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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAU LO
I SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FESPSP
26 A 30 DE NOVEMBRO DE 2012 – SÃO PAULO/SP
Processo de coleta de indicadores sociais secundári os para a formulação
da política de implementação do novo campus da UFSCar: a escala faz
diferença?
Simone Braghin; Aline Vanessa Zambello.
Universidade Federal de São Carlos.
[email protected]; [email protected]
A fazenda Lagoa do Sino foi doada à UFSCar em 2010 no anseio de seu
doador em ver o desenvolvimento regional a partir da instalação de uma Universidade
pública. O novo campus está localizado na região do Vale do Ribeira, entre os
municípios de Buri e Campina do Monte Alegre - SP. Atualmente, estão em fase de
discussão os cursos e formas de funcionamento que serão implementados. Devido a
isto, fez-se necessário um levantamento de indicadores da região para formar um
perfil social, econômico, político e educacional para, a partir daí, subsidiar a tomada de
decisão dos gestores para melhor formulação da política de implementação do
campus. Este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o levantamento de
indicadores sociais de fontes secundárias em diferentes escalas de análise (municipal,
estadual, federal, meso e microrregionais) para que pudéssemos fazer algumas
inferências comparativas entre estes e o entorno, uma vez que esta região
frequentemente é referenciada como “bolsão de pobreza paulista.” Utilizaremos, em
particular, apenas de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Deste modo, buscamos por – através da inferência de um indicador educacional em
particular – observar como um mesmo dado visto em diferentes vieses pode
fornecer/fomentar diferentes inferências ao pesquisador e gestores de políticas
públicas. Há desigualdades, em termos de dados, que se revelam ao olhar atento e
zeloso que se foca no objeto de análise. Nossa proposta é, pois, trazer a tona esta
discussão e as reflexões atingidas.
2
Palavras chave: Indicadores Sociais, Campus Lagoa do Sino, Políticas Públicas,
Cidadania, Educação.
3
INTRODUÇÃO
Viajando em um tempo não tão distante de nossos olhos, fazemos uma parada
rápida no ano de 2010, onde o Governo Federal anuncia a criação de novos campi
universitários. Entre eles, encontramos o campus Lagoa do Sino. Sua história1 pode
ser resumida nesta narrativa, com a iniciativa de sua doação feita pelo escritor Raduan
Nassar que, em uma proposta de doar sua fazenda à Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar), fixou seus anseios de ver através de uma ferramenta educacional –
a universidade – o desenvolvimento daquela região. Nasce assim uma meta à
Universidade: através da educação de nível superior, promover o desenvolvimento
daquela localidade que, ao que ilustram indicadores de diversos tipos, é hoje a região
do estado de São Paulo com maior índice de vulnerabilidade social.
Em se tratando do “ciclo da Política Pública”, como nos discorre SOUZA
(2007), diríamos que esta política ainda está em fase de “elaboração” e que, para que
seja promovedora de mudanças sociais e econômicas, serão necessários estudos
aprofundados que forneçam diagnósticos condizentes com a realidade local – suas
principais demandas e déficits de acesso. A aposta se resume na educação como via
de desenvolvimento local/regional, através de acesso a ela ou através de ações da
universidade para a comunidade (extensão), de modo que esta receba então os frutos
do conhecimento produzido no escopo acadêmico. Estas são algumas das apostas
para o novo campus da UFSCar (campus Lagoa do Sino).
No entanto, como supracitado, esta política ainda se encontra em processo de
elaboração. Logo, nosso trabalho é mais humilde: coleta e sistematização de
indicadores que nos forneça um perfil da região. Assim, cabe ressaltar que esta
pesquisa está dividida em dois grandes blocos: coleta de indicadores de a) fontes
secundárias (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, Fundação Sistema Estadual de Análise de
Dados - SEADE, Ministérios do Governo Federal, Secretarias de Governo do Estado
de São Paulo, etc) e de b) de fontes primárias (trabalho de campo in loco do entorno
do campus, órgãos e locais de serviços públicos prestados, tais como escolas,
hospitais; entrevistas a agentes governamentais e a população regional, etc.) que
1 Ainda que não tenhamos avançado no levantamento de dados qualitativos que tracem a história de criação deste campus – ainda em fase embrionária –, mesmo que ainda não fora possível respaldar este processo com precisão e emprego de fontes sucintas, estas informações podem ser encontradas de modo mais amplo em: CEPÊDA, V. A; ZORZO, S. D; OGATA, M. O. A construção do campus UFSCar/Lagoa do Sino (...).
