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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO Nilton Luiz Souto PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID) E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: o Programa no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes CAMPINAS/SP 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Nilton Luiz Souto

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID) E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: o Programa no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

CAMPINAS/SP 2018

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NILTON LUIZ SOUTO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID) E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: o Programa no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

Orientadora: Profa. Dra. Ana Lúcia Guedes Pinto

CAMPINAS/SP 2018

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas para a obtenção do título de Doutor em Educação, na área de concentração de Ensino e Práticas Culturais.

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Agência(s) de fomento e n°(s) de processo(s): Não se aplica.

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Faculdade de Educação

Rosemary Passos – CRB 8/5751

Souto, Nilton Luiz, 1978 C16p Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e formação de professores em Ciências Biológicas: o Programa no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes / Nilton Luiz Souto. – Campinas, SP: [s.n.], 2015.

Orientadora: Ana Lúcia Guedes Pinto. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. 1.Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. 2. Formação

inicial do professor. 3. Formação docente. 4. Saberes docentes. 5. História oral. I. Guedes Pinto, Ana Lúcia, 1969-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital Título em outro idioma: Institutional Program for Scholarship to Teachers training in

biological sciences: the Program in IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes Palavras-chave em inglês: Initial Teacher Training Institutional Program for Initiation Grant to Teaching Teaching knowledge Oral history Área de concentação: Ensino e Práticas Culturais Titulação: Doutor em Educação Banca examinadora: Ana Lúcia Guedes Pinto Renê José Trentin Silveira Maria José Pereira Monteiro de Almeida Helena Maria dos Santos Felício Vilma Lení Nista-Piccolo Data da defesa: 12-12-2017 Programa de Pós-Graduação: Educação

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA (PIBID) E FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM

CIÊNCIAS BIOLÓGICAS: o Programa no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

Autor: Nilton Luiz Souto

2018

COMISSÃO JULGADORA:

Profa. Dra. Ana Lúcia Guedes Pinto Prof. Dr. Renê José Trentin Silveira Profa. Dra. Maria José Pereira Monteiro de Almeida Profa. Dra. Helena Maria dos Santos Felício Profa. Dra. Vilma Lení Nista-Piccolo

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Dedicatória

À família, amor incondicional, base de tudo.

À memória do meu pai, Pedro e de minha irmã Lucy, força que me impulsiona.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que sempre se fez presente em minha vida e que me proporcionou a realização de mais um sonho pessoal e profissional. À professora e orientadora Dra. Ana Lúcia Guedes Pinto, pelo carinho, pela confiança, pelos ensinamentos e pela leitura atenta sempre indicando a direção a ser tomada. Aos professores Dr. Renê José Trentin Silveira e Dra. Helena Maria dos Santos Felício, pelos importantes apontamentos por ocasião do Exame de Qualificação e pela composição da Banca Examinadora. Aos membros da Banca Examinadora, professora Dra. Maria José Pereira Monteiro de Almeida e professora Dra. Vilma Lení Nista-Piccolo, pela gentiliza da participação e pelas valiosas contribuições para a melhoria deste trabalho. À UNICAMP e ao seu Programa de Pós-Graduação em Educação, pelas oportunidades oferecidas na instituição. A minha mãe Leonor, pela preocupação, pelo seu carinho e por me apoiar todos os dias com palavras de ânimo e de amor. À minha esposa Cláudia, companheira de vida, que caminhou ao meu lado e que sempre me incentivou. Suportou os últimos anos de viagens semanais, cansaço, ansiedade, insônia, irritação e fins de semana de estudo. Aos meus filhos, João Pedro e Marcus Vinícius, pelo apoio e por terem compreendido os momentos de ausência. Aos meu irmão Carlos, minha irmã Adalgisa e sobrinhas, companheiros fraternos. Aos professores e futuros professores de Ciências Biológicas do IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes bolsistas do PIBID, pela colaboração em participarem da pesquisa. Aos funcionários, professores e colegas de trabalho no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, pelas vivências compartilhadas: Cristiane Camargo, Rafael Bolelli, Marcos Magalhães, Constantina Dias, Melissa Salaro, Lidiane Teixeira, Paula Inácio, Luís Carlos Negri, Érica Rossete, Telma Lima e Wallace Corrêa. Ao grupo de Pesquisa ALLE/AULA – Alfabetização, Leitura, Escrita e Trabalho Docente na Formação Inicial, em especial à amiga de Doutorado Fabiana Bigaton Tonin, pelos diálogos e pelo companheirismo. Aos meus professores, desde a Educação Básica a Pós-Graduação, minha gratidão pelas valiosas contribuições neste percurso.

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo analisar as contribuições do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) na formação inicial dos estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas para compreender a visão que esses futuros docentes atribuem ao seu processo de formação profissional e a sua inserção nas escolas públicas. A vivência dos estudantes na escola, por meio do PIBID, ganhou relevância pelo fato de o Programa proporcionar a carreira docente mais atrativa, contribuindo para a minimização do choque com a realidade escolar nos primeiros anos da profissão, quanto por desestimular tal opção quando o tal choque com a realidade provoca mais desilusão que entusiasmo. Para fundamentar este exercício de pesquisa, recorremos aos estudos produzidos sobre a temática, e à escuta dos coordenadores de área e institucional e dos estudantes, diretamente envolvidos, com o recebimento da bolsa. A abordagem metodológica ancorou-se na perspectiva qualitativa. Os pressupostos da História Oral orientaram a geração e a análise dos dados. Nesses termos, trata-se de um estudo desenvolvido com três professores coordenadores e onze estudantes bolsistas participantes do Programa no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes, no município de Inconfidentes – MG. As análises revelam a experiência enriquecedora propiciada pelo PIBID aos licenciandos do curso, configurando-se o Programa como um terceiro espaço de formação. Dentre as implicações na formação do futuro professor, foram destacadas as fragilidades e a necessidade de se repensar o Estágio Curricular Supervisionado oferecido pela instituição formadora. Palavras-chave: Formação Inicial de Professores; PIBID; Saberes Docentes; História Oral.

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ABSTRACT

This study aimed to analyze the contributions of the Institutional Program of

Introduction to Teaching Scholarships (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação

à Docência – PIBID) in the initial training of students of Biological Sciences under

graduation course to understand the vision that these future teachers attribute to their

professional training process and their insertion in public schools. The students

experience in schools via PIBID has gained relevance because the Program makes

the teaching career more attractive, contributing to the minimization of the shock with

school reality in the first years of profession, and also discourage such choice when

conflict with reality causes more disappointment than enthusiasm. As basis for this

research, we used studies on the subject, and the testimonial of institutional and area

coordinators and students directly involved receiving the scholarship. The

methodological approach chosen was based on the qualitative perspective. Oral

History assumptions guided data generation and analysis. Therefore, this study was

developed with the participation of three coordinating professors and eleven

scholarship students participant in the Program at the Federal Institute of Education,

Science and Technology of Southern Minas Gerais (Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – IFSULDEMINAS), on Inconfidentes

Campus, located in the municipality of Inconfidentes, in Minas Gerais state. The

analysis reveals the enriching experience provided by PIBID to undergraduate

professionals, being the Program a third space of training. Among the implications for

the future teacher education were highlighted the weaknesses and need to rethink

the Supervised Internship offered by the educational institution.

Keywords: Initial Teacher Training; PIBID; Teaching knowledge; Oral history.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BNCC – Base Nacional Curricular Comum. CA – Coordenador de Área. CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. CAT – Certificado de Avaliações e Títulos. CDCC – Centro de Divulgação Científica Cultural. CEE – Conselho Estadual de Educação. CEMEI – Centro Municipal de Educação Infantil. CF – Constituição Federal. CI – Coordenador Institucional. CNE – Conselho Nacional de Educação. CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. CONAE – Conferências Nacionais de Educação. DCNs – Diretrizes Curriculares Nacionais. DEB – Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica. DED – Diretoria de Educação a Distância. DRI – Diretoria de Relações Internacionais. EaD – Ensino a Distância. EAFI – Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes. ENADE – Exame Nacional de Cursos. ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio. ES – Ensino Superior. FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. FORPIBID – Fórum Nacional dos Coordenadores Institucionais do PIBID.

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HO – História Oral. IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. IES – Instituições de Ensino Superior. IFES – Instituições Federais de Ensino Superior. IFETS – Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. IFSC – Instituto Federal de Santa Catarina. IFSULDEMINAS – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas. INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas.

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira.

LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais.

LIFE – Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores.

MEC – Ministério da Educação e Cultura.

NDE – Núcleo Docente Estruturante.

PAR – Plano de Ações Articuladas.

PARFOR – Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica.

PCC – Prática como Componente Curricular.

PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais.

PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional.

PIB – Produto Interno Bruto.

PIBIC – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica.

PIBID – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência.

PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes.

PLI – Programa de Licenciaturas Internacionais. PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

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PNE – Plano Nacional da Educação.

PPC – Projeto Pedagógico do Curso.

PPI – Projeto Pedagógico Institucional.

PROUNI – Programa Universidade Para Todos.

PRODOCÊNCIA – Programa de Consolidação das Licenciaturas.

PROEJA – Programa Nacional da Integração da Educação Profissional com a

Educação Básica, na Modalidade de Jovens e Adultos. PT – Partido dos Trabalhadores. REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. SECADI – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Inclusão. SESU – Secretaria de Ensino Superior. SINAES – Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior. SISU – Sistema de Seleção Unificado. TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação. TCC – Trabalho de Conclusão do Curso. UAB – Universidade Aberta do Brasil. UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos. UNESA – Universidade Estácio de Sá. UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas. UNIFAL – Universidade Federal de Alfenas.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – PIBID: Desenho do Programa ............................................................

73

Figura 2 – Localização do Campus Inconfidentes em Minas Gerais ..................

80

Figura 3 – Primeira turma, 1918...........................................................................

81

Figura 4 – Prédio Principal do IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes.............

82

Figura 5 – Localização dos Campi IFSULDEMINAS ..........................................

83

Figura 6 – Modelos didáticos elaborados pelos licenciandos e utilizados no ensino de Biologia................................................................................................

128

Figura 7 – Licenciandos e professores participantes do PIBID visitando o CDCC/USP...........................................................................................................

142

Figura 8 – Atividades desenvolvidas durante a feira de ciências........................

143

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Total de bolsas concedidas pelo PIBID no período de 2007 a 2014.

76

Tabela 2 – Matriz Curricular do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas ..

86

Tabela 3 – Caracterização do PIBID no IFSULDEMINAS – Editais 2011 ..........

92

Tabela 4 – Caracterização do PIBID no IFSULDEMINAS – Editais 2013 ..........

92

Tabela 5 – Número de evasão de estudantes no curso ...................................... 144

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Ementário das disciplinas de Estágio Supervisionado .....................

89

Quadro 2 – Ações e resultados do subprojeto do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Campus Inconfidentes ...................................................

94

Quadro 3 – Formação acadêmica e atuação profissional da coordenadora institucional do PIBID no IFSULDEMINAS ..........................................................

97

Quadro 4 – Formação acadêmica e atuação profissional dos coordenadores de área do PIBID no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes...........................

100

Quadro 5 – Caracterização pessoal e acadêmica dos estudantes bolsistas do PIBID participantes da pesquisa..........................................................................

111

Quadro 6 – Diferenças entre o Estágio Supervisionado e o PIBID......................

131

Quadro 7 – Destinação do valor recebido pela bolsa de iniciação à docência....

146

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SUMÁRIO Introdução: Explicitando as condições de produção desta investigação........................................................................................................

16

1 – Memorial: as trajetórias percorridas .........................................................

27

2 – Formação e desenvolvimento profissional de professores....................

37

2.1 – Um panorama geral das políticas de formação inicial dos professores no Brasil....................................................................................................................

37

2.2 – O desenvolvimento profissional docente.....................................................

48

2.3 – A escola como instância formadora............................................................

52

2.4 – Ações da CAPES para a formação de professores....................................

57

3 – O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).................................................................................................................

72

4 – O PIBID no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes.................................

79

4.1 – Histórico do IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes................................

79

4.2 – Caracterização do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do

IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes............................................................

84

4.3 – O Estágio Supervisionado Obrigatório no curso de Licenciatura em

Ciências Biológicas..............................................................................................

88

4.4 – O PIBID no IFSULDEMINAS e no curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas, Campus Inconfidentes.......................................................................

91

4.5 – Caracterização dos coordenadores participantes do PIBID no curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas no IFSULDEMINAS, Campus

Inconfidentes........................................................................................................

96

4.6 – Caracterização dos estudantes participantes do PIBID no curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas no IFSULDEMINAS, Campus

Inconfidentes........................................................................................................

111

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5 – Resultados e discussões............................................................................

118

5.1 – Distinção entre o PIBID e o Estágio Curricular

Supervisionado.....................................................................................................

119

5.1.1 – O desenvolvimento do Estágio Curricular Supervisionado no curso.......

119

5.1.2 – O desenvolvimento do PIBID no curso....................................................

122

5.1.3 – O Estágio Curricular Supervisionado e o PIBID.......................................

126

5.2 – A aprendizagem da docência no PIBID......................................................

132

5.3 – Contribuições do PIBID para os cursos de licenciatura no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes.............................................................

144

5.4 – Aprendendo o que fazer, a refazer e o que não fazer por meio do

PIBID....................................................................................................................

150

5.5 – O desejo pela docência manifestado no PIBID...........................................

152

Considerações Finais........................................................................................

157

Referências Bibliográficas ...............................................................................

161

Anexos................................................................................................................

176

Anexo I – Termo de consentimento livre e esclarecido........................................

176

Anexo II – Questionário sociográfico....................................................................

177

Anexo III – Roteiro para entrevista com os estudantes........................................

178

Anexo IV – Roteiro para entrevista com os professores coordenadores.............

179

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Introdução: Explicitando as condições de produção desta investigação

A presente pesquisa se originou das reflexões sobre as tensões, as

dificuldades, os dilemas e os desafios constituintes do processo de formação vivido

pelos professores, conforme já mostraram alguns estudos desenvolvidos por

diferentes pesquisadores como Huberman (1992), Fontana (2000), Tardif (2012),

Nono & Mizukami (2006), Lima (2001 e 2012), entre outros. Tais reflexões sobre o

trajeto inicial da docência fazem parte de meu percurso pessoal e profissional, o qual

será apresentado no primeiro capítulo. Associado a isso, ao acompanharmos as

políticas educacionais, pudemos perceber que as buscas para a melhoria da

qualidade do ensino parecem estar associadas exclusivamente ao professor,

atribuindo-lhe as causas dos fracassos e dos sucessos na educação brasileira

(SILVA, 2015).

Em resposta a essas questões, diversas ações no âmbito de políticas

públicas para a formação de professores no Brasil foram realizadas nos últimos

anos. Em especial, nessa tese, concentramos nossa atenção no Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). Promovido pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o PIBID é

um Programa em nível nacional que, desde o início das execuções dos projetos em

20091, desenvolve parcerias entre as Instituições de Ensino Superior (IES) e escolas

públicas de Educação Básica, buscando contribuir na formação de professores. As

universidades que aderem ao Programa desenvolvem ações que visam construir a

colaboração entre os estudantes dos cursos de licenciatura, os professores das

escolas parceiras e das IES.

Como destaca Silva (2015, p. 12), “um avanço significativo para a

consolidação do programa no país foi dado em 2013”, ano em que o PIBID foi

incluído na alteração do texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira –

LDB (Lei n° 9.394/96) por meio da Lei n° 12.796 de 4 de abril de 2013, tendo

alcançado o status de programa de política pública, conforme citado no artigo 62,

parágrafo 5°:

1 Ano do início das atividades dos projetos contemplados por meio do Edital MEC/CAPES/FNDE n° 1/2007, publicado no Diário Oficial da União, Seção 3, nº 239, no dia 13 de dezembro de 2007.

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[...] a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios incentivarão a formação de profissionais do magistério para atuar na educação básica pública mediante programa institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena, nas instituições de educação superior (BRASIL, 2013).

Do ponto de vista legal, é um avanço considerável e que, associado às

vivências descritas a seguir, tornam o PIBID um relevante objeto de estudo.

No início do meu exercício da docência no Ensino Superior e com pouca

vivência didático-pedagógica neste segmento de ensino, o PIBID me proporcionou

satisfação pessoal e profissional, constituindo uma experiência significativa em

minha prática docente. Por meio da atuação no Programa, tive diversas

oportunidades de realizar variados trabalhos com os estudantes da licenciatura no

âmbito das escolas. Assim, ao atuar como professor colaborador no início da

docência universitária na Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e atualmente

como coordenador de área do Programa no Campus Inconfidentes2, tenho

desenvolvido a capacidade de gerir grupos de licenciandos, de mediar as ações, de

participar de práticas colaborativas e de trabalhos em equipe, de atualizar, construir

e reconstruir embasamentos pedagógicos e científicos, de estreitar os contatos com

outros docentes e de me aproximar da escola de Educação Básica e de interagir

com outros agentes educativos (diretores, equipe pedagógica, professores e

gestores municipais). Esses fatores foram primordiais para minhas definições

profissionais e para o foco da pesquisa.

Minha escolha por delimitar o interesse de pesquisa ao PIBID do Curso de

Licenciatura em Biologia3 do Campus Inconfidentes se deve ao fato de estar atuando

profissionalmente há quatro anos na Instituição e de desenvolver ali trabalhos nos

cursos de Graduação e de Especialização em Educação Infantil. Tal proximidade

demandou um cuidado com a recolha e para a análise dos dados, o que facilitou o

2 Desde março de 2017, compartilho a coordenação da área com uma colega de trabalho, desenvolvendo ações do subprojeto de Ciências Biológicas em três escolas parceiras. Além dos coordenadores, o grupo é formado por três supervisoras (professoras em exercício nas escolas parceiras) e vinte e um bolsistas licenciandos (professores em formação inicial). 3 Utilizaremos as nomenclaturas Ciências Biológicas e Biologia como sinônimas e como forma de variar o uso da língua, evitando repetições.

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acesso aos sujeitos pesquisados e, principalmente, contribuiu para as reflexões

sobre o impacto do PIBID na formação dos estudantes do Curso.

Atuando de forma colaborativa e oficial no desenvolvimento do subprojeto

PIBID, tenho observado que as ações desenvolvidas buscam, por um lado,

fortalecer a integração entre ensino, pesquisa e extensão no que diz respeito à

formação inicial e continuada de professores. Por outro lado, valorizam o cotidiano

da escola pública, reconhecendo-a como uma instância formadora para os

estudantes do curso e para os professores que já exercem a docência nas escolas

públicas selecionadas. Ou seja, da forma como vem sendo implementado, o

Programa tem proporcionado um diálogo profícuo entre o campo da pesquisa,

aprofundando a postura investigativa dos estudantes, e o exercício da profissão

docente, favorecendo situações de experiências com o ensino.

O desenvolvimento de dois editais do PIBID (2011 e 2013) e a sua

consolidação no IFSULDEMINAS de Inconfidentes, conforme já anunciado, nos

provocaram à seguinte questão: Quais são as contribuições da participação no

PIBID para o desenvolvimento profissional de bolsistas estudantes do curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas do IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes?

Temos por hipótese que a vivência dos estudantes na escola por meio do

PIBID apresenta contribuições, podendo tanto tornar a carreira docente mais

atrativa, contribuindo para a minimização do “choque com a realidade escolar”

(HUBERMAN, 1992), nos primeiros anos da profissão, quanto desestimular tal

opção quando o tal choque com a realidade provoca mais desilusão que

entusiasmo. Ao longo do Programa, os alunos podem vivenciar muitos dilemas

emergentes do contexto escolar, tais como novas experiências de formação que

contribuem para a melhoria da formação inicial por meio da superação ou efetivação

de possíveis pré-conceitos sobre o sistema público de ensino, da formação do

professor leitor e pesquisador, da importância da coletividade e do trabalho

colaborativo na docência, do conhecimento de novas metodologias de ensino e da

interação entre a teoria e a prática. Por outro lado, as ações do PIBID ampliam as

possiblidades de dúvidas e incertezas dos estudantes pela docência, em especial,

na Educação Básica, ao depararem com a realidade escolar, caracterizada, entre

outros, pelo desestímulo por parte de professores mais experientes e pela falta de

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interesse e de compromisso demonstrados por alguns alunos durante as ações

planejadas para o desenvolvimento do subprojeto.

Assim, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar as contribuições do

PIBID na formação inicial dos estudantes do Curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas para compreender a visão que esses futuros docentes atribuem ao seu

processo de formação profissional e sua inserção nas escolas públicas.

Para a concretização desse objetivo, este estudo apresenta como objetivos

específicos: caracterizar o projeto Institucional do IFSULDEMINAS, Campus

Inconfidentes; investigar os impactos do Programa no Curso de Licenciatura em

Ciências Biológicas, procurando reconhecer sua vinculação e participação ao

Programa como contribuição à formação inicial; investigar os desdobramentos

derivados das vivências do estudante no Programa para sua formação e atuação

profissional.

Para responder ao problema e alcançar os objetivos, apresentamos a seguir

os caminhos metodológicos escolhidos e percorridos para o desenvolvimento deste

estudo. Optamos por uma abordagem qualitativa. Buscamos acompanhar os

bolsistas com vinculação e com participação no Programa, analisar o projeto

institucional e identificar os impactos do PIBID na formação inicial de professores.

O desenvolvimento da investigação inicialmente se voltou ao estudo das

referências bibliográficas do campo e também partiu da situação concreta de minha

formação e atuação profissional ao longo destes 19 anos de docência e de gestão

educacional.

Conforme está detalhado no primeiro capítulo, a motivação deste estudo

emergiu de minha participação como professor colaborador no ano de 2008 no

PIBID Ciências Biológicas na UNIFAL – MG. Além dos encontros semanais do grupo

de professores coordenadores de área, de professores supervisores e de estudantes

bolsistas e das ações estabelecidas entre a universidade e as escolas de Educação

Básica, fazia parte de nossa rotina realizar leituras de textos sobre a formação e a

prática de professores de ciências e biologia no Brasil, entre as quais destacamos as

produções de Krasilchick (1994 e 2005), Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009),

Marandino, Selles e Ferreira (2009).

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Tínhamos, inicialmente, a intenção de realizar esta pesquisa com os alunos

do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UNIFAL - MG, mas a aprovação

no concurso público para atuar como professor no IFSULDEMINAS no ano de 2013

levou-me a desenvolver atividades profissionais no município de Inconfidentes –

MG. Diante dessa reconfiguração trazida pelo trabalho, decidimos mudar nosso foco

em relação aos sujeitos da pesquisa, que passaram a ser os alunos do curso de

licenciatura em Ciências Biológicas que participam do PIBID no IFSULDEMINAS,

Campus Inconfidentes, onde atuo como docente.

Assim, o trabalho de campo se desenvolveu em uma instituição pública de

ensino técnico integrado ao Ensino Médio, Ensino Superior e Pós-Graduação lato

sensu localizada no sul do Estado de Minas Gerais. Fundada em 1918, a instituição

esteve no início de sua história voltada exclusivamente para os cursos agrotécnicos

e, com o passar do tempo, expandiu-se para outras áreas.

Bogdan e Biklen (1982), Ludke e André (1986), ao procurarem sistematizar

as características da abordagem qualitativa na pesquisa em educação na década de

1980, destacam como um de seus fatores preponderantes o contato prolongado do

pesquisador com o ambiente pesquisado, assim como sua imersão na realidade

investigada. Também ressaltam a importância da geração de dados descritos como

forma de se construir o contexto investigado e apresentam a questão fundante de se

olhar para o processo da pesquisa para que se possa compreender e analisar os

resultados. Finalmente, as autoras delineiam como outra característica importante,

considerar o ponto de vista do outro (investigado) e o próprio, do pesquisador,

implicados na investigação.

A compreensão do objeto de estudo supõe a partilha de experiências, das

percepções, das significações, dos conflitos, das contradições, das estruturações

que os diferentes sujeitos constroem em torno das suas ações que estão vinculadas,

diretamente, com o que está sendo pesquisado (CHIZZOTTI, 2001). Assim, visando

entender os contextos e os sujeitos envolvidos, a pesquisa qualitativa considera

como dado relevante as interações sociais. Amorim (2004), baseada nos estudos de

Bakhtin sobre a linguagem, chama a atenção para os vários diálogos que se

constroem no desenrolar da investigação:

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Não há trabalho de campo que não vise ao encontro com o outro, que não busque um interlocutor. Também não há escrita de pesquisa que não se coloque o problema do lugar da palavra do outro no texto. Esta questão pode, evidentemente, ser evacuada. Podem-se utilizar métodos ou convenções de escrita que ignorem ou que esqueçam que, do outro lado, há um sujeito que fala e produz texto tanto quanto o pesquisador que o estuda. Pode-se, ao contrário, tentar dar conta dessa presença outra, desse estranho encontrado ou desencontrado na pesquisa. Nesse caso, os métodos, as técnicas e a própria escrita podem ser questionados de modo mais rico e crítico (AMORIM, 2004, p. 16).

O acontecimento da pesquisa, muitas vezes, é marcado pelo encontro do

pesquisador com o pesquisado, caracterizando uma situação cuja interação se dá

entre sujeitos de palavras, que significam a si na relação com o outro. Ao falar ou

escrever, o discurso apresenta-se impregnado por discursos anteriores presentes na

memória. Assim, entender que somos seres de linguagem é princípio fundamental

da pesquisa qualitativa, sendo seu conceito entendido como ato dialógico e, por

conseguinte, a escrita é constituída na alteridade, em que a presença do outro é

fundamental e cujo cenário social a constitui.

O critério utilizado para escolher os sujeitos da pesquisa foi o de identificar,

dentre os bolsistas do PIBID Ciências Biológicas, aqueles que estivessem

participando há mais tempo no programa, visto que, ao longo do período de

desenvolvimento do projeto, alguns bolsistas dele se desligaram e outros foram

incluídos. Procedendo dessa maneira, identificamos 11 sujeitos.

Também realizamos entrevistas com dois professores coordenadores de

área e com a coordenadora institucional do Programa. Tomamos como critérios de

escolha para os docentes o fato de participarem do Programa e de sua receptividade

e do consentimento em participar do estudo.

Tanto em relação aos estudantes, quanto aos colegas docentes, posso

afirmar que obtive certa facilidade de acesso, conseguindo assim sua concordância

em participar da pesquisa. Creio que um dos elementos facilitadores para isso esteja

ligado ao fato de me conhecerem na Instituição e acompanharem o meu trabalho

como docente. Retomando as ponderações de Velho (2003, p. 12), antropólogo que

estuda a sociedade urbana, a respeito do trabalho de campo, o pesquisador pode se

valer “de sua rede de relações previamente existentes e anterior à investigação”.

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Nesta pesquisa, além da revisão bibliográfica, realizamos a análise

documental dos projetos e pesquisa de campo, privilegiando o questionário

sociográfico, os diários de campo dos estudantes e a entrevista semiestruturada

como instrumentos para a geração de dados.

Em um primeiro momento, foi feita uma análise documental, tendo como

referência o projeto PIBID do IFSULDEMINAS e o relatório parcial do subprojeto

Ciências Biológicas do Campus Inconfidentes. A análise desses documentos nos

remeteu ao conhecimento da “perspectiva oficial” (BOGDAN e BIKLEN, 1994),

descrita nos objetivos estabelecidos, nas fundamentações epistemológicas, nas

ações previstas, nos processos desenvolvidos, nas metas a serem atingidas, nas

opções metodológicas, entre outros.

Em se tratando de análise dos textos legais, Saviani (2004), pesquisador

renomado da área da educação, nos alerta sobre a importância de estabelecermos

uma distinção entre “letra e texto”. Segundo o autor, o exame do problema dos

objetivos no texto da lei não se esgota na análise da letra, isto é, na definição

explícita dos objetivos. Estes, ao contrário, insinuam-se em diferentes partes do

texto, emergindo, com frequência, da estrutura didático-pedagógica ou

administrativa (SAVIANI, 2004, p. 148).

Como dito antes, para a coleta de dados junto ao grupo de estudantes

bolsistas, foi utilizado um questionário sociográfico (anexo II), com questões

objetivas e dissertativas abertas. O questionário pode ser caracterizado como um

instrumento de investigação que busca informações a partir de uma série de

questões que abrangem o tema de interesse do estudo, conforme enfatiza Bourdieu

(2008). A estruturação do questionário para o presente estudo contemplou um perfil

geral dos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas vinculados ao

Programa e teve como finalidade construir um contexto mais adensado sobre cada

sujeito.

As entrevistas com os 11 estudantes bolsistas, com os dois professores

coordenadores do subprojeto e com a coordenadora institucional do PIBID seguiram

como base um roteiro, previamente preparado (encontram-se no anexo III e no

anexo IV).

A História Oral (doravante, HO) foi a abordagem utilizada neste estudo para

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nos orientar em relação às entrevistas. Vinda do campo da História, a HO toma a

fonte oral como um dos documentos da pesquisa. Tal abordagem se fortaleceu após

a segunda guerra mundial com os estudos realizados de recolha das memórias dos

sobreviventes do holocausto. No Brasil, ganhou corpo a partir da década de 1970.

Neste estudo, a entrevista seguiu o formato de uma conversa

semiestruturada, procurando assim oferecer possibilidades de rememoração das

trajetórias dos sujeitos, o aprofundamento e detalhamento das respostas do sujeito

depoente, a valorização de sua fala, favorecendo o aprofundamento de tópicos que

não se apresentassem claros e maior interação entre o entrevistado e o colaborador.

A memória é um processo individual, que ocorre em um meio social dinâmico, valendo-se de instrumentos socialmente criados e compartilhados. Em vista disso, as recordações podem ser semelhantes, contraditórias ou sobrepostas. Porém, em hipótese alguma, as lembranças de duas pessoas são – assim como as impressões digitais, ou, a bem da verdade, como as vozes – exatamente iguais (PORTELLI, 1997, p. 16).

Considerando a entrevista como uma situação relacional de trocas

intersubjetivas, é importante considerar que “o respeito pelo valor e pela importância

de cada indivíduo é, portanto, uma das primeiras lições de ética sobre a experiência

com o trabalho de campo na História Oral”, conforme afirma Portelli (1997, p. 17).

Assim, a HO visa aprofundar processos históricos passados ou presentes, por meio

de entrevistas com pessoas sobre a experiência e as memórias individuais,

procurando compreender o impacto que estas tiveram na vida de cada uma

(PORTELLI, 1997).

Holanda (2009) identifica alguns pressupostos básicos relacionados ao

desenvolvimento da HO dos quais vale ressaltar: privilegiar a narrativa do

colaborador, na interferência do pesquisador (orador), que se dará num nível de

mediação; desenvolver um comprometimento ético e político com os colaboradores;

apresentar a devolutiva das entrevistas transcritas de forma integral aos

entrevistados, enfatizando a ideia de colaboração e de mediação. Portelli (1997)

destaca esse momento da devolutiva da entrevista aos depoentes, como uma

oportunidade para ambos, pesquisador e pesquisado. Conforme tal situação, essa

pode ser uma ocasião para dirimir dúvidas, retomar raciocínios e aproveitar para

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esclarecimentos. Portanto, pode configurar-se como possibilidade para mais

aprendizados.

Sobre a relação entre entrevistador e entrevistado, alguns autores (WEBER,

2009; PAIS, 2003; FROCHTENGARTEN, 2009; MILLER, 2004; MEIHY, 1996;

HOLANDA, 2009) destacam a importância da construção de um relacionamento de

respeito, comprometimento e cumplicidade entre eles. No caso desta pesquisa,

entre os meses de julho de 2015 e abril de 2016, realizamos as entrevistas, que

foram gravadas em áudio, apresentando duração média de 40 minutos cada

depoimento, variando de acordo com cada colaborador.

O contato inicial com os entrevistados constituiu-se em um momento de

apresentação pessoal, quando foi esclarecida aos sujeitos a temática em pauta e os

seus objetivos, assim como foi solicitada a permissão dos sujeitos para a gravação

de sua fala (anexo I) e agendada a data de sua realização. Portanto,

compreendemos a entrevista como um conjunto de procedimentos complexos,

baseados na relação de confiabilidade e de disponibilidade entre o colaborador e o

pesquisador.

No decorrer de nossas conversas, os sujeitos, estudantes ou professores,

expressaram suas opiniões, sendo realizadas intervenções, caracterizadas por

questões de esclarecimento quando as falas não pareciam muito claras, questões

de aprofundamento quando eram relatadas experiências importantes, além de

sínteses parciais com o objetivo de manter o discurso do entrevistado.

Geertz (1978, p. 20), pesquisador da antropologia, desenvolve algumas

ponderações sobre o processo de compreensão do trabalho investigativo que vão ao

encontro da perspectiva aqui assumida. O autor diz que fazer a etnografia é “como

tentar ler (no sentido de construir uma leitura de) um manuscrito estranho,

desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários

tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos

transitórios de comportamento modelado”, apresentando-se como uma atividade de

interpretação que consiste no desvelamento do oculto.

Foram feitas as transcrições de cada entrevista. A transcrição foi feita

conforme ocorreram as falas, a qual foi entregue ao sujeito pesquisado para leitura e

possíveis correções, as quais foram consideradas na transcrição final. Todas as

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entrevistas foram transcritas pelo próprio pesquisador, por entender que, quanto

mais próximo o contato que se mantém com os dados, mais profundamente se dá a

apropriação em relação ao material, o que permite maior aproximação com a

realidade investigada. Assim, o processo de transcrição possibilitou-nos reviver e

refletir aspectos das interações ocorridas no contexto, além de desenvolver o olhar,

as várias impressões, percepções e sentimentos.

No contexto do PIBID, com o intuito de abordar a dimensão intelectual da

profissão de professores e identificar as impressões iniciais dos alunos bolsistas no

contato com a docência, os professores coordenadores do subprojeto têm proposto

a elaboração de um diário de campo referente à experiência vivenciada pelos

bolsistas durante o planejamento e o desenvolvimento das ações desenvolvidas nas

escolas parceiras. Conforme informado antes, junto às entrevistas, buscamos

analisar alguns registros feitos pelos bolsistas em seus diários de campo.

Quanto à elaboração do texto desta tese, apresentamos no primeiro capítulo

meu memorial de formação, no qual retomo minha relação com a formação inicial

dos professores, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional, o “nascimento”

do projeto do Doutorado e a vivência na Pós-Graduação.

No capítulo dois, faremos uma exposição dos aspectos históricos referentes

às Políticas de Formação Inicial dos Professores no Brasil, desde as Leis de

Diretrizes e Bases da Educação (LDB, 1996), passando pelos diversos programas

ligados ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), até se chegar ao PIBID.

Apresentamos o desenvolvimento profissional docente e a formação centrada na

escola como uma perspectiva de formação contínua. Traçamos também

considerações a respeito do papel da CAPES para a formação de professores.

No terceiro capítulo, faremos uma caracterização detalhada sobre o PIBID,

numa primeira aproximação com o nosso contexto específico de pesquisa.

No quarto capítulo, apresentaremos o PIBID no IFSULDEMINAS, Campus

Inconfidentes, cenário desta pesquisa. Para tanto, procuramos recuperar o Campus

e caracterizamos o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas.

No quinto capítulo, serão apresentados e discutidos os dados da pesquisa,

problematizando fragmentos de falas dos entrevistados sobre as questões

levantadas pelo trabalho. As análises dos depoimentos são apresentadas em cinco

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dimensões que se destacaram dos dados obtidos nas entrevistas e representam as

temáticas que os sujeitos pesquisados mais enfatizaram em suas falas. São elas:

Distinção entre o PIBID e o Estágio Curricular Supervisionado; A aprendizagem da

docência no PIBID; Contribuições do PIBID para os cursos de Licenciatura no

IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes; Aprendendo o que fazer, a refazer e o que

não fazer; O desejo pela docência manifestado no PIBID.

Como conclusão deste texto, estão arroladas algumas considerações finais

em relação ao desenvolvimento de todo o trabalho de pesquisa.

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1. Memorial: as trajetórias percorridas

Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória

não é sonho, é trabalho (BOSI, 1995, p. 55).

Neste capítulo, pretendo compartilhar minha trajetória formativa e profissional.

O processo rememorativo, segundo Bosi (1995), possibilita ao sujeito rever seu

percurso, de forma reflexiva, proporcionando um olhar para o passado a partir do

hoje e com visão prospectiva. Assim, busco dar visibilidade a aspectos que me

constituíram na iniciação à docência e me tornaram o professor que sou no

presente.

Várias foram as vivências pessoais que influenciaram diretamente minha

formação, fazendo parte de minha identidade pessoal e profissional e que

fundamentaram meu interesse em desenvolver esta pesquisa.

Meus estudos escolares, dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental ao

Ensino Médio, foram realizados em duas instituições públicas da rede estadual de

ensino de Minas Gerais. Ambas propiciaram-me momentos importantes de

experiência como estudante e de crescimento formativo. Algumas posturas

pedagógicas adotadas por vários professores durante meu caminhar em muito

influenciaram a escolha profissional.

Nesse período escolar, predominaram aulas expositivas, centradas no

conteúdo e na memorização de conceitos, de fórmulas e explicações desconexas

com a minha realidade. Essas foram metodologias as quais vivenciei como aluno,

desde o início de minha escolaridade até a graduação. Recordo-me que nas séries

iniciais do Ensino Fundamental utilizávamos a cartilhas4 na maior parte do tempo e

em seguida os livros didáticos.

Contrapondo ao descrito, também me lembro de algumas práticas

pedagógicas marcantes, como a observação feita sobre a germinação do feijão em

4 Trata-se de um livro didático dedicado à alfabetização de crianças. Também conhecida como carta do abc.

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ambientes com ou sem luminosidade, motivando-nos, dessa forma, a participar de

modo ativo e a aprender, atribuindo significados e contextualizando o que era

ensinado. Tratava-se de propostas simples, mas que já traziam as marcas do que

viria a conhecer mais tarde como aprendizagem significativa.

As estratégias de avaliação adotadas pelos professores eram em sua

maioria descritivas e visavam à definição de conceitos, a partir da pergunta: “o que

é?” Alguns professores aceitavam como resposta o entendimento a respeito do

conteúdo; em contrapartida, outros faziam questão de verificar a reprodução da

definição dada por eles, “pronta e acabada”, apresentando desse modo o ponto tal

como tinha sido trabalhado em aula.

Meu interesse pelos assuntos relacionados ao estudo da vida foi

aumentando gradativamente durante os anos em que cursei o Ensino Médio.

Recordo-me de, juntamente com os colegas de turma, reunirmo-nos em grupo de

estudos, sendo que as questões referentes ao conteúdo de Biologia eram lançadas

a mim. Motivei-me, ainda mais, a ponto de organizar estratégias de ensino

facilitadoras para melhor compreensão do grupo. Iniciava-se ali o gosto pelo ensinar

e a vontade, mesmo que não deliberada (na época em que cursei o Ensino Médio),

de criar situações metodológicas que facilitassem a aprendizagem do conteúdo

estudado.

Iniciar o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas foi apenas uma

questão de tempo. Não poderia esquecer, nesta breve retomada de memórias, dos

professores do curso de graduação que muito me ensinaram e apoiaram em

diferentes momentos de minha formação inicial. Recordo-me das disciplinas de

biologia celular, histologia, anatomia, fisiologia e ecologia, que ajudaram a pensar

sobre o funcionamento dinâmico dos organismos, desde uma escala molecular até o

nível interacional, e as disciplinas de didática e metodologias de ensino que me

possibilitaram refletir de modo mais efetivo a prática docente.

