processo de produção de um audiodocumentário enquanto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA EM PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM JOÃO DJANE ASSUNÇÃO DA SILVA Processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a expressão comunicativa e a sensorialidade: um estudo com educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola pública em São José de Solonópole/CE João Pessoa-PB 2020

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Page 1: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA EM PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

JOÃO DJANE ASSUNÇÃO DA SILVA

Processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de

ensino para favorecer a expressão comunicativa e a sensorialidade: um

estudo com educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola

pública em São José de Solonópole/CE

João Pessoa-PB

2020

Page 2: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

JOÃO DJANE ASSUNÇÃO DA SILVA

Processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de

ensino para favorecer a expressão comunicativa e a sensorialidade: um

estudo com educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola

pública em São José de Solonópole/CE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Educação do Centro de Educação da Universidade

Federal da Paraíba como requisito para à obtenção do

título de Mestre em Educação.

Linha de pesquisa: Processos de Ensino-Aprendizagem.

Orientadora: Profa. Dra. Nilvania dos Santos Silva.

João Pessoa-PB

2020

Page 3: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

S586p Silva, João Djane Assunção da. Processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a expressão comunicativa e a sensorialidade: um estudo com educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola pública em São José de Solonópole/CE / João Djane Assunção da Silva. - João Pessoa, 2020. 140 f. : il.

Orientação: Nilvania dos Santos Silva. Dissertação (Mestrado) - UFPB/Educação.

1. Audiodocumentário. 2. Estratégia de ensino. 3. Expressão comunicativa. 4. Sensorialidade. 5. Diálogo. I. Silva, Nilvania dos Santos. II. Título.

UFPB/BC

Catalogação na publicaçãoSeção de Catalogação e Classificação

Page 4: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

TERMO DE APROVAÇÃO

JOÃO DJANE ASSUNÇÃO DA SILVA

Processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a expressão comunicativa e a sensorialidade: um estudo com educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma escola pública em São José de Solonópole/CE Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba como requisito para à obtenção do título de Mestre em Educação.

Banca Examinadora

Page 5: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

Dedicado ao meu pai Francisco Vieira, à minha

mãe Maria Fábia e à minha irmã Flávia

Assunção. Esta caminhada só foi possível

graças ao esforço e apoio deles.

Page 6: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente às forças misteriosas do Universo, que aqui ressignificadas por uma

concepção particular de Deus, acredito terem me proporcionado o dom da vida.

Ao meu pai Francisco Vieira, o senhor “Chico Carlota”. À minha mãe Fábia Assunção, a “Dona

Fábia”. À minha irmã Flávia Assunção, a “Cida”. Meu propósito na vida é vê-los felizes e

orgulhosos da minha trajetória.

À minha companheira Lia Raquel, a qual tenho como exemplo de humildade, coragem,

esperança e determinação. Agradeço pelos dias e noites de parceria, incentivo e auxílio direto

neste trabalho. Sem ela esse caminho não teria a mesma satisfação.

Ao professor Dr. Assis Souza, figura importante nessa fase da minha vida. Agradeço por ter

acreditado em mim e por ter atuado como um pai em um dos momentos mais delicados que

enfrentei.

À minha orientadora Dra. Nilvania dos Santos, uma das pessoas mais humildes e solícitas que

tive a honra de conhecer. Esse trabalho é igualmente nosso.

Aos professores Dra. Lígia Beatriz, Dr. Diogo Lopes e Dra. Lebiam Tamar, amigos e tutores

que levarei para a vida.

Aos professores integrantes da banca examinadora: Dr. Eduardo Jorge, Dra. Márcia Regina e

Dra. Ana Cláudia, que foram pacientes em me conduzir pelo melhor percurso como

pesquisador.

Aos colegas que me deram forças durante a minha jornada no Mestrado, em especial: Elvis

Alves, Jonas da Silva, Douglas William, Cida Cavalcante, Jordânio Ericles, Gessica Mayara,

Maria Liliane, Valdinélia Virgulino, Luciana Dias, Erlanio Marculino e Geovane Freitas.

Aos representantes da Escola de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Mundoca Moreira

(EEIEFMM): Marisa Silva e Ana Cláudia. Aos representantes da Associação Comunitária

Rural Manoel Furtunato (ACRMF): Silvania Vieira e Benjamin Cunha.

Aos trinta e dois adolescentes “audiodocumentaristas”, aos entrevistados e demais pessoas que

participaram indiretamente ou apoiaram esta pesquisa.

A todos os moradores do território pertencente ao distrito de São José de Solonópole, no estado

do Ceará.

Por fim, à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), instituição proponente do Mestrado em

Educação, na qual estive orgulhosamente vinculado.

Page 7: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

“O mundo costuma ser hostil aos novos

talentos, às novas criações. O novo precisa de

amigos.”

Anton Ego - Ratatouille

Page 8: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

RESUMO

Nesta investigação, analisamos como a produção de um audiodocumentário pode contribuir de maneira

efetiva com a qualidade dos processos pedagógicos da sociedade contemporânea. Compreendendo a

educação como um fenômeno dinâmico e que se desenvolve mediante relações sócio-históricas,

propusemos uma prática inovadora de ensino direcionada às necessidades dos adolescentes imersos nas

tramas sociais de uma cultura midiática, norteada pelas interações constantes entre sujeitos e as

Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs). Com um trabalho investigativo

direcionado ao debate sobre comunicação e práticas pedagógicas, com enfoque no ensino, analisamos o

processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a

expressão comunicativa e a sensorialidade de educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental da

Escola de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Mundoca Moreira (EEIEFMM), instituição pública

localizada no distrito de São José de Solonópole, município de Solonópole, estado do Ceará. Para tanto,

construímos uma sequência de produção educativa com audiodocumentário, ao mesmo tempo em que

investigamos quais elementos do processo proporcionaram aspectos educativos favoráveis ao diálogo.

A pesquisa foi de natureza qualitativa e exploratória e teve como procedimento a Pesquisa de Aplicação,

cuja prática interventiva com os sujeitos se deu por intermédio de uma oficina guiada pela concepção

teórico-prática de Educação pela Comunicação, tendo sido estruturada em oito encontros presenciais e

atividades extensivas correlacionadas. Usamos duas técnicas para coleta de dados: a observação

sistemática e a entrevista por pautas. Como método de análise e interpretação dos dados, utilizamos a

Análise de Conteúdo, especificamente a técnica de análise categorial temática. Dentre os principais

resultados, a pesquisa conseguiu mostrar que o processo de produção de um audiodocumentário,

enquanto ação educativa estruturada, criou condições para a aprendizagem dialógica, onde educador e

educando se reconheceram como sujeitos ativos da educação, favorecendo a expressão comunicativa e

a sensorialidade e ampliando seu repertório simbólico para a construção de uma comunicação cidadã.

Palavras-chave: Audiodocumentário. Estratégia de ensino. Expressão comunicativa. Sensorialidade.

Diálogo.

Page 9: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

RESUMEN

En esta investigación, analizamos cómo la producción de un documental sonoro puede contribuir

efectivamente a la calidad de los procesos pedagógicos de la sociedad contemporánea. Entendiendo la

educación como un fenómeno dinámico que se desarrolla a través de relaciones sociohistóricas,

propusimos una práctica docente innovadora dirigida a las necesidades de los adolescentes inmersos en

el tejido social de una cultura mediática, orientado por las constantes interacciones entre las personas y

las Tecnologías Digital de la Información y Comunicación (TDICs). Con un trabajo de investigación

dirigido al debate sobre la comunicación y las prácticas pedagógicas, con un enfoque en la enseñanza,

analizamos el proceso de producción de un documental sonoro como estrategia de enseñanza para

favorecer la expresión comunicativa y la sensorialidad de los estudiantes de octavo grado de la escuela

de enseñanza infantil, primaria y secundaria Mundoca Moreira (EEIEFMM), institución pública ubicada

en el distrito de São José de Solonópole, municipio de Solonópole, estado de Ceará. Para eso,

construimos una secuencia de producción educativa con documental sonoro, al mismo tiempo, en la que

investigamos qué elementos del proceso proporcionaron aspectos educativos favorables para el diálogo.

La investigación fue de naturaleza cualitativa y exploratoria, utilizando el procedimiento de

Investigación de Aplicaciones, cuya práctica intervencionista con las personas participantes se llevó a

cabo a través de un taller guiado por el concepto teórico-práctico de Educación a través de la

Comunicación, estructurado en ocho reuniones presenciales y actividades extensas correlacionadas.

Utilizamos dos técnicas para la recopilación de datos: observación sistemática y entrevista por pautas.

Como método de análisis e interpretación de datos, utilizamos el análisis de contenido, específicamente

la técnica de análisis categórico temático. Entre los principales resultados, la investigación pudo

demostrar que el proceso de producción de un documental sonoro, como una acción educativa

estructurada, creó las condiciones para el aprendizaje dialógico, donde el educador y el alumno se

reconocieron como sujetos activos de la educación, favoreciendo la expresión comunicativa y la

sensorialidad y ampliando su repertorio simbólico para la construcción de la comunicación ciudadana.

Palabras clave: Documental Sonoro. Estrategia de enseñanza. Expresión comunicativa. Sensorialidad.

Dialogo.

Page 10: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Localização de Solonópole e Fortaleza no mapa do Ceará .................................. 27

Figura 02 - Principais sentimentos relatados pelos educandos ............................................... 71

Page 11: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

LISTA DE IMAGENS

Imagem 01 - Espaço de realização da oficina e educandos fazendo anotações ...................... 68

Imagem 02 - Educandos durante atividades complementares ................................................. 73

Imagem 03 - Discussão teórica e foto coletiva ........................................................................ 77

Imagem 04 - Explicação de conteúdo teórico e dinâmica com smartphone ........................... 80

Imagem 05 - Conversa sobre o papel das equipes de produção do audiodocumentário ......... 83

Imagem 06 - Apresentação da equipe de pesquisa documental e Dinâmica do “Desenho

Coletivo com Ambientação Sonora” ........................................................................................ 89

Imagem 07 - Momentos da vigésima terceira atividade da oficina ......................................... 91

Imagem 08 - Orientações teóricas e gravação da primeira entrevista ..................................... 92

Imagem 09 - Adolescentes realizando procedimento de entrevista......................................... 94

Imagem 10 - Lançamento do audiodocumentário ................................................................... 96

Page 12: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Características essenciais de um audiodocumentário ......................................... 53

Quadro 02 - Direcionamentos para trabalhar com a produção educativa de um

audiodocumentário ................................................................................................................... 60

Quadro 03 - Síntese de organização metodológica da oficina ................................................ 65

Quadro 04 - Descrição geral das entrevistas realizadas pelos educandos de forma independente

.................................................................................................................................................. 93

Page 13: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Descrição geral das categorias, subcategorias e suas características ................. 101

Page 14: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

LISTA DE SIGLAS

ACRMF - Associação Comunitária Rural Manoel Furtunato

BDTD

- Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

CAPES

- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CE

- Ceará

CEP

- Comitê de Ética em Pesquisa

CINTEDI

- Congresso Internacional de Educação Inclusiva

CNBB

- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

EEIEFMM

- Escola de Ensino Infantil e Ensino Fundamental Mundoca Moreira

IFAN

- Instituto da Infância

IFCE

- Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará

NDP

- Nível de Desenvolvimento Potencial

NDR

- Nível de Desenvolvimento Real

ONGs

- Organizações Não Governamentais

PNI

- Pesquisas de Natureza Interventiva

SECULT-CE

- Secretaria de Cultura do Ceará

SESC

- Serviço Social do Comércio

TALE

- Termo de Assentimento Livre e Esclarecido

TCC

- Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE

- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TDICs

- Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação

UFCG

- Universidade Federal de Campina Grande

UFPB

- Universidade Federal da Paraíba

ZDP

- Zona de Desenvolvimento Proximal

Page 15: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15

1.1 Problemática e objetivos ................................................................................................ 19

1.2 Justificativa .................................................................................................................... 20

2 PERCURSO METODOLÓGICO .................................................................................... 25

2.1 Natureza da pesquisa ..................................................................................................... 25

2.2 Universo, sujeitos e procedimento de estudo ................................................................ 26

2.3 Técnicas de coleta e análise dos dados .......................................................................... 31

3 PERCURSO TEÓRICO.................................................................................................... 36

3.1 Linguagem, diálogo e prática pedagógica ..................................................................... 36

3.2 O papel das TDICs na construção do conhecimento - novas estratégias e recursos ..... 44

3.3 Audiodocumentário num processo bilateral da comunicação para a educação ............. 50

4 PRÁTICA INTERVENTIVA COM OS EDUCANDOS ................................................ 62

4.1 Planejamento e mobilização - percurso de interação com os sujeitos do estudo .......... 62

4.2 Percurso da produção educativa com audiodocumentário ............................................ 66

5 CODIFICAÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS COM OS EDUCANDOS ........ 99

5.1 Análise da categoria Estratégia de Ensino ................................................................... 102

5.2 Análise da categoria Sensorialidade ............................................................................ 105

5.3 Análise da categoria Expressão Comunicativa ............................................................ 110

5.4 Análise da categoria Relações Dialógicas ................................................................... 113

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 118

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 120

APÊNDICES ......................................................................................................................... 130

ANEXOS ............................................................................................................................... 135

Page 16: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

15

1 INTRODUÇÃO

Concebemos as experiências educativas como práticas que acontecem por meio de

processos históricos e inacabados, uma vez que a educação é um fenômeno social em constante

movimento de construção e reconstrução do conhecimento. Segundo Lev Vygotsky (1998;

2001) e Paulo Freire (1979; 1985; 1987; 2002), os processos de ensino e aprendizagem ocorrem

a partir da interação do homem com o mundo e do seu desejo por transformá-lo. Nesse contexto,

para Vygotsky, o ser humano avança da condição de sujeito simplesmente biológico para se

tornar sócio-histórico, consequência do desenvolvimento de sistemas simbólicos de

representação da realidade, como a linguagem. Para Freire, a linguagem, em sua dimensão

comunicativa, possibilita a existência do diálogo, que na ação pedagógica “é o encontro entre

os homens, mediatizados pelo mundo, para designá-lo” (FREIRE, 1979, p. 42).

Com base nesses pressupostos, buscamos trabalhar a prática educativa a partir de uma

relação com as linguagens de comunicação da atualidade. Estamos falando de discutir uma

realidade social conectada às diversas redes de interação, que nos permite dizer que estamos

vivendo no interior de uma cultura midiática1. Os laços comunicativos estão sendo dirigidos

por configurações espaço-temporais, nas quais os sujeitos estão em contato constante com as

Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) e se relacionam por intermédio

delas, em tempo real, no aqui e no agora. Esta cultura midiática influencia fortemente os espaços

sociais por intermédio dos meios de comunicação, que cada vez mais se convergem em

multiplataformas digitais.

As TDICs são o conjunto de aparatos tecnológicos e meios de comunicação social que

agregam em sua estrutura a capacidade de integração e conexão com a internet. São os meios

“que possibilitam não somente o acesso e a difusão dos mais variados sistemas de dados e

informações, como também a inserção do indivíduo na comunicação dialógica e na cultura

midiática” (SILVA; ALMEIDA, 2018, p. 3-4).

Na sociedade contemporânea, os sujeitos, em especial os jovens, estão inevitavelmente

conectados à tecnologia, vivendo quase uma relação de simbiose com as formas de interação

multimidiática e de atuação social em rede (BRASIL, 2017). Dessa maneira, é imprescindível

que educadores proponham estratégias que façam uso das TDICs para promover experiências

educativas dinâmicas. Isso significa que devem estar em constante vigilância para superarem a

qualidade de apenas consumidores de tecnologia e se tornarem produtores e disseminadores de

1 Processos culturais estabelecidos através da interação social e subjetividade dos sujeitos com as tecnologias e

linguagens midiáticas, alterando os modos de produção e compartilhamento de conhecimentos (PAIVA, 2008).

Page 17: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

16

conhecimento, a partir dos princípios e linguagens que constituem os meios, técnico, científico

e informacional.

Destacamos que é importante que educador e educando2 dominem a linguagem básica

da comunicação digital e dos seus desdobramentos midiáticos na intenção de aproveitar as suas

potencialidades. Esse domínio deve perpassar tanto o plano epistemológico como o pedagógico.

Lembramos ainda que, mesmo convergindo para a lógica de interatividade do campo digital, os

meios de comunicação possuem linguagens próprias que os diferem na hora de se pensar na

produção e recepção das mensagens.

A concepção de uma educação dinâmica se distancia de ações que agenciam o

conservadorismo tecnicista e que não consideram as condições sociais, históricas e culturais

dos sujeitos. Para que a prática educativa seja transformadora, é preciso estar integrada às

relações sociais dentro e fora do ambiente educativo, prezando pelo respeito às identidades, às

individualidades e às vivências. Esses são elementos necessários para a consolidação de um

ambiente onde todos possam exercitar o diálogo e expressar seus ideais de forma autônoma.

O conceito de diálogo é norteado em Freire (1987) como a interação humana para a ação

e reflexão. O diálogo consolida o pensamento crítico, possibilitando, mediante a educação, a

acepção dos valores em que se fundamenta a sociedade. A condição dialógica manifesta e

“historiciza a essencial intersubjetividade humana” por meio das relações de igualdade, onde

não há iniciativa absoluta. “Os dialogantes ‘admiram’ um mesmo mundo; afastam-se dele e

com ele coincidem; nele põem-se e opõem-se” (FREIRE, 1987, p. 8).

O nosso objeto de estudo se insere no âmbito do debate sobre o papel que as TDICs

desempenham nos processos educativos da atualidade. O nosso estudo analisou o processo de

produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a expressão

comunicativa e a sensorialidade de adolescentes, com idade entre treze e quinze anos,

educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental da Escola de Ensino Infantil e Ensino

Fundamental Mundoca Moreira (EEIEFMM).

Pertencente à rede pública de ensino, a EEIEFMM está localizada no distrito de São

José de Solonópole, um dos seis distritos que compõem o município de Solonópole, situado no

2 Utilizaremos o termo “educador” para nos referirmos aos profissionais da educação que estudam ou trabalham

com a prática de ensino em seus diversos contextos, finalidades e aplicações. Dessa forma, não limitamos o termo

apenas à figura do professor (agente da ação docente), pois acreditamos que a prática docente é apenas uma das

dimensões da prática educativa/pedagógica (SOUZA, 2009). Consequentemente, usaremos o termo “educando”

em substituição a “aluno” para não dar exclusividade apenas aos estudantes da educação em nível formal. Nossa

preocupação inicial é refletir o objeto de estudo em uma perspectiva macro sobre ensino, para posteriormente testar

nossas hipóteses em um microssistema.

Page 18: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

17

Sertão-Central do estado do Ceará (CE), a cerca de duzentos e setenta e cinco quilômetros da

capital Fortaleza.

O audiodocumentário, como o próprio nome sugere, é um documentário que por

intermédio do áudio, mescla jornalismo e arte sonora para abordar de maneira aprofundada

temáticas de valor sociocultural. Com origem a partir dos procedimentos cinematográficos, o

formato3 comunicacional consolidou-se por meio da linguagem radiofônica, no entrecorrer do

percurso histórico de desenvolvimento do rádio.

Santos (2016) explica que a maneira de se pensar a construção de um

audiodocumentário está atrelada às características da linguagem radiofônica. No entanto,

possibilidades tecnológicas oferecidas pelas TDICs, em especial a popularização dos

smartphones, modificou os seus aspectos de produção e distribuição. Houve um barateamento

dos custos, sendo possível desenvolver bons produtos com apenas um smartphone e um

computador pessoal ou notebook com acesso à internet.

Se antes precisávamos de grandes transmissores, gravadores de som e um

sistema de rádio com transmissores para reproduzir o áudio, hoje contamos

com o avanço e a democratização da tecnologia que, aos poucos, começa a se

popularizar, como o celular4. De modo geral, os celulares possuem gravador

de voz que pode ser muito útil para a produção de entrevistas, pequenos

programas e também para a distribuição do conteúdo com os colegas da

escola, de projetos ou do bairro. A oralidade, a linguagem do rádio, se utiliza

do som, do áudio (INSTITUTO DA INFÂNCIA - IFAN, 2015, p. 29).

Com isso, ainda que entendamos que os procedimentos de produção de um

audiodocumentário devam ser orientados pelas características inerentes à linguagem

radiofônica, sua distribuição não mais necessita prioritariamente do rádio5. Atualmente, os

produtores, receptores e emissoras “enfrentam um novo esquema, o da disseminação do

conteúdo rádio na web. Com a internet, o rádio tornou-se independente do transistor; agora

também é áudio, isto é, arquivos de som” (DE BEAUVOIR, 2015, p. 3, tradução nossa).

O nosso foco com o audiodocumentário está no seu processo de produção enquanto

estratégia de ensino mediada pelas TDICs, mesmo que o produto final, como recurso midiático,

3 De acordo com Vicente (2013), formatos radiofônicos são os modelos atribuídos aos diversos tipos de programas

de rádio. Ex.: audiodocumentário; boletim; crônica; rádio-novelas; e etc. São diferentes de gênero radiofônico,

que, segundo o autor, é uma classificação mais generalizada da mensagem radiofônica e “que considera o tipo

específico de expectativa dos ouvintes que ela visa atender” (VICENTE, 2013, p. 1). Ex.: gênero publicitário ou

comercial; jornalístico ou informativo; educativo-cultural; musical; e dramático ou ficcional. 4 Nesse trabalho, optamos por diferenciar celular de smartphone. A diferença primordial é que o smartphone possui

um sistema operacional complexo, que funciona como um computador portátil. 5 Por conta disso é que adotamos o termo audiodocumentário ao invés de outras nomenclaturas conhecidas:

radiodocumentário, documentário radiofônico e documentário sonoro.

Page 19: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

18

tenha apresentado importância para a pesquisa. O direcionamento do processo buscou favorecer

a expressão comunicativa e a sensorialidade, elementos intrínsecos às particularidades do

objeto, que podem contribuir para a formação de uma ação educativa dialógica.

Parafraseando Olivari (1998 apud BARBOSA FILHO, 2005), o que buscamos é uma

prática pedagógica6 que aflore promissoras possibilidades para o fortalecimento de uma

comunicação educativa cidadã. Para isso, denotamos o valor da condição sensorial auditiva, ou

seja, como a dimensão imaginativa do som gera concepções da realidade que partem, não

somente da maneira como interagimos com o mundo, mas, principalmente, como o sentimos e

o expressamos. Nesse contexto, surge o audiodocumentário, um formato “que oferece uma

experiência auditiva emocional e tem a capacidade de gerar conhecimento e reflexão” em seus

produtores e destinatários “sobre histórias de vida ou situações sociais que afetam seu

ambiente” (LECHUGA OLGUÍN, 2015, p. 7, tradução nossa).

A expressão comunicativa direcionada para a educação, segundo Soares (2011; 2016,

2014), refere-se à utilização das linguagens de comunicação e artísticas para a criação de

diálogos pela emoção e estímulo ao potencial criativo dos educandos. Trata-se do “direito de

se expressar e interagir a partir das linguagens do corpo, da fala, escrita, das artes..., assim como

de informar e de se informar, por meio dos vários recursos de comunicação” (SOARES, 2016,

p. 16).

Já o conceito de sensorialidade, no campo da comunicação, especificamente nos estudos

sobre produções sonoras, é compreendido como a capacidade que a linguagem radiofônica

(composta por quatro sistemas expressivos: palavra, música, efeitos sonoros e silêncio) possui

para estimular a imaginação e o pensamento criativo do ouvinte, proporcionando emoções e o

convidando para participar da mensagem por meio de um diálogo mental (BARBOSA FILHO,

2003; 2005).

No tocante à educação, propomos trabalhar a sensorialidade a partir da interação entre

sujeitos e o processo de produção do audiodocumentário, entendendo que a “compreensão da

linguagem sonora como parte do processo de ensino-aprendizagem do radiojornalismo passa,

necessariamente, primeiro pela percepção e sensação sonora para somente depois poder ser

abordada, pedagogicamente, como técnica” (DEL BIANCO, 2014, não paginado). Nesse

6 Cabe observar que quando falamos em prática educativa, consideramos a educação na totalidade dos seus

contextos, isto é, “compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais estão envolvidos

de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente” (LIBÂNEO, 2006, p. 17). Todavia,

quando citamos e especificamos a prática pedagógica, estamos nos referindo a uma ação educativa estruturada e

fundamentada em intencionalidades. Para Souza (2009, p. 11), a prática pedagógica, ou práxis pedagógica, como

prefere denominar, parte de uma ação coletiva e institucional, “dentro do fenômeno social mais amplo, que é a

educação, pois é uma ação organizada com finalidade e objetivos explícitos”.

Page 20: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

19

aspecto, inferimos que a partir de uma proposta educativa estruturada é possível favorecer a

sensorialidade desde as etapas de elaboração da peça comunicacional.

Vygotsky (1998) aponta que o desenvolvimento da imaginação nas crianças em idade

pré-escolar e nos adolescentes surge por intermédio da ação. Desse modo, nossa pesquisa, rumo

ao estudo de Alves e Hostins (2019, p. 18), caminha ao encontro da consolidação de “uma

cultura participativa e a preparação do aluno para o Século 21, pautada em necessidades

pedagógicas como princípios de colaboração, liberdade, suporte, compartilhamento e reflexão,

favorecidas pela aprendizagem baseada na prática”.

1.1 Problemática e objetivos

Quando nos damos conta de que estamos vivendo sob domínio de uma cultura midiática,

que tem no apelo imagético, isto é, na comunicação pela imagem, por elementos visuais, a sua

principal forma de dominação, pensar alternativas pedagógicas com enfoque no estudo e na

elaboração de produções sonoras parece, a princípio, devaneio. Para Baitello Junior (2008),

atualmente o visual se sobrepõe drasticamente às outras formas de relacionamento, impondo

um modelo social que condiciona a existência de sujeitos e coisas a imagens e discursos visuais.

A sociedade da imagem desvaloriza os outros sentidos, como a audição, cultuando o imagético

e reduzindo o corpo a ‘observador da observação’.

Todavia, o nosso estudo não aponta para uma supervalorização da audição em

detrimento do visual. Por meio das TDICs, buscamos entrecruzar a linguagem radiofônica com

outras diversas linguagens de comunicação, a fim de destacar o papel positivo do som perante

a sociedade da imagem.

No âmbito das tecnologias digitais, o Radiojornalismo pode usufruir de todas

as características desse meio, ampliando as fronteiras da universalidade, da

periodicidade, da atualidade e da difusão dos conteúdos sonoros. No contexto

da convergência, o Radiojornalismo contemporâneo consolida-se como meio

hipermidiático, onde há multiplicidade de estratégias narrativas que conjugam

a construção de conteúdo sonoro com a produção em linguagem multimídia

(GALVÃO JÚNIOR, 2014, p. 64).

O que nos interessa é situar o audiodocumentário em uma perspectiva inovadora sobre

educação para poder “gerar produção sonora a partir de uma abordagem artística com demandas

criativas; e perceber que, no meio da comunicação, o som além de ser um elemento informativo

ou musical, é sensorial e emocional” (LECHUGA OLGUÍN, 2015, p. 7, tradução e grifo nosso).

Page 21: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

20

Com um trabalho investigativo direcionado ao debate sobre comunicação e práticas

pedagógicas, com enfoque no ensino, objetivamos, de maneira geral, analisar o processo de

produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a expressão

comunicativa e a sensorialidade de educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental de uma

escola pública do distrito de São José de Solonópole, território pertencente ao município de

Solonópole no interior do estado do Ceará.

Para tanto, buscamos construir uma sequência de produção educativa com

audiodocumentário, ao mesmo tempo em que também investigamos quais elementos do

processo que podem proporcionar aspectos educativos favoráveis ao diálogo.

Em face dos objetivos do estudo, destacamos, na sequência, a relevância teórico-prática

do objeto, associando-o aos conceitos de pesquisa, à atualidade do tema e ao desenvolvimento

profissional do pesquisador.

1.2 Justificativa

O contato com produções sonoras está presente na vida do autor desse estudo desde

2012. Tomando liberdade para me expressar de forma pessoal, relato que foi nessa época, ainda

cursando o terceiro ano do ensino médio7, que tive aproximação com o audiolivro. O primeiro

contato foi a partir do romance “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas e adaptação

de José Angeli, “lido” por intermédio da escuta propiciada por um aparelho celular.

Por meio das características de composição técnicas e estéticas do audiolivro, encontrei

elementos que me ajudaram a compreender a narrativa de maneira mais simples. Imerso no

universo da obra, ia criando uma relação subjetiva com o áudio, que, enquanto entretinha,

desenvolvia a minha capacidade de abstração da realidade, ampliava meu vocabulário e

melhorava a minha dicção das palavras.

No ano de 2015, então aluno do terceiro período da graduação em Comunicação Social

com linha de formação em Educomunicação8, iniciei minhas pesquisas com formatos

comunicacionais sonoros. Meus estudos, nesse período, permitiram escrever um artigo sobre a

utilização do audiolivro como ferramenta pedagógica no incentivo à leitura. Posteriormente, no

ano de 2017, esse escrito foi publicado em um livro, do qual também sou organizador (SILVA,

2017).

7 Ensino Médio integrado ao Técnico em Agropecuária cursado no Instituto Federal de Educação Ciência e

Tecnologia do Ceará (IFCE), campus Iguatu. 8 Curso de Bacharelado ofertado pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Page 22: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

21

No ano de 2017, conheci o audiodocumentário, objeto de estudo do meu Trabalho de

Conclusão de Curso (TCC). Na referida pesquisa, analisei o processo de produção de um

audiodocumentário sob a perspectiva educomunicativa como forma de empoderamento e

resgate histórico e sociocultural. O estudo foi desenvolvido com a comunidade do Sítio Coaçú,

zona rural do distrito de São José de Solonópole9 (SILVA, 2017a).

Em 2018, focando o estudo sobre as possibilidades educativas com o formato

radiofônico, escrevi o artigo “TDICs na educação escolar: prescrições para uso do

audiodocumentário sob a perspectiva educomunicativa”, publicado no III CINTEDI -

Congresso Internacional de Educação Inclusiva (SILVA, 2018).

Em 2019, juntamente com a orientadora dessa pesquisa, a Dra. Nilvania dos Santos

Silva, escrevemos o artigo “Produção de audiodocumentário em práticas de Educação pela

Comunicação: empoderamento comunicativo e responsabilidade social”, publicado na Revista

Mídia e Cotidiano (SILVA; SILVA, 2019).

Essa trajetória pessoal mostra que a atual pesquisa está estritamente correlacionada à

minha agenda de investigação teórico-prática, vinculando-se ao meu desenvolvimento

profissional, enquanto analista da problemática10.

Os estudos sobre audiodocumentário no Brasil são escassos na agenda de pesquisa dos

Programas de Pós-Graduação e não falamos isso pensando apenas no seu posicionamento no

campo da educação. Para confirmar esta assertiva, fizemos uma busca avançada na Biblioteca

Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e no Catálogo de Teses e Dissertações da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Ao aplicarmos, em ambos repositórios, uma procura pelos termos “audiodocumentário”

e “áudio-documentário” (outra forma de escrita da mesma palavra), encontramos um único

trabalho. Trata-se da tese de doutorado em música de Bonilha (2010) que aborda o ensino da

musicografia braille como um caminho para a educação musical inclusiva. Na investigação, o

audiodocumentário é posto como um meio para apresentação dos resultados da pesquisa,

retratando o seu desenvolvimento e a implantação de um acervo musical que contém obras em

braille.

Em uma busca com o termo “documentário radiofônico” apareceram apenas dois

trabalhos, um direcionado para os estudos em educação e outro para os estudos em

9 O audiodocumentário “Um pé de Coaçú - meu lugar é minha história” disponível em: youtu.be/yJz66fT-myo

ganhou o prêmio Microfone de Prata e a Menção Honrosa Dorothy Stang que reuniu os melhores programas

jornalísticos radiofônicos da edição do ano de 2018 dos Prêmios de Comunicação da Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil (CNBB). 10 Todas as nossas experiências com produções sonoras podem ser acessadas em: audiodoc-br.blogspot.com

Page 23: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

22

comunicação. A tese de doutorado em educação de Sá (2014) traz a audição de documentários

radiofônicos em salas de aula de ensino médio sob o prisma da cultura do ouvir e da teoria da

complexidade; e a dissertação de mestrado em ciências da linguagem de Zuculoto (2007)

aborda a relação entre comunicação e arte na linguagem do documentário radiofônico, tendo

como objeto os documentários realizados por Glenn Gould.

Já na busca com o termo “radiodocumentário”, temos apenas um trabalho direcionado

aos estudos em comunicação. A dissertação de mestrado em meios e processos audiovisuais de

Santos (2016) procura demonstrar de que maneira o documentário, gênero originalmente

cinematográfico, desenvolve-se no rádio. Não foram encontrados resultados com o termo

“documentário sonoro”.

Foram apenas quatro pesquisas encontradas e que, de maneira geral, focalizam apenas

o audiodocumentário enquanto recurso comunicacional, ou seja, as suas características e

finalidades enquanto produto midiático. Esse cenário mostra que por se tratar de um objeto

pouco explorado, o nosso estudo suscita hipóteses investigativas norteadoras para estudos

posteriores, além de aumentar a nossa experiência em torno das questões que delimitam a

problemática de pesquisa (TRIVIÑOS, 1987).

Educar, por meio das características da linguagem radiofônica, pressupõe atividades nas

quais é preciso paciência para ouvir, para gerar conexões entre pensar, sentir e criar. São ações

que conectam o sujeito para além do tempo presente e estimulam suas mais íntimas

sensibilidades e expressões culturais.

Desse modo, conforme define Morin (1997, p. 15):

Uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e

imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos,

orientam as emoções. Esta penetração se efetua segundo trocas mentais e

projeção de identificação polarizadas no símbolos, mitos e imagens da cultura

como nas personalidades míticas ou reais que encarnam os valores (os

ancestrais, os heróis, os deuses). Uma cultura fornece pontos de apoio

imaginários à vida prática, pontos de apoio práticos à vida imaginária; ela

alimenta o ser semi-real, semi-imaginanário que cada um secreta no interior

de si (sua alma), o ser semi-real, semi-imaginário que cada um secreta no

exterior de si e no qual se envolve (sua personalidade).

Vygotsky (1998; 2001) ainda nos lembra que é a capacidade de imaginar, criar e

combinar os elementos culturais que desenvolve competências cognitivas para o nosso

aprendizado. Nesse ponto, é importante resgatar os estímulos sensoriais que aproximam o

sujeito à cultura que o forma como ser social.