4
permitam uma participação da comunidade local/regional no desenho do novo campus
e de suas ações; e a construção de uma base de dados histórica, que contemple a)
descrição do processo de criação do campus e b) o grau de divulgação deste
processo nos veículos midiáticos.
Toda esta empreitada ainda não fora concluída e, por isto, torna-se impossível
apresentar dados parciais ausentes de qualquer caráter analítico. Sendo assim, esta
exposição tratou de introduzir o tema central, no intuito de ilustrar suas metas e meios
para tal. A importância da implementação do campus Lagoa do Sino foi brevemente
abordada como uma ferramenta capaz de fomentar o desenvolvimento daquela região.
Como nos discorre CEPÊDA; ZORZO & OGATA (2012, p.1):
Por desenvolvimento, nesta proposta de pesquisa e no
projeto levado atualmente a cabo pela universidade para a LS [Lagoa
do Sino], entende-se tanto a dimensão de autonomia e fortalecimento
das atividades econômicas strictu sensu, quanto aquelas ligadas à
promoção do bem-estar e da qualidade de vida da população, a
distribuição de capitais de informação e conhecimento, o
empoderamento individual em direção à emancipação (cultural e
política) – todos estes aspectos apoiados no tripé
inclusão/distribuição/sustentabilidade (esta última em suas múltiplas
formas).
No ANEXO I, podemos visualizar circuncidado, na cor azul, a Região
Administrativa de Sorocaba/SP onde se encontra o município de Buri – sede do futuro
campus da UFSCar fazenda Lagoa do Sino. No ANEXO II, é possível visualizar com
maior precisão nosso recorte quanto à região2 e demarcações político - territoriais dos
municípios. O anexo conseguinte (ANEXO III) permite o conhecimento nominal destes
municípios. Esta região (Vale do Ribeira), considerada como a mais pobre do estado
de São Paulo, apresenta alguns índices alarmantes. Os anexos IV, V e VI possibilitam
um deslumbre de alguns dos indicadores que mais sintetizam este fato. A inexistência
de Instituições de Ensino Superior (IES), em particular, públicas (federais, estaduais e
municipais) e a diminuta presença de IES privadas (apenas em algumas cidades do
entorno), mostram como a educação de nível superior é deficitária. Mas, no entanto,
resta uma dúvida: seu déficit não se dá – também – devido a especificidade dos
setores de produção desta região/entorno?
2 Nosso recorte como “entorno do campus” não engloba a totalidade de municípios da Região Administrativa de Sorocaba.
5
Entre esta e outras dúvidas, surgem algumas apostas: a educação superior
como ferramenta de desenvolvimento e freio das desigualdades, bem como promotora
de mecanismos de empoderamento de capitais simbólicos (BOURDIEU, 1996; 1998) e
fomentadora – do conhecimento – dos direitos de cada individuo como cidadão
(MARSHALL, 1967; CARVALHO, 2011). O campus Lagoa do Sino é uma aposta para
este enfrentamento: uma engenharia inovadora (em processo de elaboração) que está
dialogando pela melhor forma de inserir o conhecimento acadêmico sem macular o
conhecimento local (da população). E, ao passo que lhe transmita seus
conhecimentos científicos, também colha dos frutos do conhecimento popular. Estas
relações de troca são algumas das apostas que este projeto (no seu âmbito geral)
pretende atender através da implementação de cursos e projetos de extensão que
semeiem esta troca contínua. Assim, e visando preservar a cultura3 da população local
e regional, o atual curso de elaboração deste projeto parte em busca – a princípio –
dos panoramas que nos possam ser ilustrados por indicadores quantitativos.
OBJETIVO
Neste trabalho tentaremos dar maior ênfase não aos dados já colhidos ou ao
atual estágio em que este trabalho4 se encontra, mas, no entanto, às indagações,
decisões e possíveis acertos que fizeram parte da construção deste material. Em
resumo, este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o levantamento de
indicadores sociais de fontes secundárias em diferentes escalas de análise: municipal,
estadual (meso e microrregiões do Estado de São Paulo, onde se situa nosso projeto
original) e federal (com o vislumbre das diversas unidades da federação e regiões do
país).