Foi no curso de graduação também que tive os primeiros contatos com os

questionamentos relativos à formação de professores, que despertaram em mim

algumas inquietações e questionamentos, como por exemplo, a problemática

orientação de se ocupar o papel de um mero observador durante o estágio, o que

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infelizmente se repete com muitos que estão aprendendo a ser professor. Tal

inquietação me acompanha e me impulsiona a continuar estudando essa questão.

Com apenas três meses estudando no curso de licenciatura, fui convidado a

retornar como docente à escola na qual terminara de concluir o Ensino Médio.

Naquela época, para lecionar na rede Estadual de ensino, não era exigido um

profissional habilitado, bastava possuir uma escolaridade um pouco mais avançada

e a autorização da Superintendência por meio de um documento denominado

Certificado de Avaliações e Títulos (CAT). Em um turno, eu desempenhava a tarefa

de ser professor de Ciências, Biologia e História5 no outro, voltava a ser aluno do

curso de Licenciatura em Ciências Biológicas.

Em minha experiência inicial de professor ainda não formado, tinha um

conteúdo programático a ser seguido, as turmas de alunos, o planejamento das

avaliações e, enfim, estava vivenciando a tão sonhada profissão docente. Assim, a

problemática vivenciada e discutida no contexto escolar era revista à luz dos

conhecimentos abordados no curso de licenciatura. Isso me proporcionava a riqueza

de um contexto específico, com locais e momentos únicos que delineavam as

primeiras indagações sobre a prática docente: Como construir e desenvolver as

habilidades e as competências prescritas nas Diretrizes e solicitadas pela Secretaria

Estadual da Educação nas avaliações dos alunos? Deveria enfatizar questões

teóricas ou práticas?

As dúvidas e as reflexões sobre a prática docente se intensificavam e nas

reuniões pedagógicas realizadas, constatei naquela ocasião que parte das questões

que me acompanhavam eram as mesmas apresentadas pelos professores iniciantes

e experientes. Durante onze anos, foram importantes os momentos, os locais e as

pessoas que ali me fizeram crescer pessoal e profissionalmente. As conversas

formais e informais realizadas na sala de aula, na sala dos professores, nas

reuniões pedagógicas e nos corredores da escola, possibilitaram-me problematizar

minha própria prática pedagógica, alimentando o espiral da ação-reflexão-ação, a

epistemologia da prática, como viria a conhecer posteriormente.

5 O Certificado de Avaliações e Títulos emitido pela Superintendência Regional de Ensino me autorizava a lecionar a disciplina de História. A ausência de professores habilitados e a necessidade de completar um cargo na Rede Estadual de Ensino, levou-me a assumir duas aulas semanais da referida disciplina.

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Assim, a formação inicial e continuada ali se imbricavam. O conhecimento

adquirido no curso possibilitou-me enxergar novos horizontes e perceber o quanto a

troca de experiências pode ser enriquecedora. Paralelamente, as vivências como

professor de Biologia e o contato com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

para o Ensino Médio, possibilitaram-me vivenciar um distanciamento entre a

formação e as prescrições, caracterizadas pela centralidade da noção de

habilidades e competências, pela ênfase na interdisciplinaridade e na

contextualização. Assim, procurando relacionar as teorias apropriadas no curso de

formação à minha prática pedagógica, especializei-me nos estudos sobre

Metodologia do Ensino de Ciências.

No ano de 2008, fui aprovado em processo seletivo para atuar como

professor substituto na Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL – MG). De um

lado, vivia a felicidade de estar próximo do curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas e da Formação de Professores; de outro, deparava-me com o medo e

com o sentimento de inexperiência, além da opção de deixar a segurança da

efetivação como professor do Estado de Minas Gerais por um contrato em uma

Instituição de Ensino Superior. Tais vivências reportam às observações de Goodson

(1992, p. 68) ao afirmar que

“a maior parte de nós se sente profundamente inseguro e ansioso acerca do nosso trabalho como professores quer nas salas de aula, quer nos anfiteatros universitários. Estes são, muitas vezes, os locais de maior ansiedade e insegurança - bem como, ocasionalmente, de realização”.

Para me preparar para esse desafio, recorri aos materiais que conhecia, aos

livros que comprei e, sobretudo, ao carinho e à dedicação de alguns formadores,

que me forneceram subsídios para refletir sobre a atuação profissional. Foi uma

experiência marcante em minha trajetória quando me deparei com alguns obstáculos

como a falta de aprofundamento do conhecimento e a ausência de estratégias

metodológicas, os quais me fortaleceram e fizeram com que eu tivesse ainda mais a

certeza de que tinha feito a escolha correta.

O contato com os professores da Universidade possibilitou-me, entre outras

coisas, compreender o quanto é importante ser um professor pesquisador e o

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quanto não tinha me dado conta desse aspecto devido a uma formação centrada no

ensino tradicional, em que o professor é considerado como o único detentor e

transmissor de um conhecimento pronto e acabado.

Assim, iniciei meus trabalhos como docente nos cursos de Licenciatura em

Ciências Biológicas, Pedagogia e Biotecnologia, ministrando as disciplinas de

Bioética, Metodologia e Práticas de Ensino de Ciências e Biologia, além de

supervisionar os estágios, os quais tinha como principal preocupação proporcionar

aos estudantes um momento privilegiado na aprendizagem da docência.

O exercício do magistério superior na UNIFAL – MG, supervisionando os

estágios possibilitou-me, entre outras coisas, constatar a difícil realidade da escola

pública (más condições de instalação, trabalho e desvalorização pela suposta má

qualidade da educação em comparação à escola privada) e os baixos salários que

impactam no status da profissão e contribuem para que os jovens não sejam

atraídos para o magistério.

Como dito anteriormente, ao longo de minha trajetória, emergiram diversas

inquietações, sobretudo no que tange à Formação Inicial do Professor de Ciências e

Biologia. A recorrente queixa dos alunos da licenciatura quanto ao abismo que

separa as teorias aprendidas no curso de formação e a realidade vivida na sala de

aula e o desejo de buscar respostas para algumas destas inquietações me

impulsionaram, no ano de 2009, a iniciar o Mestrado Acadêmico em Educação, com

a ênfase no tema do Currículo e, assim, constituir-me também pesquisador na área

em que atuava.

No primeiro semestre de 2010, conheci tendo contato pela primeira vez e já

iniciando na atuação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

(PIBID) da Universidade. A UNIFAL – MG teve um projeto aprovado e vislumbramos

neste Programa a possibilidade de investigar com mais afinco uma parceria

estabelecida entre Universidade e escola. O PIBID6 é uma ação conjunta do

Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Ensino Superior (SESU), e

da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) com as

Universidades que têm como finalidade fomentar a iniciação à docência e melhor

qualificá-la.

6 Apresentaremos o PIBID com mais detalhe no segundo capítulo deste trabalho.

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No PIBID, o projeto institucional é formado por subprojetos de diferentes

áreas de conhecimentos. Na UNIFAL, o subprojeto Ciências Biológicas propunha o

desenvolvimento de atividades que inseriam 12 estudantes do Curso de Licenciatura

em Ciências Biológicas em contato direto e contínuo com o ambiente escolar, sendo

desenvolvidas 6 horas semanais de atividades na escola e 9 horas semanais

restantes, em atividades na Universidade. Esses bolsistas atuaram em escolas

públicas no município de Alfenas, os quais, entre outras demandas, realizavam o

levantamento das necessidades prioritárias específicas para o desenvolvimento da

disciplina Biologia nas escolas conveniadas, estimulando maior interlocução entre a

Universidade e as escolas.

Para resgatar a dimensão intelectual da profissão docente, os estudantes

foram incentivados a produzir um diário de campo7 referente à experiência

vivenciada no Projeto. Por meio desse instrumento, os alunos registraram suas

impressões, ideias, sentimentos, desafios e angústias quanto à vivência do espaço

escolar.

As experiências vivenciadas no PIBID/UNIFAL possibilitaram-me constatar

que o objetivo da parceria ultrapassou a formação inicial dos estudantes do Curso,

estendendo-se à formação continuada dos professores da educação básica e ao

fomento a uma postura de pesquisa e reflexão sobre as práticas educativas

desenvolvidas no interior das escolas e em seu entorno. Como fruto deste trabalho

de reflexão, foram produzidos artigos em que essas experiências foram

sistematizadas e divulgadas em diversos eventos nacionais, como por exemplo, no II

Seminário de Socialização do PIBID/UNIFAL8.

As reflexões presentes nas publicações resultaram das ações desenvolvidas

pelos professores coordenadores e pelos estudantes bolsistas nos anos de 2011 e

2012 nas escolas públicas de Alfenas. Os relatos presentes nos trabalhos

mostraram-se um rico material para se ter conhecimento sobre os efeitos do

Programa e possibilitaram pontuar atividades do PIBID relacionadas ao

planejamento de ensino de ciências, às relações interpessoais estabelecidas na

7 Nesta pesquisa, os diários de campo foram definidos como instrumentos para o registro escrito das vivências realizadas durante o PIBID. 8 A realização do II Seminário de Socialização do PIBID/UNIFAL teve como objetivo socializar as ações desenvolvidas no âmbito do Programa, registrar e disseminar os conhecimentos, as vivências e práticas docentes construídas no contexto da escola pública.

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escola, à avaliação do comportamento e da participação dos alunos da educação

básica durante o desenvolvimento das atividades propostas, à articulação entre

teoria e prática, ao uso das tecnologias da informação e da comunicação no

desenvolvimento da disciplina, aos aspectos relacionados à verificação do alcance

dos objetivos propostos e ao retorno das atividades, além dos dilemas e desafios

vivenciados pelos alunos bolsistas no contexto escolar.

As atividades do PIBID/UNIFAL procuraram valorizar a produção escrita

como forma de reflexão, como eixo central da formação inicial dos professores.

Assim, a prática da escrita era entendida como forma de mostrar aos alunos que o

professor pensa sobre seu trabalho, faz escolhas, produz juízos nas situações de

ensino, exerce um papel político, tem saberes que são próprios desta profissão.

Durante os encontros semanais com o grupo de bolsistas, foram realizados

alguns procedimentos de intervenção, caracterizados por questões de

esclarecimento quando seus relatos não ficavam muito claros, além de questões de

aprofundamento quando eram relatadas experiências importantes, como as

relacionadas ao planejamento de maneira pouco aprofundada. Essas socializações

sobre o conteúdo escrito nos diários de campo ofereceram momentos de troca

produtiva de vivências e de reflexões para o grupo. Ou seja, a experiência de

trabalho junto ao PIBID tornou-se um elemento muito importante para mim no

processo da docência como professor da licenciatura.

Retomando o relato de meu percurso, no primeiro semestre de 2013, fui

aprovado no processo seletivo do programa de Pós-Graduação e iniciei o curso de

Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

motivado por inquietações relacionadas à formação inicial de professores. Comecei

a participar dos encontros do grupo “AULA – Trabalho Docente na Formação Inicial”,

sob coordenação da professora Ana Lúcia Guedes Pinto. O grupo de pesquisa

iniciou suas atividades em 2002 e tem se concentrado no desenvolvimento de

estudos e pesquisas do processo de formação de professores, principalmente

quanto à formação inicial9.

9 Em 2016 o grupo de pesquisa AULA (Trabalho Docente na Formação Inicial) se uniu ao grupo de pesquisa ALLE (Alfabetização, Leitura e Escrita), passando a adotar o nome ALLE-AULA.

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Paralelamente ao início dos estudos no Doutorado, no ano de 2013,

mudanças ocorreram nas administrações públicas municipais com a posse dos

prefeitos eleitos e o Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu o terceiro mandato

consecutivo em Serrania, cidade onde resido. As experiências e os trabalhos

desenvolvidos nas escolas estaduais do município e da região, a atuação na vida

pública do município, a coerência com a proposta de governo e os estudos

relacionados ao currículo e a formação de professores, levaram-me a receber o

convite para participar das reuniões de transição de governo e, posteriormente, a

assumir a gestão da Secretaria Municipal de Educação.

Mesmo não tendo filiação político-partidária, sempre reconheci e valorizei as

conquistas no campo educacional advindas da atuação do PT no Executivo Federal,

como a aprovação de leis e Programas importantes, dos quais participei como

docente e gestor: Programa Universidade Para Todos (ProUni), Ciências sem

Fronteira, Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), entre outros.

Apesar de considerar todo o avanço, ocorrido em termos educacionais e sociais,

para as nossas demandas por um país mais justo e menos desigual, entendo que

estamos distantes do necessário.

Atuando como Secretário de Educação, busquei colocar em prática o modelo

de gestão no qual acreditava: pautado na transparência das ações e no

compartilhamento das decisões. Essa visão foi se ampliando, na medida em que os

problemas levantados pelos pais, pelos alunos e pelos profissionais da educação

foram se delineando de forma mais nítida para serem solucionados: o direito dos

servidores por melhores condições de trabalho, o direito das famílias terem um

Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) e escolas dos anos iniciais do

Ensino Fundamental de qualidade, a administração de recursos financeiros dos

diversos programas Federais, Estaduais e Municipal.

Vivenciei, entre diversas coisas, vários pedidos de solicitação de estudantes

para realizar estágios nas escolas do município. Deparei-me ali com a realidade,

agora de outro lado da instituição escolar, que recebe os estagiários vindos da

universidade. Entende-se que o estágio se configura como o primeiro contato dos

alunos de Pedagogia com a realidade escolar, sendo uma oportunidade de

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compartilhar construções de aprendizagem assim como de estabelecer relações

entre o aprendizado teórico e a prática pedagógica.

Inúmeras questões estiveram presentes no dia-a-dia da gestão, as situações

desafiadoras como as referentes à mobilização da sociedade em torno da

composição de conselhos colegiados e as ações que possibilitaram a devida

estruturação dos Planos de Carreira do Magistério, e aos aspectos ligados à

formação continuada dos professores da educação básica para atuar no PNAIC10,

desenvolvido pelo governo federal e aos cursos de Aperfeiçoamento em Educação

Infantil e Arte e de Especialização em Educação Infantil11, resultantes da parceria

entre o município e a UNIFAL.

Muito do que a cidade de Serrania já havia conquistado na Educação

Municipal adveio do trabalho de profissionais experientes, com cujo apoio contei.

Foram nove meses de intenso convívio diário com os avanços, as limitações e os

dilemas da gestão, como por exemplo, exercer as diversas funções acumuladas no

cargo.

Como mencionado antes, na Introdução, em virtude de aprovação em outro

concurso público, precisei deixar a Secretaria Municipal de Educação e, em meados

do segundo semestre de 2013, fui empossado para exercer o cargo efetivo de

Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS), Campus

Inconfidentes, ministrando o seguinte conjunto de disciplinas no Curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas: Metodologia do Ensino de Ciências,

Metodologia do Ensino de Biologia, Supervisão de Estágios. Assim, atualmente,

continuo trabalhando como formador de professores de Ciências e Biologia, agora

em outra instituição, em que enfrento outros desafios e tenho aprendido

constantemente com eles. A certeza que tenho é a de estar em processo de

10 Os professores da rede municipal de educação participaram ao longo do ano de encontros mensais de 8 horas para analisarem as práticas pedagógicas e refletirem sobre elas. Os professores que integraram o projeto receberam uma bolsa para a formação disponibilizada pelo Fundo de Desenvolvimento Nacional da Educação (FNDE). Durante o projeto, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) também fez a distribuição de materiais didáticos específicos para a alfabetização nas escolas. 11 Os cursos foram ofertados por meio de recursos da Secretaria da Educação Básica do Ministério da Educação e Cultura, sendo desenvolvidos por professores da UNIFAL, os quais proporcionaram a formação continuada para os docentes da rede municipal em nível de Pós-Graduação Lato Sensu (360 horas) e Aperfeiçoamento (180 horas) com temáticas relacionadas à Educação Infantil.

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construção como pesquisador e docente, pois aprendo a ser professor diariamente,

na relação com meus alunos, no meu convívio social e também com a socialização

de minha própria prática.

No município de Inconfidentes – MG, o IFSULDEMINAS assume o PIBID,

como um Programa institucional que contribui com a formação inicial de professores

nos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas e Licenciatura em Matemática.

As atividades desenvolvidas durante os últimos anos no subprojeto PIBID do

curso de Licenciatura em Biologia me permitiram verificar que ainda existe uma

resistência à docência por parte de alguns alunos e, em contrapartida, para muitos,

a docência é de fato algo realmente desejado.

Em relação ao meu processo de formação como pesquisador no Doutorado,

dediquei-me às leituras dos referenciais indicados durante as disciplinas oferecidas

e a participação no grupo de pesquisa AULA. Essas atividades contribuíram para as

reflexões, para o amadurecimento e para a escolha dos caminhos que foram

seguidos para a realização do tema deste trabalho.

Procurei, por meio deste memorial, explicitar o percurso pessoal e acadêmico

seguido e que me ajudou a fornecer subsídios para a realização da pesquisa. Passo

agora à contextualização geral das políticas públicas recentes no campo da

formação de professores.

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2. Formação e desenvolvimento profissional de professores

2.1 Um panorama geral das políticas de formação inicial de professores no Brasil

Os debates relacionados à qualidade na educação brasileira parecem incidir à

figura do professor, contudo não podemos desconsiderar o seu contexto de

formação e de atuação profissional. Assim, este capítulo tem como propósito

apresentar os aspectos históricos referentes às políticas de formação inicial dos

professores no Brasil, desde o momento da implementação da LDB após à

promulgação da Constituição de 1988 até o Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência (PIBID). Assim, o recorte histórico se dará a partir dos anos

1990 para se problematizar a questão.

Historicamente, a formação de professores sempre esteve atrelada e

justificada pela necessidade de atualização dos conhecimentos científicos,

buscando-se, com isso, que os currículos fossem adequados e trabalhados com os

alunos. Simultaneamente às atualizações ao nível de conteúdo, a política de

formação profissional docente também se desenvolveu, ao longo da história,

marcada pelos interesses políticos, econômicos e ideológicos dos grupos sociais

hegemônicos. Não se pode ignorar, portanto, que tais políticas sejam alvo de lutas

entre grupos, sendo permeada pela permanente tensão entre as correlações de

forças em jogo no contexto histórico da Educação.

As diretrizes da Educação, em especial, as curriculares, são encarregadas de

traçar o perfil dos cursos de licenciatura e, consequentemente, a trajetória de

formação profissional de seus estudantes. Um marco regulatório decisivo para a

formação docente nas últimas décadas tem sido a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96. Acompanhando a tendência mundial, ela

determina que os professores de todos os níveis educacionais sejam formados em

curso superior. No entanto, de acordo com Gatti e Barreto (2009, p. 42),

pesquisadoras da área da Educação, em um relatório sobre o campo de formação

de professores à UNESCO, as primeiras adequações curriculares feitas pelas

instituições formadoras e pelos cursos de licenciatura se iniciaram “a partir de 2002,

quando as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores foram

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promulgadas e quando as diretrizes curriculares para cada curso de licenciatura

foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação”, o que causou uma série de

discussões frente às adequações necessárias das normas vigentes.

Em 2007, dados revelados pela Comissão Especial nomeada pelo Conselho

Nacional de Educação (CNE) tornaram visível a necessidade de formação de novos

professores e de desenvolvimento de ações para superar tal déficit. O relatório

emitido pela comissão revelou a “necessidade de cerca de 235 mil professores para

o Ensino Médio no país” (BRASIL, 2007, p. 11).

O aumento na demanda de professores é reflexo de um processo de

expansão da rede pública de educação básica, com o objetivo de atender

segmentos sociais até então excluídos da sociedade. Em resposta a essas

demandas, várias ações políticas foram realizadas nos últimos anos no Brasil e,

como fato importante para as reflexões deste capítulo, consideramos necessário

ressaltar que desde 1990 tem ocorrido uma crescente política de expansão das IES,

principalmente do setor privado12.

A problemática que o Ensino Superior (ES) enfrenta manifesta-se em um

conjunto de problemas, tais como: as formas de acesso e de seleção, a qualidade

do ensino, o desenvolvimento do currículo, a socialização de alunos e de

professores e a gestão das instituições, conforme revelam os estudos desenvolvidos

por Silva (2001).

Gomes e Moraes (2012) analisaram o processo de expansão do ES no Brasil

nas últimas três décadas, articulando os dados estatísticos gerados pelo censo do

ES e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a perspectiva

teórica desenvolvida por Trow (2005), o qual defende a tese de que a transição

histórica dos sistemas de ES tende a seguir três fases: do “sistema de elite” para o

“sistema de massa” e, deste, para o “sistema de acesso universal”, sendo a causa

irradiadora do processo de transição de uma fase para outra, o volume de

matrículas.

No sistema de elite, o acesso ao ES acontece quase que exclusivamente em

função da origem e da classe social dos estudantes, tendo uma relação direta com a

12 A expansão da rede privada no segmento do Ensino Superior apresenta uma complexa discussão na área da Educação. Tal problemática não se insere no escopo deste estudo. Aqui apenas pontuamos e reconhecemos sua expansão.

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renda. Já no sistema de massa, o acesso ao ES deixa de ser visto como um

privilégio de nascimento e de classe social e passa a ser entendido como “um direito

para aqueles com certas qualificações” (TROW, 2005, p. 5 apud GOMES e

MORAES, 2012, p. 175). Por fim, o sistema de acesso universal ao ES é aberto, no

sentido de que, com a conclusão do Ensino Médio, está feito o requisito fundamental

e, neste caso, a seleção e o ingresso a cursos superiores tornam-se um problema

para a capacidade de absorção e de atendimento das IES.

A análise compreende um período importante da história contemporânea

brasileira, caracterizado pela importância da experiência democrática, elencando

dados estatísticos entre os anos 1990 e 2008. A partir da articulação das

informações ao trabalho de Trow, cujas linhas foram brevemente expostas, Gomes e

Moraes (2012) consideram que a fase do sistema de elite se encontra delineada no

histórico de acesso ao ES, fazendo emergir, apenas contemporaneamente (1995 –

2008), o sistema de massa.

Mudanças importantes ocorreram durante esse período da história brasileira, inclusive com o aumento do número de matrículas e de IES públicas, mas não houve propriamente uma ruptura que permitisse aos membros das classes trabalhadoras, tradicionalmente alijadas de determinado tipo de capital cultural e escolar, a realização do desejo de cursar a educação superior (GOMES e MORAES, 2012, p. 186).

Ao refletir sobre a expansão do ES no Brasil, Mancebo e Vale (2013) partem

do princípio da existência de uma luta entre o privado – característicos do

capitalismo – e o público, representado por forças democratizantes. Apesar de o

artigo sistematizar os rumos privatistas da Educação Superior no país, as autoras

mencionam pelo menos quatro linhas de análise que devem ser consideradas sobre

o tema: (1) as ações do governo federal, caracterizadas por programas de

reestruturação do setor, como é o caso do Programa de Apoio a Planos de

Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e pela

multiplicação dos campi, resultando na expansão de vagas, matrículas e cursos nas

instituições federais; (2) a expansão da pós-graduação; (3) a diferenciação de

cursos, de instituições e de modalidades de ensino, destacando-se o ensino a

distância (EaD); (4) o aumento das IES privado-mercantis.

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Mesmo com a proposta de ampliação de vagas nas licenciaturas, a adesão ao

REUNI não ocorreu de forma tranquila. Os defensores do Programa argumentaram

a favor do aumento das possibilidades de acesso ao Ensino Superior e,

consequentemente, do aumento da contratação de docentes, além da melhoria das

condições de infraestrutura das instituições. Em contrapartida, a principal crítica ao

Programa de expansão foi a imposição e o desrespeito à autonomia das instituições,

caracterizada pela pouca ou até mesmo pela ausente discussão com a comunidade

acadêmica.

Dentre as estratégias para o alcance das metas estabelecidas pelo REUNI,

está a maior flexibilidade nos critérios de ingresso, de avaliação, de mobilidade

estudantil e de ações de enfrentamento à evasão, caracterizadas pela redução da

repetência e pela substituição dos alunos evadidos.

No que diz respeito à democratização do acesso ao Ensino Superior, é

preciso questionar as ações propostas, a lógica da quantidade em detrimento da

qualidade de ensino e o papel que as instituições devem desempenhar na formação

profissional. A efetivação do processo de expansão do Ensino Superior público com

poucos recursos nos leva a inferir a fragilidade do Programa devido ao aumento de

estudantes em sala de aula, à intensificação do trabalho docente com ênfase no

ensino e à redução de atividades de pesquisa e de extensão, à ausência de garantia

de estrutura física e de recursos materiais para atender às demandas de ensino e à

sobrecarga da capacidade de operação das Instituições Federais de Ensino Superior

(IFES) devido à ampliação e à abertura de cursos noturnos.

Consideramos importante destacar que a expansão da Educação Superior no

Brasil pelo setor privado não significou a ausência de financiamento estatal. Em seu

artigo “Expansão da educação superior no Brasil e a hegemonia privado-mercantil: o

caso da Universidade Estácio de Sá (UNESA)”, Mancebo e Vale (2013) apresentam

a ativa participação do Estado na privatização da Educação Superior brasileira entre

os anos 1970 e 1990, apontando que as IES privadas tiveram um forte crescimento

para além das mensalidades recebidas dos estudantes. As autoras ressaltam que

esse aporte financeiro estatal se deu especialmente “a partir de isenções fiscais e

tributárias bastante generosas e percebidas, apontando para a clara presença do

fundo público na reprodução ampliada do setor” (MANCEBO; VALE, 2013, p. 87).

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Além da expansão do ES, a política de valorização dos profissionais da

Educação também tem ocorrido desde 1990, a qual vem se desenvolvendo das mais

diversas formas, como por exemplo, por meio de avaliações em larga escala e de

ações pautadas em programas institucionais propostos pelo MEC.

No que tange às avaliações, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (INEP) tem desempenhado um papel expressivo para o

direcionamento e para o monitoramento da qualidade do ensino em todos os níveis

e modalidades por meio da realização de exames e provas. O INEP tem se

mostrado um órgão fundamental e estratégico para o desenvolvimento de

informações educacionais, cujos dados têm sido amplamente disseminados por

meio de várias fontes de publicações.

No mesmo sentido, a autoavaliação ou avaliação interna das IES adquiriu um

caráter fundamental nos últimos anos em favor da formação docente, “sobretudo no

que diz respeito às possibilidades de reformulações nas diferentes instâncias das

Instituições” (FELÍCIO e POSSANI, 2010, p.122).

Contudo, é com a Lei n°9.394, promulgada em 20 de dezembro de 1996 –

LDB (BRASIL, 1996), que mudanças significativas foram propostas para o curso de

formação inicial de professores. A LDB teve um longo trâmite – quase duas décadas

– para a sua aprovação no Congresso Nacional e, de acordo com Pereira (1999, p.

110), “suscitou discussões a respeito do novo modelo educacional para o Brasil e,

mais especificamente, sobre os novos parâmetros para a formação de professores”.

Assim, as novas concepções de formação docente destacam, como princípios

norteadores para a formação profissional, a coerência entre a teoria e a prática do

futuro professor, a pesquisa como foco do ensino e da aprendizagem e a definição

de competências como concepção nuclear na organização acadêmica dos cursos.

Uma reformulação profunda no ES, à luz das tendências neoliberais, ocorreu

com a LDB, sendo uma tentativa de superar uma educação voltada às elites e à

qualificação para o desenvolvimento de competências exclusivas ao trabalho. Esse

foi um período marcado pela influência da globalização da economia, sendo

marcante a flexibilização dos tipos de formação e dos modelos de instituições de

ensino. O mundo do trabalho foi intensamente afetado pelas transformações

tecnológicas, políticas e econômicas, exigindo um novo perfil profissional,

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caracterizado pela maior capacitação nos conhecimentos formais e pela

necessidade constante de aperfeiçoamento (GADOTTI, 2009).

Após a década de 1990, a influência das organizações internacionais, como o

Banco Mundial, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e

Cultura (UNESCO), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), levou o Estado a

reconfigurar as políticas educacionais. A Conferência Mundial de Educação para

Todos ocorrida na Tailândia em 1990 e o documento intitulado “Prioridades y

estratégias para la educación”, publicado pelo Banco Mundial em 1996, são

exemplos citados por Casagrande, Pereira e Sagrillo (2014) de interferência

internacional de políticas neoliberais, especialmente para a educação em países

subdesenvolvidos. Para os autores, o referido documento “retoma o discurso

apresentado na Declaração Mundial de que a educação é crucial para o crescimento

econômico e para a pobreza”, atribuindo à educação a responsabilidade para o fim

dos problemas sociais. Os autores também são enfáticos ao afirmarem que, na

visão neoliberal, “a formação docente é vista nos projetos do Banco Mundial como

um ‘mal necessário’, como importante, mas secundário” (CASAGRANDE, PEREIRA

E SAGRILLO, 2014, p. 501).

É possível verificar no Brasil, a partir da década de 1990, a busca por metas e

por programas, que foram e estão sendo lançados, visando à maior qualidade na

educação, diante das avaliações internacionais, em especial, nas quais o Brasil

apresenta defasagem em relação a outros países, como por exemplo, o Programa

Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

A participação de grupos de investimentos tem desenhado um novo

panorama na educação brasileira. Nesse contexto, a formação docente que está

presente no cenário político e econômico e em Programas de formação inicial de

professores como o PIBID, deve ser analisada sob dois aspectos: de um lado, como

sendo uma política que contribui para a formação docente e, de outro, uma política

neoliberal, caracterizada pela busca da produtividade, de resultados, de elevação

dos indicadores de desempenho dos alunos na avaliação externa e de tentativa de

tornar a carreira docente mais atrativa.

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Devido a um sistema neoliberal, o currículo da escola é constantemente

reformulado no intuito de contemplar as demandas da sociedade. A inclusão e a

atualização de disciplinas como Metodologias e Práticas de Ensino, Estágio

Supervisionado e a participação dos alunos no PIBID, são algumas das propostas

nos cursos de formação de professores que objetivam propiciar e aproximar o

licenciando de seu campo de atuação profissional, exercendo um contato direto com

alunos imersos aos aspectos sociais, econômicos e políticos e de contribuir para

amenizar o déficit de aprendizagem na educação básica. Consideramos necessário

refletir sobre o papel do Estado na formulação de políticas de formação de

professores e sua relação junto aos interesses internacionais, visto que tais

propostas são capazes de interferir na construção da identidade docente.

As finalidades presentes na LDB contemplam as necessidades nacionais e

regionais ao “estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em

especial os nacionais e regionais” (BRASIL, 1996). Em seu conjunto, algumas

finalidades do Ensino Superior, expressas pela Lei são recorrentes, levando-se em

conta o caráter formativo específico da graduação, as aplicações na realidade e nas

ciências, os métodos próprios de pesquisa, de validação e de organização, além dos

conhecimentos científicos e tecnológicos, expressos como demandas da sociedade,

na qual as relações sociais são cada vez mais mediadas pelas Tecnologias da

Informação e da Comunicação (TICs).

No que diz respeito à obrigatoriedade da formação de professores, a LDB

define em seu artigo 62:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal (BRASIL, 1996).

Com a obrigatoriedade da formação de professores para os profissionais do

magistério e para os anos iniciais do Ensino Fundamental, e a independência dos

cursos de licenciatura, o Brasil vivenciou um significativo crescimento de cursos de

formação de professores no século XX. Logo na primeira década do século XXI, a

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oferta dos cursos de licenciaturas teve um aumento de 52%, sendo as

Universidades responsáveis pela oferta de 63% dos cursos de formação de

professores (GATTI, 2010).

Assim, acompanhando a tendência mundial, como nos indica Almeida e Silva

(2014), Valente (2003) e Barreto (2001), a lei favorece ao crescimento da formação

docente, considerando a EaD em todos os níveis e modalidades de ensino. Nessa

direção, estudos desenvolvidos (GATTI, 2010) mostram que a expansão dos cursos

de formação docente no país acompanha, em linhas gerais, a expansão das

oportunidades educacionais à população e “embora a certificação em curso superior

esteja generalizando-se no país entre todos os docentes, a melhoria da qualidade da

educação não se modifica apenas pela nova titulação dos professores” (BARRETO,

2015, p. 681).

Parece-nos que as políticas educacionais relacionadas à formação de

professores em exercício com o uso da EaD tiveram seu reconhecimento, sua

valorização e suas contribuições, visto que entre as vantagens desta forma de

ensino estão as possibilidades de atender a um maior número de pessoas e de o

aluno organizar seus horários e conciliar os estudos com a atividade profissional.

A questão não é a formação de professores para a docência à distância, mas

para a docência presencial, visto que na sua trajetória profissional, os espaços e os

tempos específicos para o ensino e a aprendizagem acontecem nas escolas de

educação básica, nas bibliotecas, nos laboratórios de ciências naturais, locais onde

ocorrem presencialmente as atividades de ensino e de aprendizagem. Trata-se de

espaços de debates políticos, de trocas de experiências, de socialização e de

diferentes posicionamentos que exigem do professor mais do que o conhecimento

do conteúdo, mas aspectos relacionados ao fazer docente, tais como o

planejamento, as estratégias metodológicas adequadas, o equilíbrio emocional, o

comportamento ético, a liderança, a desinibição e a autonomia. Essas situações se

aprendem nos Seminários apresentados no curso de formação, nos estágios

supervisionados realizados nas escolas, nos debates em sala de aula, nas

cobranças dos colegas para a socialização de uma atividade, nas experiências

realizadas em laboratórios e nas atividades de campo. Os ambientes e os objetos

virtuais de aprendizagem são importantes e também constituem recursos a serem

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apropriados pelos professores por intermédio de uma formação permanente, mas

não substituem a vivência que é decorrente da prática escolar.

Dessa forma, somente as relações mediadas pela EaD não abarcam as

habilidades e as competências exigidas na prática docente. Assim, entendemos que

professores para o ensino presencial devem ser formados em cursos presenciais.

Considerar que esse locus pode ser desprezado na formação de professores é

desconsiderar as especificidades presentes na prática docente.

Diante dos procedimentos legais estabelecidos posteriormente à

promulgação da LDB, não há como negar a influência das prescrições dispostas no

que tange aos órgãos consultivos e deliberativos, responsáveis por propor, por

analisar e por aprovar as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para a Formação

de Professores em nível superior (BRASIL, 2001), e, consequentemente, as

Diretrizes para cada curso de licenciatura, o qual, de acordo com a legislação,

adquiriu terminalidade e integralidade própria em relação ao bacharelado acadêmico

e profissionalizante.

Até o ano de 2002, grande parte das propostas curriculares de Ensino

Superior no Brasil eram pautadas basicamente em conceitos e procedimentos

referenciais a cada área, sendo que a aprendizagem deveria ocorrer sob a forma de

simples absorção de conteúdos. Em contrapartida, nos últimos anos, as prescrições

oficiais sobre Educação têm orientado o desenvolvimento de práticas pedagógicas

que levem os alunos a uma visão crítica sobre os conteúdos desenvolvidos, como

também maior autonomia na forma de gerenciar conteúdos, de aprender e de utilizar

os conhecimentos adquiridos (SOUTO, 2011).

Prova disso são as ações do atual Conselho Nacional de Educação (CNE),

órgão colegiado integrante do MEC, instituído pela Lei 9.131, de 25 de novembro de

1995, com a finalidade de colaborar na formulação da política nacional de educação

e de deliberar sobre as Diretrizes Curriculares propostas pelo MEC para os cursos

de graduação. Nos dias atuais, temos vivido uma forte pressão das instâncias

reguladoras, como o caso do Conselho Estadual de Educação de São Paulo

(CEE/SP), quanto às mudanças das deliberações referentes aos cursos de formação

de professores. As Universidades paulistas têm sofrido cada vez mais restrições

quanto aos modos de gestar seus currículos.

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Nos documentos do Conselho, é evidenciada a noção de competências13

como definidora da formação inicial de professores. Como exemplo, a Resolução do

Conselho Nacional de Educação (CNE) de 18 de Fevereiro de 2002, a qual instituiu

as DCN para a Formação de Professores da Educação Básica, sendo os cursos de

licenciatura, responsáveis pela formação. Essas diretrizes específicas estabelecem

princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional, considerando,

entre outros, a competência como concepção nuclear na orientação do curso,

estabelecendo a definição de 19 competências e de habilidades que deverão ser

nele desenvolvidas.

Para Santos Júnior (2005, p. 56-57), o trabalho com as competências

constitui-se a ferramenta pedagógica do neoliberalismo, uma vez que apresenta “a

ideia do mercado como grande regulador da qualidade”. Corroborando tal

posicionamento, Cunha (2013) afirma que o termo competência, incluído na LDB,

não se limita a uma figura de linguagem e, sim, se refere a uma articulação de

“dependência entre os sistemas educativos e as exigências do mundo produtivo”.

A Enciclopédia de Pedagogia Universitária (INEP/MEC, 2006, p. 358) define

competência pedagógica como “a capacidade de o professor atuar nos cenários

educativos com uma atitude crítico reflexiva diante do saber científico, do

comportamento ético e da experiência estética”. Nesse sentido, a expressão não se

restringe ao domínio do conteúdo, às habilidades de ensino e aos aspectos

administrativos, mas se amplia num processo de reflexão permanente, permeando

toda ação docente, durante todo o tempo, em todos os espaços. A formação

docente, quando considerada apenas sob a perspectiva da construção e

desenvolvimento de competências ligadas aos procedimentos técnicos, reflete uma

13 A necessidade de compreender de forma específica como o direcionamento para a construção e para o desenvolvimento de competências apresenta-se na prática pedagógica dos professores universitários levou-me a concluir a dissertação de mestrado no ano de 2011. O presente capítulo recupera parte de minha dissertação relacionada ao conjunto de princípios, de fundamentos e de procedimentos ligados à construção e ao desenvolvimento de competências presentes na Resolução

CNE/CP N1, de 18 de Fevereiro de 2002. As considerações finais da dissertação levam a inferir que tais orientações não são ainda suficientemente compreendidas, podendo ser interpretadas de diferentes formas pelos sujeitos pesquisados, enfatizando as situações requeridas nas situações concretas de trabalho, incluindo em sua concepção valores, conhecimentos e habilidades. Concepções que se traduzem em ações e práticas docentes. Talvez essa pouca clareza explique um desordenado processo de implementação das propostas, em que uns aderem e outros resistem às prescrições.

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compreensão simplista, reduzindo o saber docente a como fazer (SOUTO, 2011).

Os debates referentes às reformas no ES foram retomados a partir de 2003

com a mudança de governo (de Fernando Henrique Cardoso, 1995 – 2002, formado

por uma aliança liberal conservadora, para o governo de Luis Inácio Lula da Silva,

2003 – 2010, formado por uma aliança liberal popular). Em um cenário de

mudanças, foi sancionado o Decreto n. 5.205 de 2004, regulamentando a Lei n.

8.958 de 1994, que dispõe sobre as relações entre as instituições federais de ensino

superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio. Com vistas

à capacitação, à autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial, foram

realizadas parcerias entre as Universidades e empresas no sentido de promover

projetos de inovação e de pesquisa científica e tecnológica (FAVRETTO e

MORETTO, 2013).

No ano de 2004, foi instituído pela Lei n. 10.861/04 o Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Superior (SINAES), o qual, entre outras medidas, substituiu

o “Provão” (Lei n. 9.131/95) pelo Exame Nacional de Cursos (ENADE). Com o foco

em dimensões que vão para além do ensino, da pesquisa e da extensão, o SINAES

instituiu uma nova proposta relacionada aos mecanismos de avaliação, abarcando

as instituições, os cursos e os estudantes.