Page 24: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

23

Para viabilizar a existência de uma prática pedagógica com a produção de um

audiodocumentário, necessitamos, primeiro, estruturar atividades que abarquem a reflexão

teórica do objeto de estudo e sua intersecção com os diferentes recursos comunicacionais, além

da aproximação com habilidades e competências técnicas e tecnológicas. A organização

metodológica, fundamentada no uso das TDICs, motivou-nos à criação de uma sequência de

produção educativa com caráter inovador.

Ao projetar a produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino, espera-

se que os sujeitos envolvidos trabalhem de forma cooperativa, o que sugere a presença constante

do diálogo e da socialização. Nesse ponto, as características da linguagem radiofônica nos

permitem elaborar atividades que exploram o áudio e o relacionam com outras linguagens de

comunicação, que se manifestam sobre as necessidades de diferentes áreas do conhecimento.

O caráter de produção, enquanto ação planejada, é também um meio para a articulação

de movimentos em favor da liberdade de expressão, por intermédio de práticas de educação e

elaboração de mídias alternativas de comunicação (SOARES, 2014; 2014a).

Com relação à estrutura da dissertação, após a descrição desse primeiro capítulo

introdutório, adentraremos no segundo capítulo, voltado à discussão sobre o planejamento

metodológico que guiou a nossa pesquisa. Buscamos apresentar o tipo de investigação, assim

como os métodos, técnicas e instrumentos utilizados para responder a problemática de pesquisa

e alcançar os nossos objetivos. Dessa forma, contextualizamos o debate nos seguintes tópicos:

natureza da pesquisa; universo, sujeitos e procedimento de estudo; e técnicas de coleta e análise

dos dados.

Na sequência, no terceiro capítulo, detalhamos o nosso percurso teórico-conceitual, que

tem como objetivo expor estudos e as principais ideias debatidas, incluindo pesquisas já

consolidadas e que trataram as dimensões conceituais que cercam o nosso objeto. Os seguintes

eixos temáticos serão aprofundados: linguagem, diálogo e prática pedagógica; o papel das

TDICs na construção do conhecimento - novas estratégias e recursos; e audiodocumentário num

processo bilateral da comunicação para a educação.

No quarto capítulo relatamos o percurso interventivo realizado com o nosso objeto de

estudo e sua aplicação prática com os sujeitos da pesquisa. A descrição experiencial caracteriza,

em concordância com o referencial metodológico e teórico, a execução e aplicabilidade das

hipóteses em um microssistema. Os tópicos que abordamos são os seguintes: planejamento e

mobilização - percurso de interação com os sujeitos do estudo; e percurso da produção

educativa com audiodocumentário.

Page 25: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

24

No quinto capítulo trazemos a codificação e análise das entrevistas por pautas realizadas

com os sujeitos da pesquisa. O procedimento de interpretação dos dados e inferências sobre

eles foi conduzido pelo método da Análise de Conteúdo, especificamente a técnica de análise

categorial temática. Seguindo a organização categorial estabelecida no estudo, os tópicos

abordados foram: análise da categoria Estratégia de Ensino; análise da categoria Sensorialidade;

análise da categoria Expressão Comunicativa; e análise da categoria Relações Dialógicas.

Finalizamos a estrutura dissertativa com as considerações finais contendo uma síntese

dos resultados e novas problemáticas advindas da confirmação ou refutação dos objetivos, além

de indicar possíveis encaminhamentos para investigações futuras.

Page 26: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

25

2 PERCURSO METODOLÓGICO

O primeiro tópico do capítulo apresenta a classificação do estudo quanto à sua natureza

metodológica. Nele discorremos sobre a pesquisa qualitativa no âmbito das ciências sociais e

humanas, com devida atenção para a sua estruturação e aplicação na educação. Além disso,

classificamos o estudo quanto aos seus objetivos, que, no nosso caso, consolida-se em uma ação

investigativa de cunho exploratório.

Na sequência, apresentamos o segundo tópico que caracteriza o universo, os sujeitos e

o procedimento de estudo. Abrange questões como a escolha dos participantes, a demarcação

do campo da ação empírica que envolve o espaço geográfico, social e de tempo e a delimitação

conceitual do procedimento de estudo, que compreende a descrição e a argumentação sobre a

Pesquisa de Aplicação.

Finalizamos o capítulo apresentando as técnicas de coleta e análise dos dados. Na coleta

descrevemos a observação sistemática e a entrevista por pautas. Na análise e interpretação

delineamos sobre a Análise de Conteúdo, especificamente a técnica de análise categorial

temática.

2.1 Natureza da pesquisa

A pesquisa que realizamos traz uma abordagem de cunho qualitativo, com base na

investigação subjetiva e foco no procedimento e na reflexão. Minayo (2002) explica que a

pesquisa qualitativa, no âmbito das ciências sociais e humanas, busca compreender, de maneira

detalhada, uma realidade que não pode ser quantificada nem restrita a uma operacionalização

de variáveis. “Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos

processos e dos fenômenos” (MINAYO, 2002, p. 21-22).

No tocante à pesquisa qualitativa em educação, Ghedin e Franco (2011) assinalam que

o campo educacional requer a atuação de um pesquisador que apreenda os significados da

realidade, mas que possa, também, construí-la durante o seu percurso de investigação. Nesse

sentido, a pesquisa qualitativa caminha em concomitância com o caráter formativo-

emancipatório dos pesquisadores e dos sujeitos pesquisados.

A escolha por esta abordagem partiu do princípio da compreensão do objeto e do seu

envolvimento com o contexto específico do local de aplicação, especificamente com a

constituição do grupo social a ser pesquisado. Nossos objetivos estão fundamentados em seis

Page 27: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

26

características descritas por Ghedin e Franco (2011), apresentadas como caminhos para a

prática da pesquisa qualitativa em educação: 1. O educador vem à cena; 2. O cotidiano entra

em destaque; 3. A realidade social passa a ser dotada de sentido; 4. Surgem questões relativas

à identidade, à emancipação e à autonomia; 5. O processo impõe-se ao produto; 6. As técnicas

de pesquisa enriquecem-se.

Sobre esses aspectos, Ghedin e Franco (2011) destacam que o pesquisador deve

construir uma relação dialética entre objeto e método, entendendo que a cientificidade do

segundo está na sua capacidade de fundamentar o primeiro.

Partindo desse princípio, o nosso estudo, como estrato metodológico, procurou se

adequar constantemente aos desafios da realidade social em que se inseriu. Ao analisarmos o

processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer

a expressão comunicativa e a sensorialidade de educandos do oitavo ano do Ensino

Fundamental de uma escola pública, buscamos o cumprimento da exigência por um ambiente

educativo que proporcionasse conexões significativas entre as partes formadoras da prática

pedagógica (sujeitos, objetos de estudo, procedimentos didáticos e objetivos) e os processos

midiáticos da atualidade.

Do ponto de vista dos objetivos, consideramos que a nossa pesquisa é exploratória, pois

tem como princípios o aprofundamento e desenvolvimento de conceitos, a fim de idealizar e

construir significados mais precisos e que deem base para estudos futuros (TRIVIÑOS, 1987;

GIL, 2008). Nessa mesma linha de pensamento, Marconi e Lakatos (2003, p. 188) classificam

as pesquisas exploratórias como investigações empíricas que têm como desígnio trabalhar o

problema de pesquisa com tripla finalidade: “desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade

do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura

mais precisa ou modificar e clarificar conceitos”.

Com base nessa literatura, propusemos esse tipo de pesquisa porque ela busca, neste

caso, resultados científicos a partir da ressignificação do objeto de estudo, ou seja, como é

historicamente condicionado, explorando sua capacidade educativa como estratégia de ensino

para favorecer a expressão comunicativa e a sensorialidade.

2.2 Universo, sujeitos e procedimento de estudo

Conforme citado na justificativa, os insights determinantes para a atual pesquisa foram

os estudos que iniciamos ainda na graduação, em especial o projeto interventivo do TCC,

defendido em 2017 (SILVA, 2017a). O local de sua aplicação foi a comunidade do Sítio Coaçú,

Page 28: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

27

zona rural do distrito de São José de Solonópole. Daí a opção por continuar as investigações

neste universo buscando uma continuidade investigativa a partir da vinculação ao

desenvolvimento acadêmico e profissional do pesquisador.

O nosso território geográfico de estudo continuou sendo o distrito de São José de

Solonópole, que apresenta uma população em torno de cinco mil habitantes, distribuídos entre

zona urbana e rural. Assim como a maioria dos dezessete mil e seiscentos habitantes do

município de Solonópole, as pessoas de São José sobrevivem essencialmente por meio da

agricultura, pecuária e dos pequenos comércios (IBGE, 2010; SILVA; ALMEIDA, 2017).

Figura 01 - Localização de Solonópole e Fortaleza no mapa do Ceará

Fonte: Autor da pesquisa (2019) adaptado de Wikipédia (2006).

As ações interventivas ocorreram prioritariamente na Associação Comunitária Rural

Manoel Furtunato (ACRMF), zona urbana do distrito. A Associação é um espaço fundado no

ano de 1995 e que desenvolve, com o apoio da Secretaria de Cultura do Ceará (SECULT-CE),

atividades ligadas à cultura, à arte e à defesa de direitos sociais da comunidade.

A opção pela aplicação da pesquisa na ACRMF foi porque esta disponibilizou o

ambiente físico e os recursos materiais necessários para apresentações teóricas e execução dos

procedimentos de produção do audiodocumentário. A Associação também foi escolhida por ser

ponto estratégico de participação comunitária, pois é um espaço de luta em defesa dos direitos

sociais, difusos e coletivos dos moradores. Espaços de representação coletiva possibilitam

arquitetar “uma educação que procura desenvolver a tomada de consciência e a atitude crítica,

Page 29: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

28

graças à qual o homem escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de

adaptá-lo” (FREIRE, 1979, p. 19).

Salientamos que a ACRMF, enquanto instituição proponente que centralizou as ações

práticas da pesquisa, recebeu parecer positivo do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Universidade Federal da Paraíba (UFPB), liberando as atividades sob cumprimento do devido

trâmite legal11.

Os sujeitos da pesquisa foram trinta e dois adolescentes, com idade entre treze e quinze

anos, moradores da zona rural e da zona urbana da região do distrito de São José de Solonópole

e educandos do oitavo ano do Ensino Fundamental da EEIEFMM. Dentre os participantes, vinte

e nove possuíam idade de treze anos, um possuía idade de catorze anos e outro possuía idade

de quinze anos. Comparado ao estudo que desenvolvemos no TCC, a amostra de pesquisa teve

que ser readequada às necessidades dos novos objetivos, pautados nos pressupostos científicos

do universo da prática educativa, especificamente aqueles inseridos nas discussões sobre ensino

e aprendizagem.

Em termos metodológicos, definimos os sujeitos de pesquisa por meio da amostragem

por conveniência, também chamada de amostragem por acessibilidade (GIL, 2008;

APPOLINÁRIO, 2016). Esse método faz parte dos tipos de amostragem não probabilísticas,

onde os sujeitos são escolhidos por critérios subjetivos. “O pesquisador seleciona os elementos

a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-

se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido

elevado nível de precisão” (GIL, 2008, p. 94).

A escolha por essa amostra de pesquisa se deu dentro da nossa problemática, isto é, a

necessidade de pensar alternativas para a consolidação de práticas pedagógicas inovadoras

atentas às necessidades dos adolescentes imersos na cultura midiática. O educando do Ensino

Fundamental (anos finais) está na fase da adolescência, o que o coloca como um sujeito “em

desenvolvimento, com singularidades e formações identitárias e culturais próprias” que exigem

práticas pedagógicas “diferenciadas, capazes de contemplar suas necessidades e diferentes

modos de inserção social” (BRASIL, 2017, p. 60).

Dessa forma, entendemos que a conexão entre Associação, escola e comunidade

permitiu a proposição de uma ação educativa que entrecruzou livremente os saberes populares

11 O comitê avalia os projetos de pesquisa, verificando se seguem as normas éticas exigidas em todas as

investigações científicas envolvendo seres humanos. O CEP preza pela salvaguarda da dignidade, dos direitos, da

segurança e do bem-estar do participante da pesquisa.

Page 30: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

29

e científicos, os quais, quando sistematizados e carregados de intencionalidade, são importantes

para a construção de uma identidade cultural (FREIRE, 1979; 1985; 2002).

Destacamos que chegamos aos sujeitos da pesquisa por intermédio dos representantes

legais da ACRMF, que, cientes das especificidades do nosso estudo e a partir da confiança que

tinham junto a nós, devido às investigações que desenvolvemos na região durante a graduação,

sugeriram contatarmos a EEIEFMM, instituição que atende à demanda educacional do nível

infantil ao nível fundamental do distrito e que se localiza a duzentos metros da Associação.

Respaldados publicamente pelo trabalho anterior realizado na região, articulamos a

aproximação com a escola, que prontamente nos atendeu de forma positiva. Por intermédio

dessa parceria, conseguimos liberação e apoio para que nosso estudo assumisse

temporariamente (até o término da sua realização) e de forma complementar, mas autônoma, o

horário da disciplina Ensino Religioso e Artes, componente curricular do oitavo ano do Ensino

Fundamental12.

Foi nesse contexto que se deu o nosso estudo, fundamentado na análise do processo de

produção do audiodocumentário “Carnaval em São José de Solonópole - A tradição no interior

do Ceará”13. A prática interventiva da pesquisa se deu por meio de uma oficina distribuída em

oito encontros presenciais e atividades extensivas correlacionadas. Os encontros presenciais

foram semanais e ocorreram respectivamente nos dias 11 e 26 de abril de 2019, 2, 9, 16, 23 e

30 de maio de 2019 e 6 de junho de 2019. Sempre no horário das 15h às 17h, antes destinado à

disciplina de Ensino Religioso e Artes.

A nossa classificação quanto ao procedimento de estudo parte da proposta de tipologia

para Pesquisas de Natureza Interventiva (PNI) descrita em Teixeira e Megid Neto (2017),

especificamente a noção de Pesquisa de Aplicação. Importante dizer que o conceito de

intervenção não significa intromissão, interdição ou invasão. Pelo contrário, intervenção, aqui,

tem caráter positivo e altruísta, no sentido de que por meio de ações sistematizadas, as PNI são

úteis para desenvolver conhecimentos, práticas alternativas, inovadoras e ações colaborativas

(TEIXEIRA; MEGID NETO, 2017).

As pesquisas de aplicação são orientadas, essencialmente, por um movimento

processual que envolve “planejamento, a aplicação (execução) e a análise de dados sobre o

12 Detalhes dessa articulação estão descritos no tópico Planejamento e mobilização - percurso de interação com os

sujeitos do estudo, que compõe o capítulo quatro desta dissertação e que versa sobre a prática interventiva com os

educandos. 13 Disponível em: https://youtu.be/nmL08nWmk7Y

Page 31: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

30

processo desenvolvido, em geral, tentando delimitar limites e possibilidades daquilo que é

testado ou desenvolvido na intervenção” (TEIXEIRA; MEGID NETO, 2017, p. 1068-1069).

Esse caminho metodológico vai ao encontro dos nossos objetivos de pesquisa, pois

estamos corroborando para desenvolver novos conhecimentos e procurando melhorar a nossa

prática profissional, além de oferecer caminhos e possibilidades de uso do objeto para outros

educadores. Isso fica evidente quando partimos da ideia de que a Pesquisa de Aplicação,

segundo Teixeira e Megid Neto (2017, p. 1069), busca contribuir com a formulação de novos

significados para a prática pedagógica, envolvendo, assim, tanto a formação de educadores,

“quanto questões mais diretamente relacionadas aos processos de ensino e aprendizagem, como

a testagem de princípios pedagógicos e curriculares (interdisciplinaridade, contextualização,

transversalidade, avaliação, etc.)”.

Diferentemente de outras PNI mais conhecidas, como a Pesquisa-Ação, onde os

objetivos de investigação dependem primordialmente da interação entre pesquisadores e

sujeitos implicados, determinando, inclusive, o problema central (THIOLLENT, 1986), uma

pesquisa calcada na Pesquisa de Aplicação tem a problemática e objetivos de estudo definidos

integralmente pelo pesquisador, sem a exigência de interferência, necessariamente, dos sujeitos

pesquisados e sem contribuírem nesta etapa, assim como sem que haja a necessidade de

direcionamentos para a transformação de uma realidade social (TEIXEIRA; MEGID NETO,

2017).

Contudo, entendemos que esta condição não exclui a possibilidade de se trabalhar, de

forma indireta, aspectos que promovam emancipação e reflexão sobre determinado contexto.

Já que Teixeira e Megid Neto (2017, p. 1069) asseguram que “mesmo considerando que os

sujeitos não são alçados à condição de pesquisadores, é importante nesses casos, que os

investigadores procurem captar a perspectiva desses sujeitos sobre o processo desenvolvido”.

Dessa forma, colocamos os sujeitos como participantes ativos de um projeto, que embora tenha

seus próprios objetivos definidos a partir de um pesquisador, não exclui as possibilidades de

promover a transformação que favoreça sujeitos participantes se situarem no mundo. Podemos

dizer, portanto, que nosso estudo é um trabalho com os outros e não sobre os outros.

Como etapas de aplicação interventiva, Teixeira e Megid Neto (2017) explicam que o

processo investigativo da Pesquisa de Aplicação é guiado pelo referencial teórico sobre o objeto

de estudo e as problemáticas práticas que dele derivam. No caso da nossa pesquisa,

fundamentamos a nossa intervenção na aplicação de uma oficina guiada por uma concepção

teórico-prática de Educação pela Comunicação e, naturalmente, pela sistematização da

bibliografia sobre nossos conceitos centrais, vinculados aos nossos objetivos e problemática.

Page 32: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

31

2.3 Técnicas de coleta e análise dos dados

Em pesquisa qualitativa, a coleta de dados ocorre como movimento de interação

dinâmica, onde a todo instante novas configurações podem surgir espontaneamente, abrindo

margem para obtenção de informações, até então não previstas ou desconhecidas (TRIVIÑOS,

1987). Marconi e Lakatos (2003) acentuam que um aspecto fundamental nessa etapa é a

organização e o entrosamento entre tarefas administrativas e o planejamento metódico-

científico. As técnicas exigem do pesquisador conhecimento contínuo que envolve informações

essenciais para o domínio dos instrumentos de coleta e análise de dados, que devem ser

alinhados aos procedimentos científicos e aplicados de forma rigorosa, de modo a evitar

manipulação ou a escolha de informantes tendenciosos.

No nosso estudo, fizemos uso de duas técnicas para coleta de dados: a observação

sistemática e a entrevista por pautas (MARCONI; LAKATOS, 2003; GIL, 2008). A primeira

foi explorada na descrição e análise da prática interventiva com os educandos, apontando

percepções do pesquisador e dos sujeitos da pesquisa, a partir da consolidação das etapas para

a produção do audiodocumentário. A segunda foi utilizada para obtenção de dados direcionados

exclusivamente à percepção dos educandos sobre o processo interventivo, na sua totalidade. Os

dados coletados na entrevista por pautas passaram pela Análise de Conteúdo, que nos permitiu

realizar inferências tomando como base a percepção dos sujeitos e o percurso teórico e

metodológico do objeto de estudo. Esta análise nos levou à construção de resultados e novas

hipóteses.

A observação, para Gil (2008), está presente em praticamente todo o percurso da

pesquisa, desde a formulação das questões de interesse, da construção das hipóteses, da coleta

e da análise interpretativa dos dados.

A observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os

conhecimentos necessários para o cotidiano. [...] apresenta como principal

vantagem, em relação a outras técnicas, a de que os fatos são percebidos

diretamente, sem qualquer intermediação. Desse modo, a subjetividade, que

permeia todo o processo de investigação social, tende a ser reduzida (GIL,

2008, p. 100).

Adotamos a observação sistemática, pois está atrelada a pesquisas que objetivam

descrever a ocorrência de fenômenos ou testagem de hipóteses, tendo previamente a definição

nítida do que deve ser observado. “Na observação sistemática, o observador sabe o que procura

Page 33: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

32

e o que carece de importância em determinada situação; deve ser objetivo, reconhecer possíveis

erros e eliminar sua influência sobre o que vê ou recolhe” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.

193).

Em relação aos registros da observação, devem ser feitos no momento que ocorrem,

sendo executados por recursos que podem ser usados de forma livre ou com base em níveis de

estruturação (contexto e comportamentos das pessoas). Os de uso mais frequente são as

anotações por escrito (diário de campo), quadros, escalas e a gravação de sons e imagens por

meio dos aparatos tecnológicos disponíveis ao pesquisador (MARCONI; LAKATOS, 2003;

GIL, 2008). Sobre este ponto, apropriamo-nos fundamentalmente das anotações de campo, dos

registros diversos decorrentes de atividade conjunta com os sujeitos, dos registros sonoros por

um gravador de voz digital portátil e do registro de imagens captadas por um aparelho

smartphone.

Com relação a outra técnica que utilizamos, a da entrevista, pode-se afirmar que é uma

das principais para produzir dados no âmbito das ciências sociais e humanas, inclusive posta na

literatura como o instrumento por excelência da investigação social (MARCONI; LAKATOS,

2003). A nossa pesquisa utilizou a entrevista por pautas (GIL, 2008) porque acreditamos

atender às nossas necessidades em relação aos objetivos, universo e sujeitos da mesma. Esse

modelo requer uma estruturação prévia, uma vez que busca se direcionar a partir de um assunto

específico.

Escolhemos este tipo de técnica porque nos permitiu direcionar com maior rigidez a

conversação, evitando diálogos que fugissem ao tema de interesse, a qual foi facilitada devido

ao prévio conhecimento por parte do pesquisador, profissional comunicólogo, jornalista e

educomunicador. O desenvolvimento da entrevista por pautas também considera as atitudes

culturais dos respondentes e “à medida que o pesquisador conduza com habilidade a entrevista

por pautas e seja dotado de boa memória, poderá, após seu término, reconstruí-la de forma mais

estruturada, tornando possível a sua análise objetiva” (GIL, 2008, p. 112).

Da etapa em que se realizaram as entrevistas, participaram dezesseis sujeitos, metade da

amostra de pesquisa, que foi trinta e dois. Aconteceram nos dias 9, 16, 23 e 30 de maio de 2019,

a partir do quarto encontro e terminaram no sétimo encontro, tempo que analisamos ser

suficiente para que os participantes já tivessem experienciado atividades básicas para a

compreensão do objeto e das metas de pesquisa. Ocorreram na ACRMF, sendo cumpridas

quatro entrevistas por dia, logo após o término das atividades do respectivo encontro e com

média de quinze minutos para cada uma.

Page 34: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

33

A opção por entrevistar apenas uma parte significativa da amostra, deu-se da busca por

priorizar maior tempo para preparar e executar o procedimento, com maior qualidade de

aplicação da oficina. O que poderia ser comprometido caso tivéssemos optado por entrevistar

todos. Além disso, como atuamos com um perfil de amostra que apresenta um conjunto de

características extremamente similares, considerou-se que metade dos participantes já seria

suficiente, na medida do possível14. Baseando-se nisso, amparamo-nos em Marconi e Lakatos

(2003) e Gil (2008) que entendem que quanto mais homogêneo forem os sujeitos de pesquisa e

o contexto de aplicação, melhor será a precisão da escolha, livrando o pesquisador da

obrigatoriedade de fazer um mapeamento prévio e mais rigoroso das características de todos os

entrevistados.

Para escolha dos entrevistados, adotamos um procedimento de amostragem aleatória

simples. Conforme proposto por Gil (2008), preparamos pequenas tabuletas de madeira com

numeração individual representando a quantidade total de sujeitos de pesquisa. A partir disso,

pouco antes do final dos respectivos dias em que houve entrevista, íamos atribuindo números

aos participantes e sorteando de forma totalmente aleatória aqueles que iriam ser entrevistados,

o que garantiu a todos a mesma probabilidade de ser escolhido. Definimos previamente como

critério de exclusão, que o mesmo sujeito não poderia participar do sorteio duas vezes.

Para análise dos dados obtidos com a entrevista por pautas, optamos pela Análise de

Conteúdo, utilizando, especificamente, a técnica de análise categorial temática. Sendo assim,

apresentaremos o método e técnica, para, posteriormente, no capítulo cinco, detalharmos a

codificação e interpretação do conteúdo.

Segundo Richardson (2012), a Análise de Conteúdo é um método que se aprofunda em

características do discurso (gramaticais, fonológicas, cognitivas e ideológicas) para dar

significação às mensagens que o compõe. Objetiva analisar as características de um texto

(mensagens) sem referência às intenções do emissor ou aos efeitos da mensagem sobre o

receptor, analisar as causas e antecedentes de uma mensagem, procurando conhecer as suas

condições de produção e analisar os efeitos da comunicação para estabelecer a influência social

da mensagem. Para isso, são definidas três fases que constituem a efetivação do método: pré-

análise, análise do material (ou codificação) e o tratamento dos resultados, os quais serão

caracterizados a seguir:

14 O fato de a nossa pesquisa ter como sujeitos trinta e dois adolescentes, vinte e nove deles com idade de treze

anos, todos educandos do oitavo ano do ensino fundamental, moradores da mesma comunidade, frequentando a

mesma escola e cursando a mesma disciplina, garante-nos um perfil de amostra com grau de homogeneidade

bastante significativo.

Page 35: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

34

1. Pré-análise - É a organização e operacionalização das ideias que guiarão o percurso

de análise. Para Richardson (2012), é uma etapa indispensável que geralmente, abrange três

aspectos: a escolha do material; a formulação de hipóteses e objetivos; e a elaboração de

indicadores para a interpretação dos resultados. Além disso, o autor fala em atividades basilares

que o pesquisador deve seguir, que são a leitura superficial e a escolha dos documentos. A

primeira permite um contato inicial com os dados que se vai analisar, de modo a conhecer a

estrutura do material e apontar algumas impressões iniciais. A segunda consiste na demarcação

de documentos que vão ser submetidos à análise e à constituição de um corpus, ou seja, a

seleção de uma amostra representativa do material.

2. Análise do material (ou codificação) - Trata-se da sistematização dos dados coletados,

classificando-os de acordo com agrupamentos analógicos, que podem ser feitos manualmente

ou com ajuda de softwares computacionais. É uma fase composta por três etapas: 1.

Determinação das unidades de registro; 2. Escolha das regras de numeração; 3. Definição das

categorias de análise (BARDIN, 2011; RICHARDSON, 2012).

No que diz respeito à unidade de registro, em nossa pesquisa nos aprofundamos na

unidade temática, onde as observações são feitas a partir de uma frase ou frases compostas.

Essa unidade é comumente usada na análise de motivações, opiniões, atitudes e crenças. Ainda

há de se considerar a unidade de contexto, que atua como elemento para codificar a unidade de

registro, correspondendo ao segmento da mensagem e “cujas dimensões (superiores às da

unidade de registro) são ótimas para que se possa compreender a significação exata da unidade

de registro. Esta pode, por exemplo, ser a frase para a palavra e o parágrafo para o tema”

(BARDIN, 2011, p. 137).

Em relação às regras de quantificação, Richardson (2012) explica que a Análise de

Conteúdo visa um tratamento quantitativo que não exclui uma interpretação qualitativa. Para

nosso estudo, fizemos uso do critério de quantificação simples, que essencialmente é a medida

de frequência das unidades de registro contidas no material. Esta medição, considerada a mais

elementar da Análise de Conteúdo, é orientada pelo pressuposto de que a importância de um

registro categorial se reflete na quantidade de vezes que este é encontrado no texto.

A categorização temática se fundamenta em critérios empíricos e em hipóteses de

análise. Ocorre por meio da classificação dos dados em agrupamentos que reúnem um conjunto

de elementos da unidade de registro de acordo com as semelhanças que possuem. “Consiste em

isolar temas de um texto e extrair as partes utilizáveis, de acordo com o problema pesquisado,

para permitir sua comparação com outros textos escolhidos da mesma maneira”

Page 36: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

35

(RICHARDSON, 2012, p. 243). Criam-se, assim, categorias de análise, geralmente

acompanhadas por subcategorias.

Existem duas maneiras de se fazer uma categorização. Na primeira, o sistema de

categorias é estabelecido previamente e na segunda (aplicada em nossa pesquisa), as categorias

são formadas à medida que se constitui a classificação e decodificação dos dados. Nessa fase

trabalhamos com auxílio do software MAXQDA (2019), próprio para análise qualitativa de

textos, entrevistas, transcrições, gravações em áudio e vídeo, revisões de literatura, etc.

3. Tratamento dos resultados - Refere-se ao momento em que os dados “falam” para o

pesquisador quais foram os delineamentos da sua investigação, baseando-se no trabalho de

interpretação e inferência.

As categorias representam a reconstrução do discurso a partir de uma lógica

impressa pelo pesquisador, portanto expressam uma intencionalidade de

reapresentar o objeto de estudo, a partir de um olhar teórico específico. Essa

lógica aplicada ao objeto de estudo e as construções teóricas dela emanadas

precisam ser explicitadas, em termos do objeto reconstruído pela análise num

trabalho posterior à aplicação da técnica (OLIVEIRA, 2008, p. 572-573).

Oliveira (2008) assevera que o pesquisador pode apresentar os dados em forma de uma

descrição cursiva, que deve ser acompanhada por uma unidade de registro ou de contexto que

possua direta relação com a categoria estabelecida. Outra forma de apresentação é utilizando

tabelas, quadros e gráficos, seguidos da descrição argumentativa e teórica.

Por fim, o que podemos dizer, assim como Richardson (2012), é que todos os sistemas

de comunicação que partem da troca de significados entre emissor e receptor são passíveis de

uma leitura com Análise de Conteúdo. Todavia, cabe ao pesquisador aprimorar suas técnicas,

mantendo sempre uma rigorosa e estreita relação com os objetivos da pesquisa, afinal, são eles

que precisam ser explicados e alcançados.

A seguir, entraremos no capítulo destinado ao percurso teórico-conceitual. Nessa parte

da dissertação debatemos, a partir de estudos teóricos a respeito das principais informações e

sob nossa perspectiva, os conceitos que cercam a nossa investigação. O objetivo é desenvolver

uma discussão a partir do conhecimento já documentado por autores, que adequado ao nosso

recorte temático, permite-nos produzir sínteses teóricas e, consequentemente, novas hipóteses.

Page 37: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

36

3 PERCURSO TEÓRICO

O primeiro tópico do capítulo faz referência à linguagem, ao diálogo e à prática

pedagógica. Inicialmente, discursamos sobre a construção do conhecimento na teoria

vygotskyana e depois enfocamos o entrecruzamento entre diálogo e ensino na pedagogia

freireana, com foco na interação sociocultural e na educação conscientizadora.

No segundo tópico destacamos alguns dos horizontes que a sociedade atual oferece para

a educação. Trata-se, em especial, de um debate que perpassa pelas estratégias de ensino e pela

atuação do educador na cultura midiática, envolvendo o papel das TDICs e sua influência na

ideia de inovação da prática pedagógica.

Com o terceiro tópico é possível contextualizar a posição do audiodocumentário

enquanto formato do rádio elaborado, sua nova configuração mediante a convergência

tecnológica e seu papel como meio de comunicação para empoderamento comunicativo e

engajamento social. Isto pressupõe analisar as características da linguagem radiofônica,

sobretudo a sua capacidade de provocar sensorialidade. A partir daí, destacamos o valor

educativo da produção de um audiodocumentário norteada pela concepção teórico-prática da

Educação pela Comunicação.

3.1 Linguagem, diálogo e prática pedagógica

Para construir o debate sobre linguagem e diálogo, aproximamos conceitualmente o

pensamento de Vygotsky (1998; 2001) sobre o desenvolvimento cognitivo por intermédio de

uma dialética interação social entre sujeitos com as ideias de Freire (1979; 1985; 1987; 2002),

na perspectiva de uma ação pedagógica para conscientização.

Os autores, mesmo tendo vivido em lugares e épocas distintas15, compreendem e, como

consequência, defendem teorias e métodos (epistemologia do conhecimento), os quais

entendem de maneira análoga em suas obras como a experiência com o mundo e com as

representações culturais se interligam à ação educativa. A cultura, então, passa a ser

fundamental para o desenvolvimento humano, sendo um elemento social intrínseco à sua

natureza. Dialogam no entendimento sobre o conhecimento, no sentido de que é concebido

como parte de um processo de comunicação.

15 Lev Semyonovitch Vygotsky (1896-1934) nasceu em Orsha, cidade que fez parte da então Bielo-Rússia. O

brasileiro Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) nasceu em Recife, capital do estado de Pernambuco.

Page 38: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

37

Observe-se que, partindo de lugares diferentes, Freire e Vigotski16 coincidem

no princípio teórico e epistemológico acerca do conhecimento. Para o

primeiro, o conhecimento é ato de conscientização, ou seja, ato através do qual

o ser humano realiza o movimento de tomar para si a realidade na qual se

insere. Para o segundo, o conhecimento vincula-se, no âmbito do

desenvolvimento psicológico humano, ao processo de elaboração conceitual,

sendo o conceito um construto social. Para ambos esse processo está

visceralmente ligado ao ato de distanciamento do objeto de modo a apropriar-

se dele, seja como processo de abstração e generalização, seja como

movimento de “ad-miração” do real vendo-se nele (ALVES, 2008, p. 154,

grifo do autor).

Da relação entre a psicologia sócio-histórica vygotskyana e a pedagogia freireana,

destacamos, para nosso estudo, duas categorias conceituais: linguagem e diálogo.

No que se refere à linguagem, na perspectiva de Vygotsky (2001), é idealizada como o

principal sistema simbólico responsável pela interação humana. A psicologia sócio-histórica

vygotskyana parte de processos psicológicos característicos do sujeito, de forma que o seu

desenvolvimento resulta da interação social, “ou seja, o humano é condição que não se herda

biologicamente, mas se constitui no processo de apropriação que o indivíduo concreto,

historicamente situado, realiza, dos artefatos materiais e simbólicos presentes na cultura”

(ALVES, 2008, p. 15).

Quanto ao diálogo na perspectiva freireana, é o elemento central da ação educativa,

concebida como espaço no qual educador e educando são parte de um processo formativo e

emancipatório. Para Freire, a comunicação, especificamente a palavra, pode proporcionar ao

sujeito dialógico perceber, ao estar em uso a sua consciência crítica, as injustiças sociais para

mudar a realidade por meio do engajamento comunitário. O ponto de partida para a prática

pedagógica, portanto, são os conhecimentos prévios dos educandos, aqueles formados em sua

realidade social, que por intermédio da leitura crítica do mundo pode levar à conscientização

(GEHLEN; MALDANER; DELIZOICOV, 2010).