PROCEDIMENTOS
Para tanto, abordaremos de modo descritivo o processo traçado para a coleta
de dados secundários – fase em que ainda se encontra nossa empreitada –
objetivando pontuar as indagações que foram surgindo ao longo do trabalho de campo
já percorrido e algumas das inferências obtidas acerca destas. No intuito de atingir
nossos objetivos, elegemos a variável “pessoas de 15 anos ou mais alfabetizadas” e
“pessoas de 15 anos ou mais nãoalfabetizadas” com o recorte temporal situado no ano
de 2000 e geramos cartogramas destes dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de
3 Entendendo por “Cultura” a construção conceitual defendida por Franz Boas em Antropologia Cultural. 4 Vinculado à Pró-Reitoria de Extensão. Número do processo: 23112.000874/2012-47.
6
Geografia e Estatística (IBGE). Nossos critérios para tal seleção foram apenas de
exemplificação, visualização e breve descrição destes dados, não sendo, portanto,
vinculado ao nosso objetivo comparar e interpretar tais dados, além do proposto –
como um trabalho reflexivo acerca das escalas de análise. Assim, isentamo-nos de
trabalhar com mais de um recorte temporal, como também, de aprofundarmos o tema
via a observação de mais do que esta ou qualquer outra variável. No entanto, esta
seleção se deu em diferentes esferas: No Brasil, em suas unidades e, em especial, no
Estado de São Paulo, onde, em segundo momento, aumentamos o zoom do nosso
olhar em mesorregiões, microrregiões e, por último, olhamos para 1) os municípios
como um todo e 2) os municípios da zona limítrofe do campus Lagoa do Sino (ANEXO
III).
DESENVOLVIMENTO E INDAGAÇÕES
Este trabalho está sendo desenvolvido através da coleta de dados quantitativos
de instituições reconhecidas. Entre elas estão: IBGE, Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE),
Ministérios do Governo Federal, Secretarias de Governo do Estado de São Paulo, etc.
Será feito o levantamento, sistematização e análise de diversos indicadores sociais
que organizamos cinco categorias de indicadores: de população, de saúde, de
educação, de vulnerabilidade, e, econômico. Uma das apostas do projeto é que o
impacto da criação do campus – devido seus cursos e projetos de extensão – será
diferenciado nos diversos municípios do entorno. Isto, porque a região é ampla e cada
município detém de suas particularidades. Levando em conta estas especificidades do
objeto e, para uma possível análise e acompanhamento do futuro impacto (avaliação)
desta Política Pública, dividimos as cidades em três categorias que denominamos de
“zona de influência do campus Lagoa do Sino”. Este recorte é antes de tudo
geográfico, pois aglomera as cidades do entorno mediante respectivas proximidades
geográficas com o campus. Assim, como segue no ANEXO II, se pensarmos em uma
espiral que tem como centro a fazenda Lagoa do Sino, podemos ver que as cidades
mais próximas (zona limítrofe) do campus são os municípios de Campina de Monte
Alegre, Angatuba e Itapetininga. No ANEXO III, é possível ver a relação destes
municípios, por zona de influência. Os números são estes: zona limítrofe, 4
municípios; zona intermediária, 12 municípios; zona expandida, 48 municípios;
totalizando então, 64 municípios que poderão sofrer impactos com a criação do
campus Lagoa do Sino.
7
Durante o levantamento e sistematização de alguns indicadores, como
qualquer espírito aguçado por certa curiosidade, não conseguimos nos ater apenas ao
que fora requisitado – coleta de alguns dados quantitativos de 64 municípios do Vale
do Ribeira. Não ficamos felizes em saber apenas o perfil quantitativo – único dado
atualmente em meu alcance – destes municípios. Uma questão nos padecia: “estamos
mesmo falando da região mais pobre do Estado de São Paulo?” Como responder esta
questão? Como sentir esta pobreza estando em nosso “escritório”? Mas, mais que
isso, o que permeava esta indagação era a dúvida se estes dados, ou melhor, estes
números estavam corretos. Esta indagação nasceu do vislumbre que tivemos ao olhar
os indicadores – falando de modo geral – e com isso perceber uma enorme
discrepância com São Carlos, a cidade do campus Sede da UFSCar.