Em complemento às ações de expansão e com o objetivo de viabilizar o

acesso ao Ensino Superior para estudantes com ausência de condições de pagar

pelo ensino privado, o governo federal implantou alguns programas. Um desses é o

Programa Universidade para Todos (PROUNI), criado pela Lei n. 11.096/05, que

concede bolsas de estudos integrais ou parciais para estudantes de cursos de

graduação em instituições privadas. Assim, a partir da metade da primeira década

dos anos 2000, o MEC assume um papel proativo na formação de docentes da

educação básica, concebendo-a como um processo contínuo (BARRETO, 2015, p.

685).

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2.2 O desenvolvimento profissional docente

As reflexões em torno do conceito de formação de professores vão ao

encontro de muitos apontamentos já apresentados neste trabalho, entre estes: a

articulação dos conteúdos ensinados no curso de formação com situações concretas

da profissão, a valorização da prática docente e dos espaços e tempos da Educação

Básica como lugar de formação e a necessidade de formação permanente. Nesse

contexto, algumas políticas nacionais, como a implementação do PIBID, vêm sendo

desenvolvidas.

Há uma grande diversidade de estudos e de pesquisas que versam sobre as

concepções de formação de professores, entre as quais destacamos Nóvoa (2008),

Imbernón (2000), Marcelo García (2011) e Oliveira-Formosinho (2009). Entre as

discussões desenvolvidas por esses autores, está a substituição do conceito de

formação inicial e continuada pelo conceito de desenvolvimento profissional docente,

amparado pela justificativa de que a expressão marca mais claramente a concepção

de profissional do ensino e de sugerir evolução e continuidade (MARCELO, 2011, p.

9). Nesse estudo, adotamos a definição de desenvolvimento profissional docente

como um processo contínuo de melhorias das práticas docentes, centrado no professor, ou num grupo de professores em interação, incluindo momentos formais e informais, com a preocupação de promover mudanças educativas em benefício dos alunos, das famílias e das comunidades (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2009, p. 226).

Para Imbernón (1998, p. 45), o conceito de desenvolvimento profissional

“inclui o de formação de professores, tanto inicial como contínua, como um processo

dinâmico e evolutivo da profissão e função docente”. Assim, destacamos

importantes aspectos dentro da perspectiva conceitual apresentada pelos autores,

segundo os quais o desenvolvimento acontece no contexto escolar, compreendendo

fatores internos e externos, caracterizados por dilemas sociais, culturais, políticos e

ideológicos; pode ser individual ou envolver um grupo de professores; Integra

momentos formais, como a participação em cursos, em seminários ou em palestras

e momentos informais, caracterizados por experiências vivenciadas no cotidiano

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docente; estabelece um compromisso social com a sociedade, preparando os

estudantes para a cidadania e para o mercado de trabalho.

Como descrito acima, a experiência é um aspecto relacionado ao

desenvolvimento profissional, capaz de conduzir o professor a diferentes

aprendizagens. Day (2001) apresenta no livro Desenvolvimento profissional dos

professores os desafios que afetam a sua capacidade para se empenharem

profissionalmente e para desenvolverem as suas competências, alertando que

somente a experiência não oferece condições para o desenvolvimento profissional,

mas também a reflexão sobre as práticas e os contextos e a diversidade de práticas

formativas. Nesse sentido, Nóvoa (1997) aponta que, quando as práticas formativas

tomam por referência a coletividade, contribuem para a emancipação profissional

dos sujeitos, para a reflexão e para o seu protagonismo, contribuindo para que se

assumam como produtores de sua profissão.

Não raro, constatamos a formação de professores baseada em “uma visão

dicotômica entre a formação inicial e a formação contínua, sustentada por uma

concepção cumulativa do processo formativo em que este é encarado como a

adição de duas etapas complementares” (CANÁRIO, 2002, p. 32).

Se por um lado a formação inicial baseada na racionalidade técnica, centrada

na aplicação do conhecimento sistematizado e na aceitação de objetivos e de metas

acaba por ignorar o aspecto reflexivo da profissão, por outro lado, a formação

contínua pode assumir um caráter compensatório ao partir do princípio de que os

professores possuem limitações advindas da formação inicial, conforme salientado

por Oliveira-Formosinho (2009) e Canário (2002).

Consideramos que uma maneira de aproximar o distanciamento entre a

formação inicial e a formação continuada e superar a cisão entre a teoria e a prática

é buscar uma aproximação entre as instituições formadoras e a escola de Educação

Básica, reunir os principais envolvidos na formação docente: estudantes

participantes do PIBID, estagiários, professores da escolas e professores

formadores das IES.

Nesse mesmo sentido, Zeichner (2010) utiliza o termo híbrido e de terceiro

espaço como possibilidade de romper as formas hierárquicas de organização

curricular, articulando os conhecimentos práticos aos conhecimentos acadêmicos

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numa relação horizontal, contrapondo a perspectiva unilateral das IES, as quais não

raro, ignoram e desvalorizam as experiências educativas desenvolvidas nas escolas,

exercendo uma prática com o objetivo de possibilitar aos professores em formação

inicial a aplicação da teoria e levar os conhecimentos acadêmicos que faltam aos

professores de Educação Básica, reproduzindo o estereótipo da superioridade entre

os segmentos de ensino.

Os aspectos da formação inicial, caracterizados pelas disciplinas específicas

que aparecem desconectadas da prática, sendo que esta acontece nos momentos

de estágio supervisionado, acabam por privilegiar os conhecimentos teóricos sobre

os didáticos e dificilmente podem construir um potencial transformador.

Diferentemente dessa perspectiva, os terceiros espaços “incentivam um status mais

igualitário para seus participantes”, resultando “numa relação mais equilibrada e

dialética entre o conhecimento acadêmico e o da prática profissional” (ZEICHNER,

2010, p. 487).

A instrução mediada e as experiências de campo são um exemplo de

configurações de terceiro espaço apresentada pelo autor, em que, de forma

colaborativa, os professores de Educação Básica e de Ensino Superior buscam

desempenhar um papel ativo na orientação de práticas de ensino e de estágios

durante a formação inicial e também ampliam as oportunidades de se

desenvolverem profissionalmente devido à interação em espaços de aprendizagem.

Neste sentido, as expressões instrução mediada e experiências de campo explicitam

a união de professores universitários, graduandos, alunos e professores da

Educação Básica para que tenham um papel ativo na formação dos futuros

professores, por meio de demonstrações, na prática de estratégias metodológicas

pertinentes ao ensino, além de orientações para análise dessa prática.

Importantes contribuições para esse trabalho foram encontradas em

Formosinho (2009) e Flores (2004) ao apresentarem algumas ideias que marcaram

o desenvolvimento da formação inicial de professores em Portugal.

Historicamente, os modelos curriculares de grande predominância em

Portugal foram, segundo Formosinho (2009), o processo de academização sobre o

qual a formação teórica teve expressiva relevância e era trabalhada afastada das

preocupações práticas que os professores enfrentavam no cenário da escola básica,

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onde, segundo o autor o processo não era adequado, embora apresentasse

aspectos positivos no Ensino Superior, caracterizados, entre outros, por uma

fundamentação teórica mais sólida da ação educativa e por mais investigação em

vários domínios das ciências da educação.

Observamos que a formação inicial de professores tem se configurado de

forma diferente entre os países. Algumas consequências do despreparo do

professor para enfrentar a realidade da sala de aula na fase inicial da docência são

destacadas por Flores (2004), ao elencar os desafios do processo de academização

das instituições formadoras de professores em Portugal. Dentre estes, se evidencia

o predomínio da lógica acadêmica em detrimento da profissional, pela racionalidade

técnica, pela fragmentação e falta de articulação entre os diversos componentes,

pela ausência de articulação entre escola e Universidade e pela dicotomia teoria e

prática, questões também presentes no cenário brasileiro.

Consideramos importante enfatizar que concordamos com Formosinho (2009)

sobre a relevância de compreender a docência para além das questões técnicas e

instrumentais do ato de ensinar e que ser professor não se limita a dar aulas.

Formosinho (2009) destaca que a década de 1990 configurou-se em uma

nova vertente no campo da formação de professores em Portugal, centrada no

desenvolvimento pessoal e profissional dos professores por meio da formação

continuada e especializada.

Compreendemos a presença de diferentes configurações relacionadas à

formação de professores em Portugal ao longo da história, e de um outro modelo

que se configura reconhecendo a importância de os docentes construírem e

desenvolverem saberes para lidar com a diversidade cada vez mais presente nas

escolas.

Em síntese, os autores analisados são concordes de que o desenvolvimento

profissional é um processo de aprendizagem individual e coletivo que parte de

questionamentos sobre a prática, podendo propiciar mudança no modo de pensar e

de agir. A docência é um ofício complexo, sendo necessária a criação de

mecanismos permanentes de formação que consistam na aproximação entre a

escola e as instituições formadoras e entre a teoria e a prática.

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Verificamos que, ao longo dos tempos, a formação docente enfrentou muitos

e variados desafios. Um deles refere-se ao distanciamento das instituições

formadoras de professores do campo de atuação profissional, a escola de Educação

Básica.

2.3 A escola como instância formadora

Conforme apresentado no item anterior, o sistema educativo brasileiro foi

redefinido a partir da LDBN, Lei n 9.394/96, na qual ficaram estabelecidos os níveis

escolares e as modalidades de Educação, bem como suas respectivas finalidades.

Neste item, é abordada a formação do professor centrada na escola e apresentados

referenciais que problematizam o fortalecimento da ligação entre a Universidade e a

escola e suas relações com o PIBID.

Conforme destacamos antes, a dicotomia entre teoria e prática tem sido

problematizada e marcado a formação de professores ao longo de sua trajetória

histórica no Brasil. Como exemplo, a Resolução n° 2 do CNE, de 01/07/2015,

apresenta no artigo 7° a orientação de que o egresso da formação inicial deverá

possuir um repertório de informações e de habilidades compostos pela pluralidade

de conhecimentos teóricos e práticos, reconhecendo, portanto, a dualidade. Por

muito tempo, evidenciou-se a Universidade como espaço para a formação teórica e

as escolas como espaço para a prática, sobretudo nos momentos dos estágios, de

duração insuficiente, realizados no final dos cursos de licenciatura.

Sabe-se que o período inicial de contato com a docência, denominado

“choque com a realidade escolar” (HUBERMAN, 1992), é apontado como um dos

dilemas pelos quais passam os professores no início de suas carreiras profissionais.

Muitas vezes esse desafio os assusta a ponto de desestimulá-los a seguir o caminho

da docência ou até mesmo de causarem seu abandono.

A repetida queixa dos estudantes da licenciatura quanto ao distanciamento

que separa as teorias aprendidas nos cursos de formação e a realidade vivida na

sala de aula expõe o problema de o estágio curricular, na maioria das vezes, não ser

suficiente para a apreensão das complexas relações estabelecidas no espaço

escolar, visto que se exige do professor “conhecer a sua matéria, sua disciplina e

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seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da

educação e à pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua

experiência cotidiana com os alunos” (TARDIF, 2012, p. 39).

As rápidas transformações na sociedade e as novas atribuições direcionadas

às escolas e aos professores colocam em evidência os atuais modelos de formação

de professores no Brasil. Em um cenário de intensa demanda, o papel dos cursos de

licenciatura se insere como eixo central nas discussões relacionadas à formação dos

futuros professores.

Mesmo ocorrendo o entendimento de que a escola constitui um local de

desenvolvimento profissional, Saviani (2009, p. 149) destaca que nos currículos dos

cursos de licenciatura tem prevalecido um modelo no qual “a formação de

professores, propriamente dita, se esgota na cultura geral e no domínio específico

dos conteúdos da área de conhecimento correspondente à disciplina que o professor

irá lecionar”. Parece ocorrer um entendimento de que "(...) a formação pedagógico-

didática virá em decorrência do domínio dos conteúdos do conhecimento

logicamente organizado, sendo adquirida na própria prática docente ou mediante

mecanismos do tipo ‘treinamento em serviço’" (SAVIANI, 2009, p. 149). Segundo o

autor, além do domínio específico dos conteúdos, é necessário um efetivo preparo,

em que "a instituição formadora deverá assegurar, de forma deliberada e sistemática

por meio da organização curricular, a preparação pedagógico-didática, sem o que

não estará, em sentido próprio, formando professores" (SAVIANI, 2009, p. 149).

A predominância de estudos teóricos dissociados de aspecto didático

pedagógico e o distanciamento entre as IES e as escolas são exemplos da falta de

relação entre os conteúdos trabalhados nas licenciaturas com a dimensão prática da

formação, sendo isso discutido por autores que se preocupam com a inadequada

hierarquização entre a teoria e a prática, conforme estudos desenvolvidos por

Zeichner (2010), Tardif (2005 e 2012), Saviani (2009), Gatti e Nunes (2009) e

Canário (2001).

A fragmentação dos currículos não tem conseguido contemplar aspectos

formativos que ultrapassem os saberes disciplinares e os saberes específicos da

docência. Para Canário (2001, p. 40), temos vivenciado uma “revalorização

epistemológica da experiência”, que deveria se efetivar nos currículos dos cursos de

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formação de professores em um movimento de aproximação entre as IES e os

contextos reais de exercício profissional. No mesmo sentido, a necessidade de

mudança na “epistemologia na formação do professor” é corroborada por Zeichner

(2010, p. 493), referindo-se à realidade norte-americana ao apresentar que

experiências de campo nas escolas, quando articuladas com os cursos de formação,

podem ser mais efetivas na formação docente, caracterizando uma perspectiva de

valorização dos saberes presentes nas escolas, ao contrário dos atuais modelos

formativos, que apresentam uma perspectiva de sobreposição do saber acadêmico

como fonte legítima de conhecimento sobre o ensino.

Tanto os professores nas escolas de educação básica como os das IES, são

produtores de teorias, de ações e de saberes. De acordo com Tardif (2012), um dos

objetivos da formação inicial é possibilitar aos futuros professores o contato com o

ambiente escolar e com a prática profissional dos professores em exercício,

tornando-os “práticos reflexivos”. Zeichner (2010, p. 487) também coloca em

destaque a importância de articulação entre a formação nas IES e as experiências

de campo na formação inicial de professores, propondo o conceito de “terceiro

espaço”, entendido como a construção “de espaços híbridos nos programas de

formação inicial de professores que reúnem professores da Educação Básica e do

Ensino Superior, e conhecimento prático e acadêmico em novas formas para

aprimorar a aprendizagem dos futuros professores”.

A construção e o desenvolvimento de conhecimentos são potencializados

nesses espaços, assim como as possibilidades da relação entre os saberes

acadêmicos e a prática profissional acontecerem de forma mais igualitária.

Importantes contribuições para esse trabalho foram encontradas nos dados

apresentados e discutidos por Silveira (2016) ao refletir sobre suas experiências

como coordenador do PIBID Filosofia da UNICAMP no período de 2011 a 2013 e o

protagonismo da escola pública na formação de professores. Para Silveira (2016, p.

17), no desenvolvimento dos subprojetos desenvolvidos pelo Programa, “não é a

universidade que mais colabora, com a escola, mas o contrário, na medida em que

esta participa da formação dos licenciandos”. O autor sublinha a importância do

processo de interlocução vivido entre as duas instâncias formadoras tomadas pelo

PIBID.

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Concordamos com Silveira (2016) por entender que a aproximação das IES

com as escolas possibilita aos futuros professores vivenciarem a docência no

ambiente de trabalho, em um contexto dinâmico, onde são estabelecidas diversas

interações de colaboração com o professor. Corroborando o posicionamento

anterior, Vaillant e Marcelo (2012, p.94) fazem uma analogia entre o processo de

ensinar e aprender com o movimento de um rio, “[...] no qual vão confluindo

experiências, conhecimentos, situações, que se produzem em diferentes e

igualmente válidos contextos que conduzem a geração de um profissional cuja

principal característica é que ele aprende ao longo da vida”. Os autores ressaltam a

necessidade de “colaboração entre a instituição de formação e os centros

educativos”, devendo os últimos assumirem uma nova responsabilidade, “o

planejamento da formação inicial, denominada de formação inicial centrada na

escola” (VAILLANT e MARCELO, 2012, p. 96).

Cunha e Prado (2010), no trabalho intitulado Formação centrada na escola,

desenvolvimento pessoal e profissional de professores, apresentam a seguinte

definição:

“a formação centrada na escola é aquela que acontece no contexto de trabalho, privilegiando a colaboração, a interlocução sobre as práticas, as necessidades e os interesses dos professores que participam da construção e da gestão do plano de formação e são corresponsáveis pelo seu desenvolvimento” (CUNHA e PRADO, 2010, p. 102).

Mesmo a definição estando ligada à formação continuada, consideramos que

os pressupostos apresentados podem ser empregados na formação inicial,

direcionando suas intenções e proporcionando ações úteis e adequadas, sendo

importante reiterar que a formação inicial centrada na escola exige que as IES e as

escolas de Educação Básica assumam suas responsabilidades, visto que a

colaboração se efetiva a partir do estabelecimento da parceria e do enfrentamento

de dilemas, os quais são destacados por Garcia e Garcia (1998): a cultura e

linguagens distintas, a sobrecarga de tarefas, o tempo escasso dos professores e as

implicações para a identidade profissional do professor da educação básica que

assume o papel de formador. Nesse sentido, os autores ressaltam que nem todo o

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conhecimento proveniente da prática do professor é benéfico e também não se

reduz às competências técnicas (Garcia; Garcia, 1998).

Consideramos fundamental o conhecimento prático adquirido pelos

professores por meio de experiências anteriores em sala de aula. As vivências

enriquecem o conhecimento dos conteúdos, proporcionam subsídios para

exemplificar e ilustrar os assuntos abordados, ampliam as possibilidades de

desenvolvimento de atividades de análise, viabilizam o estabelecimento da relação

entre teoria e prática e a contextualização do ensino com o mundo.

Diante de tais considerações, pergunta-se: até que ponto o PIBID vem

contribuindo para aproximar os espaços da formação? Entendemos que o Programa

veem se consolidando como uma política pública que contempla maior aproximação

entre as IES e as escolas públicas, visto que

“eleva a relação entre a universidade e a escola a um novo patamar, qualitativamente superior. Por meio dele, a escola deixa de ser mera destinatária de ações extensionistas eventuais ou recebedora esporádica de estagiários de brevíssima passagem pela instituição” (SILVEIRA, 2016, p. 18).

O PIBID é um programa de formação docente que procura dar resposta a

demandas antigas da formação, visto que surge da necessidade de fortalecer a

interação entre as instituições, de repensar a dinâmica (o espaço e o tempo) e as

especificidades da profissão, possibilitando ao futuro professor relacionar teoria e

prática e vivenciar situações favoráveis e adversas. A articulação entre teoria e

prática e a aproximação entre a IES e a escola de Educação Básica constitui-se no

desafio histórico da formação docente e, neste contexto, se insere o PIBID. A partir

dos referenciais teóricos apresentados, dos fatos históricos relatados e dos

resultados que se apresentarão, concordamos com Silveira (2016, p. 41) ao dizer

“que o PIBID é a iniciativa mais interessante, original e eficaz dos últimos tempos no

campo da formação de professores”, reconhecendo o potencial formador da escola.

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2.4 Ações da Capes para a formação de professores

A Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) –

criada em 1951 -, e instituída com base na Lei 8.405 de 1992 dirigiu o processo de

consolidação e valorização da pós-graduação no Brasil e tem subsidiado o MEC na

formulação das políticas educacionais, coordenando e estimulando, mediante a

concessão de bolsas e auxílios, a formação de estudantes para a docência e para o

atendimento da demanda profissional.

No âmbito da educação básica, a CAPES assumiu recentemente novas

atribuições explicitadas na Lei n° 11.502, de julho de 2007, tendo como finalidade

Induzir e fomentar, em regime de colaboração com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal e exclusivamente mediante convênios com instituições de ensino superior públicas ou privadas, a formação inicial e continuada de profissionais de magistério, respeitada a liberdade acadêmica das instituições conveniadas, observado, ainda, o seguinte: I – na formação inicial de profissionais do magistério dar-se-á preferência ao ensino presencial, conjugado com o uso de recursos e tecnologias de educação à distância; II – na formação continuada de profissionais do magistério, utilizar-se-ão, especialmente, recursos e tecnologias de educação à distância (BRASIL, 2007).

Ao analisarmos as finalidades, evidenciamos a prioridade da formação

docente centrada no ensino à distância com vistas a contemplar a ampliação do

acesso aos cursos de magistério como forma de compensar a carência de

professores da educação básica. Outros aspectos que devem ser considerados

referem-se à desvalorização profissional e à fragilização da formação crítica e do

aprofundamento teórico devido à valorização da prática centrada na ação e no

desempenho técnico, servindo aos interesses do ensino profissionalizante.

Do ponto de vista jurídico, a Lei n° 11.273, de fevereiro de 2006 e o Decreto

n° 6.094, de abril de 2007, serviram de base para a CAPES planejar e executar suas

ações na área, visto que estabelecem, respectivamente, a concessão de bolsas de

estudo e pesquisa a participantes de programa de formação inicial e continuada de

professores para a Educação Básica e o Plano de Metas Compromisso Todos pela

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Educação que prevê o compromisso da União na formação de profissionais da

educação.

Como mencionado antes, na Introdução, com o objetivo de atender à grande

demanda estimada pela Capes e de ampliar as oportunidades de educação no setor

público e de estendê-las às populações mais distantes dos grandes centros, o MEC,

em junho de 2006, criou a Universidade Aberta do Brasil (UAB). A UAB possibilita a

cooperação entre IES públicas, governo federal e redes de estados e municípios na

oferta do ensino à distância. Além da UAB, instituiu em 2007, o Programa de Apoio

aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI),

ampliando o acesso aos cursos de graduação e contribuindo para a expansão das

licenciaturas no país.

Nos últimos anos, a Capes tem incentivado as instituições de formação de

professores a reconhecer e a valorizar as escolas públicas como espaço de

produção e de apropriação de conhecimento, tornando-as partícipes e beneficiárias

dos programas desenvolvidos. Isso pode ser constatado nos objetivos previstos

pelos programas e no relatório de gestão que compreende o período de 2009 a 2013

da Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB), o qual, por

exemplo, destaca os seguintes impactos nas escolas públicas participantes do

PIBID:

“a) incentivo à mudança e à inovação; b) elevação do desempenho dos alunos e motivação dos professores; c) elevação do IDEB; d) bolsistas Pibid como inspiração para alunos das escolas públicas que buscam cursos superiores que não estavam em seu projeto de vida; e) demanda por mais bolsistas Pibid; f) apoio a vestibulandos e preparação para o ENEM; g) uso, renovação e adequação de laboratórios de Física, Ciências, Química, Informática; h) revitalização de bibliotecas; i) feiras de ciências, mostras de literatura e outras” (BRASIL, 2013, p. 109).

Desse modo, a responsabilidade atribuída à CAPES na elaboração de

políticas públicas educacionais, em especial, em assumir a reformulação dos cursos

de licenciatura e a educação básica não tem sido um movimento tranquilo, de

consenso e de concordâncias, mas um processo de intensas discussões.

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O resgate desses embates desvela movimentos diferenciados e contraditórios

na implementação de orientações oficiais sobre ajustes curriculares, relacionados à

definição das práticas ancoradas na lógica da construção e no desenvolvimento de

habilidades e competências, no estabelecimento de disciplinas obrigatórias, na

avaliação das escolas por meio de testes e na preparação dos professores via EaD

com a instalação de computadores, datashow e outros equipamentos nas escolas.

Várias Universidades e Institutos Federais têm encontrado dificuldades na

manutenção dos repasses aos programas desenvolvidos pela CAPES, como é o

caso do PIBID, resultando em uma mobilização pelo país e nas redes sociais,

contrária às limitações orçamentárias. Apesar das inúmeras qualidades do modelo

de formação proposto inicialmente pelo Programa, as reformulações ao longo dos

editais o descaracterizam, como por exemplo, limitando a sua expansão nos

diversos cursos de licenciatura, não contemplando todos os estudantes e

caracterizando-se como uma política excludente. Nessa perspectiva, podemos citar

como exemplo os cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas e Matemática do

Campus Inconfidentes, que segundo dados da própria instituição possuíam em

2013, 202 estudantes regularmente matriculados, nos quais o PIBID contemplava

apenas 50 estudantes, ou seja, aproximadamente 25% dos licenciandos.

Os dados acima nos permitem evidenciar a necessidade de debates frente às

mudanças ocorridas ao longo dos editais, de forma a valorizar e a proporcionar a

garantia de continuidade e de expansão do Programa, constituindo-se em uma

política pública contribuinte para a formação inicial de professores.

Paralelamente às ações descritas, a Lei 11.502 de 2007 atribuiu à CAPES a

responsabilidade de estimular o magistério em todos os níveis e modalidades de

ensino e também de fomentar a formação inicial e continuada de profissionais da

educação básica. Para atender às novas responsabilidades, foram criadas duas

novas diretorias na CAPES: a Diretoria de Educação Básica e Presencial (DEB) e a

Diretoria de Educação a Distância (DED) (CLÍMACO; NEVES; LIMA, 2012).

O Decreto n° 7.692, de março de 2012, apresentou a missão da Diretoria,

caracterizada por promover, por meio da formação de professores, ações de

valorização do magistério. O Decreto também alterou o nome da Diretoria, ficando

Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica, no entanto, a sigla DEB

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foi mantida em virtude de sua consolidação nas instituições parceiras e na Capes. O

novo nome indica o objetivo da diretoria, caracterizada em “promover ações voltadas

para a valorização do magistério por meio da formação de professores” (DEB, 2013,

p.9).

Nos últimos anos, a DEB desenvolveu uma série de ações articuladas, tais

como, o plano de carreira, a gestão comprometida com o sucesso escolar em todos

os segmentos de ensino, o desenvolvimento tecnológico na escola e, ainda, a

formação inicial e continuada, articulada à progressão funcional. Assim, em busca

da excelência e considerando que a formação de professores está relacionada aos

aspectos científicos, acadêmicos, metodológicos e práticos, surgiu um grande

aparato institucional de formação docente, orientado pela perspectiva de

desenvolvimento de programas.

Partindo do princípio de que é na formação inicial do professor que começa a

qualidade da educação, a DEB fomenta quatro programas importantes, a saber: o

Programa de Consolidação das Licenciaturas (PRODOCÊNCIA), O Plano Nacional

de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), o Programa de

Licenciaturas Internacionais (PLI) e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação

à Docência (PIBID).

O PRODOCÊNCIA, criado em 2006, cujo principal objetivo é promover a

melhoria e a inovação nas licenciaturas, assumiu também o propósito de observar,

analisar e avaliar as ações de demais programas desenvolvidos pela CAPES, como

por exemplo, o Programa Novos Talentos14 e o Observatório da Educação15.

Criado em 2007, o PARFOR é destinado a professores que já atuam na rede

pública, porém sem a formação superior exigida pela LDB. Para isso, são ofertadas

turmas especiais em cursos de licenciatura16, em cursos de segunda licenciatura17 e

em cursos de formação pedagógica18.

14 Programa de Apoio a Projetos Extracurriculares: Investindo em Novos Talentos da Rede Pública para a Inclusão Social e Desenvolvimento da Cultura Científica. Apoia propostas de professores e alunos da escola da educação básica para a realização de atividades extracurriculares (no período de férias ou em horário alternativo que não interfira na frequência escolar). 15 Têm como objetivo promover uma formação comprometida com a pesquisa na área da educação, articulando pós-graduação, licenciaturas e escolas de educação básica. 16 Destinado a docentes ou tradutores intérpretes de Libras que não tenham formação superior. 17 Destinado a professores licenciados que atuem áreas distintas da sua formação inicial. 18 Destinados a docentes ou tradutores intérpretes de Libras graduados não licenciados.

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Com o intuito de possibilitar uma formação de professores em um percurso

diferenciado em relação àqueles ofertados nas instituições brasileiras, foi lançado,

pela Capes, em 2010, por meio da Diretoria de Relações Internacionais (DRI), o

Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI) que permitiu a mobilidade

internacional de alunos da licenciatura de diferentes universidades brasileiras para

Portugal.

Conforme já informado, o PIBID, por sua vez, foi criado em 2007 tendo como

objetivo fomentar a formação inicial dos estudantes de curso de licenciatura, mais

detalhes sobre esse programa serão fornecidas na seção seguinte.

Consideramos importante ressaltar que os programas podem ser findados ou

ter suas ações limitadas a qualquer momento, como o ocorrido com a exclusão do

PARFOR e a ausência de editais do PRODOCÊNCIA. O PIBID se enquadra dentro

dos efeitos dos programas, visto que desde 2013 está desprovido da verba de

custeio. Diante de mudanças no cenário econômico e político brasileiro que se

intensificou em 2016 com o impeachment da então Presidente da República Dilma

Housseff, os participantes do PIBID estão incertos sobre a manutenção da verba ou

até mesmo para a possibilidade de término do Programa, resultando em uma grande

mobilização pelo país, caracterizada por manifestações de professores e estudantes

nas escolas e nas instituições de formação, nas redes sociais e na mídia. Nesse

sentido, “é preciso indicar o reconhecimento que se tem do PIBID como uma política

pública de formação inicial de professores, fundamental nos cursos de licenciaturas”

(FELÍCIO, 2014, pág. 431).

Saviani (2008, p. 218) ao avaliar o processo histórico de formação de

professores no Brasil, se posiciona alertando para o aligeiramento dos cursos iniciais

de professores criado pela LDB. Segundo ele, favorece um nivelamento por baixo:

É importante dizer que o quadro de mobilização dos educadores alimentou a expectativa de que, findando o regime militar, o problema da formação docente no Brasil seria mais bem equacionado. Mas a nova LDB promulgada, após diversas vicissitudes, em 20 de dezembro de 1996, não correspondeu a essa expectativa. Introduzindo como alternativa aos cursos de pedagogia e licenciatura os institutos superiores de educação e as Escolas Normais Superiores, a LDB sinalizou para uma política educacional tendente a efetuar um nivelamento por baixo: os institutos superiores de educação emergem como instituições de nível superior de segunda categoria, provendo

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uma formação mais aligeirada, mais barata, por meio de cursos de curta duração (SAVIANI, 2008 p. 218).

As ações desenvolvidas pela DEB em 2013 tiveram como foco o

fortalecimento dos programas descritos, os quais passaram a ser organizados em

eixos comuns, caracterizados: pela busca da excelência e da equidade na formação

de professores; pela integração entre instituições formadoras, escolas públicas de

educação básica e programas de pós-graduação e pela produção e disseminação

do conhecimento produzido, concretizando, assim, uma política de Estado

direcionada à formação inicial e continuada.

Em 2014, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, a CAPES publicou o

primeiro edital do Programa de Apoio à Formação de Profissionais no Campo das

Competências Socioemocionais, cujo objetivo é a melhoria da qualidade da

Educação Básica da rede pública por intermédio do desenvolvimento de projetos de

pesquisa e de inovação que possibilitem a criação de estratégias ligadas à

construção e ao desenvolvimento de competências socioemocionais aliadas à

formação de professores.

Não podemos deixar de considerar as implicações para a formação de

professores resultantes das parcerias entre o público e o privado na educação.

Entendemos que as parcerias acabam redefinindo o papel do Estado, as fronteiras

entre o público e o privado, entre os conteúdos das políticas públicas de educação,

reorganizando os processos de gestão, os quais passam a ter a lógica do mercado.

Em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), a DEB também desenvolve dois programas com finalidade de

divulgação científica: o Programa de Apoio à Feira de Ciências e Mostras

Científicas, cujo objetivo é estimular os estudantes dos ensinos fundamental, médio

e técnico a seguir carreiras científico-tecnológicas. Da mesma forma, o Programa de

Apoio as Olímpiadas Científicas busca divulgar e despertar nos jovens as vocações

científicas.

Tomando como pressuposto o respeito às características locais e regionais, a

autonomia das instituições formadoras e dos diferentes segmentos de ensino, os

princípios estruturantes de formação de professores fomentada pela DEB se pautam

por integração entre as instituições formadoras, escolas e programas de pós-

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graduação, articulação entre ensino, pesquisa e extensão, articulação entre

conhecimento, competências, atitudes e ética e conexão entre teoria e prática, a

qual aparece como questão central a ser trabalhada no âmbito da formação docente

(CARVALHO e SIMÕES, 2002).

Conforme já informado, o PRODOCÊNCIA se apresenta como uma ação da

CAPES com o objetivo de valorizar a formação dos profissionais do magistério da

educação básica e de reconhecer sua relevância social. A primeira edição do

Programa foi lançada em 2007 (Edital MEC/SESU nº 05/2007) e a segunda em 2008

(Edital MEC/CAPES/DEB nº 02/2008). Depois disso, ocorreram mais duas edições -

em 2010 (Edital MEC/CAPES/DEB nº 28/2010) e em 2013 (Edital MEC/CAPES/DEB

n°19/2013), incluindo não apenas instituições federais e estaduais, mas todas as

Instituições Públicas de Ensino Superior. O Programa busca implementar ações

definidas nas DCNs de formação dos professores para a educação básica,

financiando projetos por meio de editais específicos que:

a) contemplem novas formas de gestão institucional e proponham a renovação da estrutura acadêmica e curricular dos cursos; b) desenvolvam experiências metodológicas e práticas docentes de caráter inovador com inserção da tecnologia nos processos de ensino e aprendizagem dos futuros docentes; c) proponham a cooperação entre unidades acadêmicas que visem melhorar a qualidade da formação docente; d) integrem a educação superior com a educação básica, e efetivem a relação teoria-prática; e) implementem novas propostas curriculares para a formação de professores, visando a melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem seja no presencial ou à distância; f) incorporem resultados para a superação de problemas identificados nas avaliações feitas em cursos de Licenciatura em projetos e sistemas de avaliação realizados pela Capes ou MEC (BRASIL, 2012).

Portanto, com a implementação do Programa, espera-se que os projetos

invistam nas análises dos cursos de formação de professores para a educação

básica e desenvolvam propostas para a solução de problemas e de fragilidades

encontradas.

Consideramos que os projetos mencionados anteriormente procuram trazer

contribuições para a valorização das instituições formadoras, dos professores da

educação básica e, consequentemente, para a construção de um país democrático e

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mais socialmente desenvolvido. Todas essas iniciativas no campo da formação de

professores indicam ações do governo federal com o intuito de impactar os cursos

de licenciatura existentes.

Paralelamente às ações desenvolvidas, os dados do Censo Escolar

disponibilizados pelo INEP revelaram que, em 2009, havia 638.800 professores da

educação básica sem a formação mínima exigida. Assim, nesse mesmo ano, foi

formulado no âmbito da CAPES/MEC, o PARFOR, o qual integra o Plano de Ações

Articuladas (PAR) do governo federal. Foi desenvolvido um conjunto de ações entre

o governo federal, as IES públicas e as secretarias de educação de estados e

municípios para ministrar cursos superiores e de formação aos docentes em serviço.

Diante do cenário descrito, a CAPES recomendou que as licenciaturas

fossem ofertadas preferencialmente em cursos presenciais conjugados com o auxílio

das tecnologias a distância. De acordo com Moran (2009), que problematiza o

processo de ensino-aprendizagem mediado pelo uso das tecnologias, essa

modalidade de educação é efetivada por meio do intenso uso de tecnologias de

informação e de comunicação (TIC), podendo ou não apresentar momentos

presenciais.

O Relatório de Gestão de 2009 a 2013 da DEB mostra que o PARFOR, na

modalidade presencial, apresentou uma evolução em seu processo de

institucionalização. Em 2009, o número de matriculados era de 4.273 professores e

o Programa encerrou o ano de 2013 com 70.220, caracterizando “um exemplo do

compromisso da Capes com equidade, redução de assimetrias e crescimento

inclusivo do Brasil” (BRASIL, 2013, p.11).

Atualmente, o ES está organizado em diferentes enquadramentos, seguindo

critérios: administrativos (públicas e privadas); acadêmicos (universidades, centros

universitários, institutos federais de educação, ciência e tecnologia - IFETS);

faculdades; institutos superiores de educação e centros de educação e tecnologia);

formacionais (cursos de graduação: bacharéis, licenciados e tecnólogos, pós-

graduação lato sensu e stricto sensu e extensão) (FAVRETTO e MORETTO, 2013).

Considerando que a profissionalização docente está relacionada à Política

Nacional de Educação caracterizada por planejar e por implementar as ações de

formação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios e que, na

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última década, vários movimentos foram efetivados no sentido de repensar a

formação dos profissionais da educação básica, Dourado (2015) apresenta um

estudo sobre as novas DCNs, tomando por base o Parecer CNE/CP 02/2015,

aprovado pelo Conselho Pleno do CNE em 09 de junho de 2015, e homologado pelo

MEC em 24 de junho de 2015, destacando-se os seguintes marcos legais: a

Constituição Federal (CF) de 1998, a LDB, o Plano Nacional de Educação

(2014/2024) e as deliberações das Conferências Nacionais de Educação (CONAE

2010 e 2014). No que tange às deliberações da CONAE 2010 e 2014, merece

destaque a reafirmação de uma base comum nacional para a formação inicial e

continuada por meio de uma concepção de formação pautada tanto pelo

desenvolvimento de sólida formação teórica e interdisciplinar em educação de

crianças, adolescentes, jovens e adultos(as) e nas áreas específicas de

conhecimento científico quanto pela unidade entre teoria e prática e pela

centralidade do trabalho como princípio educativo19 na formação profissional, como

também pelo entendimento de que a pesquisa se constitui em princípio cognitivo e

formativo e, portanto, eixo nucleador dessa formação (DOURADO, 2015, p. 301).

Com o objetivo de nortear as ações que serão desenvolvidas no período de

10 (dez) anos, em 2014, foi aprovada a Lei n° 13.005/2014 referente ao Plano

Nacional de Educação (PNE). A Lei é constituída por 20 metas, além de estratégias

que incidem na Educação Básica e no Ensino Superior, base para a formação inicial

e continuada dos professores. É importante salientar a participação, o amplo estudo

e as discussões de diferentes representantes dos segmentos educacionais nas

conferências municipais, estaduais e nacional, em especial, nos aspectos

relacionados à formação docente.

Assim como Dourado (2015), consideramos que as metas 12, 15, 16, 17 e 18

estão diretamente relacionadas à formação inicial e continuada dos profissionais da

educação.

Uma das metas estabelecidas na diretriz (meta 15) refere-se à garantia em

regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,

19 Refere-se ao trabalho como princípio educativo na perspectiva teórica de Gramsci. É um princípio que o autor retoma da escola humanista, cujo objetivo era desenvolver em cada indivíduo a capacidade de saber pensar e de dirigir-se na vida. O conceito e o fato de o trabalho ser seu princípio educativo porque considera a relação dos homens entre si, que cria os diferentes tipos de sociedade, as leis, a política, o governo, o Estado, bem como a relação do ser humano com a natureza.

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no prazo de 1 (um) ano de vigência do PNE, política nacional de formação dos

profissionais da educação, assegurando que todos os professores e as professoras

da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em

curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. Entre as estratégias

para consolidar a referida meta estão previstas ações para

15.1) atuar, conjuntamente, com base em plano estratégico que apresente diagnóstico das necessidades de formação de profissionais da educação e da capacidade de atendimento, por parte de instituições públicas e comunitárias de educação superior existentes nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e defina obrigações recíprocas entre os partícipes; 15.2) consolidar o financiamento estudantil a estudantes matriculados em cursos de licenciatura com avaliação positiva pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES [...]; 15.3) ampliar programa permanente de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar no magistério da educação básica; 15.4) consolidar e ampliar plataforma eletrônica para organizar a oferta e as matrículas em cursos de formação inicial e continuada de profissionais da educação, bem como para divulgar e atualizar seus currículos eletrônicos; 15.6) promover a reforma curricular dos cursos de licenciatura e estimular a renovação pedagógica, de forma a assegurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a), dividindo a carga horária em formação geral, formação na área do saber e didática específica e incorporando as modernas tecnologias de informação e comunicação [...]