Assim temos a pedagogia freireana:

[...] para a qual, o processo de conhecimento (aprendizagem), implica um

movimento da consciência no sentido de ir e vir à realidade. O que indica a

concepção de ser humano como sujeito concreto cuja feitura, para usar uma

expressão de Freire, se tece na relação homem-mundo. Trata-se, portanto, de

um sujeito ativo cuja atividade cognitiva traduz-se em instrumento de

apropriação, compreensão e interação com a realidade (ALVES, 2008, p. 15).

16 O nome do autor é grafado de diversas maneiras na comunidade científica ocidental. Sua escrita varia conforme

tradução do russo, podendo ser: Vigotski, Vygotski ou Vygotsky. Todas estão corretas.

Page 39: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

38

Tanto a noção pedagógica de Freire como a psicologia sócio-histórica de Vygotsky,

apresentam subsídios para a consolidação da práxis social, formada pelo compromisso entre

comunicação falada e ação humanizadora (ZITKOSKI, 2015). O aporte está na apropriação

cultural por meio da interação social, da subjetividade e da relação entre desenvolvimento

cognitivo, ensino e aprendizagem.

Nos pressupostos de uma concepção vygotskyana, as interações sociais são essenciais

para que o sujeito faça uso dos seus sistemas simbólicos, construa representações da realidade.

Na convivência com o meio, social e cultural, os sujeitos vão aprendendo e desenvolvendo

funções psicológicas superiores, também denominadas de processos mentais superiores, que

são singulares ao ser humano. São substancialmente “ações conscientemente controladas,

atenção voluntária, memorização ativa, pensamento abstrato, comportamento intencional. Os

processos psicológicos superiores se diferenciam de mecanismos mais elementares, como

reflexos, reações automáticas, associações simples” (OLIVEIRA, 1997, p. 42).

A capacidade de desenvolver funções psicológicas superiores sugere a necessidade de

elementos mediadores entre o homem e o meio que habita. Oliveira (1997) ilustra que para

Vygotsky existem dois tipos de elementos mediadores: os instrumentos e os signos. Os

instrumentos são ferramentas externas que o homem utiliza para modificar a natureza. São

objetos criados com o intento de auxiliar as atividades práticas humanas, de acordo com a

função designada e o modo de utilização conforme costumes culturais de um grupo. Os signos,

ou instrumentos psicológicos, seguem o mesmo princípio de objetividade das ferramentas, pois

são meios auxiliares para obter a resolução de problemas. No entanto, partem da dimensão

psicológica do sujeito.

Ao longo da história da espécie humana - onde o surgimento do trabalho

propicia o desenvolvimento da atividade coletiva, das relações sociais e do

uso de instrumentos - as representações da realidade têm se articulado em

sistemas simbólicos. Isto é, os signos não se mantêm como marcas externas

isoladas, referentes a objetos avulsos, nem como símbolos usados por

indivíduos particulares. Passam a ser signos compartilhados pelo conjunto dos

membros do grupo social, permitindo a comunicação entre os indivíduos e o

aprimoramento da interação social (OLIVEIRA, 1997, p. 36).

Conforme explica Oliveira (1997), em um primeiro momento, o grupo cultural em que

o sujeito se insere e compartilha os conhecimentos necessários para o seu crescimento cognitivo

é que lhe propicia a capacidade de organizar o mundo. A partir de então, o sujeito atribui suas

próprias significações ao desenvolvimento de processos psicológicos internos, que ganham

Page 40: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

39

sentido quando são confrontados com a sua bagagem cultural e mediados por representações

simbólicas partilhadas.

Cubero e Luque (2007) acentuam que o desenvolvimento não é entendido aqui como

um elemento de acréscimo quantitativo e cumulativo, mas uma condição qualitativa capaz de

intervir na própria natureza do desenvolvimento. Os sistemas simbólicos podem incluir diversas

formas de representação da realidade, tais como os “sistemas de numeração, sistemas de

símbolos algébricos, trabalhos de arte, esquemas, diagramas, mapas, desenhos e todo tipo de

símbolos convencionais” (CUBERO; LUQUE, 2007, p. 102).

Entretanto, o sistema simbólico básico para a interação humana é a linguagem, pois é

por meio dela que a comunicação se desenvolve. Inicialmente, o ser humano em seus primeiros

meses de vida, passa por uma fase pré-verbal do pensamento, sendo que por volta dos dois anos

conecta-se à linguagem. Esse processo se dá na medida em que a “fala torna-se intelectual, com

função simbólica, generalizante, e o pensamento torna-se verbal, mediado por significados

dados pela linguagem” (OLIVEIRA, 1997, p. 47).

A linguagem, portanto, passa a ser o principal meio para que o ser humano se

comunique, enuncie e compreenda a sua existência, o que possibilitou a evolução da espécie do

biológico para o sócio-histórico (VYGOTSKY, 2001). Entender a importância da linguagem

para os processos de ensino e aprendizagem significa posicionar os sujeitos enquanto seres

pensantes, participantes de um mundo histórico que se constrói e reconstrói pelo intercâmbio

cultural.

[...] A cultura, entretanto, não é pensada por Vygotsky como algo pronto, um

sistema estático ao qual o indivíduo se submete, mas como uma espécie de

“palco de negociações”, em que seus membros estão num constante

movimento de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e

significados. A vida social é um processo dinâmico, onde cada sujeito é ativo

e onde acontece a interação entre o mundo cultural e o mundo subjetivo de

cada um (OLIVEIRA, 1997, p. 38).

Para Freire (1979; 1987; 1985), a palavra age como mediação do homem com o mundo

para sua transformação, já a teoria de Vygotsky (1998; 2001) concebe a palavra como signo

cultural essencial ao desenvolvimento, tanto da linguagem enquanto um meio de comunicação

como para a construção de sistemas lógicos de pensamento mediados pela interação.

Constituem-se, assim, os conhecimentos fundamentados na transmissão de informações

respaldadas no diálogo. Todavia, a palavra não é apenas um conceito, mas uma unidade

Page 41: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

40

estrutural da consciência que está no interior de um sistema sub e superordenado (GEHLEN;

MALDANER; DELIZOICOV, 2010).

Posto isso, é papel dos educadores pensar práticas pedagógicas que possibilitem

interações sociais chaves para construção de conhecimentos significativos que abarquem as

necessidades da sociedade atual. Para tanto, é preciso uma educação intencional e mediada que

possibilite ampliar o repertório “das funções psicológicas superiores para a formação de

conceitos, ou seja, para desenvolver conceitos científicos é necessário desenvolver as funções

psicológicas superiores e vice-versa, como a capacidade de abstrair, de sintetizar, de

generalizar, etc.” (FARIAS; BORTOLANZA, 2015, p. 80).

Podemos, então, questionar-nos como o sujeito “interioriza” os conteúdos e as funções

psicológicas de sua cultura? Como ocorre a passagem do interpessoal ao intrapessoal? Cubero

e Luque (2007) explicam que para responder isso Vygotsky formula o conceito de Zona de

Desenvolvimento Proximal (ZDP).

Assim sendo, Vygotsky (1998) diz que a ZDP é a distância entre o Nível de

Desenvolvimento Real (NDR) do sujeito e o seu Nível de Desenvolvimento Potencial (NDP).

O NDR é constituído pelos conhecimentos prévios que dão capacidade para o sujeito realizar

tarefas de maneira independente, já o NDP é determinado pela resolução das tarefas em

colaboração com outros sujeitos mais capacitados.

Conforme Cubero e Luque (2007, p. 100), a ZDP “não é uma zona estática, mas

dinâmica, em que cada passo é uma construção interativa específica desse momento, que, por

sua vez, abre diversos canais de evolução futuros”. Ainda conforme os autores, é na ZDP que

a intervenção do outro ocorre de maneira transformadora, inclusive com fins didáticos. Vale

lembrar, que os agentes de mediação simbólica não incluem apenas pessoas, mas diferentes

recursos educacionais, como livros, as TDICs e os formatos comunicacionais que delas derivam

(texto, imagem, áudio e vídeo).

Através do conceito da zona de desenvolvimento proximal defendido por

Vygotsky durante os intensos debates sobre educação na década de 30, ele

desenvolveu, do ponto de vista da instrução, os aspectos centrais da sua teoria

da cognição: a transformação de um processo interpessoal (social) num

processo intrapessoal, os estágios de internalização; o papel dos aprendizes

mais experientes (JOHN-STEINER; SOUBERMAN, 1998, p. 175).

Nesta concepção, a prática pedagógica desempenha papel central para a potencialização

do desenvolvimento do educando. O educador, munido por uma “série de procedimentos de

regulação da atividade conjunta”, proporciona situações para trabalhar os conhecimentos que o

Page 42: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

41

educando domina sozinho, numa relação com aqueles que ele desenvolve com a ajuda de

terceiros, seja o educador ou os colegas de turma (CUBERO; LUQUE, 2007, p. 105). Em vista

disso, podemos considerar que as práticas comunicativas intercedidas pela linguagem têm como

ponto inicial de desenvolvimento as relações familiares, para depois se estenderem para outras

instâncias de socialização, tal como os ambientes educativos formais e não-formais17.

Os processos de troca e de negociação no cenário realizam-se por meio da

participação guiada. Esta supõe o professor como guia para a aprendizagem

dos alunos, ao mesmo tempo em que participa, junto com eles e lhes oferece

vários tipos de ajuda: 1. constrói pontes do nível de compreensão e de

habilidade do menino e da menina até outros níveis mais complexos; 2.

estrutura a participação das crianças, manipulando a apresentação da tarefa de

forma dinâmica, ajustando-se às condições do momento; 3. transfere

gradualmente o controle da atividade até que o próprio aluno seja capaz de

controlar por si mesmo a execução da tarefa (CUBERO; LUQUE, 2007, p.

105).

Nesse sentido, é papel da educação, exercida nas instâncias caracterizadas pela

intencionalidade, permitir intervenções pedagógicas que possibilitem trocas interculturais entre

sujeitos para o desenvolvimento de aprendizagens essenciais à sua formação humana e

profissional.

Já vimos que o conhecimento se dá por uma operação que necessita estar integrada a

um conjunto de ações coletivas e práticas, onde a cultura não é um elemento estático, mas um

movimento histórico capaz de estabelecer relações de diálogo entre os homens. Nessa direção,

Freire (1979) coloca a prática educativa como um ato dialógico, onde a comunicação assume

papel de destaque.

Na pedagogia freireana, as mediações entre ensino e aprendizagem se dão por

intermédio das interações comunicativas de uma comunidade. São as trocas em que educadores

e educandos vão dialogando e reconstruindo nas relações com os espaços comunitários, com as

TDICs e, ao nível maior, com o contexto social, político, econômico e cultural que influencia

o seu cotidiano (ALVES, 2008).

17 A educação formal ocorre no território das escolas e universidades, onde se desenvolvem práticas pedagógicas

que têm como objetivo possibilitar a assimilação de conteúdos historicamente sistematizados. Há também o espaço

da educação não-formal, que ocorre em lugares onde existem ações coletivas e se espera formar sujeitos com

consciência do seu pertencimento comunitário e sua identidade cultural. Na educação não-formal, a

intencionalidade está no ato de participar, de aprender e de transmitir e compartilhar conhecimentos. Na educação

informal, aquela em que as pessoas aprendem durante seu processo de socialização nos mais variados espaços que

habitam, não há resultados esperados ou intencionalidades, pois, estes, acontecem espontaneamente a partir do

desenvolvimento do senso comum (GOHN, 2006).

Page 43: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

42

Todavia, para uma ação pedagógica ser útil precisa atentar nos fatores como uma boa

comunicação entre os agentes da atividade educativa, considerando as capacidades, contextos

sociais, cognitivos, afetivos, entre outros aspectos. A construção do conhecimento, portanto,

requer a coletividade, a dialogicidade, o que pode ser possível quando se busca a “negociação

dos significados e ao estabelecimento de um contexto discursivo que torna factíveis a

comunicação e a expressão” (CUBERO; LUQUE, 2007, p. 105).

Por conseguinte, para que as dinâmicas de processos de ensino e aprendizagem

aconteçam de maneira significativa, há a necessidade de entender que a prática educativa é

intencional, ou seja, a prática pedagógica que considera os sujeitos, objetos de estudo,

procedimentos didáticos e objetivos envolvidos.

O primeiro elemento essencial para a prática pedagógica são os sujeitos: os educadores

e os educandos. O que exige troca de saberes contínua, ponderando e estando destinados aos

conteúdos estudados, os quais têm seus pressupostos sociais, científicos e sua direta relação

com a realidade de mundo dos envolvidos, em seus contextos diversos.

[...] testemunhar a abertura aos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus

desafios, são saberes necessários à prática educativa. Viver a abertura

respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar

a própria prática de abertura ao outro como objeto da reflexão crítica deveria

fazer parte da aventura docente. A razão ética da abertura, seu fundamento

político, sua referência pedagógica; a boniteza que há nela como viabilidade

do diálogo (FREIRE, 2002, p. 51).

Na perspectiva freireana, quem ensina, ensina algo e quem aprende, aprende algo. O

desafio é que esses “algos” sejam os conteúdos que o educador e o educando pretendem de

forma sistematizada, aprender. Assim, o segundo elemento da prática pedagógica são os objetos

de estudo e os conteúdos a serem trabalhados no ambiente educativo. Como dito anteriormente,

neste processo não se pode desconsiderar os saberes prévios característicos aos educandos, nem

o papel ativo deles como aprendizes. O movimento de troca de experiências é fundamental para

que realmente exista ensino e aprendizagem. Freire (2002) valoriza as premissas do senso

comum e as relaciona com os conteúdos curriculares para transformá-las e dar vazão ao

surgimento da consciência epistemológica (metódica e científica). No entendimento de Santos

(2005, p. 25), em Paulo Freire:

[...] o fenômeno educativo não se restringe à educação formal, por intermédio

da escola, mas a um processo amplo de ensino e aprendizagem, inserido na

sociedade. A educação é vista como um ato político, que deve provocar e criar

condições para que se desenvolva uma atitude de reflexão crítica,

Page 44: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

43

comprometida com a sociedade e sua cultura. Portanto, deve levar o indivíduo

a uma consciência crítica de sua realidade, transformando-a e a melhorando-

a. Dessa forma, o aspecto formal da educação faz parte de um processo

sociocultural, que não pode ser visto isoladamente, nem tampouco priorizado.

Como terceiro elemento temos os procedimentos didáticos, isto é, as metodologias,

métodos, estratégias e recursos para o ensino. Neste ponto, Freire (2002) diz que o educador irá

despertar a curiosidade do educando para os conteúdos, quando conquistar a atenção crítica

destes. Daí a necessidade de estar atento na escolha dos procedimentos didáticos, pois serão

fundamentais para criar um ambiente favorável ao diálogo e à expressão comunicativa. Para

haver diálogo é preciso que o universo do educador e do educando se expressem.

Como último elemento, temos os objetivos do ensino. Quem ensina, ensina algo com

alguma finalidade e quem aprende, também tem alguma finalidade. O desafio é que ambos

tenham ciência, enquanto sujeitos de um mundo impermanente, que educar requer pensar em

objetivos, sonhos, utopias e ideais. Por este motivo, Freire (2002) defende que a educação não

é neutra. Somos seres históricos e as condições sociais e culturais nos condicionam, mas não

determinam a nossa existência. Vivemos em um mundo em constante movimento de construção

e o papel do educador é trazer ao debate a realidade, respeitando todas as visões sobre ela, seja

de quem quer transformá-la ou de quem se recusa a isso.

Fato é que a educação contemporânea está diante de uma complexa rede de desafios,

que somados aos que sempre enfrentou, exigem a integração de novas dinâmicas à formação

dos procedimentos educativos.

Não é apenas o grau de desigualdade social que está colocado no cenário

educacional, particularmente na educação pública. Dentre os inúmeros

desafios a serem enfrentados pela ação educativa escolar, é preciso observar

com cuidado adequado aqueles referentes às mudanças que a trama social em

movimento promove nos sujeitos (ALVES, 2008, p. 184).

Mediante essa conjuntura, discutiremos, no tópico a seguir, a necessidade de se pensar

estratégias de ensino que mobilizem os diversos recursos ao seu dispor para compreender as

realidades dos sujeitos. Há a necessidade de se preocupar mais com o lugar de fala de cada um,

pois educadores e educandos são os elementos essenciais de qualquer prática pedagógica. Sem

interação dialética e dialógica desses pares não há formação da sociabilidade, não há

desenvolvimento cultural e, então, a educação intencional perderia seu sentido.

Page 45: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

44

3.2 O papel das TDICs na construção do conhecimento - novas estratégias e recursos

Ao tratar de conhecimento, novas tecnologias e qualidade da educação, Libâneo (2005)

ressalta que é importante a contribuição do desenvolvimento tecnológico nos processos de

formação das pessoas. Para o autor, a prática pedagógica se depara com a complexidade de um

contexto concreto de transformações sociais, econômicas e políticas, onde “a democratização

da sociedade supõe uma educação básica como necessidade imperativa de desenvolver nos

jovens capacidades cognitivas, de modo que aprendam a se expressar, a compreender diferentes

contextos da realidade, a relativizar certezas, a pensar estrategicamente” (p. 41).

Nesse panorama, a escola vem perdendo o seu papel hegemônico como instância de

socialização e disseminação da racionalidade e do progresso. Quem indica isso é Aguaded-

Gómez (2005), ao apreender que a configuração social da atualidade direciona cotidianamente

a produção cultural para o consumo e uso massivo dos meios de comunicação, com destaque

para as interações via internet. Esse fluxo vem ocorrendo gradativamente a partir da década de

oitenta e a cada novidade no campo da telemática e da telecomunicação vão se estabelecendo

dinâmicas diferentes nas atividades coletivas, o que inclui o papel social da educação.

Desta forma, a instituição educacional perde sua autonomia e primazia em

termos de reserva de valores e cultura numa sociedade nova e audiovisual. E

isso, porque os alunos que a frequentam agora aprendem valores e educam-se

em alguns modelos de referência e aspirações que procedem dos meios de

comunicação, sobretudo da televisão, da publicidade e, nos últimos anos, cada

vez mais através dos jogos de vídeo e da internet [...]. De modo que podemos

dizer que a sociedade audiovisual originou novas formas de percepção e

construção de conhecimento, que inevitavelmente reverberam na escola

(AGUADED-GÓMEZ, 2005, p. 29, tradução nossa).

As crianças, adolescentes e jovens, juntamente com todas as demais pessoas, só que de

uma maneira singular, estão à mercê de um mundo de telas, ou, como podemos dizer, uma

“geração smartphone”. A facilidade de acesso aos equipamentos e à informação com

exponencial avanço da digitalização alavancaram as possibilidades comunicacionais e o

intercâmbio cultural, o que, consequentemente, gerou um conjunto de novas regras de

sociabilização e dinâmicas no mundo do trabalho e da educação (COMITÊ GESTOR DA

INTERNET NO BRASIL, 2018).

Tal configuração precisa ecoar de maneira expressiva sobre as estratégias de ensino e

atuação do educador. No entanto, antes de expormos o nosso posicionamento conceitual sobre

o que são estratégias, precisamos falar de maneira específica e resumida sobre ensino.

Page 46: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

45

Amparamo-nos em Libâneo (2006) para dizer que o ensino depende das relações

estabelecidas entre os sujeitos da prática pedagógica. O educador é o responsável por organizar

e sistematizar atividades com o objetivo de promover condições de aprendizagem para os

educandos. Em termos gerais, as condições podem ser a assimilação de conhecimentos

específicos, habilidades, capacidades físicas e cognitivas, convicções, dentre outras.

Outro ponto importante descrito em Libâneo (2006) é que o ensino e a aprendizagem

são objeto de estudo da Didática, sem, no entanto, serem um único processo. A Didática integra

os estudos sobre ciência da educação, função da área da Pedagogia, e é responsável pela

investigação dos procedimentos que viabilizam o ensino. Nesse aspecto, a prática de ensino é

indissociável das dimensões políticas, ideológicas, éticas e pedagógicas que orientam as

escolhas do educador pelos seus procedimentos didáticos.

Retomando a classificação supracitada, acerca dos procedimentos didáticos

responsáveis por guiar o educador perante as situações que embasam a sua prática, incluem-se

as metodologias, métodos, estratégias e recursos para o ensino.

A metodologia é o estudo e a reflexão sobre os métodos de ensino. Libâneo (2006)

explica que se trata basicamente dos procedimentos que dão validade para as investigações das

diferentes ciências, refletindo a melhor direção para a formação social e profissional dos

sujeitos. Já os métodos, na Pedagogia, dizem respeito às circunstâncias e tipos de aplicação,

como, por exemplo, o método expositivo e o método ativo. A metodologia tem um caráter mais

específico do que o método, focando nos procedimentos de ensino referentes aos conteúdos e

às necessidades das disciplinas ou contexto educativo.

Os métodos, então, são os caminhos para se chegar ao objetivo do ensino, ou seja, a

aprendizagem. Rangel (2005) conta que os fundamentos que embasam a concretização destes

no ensino têm origem nas interlocuções dadas pelos sujeitos que ensinam e que aprendem. A

autora observa duas questões fundamentais para se entender a escolha e a aplicação do método:

o valor contido na autonomia daquele que ensina “e o propósito do ensino comprometido com

a aprendizagem e com a aquisição do conhecimento, entendendo-o como direito da vida

cidadã”. Assim, “o processamento do método recebe expressivas influências de fatores de

contexto, como os socioeconômicos, os históricos e os culturais” (RANGEL, 2005, p. 10).

As estratégias de ensino são complementares à metodologia e ao método. Baseando-se

em Anastasiou e Alves (2004), podemos dizer que incluem técnicas que auxiliam o educador

para planejar, executar e avaliar as suas atividades, o que, por consequência, exige suscitar

processos pedagógicos sistematizados que medeiem e ajudem os educandos a atingir os

objetivos educativos. Para os autores, no momento em que o educador vai escolher uma

Page 47: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

46

estratégia de ensino para sua prática, em tese, precisa ser um bom ouvinte acerca das

necessidades que envolvem seus educandos.

Por meio das estratégias aplicam-se ou exploram-se meios, modos, jeitos e

formas de evidenciar o pensamento, respeitando as condições favoráveis para

executar ou fazer algo. Esses meios ou formas comportam determinadas

dinâmicas, devendo considerar o movimento, as forças e o organismo em

atividade. Por isso, o conhecimento do aluno é essencial para a escolha da

estratégia, com seu modo de ser, de agir, de estar, além de sua dinâmica

pessoal (ANASTASIOU; ALVES, 2004, p. 70).

Outro ponto decisivo para o bom funcionamento de uma estratégia de ensino é que o

educador desenvolva um planejamento no qual atue como um mediador da ação educativa.

Além disso, que tenha a concepção de que as estratégias e suas sequências didáticas ou de

produção educativa, não são perfeitas, completas, ou sujeitas a manuais operativos absolutos,

mas que são passíveis de adaptação aos contextos, mesmo durante o transcorrer do processo em

que se aplicam (MASETTO, 2000).

Ao colocarmos as estratégias de ensino como sendo as técnicas que permitem o

educador trabalhar seu método, remete-se à seleção, à organização e à apropriação de recursos

que são os objetos e equipamentos de natureza técnica (MORAN, 2015). Aqui entram, entre

outros recursos, as dimensões instrumentais das TDICs e a sua diversidade de produtos

midiáticos, tal como o audiodocumentário, objeto do nosso estudo.

Perceber o mundo de maneira crítica inclui ações em que o educador trace estratégias

capazes de estimular o interesse do educando pelo conteúdo abordado. O “domínio das bases

teórico-científicas e técnicas, e sua articulação com as exigências concretas do ensino, permitem

maior segurança profissional, de modo que o docente ganhe base para pensar sua prática e

aprimore sempre mais a qualidade do seu trabalho” (LIBÂNEO, 2006, p. 28).

No entanto, como alerta Kenski (2009, não paginado):

É preciso saber usar pedagogicamente as mídias, as redes com alunos de

diferenciados níveis, e isso se aprende na escola, mas a escola de formação

não os ensina. Não é uma disciplina isolada que vai resolver esse milagre, não

é uma disciplina datada, com número exato de 1 ou 2 semestres no máximo.

Essa cultura diferenciada que a nossa sociedade vivencia precisa ser

incorporada à cultura educacional. E enquanto ela for considerada uma

disciplina apartada do projeto político-pedagógico como todo e não for

incorporada nas diferentes disciplinas, nós vamos ter problemas de uso dessa

tecnologia dentro das escolas.

Page 48: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

47

Em um mundo em constante mudança, as tecnologias digitais se tornaram indissociáveis

do cotidiano humano e passaram a desempenhar um importante papel na produção e divulgação

da enorme quantidade de dados que circulam no meio social. Diante de uma sociedade

informatizada, consequência do contínuo e acelerado avanço dos mais variados suportes

digitais (celular, smartphone, computador, tablet, smart TV, etc.), a apreensão e produção do

conhecimento transcursa por inúmeros espaços de socialização, ampliando e inovando as

formas de ensinar e de aprender.

Sobre inovação nos processos de ensino e aprendizagem devemos estar atentos a como

utilizar estratégias e recursos para gerar atividades ou comportamentos diferenciados. Para

Nogaro e Battestin (2016), inovar significa mudar pensamentos e ações enraizados, romper com

o desuso e as práticas obsoletas e recriar o que está posto. Em educação deve se preocupar com

a formulação de um pensamento pedagógico direcionado para novos procedimentos didáticos,

que atendam às expectativas do contexto social da atualidade, ao mesmo tempo que prospecta

possibilidades futuras. O que remete a um ponto importante: não basta fazer uso de

procedimentos (métodos, estratégias com técnicas e recursos) amparados pela cultura digital. É

preciso que tais escolhas sejam norteadas por abordagens nas quais os sujeitos sejam ativos,

como a de Vygotsky e/ou de Freire, estudadas anteriormente.

O futuro esperado ou diferente só será possível se for gestado de forma

diferente no presente. Fazendo do mesmo modo que fazemos as coisas não

podemos esperar muita coisa a não ser a repetição ou reprodução. Uma prática

nova ou ainda não experimentada começa com a mudança na sua concepção,

em outras palavras, sua gênese está no pensamento criativo que a possibilita

(NOGARO; BATTESTIN, 2016, p. 364).

A inovação tecnológica é um dos aspectos essenciais para que ocorra a transformação

da prática pedagógica, o que pressupõe que novas linguagens e capacidades precisarão ser

compreendidas. Assim, “inovar na educação não é sinônimo de colocar computadores, lousas

digitais e toda a parafernália tecnológica nas salas de aula e escolas. Inclusão digital no contexto

da inovação é apenas um detalhe” (NOGARO; BATTESTIN, 2016, p. 365).

Em atenção ao que vimos descrevendo sobre a cultura midiática, precisamos esclarecer

que não é o digital que configura um novo modo das pessoas estarem no mundo, mas fatores

ligados à comunicação digital que “só torna mais evidente coisas e processos sociais, em que a

mídia passa a ter importância, mas não porque são das mídias digitais, mas sim porque são das

mídias” (SILVEIRA, 2011, p. 19). As lógicas de comunicação estão se readequando ao

movimento digital, mas não foram inventadas a partir dele.

Page 49: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

48

Neste ponto, interessa-nos que pensar educação em tempos digitais requer a consciência

de que o ensino necessita prezar por atividades que explorem a proatividade, autonomia,

trabalho coletivo, personalização e visão empreendedora (MORAN, 2015).

Kenski (2009a, p. 117) define algumas das principais características que orientam as

estratégias de ensino que fazem uso das TDICs:

Novas e variadas formas de perceber e interagir com a informação; a

possibilidade de descontextualização e a ruptura entre os conhecimentos; a

experimentação de novas possibilidades de recombinação textual; a mixagem

com imagens, sons e movimentos diversos; a obra aberta, em permanente

construção pelos alunos e professores; a troca frequente com outros

professores, alunos, autores e comunidades acessíveis via redes [...].

Já Souza (2009) lembra que características desse tipo só poderão ser alcançadas de

maneira satisfatória se houver, por parte de educadores e educandos, a construção e apropriação

dos conteúdos instrumentais basilares para a interação com a linguagem digital e a compreensão

crítica da sua força para expandir a comunicação midiática.

A inserção das TDICs nos espaços educativos, em especial o escolar, deve, antes de

focar no aparelhamento instrumental, acompanhar uma concepção filosófica voltada para as

perspectivas de inovação. No entanto, o que ocorre na maioria das instituições de ensino é que

a implantação das tecnologias é usada como tática para chamar a atenção, como marketing

comercial e político para vender uma ideia ou produto (KENSKI, 2009a; NOGARO;

BATTESTIN, 2016).

Não nos aprofundaremos em méritos sobre as condições estruturais necessárias para a

construção do ambiente de ensino mediado pelas TDICs. Até porque esta discussão precisa ser

acompanhada de uma ampla reflexão sobre as políticas governamentais de incentivo ao uso da

tecnologia digital na educação, em especial nos espaços formais de ensino. Além do mais,

tratando-se de um país de tamanho continental como o Brasil, contextos geográficos e

socioeconômicos específicos precisariam ser abordados.

[...] principalmente, quando se leva em conta que as políticas de educação

ainda não contam com a agilidade necessária para equipar, conectar e fazer a

manutenção dos equipamentos instalados nas escolas – o que nos aponta que

uma parte da solução do problema está em construir políticas públicas que

levem em conta esse novo contexto. Apesar disso, vemos muitos professores

que, mesmo com pouca infraestrutura, fazem de tudo para conduzir seu

trabalho de acordo com essa nova realidade [...] (CIPÓ - COMUNICAÇÃO

INTERATIVA, 2011, p. 15).

Page 50: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

49

O que buscamos suscitar é a abertura dos educadores para as novas possibilidades que

o mundo digital oferece, ainda que parta de iniciativas particulares. Antes de tudo, é necessário

partir do plano epistemológico para adentrar ao pedagógico, pois “mesmo escolas sem tantas

tecnologias, quando têm projetos pedagógicos mais avançados, modificam o conceito de sala e

de espaço” (MORAN, 2015, p. 20).

Na atualidade, é possível pensar estratégias de ensino que utilizam os recursos digitais

que os próprios educandos possuem. Quase todo mundo tem um smartphone, aparelho que abre

possibilidade para pensar projetos integrando multiplataformas - textos, imagens, áudios e

audiovisual. Vale frisar que nesse ponto não estamos julgando se uma linguagem de

comunicação ou formato comunicacional é mais eficiente que outro. Isso varia de acordo com

aspectos como a estratégia do educador, as necessidades de cada contexto educativo e com os

seus objetivos peculiares. Independentemente de ser a produção de um audiodocumentário, de

um filme, de uma oficina fotográfica ou qualquer outra proposta subsidiada pelos inúmeros

recursos digitais da atualidade. Ressaltamos, aqui, que as estratégias de ensino fundamentadas

no uso das TDICs devem prezar por uma orientação diferenciada das propostas tradicionais

repetitivas - é aí que está intrínseco o conceito de inovação.

No ensino tradicional, apenas se valoriza que o educador é o centro do processo de

ensino para alunos “passivos”. Ao invés de proporcionar a comunicação dialógica horizontal,

“faz ‘comunicados’ e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente,

memorizam e repetem. Eis aí a concepção ‘bancária’ da educação, em que a única margem de

ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los”

(FREIRE, 1985, p. 33).

Maquiar o ensino com atividades ditas como inovadoras, mas que apenas readaptam

velhos métodos a novas roupagens, é negligenciar o potencial criativo que a tecnologia digital

pode oferecer. “Não se trata, portanto, de adaptar as formas tradicionais de ensino aos novos

equipamentos ou vice-versa. Novas tecnologias e velhos hábitos de ensino não combinam”

(KENSKI, 2009a, p. 63).

No tópico a seguir, destacamos o valor educativo da produção de um audiodocumentário

norteada pela concepção teórico-prática da Educação pela Comunicação. As particularidades

do formato comunicacional oferecem a liberdade criativa para trabalharmos diversos conteúdos

educacionais a partir de um processo que evoca emocionalidade por meio das características

sensoriais, estéticas e artísticas da linguagem radiofônica (GODINEZ GALAY, 2014; 2014a).

Page 51: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

50

3.3 Audiodocumentário num processo bilateral da comunicação para a educação

Conforme Deleu (2013) e Santos (2016), o documentário surge no cinema, que o

classificou como um filme que registra e discute um ambiente social ou situações próprias das

relações humanas. Com o passar dos anos, no percurso de desenvolvimento do rádio, o formato

foi se consolidando como elemento desse meio, sendo que os primeiros documentários para o

rádio surgem na Europa, por volta do final dos anos vinte.

Trazer um conceito universal sobre audiodocumentário é uma tarefa difícil, uma vez

que a sua significação abarca uma diversidade de formas de expressão, onde a própria

nomenclatura não é consensual entre os produtores e estudiosos do tema. De Beauvoir (2015)

explica que nos Estados Unidos da América se fala em radiodocumentário (radio documentary),

enquanto outros países de língua inglesa adotaram o termo feature, como é o caso do Canadá,

Austrália e Grã-Bretanha. Outra terminologia popularizada é a de documentário radiofônico

(documentaire radiophonique) usada pelos franceses. Há também o documentário sonoro

(documental sonoro) mais próximo dos países de língua espanhola.

Como já adiantamos na introdução desse trabalho, durante o nosso percurso de pesquisa

nos apropriamos da nomenclatura audiodocumentário (tradução da expressão audio

documentari utilizada pelos italianos), ao invés dos seus homônimos mais populares. Isso se

deu por acreditarmos que embora o formato siga as normas da linguagem radiofônica, o fácil

acesso às TDICs tornou os procedimentos de elaboração e distribuição menos complexos e

independentes do rádio.

Para De Beauvoir (2015; 2018) e Santos (2016), na cultura midiática consolidada pela

convergência tecnológica, as formas de produção do audiodocumentário foram barateadas e sua

distribuição encontrou espaço na internet, movimento que caminha junto à ascensão do

podcast18 e do streaming19.

Para as audiências, o consumo de produtos culturais radiofônicos foi

revolucionado. O ouvinte da internet, contanto que desfrute de uma conexão

com a rede suficientemente rápida para baixar ou ouvir arquivos de áudio

online, evolui hoje na virtualidade de um mundo radial que aparentemente não

conhece limites. Enquanto isso, as estações de rádio, sejam locais ou

18 Podcast é o nome de uma forma de transmissão de arquivos de áudio via Internet. Funciona como uma rádio.

No entanto, os arquivos podem ser ouvidos a qualquer momento em um player digital portátil. Os podcasts criam

uma espécie de rádio virtual direcionada para assuntos específicos, ou seja, de acordo com as características de

cada ouvinte (MARTINS, 2008, não paginado). 19 A tecnologia streaming é uma forma de transmissão instantânea de dados de áudio e vídeo. Por meio do serviço,

é possível assistir a filmes ou escutar música sem a necessidade de fazer download, o que torna mais rápido o

acesso aos conteúdos on-line (COUTINHO, 2014, não paginado).