Não restaram dúvidas. Precisava ir além do proposto no projeto5. Precisamos
sanar nossas indagações enquanto pesquisadoras em construção e total
desconhecedoras da localidade. Por sua vez, esta decisão, causou o que avaliamos
como positivo: não ficamos totalmente presas às informações que ouvíamos – dadas
em consenso pelo grupo gestor e coordenadores do projeto, devido aos estudos
aplicados anteriormente – assim, buscamos informações e dados que legitimassem
esta visão de bolsão de pobreza do estado. Através deste “retrabalho”, pudemos
refletir sobre o quadro que os indicadores ilustravam. Buscamos indicadores de
vulnerabilidade social e educacionais6 da região para que, comparando-os com os
indicadores nacionais, pudesse ver a dimensão desta pobreza. Para nossa
infelicidade, estes dados – levantados pelo IBGE no Censo 2010 – ainda não foram
divulgados7 na escala8 municipal.
Assim, tornou-se um tanto quanto difícil – e mais, impossível – realizar esta
tarefa. Como os dados que detínhamos em inteira disposição eram apenas os do
Censo Demográfico do ano de 2000 e, mesmo sabendo que se trata de 12 anos de
processo histórico e consecutivas mudanças nos indicadores, resolvemos avaliar as
variações que poderiam existir em um mesmo indicador mediante suas diferentes
escalas. Esta escolha partiu de uma indagação quando observo a atual taxa de
5 Esta pesquisa de indicadores está vinculada à Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), como um projeto de Extensão Universitária (nº processo: 23112.000874/2012-47). 6 Por se tratarem dos dois temas mais próximos da política pública de implementação do campus UFSCar/Lagoa do Sino. Educação, simbolizando o déficit que esta região tem neste quesito, em particular, na educação de nível superior e público; e, vulnerabilidade, pela hipótese de que através da educação, a região poderá se desenvolver. 7 Cf. <http://www.censo2010.ibge.gov.br/calendarioresul.php>. Acesso em: 12 ago 2012. 8 Sem entrar em pormenores, diferentemente de escalas de medição, entende-se aqui escala como o nível em que os indicadores encontram agregados. Desta forma, podemos pensar aqui em, no mínimo, três escalas de dados: em nível nacional, unidades da federação e municipais; sendo que, a cada uma é possível efetuar a agregação ou seu oposto de modos diferenciados.
8
alfabetização da população brasileira (90%)9. Considerando-a digna de outro
questionamento: “estes dados ilustram de fato a realidade social daquela região?”
Notava que esta porcentagem de alfabetizados não condizia com realidade aparente
dos indicadores das cidades do Vale do Ribeira, pelo menos os indicadores que havia
comparado nos anos de 2000 – único aporte que poderia esclarecer sobre esta
dúvida. Com isto, nossa jornada se tornou outra: ver até que ponto os mesmos dados
em diferentes escalas no ano de 2000 poderiam ou não transmitir de modo uníssono
ou da forma mais próxima possível, a mesma informação. Para critério de exibição
deste material e evitando o uso excessivo de exemplos, elegemos as variáveis
“pessoas alfabetizadas” e “pessoas não alfabetizadas”.
O Cartograma 1 corresponde ao percentual de pessoas de 15 e mais anos
alfabetizadas, por estado brasileiro. Nele, podemos notar que os estados do Acre,
Maranhão, Piauí, Paraíba e Alagoas apresentam um percentual de alfabetização que
varia na faixa de 50,11% a 54,53% de alfabetizados; todos esses estados estão
localizados na região nordeste do Brasil, com exceção do Acre (região norte). São
cinco os estados que se encontram no intervalo de 55,90% a 58,91%, entre eles estão
Bahia, Sergipe, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, todos estados da região
nordeste do Brasil. Estão inseridos na terceira classe, onde a porcentagem varia entre
60,08% a 64,60%, os estados do norte Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Rondônia e
Tocantins. Assim, fica de certo evidente que os maiores percentuais de alfabetização
da população brasileira de 15 ou mais anos se encontram na região central, sudeste e
sul do país. Juntas, correspondem a 40,7% do país e agregam em seus respectivos
contingentes populacionais de 67,07% a 76,70% das pessoas alfabetizadas –
considerando as duas classes (67,07% a 69,95%; 71,46% a 76,70%).