É possível constatar, pelas metas estabelecidas no PNE, que existe uma

política voltada para dentro das instituições de formação (Universidades e Institutos

Federais) e muito pouco da atuação do professor em processo formativo no campo

de atuação profissional, ou seja, a escola de educação básica. Tal fato nos remete à

Resolução do CNE, a qual define as DCNs para a formação inicial em nível superior

e para formação continuada. No Artigo 2°, parágrafo 1° do referido documento, a

docência é definida como

ação educativa e como processo pedagógico intencional e metódico, envolvendo conhecimentos específicos, interdisciplinares e pedagógicos, conceitos, princípios e objetivos da formação que se desenvolvem na construção e apropriação dos valores éticos, linguísticos, estéticos e políticos do conhecimento inerentes à sólida formação científica e cultural do ensinar/aprender, à socialização e construção de conhecimentos e sua inovação, em diálogo constante entre diferentes visões de mundo (BRASIL, 2015).

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Pode-se constatar que, nesse parágrafo, está descrita uma série de ações

esperadas pelos professores que parece pertinente e importante. Porém, justamente

por pretenderem abarcar uma multiplicidade de variáveis e dar conta de responder

às demandas históricas da formação, tais diretrizes se perdem na abrangência que

intencionam abarcar. Assim, o que temos visto acontecer é a vivência da dualidade

teoria/prática, didática versus conteúdo.

Como eixo de reflexão às indagações apresentadas, a referida Resolução

apresenta os princípios da formação inicial e continuada de profissionais do

magistério da educação básica, caracterizados por:

I. Sólida formação teórica e interdisciplinar dos profissionais; II. A inserção dos estudantes de licenciatura nas instituições de educação básica da rede pública de ensino, espaço privilegiado da práxis docente; III. O contexto educacional da região onde será desenvolvido; IV. Atividades de socialização e avaliação dos impactos; V. Aspectos relacionados a ampliação e ao aperfeiçoamento do uso da língua portuguesa e à capacidade comunicativa, oral e escrita, como elementos fundamentais da formação dos professores e à aprendizagem de Libras; VI. Questões socioambientais, éticas, estéticas e relativas a diversidade étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional e sociocultural como princípios de equidade (BRASIL, 2015).

Nesse sentido, não podemos desconsiderar que, durante várias gerações de

alunos e de professores, o acesso ao conhecimento ocorreu de forma fragmentada,

resultando na formação de uma geração profissional em que a especialização foi

tida como a excelência do saber, cujo foco era estudar e se aprofundar cada vez

mais para um foco específico, o que: (a) torna mais difícil pensar na realização da

interdisciplinaridade como “uma postura a ser assumida do que ações a serem

desenvolvidas” (FAZENDA, 1991); (b) unidade teoria-prática, enfatizando que não

basta somente o domínio dos conteúdos específicos, ou seja, necessários também

conhecimentos relacionados aos aspectos cognitivos presentes nos processos de

ensino-aprendizagem; (c) Trabalho coletivo e interdisciplinar, enfatizando que as

experiências da profissão docente são coletivas, sobretudo no espaço da formação

inicial e temos como pressuposto que as possibilidades de ações coletivas são

ampliadas pelo PIBID; (d) Compromisso social e valorização dos profissionais da

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educação; (e) Gestão democrática, estabelecendo que qualquer professor da

educação básica pode ser gestor de uma unidade escolar, não sendo mais uma

prerrogativa somente para o pedagogo. Tal fato remete à necessidade de os cursos

de formação propiciarem minimamente ao licenciando o contato com aspectos da

gestão educacional.

Outro aspecto presente na Resolução do CNE de 2015 refere-se à garantia

de Base Nacional Curricular Comum (BNCC), ressaltando a concepção de educação

como um processo emancipatório e permanente, reconhecendo a especificidade do

trabalho docente que conduz à práxis como expressão da articulação entre teoria e

prática, considerando a realidade dos ambientes das instituições educativas da

educação básica e da profissão. Nessa direção, as características e dimensões da

iniciação à docência, tais como uma formação que contemple os conhecimentos

teóricos e práticos, de pesquisa, de gestão e éticos, deve ser considerada pelas

instituições formadoras.

O discurso curricular oficial tem preconizado a necessidade da centralização

curricular e neste sentido, o dossiê “Políticas de Currículo ou Base Nacional Comum:

debates e tensões”, organizado por Macedo e Frangella (2016) apresenta os pontos

de vista de autores de diferentes instituições nacionais e internacionais sobre a

BNCC. Os dados presentes no dossiê revelam que os países que adotaram a

centralização curricular não apresentaram melhores desempenhos em razão disso e

que essas políticas foram orientadas para promover o controle e aumentar a

produtividade dos docentes, comprometendo os princípios da democratização e do

reconhecimento das diferenças no cotidiano escolar.

Em seu artigo 9°, a Resolução do CNE de 2015, define que os cursos de

formação inicial para os profissionais do magistério para a educação básica em nível

superior, compreendem: I. Cursos de graduação de licenciatura; II. Cursos de

formação pedagógica para graduados não licenciados; III. Cursos de segunda

licenciatura. Em complemento, o referido artigo estabelece que as formas de

desenvolvimento da formação inicial, articuladas às políticas de valorização e às

prescrições nacionais, são de responsabilidade da instituição formadora, tendo em

conta a formação do profissional do magistério, preferencialmente, de modo

presencial, com elevado padrão acadêmico, científico, tecnológico e cultural, para o

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exercício da docência e da gestão educacional na educação básica. Nesse sentido,

percebe-se que a formação inicial se aplica àqueles que pretendem exercer as

atividades do magistério da educação básica, as quais compreendem além da

docência, aspectos relacionados à gestão educacional.

Essa formação inicial proposta na Resolução do CNE valoriza a identidade de

curso de licenciatura e a diversidade e autonomia das instituições formadoras,

devendo para tanto valer-se dos núcleos descritos no artigo 9°:

I. Núcleo de estudos de formação geral, das áreas específicas e interdisciplinares, e do campo educacional, seus fundamentos e metodologias, e das diversas realidades educacionais; II. Núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos das áreas de atuação profissional, incluindo os conteúdos específicos e pedagógicos priorizadas pelo projeto pedagógico das instituições, em sintonia como os sistemas de ensino; III. Núcleo de estudos integradores para enriquecimento curricular (BRASIL, 2015).

No que se refere à estrutura e ao currículo dos cursos de formação inicial, a

Resolução estabelece no artigo 15° a necessidade de garantia dos conteúdos

específicos da respectiva área de conhecimento, relacionados aos fundamentos da

educação, à formação na área de políticas públicas e à gestão da educação, a

direitos humanos, a diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa

geracional, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a direitos educacionais de

adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. Tais

prescrições remetem à importância da relação teoria e prática no desenvolvimento

da matriz curricular, como por exemplo, ao considerar a relevância, as

especificidades e as possibilidades de articulação do estágio supervisionado com a

prática como componente curricular (PCC), presente no Projeto Pedagógico dos

cursos (PPC).

É importante salientar que a formação inicial de professores estrutura-se por

meio da garantia de base comum nacional das orientações curriculares,

constituindo-se no mínimo, 3.200 (três mil e duzentas) horas de efetivo trabalho

acadêmico, em cursos com duração de, no mínimo, 8 (oito) semestres ou 4 (quatro)

anos, sendo:

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I. 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, distribuídas ao longo do processo formativo; II. 400 (quatrocentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado, na área de atuação e formação na educação básica, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto de curso da instituição; III. pelo menos 2.200 (duas mil e duzentas) horas dedicadas às atividades formativas estruturadas pelos núcleos I e II, conforme o projeto de curso da instituição; IV. 200 (duzentas) horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos estudantes, como definido no núcleo III, por meio da iniciação científica, da iniciação à docência, da extensão e da monitoria, entre outras, conforme o projeto de curso da instituição (BRASIL, 2015).

Ainda estabelece que a valorização dos profissionais do magistério articula-se

entre formação inicial, formação continuada, carreira, salários e condições de

trabalho, sinalizando que compete aos sistemas de ensino e às instituições a

garantia de políticas de valorização, tais como a implementação de plano de carreira

e de condições adequadas de trabalho.

Por ordem, a DED desenvolve tais ações com o uso da metodologia da

educação à distância, gerenciando o Sistema UAB, que oferta cursos de licenciatura

em diversos polos, o PARFOR a distância para professores em exercício nas redes

públicas de educação e o apoio aos Mestrados Profissionais em Rede Nacional, cujo

público-alvo são professores de Ensino Fundamental e Médio em serviço.

Como delineamos ao longo do texto, consideramos que os elementos aqui

apresentados, referentes à política nacional para a formação dos profissionais da

educação, sinalizam para a melhoria e para a maior organicidade no processo

formativo ao longo dos anos. Entretanto, constatamos que somente parte dos

programas desenvolvidos pela DEB baseiam-se na aproximação entre a

universidade e a escola de educação básica, entre os quais, está o PIBID. Outros

aspectos sinalizados referem-se à necessidade de se desenvolver projetos com

identidade própria em consonância com o Plano de Desenvolvimento Institucional

(PDI), o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e o Projeto Pedagógico do Curso

(PPC). No entanto, conforme alerta Dourado (2015), faz-se necessário, entre outros,

o estabelecimento das diretrizes curriculares nacionais para a carreira e para a

garantia de novos recursos, visando ao cumprimento de 10% do Produto Interno

Bruto (PIB) para a educação brasileira.

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Após apresentar os aspectos históricos recentes referentes às políticas de

formação inicial dos professores no Brasil, chegamos, finalmente, ao PIBID, foco do

estudo.

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3. O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

Estudos desenvolvidos por Cunha (2010), Tardif (2012) e Marcelo Garcia

(2006; 2011) apresentam as dificuldades enfrentadas durante a inserção profissional

dos professores, caracterizada pela necessidade de conhecimentos sobre o

desenvolvimento cognitivo e afetivo dos estudantes, pela carência de conhecimentos

didático pedagógicos, pelo distanciamento com os professores experientes e pelas

formas de relacionar-se com a comunidade escolar. O início da docência

compreende uma fase de “tensões e aprendizagens intensivas em contextos

geralmente desconhecidos e durante o qual os professores iniciantes devem adquirir

conhecimento profissional além de conseguir manter certo equilíbrio pessoal”

(MARCELO GARCIA, 2006 p. 7).

Os autores convergem no sentido de que as experiências vivenciadas podem

ter repercussões positivas e negativas, chegando a desestimular o professor na

carreira docente. As frustrações, as tensões e as inseguranças encontradas, aliadas

aos altos índices de abandono da profissão, levam-nos ao entendimento de que os

cursos de licenciatura não têm obtido êxito na preparação dos professores para sua

inserção nas escolas. Nesse sentido, o processo de inserção do profissional é mais

um desafio a ser enfrentado pelas políticas públicas de formação.

Entendendo que o incentivo à formação é uma das formas de melhoria da

qualificação dos docentes, a Portaria n° 38 de 2007 instituiu o PIBID por meio de

uma ação conjunta do Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de

Ensino Superior (SESU), e da Capes, se configurando como uma iniciativa para

“fomentar a iniciação à docência de estudantes das instituições federais de

educação superior e preparar a formação de docentes em nível superior, em curso

presencial de licenciatura de graduação plena, para atuar na educação básica

pública” (BRASIL, 2007), indo ao encontro das demandas já sinalizadas pelas

resoluções do CNE e pela LDB.

No PIBID, os alunos de licenciatura desenvolvem atividades pedagógicas em

escolas públicas de Educação Básica, buscando a aproximação entre a instituição

formadora e a escola, espaços defendidos por Mizukami (2002) como agências

formadoras da docência. O Programa concede bolsas aos estudantes acadêmicos

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integrados (professores em formação inicial); aos professores supervisores das

escolas públicas (professores em exercício na escola parceira), que supervisionam

as atividades dos licenciandos; para os coordenadores de área (professores da

instituição de formação responsáveis pelo desenvolvimento do subprojeto); para os

coordenadores institucionais (docentes das IES), responsáveis perante a Capes pelo

acompanhamento das atividades previstas no projeto da instituição.

Dessa forma, o PIBID estimula a parceria entre a escola e a instituição

formadora com o objetivo de atuar no desenvolvimento profissional do futuro

professor, de bolsistas de licenciatura, por meio das ações dos coordenadores de

área e de professores supervisores, como é ilustrado na figura a seguir (BRASIL,

2013):

Figura 1: Pibid: Desenho do Programa Fonte: Relatório de Gestão PIBID, 2013.

Coordenador

Institucional

Licenciando

Coordenador

de área

Supervisores

Instituições

formadoras

Escolas públicas

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O conjunto de subprojetos de distintos cursos de licenciatura integram o

projeto institucional o qual é submetido à análise da CAPES de acordo com a

abertura de editais.

O PIBID pode ser considerado um programa que ajuda a diminuir “as

tensões” vivenciadas no ambiente escolar. Seus princípios e objetivos concordam

com as propostas de Nóvoa (2003), ao afirmar que a Universidade tem um papel

importante na formação do professor, mas as experiências e as reflexões delas

advindas acontecem na escola. Assim, a Universidade assume a função de

mediadora entre os conhecimentos produzidos por suas pesquisas (conhecimento

científico), os pelos estudantes licenciandos e pelos sujeitos da escola.

Entendemos que a organização do PIBID constitui os “terceiros espaços”

defendido por Zeichner (2010), diminuindo a distância entre a teoria e a prática, ao

estabelecer parcerias entre as instituições de formação de professores e as escolas

da educação básica.

Observa-se na Portaria n° 38, de 12 de dezembro de 2007, que a proposta

visava à formação de docentes para atuarem nas áreas de conhecimento com maior

ausência de professores do Ensino Médio e no Ensino Fundamental,

respectivamente, na seguinte ordem: licenciatura em física, química, matemática e

biologia e licenciatura em ciências e matemática.

Em atendimento à referida Portaria, em dezembro de 2007, foi realizada a

primeira chamada pública do PIBID (Edital MEC/CAPES/FNDE n° 1/2007) para a

seleção pública de propostas de projetos de iniciação à docência. Poderiam

participar Instituições Federais de Ensino Superior e Centros Federais de Educação

Tecnológica20 que possuíssem cursos de licenciatura e que estivessem firmando

convênio com as redes de educação básica pública.

No artigo 3º da Portaria n° 38, há a indicação de que “parte do período do

estágio de iniciação à docência deverá ser cumprida em escolas com baixos índices

de desenvolvimento da educação básica (IDEB)21 e em escolas com baixas médias

20 São instituições de ensino superior, básico e profissional advindos da transformação da maioria dos Centros Federais de Educação Tecnológicas (CEFET) em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, pela Lei 11.892/2008. 21 O índice de desenvolvimento da Educação Básica foi criado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira em 2007 e reúne em um só indicador o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações.

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no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), caracterizando um duplo objetivo do

Programa, conforme afirmam Carvalho e Quintero (2013). Compreendemos que a

vinculação do PIBID ao IDEB e ao ENEM deva ser um objetivo secundário do

Programa, alcançado a partir do objetivo principal, caracterizado pela atuação e

formação dos bolsistas nas escolas.

Reconhecemos a importância de mecanismos confiáveis de verificação de

rendimento escolar para o estabelecimento de políticas educacionais e entendemos

que o IDEB não deva ser utilizado como único critério de avaliação e de

responsabilização da escola pela qualidade da educação, sendo necessário

problematizar aspectos como a formação, a valorização e a jornada de trabalho dos

professores.

O edital de 2009 (Edital CAPES/DEB n° 2/2009) contemplou também

propostas de IES estaduais.

No ano de 2010, foram lançados dois editais. O primeiro (Edital CAPES n°

18/2010) possibilitou a ampliação de participação das instituições de Educação

Superior, incluindo as instituições comunitárias sem fins lucrativos e as municipais

que assumissem “o compromisso de manter as condições de qualificação,

habilitação e idoneidade necessárias ao cumprimento e execução do projeto, no

caso de sua aprovação” (BRASIL, 2010). O segundo (Edital conjunto

CAPES/SECAD-MEC 2/2010 – PIBID Diversidade) foi dirigido a projetos relativos à

educação indígena e do campo.

As condições estabelecidas no edital do ano seguinte (Edital CAPES

n°1/2011) limitaram as propostas às IES públicas: estaduais ou federais,

inviabilizando os avanços contemplados no edital anterior, caracterizados pela

possibilidade de participação dos Centros Universitários filantrópicos, confessionais

e comunitários. O edital de 2012 (Edital CAPES n° 11/2012) retomou a possibilidade

de participação de IES sem fins econômicos.

No ano de 2013, foram lançados dois editais: o primeiro (Edital PIBID n°

61/2013) também contemplou propostas de IES privadas com fins lucrativos e o

segundo do PIBID Diversidade (Edital PIBID Diversidade n° 66/2013), destinou-se às

IES públicas e privadas sem fins lucrativos. O primeiro edital de 2013 enfatiza a

ampliação do Programa, afirmando que “serão oferecidas cerca de 72.000 bolsas a

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alunos dos cursos de licenciatura e professores das instituições de Ensino Superior

e das escolas da rede pública de ensino”. Podemos destacar que, desde o primeiro

Edital, o PIBID expandiu consideravelmente sua abrangência, conforme dados do

DEB que mostram a quantidade de bolsas do Programa concedidas no período de

2007 a 2014.

Tabela 1 – Total de bolsas concedidas pelo PIBID no período de 2007 a 2014.

Bolsista 2007 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Iniciação à Docência 2.326 8.882 2.441 10.526 18.221 70.192 70.192

Coordenadores institucionais, de área de gestão educacional e de

área

259 557 165 1.039 1.241 5.514 5.514

Supervisor 503 1.167 414 1.727 2.941 11.354 11.354

Total 3.088 10.606 3.020 13.292 22.403 87.060 87.060

Fonte: Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica (DEB).

Podemos destacar nos editais que o fomento à Iniciação à Docência

materializa-se nas propostas construídas pelas IES, capazes de promover a

articulação integrada do ensino superior com a educação básica; promover a

melhoria da qualidade da educação básica; proporcionar aos licenciandos a

participação da prática docente no cotidiano das escolas públicas; fomentar

experiências didático- metodológicas de caráter inovador que se orientem para a

superação de problemas identificados no processo ensino-aprendizagem (BRASIL,

2010, art. 3º). A avaliação externa do PIBID, desenvolvida pelas pesquisadoras Gatti

e André (2013), destaca:

Que o Pibid vem possibilitando, na visão de todos os envolvidos com sua realização, um aperfeiçoamento da formação inicial de docentes para a educação básica. Em particular destacamos a apreciação dos Licenciandos que participam deste Programa os quais declaram reiteradamente em seus depoimentos como o Pibid está contribuindo fortemente para sua formação profissional em função de propiciar contato direto com a realidade escolar nos inícios de seu curso, contato com a sala de aula e os alunos, possibilitando-lhes conhecer de perto a escola pública e os desafios da profissão docente. (GATTI, B.; ANDRÉ, M., 2013 apud BRASIL, 2013).

Os projetos implementados em 2014 fazem parte dos editais da CAPES n°

61/2013 e n° 66/2013, que previam o prazo de execução de até 48 meses e a

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concessão de recurso de custeio anual para desenvolver as ações dos projetos

institucionais em todo o país. Na prática, aconteceu de os projetos iniciados em

2014 terem recebido a primeira metade do recurso de custeio no mesmo ano e a

segunda metade no ano de 2015. Os projetos aprovados por editais no ano de 2015

sofreram um ajuste nas cotas, reduzindo o número de bolsistas nas IES.

A CAPES publicou no Diário Oficial da União em sua edição de 15 de abril de

2016 a Portaria n°46 para reger as regras do Programa. A referida Portaria provocou

uma verdadeira confusão nas IES devido às alterações nas diretrizes norteadores,

as quais impactavam a formação dos professores ao estabelecer que “as IES que

não aderirem às novas regras do PIBID e não assinarem o termo de adesão terão o

financiamento do projeto institucional vigente encerrado em junho de 2016”

(BRASIL, 2016).

O artigo 22 da Portaria 46 também conferia atribuições ao Sistema de Ensino

da Educação Básica sem ao menos consultá-lo sobre o desenvolvimento das ações,

caracterizadas em:

“I – articular-se com as IES para viabilizar o desenvolvimento do projeto e a criação de grupos de estudo e pesquisa formada por professores do Sistema de Ensino Básico; II – selecionar os bolsistas de supervisão, observando os seguintes critérios mínimos: ser professor do Sistema de Ensino Básico, preferencialmente efetivo; possuir grau em licenciatura; possuir experiência em supervisão; III – garantir que as escolas apoiadas possuam as condições mínimas para o funcionamento do PIBID, tais como: espaço para a realização das atividades, estudantes a serem atendidos e profissionais para prestar apoio para o desenvolvimento do projeto na sistematização, registro e acompanhamento das ações na escola; IV – submeter a instância estadual de gestão para a alfabetização e letramento a relação dos supervisores selecionados para o PIBID para a homologação” (BRASIL, 2016).

Além, de restringir as licenciaturas e as áreas de atuação, a referida Portaria

previa profundas alterações nas diretrizes norteadores, alterando o papel do

supervisor, que perdeu seu status de professor formador para se formar um

administrador do trabalho em várias escolas, gerando o comprometimento das

ações relacionadas à formação inicial da docência.

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Desde então, os problemas se intensificaram entre o Fórum Nacional dos

Coordenadores Institucionais do PIBID (FORPIBID)22 e o MEC/CAPES, gerando um

movimento em defesa do Programa em todo o país, o que resultou na publicação de

uma nova Portaria (CAPES n° 84/2016), a qual revogou a Portaria anterior (CAPES

n° 46/2016).

22 O FORPIBID é constituído pelos coordenadores das IES com o objetivo de atuarem na interlocução entre os coordenadores dos projetos e a CAPES.

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4. O PIBID no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

No município de Inconfidentes – MG, o IFSULDEMINAS assume o PIBID, em

três edições (2011, 2013 e 2015), como um programa institucional que contribui com

a formação inicial de professores em seus cursos de licenciaturas, a saber: Ciências

Biológicas e Matemática. Suas ações buscam, por um lado, fortalecer a integração

entre ensino, pesquisa e extensão – no que diz respeito à formação inicial e

continuada de professores. Por outro lado, procura valorizar o cotidiano da escola

pública, reconhecendo-o como uma instância formadora para os licenciandos; para

os professores que já exercem a docência nas escolas públicas selecionadas; bem

como para os professores que lecionam no curso de licenciatura do Campus, que

terão a oportunidade de, a partir da participação no cotidiano da escola básica,

melhorar qualitativamente, o processo de formação inicial de professores.

4.1 Histórico do IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

Os processos produtivos vivenciados no Brasil na primeira década do século

XX, resultantes de acontecimentos históricos como a abolição da escravatura, a

proclamação da república, a expansão do capitalismo e a industrialização, deram

início à formação de novas relações produtivas que objetivavam a implementação do

trabalho assalariado e a maior qualificação do trabalhador.

Diante desse cenário, surgiu a demanda de reformulação e de expansão do

sistema educacional brasileiro com vistas à formação qualificada para o trabalho nas

indústrias, o que se efetivou a partir de 1909 por meio de decretos federais23. Foi

nas primeiras décadas do século XX que o Patronato Agrícola Visconde do Mauá

(atual Campus Inconfidentes) foi criado, tendo sua origem em 28 de fevereiro de

23 Decreto n° 7.566, de 23 de setembro de 1909 que previa a criação das Escolas de Aprendizes Artífices, para o ensino profissional primário e gratuito; Decreto n° 8.319, de 20 de outubro de 1910 que estabeleceu a criação e o regulamento do Ensino Agronômico; Decreto n° 12.893 de 28 de fevereiro de 1918 que autorizava a criação de patronatos agrícolas.

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1918, por meio do Decreto nº 12.893, nove anos após a criação da primeira Escola

Agrícola no Brasil.

Figura 2: Localização do Campus Inconfidentes em Minas Gerais.

A partir do decreto supracitado, foram criadas quatro unidades, sendo duas

no estado de Minas Gerais (nos municípios de Inconfidentes e Caxambu), uma no

Estado de São Paulo (no atual município de Iaras) e uma no Estado de Santa

Catarina (no município de Anitápolis).

Com o objetivo de compreender a origem e a evolução do Campus

Inconfidentes, Bresci (2017) produziu a tese intitulada Origem e evolução do

IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes: qual o princípio pedagógico? De acordo

com a autora, os patronatos “tinham um caráter higienista, que visavam a educar

para a moral e para o trabalho, jovens que viviam ao léu da vida e que, com certeza,

partiriam para a delinquência (BRESCI, 2017, p. 36)” e no intuito de utilizar as

estruturas físicas e organizacionais, os patronatos foram criados onde já existiam

núcleos coloniais. No caso do Campus Inconfidentes, o núcleo pertencia à cidade de

Ouro Fino – MG.

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Figura 3: Primeira turma 1918 – Fonte: Acervo Digital IFSULDEMINAS – Campus

Inconfidentes.

No início de 1950 ocorreu a alteração na nomenclatura da instituição,

passando de “Escola de Iniciação Agrícola Visconde de Mauá” para “Escola Agrícola

Visconde de Mauá”, atraindo alunos de outros estados do país. Para Bresci (2017,

pág. 45), “na prática foi apenas uma mudança de nomenclatura”, diferentemente das

alterações ocorridas em 1964, quando, juntamente com a nova denominação

“Ginásio Agrícola Visconde de Mauá”, a instituição enfrentou as consequências do

regime ditatorial.

De acordo com Bresci (2017), entre os anos 1977 e 1979, o Ginásio Agrícola

passou por modificações gradativas “a fim de extinguir a formação ginasial, abrindo

espaço para a formação de nível médio técnico”, tornando-se Escola Agrotécnica

Federal de Inconfidentes “Visconde de Mauá”.

Segundo consta no histórico da instituição, disponível na página oficial do

Campus, a elevação do Instituto à categoria de Escola agrícola resultou no

desenvolvimento de projetos agropecuários, por meio da organização das atividades

profissionais, sendo ofertados cursos extracurriculares não só aos alunos, mas aos

fazendeiros da comunidade. Nesse mesmo período, desenvolveu-se o sistema

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Escola-Fazenda, destacando-se a implantação da Cooperativa-Escola como elo

entre a escola e o mercado consumidor. Como instrumentos complementares,

desenvolveram-se os sistemas de monitoria e de estágio supervisionado, porém,

Com todas as mudanças pelas quais passou, a referida instituição conservou muito de sua forma de trabalhar com os alunos no que diz respeito à disciplina rígida, aos trabalhos no campo aos finais de semana, à formação de mão de obra para trabalho, às aulas práticas dissociadas das aulas teóricas (BRESCI, 2017, p. 49).

Nos anos de 1990, foram feitas reformulações curriculares no ensino agrícola,

a partir das quais, o curso Técnico Agrícola foi subdividido em quatro novos cursos:

Técnico em Agropecuária, em Agricultura, em Zootecnia e em Agroindústria.

Também foram criados cursos Técnicos em Informática e Técnico em Agrimensura.

Em 2004, o Instituto finalizou o projeto do Curso Superior de Tecnologia em

Gestão Ambiental, o qual foi autorizado pela comissão do MEC. No ano de 2006, foi

autorizado o curso superior de Tecnologia em Agrimensura e criado o curso de

inclusão social, com o objetivo de ofertar educação àqueles que não puderam

completar o Ensino Médio, implantando então o curso Técnico em Administração

integrado ao Ensino Médio, na modalidade PROEJA (Programa Nacional da

Integração da Educação Profissional com a Educação Básica, na Modalidade de

Jovens e Adultos).

Em 2008, por meio da Lei n° 11.892, a EAFI de Inconfidentes/MG passou a

denominar-se Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas

Gerais, Campus Inconfidentes.

Figura 4: Prédio principal do IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes. Fonte: Arquivo escolar IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes s/d.

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Vale ressaltar que o IFSULDEMINAS surgiu com a unificação de três Escolas

Agrotécnicas localizadas nos municípios mineiros de Inconfidentes, de Machado e

de Muzambinho. Atualmente, as unidades físicas dos IFSULDEMINAS se distribuem

em seis campi: Inconfidentes, Machado, Muzambinho, Passos, Poços de Caldas,

Pouso Alegre, além dos Campus avançados de Carmo de Minas e de Três

Corações, estando a Reitoria instalada no município de Pouso Alegre.

Figura 5: Localização dos Campi IFSULDEMINAS

Compartilhamos da preocupação de Bresci (2017), ao observar a opção pelo

modelo de Instituto Federal a partir da ideia de um modelo “híbrido de atividades

educacionais”, uma vez que diferentes segmentos de ensino estão presentes em

uma única instituição. Porém, como enfatizado pela autora:

tal constituição também traz algumas preocupações, seu hibridismo deixa uma lacuna na questão formativa, uma vez que conjuga no mesmo local níveis e modalidades diferentes. Isso se torna um problema quando se olha na questão da formação do professor que atua nessas instituições. Boa parte tem níveis de escolarização dos mais altos, o que deveria ser um fator de ampliação da qualidade, mas nem sempre o é, uma vez que muitos docentes nunca trabalharam com Ensino Médio e se veem obrigados, por força da carreira e pela estrutura dos IFs, a trabalharem em dois ou em até três níveis de ensino, muitas vezes sem se quer ter a formação de licenciados (BRESCI, 2017, p. 53).

. . . . . .

PASSOS

MUZAMBINHO

POÇOS DE CALDAS

MACHADO

INCONFIDENTES

POUSO ALEGRE

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No Campus Inconfidentes, foco deste estudo, são ofertados cursos nas

seguintes modalidades: Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio: Técnico em

Agrimensura, Técnico em Agropecuária, Técnico em Alimentos e Técnico em

Informática; Ensino Superior: Licenciatura em Ciências Biológicas, Licenciatura em

Matemática, Tecnologia em Gestão Ambiental, Tecnologia em Redes de

Computadores; Bacharelado em: Engenharia Agronômica, Engenharia de

Agrimensura e Cartográfica e em Engenharia de Alimentos; Pós-Graduação Lato

Sensu em Educação Infantil e em Gestão Ambiental; Cursos Técnicos a Distância

(EaD) em Administração e em Informática para a Internet.

A missão do IFSULDEMINAS expressa no PDI24 (2014 – 2018) é “promover a

excelência na oferta da educação profissional e tecnológica, em todos os níveis,

formando cidadãos críticos, criativos, competentes e humanistas, articulando ensino,

pesquisa e extensão e contribuindo para o desenvolvimento sustentável do Sul de

Minas Gerais”. Entre seus objetivos, está o de ministrar, em nível de educação

superior, cursos superiores de licenciatura e programas especiais de formação

pedagógica para formar professores de educação profissional e de educação básica,

sobretudo nas áreas de ciência e matemática (reserva de 20% das vagas para esse

fim). Assim, caracterizaremos o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do

IFSULDEMINAS e o Projeto do PIBID desenvolvido no curso.

4.2 Caracterização do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do

IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

O Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFSULDEMINAS, Campus

Inconfidentes, foi aprovado em maio de 2010 e teve seu início no segundo semestre

do mesmo ano. A portaria que trata do reconhecimento do curso foi publicada no

Diário Oficial da União, na edição de 30 de junho de 2015. As aulas acontecem no

24 Por exigência do Ministério da Educação as IES têm que elaborar o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). O artigo 16, do Decreto n° 5.573 de 09 de Maio de 2006, estabelece algumas orientações para a elaboração de tal documento. O PDI identifica a Instituição quanto a sua filosofia de trabalho, missão, educação, objetivos, metas e ações. Assim, para a elaboração desse plano, as instituições precisam refletir sobre o seu passado, seu presente e seu futuro, identificando aspectos positivos e negativos. O primeiro plano do IFSULDEMINAS vigorou no período de 2009 a 2013 e o atual valerá de 2014 até 2018.

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período noturno e o curso tem um período de quatro anos (8 períodos) para as

turmas que ingressaram entre os anos 2010 e 2016. A partir de 2017, a duração do

curso passou para quatro anos e meio (9 períodos).

A forma de ingresso é por meio de vestibular e/ou Sistema de Seleção

Unificado (SISU), sendo realizada somente uma entrada anual (no início do ano).

Nos primeiros anos de funcionamento (2010, 2011, 2012 e 2013), foram admitidos

30 alunos, sendo que a partir de 2014 o número de ingressantes anuais aumentou

para 40 alunos. O egresso do curso não está autorizado a exercer as mesmas

atividades do bacharel, embora as experiências profissionais como professor da

disciplina Introdução ao Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, ministrada no

primeiro módulo, revelem que alguns estudantes ingressam no curso com a

perspectiva de se tornarem bacharéis.

Revendo o histórico do curso, destacamos que as reformulações curriculares

ocorreram cinco vezes, resultando em Projetos Pedagógicos referentes aos anos

2010, 2012, 2013, 2014 e o atual, aprovado no final de 2016, para os estudantes

ingressantes a partir de 2017.

O quadro de professores efetivos, específico da área da Biologia é composto

por sete professores, sendo três doutores: um em educação, um em biociências e

um em entomologia; dois doutorandos em educação; dois mestres: um em biologia

celular e um em desenvolvimento e tecnologias sociais. Além dos professores da

área específica, três professoras efetivas da área de Educação atuam no curso,

sendo duas doutoras e uma com mestrado. Deve-se ressaltar que 14 disciplinas são

ministradas por professores de outras áreas (Português, Matemática, Química,

Física, Geologia, Inglês e Libras) lotados no Campus. Além de ministrar as

disciplinas de sua responsabilidade, alguns professores desenvolvem outros

projetos, tanto de pesquisa, quanto de extensão, como o Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e o PIBID.

No tocante à formação dos licenciandos em Ciências Biológicas, destacamos

alguns espaços educativos presentes no Campus, a saber, a biblioteca, o museu de

história natural e os laboratórios: interdisciplinar de formação de educadores (LIFE),

de zoologia e coleções biológicas, de anatomia humana, de biologia celular, de

botânica/ecologia, de química, de informática e as salas de reuniões do PIBID.

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Se comparadas ao currículo anterior à reformulação, a releitura do documento

indica haver algumas mudanças significativas, das quais participei como vice

coordenador do curso. Chamo a atenção para três alterações marcantes nesse

processo de reestruturação curricular: o atendimento às determinações

estabelecidas pela Resolução CNE n° 2, de 01 de julho de 2015; a realocação de

disciplinas com vistas a garantir uma melhor sequência e articulação entre os

conteúdos, resultando em um currículo mais equilibrado; a ampliação do tempo de

conclusão do curso para quatro anos e meio diante de distintas dificuldades, em

especial, das demonstradas pelos estudantes em conciliar as disciplinas, o estágio

supervisionado e a produção do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC).

Tabela 2 – Matriz Curricular do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas.

DISCIPLINAS PERÍODO N° DE AULAS

SEMANAIS

N° DE AULAS ATIVIDADE

TEÓRICA

N° DE AULAS PRÁTICA

COMO

COMPONENTE CURRICULAR

CARGA HORÁRIA

Filosofia da Educação

4 68 12 66h40m

Etologia 2 34 06 33h20m

Introdução ao curso de Licenciat. em C. B. 2 34 06 33h20m

Anatomia Humana 2 34 06 33h20m

Fundamentos da Matemática 2 40 00 33h20m

História da Educação I 2 34 06 33h20m

História das Ciências Naturais 2 34 06 33h20m

Biologia Celular 4 68 12 66h40m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Sociologia da Educação

4 68 12 66h40m

História da Educação II 2 34 06 33h20m

Leitura e Produção de Textos 2 40 00 33h20m

Evolução I 2 34 06 33h20m

Zoologia I 2 34 06 33h20m

Introdução à Física 2 40 00 33h20m

Morfologia Vegetal I 4 68 12 66h40m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Educação Inclusiva

2 34 06 33h20m

Morfologia Vegetal II 4 68 12 66h40m

Física Aplicada às Ciências Biológicas 2 40 00 33h20m

Genética Clássica 4 68 12 66h40m

Zoologia II 4 68 12 66h40m

Psicologia da Educação 4 68 12 66h40m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Didática Geral 4º

4 68 12 66h40m

Teorias Pedagógicas 4 68 12 66h40m

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Sistemática Vegetal 4 68 12 66h40m

Química Geral 2 34 06 33h20m

Iniciação à Pesquisa I 2 40 00 33h20m

Inglês Instrumental 2 40 00 33h20m

Laboratório de Química Geral 2 34 06 33h20m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Microbiologia

4 68 12 66h40m

Zoologia III 2 34 06 33h20m

Políticas I 2 34 06 33h20m

Organização e Gestão Escolar 2 34 06 33h20m

Histologia Animal 4 68 12 66h40m

Química Orgânica 2 34 06 33h20m

Evolução II 2 34 06 33h20m

Geologia e Pedologia 2 34 06 33h20m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Fisiologia Vegetal

4 68 12 66h40m

Fundamentos da Estatística 2 40 00 33h20m

Estágio Supervisionado em Ciências I 2 40 00 33h20m

Políticas II 2 34 06 33h20m

Práticas do Ensino de Ciências 2 34 06 33h20m

Ecologia I 4 68 12 66h40m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Estatística Aplicada

2 40 00 33h20m

Prática do Ensino de Biologia 2 34 06 33h20m

Bioquímica 4 68 12 66h40m

Embriologia Animal 4 68 12 66h40m

Biologia molecular 2 34 06 33h20m

Estágio Supervisionado em Biologia I 2 40 00 33h20m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Bioética

2 34 06 33h20m

Educação Ambiental 2 34 06 33h20m

Imunologia 2 34 06 33h20m

Subjetividade, Pós Modernidade e Cotidiano

Escolar 2 34 06 33h20m

Libras 2 40 00 33h20m

Novas Tecnologias Aplicadas na Educação 2 34 06 33h20m

Fisiologia Animal 2 34 06 33h20m

Estágio Supervisionado em Ciências II 2 40 00 33h20m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Iniciação à Pesquisa II

2 40 00 33h20m

Ecologia II 2 34 06 33h20m

Paleontologia 2 34 06 33h20m

Parasitologia 2 34 06 33h20m

Educação, Gênero e Sexualidade 2 34 06 33h20m

Estágio Supervisionado em Biologia II 2 40 00 33h20m

Atividades Acadêmico Científico Culturais 25h

Fonte: PPC (2016).

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No curso, a prática como componente curricular é entendida como eixo de

preparação, aparecendo desde o início da formação dos futuros professores nas

seguintes disciplinas ofertadas no 1° período: Filosofia da Educação, Etologia,

Introdução ao Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Anatomia Humana,

História da Educação, História das Ciências Naturais e Biologia Celular.