Page 52: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

51

nacionais, perdem o controle sobre a programação que lhes liga aos seus

ouvintes. Isso significa que elas precisam revisar o conceito de audiência,

porque nem o ouvinte nem as estações são mais nacionais ou locais ou, em

qualquer caso, não são mais limitados pelo escopo das ondas hertzianas (DE

BEAUVOIR, 2015, p. 3, tradução nossa).

Santos (2016) elucida que o audiodocumentário pode ser entendido como um formato

radiofônico marginal, uma vez que é resultado da junção de diversos gêneros consolidados no

rádio, mas que se aproximam por tratar de questões reais. O formato ganhou expressão

principalmente nas rádios públicas europeias, norte-americanas e australianas. Já no território

brasileiro, onde o rádio se baseia em características como o imediatismo e a instantaneidade,

em detrimento da dimensão artístico-criativa dos sons, a lógica de produção comercial fez com

que se tornasse dispensável para as rotinas das emissoras.

Aos formatos radiofônicos que se distanciam da lógica comercial, aproximando-se mais

de uma produção independente e autoral, Santos (2016) diz se tratar do rádio elaborado,

traduzindo a expressão francesa émission elaborée, usada para designar tanto os formatos

ficcionais, como não-ficcionais.

Existe um universo de programas radiofônicos, minoritários em termos de

volume de produção, que se valem das especificidades expressivas da

linguagem radiofônica. Esses programas são aqueles que se realizam a partir

de procedimentos técnico-artísticos mais complexos, a saber: roteirização,

gravação, montagem e mixagem. Essas etapas de concepção e realização —

herdadas historicamente do teatro e do cinema, principalmente — estabelecem

uma lógica de produção artesanal incomum ao modelo predominante no rádio

[...] (SANTOS, 2016, p. 13).

No Brasil, os gêneros e formatos que compõem o rádio elaborado, concentram-se

basicamente em propostas autorais para internet, realizadas por estudantes no âmbito

acadêmico (SANTOS, 2016). Isso ocorre porque além de terem mais tempo para realizar estas

produções como laboratório prático de pesquisa sobre a linguagem radiofônica, encontraram

facilidades advindas do momento de convergência tecnológica que estamos vivendo.

Com o audiodocumentário podemos abordar temáticas com valor sociocultural de

maneira aprofundada, diferente do enfoque factual e efêmero que é dado aos programas

radiofônicos comerciais. De acordo com Godinez Galay (2014; 2014a) e Lechuga Olguín

(2015), o seu processo de produção se baseia na liberdade de experimentação das características

sensoriais, estéticas e artísticas da linguagem radiofônica, constituindo-se por uma estrutura

expressiva que mistura jornalismo e arte sonora. “No documentário sonoro, o duplo apelo

emocional-racional que o rádio possui é explorado, pois damos informações, textos, mas ao

Page 53: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

52

mesmo tempo damos sensações através do som, falamos diretamente ao corpo (GODINEZ

GALAY, 2014a, não paginado, tradução nossa).

Em vista disso, tem-se criado diversas classificações que buscam delimitar tipologias

para o audiodocumentário. Por exemplo, podemos encontrar classificações em Torres (1995),

Detoni (2007), Deleu (2013), Fevrier (2013), entre outros. Porém, para esse estudo, ancoramo-

nos na classificação descrita no “Manual de Radiodocumentário” de Detoni (2007), documento

que, segundo Santos (2016), tornou-se uma das principais referências em língua portuguesa

sobre o assunto. Além de um rico material que serve como guia sobre o formato, o manual traz

uma classificação que acentua dois aspectos centrais: tema e narrativa.

Para Detoni (2007), os temas podem ser: jornalísticos, que se ligam a problemáticas

socioculturais contemporâneas, podendo retratar apenas um único sujeito, um evento ou uma

atividade e buscam explicar o que está acontecendo para expandir o conhecimento sobre o fato;

históricos, os quais podem ser investigativos e reveladores, servem para expor novos fatos ou

visões sobre determinado acontecimento, relembrando e reinterpretando o passado; culturais,

que se baseiam em temáticas ligadas às artes em geral, explorando recursos musicais, poéticos

e dramáticos; e abordagem filosófica/psicológica, que lidam com problemáticas sociais que não

perdem a atualidade. São filosóficos porque podem abordar identidade, crença, existência,

amor, vingança e psicológicos por abordarem relações interpessoais e comportamento humano.

Em relação à narrativa, segundo Detoni (2007), podem ser: observacional, por dispensar

o narrador e não buscar interpretar ou criticar, apenas mostrar um fato e provocar reflexões;

conduzido pelo narrador ou repórter, que fazem os links explicativos, ajudando o

audiodocumentário a desenrolar-se de forma lógica e informativa; e autoral, no qual o

audiodocumentarista não é neutro, pois constrói uma visão particular de determinado

acontecimento ou narra a sua própria experiência.

O manual de Detoni (2007) é eficiente porque viabiliza em uma linguagem simples e

objetiva o conhecimento dos procedimentos básicos para a produção de um audiodocumentário.

Nesse sentido, é importante para nosso estudo porque permite a abertura para que educadores

possam se apropriar do formato para promover práticas pedagógicas com enfoque na

comunicação, educação e participação. Para isso, precisam estar engajados e encorajar os seus

educandos a conhecer de forma mais íntima as possibilidades da linguagem radiofônica.

Já sobre a diferença entre o audiodocumentário e outros formatos radiofônicos, como a

reportagem especial, em Silva e Silva (2019), tomando como base a nossa experiência prática

com o objeto e os estudos de Lechuga Olguín (2015), elencamos as características essenciais a

todo audiodocumentário, expostas no quadro a seguir.

Page 54: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

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Quadro 01 - Características essenciais de um audiodocumentário

Mistura entre realidade e arte/ficção - Trata-se do entrecruzamento entre técnicas de jornalismo e arte

sonora. O audiodocumentário não é somente um meio de informação, mas uma obra com valor

artístico. Essa condição exige ir além das técnicas básicas comumente aplicadas ao rádio comercial

baseado na instantaneidade e na exploração do registro ao vivo.

Profundidade da investigação de um tema - Despreza o fato superficial e perecível, buscando sempre

pelo melhor detalhamento da narrativa e procurando envolver o máximo de atores sociais e

perspectivas do tema investigado.

Tratamento estético da informação - Explora de maneira livre os sistemas expressivos da linguagem

radiofônica de modo a evocar a sensorialidade, ou seja, desperta a capacidade de criar imagens

sonoras que libertam a imaginação, desenvolve o pensamento criativo e dão espaço para a emoção.

Duração - Varia conforme a quantidade, dinâmica e coerência dada ao material sonoro e em que

plataforma o produto será veiculado. A partir da nossa experiência com o objeto, determinamos que

o tempo médio que representa a duração de um audiodocumentário está entre vinte minutos e uma

hora.

Estrutura - Em termos objetivos, podemos dizer que a maioria dos audiodocumentários vão ter como

base os pontos descritos em Fernandez (2015): pesquisa aprofundada e a utilização de dados

documentais diversos; ambientação sonora; narração viva e ativa dos fatos; depoimentos dos atores

sociais envolvidos; trabalho criativo com os efeitos sonoros, música e silêncio; e a edição/montagem.

Fonte: Silva e Silva (2019, p. 111-112).

Em relação ao quadro exposto, destacamos que embora a produção de um

audiodocumentário ofereça espaço à criatividade no trabalho estético com o material sonoro,

permitindo a inserção de elementos ficcionais, também requer respeito à pessoa, necessitando

de responsabilidade e ética no tratamento da mensagem a ser veiculada. Sobre isso, Torres

(1995, p. 144, tradução nossa) esclarece que o audiodocumentário trata:

[...] de fatos humanos - vidas - cuja privacidade estamos alcançando e estamos

transmitindo em experiências a outros seres. Qualquer mudança consciente ou

inconsciente mudará a atitude em relação àquela vida ou pessoa, de uma ou

milhares de pessoas que estão ouvindo o documentário que estamos

apresentando. Essa é uma excelente razão para cuidarmos da integridade do

conteúdo e nos aproximarmos o máximo possível da realidade dos fatos que

estamos apresentando no documentário.

Contudo, produzir audiodocumentários não significa traduzir a realidade de maneira

precisa. A mensagem sonora convida aquele que produz e aquele que “consome” o produto a

uma elaboração criativa da realidade, envolvida numa subjetividade sociocultural que só é

possível graças aos aspectos ligados às características da linguagem radiofônica. Portanto os

elementos que a constitui precisam ser explorados (SÁ, 2014).

Page 55: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

54

Balsebre (2005), uma das principais referências nesse assunto, conclui que essa

linguagem agrupa o conjunto de formas sonoras ou não, que se desenvolvem a partir de quatro

sistemas expressivos: palavra; música; efeitos sonoros; e silêncio. Esses elementos estão

determinados “pelo conjunto dos recursos técnicos/expressivos da reprodução sonora e o

conjunto de fatores que caracterizam o processo de percepção sonora e imaginativo-visual dos

ouvintes” (BALSEBRE, 2005, p. 329).

Quando pensamos na elaboração de produções radiofônicas precisamos considerar qual

o objetivo daquele que produz a mensagem (emissor) e a quem ela vai ser direcionada

(receptor). Para haver efetiva comunicação entre emissor e receptor, Balsebre (2005) diz que

os sistemas expressivos dependem de dois aspectos centrais: o valor semântico e o valor estético

da mensagem sonora.

O primeiro se refere ao conjunto sistemático de signos (linguagem) que forma o sentido

da mensagem a ser decifrada por aqueles que dominam os códigos simbólicos, sendo

responsável por transmitir o primeiro nível de significação do processo comunicativo (a

comunicação direta).

A mensagem é um agrupamento acabado, ordenado de elementos

concentrados em um repertório que constitui uma sequência de signos

reunidos segundo certas leis. E a comunicação só é possível quando o

repertório de elementos é conhecido por emissor e receptor. Atualmente,

devemos incorporar também neste processo a tecnologia. E sem a interação

emissor-receptor, sem a mediação de um processo de percepção, podemos

considerar que a produção de mensagens não tem sentido (BALSEBRE, 2005,

p. 327).

O segundo aspecto diz respeito à composição da mensagem produzida, centrando-se na

percepção sensitiva. O valor estético gera um segundo nível de significação, que é baseado na

sensibilidade e na afetividade. “Para a eficácia da mensagem é também necessário um equilíbrio

entre informação estética e semântica, pois ambas representam de forma mais completa a

polissemia que abrange toda produção de significado e sua interpretação em um contexto

comunicativo” (BALSEBRE, 2005, p. 328).

A excelência da mensagem radiofônica começa desde a reflexão sobre como utilizar

qualitativamente o material sonoro que o produtor tem à sua disposição, integrar conteúdo e

forma, o semântico e o estético. Não se trata apenas de produzir a informação, mas também a

forma como se explora o universo da imaginação e do pensamento criativo, da estética e da

inventividade (DE BEAUVOIR, 2015). A seguir, caracterizaremos cada um dos sistemas

Page 56: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

55

expressivos da linguagem radiofônica (palavra, música, efeitos sonoros e silêncio) citados

anteriormente.

Palavra - Balsebre (2005) classifica como o elemento básico da construção

comunicativa, que se constitui por meio da integração entre o texto escrito e a improvisação

verbal. Desperta sentimentos ao lidar de maneira criativa com as variações do som: intensidade,

volume, intervalo e ritmo.

Ela constitui um acontecimento do mundo sonoro, do mesmo modo que todo

movimento corporal o é do mundo visual e táctil. Entretanto, ela escapa de

algum modo, da plena captação sensorial: no mundo da matéria, apresenta

uma espécie de misteriosa incongruência. Por isso, ela informa sobre a pessoa,

por meio do corpo que a produziu: mais do que por seu olhar, pela expressão

do seu rosto, uma pessoa é traída “por sua voz”. [...] A enunciação da palavra

ganha em si mesmo valor de ato simbólico: graças à voz ela é exibição e dom,

agressão, conquista e esperança de consumação do outro; interioridade

manifesta, livre da necessidade de invadir fisicamente o objeto de seu desejo;

o som vocalizado vai de interior a interior e liga, sem outra mediação, duas

existências (ZUMTHOR, 1997 apud ZUCULOTO, 2010, p. 392).

Música - Segundo Balsebre (2005), para a linguagem radiofônica a música é imagem.

Constitui-se como elemento evocador de múltiplas sensações. É a linguagem da emoção que

em combinação com as palavras geram imaginação sonora. Possui duas funções estéticas

básicas, que são: expressividade (que relaciona afetividade e emoção) e atmosfera sonora

descritiva (quando a música descreve um relato ou uma cena).

Com o ritmo e a melodia da música, denota-se movimento e cor, já a harmonia

produz a profundidade espacial (figura/fundo). Associamos uma música a

uma determinada imagem e a um movimento afetivo porque imagens

semelhantes já foram sugeridas por ritmos, melodias e harmonias semelhantes

anteriormente (BALSEBRE, 2005, p. 333).

Efeitos sonoros - Balsebre (2005) define como sendo os elementos responsáveis pelo

sentido conotativo da mensagem, ao serem agregados entre ou conjuntamente com a palavra ou

a música. Possuem quatro funções, que são: ambiental (descreve o ambiente baseando-se em

padrões sonoros universais); expressiva (a afetividade provocada pelo som dá sentido ao

contexto); narrativa (quando o efeito sonoro dá significação entre duas cenas da narração); e

ornamental (harmoniza o conjunto de sons, fortalecendo as relações de sentido entre o ouvinte

e a produção de imaginação sonora).

Silêncio - Balsebre (2005) esclarece que o silêncio se forma a partir de uma estrutura

sequencial que compreende pares de unidades de som/silêncio. Atua na delimitação de núcleos

Page 57: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

56

narrativos para a construção imaginativa e contribui para a reflexão e a tomada de atitude ativa

na interpretação da mensagem. Santos (2016, p. 43) assinala que “o silêncio, na sua função

narrativa, é um elemento que serve para marcar uma separação espaço-temporal, assim como

pode, na sua função expressiva, criar expectativa e tensão dramática”.

Fazendo uso desse conjunto de quatro sistemas expressivos, o audiodocumentarista terá

ao seu dispor uma multiplicidade de cenários para contar histórias, indo das generalizações

coletivas às representatividades íntimas. De Beauvoir (2015) delineia que o mesmo se apropria

da realidade para dar vida à imaginação em uma tela que não possui nenhum tipo de dimensão

espacial. A magia dos audiodocumentários reside na matéria subjetiva que dá sentido ao

homem, que a partir da realidade se deixa invadir pela criatividade e pelas emoções. A junção

entre o universo, da mensagem jornalística e o criativo da arte sonora, conteúdo e forma, dá-

lhe unicidade. Por um lado, tem-se a busca pela representação das experiências humanas reais,

por outro, o artifício da subjetividade sensorial que não se restringe a um registro puro.

Apesar disso, quando assumimos que estamos vivendo sob o domínio de uma cultura

midiática, o cenário gerado por este movimento é a hegemonia de uma sociedade da imagem,

isto é, que tem no apelo imagético a sua principal forma de dominação. Para Baitello Junior

(2008), a sociedade da imagem nos coloca imersos em uma cultura da visualidade hipertrofiada,

que está provocando uma crise da percepção visual, onde “quanto mais nos tornarmos visíveis,

mais invisíveis estaremos nos tornando. Quanto mais inflarmos a imagem, mais estaremos

contribuindo para que o outro não nos veja mais, para que ele se torne cego ou insensível”

(BAITELLO JUNIOR, 2008, p. 121, tradução nossa).

Podemos, então dizer que a crise da visualidade citada por Baitello Junior (2008) abre

espaço para a redescoberta do universo sonoro para a necessidade do que o autor chama de

“nova cultura do ouvir”, onde relações sociais mais profundas podem ser cultivadas a partir do

sentir porque o som é um código gerador de nexos e proposições sensoriais.

Paradoxalmente, a crítica de resultados advindos do excesso de uma sociedade da

imagem traz a concepção de que o som também enriquece e produz visualidades, assim, a

palavra imagem também é usada para designar algo que nem sempre é apenas visualizado, já

que temos a capacidade de atribuir ao mundo valores imagéticos de diversas maneiras. “O

conceito de imagem não se limita às imagens visuais que chegam a nós por meio de nossas

telas. Imagens também são sonoras, táteis, gustativas, olfativas e proprioceptivas” (BAITELLO

JUNIOR; SILVA, 2017, p. 205).

Pereira (2006) informa que a condição sensorial se remete às formas de percepção e a

construção do mundo pelos sentidos humanos (visão, audição, olfato, tato e paladar). São as

Page 58: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

57

aptidões cognitivas e sinestésicas que os sujeitos adquirem no contato com expressões culturais,

como exemplificado na citação a seguir, relacionada a uma experiência gustativa:

Quando levou à boca a primeira garfada de ratatouille – um refogado de

vegetais tradicional da França –, o crítico gastronômico Anton Ego até se

esqueceu de que estava ali, à mesa, para avaliar o restaurante que acabava de

lhe servir aquele prato. De repente, aquele sabor fez o mundo parar, e ele pôde

se sentir novamente o menino que, depois das brincadeiras, chegava em casa

para a refeição, ganhava um afago da mãe e comia o ratatouille feito por ela

com amor. De repente, ele não era mais um adulto ranzinza; era o garoto

protegido pelos carinhos culinários da mãe. Essa cena não está em um dos

vídeos do Museu da Pessoa, mas poderia. É um trecho importante da animação

Ratatouille, lançada pela Pixar em 2007, e trata, ainda que de um jeito breve,

de memória e de como gestos e “coisas” do cotidiano da infância marcam

nossa trajetória de uma maneira quase imperceptível. Apenas quando

deparamos com determinados cheiros e gostos é que nos damos conta da

impressionante capacidade que eles têm de nos transportar para o passado, de

nos deixar pequenos e ingênuos de novo (AGUIAR, 2016, não paginado).

Neste momento do nosso estudo, o que interessa é o conceito de sensorialidade como

característica intrínseca à comunicação radiofônica. Barbosa Filho (2003; 2005) aponta que é

por meio da sensorialidade que os sistemas expressivos desta linguagem despertam a

imaginação para a percepção do mundo. A magia das produções sonoras está no convite ao

diálogo sensorial construído entre emissor e receptor. Para Ortriwano (1985; 1998), a

sensorialidade é a capacidade de despertar a imaginação por meio da emocionalidade

proporcionada pelo tratamento dos sistemas expressivos da linguagem radiofônica. A autora

apreende que a matéria sonora gera percepções individuais que fazem as mensagens variarem

conforme as expectativas de cada ouvinte.

Seguindo esse raciocínio, o exemplo encontrado em Abreu (2016, p. 224) nos ajuda a

entender como se dão as nuances individuais evocadas pela sensorialidade, que para o autor é

formada pela construção de paisagens sonoras:

Mesmo ouvintes que têm os sons na memória, mas possuem histórias de vida

distintas, tendem a absorver estes sons (paisagens sonoras) de forma

individual. Alguém que viva no sertão nordestino em Pernambuco absorve o

som do Oceano Atlântico de forma diferente de alguém que more em Recife.

A água oferece várias alternativas de paisagem sonora. O barulho das

cachoeiras é característico e remete à ideia de abundância, fartura. Ao

descrevê-lo, podemos passar ao ouvinte conceitos estéticos como beleza e até

mencionar o arco-íris.

Autores como Haye (2004) citado por Vianna (2013, p. 46) explicam que o som também

pode evocar múltiplas sensações, graças à proposição de imagens e aos cenários mentais que

Page 59: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

58

transitam em tempos e espaços flexíveis, dialogando com os diversos sentidos humanos.

Podemos entender como um estado sinestésico que seduz “a visão, o paladar e o olfato dos

ouvintes extremando os cuidados para transmitir a aspereza do tronco da árvore, a suave

coloração do poente ou a excitante fragrância do guisado sendo cozido na velha panela de

pressão queimada da avó”, tal como o exemplo supracitado da animação Ratatouille.

Para Del Bianco (2012), sensorialidade está diretamente ligada à intimidade, à produção

de uma comunicação gerada por intermédio das relações de proximidade e de interação

informal. Por meio dela, o ser humano ultrapassa os limites do seu próprio tempo. A imaginação

e o pensamento criativo nos permitem viajar “daqui a mil anos, podemos imaginar mil anos

atrás, podemos imaginar hoje, podemos imaginar sem nenhum tempo e, portanto, nós fugimos

da cronologia e fugimos do que existe de pior da cronologia do tempo que é o inexorável”

(BAITELLO JUNIOR, 2007, p. 79).

Essa condição pode ser amplamente explorada na produção de um audiodocumentário

pela liberdade autoral que se tem desde o procedimento mais básico. O diferencial do formato

está no “potencial para o resultado estético das decisões deliberadas do autor, e está presente

como um elemento a ser considerado durante todo o processo de produção. Porque a estética

sempre aparece, em tudo. Nesse caso, aparece deliberadamente” (GODINEZ GALAY, 2016,

não paginado, tradução nossa).

A produção de um audiodocumentário, quando estrategicamente estruturada em uma

sequência lógica de atividades orientadas por um processo educativo pode favorecer a

expressão comunicativa e a sensorialidade, possibilitando que educador e educando aprendam

juntos. Estamos falando em condições para o conhecimento integrado (MORAN, 1994), onde

a educação é disposta como um substrato para o desenvolvimento da consciência e da

comunicação, envolvendo competências para o aprendizado e a sociabilidade, do nível

individual para o cooperativo e vice-versa.

O nosso interesse no audiodocumentário, portanto, baseia-se em como podemos utilizar

as suas finalidades e características de produção para propor situações pedagógicas, a

desenvolver e valorizar a sensorialidade “como um campo fértil para a ‘desconstrução do olhar’

para além da percepção sensorial da visão. Desenvolve-se assim como um espaço de

experimentação e de sensibilização aos sons, às fontes sonoras e às relações dos sons como

signos com seus significantes” (HOFF, 2014, p. 108).

Para tanto, os educadores devem combinar equilibradamente atividades que englobem:

relacionamento ativo do educando com o contexto cultural e midiático que está inserido; a

propositura de desafios a partir da elaboração de um audiodocumentário mediado pelas TDICs

Page 60: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

59

e competências gerais para produção de informação contextualizada. Tais condições são viáveis

a partir de um projeto interventivo fundamentado em práticas da Educação pela Comunicação.

De acordo com o manual “Entretantos - Guia de Educação pela Comunicação na escola”

da Cipó - Comunicação Interativa (2011), a Educação pela Comunicação emerge a partir de um

modelo pedagógico que integra comunicação, educação e participação. Trata-se de uma

concepção teórico-prática que preza pelo acesso democrático à informação e ao caráter

emancipatório da educação, tendo como norte a pedagogia crítico-libertadora freireana e a

importância da interação social no processo de aprendizagem e desenvolvimento humano visto

na teoria sócio-histórica vygotskyana.

Intervenções dessa natureza partem de iniciativas para o fortalecimento comunitário de

atores sociais que estão à margem do debate que ocorre na mídia comercial hegemônica. Os

objetivos desse modelo valorizam o processo de produção educativa, que deve ser voltado para

a conscientização social, política e cultural, além de capacitar os participantes para criação de

produtos comunicacionais de interesse comunitário (CIPÓ - COMUNICAÇÃO

INTERATIVA, 2011).

Levando em conta esse aspecto, uma prática estruturada metodologicamente pelas

conjeturas da Educação pela Comunicação sugere um planejamento a partir de uma proposta

de ação ou um tema gerador, intimamente conectado ao ambiente social e cultural dos

educandos. Essa concepção está atrelada à necessidade do desenvolvimento de um produto,

com enfoque no processo de construção, o qual no nosso caso é o audiodocumentário, onde as

relações de produção focam no desenvolvimento dos agentes responsáveis pela produção, os

audiodocumentaristas, a partir do seu envolvimento com a comunidade e suas características

sociais, históricas e culturais específicas.

Afinal, o que é mais estimulante: escrever uma redação que será corrigida e

engavetada, ou escrever um texto que vai integrar um livro, uma exposição,

um jornal... que será compartilhado por toda a escola? No mundo atual, em

que as tecnologias permitem que todos tenham seus “quinze minutos de fama”

e podem tornar-se autores (de blogs, fotografias, imagens...), a segunda opção

soa muito mais animadora (CIPÓ - COMUNICAÇÃO INTERATIVA, 2011,

p. 28).

A produção de um audiodocumentário, na perspectiva de uma estratégia de ensino que

favoreça a expressão comunicativa e a sensorialidade, necessita de algumas condições

processuais básicas. Cientes disso e amparados pelo manual da Cipó - Comunicação Interativa

(2011) e Andrelo e Almeida (2015), criamos um quadro com os direcionamentos e

Page 61: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

60

possibilidades para trabalhar com a produção educativa do formato radiofônico, exposto a

seguir.

Quadro 02 - Direcionamentos para trabalhar com a produção educativa de um

audiodocumentário

Inclusão e transdisciplinaridade

O educador pode trabalhar conteúdos de diversas disciplinas entrecruzando linguagens midiáticas.

Para isso, é preciso destacar o valor da linguagem radiofônica e desenvolver competências que

permita aos educandos elaborarem um audiodocumentário, a começar pela escolha de uma temática

ou problemática real que deve sempre manter o respeito à diversidade para a promoção de

conhecimentos e opiniões livres de discriminações e preconceitos. Nesse contexto, processo e produto

são importantes. O primeiro atua em todas as etapas e dimensões formativas, ou seja, é a ação de

ensino e aprendizagem se desenvolvendo nas relações socioculturais. O segundo serve de parâmetro

para avaliação técnica e estética, além de atuar como instrumento para expressão e disseminação de

conteúdo socioeducativo de interesse dos grupos minoritários.

Exercício de cidadania

Os debates no ambiente educativo devem incentivar os educandos a se informarem sobre o que

acontece no seu cotidiano e em um contexto global. Os temas trabalhados devem estar ligados às

problemáticas do meio no qual estão inseridos: escola, bairro, distrito, cidade e até mesmo estado ou

país. A produção deve prezar pelo desenvolvimento integral. Isso significa que precisa ser usada para

apreensão da realidade e viabilização do encontro dos diferentes saberes para intervenção no

cotidiano.

Despertar da responsabilidade

O educador tem de atribuir direitos e deveres para que os educandos tenham consciência da sua

participação. A produção em contato com o meio e com as pessoas que os educandos vivem solicita

maior seriedade e planejamento estratégico. Além disso, pela condição unicamente sonora em que se

dá a linguagem radiofônica, é necessário responsabilidade social e discernimento ético com o material

coletado

Afetividade e cooperação

O trabalho precisa ser organizado e direcionado às necessidades dos procedimentos de produção do

audiodocumentário, da mesma forma o ambiente educativo tem que ser um local para relações

baseadas na afetividade e no respeito mútuo. Como coautores de um processo educativo, educador e

educando fazem parte de uma mesma equipe, assim as decisões precisam ser tomadas de maneira

democrática, onde todos opinam, trocam saberes, experiências e contribuem para o alcance dos

objetivos.

Expressão comunicativa

As atividades para produção do audiodocumentário devem favorecer a comunicação interpessoal e

intrapessoal, sendo a expressividade o caminho para melhorar as relações em grupo e progresso

profissional. Sendo a palavra um dos principais elementos da linguagem radiofônica, necessita ser

bem articulada em sua dimensão textual e falada. Dessa maneira, exercícios de treinamento e

sensibilização são importantes para conhecimento e experimentação dos aspectos teóricos e

metodológicos que fundamentam o audiodocumentário e as especificidades da sua linguagem de

comunicação. Em relação aos produtos que são desenvolvidos durante a experiência, bem como o

audiodocumentário em si, quando finalizados, passam a ser um canal de expressão e de aproximação

entre os educandos e o meio no qual estão inseridos.

Page 62: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

61

Incentivo à pesquisa e à participação ativa

O educando deve ser disposto como sujeito ativo em todas as etapas do processo. Pressupõe-se,

portanto, que a construção do conhecimento é uma interação mediada por relações de ensino e

aprendizagem que se dão a partir do diálogo. Para coletar o material do audiodocumentário, os

educandos precisam ir ao encontro dos diversos recursos informacionais, pesquisando, organizando

e definindo a relevância dos conteúdos e as melhores formas de ser comunicado. Da mesma forma,

precisarão manter relações dialógicas com outros sujeitos, sejam pessoas do seu cotidiano habitual

ou outras pessoas relevantes para tratar de determinado assunto, em síntese as suas possíveis fontes

de informação.

Visão crítica à realidade e à mídia

Alfabetização midiática é necessária, isto é, o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades para

entender a dimensão ideológica dos meios de comunicação. Para isso, deve-se respeitar a pluralidade

de ideias e coletivamente debater o papel da comunicação na cultura midiática, abordando os assuntos

estudados, em especial, a temática central do audiodocumentário. Faz-se imperativo o

entrecruzamento de saberes populares com os científicos, a fim de favorecer a conscientização e,

consequentemente, a expansão da consciência crítica sobre o papel das TDICs e seus desdobramentos

midiáticos no cotidiano.

Imaginação e espaço à criatividade

O educador precisa propor atividades para o favorecimento da sensorialidade. Os sistemas

expressivos da linguagem radiofônica abrem espaço para a imaginação e o pensamento criativo,

oportunizando a criação de imagens próprias, carregadas de sentido e de sensibilidades. Além disso,

a problematização das narrativas midiáticas discutidas na produção do audiodocumentário necessita

relacionar intuições e emoções com habilidades práticas para intervenção na realidade.

Fonte: Autor da pesquisa (2019) baseado em Cipó - Comunicação Interativa (2011) e Andrelo e Almeida (2015)

A proposta de produção de um audiodocumentário na perspectiva da Educação pela

Comunicação se apropria das particularidades da linguagem radiofônica, do potencial

educativo, dialógico e de empoderamento das TDICs para dispor de um meio para a expressão

comunicativa e favorecimento da sensorialidade. O valor educativo está na capacidade de

prospectar caminhos para uma interação com o mundo de forma crítica, compassiva e dialógica.

Audiodocumentários são ótimos instrumentos para instaurar espaços de discussão sob

uma infinidade de perspectivas, sendo que “os objetos são variados: o homem, a natureza, a

sociedade, a cultura, a guerra, as festas e tradições, entre outros. Proporcionam diversos prismas

para essas discussões: a biologia, a física, a história, a sociologia, a filosofia, a arte” (SÁ, 2014,

p. 125-126).

Na sequência, relataremos parte da nossa investigação, a qual consiste na prática

interventiva com os sujeitos da pesquisa, ou seja, a experiência, execução e aplicabilidade das

hipóteses em contato direto com o universo da investigação. Para tanto, partimos da descrição

do planejamento e da mobilização, que é o percurso de interação com os educandos, para, em

seguida, adentrarmos no relato da produção educativa com audiodocumentário.

Page 63: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

62

4 PRÁTICA INTERVENTIVA COM OS EDUCANDOS

O primeiro tópico do capítulo sintetiza o planejamento e a mobilização, que envolvem

o aprofundamento com as características sociais, históricas e culturais do local de aplicação, as

articulações institucionais para definição de espaço geográfico e temporal. Trata-se, portanto,

das ações iniciais no percurso de interação com os sujeitos do estudo.

No segundo tópico descrevemos a prática interventiva com os sujeitos, realizada a partir

da produção educativa de um audiodocumentário. Com enfoque no processo de elaboração da

peça comunicacional, a aplicação se materializou por meio de uma oficina realizada em oito

encontros presenciais e guiada pela proposta metodológica da Pesquisa de Aplicação e pela

concepção teórico-prática da Educação pela Comunicação.

4.1 Planejamento e mobilização - percurso de interação com os sujeitos do estudo

A prática interventiva do nosso estudo se materializou por meio de uma oficina

distribuída em oito encontros presenciais, juntamente a outras atividades extensivas

correlacionadas ao planejamento. Os encontros ocorreram uma vez por semana, sempre no

horário das 15h às 17h, antes destinado à disciplina de Ensino Religioso e Artes, componente

curricular do oitavo ano do Ensino Fundamental da EEIEFMM e foram realizados na ACRMF

nos dias 11 e 26 de abril de 2019, 2, 9, 16, 23 e 30 de maio de 2019 e 6 de junho de 2019.

Como supracitado, a articulação com a escola foi sugestão dos representantes legais da

ACRMF com concordância em diálogo com a diretora da EEIEFMM e com a educadora

responsável pela disciplina Ensino Religioso e Artes, assim como os pais dos discentes, a quem

previamente apresentamos a proposta de ação a ser trabalhada.

A definição do foco de estudo foi resultante de um mapeamento informal, prévio ao

contato com a escola e que considerou a escolha de um tema que tivesse representatividade

social, histórica e cultural para a localidade, o distrito de São José de Solonópole. Para tanto,

contou-se, principalmente, com a experiência prévia de investigação, assim como as

informações que obtivemos foram por intermédio de conversas com moradores da região e

pesquisas na internet.

O conhecimento do universo de intervenção é de extrema importância, pois assim como

sugere o “Guia de Educomunicação” da Viração (2010, p. 51):

Page 64: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

63

Nossa ação tem tanto maior impacto quanto mais nós sabemos sobre “onde

estamos pisando”, pois às vezes temos grandes ideias, mas não fazemos uma

pesquisa prévia para avaliar se e como ela pode ganhar materialidade.

Podemos conhecer os aspectos físicos deste terreno: as ruas, o mapa, os

espaços/instituições. Também é possível investigar as pessoas que têm relação

com este terreno: quem são elas, qual é o histórico dessas pessoas, como se

dão as relações humanas neste espaço, como estas pessoas se comunicam?

Como está distribuído o poder neste lugar? Como está esse lugar? Quais são

os problemas? Qual é a história para entendermos como se chega a

determinadas situações? Ou, onde se verifica o problema com o qual estou

trabalhando? [...].

Constatamos que a tradição carnavalesca é a bandeira cultural da comunidade do distrito

de São José de Solonópole, famosa por realizar um dos mais tradicionais eventos deste caráter

no interior cearense, conhecido como o carnaval da família. Uma folia que atravessa gerações

e fortalece as atividades econômicas e socioculturais da região. Sendo um tema de interesse

comunitário e concomitante com o conteúdo disciplinar que os educandos já vinham estudando,

assim, a temática que propomos, aprovada pelos representantes institucionais da ACRMF e da

EEIEFMM, foi o carnaval em São José de Solonópole.

