações do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo).
Os resultados são preocupantes, cerca de 54% dos docentes, utilizam como recurso didático
apenas o livro didático, o que não é proibido, porém, deve no mínimo estar atrelado a outro
recurso.
5048
É válido ressaltar ainda que essa maioria supracitada não mencionaram utilizar o
laboratório de informática nem para pesquisas, menos ainda nos momento das aulas, ou seja,
os computadores da escola são vistos como uma sala que apenas o instrutor de informática
pode utilizar, sem interdisciplinaridade.
Mais especificamente analisou-se a disponibilização, pela gestão, do laboratório aos
docentes, as instituições investigadas apresentaram comportamentos neutros por parte da
equipe gestora, nem incentiva nem impede, deixa na responsabilidade do professor. Em
decorrência, a frequência mensal de acesso dos docentes ao laboratório de informática para
fins de pesquisa pessoal e para atividades escolares é praticamente irrelevante.
Esse estudo expressou a percepção conturbada que os docentes possuem em relação a
tecnologia, percepção essa, que relaciona as TDIC apenas ao computador, então, deixar o
professor a mercê dessa inovação e atualização seria admitir a permanência de uma prática
educacional retógrada e sem estímulos para aprendizagem.
Diante do exposto, pode-se concluir que o trabalho docente é permeado por teoria e
ações práticas, requerendo permanente reflexão teórica-prática e constantes aprofundamentos.
Sua complexidade envolve a interação com os alunos, planejamento e gestão educacional do
ensino, avaliação, transformações curriculares, dentre tantas outras. Logo, a docência pode ser
considerada como uma forma privada de trabalho sobre o humano, ou seja, uma atividade em
que o trabalhador dedica-se ao seu “objeto” de trabalho, constituído por outro ser humano, na
esfera infinita da interação humana. Justamente por isso, faz-se complexa e interativa, em
permanente estado de tensão frente aos desafios impostos pela sociedade contemporânea,
contraditória, complexa e exigente.
Ser educador na pós-modernidade implica ter pluralidade de competências,
versatilidade de postura e atuação, fazendo-nos refletir qual o real limite do exercício da
docência, até que ponto permitir-se chegar – adequar-se; aceitar – sem deixar-se ser usurpada
de suas verdadeiras funções, sem encaixar-se – inconscientemente – em moldes de
“salvadores da humanidade”, responsáveis por todo o caminhar do país, levando sob os
ombros, a evolução da humanidade.
Em suma, concluí-se que embora as TDIC não sejam utilizadas de maneira correta, ou
seja, explorando todas as suas potencialidades e recursos para aprimorar a prática pedagógica,
os seus resultados na educação são perceptíveis e portanto a sua inserção no contexto
educacional deve ser pensado e concretizado.
5049
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Inclusão Digital do Professor: Formação e Prática Pedagógica. Ed. Articulação Universidade Escola, 2005. BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Livro Branco : Ciência, Tecnologia e Inovação / Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2002. _______ Sociedade da Informação do. Livro Verde : Tadao Takahashi. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000. _______ Ministério da Ciência e Tecnologia. Livro Azul : Ciência, Tecnologia e Inovação / Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2010. BUZZATO. Marcelo. Letramentos Digitais e Formação de Professores http://www.educarede.org.br/educa/img_conteudo/marcelobuzato.pdf. Acesso em 01/11/2011, às 10h22min. COLL, César; ILLERA, José Luis Rodríguez. Alfabetização, novas alfabetizações e alfabetização digital: as TIC no currículo escolar. In: COLL, César; MONEREO, Carles (orgs.). Psicologia da Educação Virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010. (p. 289 – 310) FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1979 GIL, Antonio Carlos. Método e técnicas de pesquisa social. – 6 ed. – São Paulo: Atlas, 2008 KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologia: O novo ritmo da informação. Papirus editora. 2008. 3ª Edição. PADILHA, Maria Auxiliadora Soares. Tecnologias da informação e comunicação na educação: mídias e modelos de ensino / Maria Auxiliadora Soares Padilha, Patrícia Smith Cavalcante, Sérgio Paulino Abranches. – Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2009. PRATA, Carmem Lúcia. A informática nas escolas. In: LUCE, M. B. e MEDEIROS, I.L.P.Gestão Escolar Democrática : concepções e vivências. Editora: UFRGS. 2005. SANTOS FILHO, J. C. A pesquisa quantitativa versus pesquisa qualitativa: o desafio paradigmático. In: SANTOS FILHO, J. C. e GAMBOA, S. S. (org.) Pesquisa educacional: quantidade-qualidade. 6. ed. São Paulo, Cortez, 2007. ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar: A função social do ensino e a concepção sobre os processos de aprendizagem: instrumentos de análise. Porto Alegre: ArtMed, 1998.