A prática, como componente curricular, ocorre no interior de 41 disciplinas

ofertadas nos períodos subsequentes, totalizando 400 horas, sendo desenvolvidas a

partir de procedimentos de planejamento, de observação direta, de realização de

seminários, de análise e de elaboração de objetos de aprendizagem e de reflexão do

estudante, visando ao desenvolvimento de competências exigidas na profissão. As

situações problemáticas pedagógicas ou escolares com as quais o estagiário se

depara no ambiente escolar são entendidas como elemento de fundamental

importância, sendo articulada à teoria durante as aulas das disciplinas de Estágio

Supervisionado em Ciências I e II e Estágio Supervisionado em Biologia I e II,

conforme veremos a seguir.

Quanto aos conteúdos, a matriz curricular classificou-os em 6 núcleos, a

saber: fundamentos educacionais; fundamentos filosóficos e sociais; biologia celular,

molecular e evolução; diversidade biológica; ecologia e fundamentos das ciências

exatas e da terra.

Uma série de estudos (PIMENTA, 2002 e 2012; TARDIFF, 2012; LIMA, 2012)

sobre a formação inicial do professor tem procurado refletir sobre a relação entre

teoria e prática, entre as instituições de formação e as escolas de educação básica

durante a realização dos Estágios Curriculares Supervisionados, tendo em vista que

este componente curricular visa à ambientação dos estudantes em seu futuro local

de trabalho.

4.3 O Estágio Supervisionado Obrigatório no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas

No curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFSULDEMINAS Campus

Inconfidentes, o Estágio Obrigatório é dividido em quatro disciplinas a partir do 6°

período do curso, totalizando 400 horas, distribuídas em 200 horas nos anos finais

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do Ensino Fundamental (Ciências) e 200 horas no Ensino Médio (Biologia). Assim,

observamos que a carga horária do estágio contempla a exigência da Resolução

CNE n° 2, de 01 de julho de 2015. De acordo com o PPC (2016, p. 106), “o estágio

deverá ocorrer em escolas de educação básica, preferencialmente públicas e

gratuitas, em regime de colaboração entre o IFSULDEMINAS e as escolas da redes

de ensino da região”.

Atualmente, a supervisão do Estágio está sob responsabilidade de dois

professores do curso, os quais atendem entre noventa e cem estudantes

anualmente. Nesse sentido, consideramos ser um problema a quantidade

expressiva de estagiários para a supervisão de dois professores e temos como uma

das possibilidades a ampliação de supervisores e a redistribuição das tarefas,

formando-se grupos de um supervisor para aproximadamente quinze estagiários.

Entendemos que essa medida possibilitará estabelecer um melhor relacionamento

entre a instituição formadora e as escolas que recebem os estagiários, fortalecendo

os vínculos profissionais e as trocas de experiências.

As disciplinas de Estágio Supervisionado em Ciências I, Estágio

Supervisionado em Biologia I, Estágio Supervisionado em Ciências II e Estágio

Supervisionado em Biologia II, são ministradas respectivamente no 6°, 7°, 8° e 9°

períodos, conforme os ementários apresentados a seguir:

Quadro 1 – Ementário das disciplinas de Estágio Supervisionado EMENTÁRIO – ESTÁGIO SUPERVISIONADO

6° PERÍODO 7° PERÍODO 8° PERÍODO 9° PERÍODO

Cooperação entre instituto e escolas parceiras do estágio. Legislação, procedimentos e documentos relacionados ao estágio. Leitura crítica da realidade escolar no nível fundamental de ensino e de seu entorno. Inserção crítica e reflexiva dos futuros professores no ambiente escolar no nível fundamental de ensino. Desenvolvimento de uma postura reflexiva e crítica com relação aos saberes escolares e seu ensino no nível fundamental de ensino.

Leitura crítica da realidade escolar no nível médio de ensino e de seu entorno. Inserção crítica e reflexiva dos futuros professores no ambiente escolar no nível médio de ensino. Desenvolvimento de uma postura reflexiva e crítica com relação aos saberes escolares e seu ensino no nível médio de ensino.

Construção de práticas educativas críticas e reflexivas em Ciências. Desenvolvimento de uma profissionalidade reflexiva e investigativa da própria prática educativa. Planejamento, execução e análise crítico-reflexiva de atividades didáticas que tenham em vista aprendizagem significativa. Uso de materiais e recursos didáticos diversificados no ensino de Ciências. Pesquisa sobre o ensino e a aprendizagem em Ciências.

Construção de práticas educativas críticas e reflexivas em Biologia. Desenvolvimento de uma profissionalidade reflexiva e investigativa da própria prática educativa. Planejamento, execução e análise crítico-reflexiva de atividades didáticas que tenham em vista aprendizagem significativa. Uso de materiais e recursos didáticos diversificados no ensino de Biologia. Pesquisa sobre o ensino e a aprendizagem em Biologia.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do PPC (2016).

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Com relação ao desenvolvimento do Estágio, observamos, ao analisar as

ementas, que no sexto semestre, durante a disciplina de Estágio Supervisionado em

Ciências I, os alunos são inseridos em escolas que oferecem os anos finais do

Ensino Fundamental, enquanto a inserção no Ensino Médio acontece no sétimo

semestre. Em ambos os semestres, o foco é a observação do contexto escolar e das

práticas docentes por parte dos estudantes, caracterizados “pela leitura crítica da

realidade escolar”. Já as possibilidades de regência, se efetivam no oitavo e no nono

semestres por meio do “planejamento, execução e análise crítico reflexiva de

atividades didáticas”.

Compete aos estagiários encontrar escolas para efetivar suas atividades

enquanto os professores de ciências e de biologia das escolas de Educação Básica

são responsáveis pelo acompanhamento e pela avaliação dos estagiários. Os

estudantes têm a possibilidade de complementar as horas de Estágio, cumprindo

atividades, como por exemplo, a participação em diferentes espaços da escola para

além da sala de aula: reuniões pedagógicas, de planejamento e de pais, conselhos

de classe, feiras de ciências e participação no PIBID, conforme expresso no PPC:

os licenciandos participantes do PIBID poderão ter redução da carga horária do estágio curricular supervisionado até o máximo de 100 horas para cada nível de ensino (fundamental e médio) de acordo com o nível de atuação do Programa de que participam (PPC, 2016, p. 107).

Alguns problemas, como a dificuldade de realização do Estágio durante a

jornada diária de trabalho dos alunos e a distância entre os conhecimentos

adquiridos e a realidade encontrada nas escolas impactam na efetivação do Estágio

e nas possibilidades de reflexão sobre a vivência escolar. O TCC pode resultar de

uma pesquisa que aborde qualquer tema possível dentro da abrangência das

Ciências Biológicas. Nesse aspecto, atuando como professor das disciplinas de

Iniciação à Pesquisa, tenho constatado que a maioria dos estudantes desenvolve

seus trabalhos em áreas específicas da Biologia. Uma análise mais atenta dessas

escolhas sugere que grande parte dos estudantes não se interessa pela área da

educação, resultando em poucas produções relacionadas a suas vivências na

escola enquanto estagiário ou até mesmo como participante do PIBID.

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Conforme veremos nos resultados e nas discussões, o reconhecimento da

existência de problemas sobre a realização do Estágio Supervisionado no curso é

citado pelos professores coordenadores do Programa e pelos estudantes bolsistas.

O que se espera é que esse estágio, planejado e acompanhado, propicie a

construção e o desenvolvimento de conhecimentos didáticos pedagógicos, com

vivência de situações reais de planejamento de ensino e de dinâmicas da sala de

aula, bem como da avaliação de aprendizagens (GATTI, 2011, p. 131). Diante

desses dilemas, a coordenação do curso tem proporcionado ao Núcleo Docente

Estruturante (NDE), ao Colegiado, aos professores e estudantes, reuniões e

assembleias destinadas à reformulação do PPC.

Buscamos apresentar um pouco do curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas, dando destaque para a forma com que o Estágio está configurado.

Esperamos que essa breve apresentação permita ao leitor ter uma noção de como

este está estruturado, e assim possa compreender, a partir dos resultados e das

discussões, as influências do PIBID no curso.

4.4 O PIBID no IFSULDEMINAS e no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Campus Inconfidentes

No ano de 2011, o IFSULDEMINAS iniciou sua participação no PIBID, com o

objetivo de incentivar o licenciando a atividades que proporcionassem a reflexão

sobre a prática, incluindo participação em eventos científicos e a produção e

apresentação de trabalhos. A oportunidade oferecida pela Capes contemplou o

Instituto com 60 bolsas destinadas aos estudantes dos cursos de licenciatura. A

remuneração percebida pela bolsa, sem dúvida, mostrava-se como mais um

incentivo. A proposta foi feita por professores dos Campi de Inconfidentes e de

Machado. Cada Campus apresentou dois subprojetos, conforme dados

apresentados na tabela abaixo:

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Tabela 3: Caracterização do PIBID no IFSULDEMINAS – Editais 2011

Campus

Área

Bolsas de Iniciação à docência

Bolsas de Supervisão

Bolsas de coordenação de

área

Inconfidentes Ciências Biológicas

10 02 01

Inconfidentes Matemática 10 02 01

Machado Ciências Biológicas

20 02 02

Machado Computação 20 02 02

Fonte: Elaborada pelo autor.

Segundo informações fornecidas pela coordenadora institucional, as

principais razões que levaram o IFSULDEMINAS a participar do PIBID se deve a

dois fatos. Primeiro, que na época havia poucos editais relacionados à formação de

professores e, segundo, que foi vislumbrado por meio do Programa a possibilidade

de as licenciaturas se estabelecerem em uma instituição reconhecidamente agrícola,

pouco próxima ao mundo escolar.

Ao longo do desenvolvimento do PIBID, nos referidos campi e em seus

respectivos cursos, o IFSULDEMINAS vislumbrou a possibilidade de ampliação do

Programa, lançando novos editais no ano de 2013, resultando em 6 (seis)

subprojetos, caracterizados a seguir:

Tabela 4: Caracterização do PIBID no IFSULDEMINAS – Editais 2013

Campus

Área

Bolsas de Iniciação à docência

Bolsas de Supervisão

Bolsas de coordenação

de área

Níveis de atuação

Inconfidentes Ciências Biológicas

26 04 02 Ensino Fundamental

Inconfidentes

Matemática

12

02

01

Ensino Fundamental e Ensino Médio

Machado

Ciências

Biológicas

24

04

02

Ensino Fundamental e Ensino Médio

Machado Informática 22 04 02 Ensino Fundamental

Muzambinho

Ciências

Biológicas

22

04

02

Ensino Fundamental e Ensino Médio

Muzambinho

Educação

Física

24

04

02

Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Os dados revelam que pelo menos 130 estudantes do IFSULDEMINAS foram

contemplados com bolsas de iniciação à docência em editais relacionados ao

Programa a partir de 2013, dos quais: 38 (30%) no Campus Inconfidentes; 46 (35%)

no Campus Machado e 46 (35%) no Campus Muzambinho.

De acordo com a primeira coordenadora de área do subprojeto Ciências

Biológicas no Campus Inconfidentes, foco deste estudo, a possibilidade de

participação no edital 2011 surgiu logo após os cursos de licenciatura em ciências

biológicas e matemática terem sido criados no Campus. Naquele momento, ela

juntamente com outras professoras, constituíam o grupo mais próximo da formação

docente e, pelas formações e experiências, sentiram-se na obrigação de escrever

um projeto e de participar do edital, assim como a coordenadora institucional,

vislumbraram que o PIBID poderia fortalecer os cursos de licenciatura em uma

instituição sem tradição na formação de professores.

O curso já contou com dois subprojetos encerrados (2011 e 2013) e desde

2015 desenvolve o terceiro, os quais foram coordenados pelos professores

entrevistados nesta pesquisa.

O subprojeto da área de Ciências Biológicas no Campus Inconfidentes, conta

atualmente com 23 licenciandos, também chamados “Pibidianos”, que cumprem

uma carga horária de 20 horas semanais, sendo orientados por três professoras

supervisoras que são docentes em escolas públicas localizadas nos municípios de

Ouro Fino e Inconfidentes e por três professores coordenadores de área, sendo que

um atua de forma colaborativa.

O subprojeto tem como tema a Alfabetização Científica (AC), entendida como

estratégia capaz de contribuir com as mudanças que são necessárias ao ensino de

Ciências na educação básica brasileira, vindo ao encontro de estudos

(DELIZOICOV, 2001; FOUREZ, 2003; SASSERON e CARVALHO, 2011) que

destacam a importância da AC na sociedade contemporânea, tanto para a

preparação de futuros cientistas, quanto para a formação de cidadãos atuantes e

críticos diante das questões ambientais, tecnológicas e sociais resultantes do

processo de globalização. Consideramos importante ressaltar que, na literatura

brasileira, o conceito de Alfabetização Científica apresenta uma pluralidade de

nomenclaturas, sendo tratado por alguns autores (SANTOS; MONTIMER, 2000)

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como “Letramento Científico” e, por outros (CARVALHO; TINOCO, 2006), como

Enculturação Científica, no entanto, conforme relata Souza e Sasseron (2012), as

preocupações dos autores convergem para o fato de o ensino de Ciências estar

pautado no desenvolvimento do pensamento científico e na resolução de problemas.

No ano de 2013, as intervenções se desenvolveram em duas escolas, ambas

localizadas no município de Ouro Fino – MG. Desde 2015, as intervenções do

subprojeto acontecem em três escolas, sendo duas localizadas no município de

Inconfidentes e uma, no município de Ouro Fino.

O relatório de atividades desenvolvidas e dos resultados alcançados em 2014

pelo subprojeto indica que mais de 90% das ações planejadas foram realizadas. O

quadro a seguir apresenta uma síntese das atividades e dos resultados do

subprojeto do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas no ano de 2014.

Quadro 2 – Ações e resultados do subprojeto do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Campus Inconfidentes.

OBJETIVO DA

ATIVIDADE

DESCRIÇÃO

SUSCINTA DA

ATIVIDADE

RESULTADOS ALCANÇADOS

Reunião de

apresentação do

subprojeto nas

escolas parceiras.

No mês de março de

2014, ocorreram as

apresentações dos

objetivos e

características do

subprojeto bem como

as atribuições dos

coordenadores, das

supervisoras e dos

alunos bolsistas nas

escolas parceiras.

Estabelecimento de uma boa relação entre

os envolvidos no subprojeto e aproximação

do IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

com as escolas parceiras, sendo

enumerados os direitos e deveres de cada

modalidade de bolsa, os documentos que

regulamentam o Programa e seus objetivos

e as formas de avaliação das ações

desenvolvidas.

Reuniões semanais

com os

coordenadores,

supervisores e

alunos bolsistas

para estudo e

planejamento das

atividades.

As reuniões ocorriam

às sextas-feiras das 13

às 17 horas para

reflexão das atividades

desenvolvidas nas

escolas parceiras.

As reuniões foram importantes para

identificar e debater as concepções dos

bolsistas sobre o ensino de ciências. As

concepções dos bolsistas a respeito da

Ciência e de seu ensino se ampliaram e

estabeleceram as bases para suas

intervenções junto aos alunos da educação

básica. Foi identificado que a ação deve

continuar sendo trabalhada, uma vez que

as concepções distorcidas sobre a Ciência

são muito comuns e enraizadas.

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Visitas a espaços e

eventos culturais

Visita dos bolsistas e

alunos de educação

básica ao Planetário de

Campinas – SP e visita

dos bolsistas e alunos

de educação básica ao

Zoológico de São

Paulo – SP.

Possibilitaram aos bolsistas vivenciar novas

experiências culturais e conhecer

diferentes espaços que trabalham os

conteúdos relativos às Ciências de forma

diferenciada. Essas oportunidades

ampliaram o repertório dos bolsistas com

relação a diferentes espaços, além da sala

de aula, onde podem ser desenvolvidas

atividades de alfabetização científica.

Realização de feira

de Ciências

Realização de feira de

ciências nas escolas

parceiras.

Foram importantes para dar visibilidade ao

subprojeto nas escolas e no

IFSULDEMINAS; para estimular o

interesse, a curiosidade e a motivação dos

alunos da educação básica para a

aprendizagem em Ciências; para melhorar

a autoestima dos bolsistas de iniciação à

docência com relação aos resultados de

seu trabalho junto aos alunos.

Desenvolvimento,

teste de material

didático nas escolas

Essa atividade

envolveu pesquisa

sobre materiais para o

ensino de Ciências;

sobre planejamento e

intervenções

pedagógicas junto aos

alunos da educação

básica; elaboração de

materiais de ensino;

discussões sobre os

resultados alcançados

e redação de portfólios

reflexivos.

Permitiu aos bolsistas de iniciação à

docência desenvolverem uma série de

conhecimentos relativos à docência, tais

como: identificar o interesse dos alunos por

temas científicos; motivá-los para a

realização das atividades de alfabetização

científica; identificar as dificuldades dos

alunos no desenvolvimento das atividades;

pesquisar e adaptar propostas e materiais

de ensino; avaliar o desempenho dos

alunos; identificar potencialidades e

limitações das intervenções realizadas;

planejar intervenções; relacionar-se com

alunos da educação básica.

Estímulo à produção

do conhecimento

científico.

Utilização de textos de

divulgação científica

nas intervenções

pedagógicas junto aos

alunos da educação

básica.

Os bolsistas de iniciação à docência

identificaram as dificuldades relacionadas à

leitura e à escrita dos alunos de educação

básica participante. A partir desse

diagnóstico, buscaram forma de estimular o

desenvolvimento dessas habilidades por

meio de leitura de textos de divulgação

científica. Nessa atividade, os bolsistas

perceberam as dificuldades para encontrar

textos interessantes e compreensíveis

pelos alunos, para manter os alunos

motivados na leitura e discussão destes

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textos, para contextualizar a leitura dos

textos em atividades significativas e com

sentido para os alunos.

Apresentação de

trabalhos

desenvolvidos no

subprojeto.

Participação em

eventos: Congresso

Ibero-Americano de

Ciência, Tecnologia,

Inovação e Educação e

no V ENALIC e IV

Seminário Nacional do

PIBID.

Foram significativos para o

desenvolvimento da escrita científica e para

a socialização das ações desenvolvidas

pelos subprojetos do IFSULDEMINAS e de

outras instituições de formação docente.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Relatório das atividades desenvolvidas e resultados alcançados – IFSULDEMINAS, 2014 (Documentos disponibilizados pela Instituição).

De acordo com o quadro apresentado, é possível identificar que o Programa

tem contribuído para a aproximação da IES com as escolas parceiras, bem como

para o envolvimento dos coordenadores e dos estudantes nas atividades de

planejamento, de desenvolvimento e de avaliação das ações didático-pedagógicas,

vivenciando o cotidiano escolar. Apresentaremos a seguir as características dos

sujeitos pesquisados, constituídos pela coordenadora institucional, por dois

professores coordenadores do subprojeto e por onze estudantes bolsistas25.

4.5 Caracterização dos coordenadores participantes do PIBID Ciências Biológicas no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

A Coordenadora Institucional doravante referida por (CI) é a gestora do

Programa em uma Instituição de Ensino Superior. Entre suas principais atribuições,

estão o acompanhamento das atividades previstas no projeto, o estabelecimento de

diálogo com a rede pública de ensino, a seleção dos coordenadores de área, o uso e

a prestação de contas dos recursos solicitados.

No IFSULDEMINAS, a CI é Mariana, graduada em Pedagogia, com Mestrado

e Doutorado na área da Educação, com enfoque na formação de professores.

Trabalha no IFSULDEMINAS, Campus Machado, desde 2009, lecionando no curso

de Licenciatura em Ciências Biológicas e Licenciatura em Computação, ministrando

as disciplinas Filosofia da Educação, Práticas de Ensino e Metodologia Científica.

25 Os nomes utilizados para designar os colaboradores desta pesquisa são fictícios e a data corresponde ao dia de realização da entrevista.

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Quadro 3: Formação acadêmica e atuação profissional da coordenadora institucional do PIBID no IFSULDEMINAS

COORDENADORA INSTITUCIONAL

GRADUAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO CURSOS EM QUE

ATUA NO IFSULDEMINAS

Mariana Pedagogia

Mestrado e Doutorado em

Educação: Formação de professores

Licenciatura em Ciências Biológicas e

Licenciatura em Computação

Fonte: Construído pelo autor a partir da entrevista.

Mariana atua no PIBID desde 2011, ano em que foi coordenadora de gestão

e, a partir de 2013, assumiu a coordenação institucional. Sua aproximação com o

PIBID ocorreu devido ao fato de vislumbrar a possibilidade de solidificar os cursos

de licenciatura nos Campi e as possibilidades de ampliar as pesquisas em

educação, conforme relata em sua entrevista:

A CI enfatiza que, apesar de ter avançado, um dos fatores que dificultam o

estabelecimento da relevância da formação de professores no IFSULDEMINAS está

ligado ao aspecto cultural das antigas escolas agrotécnicas e que tal entendimento

sobre essa nova função do instituto necessitará de tempo. A herança deixada por

uma instituição marcadamente técnica acaba por influenciar a mentalidade do corpo

docente e do modus operandi. É o que constatou, entre alguns de seus achados, o

estudo de Oliveira (2011) sobre um projeto integrado no Instituto Federal de Santa

Catarina (IFSC). A instituição, por ter se constituído apenas pela formação técnica

dos alunos, apresentava várias dificuldades para se estabelecer como formadora

A licenciatura em uma instituição praticamente agrícola, com foco na agricultura, é um

desafio. Na época, havia poucos editais e não conseguíamos aprovar projetos. Os

professores consideravam que a pesquisa na educação não era aplicada, não gerava

patente, algo em que os cursos de agronomia e alimentos estavam interessados. Quando li

o edital do PIBID, constatei que este projeto é o que estávamos precisando no Campus [...]

Hoje, todos os Campi sabem do que se trata o Programa e estão interessados em

participar (Coordenadora Institucional Mariana, 20/05/2016).

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pedagógica para os estudantes. A proposta de um projeto integrado entre seu corpo

docente apresentou como uma forma de enfrentamento desse desafio.

Apesar de destacar que no início ocorreram algumas resistências por parte

dos professores da educação básica que não participavam do Programa, Mariana

considera que as parcerias bem sucedidas entre o IFSULDLEMINAS e as escolas

trouxeram boas consequências para os envolvidos no Programa. Ela afirmou ter

visitado todas as escolas atendidas, ter conversado com a direção, com a

supervisão e não ter tido nenhum posicionamento de negação nos estabelecimentos

das parcerias; ao contrário, sempre ocorreu o desejo de as escolas participarem.

Como exemplo, ela afirma que algumas escolas que não foram contempladas em

editais anteriores têm buscado informações para participar do Programa.

Eu acredito que as conversas sobre as contribuições do PIBID estão acontecendo dentro

das reuniões das escolas. Isso nos leva a considerar que as ações do professor supervisor

e dos bolsistas foram bem desenvolvidas. É um trabalho que está sendo bem visto pela

comunidade da escola pública (Coordenadora Institucional Mariana, 20/05/2016).

Esse fragmento da fala da CI reforça a importância do PIBID no estreitamento

e no fortalecimento da relação entre as IES e as escolas de Educação Básica e

entre a teoria e a prática, rompendo as formas hierárquicas entre as instituições e

constituindo, conforme proposto por Canário (2001), uma “revalorização

epistemológica da experiência”.

Mariana afirmou receber algumas críticas, vindas de participantes do

Programa, relacionadas à necessidade de acompanhar mais de perto o

desenvolvimento dos subprojetos. Para ela, uma das dificuldades vivenciadas

refere-se ao fato de os Campi estarem distantes um do outro, o que levou as

coordenações (institucional e de área) a desenvolver “uma gestão compartilhada”.

Apesar de o projeto ser institucional, os subprojetos acabam tendo características

específicas de cada Campus, sendo isso natural e dependendo da formação de

quem está coordenando. Segundo ela, existe a necessidade de se efetivar a

interdisciplinaridade entre os subprojetos e entre os campi, visto que existem

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“algumas tentativas que precisam ser consolidadas”, como por exemplo, a

realização de um encontro das licenciaturas e do PIBID para ocupar um espaço

maior dentro da Instituição.

Tivemos dificuldades para realizar um trabalho interdisciplinar. Falar de interdisciplinaridade

é muito fácil, mas manter isso no cotidiano é muito difícil. Por estar geograficamente

distantes, o trabalho interdisciplinar entre os campi é dificultado, mas também não

conseguimos realizar a interdisciplinaridade entre os projetos desenvolvidos em cada

Campus. Embora existisse um discurso de realizar atividades coletivas entre os subprojetos,

na hora da efetivação tivemos dificuldades em articular as ações (Coordenadora

Institucional Mariana, 20/05/2016).

Segundo Mariana, existem limitações para a realização de reuniões

presenciais, como por exemplo, a definição de datas e de horários em que todos

possam participar devido às atribuições dos professores. Segundo ela, é realizada

pelo menos uma reunião presencial a cada semestre entre os coordenadores e,

quando existe a necessidade de esclarecimento de dúvidas ou dificuldades, são

realizadas reuniões por vídeo-conferência, além do encontro institucional que ocorre

anualmente, durante o qual os envolvidos no desenvolvimento dos subprojetos

expõem o andamento dos trabalhos.

A instituição procura apoiar o desenvolvimento das atividades do Programa,

fornecendo aos eventos que unem os subprojetos dos cursos. Em particular, em

relação a esses eventos, Mariana destacou “que todos os campi quando solicitados

colaboram na questão de deslocamento, como por exemplo, a realização dos

encontros institucionais”. Paes (2017), ao pesquisar o estágio supervisionado no

Instituto Federal Fluminense Campus Campos Goytacazes, embora não tenha

focado o PIBID, enumerou o apoio e a realização de eventos acadêmicos pelos

Institutos como uma iniciativa bastante profícua para consolidar práticas

institucionais que visem se aproximar da comunidade em geral.

A coordenadora institucional não deixou de reforçar, ao dizer de suas

expectativas futuras com relação ao PIBID no final da entrevista, que gostaria que o

Programa não permanecesse como uma política de governo e, sim, efetivado como

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uma política pública, reforçando, assim, o que outro trabalho (FELÍCIO, 2014), já

mostrou.

O Coordenador de Área (CA) é o gestor do subprojeto PIBID na IES. Até o

ano de 2016, os subprojetos do curso de Ciências Biológicas no Campus

Inconfidentes tiveram dois CA: Cristina e Rogério. Apresentaremos a seguir uma

breve caracterização de cada um deles, a partir do uso do questionário usado na

entrevista (anexo IV).

Quadro 4: Formação acadêmica e atuação profissional dos coordenadores de área do PIBID no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes.

COORDENADOR DE ÁREA

GRADUAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO CURSOS EM QUE ATUA

NO IFSULDEMINAS

Cristina

Licenciada e Bacharela em

Ciências Biológicas

Mestra em Metodologias de Ensino e Doutora em Formação de

Professores

Cursos Técnicos integrados ao Ensino Médio e

Licenciatura em Ciências Biológicas

Rogério

Licenciado e Bacharel em

Ciências Biológicas

Mestre em Genética Bioquímica

Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio e

Licenciatura em Ciências Biológicas

Fonte: construído pelo autor a partir da entrevista.

A coordenadora Cristina é licenciada e bacharela em Ciências Biológicas e

realizou Mestrado em metodologia do ensino e o Doutorado em formação de

professores. Ingressou no IFSULDEMINAS em 2010 e no Campus Inconfidentes,

atua como professora de Biologia no Ensino Técnico integrado ao Ensino Médio e,

ao longo de sete anos na instituição, ministrou disciplinas relacionadas à formação

de professores de Ciências e Biologia, as quais destacamos: A educação em

Ciências e a Formação para a Cidadania, Multiculturalismo no Ensino de Ciências,

Introdução às Ciências Biológicas, História e Filosofia das Ciências Biológicas e

Estágio Supervisionado I, II, III e IV.

Ela assumiu a coordenação do subprojeto PIBID Ciências Biológicas em

2011, cerca de um ano após ter ingressado no IFSULDEMINAS. No momento da

entrevista, a coordenadora completava, então, cinco anos de experiência na

coordenação do Programa. Inicialmente, Cristina atuou sozinha na coordenação de

área em um grupo constituído por dez bolsistas.

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A possibilidade de participar do Programa logo nos primeiros semestres de

criação do curso a incentivou a assumir a coordenação de área do subprojeto

Ciências Biológicas. Sua motivação em participar do PIBID se sustentou na

oportunidade de fortalecer a licenciatura no Campus:

“Quando surgiu o edital e eu assumi a coordenação de área, os cursos de licenciatura em

ciências biológicas e matemática tinham acabado de ser criados. Naquele momento, eu,

juntamente com outras professoras constituíamos o grupo mais próximo da formação

docente no campus e, pelas nossas experiências, sentíamos na obrigação de escrever um

projeto e participar do edital [...] naquele momento, nós sentíamos que o PIBID poderia

fortalecer os cursos de licenciatura por entender que tais cursos estão dentro de uma

instituição sem tradição na formação de professores. Até hoje lutamos para que as

licenciaturas sejam reconhecidas e valorizadas na instituição” (Coordenadora de área

Cristina, 06/04/2016).

Desde o início do subprojeto, a coordenadora Cristina despende de um

grande esforço no PIBID, sendo responsável pela elaboração do primeiro subprojeto

de Biologia no Campus. O foco foi formar uma equipe de estudantes bolsistas que

fizessem intervenções nas escolas de Ensino Médio e que pudessem refletir sobre

elas. Na perspectiva da coordenadora, não deveria ser uma reflexão pontual,

limitada, por exemplo, a metodologias de ensino que deram ou não deram certo,

mas, no contexto maior em que se dá o trabalho do professor, constrangido por uma

sociedade, por uma economia e por uma cultura.

“Fui eu quem redigiu o subprojeto de biologia no primeiro edital e na época eu aproveitei as

experiências do doutorado, o qual tinha finalizado a pouco tempo. O meu referencial teórico

se baseia no paradigma do professor reflexivo, o doutorado me convenceu de que a reflexão

é uma caminho importante para o professor evoluir profissionalmente. Então, eu trouxe esse

conceito para o primeiro subprojeto, o qual estava fundamentado em constituir uma equipe

de estudantes bolsistas que aprendessem ao longo de dois anos a refletir sobre o trabalho

do professor” (Coordenadora de área Cristina, 06/04/2016).

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Outro ponto enfatizado por Cristina é que a iniciação científica existe há

algum tempo, estando consolidada no Campus e que faltava algo equivalente para

as licenciaturas, o que veio a ser preenchido pelo PIBID, “um Programa que valoriza

a docência”. A valorização da docência pelo PIBID também apareceu como um item

destacado em diversos outros estudos, como o de Silveira (2016), Severino (2015) e

Felício (2014). Ao contextualizar no plano epistemológico o papel da construção do

conhecimento e da prática docente na formação profissional, Severino (2015, págs.

238-239) afirma que “o espírito fundamental dos programas PIBIC e PIBID encontra-

se na intenção de se aprimorar a fecundidade da aprendizagem pela mediação, de

um lado, da prática epistêmica da pesquisa, e, de outro, da prática profissional da

docência”. Para o autor, ambos os Programas visam a contribuir para o

aprimoramento da prática pedagógica.

Pelas experiências como professora das disciplinas de Estágio, a

coordenadora Cristina utilizou como critério de escolha das escolas parceiras uma

forma de possibilitar aos estudantes bolsistas vivenciarem o desenvolvimento das

ações em contextos e realidades diferentes. Inicialmente, uma das escolas

escolhidas foi bem avaliada pelos estagiários, enquanto a outra escola atendia a um

público mais vulnerável social e economicamente, além de apresentar um índice de

educação inferior. Uma preocupação apresentada pela CA refere-se às mudanças

ocorridas nos critérios de seleção das escolas parceiras alterados ao longo dos

editais. O Ministério da Educação tem estabelecido nos últimos editais quais devem

ser as escolas parceiras e, para Cristina, “uma das riquezas do PIBID é poder

trabalhar com escolas que tenham realidades diferentes, algumas mais e outras

menos desafiadoras”.

Logo no início do desenvolvimento do subprojeto, a CA Cristina enfrentou

algumas dificuldades para estruturar as ações, percebendo no relato dos estudantes

bolsistas “uma certa frustração, porque eles elaboravam atividades e em alguns

momentos não eram plenamente bem sucedidos”. Tais relatos levaram a

coordenadora a pensar que vivências mais positivas e significativas poderiam

acontecer em outro segmento de ensino. Assim, o segundo subprojeto foi

direcionado aos anos finais do Ensino Fundamental, enfatizando ações que

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contemplassem a construção e o desenvolvimento de habilidades científicas nos

alunos da educação básica e não somente nos resultados e nos produtos da ciência.

É possível identificar no relato da CA que a configuração do segundo

subprojeto propiciou benefícios tanto para a formação dos licenciandos quanto para

a dos estudantes da Educação Básica. O licenciandos passaram a identificar e

vivenciar em sala de aula os retornos de alunos e professores frente às ações

planejadas e implementadas, as quais focavam mais nos processos do que nos

produtos da ciência, sendo, de acordo com a coordenadora, importante que o aluno

da Educação Básica compreendesse “que a biologia, a física e a química são

ciências que têm ferramentas que interpretam o mundo e que tais ferramentas são

diferentes das que estão presentes no senso comum para interpretar os fenômenos

da natureza”. Na fala da CA reconhecem-se os pressupostos do trabalho com a

alfabetização científica, tema condutor escolhido pelo subprojeto PIBID.

Para Cristina, as dificuldades com a escola parceira são inevitáveis, afinal é o

encontro de duas instituições. Em sua concepção, as escolas de um modo geral são

muito receptivas quando percebem que elas terão uma vantagem com a ação que

será desenvolvida e destaca que, no segundo edital, existiram conflitos no sentido

de a escola querer o atendimento de objetivos desvinculados com o subprojeto,

como por exemplo, as solicitações feitas pela superintendência regional de ensino

às escolas. Segundo Cristina, é necessário enfatizar nas escolas que o foco do

projeto é o estudante bolsista, futuro professor.

Como o curso foi criado recentemente no Campus, há também outras

questões do Programa que geram conflitos e incomodam a coordenadora, como por

exemplo o ingresso do estudante no decorrer do desenvolvimento do projeto,

entrando assim, no meio do processo de um plano em trâmite. Com a renovação do

grupo, devido à saída e a admissão de novos licenciandos, estes apresentam uma

defasagem e, consequentemente, a necessidade de leituras de referenciais teóricos,

em especial, relacionados à alfabetização científica. Apesar de serem indicados aos

novatos leituras, “eles acabam carregando uma certa defasagem em relação aos

estudantes que ingressaram no início”. Outro aspecto que Cristina diz incomodá-la é

a necessidade de inclusão de novas rubricas no edital do PIBID devido ao fato de

não prever a compra de equipamentos e de livros.

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Em sua própria avaliação, a coordenadora Cristina não vislumbra um projeto

PIBID institucional e, sim, “uma soma de subprojetos trabalhando”. Os momentos de

trocas de experiências entre os estudantes bolsistas acontecem somente uma vez

por ano devido a uma exigência da CAPES e, nesse sentido, ela aponta a

necessidade da realização de encontros frequentes e produtivos para a socialização

das ações entre os diferentes subprojetos desenvolvidos. Tal desejo/expectativa

reforça o que Paes (2017) ressalta sobre o significado na formação dos licenciandos

a vivência de encontros acadêmicos dessa natureza.

Atuando em parceria com Cristina, o CA Rogério é licenciado e bacharel em

Ciências Biológicas. Fez Mestrado em genética bioquímica com ênfase em genética

e atualmente cursa o Doutorado na área de ensino de ciências na UNICAMP. Ele

trabalha no IFSULDEMINAS desde 2011, tendo atuado como professor de biologia

no Ensino Médio Integrado e na coordenação do curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas nos anos de 2011 e 2012, segmento em que também ministrou as

disciplinas de Biologia Celular, Genética Clássica e Biologia Molecular.

O subprojeto PIBID que coordena iniciou suas atividades no ano de 2014, a

partir do segundo edital. Por ter trocado da área da genética para a área do ensino

de ciência, o Programa lhe chamou imediatamente atenção como sendo uma

possibilidade de formação continuada. O coordenador contou que conheceu o PIBID

devido ao trabalho realizado pela CA Cristina:

“Minha inserção na coordenação foi visualizando o trabalho realizado pela professora

Cristina nos editais anteriores, ocorridos em 2008 e 2011. Tenho a professora Cristina como

um exemplo e, observando o excelente trabalho desenvolvido e os resultados alcançados

com os alunos que participaram do PIBID de 2011 a 2013, os quais se mostravam mais

dedicados, mais engajados com as questões da licenciatura, em querer ser professores”

(Coordenador de área Rogério, 06/04/2016).

Ele também mencionou que os desafios no desenvolvimento do Programa

são diários, compostos de dificuldades e potencialidades. Ele afirmou que está

aprendendo muito como o PIPID, que vem ganhando experiência no gerenciamento

do grupo, constituído por estudantes com diferentes idades e pensamentos. Outros

aprendizados relatados referem-se à orientação dos planejamentos das ações

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desenvolvidas com alunos das escolas parceiras que apresentam necessidades

especiais e as questões relacionadas que envolvem o trabalho interdisciplinar. Sua

formação ocorreu “em uma época em que o professor trabalhava dentro de uma

caixinha, com os conteúdos de ciência ou de biologia. A interdisciplinaridade era

pouco praticada”. Compreendemos que o trabalho com a alfabetização científica,

conforme traçado no subprojeto apresentado antes, ampliou o conhecimento dos

estudantes bolsistas, dos professores coordenadores, dos supervisores e dos alunos

do Ensino Fundamental sobre a alfabetização científica, antes limitado ao conteúdo

específico das ciências biológicas.

O coordenador contou que, na elaboração do segundo subprojeto relacionado

às Ciências Biológicas, referente ao edital 2014, ele juntamente com a CA Cristina,

buscaram considerar a percepção de mundo, do que acontece ao redor das

pessoas, de onde a ciência está inserida, mas que, a princípio, o subprojeto não foi

bem compreendido pela CAPES, a qual compreendeu que se tratava de ações

relacionadas à iniciação científica. Somente depois de protocolar um recurso

esclarecendo que a proposta não era essa, e sim de compreender a ciência, de

trabalhar as habilidades científicas desde o Ensino Fundamental, a CAPES aprovou

o subprojeto.

Assim como defendido por Cristina, Rogério também considera importante

que os licenciandos vivenciem experiências em realidades diferentes como forma de

complementar a formação. Tal fato influenciou na escolha das duas escolas

parceiras, localizadas na zona urbana e na zona rural de diferentes municípios.

Os critérios de seleção dos estudantes bolsistas consistiram na escrita de

uma carta onde o candidato deveria escrever seus objetivos de participação no

Programa, os conhecimentos sobre a alfabetização científica e o desejo de ser

professor, visto que o IFSULDEMINAS publica editais de bolsas de iniciação

científica para pesquisadores específicos em áreas técnicas das ciências biológicas.

De acordo com Rogério, “mesmo sendo um curso de licenciatura, a maioria dos

alunos entra com a visão de serem biólogos e não de ser professor”. A

disponibilidade de horários para atuar nas atividades e o desempenho acadêmico

presente no histórico também fizeram parte da seleção.