A efetivação das ações se iniciou uma semana antes do primeiro encontro da oficina,

quando tivemos o contato formal com os sujeitos da pesquisa. Salientamos que, antes, a

pesquisa e seus objetivos já tinham sido apresentados aos adolescentes pela educadora da

EEIEFMM, então só reiteramos os objetivos e a ações que faríamos.

O nosso contato inicial com os adolescentes foi numa quinta-feira, dia 4 de abril de

2019, na EEIEFMM, no horário reservado à aula da disciplina Ensino Religioso e Artes. Nesta

reunião prévia explicamos detalhadamente o projeto interventivo e buscamos mobilizar os

adolescentes para participação voluntária na pesquisa. Esse momento pode ser chamado de

mobilização ou sensibilização, que funciona como uma preparação dos participantes.

Pode ser que os estudantes não estejam acostumados a trabalhar com projetos

e estranhem a nova metodologia, reagindo negativamente às novidades ou

mesmo “provocando” o professor. Uma boa atividade de sensibilização vai

neutralizar essas reações antes mesmo que elas aconteçam, criando um

sentimento de que o projeto é de todos (CIPÓ - COMUNICAÇÃO

INTERATIVA, 2011, p. 39).

Quanto a isso, a produção educativa de um audiodocumentário sobre o carnaval de São

José de Solonópole, os educandos aceitaram e concordaram em participar, inclusive se

mostraram empolgados e curiosos com o tema, com as características da linguagem radiofônica

Page 65: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

64

e principalmente com a ideia de uma ação educativa mediada pelas TDICs, em especial o

smartphone, que percebemos ser um aparelho bastante popular entre eles.

Enfatizamos que o assunto carnaval foi o tema central, mas não o único da prática de

ensino. Buscou-se desenvolver ações de natureza transdisciplinar e fundamentada nos

princípios da educação, em particular a perspectiva pela comunicação. Dessa forma, o foco foi

dialogar com base na diversidade e nas singularidades, a partir e para o conhecimento e interesse

dos adolescentes e de sua comunidade, em concordância com nossos objetivos de pesquisa.

Quando a integração entre a escola e a comunidade acontece, as peças de

comunicação produzidas acabam por revelar um olhar mais profundo e

sensível sobre esses dois ambientes – a escola e a comunidade. Nesse

processo, estudantes e professores descobrem a comunidade, produzindo

matérias sobre o bairro, suas riquezas, história, serviços e personagens, seus

problemas e soluções. O que se espera com isso é o aumento da interação entre

a escola e seu entorno, valorizando regiões que, muitas vezes, são

marginalizadas ou estigmatizadas pelos próprios moradores (CIPÓ -

COMUNICAÇÃO INTERATIVA, 2011, p. 39).

Outro aspecto que devemos deixar explícito é que a educadora que cedeu seu horário de

aula para a pesquisa não interferiu no seu desdobramento. Ela acompanhou os encontros em

alguns momentos, observando algumas atividades, mas sem demonstrar e/ou expor julgamentos

ou influências (salvo as “ocultas”, presentes de forma subjetiva) sobre a atuação dos sujeitos de

pesquisa e do pesquisador.

Após o contato inicial e tendo conseguido o engajamento voluntário dos participantes,

pudemos dar início à prática da pesquisa de aplicação. Todos aqueles que contribuíram com o

estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou o Termo de

Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). O primeiro foi destinado as pessoas entrevistadas

na produção do audiodocumentário, ou seja, sujeitos adultos que participaram indiretamente da

pesquisa como fontes de informação sobre o tema carnaval. O segundo foi dedicado aos

participantes diretos da investigação, os adolescentes menores de dezoito anos. Ambos os

documentos garantem ao participante o respeito aos seus direitos, conforme orientações do

CEP. Os respectivos modelos estão disponíveis nos Apêndices A e B, enquanto os originais

assinados estão sob a posse do pesquisador.

Os oito encontros presenciais proporcionaram uma série de atividades que foram

distribuídas em etapas, cujo planejamento pedagógico foi construído de forma dinâmica, ao

longo do processo de produção do audiodocumentário. No total, a oficina foi constituída por

vinte e cinco atividades dialógicas organizadas conforme Quadro 03, abaixo.

Page 66: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

65

Quadro 03 - Síntese de organização metodológica da oficina

Encontros

Atividades

Primeiro

11/04/2019

Quinta-feira

Introdução ao universo das produções sonoras (baseadas nas características

da linguagem radiofônica)

Dinâmica de apresentação dos participantes

Explicando os objetivos do projeto

Contato com o gravador de voz no smartphone

Segundo

26/04/2019

Sexta-feira

Acordo de diálogo e convivência

Importância do som para a construção de uma narrativa midiática

A dimensão ideológica das mídias e o empoderamento comunicativo

“Mão na Massa” (exercício para produção de um audiodocumentário)

Terceiro

02/05/2019

Quinta-feira

Resultado do exercício “Mão na Massa”

10ª

Características e importância da linguagem radiofônica

11ª

Definição das equipes de trabalho para produção do audiodocumentário

Quarto

09/05/2019

Quinta-feira

12ª

Procedimentos técnicos para produção de um audiodocumentário: narração

13ª

Dinâmica da “História Coletiva”

14ª

Procedimentos técnicos para produção de um audiodocumentário: entrevista

15ª

Exercício sonoro com audioconto

Quinto

16/05/2019

Quinta-feira

16ª

Resultado da dinâmica da “História Coletiva”

17ª

Procedimentos técnicos para produção de um audiodocumentário: pesquisa

sonora/audiovisual e pesquisa documental

18ª

Procedimentos técnicos para produção de um audiodocumentário:

produção/apoio técnico

Sexto

23/05/2019

Quinta-feira

19ª

Procedimentos técnicos para produção de um audiodocumentário:

edição/montagem

20ª

Princípios éticos na produção de um audiodocumentário

21ª

Apresentação sobre pesquisa documental

22ª

Dinâmica do “Desenho Coletivo com Ambientação Sonora”

Sétimo

30/05/2019

Quinta-feira

23ª

Detalhes do procedimento de narração

24ª

Detalhes do procedimento de entrevista

Oitavo

06/06/2019

Quinta-feira

25ª

Lançamento do audiodocumentário

Fonte: Autor da pesquisa (2019).

Page 67: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

66

O uso/aplicação desse modelo de organização decorre da busca pelo alcance de um dos

nossos objetivos específicos, que envolveu a criação de uma sequência de produção educativa

que utiliza o processo de elaboração de um audiodocumentário para o favorecimento da

expressão comunicativa e da sensorialidade. A seguir, descrevemos e refletimos a constituição

desse processo. Tracejamos o relato das práticas educativas executadas em cada um dos

encontros da oficina.

4.2 Percurso da produção educativa com audiodocumentário

A parte denominada de produção se dedica ao detalhamento das atividades da oficina.

Salientamos que o termo produção ganha uma significação metodológica, abraçando

conceitualmente duas vertentes simbióticas que nortearam a pesquisa interventiva. A primeira

vertente concebe a noção de produção educativa como uma configuração mais ampla, que tem

como função organizar a ação de intervenção e descrever o percurso que viabilizou a prática de

ensino. A segunda vertente é de ordem técnico/instrumental, ou seja, remete-se diretamente ao

processo de elaboração do produto comunicacional. Nesse aspecto, o termo produção é

naturalmente utilizado para se referir ao conjunto de procedimentos necessários para construção

do audiodocumentário.

Feitas essas considerações, passamos a detalhar o percurso da produção educativa que

marcou a oficina, com duração de oito encontros presenciais.

1º) O primeiro encontro da oficina ocorreu na ACRMF, em uma quinta-feira, das 15h

às 17h do dia 11 de abril. Foram utilizados como materiais e recursos: kit com materiais padrão

(um notebook com softwares de exibição e edição de texto, imagem, áudio, vídeo e emulador

de Android; um projetor de tela multimídia; conexão de internet via rede Wi-Fi; caixas de

som/alto-falante externos médios; um smartphone de uso pessoal do pesquisador; e os

aparelhos pessoais dos educandos); tabuletas de madeira com números gravados; e sacola

plástica de tamanho pequeno. Daí, justificamos mais uma vez, a parceria com a Associação, na

qual pudemos utilizar uma estrutura de recursos como esses.

Compareceram todos os trinta e dois educandos que participaram das seguintes

atividades: 1ª. Introdução ao universo das produções sonoras (baseadas nas características da

Page 68: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

67

linguagem radiofônica); 2ª. Dinâmica de apresentação dos participantes; 3ª. Explicando os

objetivos do projeto; 4ª. Contato com o gravador de voz no smartphone20.

Na primeira atividade, a de introdução ao universo das produções sonoras, foi feita a

escuta de um trecho com duração de 00:04:04 do audiolivro “Drácula”21. Para essa ação

fechamos portas e janelas e apagamos todas as lâmpadas, tornando o local o mais escuro

possível, com o intuito de melhorar a experiência auditiva (repetimos a tática em todas as

ocasiões dedicadas à exibição de produções sonoras).

Os educandos reagiram com curiosidade à atividade, sendo que a maioria desconhecia

esse tipo de formato comunicacional. O ambiente de suspense proporcionado pela dramatização

em áudio conseguiu capturar a atenção dos adolescentes. Durante a exibição, alguns deles

demonstraram estar imersos no universo da obra e dos seus personagens, reagindo

emocionalmente à história por meio de expressões corporais, como pôr as mãos sobre a nuca e

face ou esfregar os pés enquanto esticavam as pernas.

Com essa atividade buscamos aproximar os educandos ao universo das produções

sonoras baseadas nas características da linguagem radiofônica para explicar que dentre os cinco

sentidos humanos, exploram a audição e a sua relação com o mundo. Discorremos sobre

sensorialidade (conceito representado na oficina por intermédio de duas expressões:

imaginação e pensamento criativo) e como se dá a construção de imagens sonoras22.

A segunda atividade do primeiro encontro foi uma dinâmica de apresentação na qual

nos apresentamos e anunciamos que a oficina estava sendo registrada em imagem e áudio. Para

isso, foram utilizados respectivamente: um smartphone e um gravador de voz digital portátil.

Também informamos que o material coletado está restrito ao uso por parte do pesquisador para

análise e uso científico (estudos), como determinado em TCLE e TALE.

A seguir, no intuito de obtermos conhecimentos acerca dos educandos, distribuímos, de

forma aleatória, tabuletas de madeira com números gravados de 01 a 32. Depois orientamos

que levantassem individualmente e dissessem o seu nome e idade em voz alta, tendo como

ordem de apresentação os numerais descritos nas tabuletas, que foram sorteados seguindo

numeração crescente. Cada adolescente recebeu um bloco de anotações personalizado e uma

caneta esferográfica de cor azul ou preta (material adquirido com recurso próprio do

pesquisador).

20 A numeração ordinal das atividades obedece à mesma sequência disposta no Quadro 03. 21 Trecho adaptado disponível em: http://bit.ly/2FmPa2x 22 Para os educandos interessados em se aprofundar na escuta de audiolivros, indicamos como material

complementar o site www.visionvox.com.br, que até a escrita desse texto, possuía 2.970 exemplares gratuitos para

download. A maioria das obras são narradas com voz humana.

Page 69: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

68

Além das respostas referentes aos dados pessoais solicitados, os educandos tinham que

ler uma frase colocada em uma apresentação em slide e de autoria atribuída a algum personagem

de desenhos animados, filmes ou séries de televisão (elementos midiáticos comuns aos

adolescentes). Após ler a frase, perguntávamos se sabia a qual personagem e obra ela pertencia.

No caso de desconhecimento, a pergunta era direcionada a todos os participantes.

Nessa etapa buscamos conhecer os educandos e observar como se comportavam ao

serem o centro das atenções da respectiva atividade de pesquisa, de modo a identificar os

diferentes níveis de timidez e de proatividade. O uso de elementos midiáticos, normalmente

consumidos pela faixa etária dos participantes, ajudou a ganhar a confiança, mantendo um

diálogo descontraído, ao mesmo tempo em que obtínhamos detalhes sobre o seu cotidiano e

representações culturais. Podemos dizer, assim como Freire (2002, p. 17), que desafiamos os

educandos “com quem se comunica e a quem comunica, a produzir sua compreensão do que

vem sendo comunicado. Não há intelegibilidade que não seja comunicação e intercomunicação

e que não se funde na dialogicidade”. Para conhecer um pouco do ambiente educativo que

marcou estas atividades, visualizar Imagem 01, a seguir.

Imagem 01 - Espaço de realização da oficina e educandos fazendo anotações

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

A terceira atividade do primeiro encontro foi a explicação detalhada dos objetivos do

projeto, tanto aqueles a serem alcançados pelo trabalho desenvolvido pelos educandos, como

as metas acadêmicas de análise do pesquisador. Delineamos os principais conceitos que

nortearam a oficina e o universo de significados que os comportam: audiodocumentário,

expressão comunicativa, sensorialidade e diálogo. Como esperado, houve dificuldade para

compreensão dos conceitos, situação explícita de forma direta pelos educandos, que acusaram

não estarem conseguindo acompanhar o raciocínio por não se tratar de discussões comuns ao

seu universo cultural.

Page 70: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

69

Por se tratar de termos complexos e específicos ao nosso objeto de pesquisa, já

prevíamos possíveis situações deste tipo. Sendo assim, para facilitar o aprendizado,

preparamos, anteriormente, uma abordagem de ensino com produtos comunicacionais sonoros

e audiovisuais que orientaram a demanda conceitual mediante atividades complementares. O

que incluiu a escuta de um trecho adaptado com duração de 00:04:53 do audiodocumentário

“Dublagem - A Arte de Criar Vozes”23, por meio do qual possibilitou discutir a forma como

eles são construídos, elucidando que as possibilidades para os temas estão em todas as partes:

nas mídias, na escola, no cotidiano, nas representações culturais de uma comunidade, etc. A

partir disso, introduzimos a temática central do produto a ser construído durante a oficina, o

audiodocumentário sobre o carnaval em São José de Solonópole. Já o tema da dublagem

permitiu estabelecer uma relação com as frases de desenhos animados, filmes e séries de

televisão, usadas na dinâmica da segunda atividade.

Também assistimos à campanha publicitária “Gift”24, com duração de 00:04:37. Essa

peça audiovisual traz uma impactante mensagem educativa sobre abandono de animais. No

entanto, requer atenção total do espectador para ser compreendida de maneira efetiva, visto,

como destacamos para os educandos, que a produção não possui falas, tendo sua riqueza nas

ações dos personagens, acompanhadas por uma trilha sonora, por intermédio dos quais se espera

expressar sentimentos importantes para entendimento do conteúdo. A atividade propiciou um

cenário para discussão sobre a importância do material sonoro na construção das narrativas

sociais, em contraponto à concepção de predominância de uma sociedade da imagem.

Em relação à campanha publicitária, alguns educandos se sobressaíram aos demais, pois

conseguiram explicar de maneira exata o significado da mensagem. Por outro lado, a maioria

proferiu comentários com base apenas nas imagens que estavam sendo retratadas, ignorando o

papel da trilha sonora, ainda que tenhamos pedido para darem especial atenção a este aspecto.

Tal comportamento reflete o cenário midiático em que a comunicação nos coloca como uma

civilização de imagens virtualizadas que parecem ameaçar nossos destinos, pois, quanto mais

as vemos mais estamos propensos à ilusão (JOLY, 2007; BAITELLO JUNIOR, 2008).

Finalizamos essa terceira atividade com um descontraído exercício para estimular a

expressão vocal e corporal. A ação consistiu na leitura ritmada das vogais, sendo estas faladas

de maneira normal e de trás para frente (A E I O U O I E A). Os educandos se dispuseram em

pé e o exercício foi repetido com as mãos para cima e com entonações e velocidade de falas

variadas.

23 Audiodocumentário completo disponível em: https://youtu.be/d_revzIxm_w 24 Disponível em: https://youtu.be/3PKn0hL9aBs

Page 71: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

70

A quarta atividade do primeiro encontro envolveu o primeiro contato dos educandos

com o gravador de voz no smartphone. Adentramos, ainda de maneira resumida e atendendo

ao universo/linguagem dos educandos, no campo dos procedimentos técnicos para a produção

de um audiodocumentário. Dos trinta e dois adolescentes, apenas seis declararam não possuir

smartphone próprio. Resolvemos essa questão ao aceitarem, sempre que necessário, unir-se aos

outros educandos que tinham tal aparelho para trabalharem em cooperação. Durante as

explicações, repassamos informações básicas para que entendessem que não é o uso da

tecnologia que promove interação e diálogo, mas a forma como as relações entre sujeitos são

construídas.

Desta forma, iniciamos as ações didáticas destinadas a familiarizar os educandos com a

técnica de gravação de voz e apresentar o aplicativo “Gravador de Voz”25, escolhido para o

trabalho de captação sonora destinado à produção do audiodocumentário. A importância da

escolha deste recurso pode ser entendida ao lembramos que as problemáticas socioculturais

contemporâneas perpassam pelo uso diário das TDICs, em especial os smartphones, que estão

inevitavelmente presentes no ambiente educativo porque são parte do cotidiano dos jovens.

Quando o educador traz os aparelhos para o plano principal do ensino e da aprendizagem,

guiado por uma vivência pedagógica e propõe o uso conjunto com os educandos, as

possibilidades de engajamento são poderosas (KENSKI, 2009).

Para exemplificar as funções e manuseio do aplicativo “Gravador de Voz” contamos

com o auxílio do emulador de Android “MEmu”26 instalado em um notebook e projetado em

tela maior. Esse recurso permitiu explicar as funções do aplicativo de forma coletiva.

Destacamos que caso o “Gravador de Voz” não funcionasse corretamente no smartphone do

educando, este teria liberdade para procurar e testar outros aplicativos que o agradasse.

Para avaliação por parte do educando do primeiro encontro da oficina, no final, antes de

deixarem o ambiente da Associação, solicitamos que todos colocassem em uma sacola plástica

um papel anônimo explicitando qual o sentimento que resumiu a tarde de estudos. A ideia era

que escrevessem uma palavra, frase, texto ou mesmo desenhassem algo, que, objetivamente,

demonstrasse suas impressões sobre as atividades teórico-práticas abordadas27.

Os principais sentimentos verbais relatados podem ser observados na Figura 02, abaixo,

onde cada palavra tem seu tamanho relacionado a relevância na fala do educando, isto é, quanto

maior o espaço tomado na figura, mais vezes ela foi citada.

25 Disponível em: https://play.google.com/store/apps/details?id=com.motion.voice.recorder 26 Disponível em: https://www.memuplay.com/pt/ 27 Opiniões disponíveis no Anexo A.

Page 72: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

71

Figura 02 - Principais sentimentos relatados pelos educandos

Fonte: Autor da pesquisa (2019).

Como atividade complementar extensiva, isto é, para que realizassem em casa,

combinamos que cada educando gravaria dois áudios de cenários do seu cotidiano. Cada som

gravado deveria ter um minuto de duração e ao final o responsável falaria seu nome. Os áudios

não foram utilizados como elemento do audiodocumentário, mas sim para atender ao momento

de ensino que focalizou o uso de recursos para gravação de voz. Foram enviados para um grupo

que criamos no aplicativo de multiplataforma WhatsApp, onde puderam ser acessados de forma

coletiva. O grupo no WhatsApp atuou como espaço virtual para envio dos materiais das

atividades; repassar detalhes sobre os encontros e etapas da oficina; elucidação de dúvidas e

interação comunicativa em geral.

2º) O segundo encontro da oficina ocorreu na ACRMF, mas diferente dos demais

encontros, realizados nas quintas-feiras, esse ocorreu na sexta-feira, das 15h às 17h do dia 26

de abril de 2019. A mudança partiu de uma demanda pessoal solicitada por um educador da

EEIEFMM, atendida após consulta da disponibilidade dos educandos e autorização da diretora

da instituição. O intervalo de duas semanas entre este encontro e o primeiro foi porque nesse

ínterim houve o feriado nacional da Semana Santa (14 a 20 de abril de 2019).

Para este momento da oficina, foram utilizados como materiais e recursos: kit com

materiais padrão; folhas de papel 75g - sulfite ofício e copo plástico. Compareceram todos os

trinta e dois educandos que participaram das seguintes atividades: 5ª. Acordo de diálogo e

convivência; 6ª. Importância do som para a construção de uma narrativa midiática; 7ª. A

Page 73: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

72

dimensão ideológica das mídias e o empoderamento comunicativo; 8ª. “Mão na Massa”

(exercício para produção de um audiodocumentário).

Neste segundo encontro tivemos a quinta atividade, que se destinou a firmação de um

acordo de diálogo e convivência baseado em seis princípios: I. Sempre falar com sinceridade o

que está sentindo em relação à oficina; II. Respeitar o colega que está querendo participar das

atividades; III. Não fazer nada que não queira; IV. Fazer silêncio quando necessário; V. É

permitido usar o smartphone, desde que não atrapalhe a aula; VI. Não danificar o espaço da

Associação e nem jogar lixo no chão.

Os objetivos foram arquitetados para definir princípios a serem seguidos de modo que

houvesse uma boa convivência durante os encontros. Nossa meta era gerar sentimentos que

respaldassem a responsabilidade. Para tanto, incumbimos os educandos de direitos e deveres

para que pudessem exercitar e, na medida do possível, terem consciência da sua importância na

obtenção do melhor rendimento das atividades.

O princípio V foi colocado para analisar e orientar os educandos sobre o uso consciente

das TDICs durante atividades educativas (teóricas ou práticas). O smartphone é elemento

fundamental para a construção da produção educativa e seu uso foi liberado. Coube ao

pesquisador, promover ao longo do projeto, a reflexão e guiar os educandos para alinhar o uso

do aparelho às atividades realizadas. A missão era fazer com que o smartphone fosse visto como

uma ferramenta educacional e não somente como recurso para lazer e comportamentos

sedentários.

Como símbolo de amizade e fortalecimento do acordo, foram doados para os educandos

livros de diversos gêneros literários, em especial a poesia, pois a escola que frequentam

desenvolve atividades em torno desse gênero. Contamos com o apoio da escritora Lia Raquel

M. Lacerda que doou vários exemplares da sua obra “O dom de Deus em minha vida” (2011).

Além disso, também cedemos outros livros, de variados gêneros, adquiridos com recurso

próprio do pesquisador.

Ainda nessa etapa, guiados por inspiração para executar a avaliação individual descrita

no último momento do primeiro encontro da oficina, criamos o “Pote da Sinceridade”, um

espaço de diálogo a respeito das atividades realizadas. Para tanto, um pote de plástico (copo)

foi colocado em uma mesa próxima aos educandos, para que pudessem, em qualquer momento

das atividades, depositar críticas, sugestões ou desabafos. As opiniões foram expressas por meio

da escrita em um papel que não podia ter identificação do autor28.

28 Opiniões disponíveis no Anexo B.

Page 74: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

73

O pote teve boa aceitação dos educandos, tanto que um deles afirmou que compartilharia

a ideia com os educadores das disciplinas da EEIEFMM na qual estava, até então, vinculado.

Outro educando relatou que em uma situação normal na sala de aula da escola, não teria

coragem para criticar os educadores acerca da sua prática de ensino, mas que por meio do

recurso pôde expressar sua opinião livre de julgamentos. O “Pote da Sinceridade” permaneceu

disponível durante seis encontros, não sendo utilizado apenas no encontro dedicado ao trabalho

de narrações (sétimo encontro) e no de lançamento do audiodocumentário (oitavo encontro).

A sexta atividade da oficina foi direcionada para o estudo da importância do som para

a construção de uma narrativa midiática. Mediante atividades complementares, os educandos

experienciaram que o padrão estético da mensagem (beleza e finalidade) em diversas produções

comunicacionais, sofre influência direta das sensibilidades que o som provoca.

Como atividade complementar, entregamos folhas brancas de papel 75g (sulfite ofício)

para os educandos, que enquanto assistiam a um trecho com duração de 00:05:08 do filme

“Spirit: o corcel indomável”29, buscaram identificar a mudança de trilha sonora de acordo com

a cena exibida e anotaram qual o sentimento que a narrativa estava tentando expressar30. O

trecho escolhido explora música, efeitos sonoros e silêncio, apresentando cenas com mudanças

bruscas de picos emocionais, ou seja, acompanha momentos que podem provocar diversas

emoções. Na Imagem 02, a seguir, podemos observar momentos das atividades

complementares.

Imagem 02 - Educandos durante atividades complementares

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

Na análise geral dos adolescentes, baseada nas discussões logo após a exibição do trecho

do filme, por exemplo, ficou explícito que a maioria teve o entendimento de que os elementos

sonoros da narrativa transmitem situações inesperadas, circunstâncias incertas que remetem à

29 Trecho disponível em: https://youtu.be/3FM9PFT4mxc 30 Opiniões disponíveis no Anexo C.

Page 75: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

74

ideia de aventura e que, mediante o contexto da trama, levam o espectador a compreender o

valor da lealdade entre os personagens protagonistas. Esta percepção é coerente com o exposto

no filme.

Para análise do conteúdo específico às produções sonoras, escutamos um trecho

adaptado com duração de 00:03:54 do audiodocumentário “Celular: a tecnologia que mudou

nossas vidas”31. Nessa atividade, o foco foi compreender que nas produções baseadas na

linguagem radiofônica, a aproximação cultural entre conteúdo e ouvinte, com ênfase para a sua

relação emocional com os sons, é fator decisivo para a interpretação da mensagem.

A escolha por esta peça comunicacional foi pensada como elemento introdutório ao

debate sobre a dimensão ideológica das mídias e o empoderamento comunicativo, além de

realizarmos uma conversa sobre o uso educativo e recreativo do smartphone. Por suas

características, a escuta de audiodocumentários gera um conjunto de sensações que estimulam

a mudança de pensamentos e atitudes. O caráter de conscientização sobre determinado assunto

ou problemática social lhe outorga responsabilidade em relação à sociedade (LECHUGA

OLGUÍN, 2015).

Dedicamos a sétima atividade da oficina, desenvolvida neste segundo dia, para falar

sobre a dimensão ideológica das mídias e empoderamento comunicativo. Empenhamo-nos em

discutir como os meios de comunicação possuem poder para produzir e reproduzir mensagens

que são de interesses dos grupos hegemônicos que os dominam. Em contrapartida, buscamos

mostrar como as TDICs, em especial o smartphone, podem ser usadas para promover o direito

à comunicação. O intuito foi elucidar que, para além dos grandes grupos de comunicação, com

suas agendas de interesse próprio, existem as produções de mídias alternativas, que podem ser

usadas para a elaboração de peças comunicacionais, como um audiodocumentário, que viabiliza

um meio para inserção social e expressão popular e comunitária.

Como exemplo de produção baseada no entendimento sobre mídias alternativas,

assistimos ao vídeo “Caraca Moleque - a magia do futebol”32. Com duração de 00:11:25 esse

curta-metragem foi uma produção de autoria do pesquisador, realizada em 2015, na zona rural

do distrito de São José de Solonópole, especificamente na comunidade do Sítio Coaçú. O filme

mostra as dependências do sítio e os jogos de futebol no campinho de terra batida da localidade.

Algumas das crianças e jovens do filme também atuaram no processo de produção da obra

(captação audiovisual, apoio técnico, figurino, produção desenhística, etc.), que procurou

31 Audiodocumentário completo disponível em: https://youtu.be/77nZq5ajIio 32 Disponível em: https://youtu.be/wffKY04DoUU

Page 76: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

75

resgatar aspectos socioculturais da comunidade através da visão dos seus habitantes (SILVA;

ALMEIDA, 2017).

Logo em sequência, dessa vez focalizando o produto de comunicação almejado,

escutamos trechos do audiodocumentário “Um pé de Coaçú - meu lugar é minha história”,

supracitado nesse trabalho. Também de autoria do pesquisador desta dissertação, a produção

foi parte do projeto interventivo destinado a explorar a potencialidade dos moradores do Sítio

Coaçú para lidar com a linguagem radiofônica, de forma a levá-los à compreenderem as

possibilidades do uso das TDICs para o empoderamento e expressão popular (SILVA, 2017b).

Em ambas as peças comunicacionais, grande parte dos produtores e personagens são

pessoas conhecidas do ciclo de vivência dos educandos participantes da oficina, inclusive

crianças e jovens que frequentam a mesma escola que eles. Por conta disso, a exibição dessas

peças de comunicação foi um momento muito significativo do encontro. Ao reconhecerem

colegas de escola, amigos e familiares, os educandos ficaram eufóricos ao perceberem que são

as pessoas próximas do seu cotidiano que estão tendo voz, sendo retratadas e representadas.

De todas as peças comunicacionais levadas para a oficina, essas duas foram as que mais

captaram a atenção dos adolescentes. Nesse ponto, é preciso ressaltar que as mídias alternativas

servem justamente para despertar esse sentimento de pertencimento, na qual o objetivo é que

os educandos “se engajem em causas, situações e atividades que estejam além dos muros da

escola e da preocupação com a nota e a aprovação. [...] porque o ato de comunicar implica

compartilhar ideias e fortalecer a interação entre as pessoas, ou seja, mobilizar” (CIPÓ -

COMUNICAÇÃO INTERATIVA, 2011, p. 54).

A oitava atividade denominada de exercício “Mão na Massa”, foi marcada por ações

práticas específicas à produção de um audiodocumentário. Divididos em grupos, solicitamos

quatro educandos com aparelho smartphone, os quais foram líderes de equipes. A formação dos

grupos ocorreu em um sistema de escolha feita pelos próprios educandos.

Após todas as equipes estarem formadas, orientamos que definissem um tema e

utilizando o recurso para gravação de voz do aparelho smartphone, elaborassem uma produção

sonora análoga aos audiodocumentários que escutaram ao longo da oficina. Nesta etapa,

considerando o momento da aula, sugerimos pensarem temas de interesse para a disciplina

Ensino Religioso e Artes, que teve seu horário cedido para a realização da nossa pesquisa de

aplicação.

Planejamos essa atividade na intenção de promover a construção do conhecimento por

meio do confrontamento de questões significativas para o desenvolvimento sociocultural dos

educandos, ao mesmo tempo em que experimentavam de forma criativa o recurso de gravação

Page 77: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

76

de voz para desenvolver habilidades importantes para a produção do audiodocumentário. Com

os temas definidos, os grupos foram liberados para suscitarem debates, entrevistas e monólogos

sobre as temáticas em questão. Puderam explorar o território da comunidade em busca de

entrevistas e captação de sons do ambiente, dentre outros recursos sonoros.

Os áudios derivados dessa atividade foram enviados via WhatsApp e entre o segundo e

terceiro encontro passaram por um trabalho de edição/montagem realizado pelo pesquisador e

por um dos educandos que atuou na narração da peça comunicacional, dando dinâmica e

organização ao material. O produto concebido foi detalhado e exibido na nona atividade,

realizada no terceiro encontro da oficina, descrito a seguir.

3º) O terceiro encontro ocorreu na ACRMF, em uma quinta-feira, das 15h às 17h do

dia 2 de maio de 2019. Foram utilizados como materiais e recursos: kit com materiais padrão e

copo plástico. Participaram vinte e sete educandos. Dos cinco ausentes, dois justificaram

enfermidade e três justificaram problemas de acesso ao transporte que os levavam de sua casa,

na zona rural de São José de Solonópole, até as dependências da EEIEFMM, zona urbana do

distrito. Para amenizar as ausências, durante a semana antecedente aos novos encontros,

utilizamos o grupo no WhatsApp para enviar os conteúdos das atividades anteriores,

recapitulando o que foi estudado e sua relação com as próximas.

O encontro foi constituído pelas atividades: 9ª. Resultado do exercício “Mão na Massa”;

10ª. Características e importância da linguagem radiofônica; 11ª. Definição das equipes de

trabalho para produção do audiodocumentário.

A nona atividade abriu o terceiro encontro com a exposição do resultado das ações

desenvolvidas no exercício “Mão na Massa”. Resultou dessa atividade o protótipo de

audiodocumentário “Minha voz tem vez”33, que possui duração de 00:12:56 e traz quatro

assuntos em destaque: cultura, meio ambiente, cotidiano e entretenimento. Os temas foram

escolhidos pelos educandos e discutidos em contato com os moradores e espaços do distrito de

São José de Solonópole.

Esse exercício possibilitou demonstrar na prática que é possível criar uma produção

sonora utilizando recursos de fácil acesso e manuseio, como também serviu para divulgar para

a comunidade local o andamento da pesquisa e seus primeiros impactos no aprendizado dos

educandos. Após a exposição, retomamos a discussão sobre o poder que as TDICs, aplicadas à

posição de mídias alternativas, possuem para dar voz a pessoas, grupos e comunidades.

33 Disponível em: https://youtu.be/xw_4CusWcSk

Page 78: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

77

Sem perder o foco na produção do audiodocumentário, debatemos a organização dos

procedimentos e dificuldades enfrentadas, as quais se concentraram na inexperiência em lidar

com as técnicas de entrevista, consideradas típicas nessa etapa. Isto porque os educandos ainda

não tinham estudado as características específicas desse procedimento técnico. Salvo isto, de

uma maneira geral, eles se mostraram engajados com o exercício desde a sua proposição.

Destacamos a fala de dois educandos, ressaltando o engajamento que aconteceu por

oportunidade de saírem do espaço da sala de aula e percorrerem a comunidade, conversando

com outros moradores e atuando, dentro das suas limitações de conhecimento técnico, como

“jornalistas” e “pesquisadores”. Para a Cipó - Comunicação Interativa (2011, p. 51), a

percepção dos adolescentes mostra que quando o ambiente pedagógico lança “um olhar mais

positivo para o bairro ou comunidade, aumentam-se as chances de os estudantes - muitas vezes,

moradores dessas regiões - desenvolverem mais a autoestima e a solidariedade”. Além disso, o

produto desenvolvido se torna um “instrumento de expressão de ideias e sentimentos, abrindo

espaço [...] para que os diversos segmentos tenham voz e vez”.

Na décima atividade, estudamos as características e a importância da linguagem

radiofônica. Inicialmente comentamos sobre a necessidade de que os audiodocumentários têm

em abordar de maneira aprofundada temáticas fundamentadas em acontecimentos reais.

Descrevemos, em discussão teórica representada na Imagem 03, a seguir, os aspectos mais

relevantes para elaboração desse formato comunicacional.

Imagem 03 - Discussão teórica e foto coletiva

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

Explicamos aos educandos a importância e como atuam cada um dos elementos que

compõe a linguagem radiofônica e introduzimos especificidades dos procedimentos técnicos

para produção de um audiodocumentário. Como atividade complementar, escutamos um trecho

adaptado com duração de 00:07:23 do documentário “Os mais perigosos - Pequenos

Page 79: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

78

Assassinos”34. Com foco nos efeitos sonoros e uma narração empolgante, a peça é útil para

exemplificar de maneira objetiva os elementos expressivos e estéticos que compõem a

linguagem radiofônica.

Acreditamos que devido à qualidade da peça, os educandos demostraram total interesse

na atividade. Ao final da exibição, pedimos que eles apontassem quais as principais

características que observaram. A maioria disse ter gostado de como os sons os transportou para

o universo da obra. Com isso conseguiu se evocar a sensorialidade para gerar o cenário de

ambientação da narrativa.

Na sequência, apresentamos a classificação dos audiodocumentários segundo o manual

de Detoni (2007), discutindo as especificidades sobre tema e narrativa. Acerca desse ponto,

destacamos que a proposta de produção sobre o carnaval em São José de Solonópole se

enquadrou, respectivamente, nas características de um audiodocumentário jornalístico e

histórico, a partir da narrativa conduzida pelo(s) narrador(es).

A décima primeira atividade foi dedicada à definição das equipes de trabalho para

produção do audiodocumentário. Conversamos com os educandos e acatando as suas escolhas

sobre qual grupo se inseririam, distribuímos todos em equipes de trabalho, de acordo com suas

aptidões, desejos e os direcionando, sem retirar a autonomia de escolha, às competências

exigidas pelos procedimentos técnicos de produção. As responsabilidades foram divididas em

seis equipes, organizadas da seguinte maneira: Equipe I. Narração (oito adolescentes); Equipe

II. Entrevista (oito adolescentes); Equipe III. Pesquisa sonora/audiovisual (seis adolescentes);

Equipe IV. Pesquisa documental (dois adolescentes); Equipe V. Produção/apoio técnico (seis

adolescentes); Equipe VI. Edição/montagem (dois adolescentes e um jovem - o pesquisador

deste trabalho).

A grande quantidade de educandos possibilitou a distribuição de tarefas que abrangeram

várias especificidades técnicas essenciais à produção do audiodocumentário. Essa divisão, para

além dos objetivos naturais definidos pelas atividades, foi colocada como espaço para

promoção das relações de grupo, estratégia para a inclusão, a afetividade, o diálogo democrático

e o respeito à diversidade (FREIRE, 2002).

Além disso, é preciso notar que o pesquisador, como membro da equipe, atua na

dimensão organizacional da atividade educativa e como agente mediador direto para o

crescimento intelectual dos educandos, já que “o aprendizado adequadamente organizado

resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento

34 Trecho adaptado disponível em: http://bit.ly/2L4gSoE

Page 80: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

79

que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer” (VYGOTSKY, 1998, p. 118). Os

educandos, por sua vez, apropriam-se de conceitos e aprendem tarefas em contato com o

educador e com os outros participantes com habilidades melhores desenvolvidas.

4º) O quarto encontro da oficina ocorreu na ACRMF, em uma quinta-feira, das 15h às

17h, do dia 9 de maio de 2019. Foram utilizados como materiais e recursos: kit com materiais

padrão e copo plástico, os mesmos do encontro anterior. Participaram vinte e oito educandos.

Dos quatro ausentes, dois continuaram enfrentando enfermidade, um justificou que perdeu o

horário do transporte para a escola e outro justificou que estava em viagem pessoal com a

família.

Esse quarto encontro foi constituído pelas atividades: 12ª. Procedimentos técnicos para

produção de um audiodocumentário: narração; 13ª. Dinâmica da História Coletiva; 14ª.

Procedimentos técnicos para produção de um audiodocumentário: entrevista; 15ª. Exercício

sonoro com audioconto.

Iniciamos no quarto encontro a décima segunda atividade, que teve como objetivo

apresentar as características e competências específicas ao procedimento de narração35. No

decorrer do diálogo com os educandos, destacamos a necessidade deles gradualmente

ampliarem o conhecimento sobre a temática central em estudo (o carnaval em São José de

Solonópole) para a transmissão de uma mensagem com objetividade, segurança e credibilidade.

Faz-se necessário ressaltar, que embora os procedimentos técnicos tenham sido

distribuídos em equipes, os encontros foram planejados para agregar todos os participantes de

forma interativa, afinal são coautores de um mesmo processo. O educador deve orientar sobre

os conteúdos e procedimentos técnicos, harmonizando as relações de diálogo e conflitos com e

entre os educandos. “Esses, por sua vez, contribuem com suas experiências pessoais, sua

criatividade e seu profundo conhecimento sobre o público-alvo do produto, que geralmente são

seus próprios pares ou a comunidade em que estão inseridos” (CIPÓ - COMUNICAÇÃO

INTERATIVA, 2011, p. 24).

Na exposição teórica, destacamos três regras de leitura para narração: conhecer o tema

e saber qual tipo de mensagem quer transmitir; identificar palavras difíceis de pronunciar e

fazer marcações no texto para guiar a leitura e definir o ritmo da leitura e a projeção de voz, ou

seja, as emoções que serão dadas à narração.

A partir das orientações básicas para uma boa narração, realizamos uma atividade

complementar para treinamento vocal e aperfeiçoamento desse procedimento. Com todos os

35 Etapa fundamentada no “Manual de Radiodocumentário” de Detoni (2007), no “Manual de Radiojornalismo”

de Campos (2003) e no curso para locutor e apresentador de Daniel (2012).

Page 81: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

80

educandos em pé, a atividade seguiu regras de alongamento, respiração, reverberação,

articulação e leitura de frases complexas. No início, os adolescentes se mostraram tímidos e

receosos na hora de exercitar a voz e movimentar o corpo. À medida que os exercícios foram

se desenvolvendo e se tornando mais complexos e mediados pelo pesquisador, os participantes

passaram a encarar a atividade como um desafio a ser alcançado e de forma natural a timidez

foi se esvaindo.

A décima terceira atividade foi a da dinâmica da “História Coletiva”, inspirada nas

estratégias pedagógicas de uso do áudio na escola, propostas por Hoff (2014). Iniciou-se com

um educando utilizando o gravador de voz do smartphone para propor uma narrativa motivada

por uma temática geral. Em sequência, ele escolhia outro adolescente para passar o smartphone

e continuar a história, dando vida aos personagens e seus feitos, descrevendo ambientes e

sensações. Os critérios de tempo para cada educando falar e a temática geral foram

estabelecidos previamente. O tempo foi condicionado ao julgamento do pesquisador (podendo

ser também cronometrado) e a temática escolhida foi o carnaval em São José de Solonópole.

Acentuamos que nem todos os educandos quiseram participar ativamente da narrativa,

preferindo, portanto, permanecerem apenas como observadores, como retrata a Imagem 04, a

seguir. Além disso, durante a atividade, a educadora responsável pela disciplina Ensino

Religioso e Artes estava presente, o que lhe suscitou interesse para integrar a dinâmica.

Imagem 04 - Explicação de conteúdo teórico e dinâmica com smartphone

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

Podemos afirmar que a dinâmica da “História Coletiva” possibilitou o exercício da fala

e desenvolvimento da imaginação e do pensamento criativo dos participantes. Atuou como uma

estratégia de estímulo à escuta atenta, à expressão comunicativa, à interação e à capacidade de

trabalhar em coletividade. O produto resultante é descrito na décima sexta atividade, durante o

quinto encontro.

Page 82: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

81

Dando continuidade ao aprofundamento dos procedimentos técnicos para produção de

um audiodocumentário, na décima quarta atividade estudamos as principais características

para se realizar uma entrevista. O ato de entrevistar em produções sonoras adquire enorme

importância porque lida de maneira íntima com as emoções36. As discussões esclareceram que

para esta técnica ocorrer de forma qualitativa é necessário atenção à elaboração das perguntas

e construção de um roteiro pelo entrevistador.

Como vimos na nona atividade, no terceiro encontro, os educandos relataram que

durante o exercício “Mão na Massa”, por falta de experiência, enfrentaram dificuldades para

realizar o procedimento de entrevista. Pensando nisso, elencamos e minuciamos dez dicas para

realizá-la de forma adequada37. Logo em seguida, exercitamos o ato de entrevistar, por meio de

demonstrações exercitadas por pares de educandos da equipe responsável, que se voluntariaram

para se colocarem no papel de entrevistadores e entrevistados.

O encontro foi finalizado com a décima quinta atividade, dedicada a um exercício

sonoro que consistiu em um momento de relaxamento e sensibilização, o qual possibilitou que

os educandos observassem as técnicas de transmissão da mensagem sensorial auditiva. Para

isso, ouvimos o audioconto “Uirapuru: O pássaro da sorte”38. Com 00:03:46, a história gira em

torno de uma lenda indígena, onde a narradora adequa, com maestria, a voz para gerar as

emoções que o conto procura despertar no ouvinte.

Por ausência de tempo, não pudemos realizar uma discussão mais profunda após a

escuta do audioconto. Todavia, para suprir essa necessidade, combinamos com os educandos,

que como atividade complementar extensiva para casa, eles escutariam novamente o conto a

fim de identificar as principais características das regras de narração. Feito isso, deveriam

gravar um áudio resumindo o que entenderam da história relatada. O material resultante desta

atividade nos auxiliou a demonstrar o papel ético que é intrínseco ao trabalho do

audiodocumentarista, detalhado na vigésima atividade, durante o sexto encontro.

5º) O quinto encontro da oficina ocorreu na ACRMF, em uma quinta-feira, das 15h às

17h do dia 16 de maio de 2019. Continuamos utilizando como materiais e recursos: kit com

materiais padrão e copo plástico. Participaram vinte e oito educandos. Dos quatro ausentes, um

justificou ter que auxiliar um familiar enfermo e três não apresentaram justificativa.

36 Etapa fundamentada no “Manual de Radiodocumentário” de Detoni (2007), no “Manual de Radiojornalismo”

de Campos (2003) e nas orientações sobre entrevistas de Caputo (2006). 37 Disponíveis no Apêndice C. 38 Disponível em: http://bit.ly/2KssK4d

Page 83: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

82

O encontro foi constituído pelas atividades: 16ª. Resultado da dinâmica da História

Coletiva; 17ª. Procedimentos técnicos para produção de um audiodocumentário: pesquisa

sonora/audiovisual e pesquisa documental; 18ª. Procedimentos técnicos para produção de um

audiodocumentário: produção/apoio técnico.

Uma observação importante é que além das ações desenvolvidas no encontro, após a

conclusão da última atividade do dia houve um momento para realização de uma entrevista

coletiva. Essa entrevista visou obter material para o audiodocumentário e demonstrar para os

participantes como se dá esse processo em uma situação real. Os resultados desse momento

estão detalhados na vigésima quarta atividade (parte do sétimo encontro), que descreveu os

detalhes do procedimento de entrevista.

O quinto encontro teve começo com a décima sexta atividade que constituiu na escuta

do resultado da dinâmica da “História Coletiva”. Para que tivéssemos um produto atrativo e

consistente, o material sonoro passou pelo trabalho de edição/montagem. O resultado foi a peça

sonora denominada de “Um carnaval muito louco”39, com 00:03:42 de duração. O enredo foi

fruto da imaginação e do pensamento criativo dos participantes, portanto, seu desdobramento

narrativo foi espontâneo, não sendo condicionado ou previamente determinado, a não ser pela

temática geral.

Após a escuta, os educandos que participaram da produção expressaram suas principais

percepções. De forma geral, destacaram que a atividade foi divertida e os instigou a desenvolver

a criatividade para dar vida aos personagens, exigindo raciocínio rápido para não perder a linha

de criação da história e para não atrapalhar a ação coletiva. Questionados sobre como se deu o

processo de construção dos personagens e ambientes, ressaltaram que utilizaram associações

com situações reais do seu cotidiano.

Entre as associações mais significativas, podemos perceber a influência de elementos

multimidiáticos, em especial dos jogos virtuais com interação on-line, que são disponíveis para

dispositivos móveis digitais. Essa percepção só reforça a influência que as TDICs exercem no

cotidiano dos adolescentes, o que nos leva a argumentar que “o desafio da sociedade

audiovisual não é outro senão integrar os meios de comunicação em processos educacionais

para refletir sobre eles, suas linguagens, seus modos de informar sobre o mundo e suas

poderosas armas para recriá-lo e construí-lo” (AGUADED-GÓMEZ, 2005, p. 27, tradução

nossa).

39 Disponível em: https://youtu.be/61Ib0rNX5Kw

Page 84: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

83

Na décima sétima atividade, abordamos as responsabilidades inerentes ao

procedimento técnico de pesquisa, subdividido em duas equipes. Uma equipe de pesquisa

sonora/audiovisual, assim classificada porque teve como trabalho a seleção e organização de

dados no vasto universo da internet. Outra para pesquisa documental, assim classificada porque

teve como trabalho a seleção e organização de dados no mundo físico.

Como exemplo de espaços para pesquisa sonora/audiovisual, conversamos sobre as

plataformas de armazenamento e compartilhamento de vídeo como Youtube, Instagram e

Facebook. Para plataformas de armazenamento e compartilhamento de áudio falamos sobre o

Soundcloud e os aplicativos WhatsApp, Facebook Messenger e Telegram.

O estudo sobre pesquisa documental foi atrelado ao conceito de documentário e suas

funções comunicacionais, ampliando seus significados para o audiodocumentário. Como

exemplo de espaços para realizar a pesquisa documental, citamos bibliotecas, instituições

governamentais, empresas privadas, Organizações Não Governamentais (ONGs), entre outras

fontes e espaços físicos que fossem relevantes para a obtenção de dados da temática de

interesse. Este momento pode ser observado na representação exposta pela Imagem 05, a seguir.

Imagem 05 - Conversa sobre o papel das equipes de produção do audiodocumentário

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

O conteúdo discutido permitiu dialogar com o conceito de pesquisa, posicionando-o

como o ato de selecionar, processar e sistematizar informações. Para demonstrar de forma

prática o conteúdo estudado, pedimos aos adolescentes que compuseram a equipe de pesquisa

documental, que investigassem as características do carnaval em São José de Solonópole e

realizassem uma apresentação no próximo encontro. O resultado desta atividade está descrito

na vigésima primeira atividade, durante o sexto encontro.

Dessa etapa até o final da semana do sétimo encontro ocorreu a execução dos

procedimentos de pesquisa sonora/audiovisual e pesquisa documental. Esses procedimentos

basearam-se, de forma efetiva, no engajamento das equipes, que realizaram o trabalho a partir

Page 85: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

84

de orientações via grupo de WhatsApp, mesmo ambiente virtual que a equipe de pesquisa

sonora/audiovisual utilizou para enviar o material para edição/montagem. A equipe de pesquisa

documental realizou a entrega do que conseguiram organizar, de forma presencial.

A décima oitava atividade foi uma conversa acerca das atribuições do procedimento

de produção/apoio técnico. Diante das necessidades do projeto, essa equipe ficou encarregada

de dar suporte técnico e instrumental às outras equipes. As responsabilidades de trabalho

passaram pelo auxílio na realização dos encontros da oficina, ajuda aos entrevistadores na visita

aos entrevistados, substituição de membros de outras equipes mediante imprevistos, dentre

outras coisas.

A equipe de produção/apoio técnico teve liberdade para atuar no desenvolvimento de

todos os demais procedimentos do audiodocumentário. Isso adveio da iniciativa de seus

membros ou do direcionamento nosso, mediante a necessidade e a voluntariedade do

participante.

O encontro foi finalizado com a apresentação de orientações para uma atividade

extensiva direcionada ao procedimento de entrevista. Ficou acordado que os adolescentes (de

forma individual, duplas ou trios) deveriam realizar uma entrevista com um adulto morador da

comunidade, tendo como orientação o seguinte questionamento: o que você pode falar sobre o

carnaval em São José de Solonópole?

A partir dessa pergunta, os educandos desenvolveriam a entrevista com outras perguntas

por eles elaboradas ou inspiradas em um roteiro base criado pelo pesquisador40. O documento

foi organizado para ser usado em entrevista com qualquer morador, que porventura fosse

escolhido pelos educandos como fonte de informação.

A atividade poderia ser feita por qualquer um dos participantes, não sendo limitada

apenas para a equipe que tinha como responsabilidade esse procedimento. A entrevista deveria

ser gravada com o smartphone e o áudio coletado teria que ter no mínimo dois minutos, mas

sem limite máximo de tempo. Essa ação buscou desenvolver nos educandos a noção de

planejamento e investigação, de modo a construir conhecimento sobre a temática do

audiodocumentário, ao mesmo tempo em que produziam material sonoro para ser usado em sua

elaboração. O resultado está descrito na vigésima quarta atividade, durante o sétimo encontro.

6º) O sexto encontro da oficina ocorreu na ACRMF, em uma quinta-feira, das 15h às

17h do dia 23 de maio de 2019. Foram utilizados como materiais e recursos: kit com materiais

padrão; folhas de papel 75g - sulfite ofício; lápis de cor; giz de cera; e copo plástico.

40 Disponível no Apêndice D.

Page 86: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

85

Participaram vinte e cinco educandos. Houve uma significativa ausência de sete adolescentes

por conta do transporte escolar que os levava da zona rural até as dependências da escola ter

apresentado defeito.

O encontro foi constituído pelas atividades: 19ª. Procedimentos técnicos para produção

de um audiodocumentário: edição/montagem; 20ª. Princípios éticos na produção de um

audiodocumentário; 21ª. Apresentação sobre pesquisa documental; 22ª. Dinâmica do “Desenho

Coletivo com Ambientação Sonora”.

A abertura do sexto dia de oficina foi com a décima nona atividade, que trouxe uma

discussão com os educandos sobre edição/montagem. Para este procedimento, além das tarefas

que lhes são comuns, foi integrado o trabalho de elaboração do roteiro/script, documento onde

consta o texto da peça comunicacional, estruturado em sequências com indicações técnicas

sobre os elementos sonoros utilizados.

Inicialmente estudamos como realizar a organização e tratamento de áudio (edição), o

que inclui: selecionar, ajustar ruídos, cortar e emendar trechos, determinar tempo de pausas,

fazer mixagem, inserir efeitos sonoros e músicas para dar forma ao produto, etc.41. Explicamos

e mostramos aos educandos como utilizar as principais funções e aplicações dos softwares de

computador FormatFactory42 (conversor de arquivos digitais) e Audacity43 (editor digital de

áudio) e da plataforma on-line 123apps44, que podem ser utilizados de forma gratuita para

realizar o trabalho de edição/montagem de produções sonoras.

A demonstração prática utilizou um trecho original e outro editado do protótipo de

audiodocumentário “Minha voz tem vez”, comparando o material bruto (sem nenhuma

alteração) com o material editado/montado. Vimos também quais os elementos essenciais para

se construir um roteiro/script simplificado para audiodocumentário, procedimento que exige

domínio da produção de texto e engajamento com todo o material coletado (entrevista, locais

de gravação, narração, ambientação sonora, escolha de músicas, etc.).

As experimentações práticas dessas atividades foram realizadas a partir de um único

notebook conectado à projeção em tela maior. Dessa forma, coube aos educandos observarem

como realizar os procedimentos para posteriormente buscarem maior aprofundamento de

maneira autônoma. Infelizmente não dispúnhamos de mais computadores, portanto tornou-se

inviável o manuseio dos softwares de forma individual. Por conta disso, na divisão das equipes,

41 A apostila “Produções de Áudio - Fundamentos” da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (2011) contém

amplo estudo sobre esses procedimentos, que podem ser aplicados a formatos sonoros e audiovisuais. 42 Disponível em: http://www.pcfreetime.com/ 43 Disponível em: https://www.audacityteam.org/ 44 Disponível em: https://123apps.com/pt/

Page 87: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

86

tivemos que assumir participação ativa na execução das funções atribuídas à edição/montagem.

Acreditamos que essa condição não interferiu no rendimento do projeto e nem desqualificou o

trabalho das outras equipes ou corrompeu as metas acadêmicas exclusivas à análise do

pesquisador.

Ainda nessa etapa exploramos a Biblioteca de Áudio do Youtube45, plataforma para

obtenção de efeitos sonoros, trilhas de ambientação e músicas. Nesse espaço são

disponibilizados uma imensa variedade de material sonoro com licenças gratuitas, condição que

nos permitiu introduzir o debate sobre o uso de direitos autorais em peças comunicacionais.

Debate pautado pelo respeito, pelo diálogo que se dá como “o encontro no qual a reflexão e a

ação, inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para o mundo que é preciso transformar

e humanizar” e que “não pode reduzir-se a depositar ideias em outros” (FREIRE, 1979, p. 42).

Outra tarefa incumbida à edição/montagem foi a criação de duas identidades visuais

para representação simbólica do audiodocumentário e da equipe geral participante do projeto.

A elaboração dos logotipos teve como premissa o convite imagético ao público, ou seja, buscar

dar publicidade e atrair pessoas para a audição e compartilhamento da produção sonora. As

identidades foram criadas a partir de rascunhos desenhados a lápis por dois educandos e

passaram por um trabalho de digitalização, vetorização e inclusão do título do

audiodocumentário, que no que lhe concerne, seguiu de forma objetiva a temática central da

produção46.

As atribuições do procedimento de edição/montagem foram executadas à medida que o

material do audiodocumentário era coletado. O desenvolvimento do processo foi

constantemente atualizado para os educandos via grupo de WhatsApp e durante os encontros

presenciais.

Em relação à percepção dos educandos sobre esta etapa, destacamos que pelo menos

oito se mostraram bastante interessados. Os demais se dividiram em dois grupos: os que

acompanharam as explicações, com curiosidade e atenção, mas sem levantarem muitos

questionamentos e os que demonstraram ou disseram não ter interesse em conhecer e aprender

técnicas de edição/montagem.

No grupo dos bastante interessados, ressaltamos a fala de dois adolescentes, que

afirmaram que o conhecimento dos procedimentos poderia ser aplicado na melhoria do

conteúdo em seus canais no Youtube, um sobre tutoriais de jogos virtuais com interação on-

line e outro sobre maquiagem. No grupo dos não interessados, ressaltamos um pensamento

45 Disponível em: www.youtube.com/audiolibrary/music 46 Disponíveis no Anexo D.

Page 88: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

87

comum a três educandos, que disseram acreditar que o conhecimento não seria útil para o seu

cotidiano, ainda que tenham assumido ser usuários assíduos de smartphones e computadores

pessoais.

Os depoimentos demostram a importância que o ambiente pedagógico tem como

instância para a “revisão das disfunções comunicativas oriundas das relações de poder,

buscando-se formas democráticas e participativas da gestão escolar, com o envolvimento das

novas gerações”, desenvolvendo projetos e “valorizando todas as formas de expressão,

especialmente a artística, tendo como objetivo a ampliação do potencial comunicativo da

comunidade educativa e de cada um de seus membros” (SOARES, 2014, p. 18).

Focando no exposto pelo grupo dos não interessados naquele momento da atividade,

buscamos conseguir engajamento dos participantes mostrando como a edição/montagem pode

transformar esteticamente os conteúdos comunicacionais, proporcionando maior qualidade

artística, assim como manipular informações para diversos fins. Buscamos mostrar aos

educandos que aprender sobre o funcionamento de procedimentos de edição/montagem não

significa somente conhecer técnicas, comandos e manusear softwares, mas é entender como são

organizados e direcionados os discursos midiáticos para se apropriar de forma crítica das

mensagens disseminadas pelos meios de comunicação, com destaque para aqueles baseados nas

características da linguagem radiofônica.

Aproveitando o diálogo iniciado no momento anterior, na vigésima atividade

abordamos a importância dos princípios éticos na produção de um audiodocumentário, que em

formatos radiofônicos deve ser ainda mais rígida porque lida com a ausência da condição visual,

portanto, pode-se facilmente manipular e readaptar condições e eventos da realidade por meio

da edição/montagem. A partir disso, falou-se sobre os princípios éticos como guia para

formação da cidadania, instigando a reflexão sobre a defesa de direitos sociais e da igualdade

nas relações cotidianas.

Para ampliar o debate sobre o papel dos princípios éticos e a prática de manipulação

comunicacional, utilizamos o resultado do exercício sonoro de audição do audioconto

“Uirapuru: O pássaro da sorte”. Lembramos que nas ações extensivas vinculadas ao exercício

descrito na décima quinta atividade (parte do quarto encontro), foi solicitado aos educandos que

identificassem as regras de narração e gravassem um resumo explicando o que entenderam da

história relatada. Discutimos os resultados gerais e exibimos, com autorização prévia de dois

educandos (dos cinco que realizaram a atividade), seus depoimentos em áudio, resumindo o

entendimento sobre a narrativa.

Page 89: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

88

Após a exibição, levantamos alguns questionamentos para discussão em grupo: o

entendimento da narrativa foi igual para todos os educandos? Por que existem diferenças entre

os depoimentos se o audioconto ouvido foi o mesmo? Será que assim como todos que ouviram

o audioconto, os produtores de conteúdo para o rádio, televisão, jornal e internet, que ouvem

uma mesma história, contam-na da mesma maneira?

A narrativa do audioconto teve diferentes entendimentos entre os educandos, fato

explicitado na disparidade entre os relatos exibidos nos áudios escolhidos. Embora na descrição

da história pelos educandos os elementos estéticos que ambientaram a narrativa tenham sido

construídos de maneira análoga, a percepção do conteúdo semântico da mensagem foi desigual.

Dessa forma, os adolescentes puderam entender a responsabilidade em torno da produção,

tratamento e manipulação dos conteúdos midiáticos.

Durante as explicações, lembramos da famosa frase “comunicação é poder”, um jargão

bastante popular no vocabulário social, mas que reflete como compreender a comunicação é ter

capacidade para intervir na realidade. Um dos educandos complementou com outro jargão

“quem conta um conto aumenta um ponto”, bastante apropriado para o momento, afinal o poder

de “passar a informação está na mão de quem escreve ou edita”, e isso vale não só para os meios

com linguagem radiofônica, mas para internet, televisão, jornal impresso, “além de para pessoas

que nos contam histórias. Ao contar, a pessoa pode escolher que ponto de vista da história quer

valorizar” (VIRAÇÃO, 2010, p. 25).

A vigésima primeira atividade foi a apresentação do resultado sobre pesquisa

documental, idealizada na décima sétima atividade (parte do quinto encontro) e que abordou as

responsabilidades inerentes aos procedimentos técnicos desse tipo de pesquisa e da

sonora/audiovisual. Lembramos que foi orientado à equipe de pesquisa documental a investigar

as características do carnaval em São José de Solonópole e realizar uma apresentação com as

informações que conseguissem (ver Imagem 06). Após exporem uma breve redação falando do

tema, a equipe relatou as dificuldades e benefícios da experiência.

Como dificuldades, apontaram a ausência de locais para se obter fontes documentadas,

inferindo que aquilo do qual se sabe sobre o carnaval na região vem de origem do relato, do

“conto” dos moradores da comunidade ou das poucas e limitadas informações disponíveis em

blogs de notícias factuais. Como benefícios, discorreram sobre a atividade incentivá-los a

conhecer de maneira mais aprofundada a cultura local.

Mediante o trabalho de investigação e a apresentação, detalhamos para os educandos

como ocorre a aplicação dos procedimentos técnicos de pesquisa, dialogando com a temática

do carnaval por meio do entrecruzamento de saberes populares e científicos. Aparentemente

Page 90: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

89

pode parecer simples tal atividade, mas por intermédio dela se alcançou o que propõe a

pedagogia da autonomia de Freire (2002).

Há de se entender que a curiosidade ingênua do educando (aquela que brota no senso

comum) não se difere da curiosidade científica (que resulta dos procedimentos metodicamente

rigorosos). O que ocorre é a superação da ingenuidade pela reflexão crítica, mediada pelos

elementos que compõem o sistema educativo. “Não haveria criatividade sem a curiosidade que

nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos,

acrescentando a ele algo que fazemos” (FREIRE, 2002, p. 15).

Como vigésima segunda atividade, realizamos a dinâmica do “Desenho Coletivo com

Ambientação Sonora”. O objetivo foi criar um momento para relaxamento e experiência

sensorial após a exposição do conteúdo teórico e estimular a imaginação e o pensamento

criativo. Inicialmente foram distribuídos para os educandos folhas de papel 75g (sulfite ofício),

lápis de cor e giz de cera, material adquirido com recurso próprio do pesquisador. A partir da

solicitação do mediador, cada participante da dinâmica imaginou um desenho e começou a

desenvolvê-lo na folha identificada com seu nome.

Enquanto os educandos desenhavam, fomos reproduzindo diversas trilhas de

ambientação e músicas. A regra era que quando falássemos a palavra “troca” os educandos

repassassem a folha para o colega ao lado, que dava continuidade ao desenho da maneira que

desejasse e a partir do que entendeu estar ali representado (ver Imagem 06). Após cerca de vinte

minutos recolhemos os desenhos e, aleatoriamente, expomos alguns deles, pedindo para que o

autor confidenciasse qual era a ideia inicial e comentasse no que ela tinha se transformado.

Imagem 06 - Apresentação da equipe de pesquisa documental e Dinâmica do “Desenho Coletivo

com Ambientação Sonora”

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

Quando se opta por trabalhar recursos comunicacionais sonoros de maneira educativa,

é importante promover esse modelo sensorial de dinâmica para que além dos seus objetivos

Page 91: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

90

primários, atue como meio para ganhar cada vez mais a confiança dos educandos por intermédio

da descontração, afetividade e espaço de expressão artística. Salientamos que devido a um

acidente onde os desenhos foram molhados, não foi possível anexá-los a esse relatório, todavia

entendemos que sua ausência não prejudica de forma alguma a riqueza da atividade pedagógica

que foi esse momento.

7º) O sétimo encontro da oficina ocorreu na ACRMF, em uma quinta-feira, das 15h às

17h do dia 30 de maio de 2019. Foram utilizados como materiais e recursos o kit com materiais

padrão. Lembrando que os resultados de cada atividade extrapolam as ações executadas nos

encontros presenciais da oficina. Isto porque os trinta e dois educandos foram distribuídos entre

as ações na Associação e ações extensivas correlacionadas, como explicaremos nas atividades

a seguir: 23ª. Detalhes do procedimento de narração; 24ª. Detalhes do procedimento de

entrevista.

A vigésima terceira atividade abrangeu a execução do procedimento de narração que

ocorreu durante o sétimo encontro, que também envolveu ações extensivas correlacionadas,

desenvolvidas pelos participantes em outros horários e espaços (ver Imagem 07). Nesse

encontro na Associação, optou-se pela presença de onze dos trinta e dois educandos, sendo a

quantidade planejada estrategicamente para atingir dois objetivos:

1 - Ter ambiente propício ao silêncio e consequentemente melhor aproveitamento do

procedimento de narração, ação que acreditamos que seria difícil com a presença dos trinta e

dois adolescentes. Quatro dos participantes foram para o encontro incumbidos de realizar as

atribuições específicas da equipe de narração. As ações se basearam no treinamento e na

execução da narração de créditos e passagens do audiodocumentário.

2 - Oferecer maior espaço para atuação de alguns educandos, que ao longo dos encontros

mostraram-se menos engajados na produção. Participaram por este motivo cinco adolescentes,

selecionados e convidados a partir da análise observacional do pesquisador acerca do seu nível

de proatividade em outras etapas da oficina, ou seja, porque não assumiam o mesmo nível de

protagonismo dos seus colegas. Os educandos participaram ativamente dos exercícios e

treinamento da fala para narrar créditos e passagens do audiodocumentário, ainda que não

fossem responsáveis diretamente por esse procedimento.

Acreditamos que é papel do educador estimular o conhecimento mediante as trocas

interculturais entre sujeitos sociais, o que exige a presença de um educando interativo e de um

educador mediador que oportunize situações para diálogo e experimentação. Nesse ponto, a

educação é entendida como espaço de construção intencional, que se dá mediante as práticas

pedagógicas e interventivas (VYGOTSKY, 1998).

Page 92: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

91

Outros dois educandos que foram ao encontro na Associação pertenciam a equipe de

produção/apoio técnico e participaram com a missão de auxiliar na organização e fazer registros

fotográficos das atividades.

Imagem 07 - Momentos da vigésima terceira atividade da oficina

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

As ações extensivas correlacionadas ao sétimo encontro foram direcionadas aos vinte e

um educandos que não estiveram no horário dedicado às atividades realizadas na ACRMF. O

planejamento estratégico que culminou tanto na ausência dos vinte e um educandos, como na

presença dos outros onze, foi previamente combinado com os sujeitos e com a educadora que

nos cedeu o horário de aula para a pesquisa. Como contrapartida, ao invés do encontro

presencial na Associação, nesta atividade tiveram outras responsabilidades em ações destinadas

às suas respectivas equipes de trabalho. Destacamos, dentre estas ações extensivas e seus

resultados, a atividade de narração do texto principal, realizada de forma autônoma e que

envolveu exercícios de fala e leitura, para melhor rendimento da tarefa.

Assim como o texto dos créditos e de passagens, o texto da narração principal seguiu as

orientações do roteiro/script organizado pelo pesquisador47, finalizado numa terça-feira, 28 de

maio de 2019, sendo gravado pelos educandos no período entre esse dia e o domingo, 2 de

junho de 2019. As orientações para gravação foram feitas por meio do aplicativo WhatsApp,

assim como o recebimento dos arquivos de áudio.

Acreditamos que as atividades extensivas com uso das TDICs, dentro de suas

possibilidades e contextos, são parte fundamental para a compreensão de uma Educação pela

Comunicação ancorada nas características da cultura midiática. Se, para alguns essa situação

ainda é vista como “educação a distância”, Kenski (2009, não paginado) denomina de

“educação sem distâncias”. Concordamos com a autora quando ela diz que “é preciso garantir

47 Roteiro/script disponível em: http://bit.ly/RoteiroScript

Page 93: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

92

que nós possamos estar virtualmente mais próximos dos nossos alunos do que nós estávamos

fisicamente, com eles presentes dentro de sala de aula”.

A vigésima quarta atividade trata da execução do procedimento de entrevista para

composição do audiodocumentário. Foram realizadas ao todo onze entrevistas com diferentes

personagens do distrito de São José de Solonópole, como detalharemos a seguir.

A primeira entrevista, representada na Imagem 08, a seguir, ocorreu de forma coletiva

durante o quinto encontro na ACRMF, quinta-feira, dia 16 de maio de 2019, para demonstrar

aos participantes as especificações técnicas estudadas a partir da sua aplicação em uma situação

real.

Imagem 08 - Orientações teóricas e gravação da primeira entrevista

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

A fonte entrevistada foi a professora responsável pela disciplina Ensino Religioso e

Artes. As perguntas da entrevista foram combinadas anteriormente para que, a partir de sua

fala, pudéssemos abordar a temática do carnaval no prisma do conhecimento popular e do

conhecimento científico. As questões abordadas seguiram o roteiro base criado pelo

pesquisador, disponível no Apêndice D.