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Durante o processo de seleção dos professores supervisores para atuar no

Programa, Cristina e Rogério constataram que os docentes de ciências e de biologia

que atuavam nas escolas parceiras não apresentavam o perfil desejado, seja por

não possuírem cursos de especialização ou pela indisponibilidade de horários por

trabalharem em dois cargos. Rogério afirma que buscaram “selecionar supervisores

que acima de tudo gostassem de ser professores, que manifestassem o desejo de

querer modificar a realidade”. Os professores que mais se engajaram nas

características pretendidas eram de outras áreas e isso possibilitou aos

coordenadores visualizar um horizonte diferente para o desenvolvimento do

subprojeto:

“Trabalhar com a alfabetização científica em diferentes áreas do conhecimento é um

diferencial extremamente positivo para nós. Temos a possibilidade de trabalhar a percepção

científica nos conteúdos de geografia, de história e nos conteúdos de português através de

leituras de divulgação científica” (Coordenador de área Rogério, 06/04/2016).

Evidenciamos no posicionamento de Rogério as possibilidades de reflexão

sobre a ciência e o conhecimento científico não somente na formação inicial dos

licenciados, mas também na formação continuada dos professores que atuam em

“outras áreas do conhecimento” e alunos da Educação Básica presentes nas

escolas parceiras do Programa. Tais ações ampliam as chances de construção e de

desenvolvimento argumentativo, crítico e reflexivo sobre a ciência e seus impactos

na sociedade, conforme ressaltado nos estudos de Delizoicov (2001), Fourez, 2003

e Sasseron (2011 e 2012).

A principal atividade do grupo centrou-se no desenvolvimento de sequências

e de recursos didáticos, abordando aspectos da alfabetização científica que foram

utilizados nas intervenções didáticas realizadas pelos estudantes bolsistas com os

alunos das escolas parceiras. Nessas atividades, os coordenadores afirmaram

incentivar o trabalho em grupo e estimular, nas reuniões semanais dos subprojetos,

discussões tanto de aspectos conceituais quanto metodológicos.

Os CA (Cristina e Rogério) chegaram a enfrentar conflitos com os gestores e

com os professores das escolas parceiras relacionados aos interesses de tais

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instituições e aos objetivos dos subprojetos. Para amenizar esses conflitos, os

coordenadores disseram buscar valorizar o diálogo com os envolvidos.

Outro desafio relatado por Rogério refere-se ao fato de o Programa ser

desenvolvido em um grupo bem heterogêneo, constituído por estudantes que

começaram no ano de 2014 e outros que começaram no final de 2015. Para ele,

essa diferença da época de ingresso ajuda e dificulta. Ajuda no sentido de os

estudantes mais antigos auxiliarem os novatos e dificulta porque eles estão em

ritmos diferentes de leitura, de compreensão e de planejamento, necessitando de

uma atenção maior.

O coordenador contou que no final do ano muitos estudantes bolsistas o

procuram para relatar que vão prestar Mestrado em microbiologia ou em ecologia

para poderem atuar no Ensino Superior e disse considerar isso como “um pesar”.

Ele atribui a falta de desejo dos futuros professores em atuarem na Educação

Básica ao status da profissão presente na sociedade, caracterizado por poucas

vantagens financeiras e pela falta de reconhecimento, o que vem apenas confirmar

os estudos desenvolvidos por Gatti (2009, 2010, 2011 e 2012), ao analisar o

reconhecimento social e as políticas de carreira docente na Educação Básica.

O coordenador Rogério contou que sempre teve o cuidado de ouvir as

demandas da escola e, dentro do possível, incluir as solicitações nas ações do

PIBID, tendo a preocupação de manter os objetivos do subprojeto.

Outra consideração que Rogério faz refere-se à ausência de divulgação do

PIBID no IFSULDEMINAS visto que poucas pessoas conhecem o Programa, muitos

ouviram falar, mas não sabem o que é, além do fato de a bolsa de iniciação

científica ser mais valorizada do que a bolsa de iniciação à docência. Segundo

explica o coordenador, existe uma ausência de identidade institucional do Programa,

no qual “cada subprojeto tem ganhos pontuais diversificados, com linhas

completamente diferentes e sem integração”. De acordo com os CA (Cristina e

Rogério), os poucos momentos de socialização que acontecem entre os estudantes

bolsistas dos cursos de licenciatura em Ciências Biológicas e Matemática são

informais, acontecem nos corredores, uma vez ou outra. Isso não é intencional e não

leva a uma integração. Trata-se de um desafio que não se restringe às ações do

PIBID.

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No encerramento da entrevista ocorrida em abril de 2016, Rogério relatou a

possibilidade de solicitar o afastamento da coordenação de área pelo motivo dos

estudos do Doutorado. No início de 2017, conseguiu o afastamento, mas continua

auxiliando os atuais coordenadores como colaborador do subprojeto, participando

dos encontros semanais do grupo, debatendo com os bolsistas as questões

pedagógicas relacionadas à formação de professores e à escola. Consideramos

importante salientar que, após o afastamento, Rogério não recebe nenhum

reconhecimento financeiro por participar como colaborador do PIBID e tal fato nos

remete ao entendimento de que ele permanece no Programa, provavelmente por

acreditar na proposta.

Antes de caracterizarmos os estudantes participantes da pesquisa, faremos

uma discussão geral sobre a formação e a atuação profissional dos coordenadores

no PIBID. Constatamos que possuem graduação na área de educação, sendo

formados em cursos de licenciatura, e dois deles possuem pós-graduação na área

de Educação ou na área de Ensino de Ciências e Biologia, sendo que um está

cursando o Doutorado na área de Ensino de Ciências. Todos atuam na Educação

Básica e no Ensino Superior e o tempo de experiência na Instituição varia entre os

coordenadores.

Percebemos que o coordenador que tem menos tempo de experiência no

PIBID e que está há menos tempo na Instituição (Rogério) menciona reconhecer a

aprendizagem adquirida no PIBID. As coordenadoras (Mariana e Cristina) com maior

tempo de atuação no Programa não se remetem a esse ponto. Inferimos que o

amadurecimento dos coordenadores como gestores de um grupo de formação de

professores pode estar ligado ao diálogo estabelecido com as escolas parceiras e

sobre como podem administrar a formação inicial e continuada dos participantes do

Programa.

Os coordenadores atribuíram ao PIBID a oportunidade de fortalecer as

licenciaturas em uma instituição com tradição agrícola. O relato feito por Rogério de

que “a bolsa de iniciação científica é mais valorizada do que a bolsa de iniciação à

docência” e a necessidade de sensibilizar os professores por meio da ampliação da

visibilidade do Programa demonstram a desvalorização da formação de professores

e de parte de um corpo docente resistente à licenciatura na Instituição.

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As vivências acadêmicas relatadas pelos coordenadores, em especial, de

Cristina aparecem relacionadas à importância do papel da dinâmica da reflexão na

formação inicial dos professores, reforçando a perspectiva sobre o desenvolvimento

profissional proposto por Nóvoa (1997 e 2009), Day (2001) e Libâneo (2005).

Constatamos nos depoimentos diferentes posicionamentos relacionados à

visibilidade do PIBID no IFSULDEMINAS. Para um dos coordenadores de área

(Rogério), o PIBID é pouco reconhecido dentro da instituição, enquanto para a

coordenadora Institucional (Mariana) todos os Campi sabem do que trata o

Programa. Tais discrepâncias nos posicionamentos corroboram a necessidade de

momentos de socialização e de exposição de diferentes visões sobre a divulgação

do Programa.

Os dados nos permitem inferir que a falta de identidade institucional do

Programa relatada pelos CA (Cristina e Rogério) não apresenta relação com o

tempo em que os coordenadores trabalham na Instituição ou atuam no PIBID. A

institucionalização seria mais comum no subprojeto do coordenador que estivesse

atuando há mais tempo, o que ocorre com as coordenadoras Mariana e Cristina. Do

contrário, o processo de institucionalização seria menor com o coordenador menos

experiente (Rogério), que assumiu a coordenação em 2014. Verificamos que tanto

os coordenadores que atuam há mais tempo como o que atua num tempo menor

relatam a necessidade de o Programa adquirir uma identidade institucional. Dessa

forma, podemos reconhecer que fatores como a cultura das antigas escolas

agrotécnicas e a ausência de momentos de socialização e de trocas de experiências

entre os participantes são aspectos constituidores de uma não identidade do

Programa.

Os estudos desenvolvidos por Marcelo García (2010) e por Imbernón (1998),

relacionados ao isolamento e ao individualismo dos professores, tanto na Educação

Básica quanto no Ensino Superior, podem explicar a necessidade exposta pelos CA

de socialização entre os envolvidos. Conforme veremos na caracterização do

estudantes, é importante destacar que a ausência de colaboração entre os

subprojetos é apontada por eles como um fator que limita os possíveis

desdobramentos do PIBID em suas formações. O trabalho desenvolvido por Silveira

(2016), envolvendo os subprojetos Filosofia, Pedagogia, Ciências Sociais e História,

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revela o enriquecimento do PIBID ao adquirir um caráter interdisciplinar e dessa

forma, delineia contribuições que podem apontar possibilidades para trazer maior

integração entre os subprojetos de um PIBID.

Os dados revelam que os coordenadores vão à escola somente quando

solicitados ou quando julgam necessária a sua presença, visto que quem orienta as

atividades na escola são as professoras supervisoras. Como identificado nos relatos,

uma atitude dos coordenadores que pareceu ter sido decisiva para o

estabelecimento da confiança da escola na parceria com os subprojetos foi o

respeito dado à autoridade das supervisoras. Há também outras questões que

geram conflitos e incomodam, como por exemplo, os professores supervisores do

Programa recebem bem os alunos, gerando “nos outros professores um sentimento

de incômodo, de inveja e de frustração visto que eles não podem fazer as mesmas

coisas que o professor supervisor faz”. Essa questão reforça os resultados obtidos

no trabalho de Chicarino, Orquiza-de-Carvalho e Cordeiro (2003) que investigaram a

experiência de uma parceria entre a universidade e a escola de educação básica.

No trabalho citado, as pesquisadoras verificaram que, quanto maior o

distanciamento do docente da instituição superior em relação à escola da educação

básica, maior será a fragilidade da relação. Também aparece essa questão de

“rivalidade ou inveja” no estudo de Camargo (2015) sobre o PIBID em uma

universidade paulista.

Em seus estudos, Chicarino, Orquiza-de-Carvalho e Cordeiro (2003)

constataram que uma relação entre os professores da universidade e os

profissionais da educação básica pautada pela racionalidade técnica (no sentido dos

professores universitários levarem o conhecimento da universidade para os

professores da educação básica), a parceria permanece hierarquizada,

comprometendo a formação dos sujeitos envolvidos. Ao contrário, segundo os

depoimentos, colhidos em nossa pesquisa, é que os coordenadores buscam adotar

ações dentro do possível que contemplem as demandas das escolas.

Os relatos apresentados pela CA Cristina revelam que os professores que

não participam do PIBID não parecem cientes do papel de co-formação e de

colaboração da parceria da escola com o Programa. A coordenadora e os próprios

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estudantes bolsistas criticam a postura desses professores pelo fato de

desvalorizarem a profissão.

Todos os coordenadores veem o PIBID como um Programa importante não

apenas para melhorar a qualidade da formação inicial dos professores, mas como

uma política para tornar a licenciatura mais atrativa aos alunos e diminuir a evasão.

Assim, após caracterizarmos os professores coordenadores, apresentaremos os

estudantes participantes da pesquisa.

4.6 – Caracterização dos estudantes participantes do PIBID Ciências Biológicas no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

Iniciamos a caracterização apresentando um quadro síntese sobre o perfil dos

estudantes entrevistados. O grupo se constitui em três homens e oito mulheres. O

quadro foi montado tendo como referência o questionário sociográfico (anexo II),

preenchido pelos estudantes quando da realização de nosso encontro para a

pesquisa e a partir do uso do questionário usado na entrevista (anexo III).

Quadro 5: Caracterização pessoal e acadêmica dos estudantes bolsistas do PIBID participantes da pesquisa.

ESTUDANTE, SEMESTRE E

ANO DE INGRESSO NO

CURSO

SEXO IDADE CURSOU O ENSINO

FUNDAMENTAL CURSOU O ENSINO

MÉDIO

Tamara 2°/2010

Fem. 25

anos Maior parte em escola

pública Todo em escola pública

Fábio 1°/2011

Masc. 23

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Liliana 2°/2011

Fem. 22

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Regina 1°/2012

Fem. 27

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Jéssica 1°/2012

Fem. 25

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Aline 1°/2012

Fem. 22

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Renato 1°/2012

Mas. 22

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

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Daniela 1°/2013

Fem. 22

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Matheus 1°/2013

Mas. 21

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Fabiana 1°/2013

Fem. 21

anos Todo em escola pública Todo em escola pública

Lívia 1°/2013

Fem. 19

anos Maior parte em escola

pública Todo em escola pública

Fonte: Construído pelo autor a partir do questionário sociográfico aplicado.

A estudante Tamara tem 25 anos, cursou a maior parte do Ensino

Fundamental e todo o Ensino Médio em escola pública, tendo feito o curso pré-

vestibular em instituição privada. Seus pais têm formação escolar em nível médio.

Segundo conta, inicialmente, não tinha a intenção de ser professora, pois, quando

ingressou na faculdade em 2010, seu objetivo era fazer uma complementação

curricular e atuar como bióloga. Tamara relata que ingressou no Programa no ano

de 2011, quando ficou sabendo do edital por intermédio dos professores e por notas

divulgadas na página virtual do Campus. Como ela destaca: “Minha maior motivação

para ingressar no PIBID foi a procura de novos conhecimentos”.

Em meados de 2013, Tamara se desvinculou do PIBID em razão de um

intercâmbio acadêmico pelo programa Ciências Sem Fronteiras, realizado na

Austrália. Em 2015, após participar de um segundo processo seletivo, retornou ao

grupo PIBID/Ciências Biológicas e, atualmente, afirma que pretende atuar como

professora na educação básica e superior.

O estudante Fábio tem 23 anos e cursou toda a educação básica em escola

pública. Seu pai tem concluído o Ensino Médio e a sua mãe, o Ensino Fundamental.

Ao ingressar no curso, não tinha a intenção de ser professor, tendo como objetivo

atuar como biólogo da área de campo. Nas palavras de Fábio: “Eu estava no 7°

período e me deparei com o dilema: será que de fato eu quero ser professor?” Fábio

soube do processo seletivo por intermédio dos colegas da turma, ingressando no

Programa em 2014. Seu interesse pelo PIBID, conforme disse, era tirar a dúvida

sobre atuar ou não na profissão.

A estudante Liliana tem 22 anos, frequentou toda a Educação Básica em

escola pública, concluindo no ano de 2010 formação técnica em informática. Seus

pais têm como nível de estudo o ensino médio. Ao matricular-se no curso, não tinha

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conhecimentos dos objetivos de uma licenciatura e inicialmente pretendia fazer

algumas disciplinas e, posteriormente, solicitar transferência para o curso de

biomedicina. Para Liliana, os comentários dos colegas que participavam do PIBID

foram significativos para o seu ingresso, ocorrido nos últimos quatro meses do

término do primeiro edital, em virtude de sua classificação durante a seleção. Após

ser aprovada no segundo edital no ano de 2013, a estudante continuou a participar

das ações do Programa e, atualmente, pretende lecionar as disciplinas ciências e

biologia na Educação Básica.

A estudante Regina tem 27 anos, realizou toda a educação básica em escola

pública e seus pais não concluíram o Ensino Fundamental. Ao iniciar o curso, conta

que tinha como expectativa conseguir um bom emprego e melhorar as condições de

vida. Regina iniciou sua participação no Programa no primeiro semestre de 2014,

após comentários feitos por professores e pela divulgação do processo seletivo na

página do Campus. Iniciou sua participação no Programa no primeiro semestre de

2014, após ouvir comentários feitos por professores e pela divulgação do processo

seletivo na página do Campus.

A estudante Jéssica tem 25 anos e fez toda a Educação Básica em escola

pública. Seu pai tem como nível de estudo o Ensino Fundamental e a sua mãe, o

Ensino Médio. O ingresso no PIBID ocorreu em 2014, dois anos após iniciar a

licenciatura. As socializações com os colegas do curso e “as possibilidades de

ampliar suas experiências no campo educacional” motivaram seu desejo em

participar do Programa. Jéssica tem como pretensão atuar no ensino superior com

ênfase no desenvolvimento de pesquisas.

A estudante Aline tem 22 anos, frequentou a Educação Básica em escola

pública e seus pais concluíram o Ensino Fundamental. As conversas com os colegas

e o acesso à página do Campus na internet foram as fontes de informação sobre o

PIBID, do qual participa desde o início de 2014. Sua motivação liga-se ao fato de

compreender que o PIBID “proporciona um crescimento que o estágio e as

disciplinas do curso não proporcionam”. Atualmente, ela manifesta o desejo em

atuar como docente na Educação Básica e no Ensino Superior.

O estudante Renato tem 22 anos, tendo feito a Educação Básica em escola

pública e seus pais completaram o Ensino Fundamental. Sua participação no

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processo seletivo realizado no ano de 2014 ocorreu com informações socializadas

com os colegas e obtidas na internet. No mesmo ano, desvinculou-se do Programa

após seis meses de participação, em virtude de um intercâmbio acadêmico pelo

programa Ciências Sem Fronteiras, realizado na Faculdade de Ciências da

Universidade do Porto em Portugal. Em 2015, após participar de um segundo

processo seletivo, Renato retornou ao grupo PIBID/Ciências Biológicas e afirma que,

desde seu ingresso em Biologia, tem como objetivo atuar na docência no ensino

superior. O desejo em participar do PIBID se deve ao fato de “possibilitar uma maior

quantidade de informações e estudos para licenciar”.

A estudante Daniela tem 22 anos. Cursou toda a Educação Básica em escola

pública. Seu pai possui Ensino Superior completo e a sua mãe, o Ensino

Fundamental. Conta que sempre quis ser professora e de início atuar na educação

infantil, mas a oportunidade de cursar licenciatura em ciências biológicas em uma

instituição pública despertou o desejo de atuar na docência no ensino fundamental e

superior.

Ela participa do Programa desde o início de 2015, após ter tido informações

do edital na página do Campus e em conversas com os colegas. O PIBID lhe

chamou imediatamente a atenção por dois motivos: “pelo fato de proporcionar uma

importante contribuição na formação e pela bolsa, pois ajuda muito”. Sua fala, assim

como a da estudante Regina, revela a importância do valor da bolsa, articulada às

possibilidades de formação.

O estudante Matheus tem 21 anos. Cursou toda a Educação Básica em

escola pública e seus pais têm como nível de estudo o Ensino Fundamental. A

escolha pelo curso não foi sua primeira opção no vestibular e também não tinha

conhecimentos sobre os objetivos de um curso de licenciatura.

Matheus relata que, no decorrer dos módulos que frequentou na faculdade, o

desejo pela docência foi aumentando a ponto de querer atuar na Educação Básica e

no Ensino Superior. A internet foi a sua principal fonte de informação para participar

do Programa. Atua como bolsista desde o primeiro semestre de 2014.

A estudante Fabiana tem 21 anos; possui formação escolar na rede pública e

seus pais, formação no Ensino Fundamental. Ao matricular-se, também comenta

que não tinha conhecimento dos objetivos de um curso de licenciatura e inicialmente

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pretendia cursar algumas disciplinas e, posteriormente, solicitar transferência para o

curso de veterinária. Os relatos de Fabiana revelam que ela participou de alguns

encontros com o grupo do PIBID em 2014, como forma de “adquirir novas

experiências”, efetivando sua participação no Programa no início de 2015, após

aprovação no processo seletivo. Atualmente, a estudante pretende lecionar as

disciplinas ciências e biologia na Educação Básica.

A estudante Lívia tem 19 anos, cursou a maior parte do Ensino Fundamental

e todo o Ensino Médio em escola pública. Seus pais possuem como nível de estudo

o Ensino Superior. Desde o início do curso, ocorrido no primeiro semestre de 2013,

manifestou interesse pela área de zoologia e também informou que não tinha

conhecimento dos objetivos de uma licenciatura. Em virtude de o foco do curso

concentrar-se na área da educação, as expectativas foram parcialmente

contempladas e o desejo pela docência na educação básica e no ensino superior

aumentaram após cursar as disciplinas Políticas Públicas em Educação e

Psicologia, além do ingresso no PIBID em 2014. Sua maior motivação para

participar do Programa foi entender que “o PIBID poderia abrir as portas para que eu

pudesse frequentar as escolas e desenvolver o TCC na área de políticas

educacionais”, não descartando a possibilidade de o Programa ser seu trabalho de

pesquisa no futuro.

A estudante Liliana tem 22 anos; fez a educação básica em escola pública.

Seus pais possuem o Ensino Médio concluído. Ingressou no curso em 2011 pelo

desejo de ser professora, após participar de um edital de transferência externa.

Liliana relata que ingressou no Programa no ano de 2012, quando colegas que já

participavam a avisaram da divulgação do edital na página virtual do Campus. Sua

motivação para participar consistiu nas “possibilidades de adquirir novas

experiências e na bolsa disponibilizada”. No momento da entrevista, a estudante

completava cinco meses de participação no Programa.

Todos os participantes da pesquisa pertencem ao curso de Licenciatura em

Ciências Biológicas e estudam no período noturno. Após apresentar as

características dos estudantes, evidenciamos entre os 11 entrevistados, a

predominância do sexo feminino (8 bolsistas). Percebemos que se trata de um grupo

jovem, cuja idade varia entre 19 e 27 anos, com idade média de 22 anos e seis

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meses, e que a maioria iniciou o curso logo após terminar o Ensino Médio.

Nove entre os onze estudantes frequentaram toda a Educação Básica em

escolas públicas e dois, em escolas particulares e públicas, ou seja, em sua maioria,

os bolsistas são oriundos de escolas públicas exatamente no mesmo tipo de escola

onde desenvolvem suas atividades de iniciação à docência, sendo que, de alguma

forma, conhecem a dinâmica das escolas devido às vivências enquanto alunos da

Educação Básica. Essa constatação potencializa o PIBID como Programa que pode

trazer intervenções positivas, a partir do momento em que as vivências dos

licenciandos na perspectiva de ex-alunos da rede pública são refletidas e

confrontadas com a perspectiva de professor.

Observamos que, com relação às mães dos estudantes, uma não concluiu o

Ensino Fundamental; seis concluíram o Ensino Fundamental; quatro, o Ensino

Médio e que nenhuma possui o Ensino Superior. Em contrapartida, entre os pais dos

estudantes, um não concluiu o Ensino Fundamental; cinco concluíram o Ensino

Fundamental; três concluíram o Ensino Médio e dois, o Ensino Superior. Em sua

maioria, o nível de escolaridade dos pais concentra-se entre o Ensino Fundamental

e Médio. Essa configuração do grau de escolaridade dos pais dos licenciandos

reafirma o quadro do perfil da profissão docente, demonstrados por estudos

anteriores, tais como o desenvolvido pela UNESCO e coordenado por Gatti em

2009, intitulado Professores do Brasil: impasses e desafios. Para a coordenadora do

estudo, a escolaridade dos pais dos licenciandos “pode ser tomada como um

indicador importante da bagagem cultural das famílias de que provêm os

estudantes” (GATTI, 2009, pág. 116).

Para Fabiana, Jéssica e Renato, o principal motivo para participarem do

PIBID está atrelado às possibilidades de vivenciarem novas experiências na

docência devido ao fato de as ações de intervenção possibilitarem uma aproximação

com as escolas.

Em suas falas, os estudantes destacam vários motivos para ingressar no

PIBID: as possibilidades de resolverem suas dúvidas pela escolha profissional e

sobre os objetivos de um curso de licenciatura, indicando a fragilidade do projeto de

formação docente visto que o curso é o legítimo formador; algumas experiências

desestimulantes vivenciadas durante os estágios; a constatação de que somente as

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disciplinas ministradas no curso não seriam suficientes para uma boa formação e a

importância de se receber uma bolsa para a dedicação aos estudos, conforme

problematizaremos no próximo capítulo.

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5 – Resultados e discussões

Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os dados obtidos a partir das

entrevistas semiestruturadas, realizadas com 11 estudantes bolsistas, com dois

professores coordenadores do subprojeto, além da coordenadora institucional do

PIBID, conforme informado anteriormente.

A HO, valoriza os dizeres dos sujeitos com os quais trabalhamos na pesquisa

de campo. Essa perspectiva nos possibilitou ampliar nosso olhar para determinadas

vivências. As análises serão desenvolvidas tendo como base os textos oriundos dos

dizeres dos sujeitos (seus enunciados) nas situações de entrevista; assim, “não

dispomos de fatos, mas dispomos de textos; e estes, a seu modo, são também

fatos” (PORTELLI, 1996, p. 4).

Ao longo das conversas e, ao transcrevê-las, algumas questões chamaram

nossa atenção e se destacaram no decorrer do confronto com a geração de dados.

Elegemos, então, algumas dimensões a serem aprofundadas por meio das

problematizações, fundamentadas pelo referencial teórico assumido e pelos objetos

do estudo.

Tais dimensões estão relacionadas com as contribuições do PIBID na

formação dos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Com

isso, construímos as seguintes dimensões, as quais serão abordadas:

Dimensão 1: Distinção entre o PIBID e o Estágio Curricular Supervisionado;

Dimensão 2: A aprendizagem da docência no PIBID;

Dimensão 3: Contribuições do PIBID para os cursos de Licenciatura no

IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes;

Dimensão 4: Aprendendo o que fazer, a refazer e o que não fazer por meio do

PIBID;

Dimensão 5: O desejo pela docência manifestado no PIBID.

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5.1 – Distinção entre o PIBID e o Estágio Curricular Supervisionado

Essa dimensão busca apresentar e analisar criticamente os dados da

pesquisa referentes às atividades desenvolvidas no PIBID e no Estágio Curricular

Supervisionado no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do

IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes.

Ao confrontarmos o relatório das atividades desenvolvidas e os resultados

alcançados pelo subprojeto Ciências Biológicas no PIBID 2014 com as ementas dos

estágios descritos no PPC (2016), constatamos que a descrição presente nos

documentos seguiram os mesmos direcionamentos no desenvolvimento do trabalho

de iniciação à docência, a saber: estabelecer a cooperação entre as IES e as

escolas de Educação Básica; inserir e desenvolver nos licenciandos uma leitura

crítica da realidade escolar; planejar e executar atividades didático -pedagógicas e

desenvolver pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem. A convergência entre as

ações descritas nos documentos se fortalece ao considerarmos que o PPC (2016, p.

107) estabelece que “os licenciandos participantes do PIBID poderão ter redução da

carga horária do estágio curricular supervisionado até o máximo de 100 horas para

cada nível de ensino (fundamental e médio)”. Tais constatações fortalecem as

possibilidades de articulação entre o Estágio e o PIBID, bem como os diálogos entre

os professores e os estudantes das IES que participam e os que não participam do

Programa, resultando, conforme afirma Zeichner (2010); numa relação mais

equilibrada e dialética entre os conhecimentos acadêmicos e os da prática

profissional.

Em contrapartida, ao analisarmos as descrições dos referidos documentos

com as falas dos entrevistados referentes ao Estágio, evidenciamos um

descompasso entre as prescrições e o que é praticado, conforme veremos a seguir.

5.1.1 – O desenvolvimento do Estágio Curricular Supervisionado no curso

O Estágio, como componente curricular do curso, prevê uma carga horária de

400 horas, contemplando a Resolução CNE n° 2, de 1º de julho de 2015. O que

identificamos em nossa pesquisa é que papel burocrático superou o acadêmico,

como salienta Daniela:

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“No estágio, nós entregamos um termo na escola descrevendo as muitas atividades que

podemos fazer, mas no final, não fazemos mais do que preencher documentos e realizar

observações” (Bolsista Daniela, 27/10/2015).

Se considerarmos que os conhecimentos profissionais se constroem na

interação e no desenvolvimento das atividades, para Daniela, o “preenchimento de

documentos” ocupa um valor maior na realização do Estágio. A estudante aponta

para o peso do caráter burocrático no processo de estágio. Tal observação vai ao

encontro de constatações trazidas por Paes (2017), na qual aponta que diversos

sujeitos de sua pesquisa destacaram insatisfação e incompreensão com tantos

procedimentos burocráticos a serem cumpridos. Talvez a fala de Daniela esteja

alertando para necessidade de entendimento ou maiores esclarecimentos sobre a

burocracia partícipe do estágio.

No PPC (2016, p. 106), o Estágio foi identificado como “uma prática

supervisionada por professor especificamente designado para esta função, por meio

das aulas das disciplinas de estágio supervisionado, encontros com os alunos em

estágio e visitas às escolas parceiras”. Concordamos com Gatti (2011), ao ressaltar

que o se espera é o que estágio possibilite o desenvolvimento de conhecimentos

com vivência de situações reais.

O estágio, visto enquanto um momento de planejamento, de

acompanhamento e de articulação entre teoria e prática, apresenta-se como

momento de construção da identidade profissional. Assim, o estágio ao longo do

curso seria uma atividade enriquecedora aos licenciandos. Nas Diretrizes

Curriculares Nacionais para a formação inicial de professores, o Estágio deve

“assegurar aos graduandos experiência de exercício profissional em ambientes

escolares e não-escolares, que amplie e fortaleça atitudes éticas, conhecimento e

competência” (BRASIL, 2015, p. 15).

Evidenciamos um problema nas ementas das disciplinas de Estágio descritas

no PPC (2016), ao considerar a “Pesquisa sobre o ensino e a aprendizagem em

Ciências e Biologia” somente nos períodos finais do curso (8° e 9° períodos) e

sugerimos o desenvolvimento de pesquisas nos primeiros períodos de Estágio,

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conforme argumentos relacionados à importância da pesquisa no PIBID, os quais

estão descritos adiante.

Outro aspecto apontado pelos estudantes refere-se à receptividade do

professor da escola durante a realização dos Estágios. Nas palavras de Flávio e de

Daniela:

Durante os estágios, a escola era um caos e das três professoras que eu acompanhei

durante os estágios, somente uma me incentivou a ser professor. As outras professoras me

desestimulavam bastante, falando: você é louco, você é novo, se dedique à área da

pesquisa, não pense em ser professor! Isso aumentava ainda mais minha dúvida em querer

atuar como professor. O PIBID apareceu como uma oportunidade para que eu possa

confirmar se quero isso para minha vida (Bolsista Flávio, 30/09/2015).

No meu primeiro estágio, o qual fiz em uma escola particular, a professora me falou: se você

quer ser professora você deveria estar em uma escola pública e não em uma escola

privada, você está no lugar errado. Para mim, aquela fala não foi de incentivo (Bolsista

Daniela, 27/10/2015).

Observamos no posicionamento de Flávio e de Daniela, ao afirmarem que as

professoras disseram respectivamente “você é louco, você é novo, se dedique a

área da pesquisa, não pense em ser professor” e “você deveria estar em uma escola

pública e não em uma escola privada”, que as mesmas talvez, usem desses

espaços de interlocução com os futuros professores para darem vazão às possíveis

insatisfações e frustrações com a profissão, não trazendo, assim, estímulo para os

estudantes licenciandos.

Constatamos diante desses posicionamentos que a vivência dos estudantes

na escola por meio do Estágio pode tornar a carreira docente menos atrativa,

contribuindo para a ampliação do “choque com a realidade” enfatizado por

Huberman (1992). Concordamos com Marcelo García (2006), ao afirmar que o início

da docência compreende uma fase de tensões, durante a qual o licenciando deverá

manter o equilíbrio emocional. Nesse sentido, é preciso desenvolver alternativas por

meio de planejamento, de acompanhamento e de avaliação que possam

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efetivamente inserir o licenciando na escola, com vistas a possibilitar que o Estágio

assuma lugar de importância na formação docente, uma vez que se encontra na

interação entre as IES e o campo de atuação profissional.

5.1.2 – O desenvolvimento do PIBID no curso

Os estudos desenvolvidos por Gatti, André, Gimenes e Ferragut (2014),

Silveira (2016) e Felício (2014) atestam as contribuições do PIBID na formação

inicial dos professores. Entre as contribuições destacadas pelos autores, ressalta-se

o fato de os licenciandos estarem acompanhados por docentes das IES e da escola

parceira durante as atividades do Programa. Nas palavras de Regina, o fato de

poder atuar na escola parceira sobre o acompanhamento de professores do curso e

da própria escola é algo significativo:

O PIBID possibilita vivenciar a escola pública, perceber que têm coisas que não funcionam e

que devem ser melhoradas. Se você passa por uma formação sem nunca ter pisado no

chão de uma escola pública, quando entrar lá, você vai aplicar as coisas do seu jeito,

achando que tudo vai dar certo. No PIBID, o acompanhamento dos professores nos

possibilita compreender o que pode ser melhorado (Bolsista Regina, 29/09/2015).

O fato de os professores mediarem o contato do licenciando com a escola,

possibilitando-lhes “compreender o que pode ser melhorado”, além de facilitar a sua

inserção e ampliar as possibilidades de observação no futuro campo de atuação

profissional, permite ao licenciando problematizá-lo a partir da orientação de

profissionais qualificados e experientes. Os relatos de Regina vêm ao encontro dos

resultados obtidos por Camargo (2015), estudo já citado, em um trabalho que

objetivou compreender as implicações do PIBID na formação inicial de professores

em um curso de Pedagogia. De acordo com a autora, os estudantes participantes do

Programa também puderam “contar com o respaldo do professor supervisor na

preparação, na realização das aulas, bem como na apreciação de seu desempenho,

aprendendo com ele os implícitos da profissão (CAMARGO, 2015, pág. 173). Nessa

perspectiva, o PIBID se estabelece como elemento integrador entre a teoria e a

prática na formação dos professores, contemplando o artigo 7° da Resolução n° 2 do

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CNE, de 01/07/2015, o qual define que o egresso da formação inicial deverá possuir

um repertório de informações e de habilidades composto pela pluralidade de

conhecimentos teóricos e práticos.

Nas palavras de Tamara, o PIBID possibilita o aprendizado da profissão a

partir do contato com a realidade:

O PIBID nos ensina a planejar uma aula e a enxergar o que é ou não relevante para se

trabalhar com os alunos. Nós tínhamos muito contato com referenciais teóricos, dentre eles,

Mizukami e Sasseron. Toda semana fazíamos uma leitura e refletíamos não apenas o

conteúdo que seria aplicado, mas também sobre fatos que podem acontecer na Escola com

que os professores não estão preparados para lidar, como por exemplo, a violência

praticada dentro da escola, o abuso na família, dentre outros. Discutíamos qual deveria ser

a postura do professor em relação a esses fatos, e através destas reflexões pude perceber

que a função do professor não é apenas dar aula, ela envolve outras responsabilidades

também” (Bolsista Tamara, 24/08/2015).

O relato de Tamara demonstra que uma formação técnica que contempla

somente o “dar aula” não abarca suficientemente os problemas próprios da profissão

do professor. Concordamos com Formosinho (2009) sobre a necessidade de

compreender a docência para além das questões técnicas e que ser professor não

se limita a dar aulas. É preciso possibilitar, conforme relatado por Tamara, que a

prática seja problematizada em todas as suas dimensões. Nessa perspectiva, a

relação dialética entre o contato com os referenciais teóricos relatados por Tamara e

os saberes da prática poderão contribuir para o desenvolvimento da práxis docente,

um dos princípios presentes na Resolução n° 2 do CNE (BRASIL, 2015).

Ao incentivar a reflexão sobre a práxis docente, o relato de Regina sobre a

participação em eventos científicos mostra que o PIBID pode ser considerado um

Programa que incentiva os licenciandos para a pesquisa e para a investigação.

Juntamente com os colegas, escrevemos um artigo para o lBIO em Natal e para o ENPEC.

A participação nos eventos contribui significativamente, possibilitando uma visão diferente

do aluno. Os eventos possibilitam uma mudança no formato da escrita. Se fizer uma

comparação entre o primeiro trabalho que escrevi e o último, é uma evolução enorme

(Bolsista Regina, 29/09/2015).

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Outro aspecto presente na Resolução do CNE de 2015 e no PDI (2014 –

2018) do IFSULDEMINAS refere-se a uma formação que contemple os

conhecimentos teóricos e práticos de pesquisa. Os dados revelam que o PIBID

reconhece a pesquisa como princípio formativo da docência, possibilitando aos

licenciandos a compreensão da realidade por intermédio do incentivo ao

desenvolvimento de trabalhos apresentados em eventos. Tal fato vem ao encontro

do posicionamento de Nóvoa (2003), ao enfatizar que a Universidade assume a

função de mediadora entre os conhecimentos produzidos por suas pesquisas, os

estudantes licenciandos e os sujeitos da escola.

Para Ghedin, Oliveira; Almeida (2015, p. 53), a pesquisa no contexto da

formação de professores se configura como dois princípios:

Princípio cognitivo e formativo na medida em que se incentiva e se possibilita a construção coletiva de saberes, valoriza-se os processos de reflexão na ação, de reflexão sobre a ação e de reflexão na ação (Schön,1992) na busca de alternativas comprometidas com a prática social, que revela escolhas, opção de vida, espaço de construção, de troca de experiências, de desejo e de devir. (GHEDIN, OLIVEIRA; ALMEIDA, 2015, p. 53).

Os autores destacam a relevância da pesquisa na formação docente, com a

valorização de investigação das práticas docentes. Desse modo, o relato de Regina

revela que o PIBID valoriza a importância da pesquisa na formação docente,

contribuindo para a problematização das práticas e da reflexão da ação reportadas

na fala de Regina.

O PIBID propõe a aproximação entre a IES e as escolas de Educação Básica,

ao inserir os licenciandos nas escolas parceiras. A partir do momento em que as

produções científicas emergem do contexto escolar, conforme relatado por Regina, a

escola parceira passa a ser reconhecida como campo de apropriação e de produção

do conhecimento, ao mesmo tempo, a orientação dos professores supervisores no

processo de escrita atribui a eles a posição de co-formadores, servindo também

como possibilidade de formação continuada. Consideramos que tais ações

contribuem para o favorecimento da relação hierarquizada entre os conhecimentos

acadêmicos e os saberes profissionais, uma preocupação manifestada em vários

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estudos (ZEICHNER, 2010; TARDIF, 2010; SAVIANI, 2009; GATTI e NUNES, 2009;

CANÁRIO, 2001).

Outra análise importante da aproximação das IES com a escola pública é a

possibilidade do enriquecimento curricular, como foi possível constatar por meio

deste trabalho, ao se verificar a ausência de pesquisas no Ementário do Estágio

Supervisionado referentes ao 6° e 7° períodos do curso. Selecionamos o

posicionamento dos estudantes Aline, Daniela, Jéssica e Renato, os quais revelam a

necessidade de mudanças nos aspectos curriculares relacionados ao Estágio.

Constatei que o PIBID poderia proporcionar um crescimento que o estágio, ou até mesmo

uma faculdade, não proporcionaria, somente o Programa (Bolsista Aline, 07/10/2015).

Planejar uma aula durante o PIBID é diferente de planejar durante o estágio. No PIBID, você

realmente planeja, você tem a possibilidade de analisar o que pode ser feito, de conhecer a

turma, de constatar que os alunos aprendem de maneiras diferentes. O PIBID contribui

significativamente na formação (Bolsista Daniela, 27/10/2015).

Em minha opinião, todos os alunos de licenciatura deveriam passar pelo PIBID, pois através

do programa aprendemos a lidar com as vivências de uma sala de aula e, o mais

importante, a planejar uma aula. Isso não nos é proporcionado nas disciplinas que

cursamos, e nem mesmo no estágio obrigatório, uma vez que o estágio é mais observação,

sem muita prática (Bolsista Jéssica 02/09/2015)

Nós temos estágio durante a graduação, mas o estágio é mais observação e, quando tem

regência, geralmente é uma ou duas regências no máximo, então intervem muito pouco. Já

no PIBID, além de termos que planejar as atividades, temos nosso espaço e atuamos

diretamente com os alunos. Acredito que o aluno que cursa as disciplinas regulares, aliado

ao um Programa de iniciação à docência, está mais apto para licenciar (Bolsista Renato,

01/09/2015).