Seis entrevistas ocorreram nas semanas do sexto e do sétimo encontro, respectivamente

entre a segunda-feira, dia 20 de maio de 2019 e a terça-feira, dia 28 de maio de 2019. Foram

organizadas e executadas de forma independente pelos educandos, que escolheram as fontes

entrevistadas, horário e o local de aplicação (ver Imagem 09).

As orientações para o procedimento se deram a partir da iniciativa para a atividade

complementar extensiva apresentada no quinto encontro, no qual, como informado

anteriormente, os educandos deveriam (de forma individual, duplas ou trios) realizar uma

entrevista com um adulto morador da comunidade, tendo como ponto inicial o seguinte

questionamento: o que você pode falar sobre o carnaval em São José de Solonópole?

Page 94: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

93

Rememoramos que foi a partir da questão inicial que os educandos desenvolveram o

procedimento de entrevista, mas tiveram como suporte para outras perguntas o roteiro base

criado pelo pesquisador. Conforme caracterizado no quadro abaixo, treze adolescentes

realizaram a atividade complementar extensiva, distribuídos em sete entrevistas. Porém, por

questões técnicas ligadas à qualidade do áudio captado em uma delas, seis foram aproveitadas

para estarem no audiodocumentário. Para maiores detalhes acerca dos entrevistados pelos

participantes da nossa pesquisa de aplicação, veja o quadro a seguir.

Quadro 04 - Descrição geral das entrevistas realizadas pelos educandos de forma independente

Entrevistador

Entrevistado

Local da entrevista

Uso no Audiodoc.

Dois educandos

Professora do Ensino

Infantil

Residência da fonte entrevistada

Está no Audiodoc.

Dois educandos

Comerciante de

produtos variados

Estabelecimento comercial da

fonte entrevistada

Está no Audiodoc.

Dois educandos

Professora do Ensino

Infantil

Residência da fonte entrevistada

Está no Audiodoc.

Um educando

Dona de casa

Residência da fonte entrevistada

Está no Audiodoc.

Dois educandos

Agricultora

Aposentada

Residência de um dos

entrevistadores

Está no Audiodoc.

Três educandos

Professor de

Matemática do Ensino

Fundamental e do

Ensino Médio

Dependências da EEIEF

Mundoca Moreira

Está no Audiodoc.

Um educando

Agricultor

Residência da fonte entrevistada

Não está no Audiodoc.

Fonte: Autor da pesquisa (2019).

Ressaltamos que essas entrevistas foram pensadas para acontecerem com essa

configuração a fim de garantir a autonomia e incentivar a proatividade, criatividade e senso de

planejamento dos educandos na execução do procedimento. O valor educativo está na

ampliação dos espaços das práticas de ensino e espera-se aprendizagens por intermédio de

relações dialógicas para promoção do empoderamento comunicativo dos sujeitos

entrevistadores e entrevistados.

Apoiados na problemática geral do audiodocumentário, os atores sociais envolvidos no

processo puderam, juntos, refletir e expressar suas percepções e sentimentos sobre a realidade

sociocultural da comunidade em que estão inseridos. Nesse ponto, as ideias de Vygotsky se

materializam, pois “a interação social, seja diretamente com outros membros da cultura, seja

Page 95: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

94

através dos diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a matéria-prima

para o desenvolvimento psicológico do indivíduo” (OLIVEIRA, 1997, p. 38).

Imagem 09 - Adolescentes realizando procedimento de entrevista

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

Das onze entrevistas inseridas no audiodocumentário, três ocorreram na mesma semana

do sexto encontro, respectivamente no sábado, dia 25 de maio de 2019, e foram planejadas para

serem executadas em um único dia, na casa das respectivas fontes de informações, que foram:

um músico, uma professora de história do Ensino Fundamental e Ensino Médio e um

representante comercial, todos moradores de São José de Solonópole.

Infelizmente, neste dia, as entrevistas foram realizadas apenas pelo pesquisador, pois

três dos adolescentes da equipe de entrevista, que se comprometeram a estarem no dia, hora e

local previamente definidos, não compareceram para realização do procedimento. Justificaram

a sua ausência afirmando terem que ajudar os pais em tarefas de casa. Diante do imprevisto,

para não desrespeitar o acordo com as fontes e pôr em risco o cronograma da pesquisa, acordado

com as instituições proponentes, realizamos a entrevista, tomando como guia as perguntas do

roteiro base.

Sobre esta situação, elucidamos que nenhum plano está livre de falhas. O processo

pedagógico se constrói pela reflexão das ações e sobre as ações, sejam as que deram certo ou

as que apresentaram dificuldades. Por isso as pesquisas educacionais, principalmente aquelas

de natureza interventiva, precisam considerar que cada etapa de sua aplicação deve ser

entendida como um processo dinâmico e de readequação. Nesse sentido, como explica Freire

(2002, p. 17), a prática educativa intencional se transforma qualitativamente quando “envolve

o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”.

O inesperado nos fez refletir e avaliar que não conseguimos estimular o engajamento

dos educandos para participação na atividade porque há fatores que extrapolam a nossa atuação,

como as necessidades e demandas que surgiram nas famílias desses adolescentes, o que

Page 96: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

95

expressa sentimentos de responsabilidade para com a família. Percebemos, assim, que quando

se trata de viabilizar estratégias pedagógicas fora do contexto da sala de aula, as influências

externas podem saltar ao controle do educador de maneira mais fácil. Nos ambientes exteriores

os riscos são maiores, ainda que normais, porque não transparecem ao adolescente, na mesma

proporção, a concepção histórica da sala de aula, isto é, as “regras, saberes e inclusive

hierarquias que lhes são peculiares” (CARVALHO, 2013, p. 94).

Por fim, uma última entrevista adicionada ao audiodocumentário foi decorrente da

pesquisa sonora/audiovisual, que encontrou um relato disponibilizado publicamente na

plataforma Youtube. Assim, obteve como resultado um depoimento em formato audiovisual

que traz dados históricos sobre o tema do carnaval em São José de Solonópole e é de autoria do

coordenador de uma unidade do Serviço Social do Comércio (SESC), que também atua como

colaborador do carnaval na região. No trabalho de edição/montagem o material passou pela

conversão para o formato em áudio.

8º) O oitavo encontro da oficina ocorreu na ACRMF, em uma quinta-feira, das 15h às

17h do dia 6 de junho de 2019. Foram utilizados como materiais e recursos o kit com materiais

padrão. Esse foi o derradeiro encontro que encerrou o ciclo da oficina com a vigésima quinta

e última atividade que foi a de lançamento do audiodocumentário.

Antes do lançamento detalhamos aos participantes como correu os passos finais para o

fechamento do procedimento de edição/montagem e apresentamos oficialmente o logotipo de

representação simbólica do produto, até então restrito à equipe geral de produção. O processo

de finalização foi a revisão do produto, sua unificação em um único arquivo

(exportação/renderização) e o envio, também chamado de upload, para o meio em que foi

veiculado, neste caso, para as plataformas digitais Youtube e Soundcloud, a primeira para

armazenamento e compartilhamento de conteúdo audiovisual e a segunda para conteúdo

exclusivamente sonoro.

Feitas essas últimas considerações sobre os procedimentos técnicos, estava pronto para

o lançamento o audiodocumentário “Carnaval em São José de Solonópole - A tradição no

interior do Ceará”, que possui 00:39:54 de duração.

Participaram da atividade de lançamento trinta e um educandos, a educadora que cedeu

a disciplina Ensino Religioso e Artes para a realização da pesquisa de aplicação, a diretora e

uma servidora da EEIEFMM e a presidente da ACRMF. O único educando ausente justificou

sua falta por se encontrar enfermo. O momento do lançamento está representado pela Imagem

10, a seguir.

Page 97: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

96

Imagem 10 - Lançamento do audiodocumentário

Fonte: Arquivo do autor da pesquisa (2019).

A etapa de lançamento é importante por seu significado passional, pois gera efeito

positivo na autoestima dos produtores e expectativa nos ouvintes receptores. Em projetos de

Educação pela Comunicação, o produto dá publicidade, reflete e consolida a qualidade do

processo, pois quando atende qualitativamente às expectativas de “conteúdo, técnica, estética e

aplicabilidade é um indício de que” os educandos criadores “desenvolveram-se em todas as

dimensões esperadas e que o material está pronto para cumprir a sua função de educar e/ou

mobilizar novos grupos” (CIPÓ - COMUNICAÇÃO INTERATIVA, 2011, p. 25).

Além disso, quando a temática é trabalhada de forma aprofundada, envolvendo

características de interesse coletivo da comunidade onde se realizou, como é o caso do carnaval

para o distrito de São José de Solonópole, o produto transcende à mera concepção de peça

comunicacional para se tornar material simbólico compartilhado. Não podemos esquecer que

“as sensações que o receptor experimenta ao ouvir documentários sonoros podem levar a uma

mudança de pensamento ou atitude em relação a um assunto, e a uma maior conscientização

sobre ele [...]” (LECHUGA OLGUÍN, 2015, p. 91).

Salientamos que por questões de espaço e logística de deslocamento, o lançamento não

contou com a participação de muitas pessoas externas à produção, mas que colaboraram direta

ou indiretamente neste processo, salvo as representantes institucionais mencionadas. O não

envolvimento com o público geral da EEIEFMM, enquanto instituição escolar parceira da

pesquisa, deu-se pela incompatibilidade de horários com as aulas das outras disciplinas

simultaneamente ocorrendo, visto que o produto possui longa duração. No entanto, após a

finalização do encontro, o produto ficou disponível na internet com o intuito de ser

compartilhado pelos produtores com toda a comunidade ou qualquer interessado em conhecê-

lo.

Após a exibição, houve o momento para considerações finais dos educandos sobre as

etapas de produção do audiodocumentário e sobre o projeto em sua totalidade, que

Page 98: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

97

demonstraram os sentimentos de satisfação, mesmo que em algumas etapas específicas do

processo tenham apresentado dificuldades.

Segundo eles, o ponto mais produtivo da experiência se remeteu à abertura para o novo,

a ruptura com a normalidade das estratégias de ensino e aprendizagem e a inclusão da

tecnologia como recurso para interação coletiva. Ressaltaram a importância de olhar para as

questões que estão na comunidade ao redor da escola, ou seja, a ideia de transposição dos seus

muros para redescoberta do conhecimento que flui cotidianamente em uma rede de interações

simbólicas entre o popular e o científico, entre as diversas experiências sociais coletivas e as

ações estruturadas no ambiente educativo.

Como maior desafio, destacaram a dificuldade inicial de enxergar o aparelho

smartphone como uma ferramenta educativa e não um como um instrumento de lazer. Alguns

reconheceram que por isso não tiveram um engajamento ativo nas atividades, mesmo possuindo

abertura dialógica para isso. Reclamaram com maior veemência acerca da falta de tempo para

poderem explorar mais ações junto à comunidade, durante o horário da aula e sob orientação

do pesquisador. Avaliaram que embora as atividades extensivas fossem atraentes, não eram

realizadas por todos porque quando estavam em casa se mostravam mais interessados em outras

coisas, como utilizar o smartphone para realizar comportamentos sedentários.

Em relação às questões específicas sobre as características do audiodocumentário e da

linguagem radiofônica, ressaltaram que viram muitas das etapas como momentos de

descontração e para proposição de desafios. Falaram sobre a importância de entender a

comunicação como ferramenta de poder e de transformação da realidade. Destacaram a maior

aproximação com a cultura local por via da temática do carnaval e demonstraram um sentimento

coletivo de orgulho pela criação do produto.

Por outro lado, disseram ter tido dificuldades para assimilar a complexidade dos termos

estudados e, que somente aos poucos, com o auxílio das atividades complementares e

extensivas, puderam compreender do que realmente se tratava a ideia de sensorialidade como

um elemento para o desenvolvimento da imaginação, pensamento criativo e favorecimento da

expressão comunicativa. Daí a importância do desafio, da interação simbólica com os

educandos para mediar um processo dessa natureza.

As representantes institucionais da ACRMF e EEIEFMM direcionaram suas falas para

exaltar a importância da integração entre espaços educativos formais e não-formais e o valor

social, histórico e cultural dos temas abordados, com o destaque para o carnaval, símbolo

máximo da cultura local.

Page 99: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

98

Por fim, teceram agradecimentos e avaliaram positivamente o projeto em sua dimensão

geral, dando destaque à interatividade e à transdisciplinaridade do processo e à qualidade

estética do produto, com seu valor passional enquanto instrumento para expressão comunicativa

popular e comunitária. O encontro foi finalizado com uma confraternização surpresa promovida

pelas representantes da EEIEFMM, que levaram comida e bebida disponíveis para a

alimentação de todos os presentes.

A seguir, no próximo capítulo, trazemos a codificação e análise das entrevistas por

pautas realizadas com os sujeitos da pesquisa, sendo o procedimento de interpretação e

inferência conduzidos pelo método da Análise de Conteúdo, especificamente a técnica de

análise categorial temática.

Page 100: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

99

5 CODIFICAÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS COM OS EDUCANDOS

As considerações que faremos nesse capítulo versam sobre o processo de análise de

conteúdo das entrevistas por pautas realizadas com os educandos, sujeitos da pesquisa de

aplicação. Como descrito no início desta dissertação, ao apontarmos o percurso metodológico,

aplicamos a técnica de análise categorial temática.

Recordamos que as entrevistas foram feitas com dezesseis dos trinta e dois sujeitos em

amostragem aleatória simples e aconteceram nos dias 9, 16, 23 e 30 de maio de 2019, na

ACRMF. O local e a duração média das entrevistas (quinze minutos para cada uma) atenderam

às condições de comodidade e logística dos educandos, sendo realizadas após o término das

atividades dos encontros, às 17h.

Os educandos da zona rural esperavam o término das aulas do Ensino Médio que se

encerravam por volta das 17h40min, uma vez que compartilhavam do mesmo transporte

coletivo para chegar em casa. Dessa forma, a ordem das entrevistas priorizou o educando da

zona rural em detrimento da urbana, visto que este último poderia esperar, por morar no entorno

do local que centralizou a intervenção. Felizmente, as combinações de sorteio da amostragem

aleatória simples permitiram que as entrevistas fossem realizadas no tempo hábil, sem prejuízos

à sua execução.

As entrevistas foram orientadas por um roteiro com cinco pautas e cinco perguntas

geradoras pré-definidas, organizadas conforme as necessidades investigativas inerentes aos

objetivos da pesquisa. Lembramos que na entrevista por pautas “o entrevistador faz poucas

perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que refere às pautas

assinaladas. Quando este se afasta delas, o entrevistador intervém, embora de maneira

suficientemente sutil, para preservar a espontaneidade do processo” (GIL, 2008, p. 112).

A elaboração das pautas e das perguntas geradoras foi pensada numa estreita afinidade

com o posterior processo de categorização temática, sendo guiada por pontos de interesse

específicos e com as pautas mantendo ordem de estruturação e relação entre si. O roteiro

utilizado na entrevista manteve a seguinte estruturação:

• Pauta 01 – Importância do som para a construção de uma narrativa midiática

Pergunta: depois de termos conversado sobre a importância do som para a construção

das narrativas midiáticas, como você enxerga o papel dele no seu cotidiano e nas

produções que estamos realizando?

Page 101: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

100

• Pauta 02 – Características da produção educativa com audiodocumentário

Pergunta: na sua opinião, a produção educativa com audiodocumentário está ajudando

você a aprender novos conteúdos, como sobre o carnaval, por exemplo?

• Pauta 03 – Sensorialidade

Pergunta: considerando o que você entendeu por sensorialidade, você acha que as etapas

de produção do audiodocumentário estão ampliando a sua capacidade criativa e

imaginativa? Por quê?

• Pauta 04 – Expressão comunicativa

Pergunta: a produção educativa com audiodocumentário está ajudando você a expressar

suas opiniões de maneira mais confortável? Fale um pouco sobre os encontros e como

você se sente ao expor suas ideias para a turma.

• Pauta 05 – Relações dialógicas

Pergunta: no seu entendimento, durante os encontros todos estão tendo a mesma

oportunidade de expor a sua opinião? Fale sobre como você percebe as relações criadas

durante o processo de produção do audiodocumentário, tanto com seus colegas como

com o pessoal da comunidade.

Necessitamos deixar claro que as categorias de análise foram definidas somente após a

coleta dos resultados obtidos por meio das entrevistas, assim como após a transcrição e a

subsequente pré-análise, sendo aplicada a leitura superficial e a organização do material

submetido à codificação. As dezesseis entrevistas foram nominalmente dispostas seguindo

atribuição da respectiva quantidade de respondentes, isto é, Respondente-01, Respondente-02,

Respondente-03... Respondente-16.

No trabalho de codificação que realizamos com auxílio do software MAXQDA (2019)

determinamos quatro categorias principais seguidas de duas subcategorias e a unidade de

registro temática vinculada. Além disso, quantificamos a frequência total de cada categoria e

demostramos a quantidade e porcentagem dos segmentos codificados de cada subcategoria.

O critério de quantificação simples nos permitiu verificar qual registro teve maior

relevância em relação ao tamanho da amostra, isto é, a quantidade de respondentes. Todo o

Page 102: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

101

trabalho de codificação buscou direta conexão com os objetivos da pesquisa e suas questões

norteadoras. Para maiores detalhes observar a Tabela 01, a seguir.

Tabela 01 - Descrição geral das categorias, subcategorias e suas características

Categoria

Subcategoria

Unidade de Registo

Segmentos

Codificados /

Porcentagem

Freq.

Total da

Categoria

Estratégia

de Ensino

Ensino Ativo

Promove o ensino ativo

08 / 13,33%

26,66%

Prática Pedagógica

Inovadora

É entendida como

prática pedagógica

inovadora

08 / 13,33%

Sensorialidade

Imaginação e

Pensamento Criativo

Favorece a imaginação e

o pensamento criativo

10 / 16,67%

25,00%

Percepção do Mundo

Estimula a afetividade, a

emoção e a percepção

do mundo

05 / 08,33%

Expressão

Comunicativa

Representações

Culturais

Oportuniza o contato

com representações da

cultura local

06 / 10,00%

21,67%

Empoderamento

Viabiliza o

empoderamento

comunicativo a partir

da expressão de valores

individuais e coletivos

07 / 11,67%

Relações

Dialógicas

Diálogo Democrático

Possibilita o diálogo

democrático

09 / 15,00%

26,67%

Trabalho Coletivo

Valoriza o trabalho

coletivo

07 / 11,67%

Fonte: Autor da pesquisa (2019).

A partir do exposto na tabela acima realizaremos a descrição conceitual e interpretação

dos dados obtidos na categorização, onde detalhamos a unidade de contexto utilizada para

caracterizar a unidade de registro, ou seja, o segmento literal da mensagem, que no nosso caso

é o parágrafo/frase com a transcrição das falas dos entrevistados. Assim, nesta etapa é onde

descrevemos o movimento de inferência, que relacionou as proposições da análise categorial

temática com o percurso teórico e metodológico do objeto de estudo e as nossas próprias

percepções como analista do problema de pesquisa (RICHARDSON, 2012).

Page 103: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

102

5.1 Análise da categoria Estratégia de Ensino

A categoria Estratégia de Ensino contempla situações que caracterizam o processo de

produção do audiodocumentário enquanto prática pedagógica. Sendo a segunda categoria mais

citada pelos respondentes, representa 26,66% na frequência total dos registros categorizados,

dando origem a duas subcategorias: Ensino Ativo (a estratégia promove o ensino ativo) e Prática

Pedagógica Inovadora (a estratégia é entendida como prática pedagógica inovadora).

A problemática que norteou a escolha dessa categoria partiu da concepção de que a

produção educativa com audiodocumentário, fundamentada nos pressupostos da Educação pela

Comunicação, oportunizou a mescla entre atividades tradicionais da sala de aula e processos de

interação, ativos, dinâmicos e “mais abertos, como os que acontecem nas redes sociais, onde há

uma linguagem mais familiar, uma espontaneidade maior, uma fluência de imagens, ideias e

vídeos constante” (MORAN, 2015, p. 16).

Nos anos finais do Ensino Fundamental, os educandos “se deparam com desafios de

maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferentes lógicas

de organização dos conhecimentos” (BRASIL, 2017, p. 60). Por esse motivo, é importante a

transdisciplinaridade no ensino, para que os adolescentes ampliem seu repertório de

significados e fortaleçam sua autonomia no cumprimento das tarefas. Para tanto, é preciso uma

estratégia de ensino eficiente que lhes ofereça “condições e ferramentas para acessar e interagir

criticamente com diferentes conhecimentos e fontes de informação” (BRASIL, 2017, p. 60).

Nesse sentido, o conteúdo das unidades de contexto, vinculadas à subcategoria de

Ensino Ativo, demonstra que os educandos valorizaram a aprendizagem na prática, a contar do

seu envolvimento com elementos da cultura midiática e com a execução de atividades mais

complexas relacionadas aos procedimentos de elaboração do audiodocumentário.

Aí nós tamo se “botando” pra fazer, porque você explica, mas quando tem que

ir pros canto só a gente, aí que tamo se “botando”. Às vezes dá errado e a gente

tem que se virar mesmo, mas é assim mesmo ou num aprende

(RESPONDENTE-06, 16 mai. 2019).

O audiodocumentário é muito importante porque ele nos ajuda muito mais no

ambiente, na verdade, são as atividades que a gente faz pra conseguir o

audiodocumentário (RESPONDENTE-08, 16 mai. 2019).

Então a gente, quando tem que fazer nós mesmos, vai aprendendo e falando

mais (RESPONDENTE-15, 30 mai. 2019).

Page 104: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

103

Ajuda bem sim, pra ser ativo né. Para entender melhor as coisas e como

funciona o áudio. Aí por ter que fazer a gente se movimenta pra ver feito

(RESPONDENTE-12, 23 mai. 2019).

Assim como Libâneo (2005, p. 16), podemos inferir que as exigências pedagógicas de

um mundo em mudança, solicitam que o ambiente educativo capacite os sujeitos para

resolverem desafios com autonomia e responsabilidade. Portanto, a dimensão do ensino deve

buscar fazer com que os educandos desenvolvam “capacidades cognitivas para se apropriar

criticamente dos benefícios da ciência e da tecnologia em favor do seu trabalho, da sua vida

cotidiana, do seu crescimento pessoal”.

Diante disso, o conteúdo das unidades de contexto, vinculadas à subcategoria de Ensino

Ativo, detalham que a produção educativa com audiodocumentário possibilitou estruturar

conceitualmente as características da linguagem radiofônica. O objetivo foi fazer com que os

adolescentes, partindo da exploração de uma temática central de interesse comunitário,

experimentassem-na por meio do entrecruzamento com outras linguagens midiáticas, sendo,

desta forma, estimulados à reflexão e ao desenvolvimento crítico acerca da multiplicidade de

usos das TDICs e dos formatos comunicacionais que delas derivam (texto, imagem, áudio e

vídeo).

Os áudios e também aqueles vídeos lá explicando como é que faz o

audiodocumentário são interessantes, porque tão fazendo com que a gente se

mexa. Vem sendo algo criativo. Acho bem criativo isso aí (RESPONDENTE-

05, 16 mai. 2019).

Então, é aprender também a ouvir e fazer alguma coisa. Aprender para fazer

o audiodocumentário (RESPONDENTE-10, 23 mai. 2019).

A pessoa já fica sabendo como mexer nos meios de comunicação, vai

descobrindo sobre as coisas, o carnaval que é o que tamo estudando, as coisas

que tão acontecendo e que não acontecem porque não sabemos como

funciona. Pra mim é... acho que é a importância do conhecimento, o

conhecimento que vem (RESPONDENTE-11, 23 mai. 2019).

A gente vai aprendendo mais e vai lembrando daquelas coisas e vai fazendo

em casa, praticando as aulas, tudo em casa que dá para a gente fazer em casa.

Se a gente for tentar podemos fazer sozinhos depois (RESPONDENTE-13, 30

mai. 2019).

Os educandos destacaram a apropriação das diversas linguagens de comunicação: “os

áudios e também aqueles vídeos lá”, “a pessoa já fica sabendo como mexer nos meios de

comunicação”, “então é aprender também a ouvir e fazer alguma coisa”. Essa concepção é

importante, por isso, como destacamos anteriormente, as etapas de produção educativa com

Page 105: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

104

audiodocumentário não foram planejadas de modo a apontar uma supervalorização do áudio

em detrimento a outras linguagens, mas destacar o papel positivo da linguagem radiofônica

perante a sociedade da imagem.

O processo de integração multimidiática criou um ambiente transdisciplinar que

alcançou as necessidades de diferentes áreas do conhecimento. Assim, para “tirar proveito dos

benefícios que as mídias digitais têm a oferecer, é preciso entender a lógica e a linguagem de

cada uma delas, assim como desenvolver a competência de interpretá-las” (ANDRELO;

ALMEIDA, 2015, p. 110).

Com relação ao entendimento de que o processo de produção de um audiodocumentário

se constitui como uma prática pedagógica inovadora, os educandos compreenderam a proposta

como uma ação de rompimento com um padrão de ensino e aprendizagem, que, segundo eles,

estabelecia-se como comum e rotineiro. Podemos dizer, portanto, que a estratégia se consolidou

como um processo que gerou uma nova concepção educativa com objetivo de abrir a sala de

aula para o seu entorno e vice-e-versa (LIBÂNEO, 2006; MORAN, 2015; NOGARO;

BATTESTIN, 2016).

Percebemos que essa inferência faz sentido quando analisamos as unidades de contexto

vinculadas à subcategoria Prática Pedagógica Inovadora.

Muda o cotidiano né, até porque tamo fazendo algo diferente do que tamo

acostumado (RESPONDENTE-15, 30 mai. 2019).

Ajudou a quebrar a rotina de aula todo dia, aula todo dia, é muito chato. É

bom aprender coisas novas que vão ajudar muito no meu futuro e tal. Vai

ajudar a eu me comunicar mais e tal. As atividades foram criativas e legais

porque foi uma coisa bem nova pra todo mundo, porque nós nunca tínhamos

saído de sala de aula para fazer esse tipo de coisa (RESPONDENTE-14, 30

mai. 2019).

É importante, de certa forma. Porque, assim, a gente que nunca estudou sobre

isso.... por causa que, assim, na escola nunca teve isso. Aí agora é uma

novidade pra gente, uma nova forma de aprender as coisas que a gente não

sabia que tinha, que o celular pode ajudar (RESPONDENTE-01, 09 mai.

2019).

Que nós nunca nem tinha visto isso de áudio na escola. Nunca tinha tido a

ideia de construir algo em áudio. É bom porque nós tem mais aprendizagem

com uma coisa nova. Nós nunca tinha tido isso e na oficina nós tamo

aprendendo bem, porque nós nunca tinha mexido com coisa de vídeo e muito

menos de audiodocumentário (RESPONDENTE-06, 16 mai. 2019).

Podemos inferir, com base na fala dos respondentes, que o sentido de inovação da

prática pedagógica não está na mera presença das TDICs no ambiente educativo, mas em como

Page 106: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

105

utilizá-las para o desenvolvimento de atividades de interação e ação, individuais ou em grupo.

Até porque em seu cotidiano, os adolescentes estão a todo o instante em contato com os seus

smartphones para diversos fins (AGUADED-GÓMEZ, 2005).

Compreende-se, então, a partir das análises sobre as unidades de contexto vinculadas à

subcategoria Prática Pedagógica Inovadora, que as ações pedagógicas não devem colocar as

TDICs como somente meros suportes tecnológicos ou instrumentos para automatização de

processos, mas também como recursos com suas próprias linguagens, lógicas de interatividade

e “maneiras particulares de comunicar-se com as capacidades perceptivas, emocionais,

cognitivas, intuitivas e comunicativas das pessoas” (KENSKI, 2009a, p. 19).

Meus colegas de classe ficaram felizes que a aula seria de celular e tecnologia

(RESPONDENTE-08, 16 mai. 2019).

Tem sido interessante estudar dessa forma pela novidade, porque pode usar o

celular pra uma coisa, que assim, a gente não usa em casa nem na escola

(RESPONDENTE-04, 09 mai. 2019).

O que nós tamo produzindo é diferente e importante pra saber sobre o carnaval

e sobre como a gente tem que usar o smartphone para vê o mundo com melhor

aprendizado (RESPONDENTE-10, 23 mai. 2019).

A oficina é legal e a gente aprendeu bastante e melhorou por conta de aprender

a editar coisas e a mexer no celular para gravar áudios (RESPONDENTE-13,

30 mai. 2019).

A inovação está intrínseca às atitudes dos educandos, que ao se apropriarem das TDICs

para produção do audiodocumentário, alteraram seus comportamentos como receptores

passivos, para saltarem à condição de produtores, saírem da zona de comodidade e irem ao

confrontamento com “questões problematizadoras que exigem concentração, velocidade,

disciplina, comunicação, trabalho em equipe (co-elaboração), decisão, participação ativa, além,

e claro, da necessária fluência tecnológica dos envolvidos” (KENSKI, 2015, p. 148).

5.2 Análise da categoria Sensorialidade

Essa categoria contempla situações que caracterizam o processo de produção do

audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a sensorialidade. Sendo a

terceira categoria mais citada pelos respondentes, representa 25,00% na frequência total dos

registros categorizados, dando origem a duas subcategorias: Imaginação e Pensamento Criativo

Page 107: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

106

(a estratégia favorece a imaginação e o pensamento criativo) e Percepção do Mundo (a

estratégia estimula a afetividade, a emoção e a percepção do mundo).

Trabalhar etapas educacionais para favorecimento da sensorialidade é adentrar nas

características intrínsecas à linguagem radiofônica, à capacidade que a matéria sonora tem para

estimular a imaginação e o pensamento criativo. Como relata Abreu (2016, p. 216), são as

proposições sensoriais da representação radiofônica que capturam a atenção e a consequente

interação do sujeito com a mensagem, pois no “rádio, o belo é absolutamente singular [...].

Imaginar as características físicas das personagens através da voz e da paisagem sonora

estimula o sonho e libera a criatividade”.

Além disso, a mensagem radiofônica “tem uma comunicação funcional, cuja semântica

gera o intercâmbio de ideias, conceitos e relações entre indivíduos, mas ao mesmo tempo,

surpreende, emociona, excita a sensibilidade do ouvinte” (BALSEBRE, 2005, p. 335).

Mediante o exposto, ao analisarmos o conteúdo das unidades de contexto vinculadas à

subcategoria Imaginação e Pensamento Criativo, entendemos que a produção educativa com

audiodocumentário fez com que os educandos entendessem a importância da linguagem

radiofônica perante a sociedade da imagem e ampliassem sua capacidade imaginativa e criativa

em relação aos conteúdos estudados e à sua bagagem cultural.

Sensorialidade é imaginar como as coisas podem ser. Tipo assim, porque na

sociedade né, que estamos vivendo, onde tudo é celular, tudo vem pronto, aí

é importante desenvolver mais o pensamento e a criatividade e tal

(RESPONDENTE-14, 30 mai. 2019).

O jeito de pensar ficou diferente porque a gente via de outro modo e a partir

das aulas a gente passou a vê imaginação de outra maneira que não sabíamos,

de maneira diferente, né (RESPONDENTE-15, 30 mai. 2019).

Porque nós tamo aprendendo a pensar mais e tal. Porque a gente tem mais

aprendizagem e imaginação e tudo mais. Nos audiodocumentários a gente

pode se tornar tudo que quiser. Em som, entendeu? Todos os sons a gente pode

criar um universo e tudo mais (RESPONDENTE-06, 16 mai. 2019).

A produção tá me ajudando muito na minha capacidade criativa e para

imaginar. Tipo, porque quando eu fecho os olhos eu imagino. Tô ouvindo um

áudio, ouvindo alguma coisa de audiodocumentário, e se for uma história eu

fecho os olhos e fico imaginando tudo aquilo que tão falando, uma pessoa,

seja lá quem tá falando. Porque na minha mente eu fecho os olhos e já penso

várias coisas, já imagino várias coisas (RESPONDENTE-10, 23 mai. 2019).

Assim, o que eu posso dizer é que a imaginação que a gente tá desenvolvendo

é a nossa habilidade de criar imagens, ideias e até sentimentos que tão na nossa

memória. Tipo, com a criatividade temos... assim, podemos transformar o que

Page 108: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

107

pensamos para aprender. Para mim, isso é ser criativo e isso é a sensorialidade

(RESPONDENTE-08, 16 mai. 2019).

As imagens formadas por vivências interiores competem diariamente com as imagens

que são visíveis aos olhos humanos, aquelas disseminadas pela replicação audiovisual. Todavia,

as internas ainda possuem enorme força, pois, perceba que “enquanto falo, gero imagens na

minha mente. E estas imagens e a minha fala transportam imagens a cada um de vocês que, por

sua vez, geram as suas próprias imagens a partir dessa fala. As imagens internas nos fizeram,

afinal, seres de cultura” (BAITELLO JUNIOR, 2007, p. 78-79).

Favorecer a sensorialidade é ir além da imposição de uma sociedade da imagem, de uma

época da visualidade e da efemeridade, onde tudo é provisório, instantâneo e trivialmente

passageiro. As unidades de contexto vinculadas à subcategoria Imaginação e Pensamento

Criativo mostraram que os educandos entenderam as imagens sonoras como uma expansão do

mundo real, que quando transformadas pelas nuances individuais rompem com a cronologia do

tempo (BAITELLO JUNIOR, 2007; DEL BIANCO, 2012).

Tipo a pessoa fica imaginando como se tivesse lá, nas histórias. Faz você

pensar se é bom ou ruim, se é feliz ou causa alguma coisa negativa. É

importante pras pessoas escutar as coisas, melhor para você imaginar e

entender melhor as coisas. Aí eu lembro como se eu tivesse lá em cada história

né. Quando é algo que eu não conheço eu tento formar um local pensando

como se fosse, como se nesse momento eu tivesse lá (RESPONDENTE-12,

23 mai. 2019).

Assim, nos trabalhos às vezes eu imagino e as vezes relaciono à uma coisa

que eu já vi. Depende muito do que a gente tá falando. Às vezes fico sem

entender porque não sei o que é que tá falando, aí tem que pensar em algo que

seja mais próximo (RESPONDENTE-02, 09 mai. 2019).

Porque sensorialidade é ser capaz de imaginar tudo que é possível e

impossível. Tipo assim, escutar tipo uma história sobre uma época bem antiga.

Uma história antiga que não era possível da gente captar nenhuma

visualização. Eu acho isso. É bom pra gente pensar como eram as coisas que

não vimos, acho isso legal, né (RESPONDENTE-04, 09 mai. 2019).