Os dados das entrevistas são unânimes por parte dos licenciandos no sentido

de reconhecer uma formação diferenciada em prol dos estudantes que participam do

PIBID e de legitimar o Programa como espaço formador. Para Renato, “o aluno que

cursa as disciplinas regulares, aliado ao Programa de iniciação à docência, está

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mais apto para licenciar” e para Jéssica, “todos os alunos de licenciatura deveriam

passar pelo PIBID”. Os licenciandos atribuem importância ao PIBID para sua

formação como professores. Todos os excertos selecionados mostram contribuições

significativas do Programa na formação profissional docente.

Embora tenhamos diversos indicadores promissores das contribuições do

PIBID, identificamos três limitações do Programa. Primeiro, pelo fato de ter sido uma

ação inicial do governo para resolver demandas relacionadas à carência de

professores de física, química, matemática e biologia na Educação Básica, conforme

previsto na Portaria n° 38, de 12 de dezembro de 2007. Vale ressaltar que o número

de licenciaturas contempladas foi ampliado pelos editais posteriores. Segundo, o

fato de ter um caráter seletivo devido a um baixo número de bolsas e,

consequentemente, não contemplar todos os licenciandos. Por fim, a possibilidade

de extinção do Programa.

Diante dos dados apresentados, em especial, pelas falas dos sujeitos

entrevistados, consideramos importante a ampliação do número de licenciandos

participantes do PIBID e reconhecemos, assim como Felício (2014, p. 431), ser uma

“política pública de formação inicial de professores, fundamental nos cursos de

licenciaturas”, visto que, “na história de formação de professores neste país, não

houve uma ação política que valorizasse a formação de professores com a

destinação de recursos financeiros exclusivos para esse fim”. Para tanto, se faz

necessária a aprovação de aspectos legais que transformem o PIBID de uma

política de governo para uma política de Estado.

5.1.3 – O Estágio Curricular Supervisionado e o PIBIB

Por se apresentar como atividades de inserção do licenciando nos contextos

escolares, o PIBID e o Estágio Supervisionado são considerados por alguns sujeitos

pesquisados e pelas escolas parceiras como uma mesma atividade. Nas palavras de

Fabiana e da coordenara institucional Mariana:

No início, eu não sabia como era o PIBID e tinha uma ideia de que as atividades

desenvolvidas nas escolas seriam iguais ao Estágio (Bolsista, Fabiana, 07/10/2015).

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No início, as escolas também achavam que os bolsistas eram estagiários, que poderiam

substituir professores. Houve uma discussão para deixar claro que os bolsistas não eram

estagiários, que eles não poderiam ficar em sala de aula sozinhos (Coordenadora

Institucional, Mariana 20/05/2015).

Concordamos com Noffs e Rodrigues (2016), ao afirmarem que, “apesar de

apresentarem semelhanças nos seus princípios, não podem ser confundidos

enquanto atividades de inserção à docência”, conforme problematizaremos a seguir.

Consideramos que a fundamentação teórica refletida tanto no Estágio quanto

no PIBID aumentam as possibilidades de questionamentos, de reflexões e de

articulação entre a teoria e a prática.

Atuando como professora da disciplina de Estágio e como CA do PIBID,

consideramos que Cristina ocupa um lugar privilegiado para visualizar as diferenças

existentes entre o estudante que participa e o que não participa do PIBID. Para ela,

“a diferença é gritante” e considera que alguns aspectos desenvolvidos no Programa

não são alcançados no Estágio Curricular Supervisionado, como por exemplo, uma

inserção qualificada dos estudantes nas escolas, “o estudante que participa do

PIBID tem mais autonomia, mais criatividade, mais ideias, sabe o que fazer, não fica

amarrado ao livro didático. O estudante que não passou pelo PIBID tem muita

dificuldade de pensar no plano de aula”.

Os relatos de Cristina convergem com Camargo (2015, pág. 173), visto que

em seu trabalho, a coordenação institucional e a de área também afirmaram que a

participação dos estudantes de Pedagogia no PIBID “possibilitou uma proximidade

bastante concreta com o trabalho docente”.

O CA Rogério lamenta o fato de o Programa não estar disponível a todos os

licenciandos do curso e afirma existir uma diferenciação na formação dos estudantes

que participam do Programa e dos que não participam. Para ele, “a motivação para

seguir na carreira de quem participa do PIBID é muito maior”. Ele corrobora com o

posicionamento da CA Cristina no que tange ao fato de o PIBID promover uma

inserção bem planejada dos estudantes na escola, onde eles chegam já instruídos

sobre o que vão fazer, como vão desenvolver as atividades e observar a realidade.

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Rogério observa uma mudança de postura do estudante que participa do

PIBID em relação a uma rotina maior de estudos, de dedicação e de um melhor

planejamento das atividades do curso e, em especial, das que exigem uma

participação direta nas escolas, como por exemplo, a elaboração e a aplicação de

materiais didáticos. Para ele, isso “acaba contagiando positivamente os outros

estudantes, que têm os pibidianos como exemplo, como pessoas mais engajadas”.

Para ilustrar o relato de Rogério, apresentamos fotos da atuação dos licenciandos,

os quais com objetivo de diminuir a abstração dos conteúdos relacionados aos

conhecimentos das Ciências Biológicas no 1° ano do Ensino Médio, planejaram e

desenvolveram intervenções nas escolas parceiras.

Figura 6: Modelos didáticos elaborados pelos licenciandos e utilizados no ensino de Biologia. Fonte: Blog do PIBID Ciências Biológicas, Campus Inconfidentes. Disponível em:

http://pibidbiologiainconfidentes.blogspot.com.br/

Rogério afirma ter indicadores da melhora do desempenho dos estudantes no

curso por meio de acompanhamentos que evidenciam que os participantes estão

acima da média em relação aos estudantes que não participam do PIBID e que o

número de evasões no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas diminuiu com a

efetivação do Programa. Para ele, “esses indicadores mostram que o Programa está

sendo essencial para as licenciaturas” e completa “a desenvoltura em sala de aula

do aluno que participa do PIBID é diferente, eles são mais confiantes, o que é

fundamental para a formação do professor. Os momentos nos estágios não

possibilitam isso”.

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Os relatos dos coordenadores nos remetem à mesma dúvida e o mesmo

posicionamento elencados por Camargo (2015):

as atividades descritas anteriormente não se enquadram nas incumbências do Estágio Supervisionado? Sim, teoricamente, conforme consta na ementa (de modo vago), cabe ao Estágio Supervisionado essa aproximação com a escola. No entanto no contexto da realidade estudada, isso não foi realizado da mesma forma que o correu com o PIBID (CAMARGO, 2015, pág. 174).

Nesse sentido, o contexto da realidade estudada nos possibilitou enumerar

algumas diferenças significativas entre o PIBID e o Estágio.

No curso de licenciatura em Ciências Biológicas, o Estágio possui uma carga

horária de 400 horas a serem cumpridas pelo licenciando ao longo de quatro

semestres, enquanto no PIBID os estudantes se dedicam a 6 horas semanais de

atividades nas escolas e 4 horas em atividades na IES no desenvolvimento das

ações, podendo chegar a um período de 2 anos. Portanto, as atividades no PIBID

podem contemplar uma carga horária maior que a do Estágio. Se considerarmos

que 200 dias letivos correspondem a 28 semanas e que o licenciando bolsista

desenvolve 10 horas semanais, ao final de dois anos, ele terá contabilizado 560

horas somente no Programa. Ou seja, o licenciando bolsista terá mais que o dobro

da carga horária do licenciando que não foi contemplado pelo Programa. A diferença

na carga horária será maior ainda se considerarmos que o bolsista também realiza o

Estágio Supervisionado Obrigatório. Ou seja, as exigências do Programa, somado

ao Estágio, requerem uma permanência grande do estudante. A inserção na

realidade escolar de fato se realiza.

De acordo com os relatos de Aline, Daniela, Jéssica e Renato,

problematizados anteriormente, as atividades no Estágio fundamentam-se mais na

observação do que nas ações, enquanto no PIBID, os planejamentos e as

intervenções são constantes. O estágio, nessa perspectiva, reduz-se a observar os

professores em aula, sem proceder a uma análise crítica do contexto escolar.

Analisando as falas dos estudantes, constatou-se a dimensão das dificuldades pelo

qual passa o processo de estágio no curso e a necessidade de reformulação das

atividades, tendo como referência as ações desenvolvidas no PIBID.

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Outro aspecto a ser considerado é que o Estágio tem início somente no 6º

período do curso, ou seja, após dois anos e meio do ingresso do licenciando. Tal

organização curricular revela maior ênfase no aspecto teórico do que no prático. Ao

contrário, no PIBID, alguns estudantes iniciam sua participação estando no primeiro

período do curso.

O PPC do curso orienta que os licenciandos procurem a escola para o

desenvolvimento das atividades do Estágio, tendo a necessidade de uma

participação efetiva do professor responsável, bastando o firmamento de um

convênio, o qual pode ser intermediado pelo licenciando e efetivado pela

Coordenadoria de Integração Escola Comunidade (CIEC) na IES, diferentemente do

PIBID no qual é firmada uma parceria entre a IES e a escola de Educação Básica

com envolvimento direto dos professores de ambas as instituições. Tal situação

corrobora o posicionamento de Camargo ao afirmar que

Diferente do PIBID que conta com uma coordenação, encarregada pela articulação entre as instituições, o professor supervisor de estágio, com as suas condições de trabalho, encontra-se em situação desfavorável e sem a mesma força política da Coordenação do Programa para fazer contato com as diversas instituições que recebem seus alunos para estagiar (CAMARGO, 2015, p. 175).

Não evidenciamos nos relatos dos sujeitos pesquisados nenhum projeto

desenvolvido nas escolas por meio do Estágio; ao contrário, o subprojeto PIBID

Ciências Biológicas trabalha na perspectiva da alfabetização científica. Acreditamos

que o desenvolvimento de projetos e a participação neles, como o de alfabetização

científica, ampliam as possibilidades de formação continuada dos professores

supervisores. O quadro a seguir sintetiza as diferenças entre o Estágio

Supervisionado e o PIBID no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas no

IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes:

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Quadro 6 – Diferenças entre o Estágio Supervisionado e o PIBID.

Aspectos analisados Estágio Supervisionado PIBID

Carga horária 400 horas em 2 anos 560 horas em 2 anos +

Estágio

Atividades Fundamenta-se na

observação

Fundamenta-se no planejamento e na

intervenção

Inserção nas escolas A partir do 6° período A partir do 1º período

Contato com as escolas Envolvimento direto do

licenciando Envolvimento direto do

professor

Projetos desenvolvidas Ausentes Alfabetização Científica Fonte: Construído pelo autor a partir dos dados da pesquisa.

Os dados apresentados e problematizados corroboram o posicionamento de

Silveira (2016, p. 22), pois, “sob diversos aspectos, o PIBID se diferencia

substancialmente dos estágios. Na realidade, representa uma experiência formativa

muito mais rica e eficaz, e pode, inclusive, servir de referência para que sejam

repensados e reformulados”.

Felício (2014) por outro aspecto, corrobora o posicionamento de Zeichner

(2010) ao considerar o PIBID como terceiro espaço de formação, pois o Programa:

- distingue-se do estágio curricular obrigatório na consideração do cenário escolar; - permite a inserção antecipada do licenciando na escola, que se assume como parceira no processo de formação inicial docente, ao acolhê-lo, por intermédio dos supervisores; - compreende uma configuração que possibilita a participação de professores da universidade (coordenador de área), responsáveis diretos pelos licenciandos bolsistas, e do professor da escola de Educação Básica (supervisor), responsável pelo licenciando, quando ele se encontra na escola desenvolvendo as atividades de iniciação à docência; - pressupõe um diálogo constante entre licenciando, coordenador de área e supervisor; - são previstas ações visando iniciar o licenciando na docência tendo por base experiências reais, advindas do contexto escolar; - assume o movimento de reflexão–ação–reflexão como pressuposto fundamental para o desenvolvimento das atividades; - propicia a permanência contínua dos licenciandos no cotidiano escolar, por um período de, pelo menos, dois anos (FELÍCIO, 2014, p. 423).

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Será que a aprendizagem da docência seria diferente no Estágio e no PIBID?

Os resultados de uma pesquisa bibliográfica e documental no âmbito das políticas

recentes de formação de professores, realizada por Pimenta e Lima (2017), com

destaque para as Diretrizes Curriculares Nacionais (Resolução CNE 02/2015),

mostrou que o PIBID e o Estágio Curricular Supervisionado realizados nos mesmos

cursos de licenciatura, não se juntam em atividades e objetivos comuns que visam a

formação docente. Para as autoras, programas não-curriculares e pontuais

relacionados a formação de professores tornam-se frágeis “por não atingir o

conjunto dos estudantes da licenciatura no país e por ficar à mercê das políticas dos

governos sujeitos a não continuidade” (PIMENTA; LIMA, 2017, pág. 1).

Neste momento, nos limitaremos a problematizar os aspectos manifestados

pelos sujeitos pesquisados sobre a aprendizagem da docência no PIBID, foco deste

estudo, mas, não podemos deixar de apontar a necessidade de reformulação das

políticas públicas que contemplem a formação e a valorização docente, conforme

salientado por vários autores (PIMENTA; LIMA, 2017; FELÍCIO, 2014; ZEICHNER,

2010, IMBERNÓM, 1998). No entanto, por entender que essas mudanças não se

dariam somente a partir das políticas públicas, coordenando o PIBID e sendo um

dos professores responsáveis pela disciplina de Estágio Supervisionado no Campus,

os dados por um lado me incomodam e, por outro, me estimulam no sentido de que

as atividades propostas para o Estágio devam ser repensadas.

5.2 – A aprendizagem da docência no PIBID

Não raro, constatamos no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas um

desejo maior dos estudantes pelo bacharelado do que pela licenciatura. Acreditamos

que as condições de trabalho e a desvalorização profissional impactam no status da

profissão, contribuindo para que os licenciandos não sejam atraídos pela docência.

Daniela afirma que ingressou no curso para ser professora, mas “observa que

alguns estudantes ingressaram no curso sem o desejo de serem professores” e que

“após entrar no PIBID, mudaram a concepção”.

Para Sacristán (2008, p. 86-87), um dos pontos em relação à investigação

sobre a formação de professores seria “educar não só a razão, mas também o

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sentimento e a vontade”, pois “os professores [...] são pessoas que sentem e

querem [...] não só pensam”. Assim, além dos dizeres de Daniela, destacamos os

relatos de Fábio e de Fabiana sobre as influências do PIBID no desejo pela

docência.

Eu estava no 7° período e me deparei com o dilema: será que de fato eu quero ser

professor? O PIBID apareceu como uma oportunidade para que eu possa confirmar se

quero isso para minha vida (Bolsista Fábio, 30/09/2015).

As vivências fortaleceram a minha escolha. Temos uma noção muito relativa sobre ser

professor. A mente é aberta quando começamos a ler os textos e a elaborar as atividades

no PIBID (Bolsista Fabiana, 07/10/2015).

De acordo com o relato de Fábio, mesmo após estar três anos no curso, a

dúvida sobre a docência permanecia. Sua fala reforça o PIBID como uma

possibilidade de confirmar a escolha profissional, visto que o Programa em relação

ao estágio “permite a inserção antecipada do licenciando na escola” (FELÍCIO,

2014). A fala de Fabiana reforça os dizeres de Fábio no sentido de o PIBID

fortalecer o desejo e a aprendizagem da docência.

Percebemos, no decorrer das entrevistas e até mesmo na problematização da

dimensão anterior, que os sujeitos criticam o Estágio e ressaltam o PIBID na

aprendizagem da docência. Para Lívia, “o PIBID” deveria substituir o Estágio”. Não

concordamos com o posicionamento de Lívia por entender que o papel do Estágio é

diferente do PIBID, haja vista que aquele contempla todos os licenciandos e está

articulado à matriz curricular, a qual possibilita a inserção dos estudantes no Ensino

Fundamental e no Médio.

A aprendizagem da docência pode ocorrer desde o contexto escolar dos

sujeitos (experiências pré-profissionais) até o desenvolvimento das diretrizes

estabelecidas no interior das matrizes curriculares nos cursos de formação de

professores. Para Nono e Mizukami (2006), há uma série de aprendizagens

relacionadas à docência que os professores, especialmente os iniciantes, atribuem à

prática. Essas autoras destacam a relação entre os anos iniciais da docência, sua

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formação inicial, o ambiente de trabalho como constituintes da ação docente e as

exigências de novos conhecimentos oriundos da docência.

Nesse sentido, entre as razões que levaram Jéssica e Tamara a participarem

do PIBID, está a importância da aquisição de novos conhecimentos. Para Jéssica, “a

maior motivação foi a busca por uma experiência mais ampla no campo

educacional”, enquanto para Tamires, foi “a procura de novos conhecimentos”.

Ao participarem do PIBID, Jéssica e Tamara, em seus dizeres, reconhecem-

se como sujeitos responsáveis por seu próprio processo formativo, a partir do

compromisso expressados pela “busca por experiência” e pela “procura de

conhecimentos”. Tais manifestações corroboram os estudos desenvolvidos por

Cunha (2010), Tardif (2011) e Marcelo García (2006), que enfatizam a necessidade

de conhecimentos no início da docência. No contexto de formação do PIBID, a

busca por conhecimentos manifestada pelas licenciandas pode ser compreendida

como um processo em que os seus interesses e necessidades acabam por estimulá-

las a se envolver em diferentes ações e espaços formativos.

Outra fala que também nos chamou a atenção e que está relacionada à

aprendizagem da docência no PIBID é a de Tamara:

Houve todo um planejamento para a execução desta atividade e eu aprendi muito com ela

porque para falar sobre um tema você tem que saber sobre ele, então você se esforça para

dominar o assunto e acaba aprendendo muito. Esse é um fato interessante do PIBID.

Aprendemos sempre. O Programa nos ensina a planejar uma aula e a enxergar o que é ou

não relevante para se trabalhar com os alunos (Bolsista Tamara, 24/08/2015).

O fato de Tamara relatar que no PIBID “aprendemos sempre” e “aprendemos

muito”, corrobora o explicitado por Mizukami et. al. (2002, p. 105), segundo o qual a

“[...] aprendizagem nunca está pronta. Ela exige que regularmente organizemos o

que sabemos”. Nesse sentido, constatamos que o Programa estimula o desejo e a

organização da aprendizagem.

Para Mariana, um dos desafios quando os licenciandos ingressam no PIBID é

superar o nervosismo e a timidez. Para auxiliar os licenciandos a vencerem a timidez

e o nervosismo, as intervenções são planejadas e discutidas pelo grupo durante as

reuniões do PIBID.

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A instrução mediada e as experiências de campo citadas por Zeichner (2010)

são um exemplo de configuração de terceiro espaço apresentada pelo autor. Para

ele, os professores do Ensino Superior, de forma colaborativa, buscam

desempenhar um papel ativo durante a formação inicial. Nos relatos da

coordenadora institucional Mariana, evidenciamos significativas contribuições do

PIBID para o aprendizado da docência, as quais vêm ao encontro da instrução

mediada configurada por Zeichner (2010). Nas palavras de Mariana

Uma aluna que não é bolsista afirmou como é nítida a diferença entre um aluno que

participa do PIBID e o aluno que não participa. Ele tem uma desenvoltura, uma segurança

maior para apresentar um trabalho em sala. Muitos alunos que estão na licenciatura eram

tímidos e venceram a timidez para apresentar seminários. Nós notamos a diferença entre o

aluno que faz parte do PIBID e o que não faz parte. O desempenho na fala, na linguagem,

no posicionamento em sala de aula, é um diferencial. Parece que eles incorporam a postura

do professor. Eu tive uma aluna no primeiro período que durante a apresentação de um

trabalho precisei segurar a mão dela. Ela não conseguia falar de tanto que chorava. Após

um tempo no PIBID, ela estava fazendo palestras nas escolas estaduais sobre doenças.

Quem viu essa aluna antes e depois do PIBID presenciou a transformação. O PIBID tem

esse diferencial por ser ao longo do curso, assim acontece a ação e a reflexão. O aluno

estuda o assunto, vai para a escola, apresenta o trabalho e não está sozinho em nenhum

momento, ele tem sempre um suporte. Este é o grande diferencial do PIBID, o fato do aluno

estar sempre acompanhado e tendo a possibilidade de refletir o que vivenciou na escola.

(Coordenadora Institucional Mariana 20/05/2016).

Consideramos que “o desempenho na fala, na linguagem, no posicionamento

em sala de aula” relatado por Mariana se deve a várias ações desenvolvidas no

PIBID: as leituras para que sustentem os debates ocorridos no grupo e para o

planejamento das intervenções, a orientação dos professores, as relações

interpessoais decorrentes do diálogo estabelecido no Programa, a participação em

eventos científicos e seminários. Essas ações somadas podem ser notadas na

diferenciação que a maioria dos licenciandos possui em relação aos demais

estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas.

Os relatos de Mariana também corroboram os referenciais teóricos presentes

neste trabalho que abordam aspectos da aprendizagem da docência (SILVEIRA,

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2016; FELÍCIO, 2014; ZEICHNER, 2010; GARCIA, 2006), convergindo no sentido de

que, para ensinar, somente os saberes específicos e a experiência não são

suficientes, sendo necessários os saberes pedagógicos, pois, assim, a

aprendizagem da docência se constitui por processos e não por eventos. “[...]

processos estes - pautados em diversas experiências e modos de conhecimento -

que são iniciados antes da preparação formal, que prosseguem ao longo desta e

que permeiam toda prática profissional vivenciada” (MIZUKAMI, et al., 2002, p. 47).

Ao estudarmos o caso do PIBID Ciências Biológicas, percebemos o quanto as

ações desenvolvidas no subprojeto incentivaram os licenciando no desenvolvimento

de uma postura investigativa, social e filosófica, manifestados na fala de Regina:

O PIBID me possibilitou enxergar a educação de outra forma: para quem eu vou lecionar?

Que aluno eu quero formar? Será que existe uma educação diferenciada para o aluno da

elite e da classe baixa? (Bolsista Regina, 29/09/2015).

Constatamos que as atividades desenvolvidas no Programa instigam a

reflexão, a análise crítica e a problematização não somente de aspectos

relacionados ao ensino e à aprendizagem do conteúdo, mas também aos aspectos

internos e externos, como ressaltado por Imbernón (1998). Nesse sentido, aspectos

culturais, políticos, econômicos, sociais e ideológicos presentes no currículo são

manifestados na fala de Regina ao questionar a quem e qual o tipo de ensino será

desenvolvido.

Para a CA Cristina, “a reflexão é um caminho necessário para o professor

evoluir profissionalmente e mesmo sendo importante, não deve se limitar às

metodologias de ensino que deram ou não deram certo”, mas, no contexto maior em

que se dá o trabalho do professor, constrangido por uma sociedade, por uma

economia e por uma cultura. Atuando como mediadores entre os conhecimentos

acadêmicos e profissionais, compreendemos que os coordenadores de área e as

professoras supervisoras, desenvolvem-se profissionalmente no sentido de buscar

informações para responder os questionamentos feitos pelos licenciandos.

Nesse sentido, tão importante quanto investigar a docência é investigar as

possibilidades de aprender a docência de forma coletiva e interdisciplinar, pois

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entendemos que se aprende mais e melhor sobre o trabalho docente quando os

professores coordenadores socializam o que fazem dentro da sala de aula. No que

se refere ao PIBID Ciências Biológicas, sobre esse movimento de problematizar e

investigar o trabalho docente em grupos que congregam professores experientes e

em formação inicial, Renato e Matheus destacam:

Nós éramos separados em grupos e cada grupo recebia um artigo diferente, mas que

abordava o mesmo tema. Dessa forma, durante nossas reuniões, fazíamos um círculo,

refletíamos e discutíamos o tema. Isso nos proporcionou uma gama de conhecimentos

enorme (Bolsista Renato, 01/09/2015).

O fato de ter que trabalhar em grupo no PIBID, interagir com pessoas diferentes que têm

ideias distintas, me fez aprender a respeitar a opinião das outras pessoas e eu não era

capaz de fazer isso antes. Vejo esse fato como uma mudança positiva (Bolsista Matheus,

02/09/2015).

Na fala de Matheus, identificamos que a aprendizagem da docência ocorrida

entre os licenciandos não se dá de forma tranquila. Ao contrário, é notoriamente

marcado por “ideias distintas” que possibilitam crescimento pessoal e profissional.

No relato de Fabiana, fica claro que o aprendizado da docência não se perdia frente

às discussões que ora se acentuavam:

É muito importante manter boas relações com os colegas no sentido de não trabalharmos

sozinhos e não atrapalharmos o desenvolvimento das atividades. Em virtude de ideias

diferentes, surgem alguns desentendimentos em prol do grupo (Bolsista Fabiana,

07/10/2015).

Apesar de Matheus destacar o trabalho colaborativo entre os licenciandos do

subprojeto, outro fator relevante e destacado pelos sujeitos entrevistados diz

respeito à ausência de interação entre os subprojetos Ciências Biológicas e

Matemática. Sobre esse aspecto, os sujeitos entrevistados são unânimes quanto à

necessidade de um trabalho mais efetivo que vise à interação entre os dois

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subprojetos, ainda mais se considerarmos que ambos os cursos formam professores

para atuar nos mesmos segmentos de ensino (Fundamental e Médio).

Para Mizukami et. al. (2002), a importância atribuída à escola como espaço

de formação está relacionada ao fato de haver em tal espaço múltiplas situações

divergentes que estão além dos referenciais teóricos e técnicos aprendidos durante

o curso de formação, o que é corroborado por Daniela:

Cada dia sou mais estimulada a aprender sobre educação especial. Temos uma ideia

errada de deficiência, de que eles não podem e não conseguem aprender. Durante o

desenvolvimento das ações do PIBID, as alunas autistas têm me mostrado que isso é

inverdade, elas são inteligentes e desenham muito bem. Elas são tímidas e vejo que o

desafio é que sejam mais sociáveis. Observo certa resistência dos demais alunos da turma

com as alunas autistas. Como elas têm dificuldades em socializar com outras pessoas, na

primeira atividade que desenvolvemos, dividimos a turma em grupos e colocamos as irmãs

autistas gêmeas no mesmo grupo juntamente com um aluno que tem dificuldades de leitura

e de escrita. O aluno, ao contrário das irmãs, pergunta e conversa com todo mundo, mas,

quando soube que estava no grupo delas ele chorou, ele não queria estar no grupo delas.

Conversamos com ele e quando ele aceitou os outros alunos começaram a mexer com ele

pelo fato de estar no grupo das alunas autistas. No final, a atividade deu certo e ele

participou. Eu fico triste porque às vezes eu noto que os demais alunos pensam que as

alunas autistas não deveriam estar ali. Precisamos estar ali para ajudar que esse

pensamento acabe. São crianças e já pensam desse jeito, aí a gente percebe que a

sociedade é preconceituosa. Agora, após ter contatos com a sala de aula, em especial com

as alunas autistas, eu pretendo fazer mestrado na área de educação especial, pois constatei

que não tenho base nenhuma (Bolsista Daniela, 27/10/2015).

O relato de Daniela nos permite compreender a importância da inserção do

futuro professor pelo PIBID no campo de atuação profissional, possibilitando “[...]

olhar, ver e analisar as escolas existentes com olhos não mais de alunos, mas de

futuros professores [...]” (PIMENTA, 2007, pág. 28).

Também buscamos analisar a aprendizagem da docência confrontando os

dados do Relatório das Atividades e dos Resultados alcançados pelo subprojeto

Ciências Biológicas (IFSULDEMINAS, 2014) com as manifestações dos sujeitos

pesquisados durante a entrevista (algumas já problematizadas) nesta dimensão.

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De acordo com o Relatório, no mês de março de 2014, ocorreram as

apresentações dos objetivos e das características do subprojeto bem como dos

sujeitos participantes do Programa nas escolas parceiras. O relato de Aline

demonstra que tal ação resultou no estabelecimento de uma boa relação entre os

envolvidos no subprojeto e aproximou a IES e as escolas parceiras, no entanto ela

destaca:

A escola e os professores supervisores acolhem bem, o problema são os outros

professores. Tenho o sentimento que quando chegamos na escola eles falam: ih, já chegou

o PIBID! Parece que eles têm uma invejinha das professoras supervisoras. Isso faz com que

prestemos bastante atenção nas nossas ações porque estamos sendo vigiados (Bolsista

Aline, 07/10/2015).

Neste fragmento, podemos observar nas escolhas de seus dizeres diversos

elementos que evidenciam o processo de construção de sentido, como o uso de

adjetivos. A subjetividade presente nos dizeres de Aline, nos reporta as questões

trazidas por Portelli (1996), ao se posicionar na HO, o qual apresenta duas

abordagens para tratar a questão da narrativa do entrevistado. A primeira seria

eliminar a subjetividade concentrando-se em dados concretos, como por exemplo,

os estatísticos, os quais podem se mostrar extremamente abstratos e não

representativos de uma experiência. A segunda abordagem considera que, ao

analisar um relato, o pesquisador tem em mãos um texto produzido por um

informante. Não há como assegurar a veracidade do fato relatado, mas a do texto

constituído por esse fato.

(...) [os textos são] (...) expressões altamente subjetivas e pessoais, como manifestações de estruturas do discurso socialmente definidas e aceitas (motivo, fórmula, gênero, estilo). Por isso é possível, através dos textos, trabalhar com a fusão do individual e do social, com expressões subjetivas e práxis objetivas articuladas de maneira diferente e que possuem mobilidade em toda narração ou entrevista, ainda que, dependendo das gramáticas, possam ser reconstituídas apenas parcialmente (PORTELLI, 1996, p. 4).

Inferimos que a “invejinha” dos professores mencionada por ela, torna visível

o aspecto competitivo ativado pelo processo de seleção trazido pelo PIBID aos

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professores da escola para atuarem como supervisores do Programa. O depoimento

de Aline expõe um ponto polêmico a ser avaliado. O desenvolvimento profissional é

um processo dinâmico e evolutivo, acontece no contexto escolar, compreende

fatores internos e externos, caracterizados, entre outros, por dilemas políticos e

ideológicos (IMBERNÓN, 1998).

Entre os princípios de formação inicial de professores estabelecidos na

Resolução n° 2 do CNE, de 01/07/2015, está o desenvolvimento de atividades que

propiciem a socialização do conhecimento. Nesse sentido, outro ponto analisado

para a aprendizagem da docência no PIBID foram as reuniões que ocorriam às

sextas-feiras das 13 às 17 horas para a reflexão das intervenções desenvolvidas nas

escolas. Na fala de Renato

Durante nossas reuniões, fazíamos um círculo, refletíamos e discutíamos o tema. Isso nos

proporcionou uma gama de conhecimentos enorme. As apresentações de seminários, tanto

no primeiro quanto no segundo edital, também foram relevantes para nosso aprendizado

(Bolsista Renato, 01/09/2015).

Conforme traçado no relatório do subprojeto, as reuniões foram importantes

para identificar e para debater as concepções dos bolsistas a respeito do ensino.

Nesse sentido, retomando as falas dos sujeitos pesquisados, chamou a nossa

atenção o que, para Flores (2003), implica “aprender fazendo, testando estratégias”,

tendo como objetivo obter resultados favoráveis que serão incorporados na prática

docente. Na fala de Daniela:

A elaboração das atividades no PIBID contribui muito porque temos que pesquisar, ter

contato com referenciais teóricos e com o Currículo Básico Comum para o planejamento das

ações. Quando aplicamos as atividades, verificamos que o planejamento é extremamente

importante, mas não podemos ficar presos somente a ele. Ao chegar na escola, é tudo

diferente, temos que aprender a ser flexíveis para as questões que não deram certo e

valorizar as que deram (Bolsista Daniela, 27/10/2015).

Consideramos relevante e necessário que os licenciandos tenham no início

de sua formação a possibilidade de compreenderem a necessidade de rever as

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intervenções. Nesse sentido, tal situação demanda o desenvolvimento e a

construção de estratégias metodológicas para conquistar a ordem, o envolvimento

dos alunos e suas aprendizagens. A reflexão sobre a prática docente possibilitará

maior segurança ao licenciando, no decorrer de suas experiências em sala de aula.

O relato de Daniela também traz à tona a participação ativa dos estudantes

no planejamento das ações desenvolvidas no PIBID. Também revela uma dimensão

intrínseca ao ato de planejar: o preparo seja por fornecer embasamento teórico, seja

para analisar o que os alunos estão aprendendo ou para achar soluções de erros, o

planejamento é mencionado na sua função de antecipar e de preparar o estudante

para o que provavelmente vai acontecer em aula. Reforçam, assim, o aspecto da

organização do trabalho docente e do papel do professor nesse processo

(GUEDES-PINTO, 2009).

Outras ações relacionadas à aprendizagem da docência foram a feira de

ciências e as visitas dos licenciandos e alunos de Educação Básica ao Planetário de

Campinas/SP, ao Zoológico de São Paulo e a Universidade Federal de São Carlos

(UFSCAR). Para Matheus,

Essas atividades extraclasse são muito importantes, pois estabelecem uma relação mais

próxima entre nós do PIBID e os alunos (Bolsista Matheus, 02/09/2015).

De acordo com o relato de Matheus, as atividades extraclasse contribuíram

tanto para a aproximação das IES com as escolas, quanto para a aproximação dos

licenciandos com os alunos da escola. O Relatório do PIBID também destaca que as

visitas possibilitaram aos bolsistas vivenciarem novas experiências culturais e

conhecerem diferentes espaços que trabalham os conteúdos relativos às Ciências

de forma diferenciada. Apresentamos abaixo, fotos das visitas a espaços e eventos

culturais realizados pelo grupo PIBID Ciências Biológicas, que constam no relatório

das atividades desenvolvidas e resultados alcançados.

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Figura 7: Licenciandos e professores participantes do PIBID visitando o CDCC da USP. Fonte: Blog do PIBID Ciências Biológicas, Campus Inconfidentes. Disponível em:

http://pibidbiologiainconfidentes.blogspot.com.br/

Essas oportunidades ampliaram o repertório dos licenciandos com relação às

formas de atuarem em diferentes espaços. Assim, concordamos com Silveira (2016,

p. 26), ao afirmar que o PIBID possibilita aos licenciandos “conhecerem a si

mesmos”, visto que, para o autor, o “contato direto com os desafios da docência

permite ao futuro professor, desde muito cedo, confrontar suas limitações e

potencialidades”.

Ainda, em ralação à feira de Ciências, Aline narra um caso que a marcou:

Eu consegui observar o crescimento dos alunos ao longo de todas as atividades. Tinha uma aluna o ano passado que no início das nossas ações ela não falava, era muito quieta, não queria discutir as atividades, não queria fazer nada. No decorrer, realizamos uma feira de ciências e uma das atividades foi apresentada por ela. Ela perguntava se as pessoas queriam explicações, se tinham dúvidas. Ela se soltou ao longo das ações que realizamos. Ver o desenvolvimento dos alunos foi motivador, o que me deu mais vontade de ser professora. (Bolsista Aline 07/10/2015).

Pollak (1989, 1992), pesquisador da HO na reconstrução memorialística dos

sobreviventes do holocausto, por sua vez, indica as balizas da memória, ou seja, ela

se baseia em pilares como alguns fatos marcantes. Considerando isso, Aline, no

momento da entrevista, recorreu à “feira de ciências” para reconstruir sua vivência

no PIBID. Ela relata que o projeto Feira de Ciências desenvolvido no PIBID

possibilitou vivenciar uma experiência motivadora relacionada à docência ao

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perceber o desenvolvimento de uma aluna da escola no decorrer das ações,

afirmando que “ela se soltou ao longo das ações que realizamos”.

O seu relato nos leva a reconhecer e a valorizar as escolas de Educação

Básica como espaço de produção e de apropriação de conhecimento, configurando

o Programa como “terceiros espaços” na formação, conforme defendido por

Zeichner (2010) e por Felício (2014).

Figura 8: Atividades desenvolvidas durante a feira de ciências. Fonte: Blog do PIBID Ciências Biológicas, Campus Inconfidentes. Disponível em:

http://pibidbiologiainconfidentes.blogspot.com.br/

Constatamos que a feira de ciência foi uma ação proposta no subprojeto do

curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e que de fato foi importante para dar

visibilidade ao subprojeto nas escola, para estimular o interesse, a curiosidade e a

motivação dos alunos da educação básica para a aprendizagem em Ciências e para

melhorar a autoestima dos bolsistas de iniciação à docência com relação aos

resultados de seu trabalho junto aos alunos, conforme relatado por Aline.

Destacamos que os resultados obtidos a partir da feira de ciências também atendem

a um dos objetivos presentes no relatório de gestão da DEB, o qual destaca como

um dos impactos nas escolas públicas participantes do PIBID “a elevação do

desempenho dos alunos” da Educação Básica (BRASIL, 2013, pág. 9).

Tendo abordado e discutido as percepções em torno da aprendizagem da

docência com foco naquelas expressas pelos sujeitos pesquisados, apresentamos e

discutimos a seguir as contribuições do Programa nos cursos de licenciatura.

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5.3 – Contribuições do PIBID para os cursos de licenciatura no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

A coordenadora institucional Mariana enfatiza que, apesar de a coordenação

não ter dados oficiais sobre a evasão, “os alunos têm relatado mudanças de

rendimento nos cursos após ingressarem no PIBID”. No mesmo sentido, o CA Rafael

reafirma o posicionamento de Mariana. Para ele, “o número de evasões no curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas diminuiu com a efetivação do Programa”.

As falas dos coordenadores corroboram o estudo de Rabelo et.al. (2016), o

qual objetivou entender quais são as contribuições e os limites de um subprojeto

PIBID de física para a permanência dos alunos no curso de licenciatura em uma

Universidade Federal. De acordo com o autor, “a participação no subprojeto

impactou de maneira positiva na manutenção dos bolsistas na licenciatura e no

suporte aos professores novatos” e o “não preparo dos professores para lidarem

com as dificuldades do início da carreira docente está relacionado ao fato de a

formação docente ser muito distante da realidade escolar, ou seja, do cotidiano da

profissão” (RABELO 2016, pág. 102).

Diante das afirmações dos coordenadores de que o número de evasão

diminuiu após o início do PIBID na instituição, buscamos conhecer os índices reais

de licenciandos que deixaram de frequentar o curso, solicitando a Seção de

Registros Acadêmicos (SRA) os dados oficiais.

Tabela 5: Número de evasão de estudantes no curso

TURMA INGRESSOS DESISTENTES COLARAM

GRAU MATRICULADOS

NO 1°/2016

2010 36 15 17 04

2011 46 25 09 12

2012 40 22 02 18

2013 39 16 - 24

2014 41 14 - 28

2015 40 08 - 32 Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados fornecidos pela Seção de Registros Acadêmicos (2016).

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Os dados indicam que a evasão no curso sempre existiu. No entanto, desde

que o PIBID foi implementado em 2011, a taxa de evasão, de fato está diminuindo,

correspondendo a 42% em 2010; 55% em 2011; 55% em 2012; 41% em 2013; 34%

em 2014 e 20% em 2015. Neste cenário, devemos considerar que parte das turmas

ainda não concluíram o curso, existindo possibilidade de aumento ou de diminuição

nos índices.