A gente imaginar as coisas através do som. É... tipo assim, se aparece

descrevendo uma pessoa, a gente imagina a pessoa. Descreve o lugar e

imagina o lugar, cria o nosso lugar. Parece muito com ler porque quando eu

lia os livros também eu imaginava, assim, mas o som tem os efeitos que

ajudam a pensar mais, expandir a mente pra imaginar. Eu me concentrei muito

naquela vez com o audiodocumentário dos animais [Os mais perigosos -

Pequenos Assassinos], porque eu já tinha ouvido falar dos dragões

(RESPONDENTE-03, 09 mai. 2019).

Porque... é muito legal audiodocumentário, histórias em áudio, essas coisas.

Porque em áudio estimula a nossa imaginação. Assim, você está escutando

Page 109: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

108

uma coisa e imaginando ao mesmo tempo e isso é muito legal. Tipo, quando

fala do carnaval antigo, quem não sabia vai poder tá lá. Aí ela vai escutando e

imaginando o que tá acontecendo lá, entendeu? (RESPONDENTE-09, 23 mai.

2019).

O tratamento da mensagem sonora beneficiou o ensino e a aprendizagem a partir da

interação dos sujeitos com atividades lúdicas, artísticas e de estímulo a sensorialidade. Nesse

aspecto, o conhecimento se ressignificou fundamentado na transformação dos elementos

culturais que ganharam significados íntimos a cada sujeito, alterando seu modo de ser e de agir,

seja individualmente ou perante o seu grupo social.

Para Del Bianco (2009, p. 2-3), o lúdico, por exemplo, na linguagem radiofônica se

posiciona “como instrumento promotor da alegria, do lazer e da diversão, podendo revelar-se

de forma mais efetiva no passado, associado a agradáveis lembranças de escuta. No sentido

afetivo estabelece uma relação intimista com o ouvinte, permitindo a geração de laços

emocionais”.

Tem-se nesse movimento a transformação de um processo interpessoal em um

intrapessoal, pois ao realizar o exercício mental do imaginar e do pensar criativo, os sujeitos

sempre vão relacionar os conteúdos em destaque com algum elemento que seja mais próximo

de sua vivência. Esse tipo de situação nos permite compreender que a “internalização das

atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto

característico da psicologia humana; é a base do salto quantitativo da psicologia animal para a

psicologia humana” (VYGOTSKY, 1998, p. 76).

Na análise das unidades de contexto vinculadas à subcategoria Percepção do Mundo,

identificamos que explorar a sensorialidade estimula a percepção do mundo de maneira mais

sensível, interagindo com os sentidos que formam o sujeito como ser cultural, aproximando-o

com “a imaginação, as memórias profundas, os mitos, as crenças, as experiências semióticas e

as memórias profundas das vivências, corporais ou espirituais” (BAITELLO JUNIOR, 2008,

p. 12, tradução nossa).

A importância tá porque causa emoção e faz a gente criar as coisas do mundo.

Muitas coisas de diferentes lugares. É legal porque mexe com tudo que a gente

sente e a gente fica mais informado sobre a comunicação, principalmente o

carnaval (RESPONDENTE-03, 09 mai. 2019).

O som é muito importante no cotidiano porque, tipo assim, ele ajuda a dar

sentido às coisas, provoca um sentimento nas história que a gente escuta. Mas

a gente tem que saber diferenciar os assuntos pra saber se são mesmo verdade,

que depende também de quem falou e quando falou. Tipo isso

(RESPONDENTE-09, 23 mai. 2019).

Page 110: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

109

A importância tá para ouvir, escutar as coisas melhor e saber lidar melhor com

os assuntos. Tipo, se a gente sabe como funciona as mídias, é mais fácil para

saber o que acontece. Porque o som está presente em músicas, em filmes,

séries, essas coisas (RESPONDENTE-13, 30 mai. 2019).

Assim, se pensar que tudo que eu faço é uma produção sonora. Tipo, se eu

piso no chão é uma produção sonora, tudo, tudo. Sendo assim o som tá em

tudo que a gente faz, ele nos ajuda a entender tudo que tá em nossa volta, tipo,

tudo mesmo (RESPONDENTE-10, 23 mai. 2019).

Nessas atividades o cara aprende, sinto que eu tô em outro paraíso. O som,

como você disse, é diferente, tipo quando tamo vendo um vídeo, o cara não se

emociona só porque presta atenção no vídeo, a gente também sente a música

e presta atenção na fala do personagem. Você perguntou para [nome do

educando] aí ele não respondeu qual era o sentido da música no vídeo do

cachorro [campanha publicitária Gift] eu sabia e falei depois - música boa:

alegre. Música ruim: tristeza (RESPONDENTE-07, 16 mai. 2019).

Destacamos que a produção educativa com audiodocumentário utilizou a linguagem

criativa da matéria sonora para promover discussões, atividades e dinâmicas que geraram um

ambiente de constante reinterpretação do mundo (LECHUGA OLGUÍN, 2015; DE

BEAUVOIR, 2015), que se deu também pelos procedimentos de experimentação prática para

elaboração do produto radiofônico, colocando os sujeitos como receptores e produtores, ao

mesmo tempo.

O diálogo entre a cultura do ver, com o gigantesco e onipresente universo das

imagens, e a cultura do ouvir pode oferecer um respiro vital a este movimento

de ir e vir. No entanto, como as formas de transmissão sonoras não mereceram

ainda a mesma dedicação das formas de transmissão visuais, isto é, contamos

com fácil acesso a imagens com alta resolução e limitado acesso ao universo

sonoro, é possível que o aperfeiçoamento do tratamento do som, ao lado de

exercícios concretos do ouvir no sentido mais estrito da palavra - ouvir as

coisas e ouvir o outro -, nos possibilitem trânsitos também sonoros nos

interstícios da vida cotidiana e dos diferentes artefatos ou meios de

comunicação (MENEZES, 2012, p. 27-28).

O trabalho estratégico com a linguagem radiofônica, envolvido por processos de

apropriação, construção e desconstrução do conhecimento, desafiou o educando a ouvir e

abstrair sobre os elementos que constituem o seu modo de perceber o mundo. “Tais processos

permitem uma aproximação do homem com as coisas e com os outros homens, ou melhor,

permitem a própria constituição do homem como um animal simbólico, histórico, capaz tanto

de tomar distância como de vincular-se às coisas e aos outros” (MENEZES, 2012, p. 24).

Page 111: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

110

5.3 Análise da categoria Expressão Comunicativa

Essa categoria contempla situações que caracterizam o processo de produção do

audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a expressão comunicativa.

Sendo a quarta categoria mais citada pelos respondentes, representa 21,67% na frequência total

dos registros categorizados, dando origem a duas subcategorias: Empoderamento (a estratégia

viabiliza o empoderamento comunicativo) e Representações Culturais (a estratégia oportuniza

o contato com representações da cultura local).

A natureza teórico-prática da Educação pela Comunicação coloca a ação pedagógica

como instrumento para orientar os educandos a construírem produtos midiáticos que valorizam

as representações culturais e fortalecem a comunicação individual e do grupo social. Contudo,

“não é possível participar ativamente da vida da sociedade global, se não somos capazes de

manejar símbolos, signos, dados, códigos e outras formas de expressão linguística” (CIPÓ -

COMUNICAÇÃO INTERATIVA, 2011, p. 13).

O conteúdo das unidades de contexto vinculadas à subcategoria Representações

Culturais nos permite inferir que o percurso de atividades englobando abordagens de uso

criativo das comunicações orais, linguísticas, sonoras e audiovisuais, potencializadas pelo

desenvolvimento de competências digitais, viabilizou a aproximação dos educandos com o

ambiente imediato das instituições educativas e integração com as estruturas sociais do seu

entorno (GODINEZ GALAY, 2014; FERNANDEZ, 2015).

Eu pensava que o carnaval era só uma festa e pronto. Achava que não tinha

nenhum significado e importância, mas depois das aulas, assim, fui

entendendo melhor a importância, tipo, o povo daqui dá muito valor e isso tem

que ser lembrado por nós também (RESPONDENTE-09, 23 mai. 2019).

A gente gosta de aprender o que conversa. É legal porque não tamo só

estudando as coisas normal, tem hora que falamos de festa, de Free Fire [jogo

virtual com interação on-line] e isso é bom. Como a gente participa de

carnaval, vai aprendendo a falar sobre ele e como é as coisas que acontece

nessa época (RESPONDENTE-13, 30 mai. 2019).

É importante isso porque eu que não participo muito de carnaval posso ter

mais conhecimento sobre ele (RESPONDENTE-08, 16 mai. 2019).

Quando tamo falando de coisas que eu gosto me faz prestar mais atenção

porque tipo... quando falamos de vaquejada eu gostei, foi bom porque eu sabia

falar e meus amigos até disseram umas coisas engraçadas que eu nem tinha

escutado antes [atividade “Mão na Massa”]. Por isso que as vezes depende do

que a gente tá falando, aprendendo (RESPONDENTE-02, 09 mai. 2019).

Tipo, é bom porque tamo vendo sobre algo daqui, é o que a gente vive no

Page 112: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

111

carnaval do nosso distrito e a gente já tem conhecimento da nossa tradição

(RESPONDENTE-06, 16 mai. 2019).

Porque também tem mais sentido falar de coisas que a gente aprende, que é

do nosso cotidiano e que a gente “veve”, do que exemplo, outra que a gente

só imagina e fala, claro que muda né. Assim, a gente cria um mundo mais

criativo e meio que abandona os pensamentos que não tem sentido

(RESPONDENTE-15, 30 mai. 2019).

A apropriação e domínio dos recursos e linguagens midiáticas presentes na produção do

audiodocumentário expandiu o repertório comunicativo dos educandos e forneceu a eles

instrumentos para expressão dos seus sentimentos, opiniões e valores de mundo. Além disso, a

temática do carnaval, relevante para o contexto social, histórico e cultural de São José de

Solonópole, criou relações sociais que foram intercedidas pelo diálogo direto com os moradores

da localidade ou por afetividade com o tema.

Assim, a expressão comunicativa esteve presente na liberdade de manifestação do

pensamento e no exercício da prática pedagógica cooperativa que ampliou “o número dos

sujeitos sociais e políticos preocupados com o reconhecimento prático, no cotidiano da vida

social, do direito universal à expressão e à comunicação” (SOARES, 2014, p. 24).

Já na análise do conteúdo das unidades de contexto vinculadas à subcategoria

Empoderamento, entendemos que as atividades organizadas em etapas contemplando

dinâmicas e exercícios de sensibilização e alfabetização midiática, privilegiaram competências

instrumentais e pessoais para o desenvolvimento da expressão comunicativa.

Os sujeitos, enquanto consumidores e produtores de comunicação e informação, foram

“colocados frente à necessidade de analisar criticamente suas relações com o sistema midiático,

indagando sobre a natureza e o significado das mensagens divulgadas”, além de estimulados a

produzir comunicação para “exercer seu próprio direito de expressão” (SOARES, 2016, p. 21).

O povo que mora aqui eles deveriam ouvir mais audiodocumentários porque

eles não ouvem. Mas tipo se usar assuntos que interessa pra eles aí as pessoas

gostam de falar. Acho que eles deveriam ter mais caracterização para ouvir o

audiodocumentário, mais chances que nem aqui, a gente. É muito forte a

importância é grande, eu não sei nem explicar direito porque é difícil falar,

mas é sobre mesmo poder dizer algo que nem sempre alguém se interessa

(RESPONDENTE-10, 23 mai. 2019).

Tipo, é bom porque pra gente é uma nova forma de saber do que tá

acontecendo no nosso lugar e... falar sobre as coisas do nosso lugar

(RESPONDENTE-01, 09 mai. 2019).

Através do audiodocumentário existem as entrevistas que eu gostei de fazer e

os assuntos e também o questionamento que você propõe em um

Page 113: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

112

documentário é importante, como o carnaval daqui do lugar

(RESPONDENTE-08, 16 mai. 2019).

Aí nas entrevistas que fizemos acho muito legal porque as pessoas podem

expressar suas opiniões, que a minha opinião não vai ser igual as outras. Acho

muito importante porque as pessoas vão saber qual a realidade daqui do povo

de São José. Tipo, se eu que não tinha tanto conhecimento sobre carnaval, a

falta de água e essas coisas, aí... eu acho que fazer tudo que estamos fazendo

vai ser bom pra aprender a conhecer e para divulgar o lugar

(RESPONDENTE-09, 23 mai. 2019).

Tem também a importância de falar sobre o carnaval porque é uma cultura

nossa, já e é um evento que acontece com muita paz e não tem brigas nem

confusões (RESPONDENTE-13, 30 mai. 2019).

É importante falar um pouco mais sobre o carnaval. É bom falar sobre isso, é

bem mais legal porque fica mais interessante. Sabe, porque você vive e todo

ano está acontecendo ali e você está por dentro (RESPONDENTE-14, 30 mai.

2019).

Porque igual os produtos que você mostrou, tipo o audiodocumentário tá

falando das coisas daqui. Aí pra quem é daqui tem importância, igual pra quem

participou daqueles que você mostrou daqui [peça sonora “Minha voz tem

vez”] (RESPONDENTE-16, 30 mai. 2019).

As etapas de produção do audiodocumentário colocaram o smartphone como

instrumento de acesso popular capaz de realizar produções comunicacionais utilizando recursos

de fácil manuseio e com baixo custo financeiro. Isso porque empoderamento comunicativo

perpassa inicialmente pelo desenvolvimento de habilidades técnicas para uso das TDICs,

domínio de sua linguagem e formatos, seguido pela tomada de consciência sobre o papel da

comunicação na sociedade, com especial atenção para a capacidade que os produtores de

conteúdo têm para utilizar as mídias como ferramenta de influência e transformação de

realidades (CIPÓ - COMUNICAÇÃO INTERATIVA, 2011).

Tendo desenvolvido as competências técnicas e cognitivas, os sujeitos atuaram na

dimensão da participação social, onde os objetivos da produção educativa se basearam em uma

noção de ensino e aprendizagem a partir da construção e difusão de produtos comunicacionais

que refletiram interesses pessoais e as experiências socioculturais.

Sobre isto, como enfatizamos em Silva e Silva (2019, p. 115):

Educadores e educandos estando com um simples aparelho smartphone em

mãos, mobilizados por um problema ou temática de interesse coletivo e

motivados a explorar as possibilidades criativas do audiodocumentário,

encontram um poderoso meio de expressão comunicativa de fácil acesso e

manuseio. Tornam-se empoderados porque podem literalmente dar voz aos

seus interesses pessoais e aos de sua comunidade, propiciando narrativas com

Page 114: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

113

forte apelo social porque se dão por intermédio de um diálogo pela emoção,

característica intrínseca a um formato livre das amarras do factual e aberto à

liberdade criativa dos sistemas expressivos da linguagem radiofônica.

Nestas condições, o audiodocumentário, seja pelo seu processo de produção, seja pelo

produto midiático consolidado, promoveu o empoderamento comunicativo porque partiu de

uma problemática social importante para os sujeitos e sua comunidade, possibilitando que se

entendessem “como protagonistas do seu viver, proativas e cientes da sua força política, cultural

e social capaz de proporcionar mudanças em seu cotidiano e melhores condições de vida”

(SILVA; ALMEIDA, 2017, p. 113).

5.4 Análise da categoria Relações Dialógicas

Essa categoria contempla elementos do processo de produção do audiodocumentário

que proporcionaram aspectos educativos favoráveis ao diálogo. Sendo a categoria mais citada

pelos respondentes, representa 26,67% na frequência total dos registros categorizados, dando

origem a duas subcategorias: Diálogo Democrático (o processo possibilita o diálogo

democrático) e Trabalho Coletivo (o processo valoriza o trabalho coletivo).

Segundo Freire (1987), uma relação educativa, para ser dialógica, deve ser constituída

pela troca de saberes entre aquele que educa e aquele que é educado, mediatizados pelo mundo

para pronunciá-lo e transformá-lo. Enquanto ação de comunicação, o diálogo se consolida como

instrumento para a apreensão e a problematização do mundo, sendo entendido como

democrático quando permite a liberdade de expressão de forma igualitária.

Nessa acepção, o conteúdo das unidades de contexto vinculadas à subcategoria Diálogo

Democrático nos permite inferir que o processo de produção do audiodocumentário buscou

criar um ambiente propício para o diálogo aberto e o senso de coletividade dos educandos, na

intenção de dar autonomia para que buscassem maneiras de organizar o conhecimento e

interagissem entre si e com a realidade da comunidade que habitam.

Isso implicou em uma prática pedagógica que posicionou o sujeito como sócio-histórico

em um processo ativo que envolveu as suas experiências vividas e onde o aprendizado se deu

em um conjunto de interações comunicativas (CIPÓ - COMUNICAÇÃO INTERATIVA,

2011). O próprio espaço da Associação, quando confrontado com as condições normais da sala

de aula da escola, ajudou a consolidar a relação dialógica, pois foi entendido pelos educandos

como um ambiente para a liberdade expressiva e comunicativa.

Page 115: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

114

Eu gosto de tá aqui, eu penso que aqui tem mais liberdade pra gente falar do

que gosta, do que lá na escola. Essas saídas da escola é que a gente tá se

envolvendo mais e quando tem que fazer as coisas do audiodocumentário com

o povo de fora também (RESPONDENTE-02, 09 mai. 2019).

Está sendo bom, está sendo bom. Eu estava... eu não gosto nem muito assim,

sabe, de falar, mas agora eu falo normal, acho que falo mais que na escola. Na

sala de aula da escola eu fico sentada e tenho até vergonha de me levantar,

mas agora não, porque todo mundo tá igual, pode falar sem precisar

interromper (RESPONDENTE-11, 23 mai. 2019).

Então, aqui na associação eu me sinto mais confortável e me expressando

depois do audiodocumentário. Porque todas as coisas que eu falo me sinto

confortável pra expor minhas ideias na sala, pra nosso grupo. Tem pessoas

que gostam das minhas opiniões e tem pessoas que não gostam e isso é normal

(RESPONDENTE-10, 23 mai. 2019).

Porque nós vamo desenrolando mais, perdendo a vergonha de falar sobre o

carnaval, sobre áudio, televisão e celular e tudo mais. Porque nós era muito

tímido, envergonhado assim, mais tamo saindo e vendo o povo, entrevistando,

perguntando e pesquisando, essas coisas ajudam a desenrolar mais

(RESPONDENTE-06, 16 mai. 2019).

Assim, no começo a gente tem vergonha de falar, mas agora a gente pode se

falar mais, ter mais... a gente não tem mais vergonha, assim, que a gente já

conhece né? Agora a gente pode falar, assim, sem medo. No primeiro dia foi

estranho que era tudo novo, professor novo (RESPONDENTE-03, 09 mai.

2019).

Dessa maneira, a produção educativa do audiodocumentário, mediada pelo processo

integrador de contato com as diversas linguagens midiáticas e as representações culturais,

consolidou-se como espaço fértil à colaboração, à busca pelo reconhecimento do sujeito e à sua

vontade de fazer uma legítima comunicação cidadã.

Para Freire (1987, p. 10), o conhecimento se dá pela relação cotidiana entre os sujeitos,

pelo diálogo que é sempre comunicação e que constrói os significados sociais, pois:

Expressar-se, expressando o mundo, implica o comunicar-se. A partir da

intersubjetividade originária, poderíamos dizer que a palavra, mais que

instrumento, é origem da comunicação – a palavra é essencialmente diálogo.

A palavra abre a consciência para o mundo comum das consciências, em

diálogo, portanto. Nessa linha de entendimento, a expressão do mundo

consubstancia-se em elaboração do mundo e a comunicação em colaboração.

E o homem só se expressa convenientemente quando colabora com todos na

construção do mundo comum – só se humaniza no processo dialógico de

humanização do mundo.

A ação dialógica democrática se deu no intercâmbio entre as ações interativas realizadas

no ambiente educativo e o contato dos educandos com os moradores e as diferentes

Page 116: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

115

representações culturais da comunidade, subsidiadas pelas ações práticas de natureza

jornalística, dentre as principais: a pesquisa organizada e as entrevistas independentes. “Essa

preocupação educativa-cidadã que conduz à metodologia da Educação pela Comunicação

também está presente na natureza pedagógica da linguagem radiofônica, uma vez que os

formatos radiofônicos são ricas formas de comunicação popular” (SILVA; SILVA, 2019, p.

114).

Acrescenta-se as características intrínsecas ao formato audiodocumentário, que pelo

apelo sensorial evocado pelo trabalho jornalístico e artístico com os sistemas expressivos da

linguagem radiofônica, dentro de uma lógica de identificação, contribui “para o reconhecimento

e identificação entre pessoas que habitam o mesmo local, vivem e partilham um modo de vida

em comum, interesses, gostos enfim a sua cultura” (DEL BIANCO, 2009, p. 7).

Eu não era assim não, era meio diferente, sabe? Gostava mais de ficar na

minha. Agora eu tô bem melhor. Eu também tô me divertindo, sabe? Aí acho

que isso ajuda né, a gente a se soltar e a interagir, falar sobre os áudios que

escuta e para conversar mesmo, tipo, conversar entre si e com você né. Porque

a gente tá sendo orientado a aprender mais, falar melhor sobre os assuntos

(RESPONDENTE-05, 16 mai. 2019).

Todos estão tendo como falar, porque além de ter aquelas pessoas que dá

opinião negativa ela fala o seu porquê né. Eu confesso que essas aulas tão

sendo ótimas para mim, pois além de me ajudar eu me divirto

(RESPONDENTE-08, 16 mai. 2019).

Assim, eu acho muito legal a forma de colocar um potinho para as outras

pessoas expressarem suas opiniões. Eu achei isso muito legal, muito bacana.

Porque as outras pessoas podem dizer o que não estão entendendo, o que...

falar realmente sua opinião para o professor (RESPONDENTE-09, 23 mai.

2019).

Todo mundo pode falar, quem não podia falar é porque não queria. Tinha o

potinho lá se você quisesse fazer alguma reclamação anônima e tal

(RESPONDENTE-14, 30 mai. 2019).

Quando imaginamos que a ação educativa dialógica se constrói pela troca de

informações entre os sujeitos da prática pedagógica, o trabalho em grupo é condição primordial

para o despertar da consciência crítica e gerar a noção de pertencimento. “Aprender, de acordo

com essa concepção, não significa interiorizar um conjunto de fatos ou de entidades objetivas,

mas sim participar de uma série de atividades humanas que implicam processos em contínua

mudança” (CUBERO; LUQUE, 2007, p. 105).

Percebemos essas condições ao analisar o conteúdo das unidades de contexto vinculadas

à subcategoria Trabalho Coletivo, que nos permite dizer que o processo de produção do

Page 117: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

116

audiodocumentário atuou como elemento mediador para gerar interesse dos educandos em falar

sobre os aspectos culturais do lugar onde moram, promovendo ações educativas para o

fortalecimento do “trabalho em conjunto, o desenvolvimento da oralidade, o despertar para a

pesquisa, o senso de responsabilidade pelo que é produzido e, consequentemente, divulgado”

(ANDRELO; ALMEIDA, 2015, p. 122).

As equipes se ajudam, facilita a conversa porque a gente pode contar um com

outro. Aí qualquer coisa pergunta a você, mas todos das equipes tem a sua

função, é isso aí que tá acontecendo (RESPONDENTE-16, 30 mai. 2019).

A relação é criativa, existe para que você se reconheça e ajude o colega a

crescer. Quando você é criativo você enxerga e se modifica e quando a relação

morre você perde suas referências (RESPONDENTE-08, 16 mai. 2019).

Acho que vem gerando um monte de comentários enquanto o

audiodocumentário tá sendo produzido. Porque como eu conheço minha

turma, estudo com eles desde sempre, eu conheço, aí eu sei. Eu mesma tô

achando muito legal o seu trabalho, porque eu que tô na equipe de entrevista,

que eu gosto (RESPONDENTE-09, 23 mai. 2019).

Assim, o mais legal é aprender tudo junto. Acho que o que muda mesmo é

fazer as coisas junto, tipo os grupos com suas funções e tal (RESPONDENTE-

15, 30 mai. 2019).

Acho que todo mundo tá tendo oportunidade, porque eu não tinha intimidade

com a turma, com eles, e agora eu tenho. Desde que eu cheguei minha

intimidade era [nome de um educando] e [nome de um educando] aí agora já

muda mais, já tem os outros (RESPONDENTE-11, 23 mai. 2019).

As produções criadas eu enxergo de forma engraçada, não vou dizer que não

foi porque quando nosso grupo todinho se envolveu em um áudio foi muito

engraçado, quase Thiago que morria né, ainda bem que ele não morreu no

final, meu Deus do céu, nem quero lembrar [Dinâmica da “História Coletiva”]

(RESPONDENTE-10, 23 mai. 2019).

A amizade vai ficando melhor, porque o povo não é muito junto com os outros

na sala de aula da escola né. Cada um tem seu grupo. Eu costumo, assim, fico

mais quieto na minha mesmo, é meu jeito. Aí agora a pessoa está se entrosando

mais, ficando mais próximo e a falar com todo mundo (RESPONDENTE-12,

23 mai. 2019).

Nesse contexto, segundo Del Bianco (2009, p. 2), a natureza da linguagem radiofônica,

isto é, a condição unicamente sonora, é um instrumento propositor de aprendizagens por

intermédio de diálogos pela emoção, “já que o código sonoro tem o poder de personificar

materialmente o espaço físico, transmitir sensações (temor, medo, amor, paixão), conceitos ou

representações”. O próprio Freire (2002, p. 34) fundamenta essa assertiva, pois como bem

exemplifica:

Page 118: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

117

O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a

capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilização do objeto ou

do achado de sua razão de ser. Um ruído, por exemplo, pode provocar minha

curiosidade. Observo o espaço onde parece que se está verificando. Aguço o

ouvido. Procuro comparar com outro ruído cuja razão de ser já conheço.

Investigo melhor o espaço. Admito hipóteses várias em torno da possível

origem do ruído. Elimino algumas até que chego a sua explicação.

Assim, as relações grupais edificadas pelas dinâmicas interativas e atividades práticas

da produção do audiodocumentário, entre os próprios educandos ou com outros membros do

seu círculo social, forneceu condições para a troca de diálogos e conhecimentos “dentro de um

fluxo de interação social em que diferentes participantes compartilham uma atividade prática;

são esses indivíduos concretos em contextos de relação concretos, cujo sistema social é a

garantia da existência da atividade humana” (CUBERO; LUQUE, 2007, p. 104).

Na sequência temos as considerações finais que fecham a estrutura dissertativa da

investigação. Reiteramos conceitos, apresentamos uma síntese dos resultados e novas

problemáticas advindas da confirmação ou refutação dos objetivos, além de indicar possíveis

encaminhamentos para investigações futuras.

Page 119: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

118

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciamos esta investigação com o intuito de analisar como a produção de um

audiodocumentário poderia contribuir de maneira efetiva com a qualidade dos processos

pedagógicos da sociedade contemporânea. Compreendendo a educação como um fenômeno

dinâmico e que se desenvolve mediante relações sócio-históricas, propusemos uma prática

inovadora de ensino direcionada às necessidades dos adolescentes imersos nas tramas sociais

de uma cultura midiática, norteada pelas interações constantes entre sujeitos e as TDICs.

Levando-se em consideração esses aspectos, objetivamos, de maneira geral, analisar o

processo de produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer

a expressão comunicativa e a sensorialidade de educandos do oitavo ano do Ensino

Fundamental da EEIEFMM.

Constatamos que o objetivo foi alcançado, pois a pesquisa conseguiu mostrar que as

etapas da produção educativa, pedagogicamente estruturadas para atuar no estímulo à criação

sensorial auditiva, quando direcionadas à interação dos educandos com as experiências

próximas ao seu contexto comunitário, como, por exemplo, o carnaval para o distrito de São

José de Solonópole, é uma estratégia capaz de intercambiar significativos processos de ensino

e aprendizagem.

Entrecruzando as características da linguagem radiofônica com outras diversas

linguagens de comunicação, comprovamos que o trabalho pedagógico se apresentou eficaz na

formação da subjetividade e da socialidade dos sujeitos participantes para além das correntes

de uma sociedade da imagem. Desta maneira, ainda que a comunicação imagética se

sobreponha as outras formas de relacionamento, limitando o escopo criativo às telas palpáveis,

a partir do trabalho teórico-prático envolvendo comunicação, educação e participação,

conseguimos destacar o papel positivo do som, convidando os educandos a um diálogo com

representações da realidade que são formadas pelas suas vivências interiores e os nexos

sensoriais que o código sonoro propõe.

Em conformidade com o objetivo geral, procuramos construir uma sequência de

produção educativa com audiodocumentário, ao mesmo tempo em que investigamos quais

elementos do processo que proporcionaram aspectos educativos favoráveis ao diálogo.

Os objetivos foram alcançados a partir da criação do modelo de organização processual

que desenvolvemos, composto por vinte e cinco atividades. O processo de construção dessas

atividades foi orientado pelas especificidades do formato audiodocumentário e pelos

direcionamentos basilares nos pressupostos de uma Educação pela Comunicação, por nós

Page 120: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

119

classificados como: inclusão e transdisciplinaridade; exercício de cidadania; despertar da

responsabilidade; afetividade e cooperação; expressão comunicativa; incentivo à pesquisa e à

participação ativa; visão crítica à realidade e à mídia e imaginação e espaço à criatividade.

Dessa forma, o processo de produção do audiodocumentário, enquanto ação educativa,

criou condições para a aprendizagem dialógica, onde educador e educando se reconheceram

como sujeitos ativos da educação, de modo a ampliarem seu repertório simbólico para a

construção de uma comunicação cidadã. Inseriu-se como elemento gerador de trocas entre os

diferentes saberes, para transformação de conhecimentos iniciais em novos conhecimentos.

Não podemos deixar de lembrar que a investigação foi metodologicamente guiada pela

Pesquisa de Aplicação, que atendeu aos objetivos, mostrando-se como um procedimento

eficiente no planejamento e na execução do processo desenvolvido, o que permitiu a testagem

dos princípios pedagógicos, simultaneamente em que se prospectou o ensino ativo,

introduzindo questionamentos e atitudes críticas aos educandos. As técnicas, métodos e seus

recursos investigativos para coleta e análise de dados (observação sistemática, entrevista por

pautas e Análise de Conteúdo) se mostraram adequados e atenderam às necessidades da

natureza qualitativa e exploratória da investigação.

No entanto, necessitamos apontar algumas limitações que se apresentaram para a

pesquisa. Salientamos que a intervenção prática com os educandos levou em conta as

peculiaridades atreladas ao universo da amostra. Portanto, para ser replicada, precisa considerar

contextos específicos de aplicação, cabíveis às necessidades técnicas do objeto e às suas

próprias intencionalidades. Outra limitação a ser destacada foi a ausência dos adolescentes no

trabalho de coleta de algumas das entrevistas inseridas no audiodocumentário, circunstância na

qual expomos e justificamos ser advinda de imprevistos que extrapolaram a nossa atuação

enquanto educador.

No que se refere às contribuições para os estudos futuros, principalmente àqueles

preocupados com os desafios do ensino e da aprendizagem, indicamos a necessidade de

concebermos processos educativos atentos às transformações que estão ocorrendo na sociedade,

advindas das relações estabelecidas pela cultura midiática. Os constantes avanços das TDICs

acabam por determinar que a prática pedagógica se reinvente continuamente para atender às

demandas sociais e profissionais que os novos cenários globais suscitam. As experiências

educacionais contemporâneas determinam cada vez mais o domínio das técnicas e recursos

imprescindíveis para a operacionalização das diversas linguagens que dão significado ao

mundo.

Page 121: Processo de produção de um audiodocumentário enquanto

120

Somos, portanto, levados a acreditar que é preciso prospectar um ensino ativo, que

introduza questionamentos e atitudes críticas e onde as TDICs, enquanto estratégia e recursos,

conteúdo e objeto, podem ser o caminho para atingir tais condições. Para isso, precisam ser

pensadas como mediadoras de uma ação dialógica que também entende as necessidades,

habilidades e competências socioemocionais dos agentes da comunidade educativa (BRASIL,

2017).

Em vista dos argumentos apresentados e respaldados pelo nosso percurso de trabalho e

incansável defesa do audiodocumentário, seja no enfoque do seu processo de produção, seja na

sua atuação como produto midiático para o fortalecimento da comunicação popular, podemos

afirmar com muita maturidade que “o formato radiofônico com sua natural motivação artístico-

emocional e interesse pelas histórias reais e problemáticas sociais, merece uma chance para ser

trabalhado por educadores em diversos contextos educativos e finalidades pedagógicas”

(SILVA; SILVA, 2019, p. 117).

Desde o primeiro momento que imaginamos de forma inovadora pensar o processo de

produção de um audiodocumentário enquanto estratégia de ensino para favorecer a expressão

comunicativa e a sensorialidade, buscamos estimular o protagonismo social e garantir o acesso

a espaços de fala por parte dos grupos que normalmente não possuem força política para

ecoarem suas mais profundas manifestações culturais.

Como contribuições para os estudos sobre audiodocumentário, podemos constatar que

o formato tem como premissa quatro objetivos fundamentais, que iremos nos aprofundar

futuramente: informar, sensibilizar, educar e transformar. A natureza jornalística e pedagógica

permite informar e educar; a natureza da arte sonora permite sensibilizar. Trabalhando a

linguagem radiofônica a partir desses dois aspectos, fundamentados no comprometimento com

uma problemática real, de modo a oferecer informações que podem causar identificação e

engajamento para intervenções sociais, individuais ou coletivas, o formato assume o seu papel

como instrumento para transformação.

Por fim, acreditamos que é urgente a necessidade que as crianças, adolescentes e jovens

desenvolvam competências para análise e domínio das linguagens de comunicação, em especial

a digital, para que possam lidar com a avalanche de conteúdos a que são submetidos

diariamente. Um posicionamento que exige do educador acesso a políticas de formação

continuada, mas antes de tudo, criatividade, sensibilidade, desejo e liberdade para experimentar

o novo, afinal, o audiodocumentário “não acredita na revolução sem beleza” (GODINEZ

GALAY, 2014, não paginado, tradução nossa).

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APÊNDICES

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Apêndice A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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Apêndice B - Termo de Assentimento Livre e Esclarecido

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Apêndice C - 10 dicas para realização de uma boa entrevista

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Apêndice D - Roteiro Base para entrevistas

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ANEXOS

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Anexo A - Impressões dos educandos sobre o primeiro encontro da oficina

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Anexo B - Opiniões sobre a oficina expressas via “Pote da Sinceridade”

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Anexo C - Resultado da atividade para identificar a mudança de trilha sonora

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Anexo D - Rascunho e Logotipo do audiodocumentário e da equipe do projeto