Segundo o relatório Escassez de professores no Ensino Médio: Propostas

Estruturais e Emergenciais (BRASIL, 2007, p. 11), a evasão nos cursos de

licenciatura em todo país é, por sua vez, excessivamente alta, e por vários fatores,

que vão desde as repetências sucessivas nos primeiros anos até a falta de recursos

para os alunos se manterem, mesmo numa Universidade pública, sendo necessário

criar mecanismos para reduzir os altos índices de evasão nos cursos de licenciatura.

No que tange à falta de recursos para os alunos se manterem no curso, para

a CA de área Cristina, embora não seja o foco do PIBID, não seja o motivo principal

da existência do Programa, o valor pago pelas bolsas que vão custear uma parte da

sobrevivência dos estudantes que querem ser professores é muito importante. Para

ela, “não adianta termos estudantes que queiram ser professores e que não tenham

condições de se manterem na cidade”, visto que a maioria dos estudantes das

licenciaturas ofertadas no Campus são trabalhadores ou dependem de exercer

algumas atividades para conseguirem se estabelecer no município. O CA Rafael

compartilha do posicionamento de Cristina ao afirmar que o incentivo financeiro por

meio das bolsas são essenciais para os cursos noturnos, cujos estudantes

necessitam trabalhar de manhã e de tarde para estudar, conforme relata Regina:

Eu seria hipócrita se eu separasse a importância da bolsa com a importância da formação.

De início, eu pensava na bolsa por que quando iniciei o PIBID eu trabalhava das 07 às 17

horas e isso era muito cansativo. Eu sempre tive esperança de conseguir uma bolsa para

trabalhar pelo menos meio período porque se eu não trabalhasse não conseguiria estudar.

Quando eu trabalhava o dia todo, acabava estudando de madrugada ou no final de semana.

Se não fosse a bolsa, teria desistido do curso (Bolsista Regina, 29/09/2015).

Mesmo não se evadindo do curso, Regina chegou a pensar em deixá-lo por

conta dos problemas que enfrentava. No quadro a seguir, são apresentados os

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relatos dos licenciandos sobre a destinação do valor recebido pela bolsa de iniciação

à docência.

Quadro 7 – Destinação do valor recebido pela bolsa de iniciação à docência.

Licenciando Destinação do valor recebido

Aline

Eu compro as coisas que eu preciso e pago o ônibus para vir ao Campus.

Daniela

Utilizo praticamente o dinheiro recebido através da bolsa para me manter no curso. Lá em casa somente o meu pai trabalha e vivemos de aluguel. Gasto

um pequeno valor da bolsa com o deslocamento para as reuniões.

Fabiana

Utilizo para o pagamento do aluguel. Este ano não temos gastado dinheiro

com transporte para irmos às escolas. O Campus está disponibilizando veículo para nos levar até as escolas para

fazer as intervenções.

Fábio

Como moro em Inconfidentes com os meus pais, eu não tenho despesas

extras. Como a escola onde atuo fica no bairro Pinhalzinho, eu utilizo parte do dinheiro com o transporte. Outra parte do dinheiro eu gasto com a

pesquisa que desenvolvo aqui.

Jéssica

Parte da bolsa era destinada aos gastos com a faculdade. Como eu atuava em uma das duas escolas de Ouro Fino, nas quais o subprojeto está sendo

desenvolvido, a bolsa também era utilizada para minha locomoção, alimentação e eventuais materiais necessários para a realização das

atividades na escola.

Matheus

Parte da bolsa é utilizada como complemento da minha renda para gastos com aluguel. O restante utilizado para a realização do programa, como por

exemplo, às passagens para Ouro Fino.

Renato

Eu utilizo para pagar as passagens até Inconfidentes, me alimentar e

participar das reuniões do PIBID e das aulas à noite.

Tamara

Utilizo a maior parte dela para pagar o aluguel e a alimentação e também

para utilidades acadêmicas, como xérox.

Fonte: construído pelo autor a partir das entrevistas.

Nesse sentido, encontramos evidências de que o pagamento de bolsas pelo

PIBID auxilia na permanência dos estudantes no município (pagamento de aluguel e

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alimentação), no traslado de casa ou trabalho até a instituição ou escolas parceiras,

proporciona um tempo maior para se dedicarem às ações do Programa e às

atividades do curso. Podemos constatar, através de seus relatos, que a bolsa

aumenta as possibilidades de permanência dos licenciandos não somente no PIBID,

mas também no curso, diminuindo a evasão por questões econômicas, fato também

evidenciado por Rabelo (2016) e Gattí et. al. (2014) ao avaliarem o Programa.

Outra importante contribuição do PIBID para o curso, não sendo evidenciada

no currículo prescrito (PPC, 2016) e que de acordo com os licenciandos também não

se efetiva na prática dos professores, refere-se aos aspectos da alfabetização

científica (AC) na formação do futuro professor. Nesse sentido, Chassot (2001)

afirma que a cidadania só pode ser exercida plenamente se o indivíduo tiver acesso

ao conhecimento, cabendo aos professores promover essa educação científica.

Os dados da pesquisa revelam que, no PIBID, a AC foi trabalhada de forma

interdisciplinar, envolvendo as disciplinas de Português, Geografia e História,

abordando, por exemplo, o conteúdo da miscigenação do Brasil. Tal ação vem ao

encontro do que é defendido por Sasseron (2008), ao afirmar que o alfabetizado

cientificamente não precisa saber tudo sobre as ciências, assim, “o foco deixa de

estar somente sobre o ensino de ciências e métodos das ciências, mas também

sobre a natureza das ciências e suas implicações mútuas com a sociedade e o

ambiente” (SASSERON, 2008, p.21).

De acordo com o CA Rogério, a alfabetização científica (AC) não era o foco

do subprojeto. Segundo ele, durante o processo de seleção de supervisores, foi

constatado que os professores de Ciências e de Biologia não tinham o perfil

desejado, visto que “estávamos buscando professores que fossem espelhos para os

estudantes bolsistas e não evidenciamos aquele professor engajado”. Em sua fala,

os professores que mais se aproximavam das características pretendidas eram de

outras áreas, o que possibilitou para ele “visualizar um horizonte maior” para o

subprojeto e ampliar o conhecimento dos licenciandos e dos alunos do Ensino

Fundamental, antes limitado ao conteúdo específico das ciências biológicas.

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A perspectiva de trabalhar com os estudantes bolsistas e alunos da Educação Básica é que

eles possam compreender a alfabetização científica para além dos conteúdos biológicos

(Coordenador de área Rogério, 06/04/2016).

A visita dos bolsistas e dos alunos da Educação Básica ao Planetário de

Campinas e ao Zoológico de São Paulo descritas no relatório de atividades

desenvolvidas e dos resultados alcançados em 2014 pelo subprojeto corroboram

Lorenzetti e Delizoicov (2001, p. 6), ao afirmarem que “as escolas não têm

condições de propiciar à sociedade todas as informações científicas que os alunos

necessitam para compreender o mundo em mudanças”. Para esses autores, se a

escola não pode proporcionar todas as informações científicas que os estudantes

necessitam, ela deverá proporcionar iniciativas que possibilitem o acesso aos

conhecimentos. Assim, visitas ao planetário e ao zoológico constituem espaços que

podem provocar uma ampliação dos conhecimentos dos alunos.

Os dados da pesquisa revelam a necessidade de desenvolvimento da

alfabetização científica no currículo do curso. Vejamos as considerações de

Aline:

Eu queria que o que eu aprendi no PIBID estivesse disponível a todos, por exemplo, eu não

estudei nada sobre a alfabetização científica no curso (Bolsista Aline, 07/10/2015).

Aline considera que é possível trabalhar a alfabetização científica em todas as

áreas e que foi “um ganho” no aspecto formativo trabalhá-la em disciplinas

diferentes do curso de graduação. Diante do que foi exposto por Aline,

consideramos necessário refletir de que forma a AC pode ser considerada no

currículo do curso. Sasseron (2011) enfatiza a importância da escola em não se

limitar a fornecer conteúdos aos estudantes, mas que também possa desenvolver

entre eles uma racionalidade crítica que propicie condições de identificar e participar

de discussões referentes aos problemas científicos na sociedade, conforme

expresso anteriormente pelo CA Rogério.

Apesar de considerarem relevante as intervenções interdisciplinares

relacionadas à AC, tal ação não foi fácil para os licenciandos. Para Daniela, a

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dificuldade não está em trabalhar a AC e, sim, em se inteirar do conteúdo de outra

disciplina, visto que, “quando pensamos em alfabetização científica fazemos relação

somente com as disciplinas Ciências e Biologia”. O posicionamento de Daniela

revela uma nova apropriação da licencianda ao constatar que a AC não se limita

apenas às Ciências Biológicas.

Na história, nós conseguimos que os alunos desenvolvam a observação, o levantamento e a

comprovação de hipóteses e que consigam ligar um fato a outro. A elaboração das

atividades no PIBID contribui muito porque temos que pesquisar, ter contato com

referenciais teóricos e com o Currículo Básico Comum para o planejamento das ações

(Bolsista Daniela, 27/10/2015).

Trabalhar a AC em diferentes áreas do conhecimento foi ao mesmo tempo um

desafio e um diferencial extremamente positivo no PIBID Ciências Biológicas. Os

relatos dos licenciandos revelam que eles compreenderam que existem textos de

divulgação científica relacionados aos conteúdos ministrados nas disciplinas de

geografia, de história e de português e que é possível construir e desenvolver a

percepção científica dos estudantes da Educação Básica nas diferentes áreas do

conhecimento, podendo realizar-se uma abordagem interdisciplinar.

Consideramos que o contato dos licenciandos com os conteúdos de outras

disciplinas os prepara para enfrentar uma possível situação no campo profissional.

No estado de Minas Gerais, o professor ou licenciando não habilitado para lecionar

determinada disciplina poderá solicitar autorização26 para lecionar a título precário

outra disciplina na Educação Básica. Nesse caso, antes ou até mesmo depois de ter

concluído o curso de licenciatura, existe a possibilidade de os licenciandos

vivenciarem no campo profissional os mesmos dilemas enfrentados e refletidos no

PIBID.

O principal motivo para a emissão da autorização a título precários é a

ausência de professores devido à baixa atratividade da carreira docente e não

defendemos a autorização para lecionar por considerar as particularidades na

26 Estamos fazendo referência ao Certificado de Avaliação de Títulos (CAT), cujas bases legais estão na Resolução N° 397/1994, aprovada em 16/09/1994 e publicada no Diário Oficial de Minas Gerais de 01/10/1994.

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formação do professor em cada área do conhecimento. Cada disciplina tem as suas

especificidades e a sua didática, assim, as aulas ficam comprometidas porque os

professores não dominam grande parte dos conteúdos das disciplinas.

Em contrapartida, também não podemos desconsiderar que tal autorização

está legalizada, sendo praticada no Estado de Minas Gerais. A AC desenvolvida no

PIBID parece-nos como sendo uma possibilidade de aproximação não somente

entre os subprojetos, mas também entre os cursos de Licenciatura em Ciências

Biológicas e Matemática no Campus Inconfidentes, o que no nosso entendimento,

seria enriquecedor para a formação inicial do professor.

5.4 – Aprendendo o que fazer, a refazer e o que não fazer por meio do PIBID

Apesar de considerar que os conhecimentos dos professores não são fixos e

imutáveis, Tardif (2011, p. 60) defende a importância de uma base de

conhecimentos relacionados à docência, compreendida como “[...] o conjunto dos

saberes que fundamentam o ato de ensinar no ambiente escolar”. Para o autor, tais

conhecimentos devem abarcar um conjunto de saberes relacionados entre si. São

eles: os saberes das ciências da educação, os quais são “transmitidos pelas

instituições de formação de professores”; os saberes pedagógicos, “mobilizados na

prática docente”; os saberes disciplinares, oriundos “dos diversos campos do

conhecimento”; os saberes curriculares, expressos “na forma de programas

escolares”; os saberes experienciais, “baseados no exercício da profissão” (TARDIF,

2011, p. 36-39).

Para o estudante Matheus, a indicação de textos para leitura durante as aulas

de didática auxiliaram no desenvolvimento das atividades do subprojeto. Segundo

ele, “tentávamos aplicar na escola os conceitos vistos nas aulas de didática”. Essas

experiências transmitidas pela instituição de formação na disciplina de didática

possibilitaram a Matheus compreender “o que fazer” a partir da importância dada

aos embasamentos teóricos no planejamento e no desenvolvimento das ações no

Programa, caracterizando a efetivação de um dos saberes descritos por Tardif

(2011) referente às ciências da educação.

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Os saberes pedagógicos e experienciais referenciados por Tardif (2011)

também foram mobilizados na prática docente durante o PIBID, contribuindo para

Regina vivenciar “o refazer” durante as intervenções do subprojeto.

A gente observa que nem tudo dá certo. Nós planejamos, achamos que a intervenção está

maravilhosa e chega na hora você percebe que não é bem assim. O PIBID possibilita

vivenciar a escola pública, perceber que têm coisas que não funcionam e que devem ser

melhoradas. Se você passa por uma formação sem nunca ter pisado no chão de uma escola

pública, quando entrar lá, você vai aplicar as coisas do seu jeito, achando que tudo vai dar

certo. No PIBID, temos a possibilidade de compreender o que pode ser melhorado (Bolsista

Regina, 29/09/2015).

Os saberes disciplinares oriundos dos conhecimentos das Ciências da

Natureza também foram manifestados por Jéssica no sentido do “refazer”. Segundo

ela, “a intervenção relacionada ao uso dos agrotóxicos foi muito extensa”, resultando

em uma experiência “que nos fez planejar melhor as intervenções posteriores”.

O relato de Tamara corrobora Silveira (2016), ao afirmar que “a convivência

na escola possibilita também, inevitavelmente, que os bolsistas assistam a cenas

desagradáveis e maus exemplos de conduta profissional”, resultando em exemplo

“do que não fazer”. Consideramos, assim como Silveira (2016), que tais situações

resultam em oportunidades de aprendizagem. Nesse sentido, Tamara afirma

registrar no diário de campo os fatos considerados importantes como “a postura do

professor, os gestos e o modo de ofertar respostas aos alunos frente aos

questionamentos.” Segundo Tamara, durante uma atividade de intervenção, ela

constatou que “uma professora passava a maior parte do tempo sentada, dando

risada e desrespeitando os alunos”. Para ela, a professora “não tinha postura para

dar aula”. Eis mais uma das faces dos saberes enfatizados por Tardif (2011), trazida

à tona pela experiência do PIBID.

Retomamos na fala de Tamara a utilização do diário de campo como forma de

registro da memória e de reflexão das vivências no contexto do PIBID. Os diários

podem contribuir nesse processo do que fazer, do que refazer e do que não fazer,

por evidenciar aquilo que Zabalza (2003) denomina dilemas dos professores. Para o

autor, “os diários são um instrumento magnífico para identificar quais questões são

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dilemas para cada professor e como ele vai enfrentá-los.” Nesse sentido,

consideramos que a socialização dos registros das memórias dos estudantes, seja

no PIBID, seja no Estágio Supervisionado ou nas disciplinas que contemplem as

práticas de ensino, ampliam as possibilidades de reflexão sobre os fazeres da

profissão, pois, “como seres humanos somos contadores de histórias. Vivemos vidas

relatas e aprendemos com as histórias que ouvimos” (LARROSA, 1995).

Para Joutard (2007, pág. 225), pesquisador da HO, o ponto em comum entre

memória e história é que ambas constituem “[...] duas vias de acesso ao passado

paralelas e obedientes a duas lógicas distintas”. De acordo com o autor, a primeira

via está ligada ao passado por uma relação afetiva com os acontecimentos

vivenciados e, em contrapartida, a segunda via é seletiva e se concentra em alguns

fatos.

De acordo com os licenciandos, os conteúdos (temas) registrados nos diários

contemplam vários aspectos das vivências no Programa, tais como o

reconhecimento do ambiente escolar e sua rotina, o espaço físico, as metodologias

usadas pela professora supervisora em sala de aula, os materiais didáticos

utilizados, as formas de avaliação e o comportamento dos alunos. Nesse sentido,

Guedes-Pinto (2012, pág. 147), em seu estudo sobre o papel das práticas escritas e

a formação de professores, assevera que a “escrita afirma-se como um recurso

potencializador para os estudantes e também para os professores aproximarem-se

cada vez mais das compreensões em torno das práticas escolares e do cotidiano do

profissional”. A autora destaca o caráter mobilizador que a escrita do gênero

narrativo pode ter para o estudante. Consideramos, assim, a importância dos diários

nas práticas formativas.

5.5 – O desejo pela docência manifestado no PIBID

A partir dos relatos dos licenciandos, percebemos que todos consideraram a

experiência no PIBID significativa para sua formação, uma vez que as situações

vivenciadas no Programa, caracterizadas pelas discussões e pelas reflexões

levantadas durante os encontros com os professores coordenadores e supervisores

e, principalmente, as intervenções em sala de aula possibilitaram a eles se sentirem

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mais próximos da realidade escolar, vindo ao encontro de outros estudos

(SILVEIRA, 2016; FELÍCIO, 2014; GATTI, 2012).

Identificamos na fala de Matheus que o Estágio provocou algumas sensações

de frustração quanto à continuidade de seguir na profissão. Como ele destaca, “no

meu primeiro contato com a sala de aula, eu vi a escola como um caos, um inferno.

Fiquei imaginando onde estava o erro para escola estar daquela maneira”. Para ele,

as vivências no PIBID “mudaram a minha visão de licenciatura e me mostraram que

é possível ser feliz dando aula”.

Para Teixeira e Praxedes (2006), o entrevistado, ao narrar sua experiência,

ao transformar sua vivência em palavras ditas ao outro, ressignificam e reinterpretam

suas ações no mundo, conforme podemos identificar no depoimento expresso por

Matheus ao dizer ter mudado seu desejo pela docência após participar do PIBID.

Assim, as autoras consideram a HO como fonte metodológica e técnica de pesquisa

com potencial pedagógico.

A História Oral é uma experiência de caráter pedagógico porque ela é formadora. Ela não somente interroga e registra, mas potencializa a condição dos sujeitos no mundo. Nos fios da memória, no resgate do vivido [...] revivido na narrativa os sujeitos produzem conhecimentos e vão se constituindo em processos de identificação e de subjetivação. Em processos de formação (TEIXEIRA; PRAXEDES, 2006, p. 162).

Em todas as dimensões analisadas, os licenciandos mostraram ter articulado

as vivências no Estágio com as vivências no PIBID. Neste sentido, nosso trabalho

apresenta proximidades com os estudos de Camargo (2015). Em seu trabalho, a

autora baseia-se em Pollak (1989, 1992) para enfatizar que a organização da

memória destina-se a determinados fins. Para isso, as memórias entram em disputa

para ver, dentre todas elas, qual prevalecerá. Em nosso caso, também “há uma

disputa de memórias que tendem a demarcar uma distinção entre os estudantes

bolsistas do PIBID e os estagiários” (CAMARGO, 2015, p. 170).

A licencianda Aline destaca que, apesar de todos os desafios e dificuldades,

possui o desejo pela docência, mas que leva “muitos problemas dos alunos para

casa” e que “precisa parar com isso”. Nesse sentido, Nóvoa (1992, p. 9) afirma que

não há como separar o “eu pessoal do eu profissional, sobretudo numa profissão

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impregnada de valores e ideais, e muito exigentes do ponto de vista do

empenhamento e da relação humana.” O aspecto de compromisso e de esperança

com a profissão docente também estão presentes na fala de Daniela: “observamos

que a sociedade é preconceituosa, que o mundo é preconceituoso e temos que

mudar isso”.

Para Regina, a postura profissional dos coordenadores de área Cristina e

Rogério aumentou o seu desejo pela docência.

Cristina é para mim mais do que uma professora, ela é um exemplo de pessoa e

profissional. Muito do que eu aprendi de enxergar o aluno foi com ela. Ela enxerga muito

mais que o aluno, ela enxerga o ser humano e isso eu aprendi com ela. O professor Rogério

sempre está pronto para o que precisar, ele está sempre disposto a nos orientar, nos

incentivando a ser professores (Bolsista Regina, 29/09/2015).

Compartilhamos a mesma consideração feita por Camargo (2015), ao

enfatizar que HO, ao defender a relevância de trazer para a pesquisa os pontos de

vista dos vários atores sociais que compartilharam os mesmos processos, pontua a

riqueza que a investigação oferece ao incorporar mais de uma perspectiva,

conforme evidenciamos no relato de Lívia, ao não se entusiasmar, como os demais,

o desejo pela docência.

Não considero que tenha fortalecido o meu desejo pela docência. Eu me sinto mais

preparada. Não que eu ame dar aulas. Amar a gente não ama por causa do PIBID. Quem

ama é porque já amava antes. O PIBID é um aprendizado (Bolsista Lívia, 31/08/2015).

Constatamos na fala de Lívia que o Programa se coloca como uma

oportunidade de conhecer mais sobre a profissão docente. Nesse sentido, o PIBID

passa a cumprir um dos seus objetivos que é o de aproximar, cada vez mais, os

licenciandos da profissão docente, além de permitir uma reflexão sobre a própria

formação e futura atuação profissional, fato também evidenciado nos trabalhos de

Silveira (2016), Felício (2014) e Gatti (2012).

De maneira geral, os licenciandos ressaltaram as experiências positivas

relacionadas às possiblidades de vivenciarem a docência de maneira mais plena e,

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consequentemente aumentar o desejo pela docência, do que as experiências

negativas, caracterizadas nos relatos por pelo menos dois aspectos: a difícil

realidade da escola pública (más condições de instalação, de trabalho e

desvalorização pela suposta má qualidade da educação) e os baixos salários que

impactam no estereótipo da profissão, contribuindo para que os jovens não sejam

atraídos para o magistério. Nesse sentido, percebemos as potencialidades das

ações desenvolvidas no âmbito do PIBID do curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas, uma vez que este possibilitou a construção de um outro olhar para a

profissão.

Ao final das entrevistas, tanto os estudantes quanto os professores

coordenadores de área tiveram um momento para fazer apontamentos que

considerassem relevantes, para falar de questões que não tivessem sido abordadas

ou para tecer observações ou sugestões para a melhoria do Programa. Os

estudantes e os coordenadores consideraram que as questões feitas abarcaram as

ações vivenciadas por eles e teceram considerações relacionadas à necessidade de

ampliação nos momentos de observação nas escolas com vistas a identificar o nível

de conhecimento dos alunos para o posterior desenvolvimento das atividades.

Alguns estudantes relataram a necessidade de ampliar as possibilidades de

participação em eventos de socialização do PIBID com vistas a refletir sobre as

ações que estão sendo desenvolvidas por outros grupos e, principalmente, quanto à

necessidade de aproximação entre os subprojetos dos cursos de licenciatura em

Matemática e de licenciatura em Ciências Biológicas desenvolvidos no Campus.

Um aspecto unânime entre os entrevistados refere-se à importância de o

Programa contemplar um número maior de estudantes da licenciatura e, em

complemento, a coordenadora Cristina enfatizou a importância de investimentos em

equipamentos que atendam às necessidades da formação de professores, visto que

as licenciaturas são recentes no Campus.

Como coordenadores de área, Cristina e Rogério relatam os desafios postos

no desenvolvimento do Programa, caracterizado por mediar as ações desenvolvidas

nas escolas de Educação Básica, nas conversas com a direção, com os professores

supervisores, com os estudantes bolsistas e com a coordenação institucional. As

falas de Cristina e de Rogério revelam uma perspectiva de bastante sintonia na

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coordenação do Programa. De acordo com Cristina, “uma coisa que me frustra como

coordenadora de área do PIBID é que eu visualizo bolsistas com muito potencial

para serem professores, mas que não vão ser ou serão apenas no ensino superior”.

As falas dos coordenadores corroboram o posicionamento de Felício (2014).

Para ela,

Os resultados apontam para a necessidade de o PIBID, como política pública de formação inicial de professores, provocar ações nas políticas de carreira docente e nas políticas definidoras de condições do trabalho docente, uma vez que, para os licenciandos, apesar de o PIBID se constituir como um espaçotempo fundamental para

consolidação de uma formação docente de qualidade, o Ensino Superior se configura o nível almejado por eles para o exercício da docência (FELÍCIO, 2014, pág. 416).

Compreendemos a decisão de alguns dos licenciandos de cursarem o

Mestrado e o Doutorado após o término da graduação, mas ressaltamos que o

nosso desejo, assim como os dos coordenadores, é que estes bolsistas também

atuem profissionalmente e façam a diferença na escola de Educação Básica.

Diante dessa trajetória do PIBID no curso de Licenciatura em Ciências no

IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes, que contribuições para o processo de

formação de professores poderíamos ainda destacar?

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Considerações Finais

A busca pela compreensão sobre as possíveis contribuições da participação

no PIBID para o desenvolvimento profissional de bolsistas estudantes do curso de

Licenciatura em Ciências Biológicas do IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes, nos

trouxe, num primeiro momento, à reflexão sobre minha história e de minha prática

docente, analisando os desafios vividos nas salas de aula e as socializações com

professores e com futuros professores.

Um segundo movimento seguido para atender a questão, caracterizou-se pela

análise documental e pela pesquisa bibliográfica sobre o panorama geral das

políticas de formação de professores no Brasil a partir da LDB (BRASIL, 1996), o

qual nos permitiu compreender o percurso das políticas públicas de educação no

Brasil, caracterizadas pela apresentação das diversas ações coordenadas pela

CAPES até chegarmos ao PIBID, foco deste estudo.

O terceiro movimento configurou-se na apresentação do cenário da pesquisa,

dos sujeitos pesquisados e da escuta atenta a seus dizeres por intermédio da

abordagem da História Oral. Dentro dessa perspectiva, reconhecemos em seus

depoimentos o destaque a cinco dimensões – a distinção entre o PIBID e o Estágio

Curricular Supervisionado, a aprendizagem da docência no PIBID, as contribuições

do PIBID para os cursos de licenciatura no IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes,

aprendendo o que fazer, a refazer e o que não fazer por meio do PIBID e o desejo

pela docência manifestado no PIBID – com vistas a identificar as contribuições do

Programa na formação dos professores.

As ações coordenadas pelos professores no interior do PIBID possibilitaram

aos licenciandos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas um contato direto

com o trabalho docente. Para esses estudantes, a aproximação com a escola de

Educação Básica trouxe dilemas e desafios, contribuindo significativamente para a

formação docente. Desse modo, o contato dos futuros professores com a escola

possibilitou: o estabelecimento de uma boa relação entre os envolvidos no

subprojeto; a apropriação de concepções de ensino; a vivência de novas

experiências culturais e a possibilidade de desenvolver o ensino de Ciências entre

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outros espaços, contemplando de fato, os dados presentes no relatório de atividades

desenvolvidas e dos resultados alcançados em 2014.

Nesse percurso, de acordo com os dizeres dos sujeitos pesquisados, a

inserção mais qualificada dos licenciandos na escola de Educação Básica se

caracterizou por um acompanhamento constante dos professores e se

complementou por reflexões embasadas teoricamente nos encontros do grupo, que

procuraram garantir o estabelecimento da relação teoria/prática.

Os resultados da pesquisa possibilitam apontar o estabelecimento de uma

parceria entre a IES e a escola de Educação Básica. A parceria foi essencial para o

desenvolvimento das intervenções, em especial, das relacionadas à Alfabetização

Científica (AC). Nesse aspecto, destacam-se as ações interdisciplinares, as quais,

apesar de não terem sido planejadas inicialmente, se efetivaram e geraram

importantes resultados, como publicações (verificadas nos relatórios dos

subprojetos), a participação dos professores e licenciandos em eventos científicos e

a possibilidade de os envolvidos perceberem que a AC pode ser desenvolvida em

outras áreas do conhecimento: português, história e geografia, tal como ressaltado

em seus depoimentos. A AC também se mostrou como uma possibilidade de

aproximação entre as licenciaturas no Campus, visto que dizeres dos entrevistados

revelaram o distanciamento existentes nos cursos do Instituto. A participação dos

professores da Educação Básica como supervisores do PIBID possibilitou a estes

uma formação continuada, caracterizada pela participação no planejamento e no

acompanhamento das intervenções. Entretanto, existem algumas resistências dos

professores das escolas de Educação Básica que não participam do Programa

quanto à presença dos licenciandos na escola. Pudemos identificar por meio de

alguns trechos das falas dos entrevistados, um clima competitivo ou de incômodo

pelo processo seletivo instaurado pelo Programa na escola entre os seus

professores.

No contexto da realidade estudada, as ações relacionadas ao Estágio

Supervisionado presentes nas prescrições (Diretrizes e PPC) não se configuram na

prática, diferentemente do que aconteceu no PIBID. De acordo com os relatos, as

orientações dos professores de estágio são gerais, existe um certo distanciamento

entre a IES e a escola devido a dificuldade no estabelecimento de parcerias mais

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efetivas, o que acaba gerando a ausência de vínculo entre o licenciando e o

professor da Educação Básica. Tais constatações indicam que o formato de

desenvolvimento do Estágio deva ser repensado e, nesse sentido, as ações do

PIBID aparecem como possibilidades para a reestruturação do currículo do curso.

As experiências bem-sucedidas do PIBID, aproximaram a escola pública das

instituições de formação a partir da participação ativa dos professores do Ensino

Superior e da Educação Básica e dos estudantes dos cursos de Licenciatura, da

troca de experiências, do apoio profissional ocorrido na forma de orientação, de

acompanhamento, de assessoria, de supervisão dos professores e da colaboração

entre os envolvidos.

Os relatos dos sujeitos pesquisados indicam que no PIBID, foco deste estudo,

os estudantes e professores não se limitam a planejar e a desenvolver as

intervenções na escola, eles também refletem sobre elas. Tais reflexões vão para

além das estratégias metodológicas e abarcam as dimensões do currículo (prescrito

e praticado), caracterizado sobre o que ensinar, por que ensinar, a quem ensinar e a

quais objetivos o ensino visa a atender. Outro fato é que o estudante que participa

do PIBID durante dois anos tem mais que o dobro da carga do estudante que não

participa, o que aumenta as possibilidades de desenvolver a confiança, a autonomia,

a criatividade, as ideias e a desenvoltura em sala de aula. Os relatos também

indicam que o valor pago pela bolsa no Programa possibilita aos licenciandos

participantes não somente uma participação efetiva no Programa, como também

uma maior permanência e dedicação ao curso. Apesar das contribuições,

evidenciamos a necessidade de maior divulgação do Programa no Campus e no

município com vistas a aumentar o reconhecimento e a valorização da docência

entre os próprios servidores e a comunidade em uma instituição com tradição

agrícola.

Desse modo, consideramos que outras oportunidades de inserção na escola

foram propiciadas a partir da intervenção vinda pelas mãos do PIBID. Essas

oportunidades vêm ao encontro da pesquisa desenvolvida por Camargo (2015), que

revela a experiência enriquecedora propiciada pelo PIBID aos licenciandos

participantes de sua pesquisa.

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Os dados levantados e problematizados referentes ao PIBID no

IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes indicam ter ocorrido experiências

significativas para a formação dos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências

Biológicas, configurando-se o Programa como um terceiro espaço de formação,

conforme indicam os trabalhos de Zeichner (2010) e Felício (2014). Diante das

contribuições do Programa reveladas neste estudo, entendemos que o PIBID

necessita de um maior suporte financeiro, no sentido de contemplar todos os

estudantes da licenciatura, tornando um Programa político de estado e não de

governo.

Pudemos verificar com esse estudo que os coordenadores de área do PIBID

relataram visualizar nos estudantes muito potencial para serem professores, mas

que têm dúvidas se de fato eles vão se tornar professores da escola básica ou serão

apenas no Ensino Superior. Estariam os licenciandos participantes do Programa e

egressos do curso exercendo a docência na Educação Básica? Nesse sentido,

destacamos o limite do estudo, cujo objetivo foi se atentar aos futuros professores.

Assim, esperamos que as reflexões presentes nesta pesquisa possam oferecer

alguma contribuição, pois o trabalho não se encerra aqui. As contribuições do PIBID

na formação dos estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas foram

um desafio, que se espera, continue a instigar outros profissionais para enriquecer a

discussão.

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Anexo I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS – FACULDADE DE EDUCAÇÃO – UNICAMP

TÍTULO DA PESQUISA: Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

(PIBID): caracterização e análise do impacto na formação de licenciandos em Ciências

Biológicas no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes.

Eu, _________________________________________________________, ________ anos,

RG __________________, residente à __________________________________________,

no município de _______________________, abaixo assinado, dou meu consentimento

livre e esclarecido para participar como voluntário(a) do projeto de pesquisa supracitado,

sob a responsabilidade do pesquisador Nilton Luiz Souto, estudante de Pós-Graduação

Stricto Sensu em Educação da Universidade Estadual de Campinas, sob orientação da

Profa. Dra. Ana Lúcia Guedes Pinto.

Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:

1 – O objetivo da pesquisa é analisar os impactos do Programa Institucional de Bolsa de

Iniciação à Docência (PIBID) na formação dos estudantes do curso de licenciatura em

Ciências Biológicas;

2 – Durante o estudo serão feitas entrevistas com os participantes que serão registradas em

áudio.

3 – Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a

minha participação na referida pesquisa;

4 – Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa;

5 – Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da

pesquisa serão utilizados apenas para alcançar o objetivo do trabalho, exposto acima,

incluída sua publicação na literatura científica especializada;

6 – Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Nilton Luiz Souto, sempre

que julgar necessário, pelo telefone (35) 998500209;

7 – Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em

meu poder e outra com o pesquisador responsável.

Inconfidentes, _____ de _________________ de ________.

_________________________________________________ Voluntário(a)

__________________________________________________ Nilton Luiz Souto

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Anexo II QUESTIONÁRIO SOCIOGRÁFICO

Prezado(a) voluntário(a), Agradeço sua colaboração no preenchimento deste questionário, pois a análise das respostas será de grande valia para a pesquisa em curso. Pesquisador: Nilton Luiz Souto

CARACTERIZAÇÃO PESSOAL E ACADÊMICA

1 - Nome:

2 - Data de nascimento:

_____/_____/_____

3 - Curso que frequenta:

4 - Semestre e ano de ingresso no curso: ( )2°/2010 ( )1°/2012 ( )2°/2013 ( )1°/2015 ( )1°/2011 ( )2°/2012 ( )1°/2014 ( )2°/2015 ( )2°/2011 ( )1°/2013 ( )2°/2014

5 - Nível de escolaridade do pai: ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Nível Superior ( ) Pós-Graduação ( ) Outros:

6 - Nível de escolaridade da mãe: ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Nível Superior ( ) Pós-Graduação ( ) Outros:

7 - Você cursou o ensino fundamental: ( ) Todo em escola pública ( ) Maior parte em escola pública ( ) Todo em escola particular ( ) Maior parte em escola particular

8 - Você cursou o ensino médio: ( ) Todo em escola pública ( ) Maior parte em escola pública ( ) Todo em escola particular ( ) Maior parte em escola particular

9 - A escolha pelo curso foi sua primeira opção no vestibular? ( ) Sim ( ) Não

10 - Ao matricular-se no curso, você tinha conhecimento dos objetivos de um curso de licenciatura? ( ) Sim ( ) Não

11 - Você frequentou curso pré-vestibular? ( ) Sim ( ) Não

12 - Caso a resposta da questão n° 11 seja afirmativa, indique se o curso pré-vestibular foi em: ( ) Instituição pública ( ) Instituição privada

13 - Quais eram as suas expectativas ao ingressar no curso de licenciatura? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________

14 - Essas expectativas foram contempladas? ( ) Sim ( ) Não

15 - Você pretende atuar como professor(a) após a conclusão do curso? ( ) Sim ( ) Não

16 - Em caso positivo, em qual segmento de ensino: ( ) Educação Básica ( ) Ensino Superior

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Anexo III

ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS ESTUDANTES

1. Para iniciarmos, gostaria que você se apresentasse: diga o seu nome e o semestre (módulo) que está cursando a licenciatura em Ciências Biológicas. 2. Qual o tempo de vínculo ao Projeto? 3. Como ficou sabendo do edital para o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID)? 4. Quais foram os motivos que o levaram a participar do PIBID? 5. Ao ingressar no PIBID, que atividades você esperava realizar? 6. Como você utiliza a maior parte do valor recebido com a bolsa do PIBID?

7. Quais atividades desenvolvidas pelo PIBID foram significativas a você? 8. Quais atividades desenvolvidas pelo PIBID foram negativas a você? 9. Como você avalia sua interação com os coordenadores do Programa? 10. Como você avalia sua interação com os colegas que participam do Programa? 11. Como você avalia o compromisso da escola parceira em apoiar as atividades do PIBID? 12. Como você avalia o acolhimento dos bolsistas pelo diretor da escola? 13. Como você avalia o acolhimento dos bolsistas pelos demais professores da escola? 14. Você teve contato com alunos de outras licenciaturas? Em caso positivo, como você avalia a interação com estudantes de outro curso? 15. Qual era a sua percepção de escola pública antes de iniciar o PIBID? 16. Se você não tivesse participado do PIBID, você considera que essa percepção seria a mesma? 17. Ao investigar mais sobre a escola, você identificou a existência de recursos que podem auxiliar o professor de ciências ou biologia em suas aulas? Em caso positivo, que recurso você identificou? 18. Os professores da escola sabiam da existência desses recursos? E eles utilizam esses recursos em sala de aula? 19. A vivência no PIBID fortaleceu ou desmotivou a sua escolha pela docência? 20. Como você analisa o curso de licenciatura a partir das experiências propiciadas pelo PIBID? 21. Quais as contribuições do PIBID para o seu desenvolvimento pessoal e profissional? 22. Você gostaria de tecer observações ou sugestões para a melhoria do Programa? 23. Por fim, tem alguma pergunta que eu não tenha feito e que você gostaria de falar? Algum complemento? Alguma questão específica?

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Anexo IV

ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PROFESSORES COORDENADORES

1. Inicialmente, eu gostaria que você falasse sobre sua formação e atuação profissional, em especial, no Campus Inconfidentes. 2. Qual o tempo de vínculo ao Projeto? 3. Quais os motivos que o levou a participar como coordenador do PIBID? 4. O que você levou em consideração ao elaborar o subprojeto do PIBID Ciências Biológicas? 5. Quais critérios foram utilizados para selecionar os acadêmicos, as escolas parceiras e as professoras supervisoras para participarem do PIBID? 6. Com que frequência e em que momentos, acontecem as conversas com a coordenadora

institucional do Programa?

7. Como vocês avaliam o PIBID enquanto política pública de formação de professores? 8. Como tem ocorrido o desenvolvimento do(s) subprojeto(s) do PIBID Ciências Biológicas? 9. Como você articula teoria e prática no desenvolvimento das atividades do Programa? 10. Como você avalia a relação dos bolsistas do PIBID com os profissionais das escolas parceiras? 11. Quais as contribuições do PIBID para as escolas parceiras? 12. Quais as contribuições das escolas parceiras para a formação pessoal e profissional dos acadêmicos bolsistas? 13. Como você avalia a relação do grupo PIBID Ciências Biológicas com os demais PIBIDs da Instituição? 14. Como você avalia a formação dos licenciandos em Ciências Biológicas envolvidos no PIBID? 15. Quais as experiências desafiadoras você têm vivenciado em relação ao desenvolvimento do Programa? 16. Você gostaria de tecer observações ou sugestões para a melhoria do Programa? 17. Por fim, tem algum complemento ou questão específica que não foi abordada durante a entrevista e que você gostaria de falar.