Assim, de maneira simplista, poderíamos supor que estes estados se
encontram em melhores condições sociais de acesso, permanência e consecutiva
formação educacional que os estados do norte e nordeste. Longe de colocar esta
suposição à prova, o que se torna perceptível no Cartograma 2 é que a porcentagem
distribuída entre as cinco faixas no estado de São Paulo, variam entre 76,89% a
82,16% sendo, portanto, conivente com a inserção deste estado no primeiro
Cartograma apresentado. Contudo, notamos que entre as mesorregiões do estado,
existe certa diferença na porcentagem de alfabetização que não fora obsevada
quando vislumbrado este estado no Cartograma 1.
9 “Taxa de alfabetização das pessoas de 15 anos ou mais de idade – 2010” Fonte: Human Development Report 2010. Adult literacy rate (% aged 15 and above). New York: United Nations Development Programme (UNDP). Cf. IBGE países. Cf. BRASIL: Indicadores Sociais < http://www.ibge.gov.br/ paisesat/main.php>. Acesso em: 17 jul 2012.
9
10
Cartograma 1: Percentual de pessoas de 15 e mais anos alfabetizadas, por
unidade da Federação – ano 2000:
Fonte: IBGE, Censo Demográfico.
Cartograma 2: Percentual de pessoas de 15 ou mais anos alfabetizadas, por
mesorregião geográfica do Estado de São Paulo – ano 2000:
11
FONTE: IBGE, Censo Demográfico.
12
A observação se repete no Cartograma 3 que, agora focando nas
microrregiões, nos possibilita ver que dentro dessas 12 mesorregiões encontram-se 63
micro(regiões) e que os percentuais observados, por sua vez, não seguem o mesmo
contorno homogêneo observado no Cartograma 2. A região de Itapetininga, por
exemplo, agrega os municípios de Itapetininga (78,67% a 80,15%), Tatuí (78,67% a
80,15%), Itapeva (74,60% a 78,64%) e Capão Bonito (74,60% a 78,64%). No
Cartograma 2, vemos uma maior inserção da mesorregião “metropolitana de São
Paulo” no intervalo (de 81,28% a 82,16%); ao defrontar estes percentuais com sua
respectiva microrregião (Cartograma 3) – composta por São Paulo e 7 regiões:
Osasco, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itanhaém, Santos, Mogi das Cruzes e
Franco da Rocha –, notamos que apenas São Paulo e Santos possuem grandes
destaques neste quesito (alfabetização).
O que fora observado em seus predecessores também o é no Cartograma 4.
Entretanto, vemos mais uma vez que quanto menor é a região, ou seja, menor o grau
de agregação dos dados, diferente se torna o modo como vemos cada município –
principalmente os municípios da região do Vale do Ribeira. Campina do Monte Alegre,
por exemplo, encontra-se na microrregião de Itapetininga. Conforme Cartograma 3,
Cartograma 3 – Percentual de pessoas de 15 ou mais anos alfabetizadas, por
microrregião geográfica do Estado de São Paulo – ano 2000:
13
FONTE: IBGE, Censo Demográfico.
esta microrregião está inserida no intervalo percentual de 78,67% a 80,15% de
alfabetizados. Já no gráfico 4, notamos que Campina do Monte Alegre não ultrapassa
o valor de 67,92% de alfabetizados. O mesmo ocorre com Itaí (microrregião de Avaré:
78,67 a 80,15%) e Buri (microrregião de Itapeva: 74,60% a 78,64%). Portanto, estes
municípios não estão contemplados de forma satisfatória se olharmos para o indicador
apenas em escalas de grande envergadura.
Cartograma 4 – Percentual de pessoas de 15 ou mais anos alfabetizadas, por
município do Estado de São Paulo – ano 2000:
FONTE: IBGE, Censo Demográfico.
Quando deparamos com estes dados distribuídos por mesorregiões do estado
(Tabela 1), podemos ver certa homogeneização e possível superioridade numérica em
relação ao país ou até mesmo outros estados (Tabela 2). Ocorre, no entanto, que,
quando desviamos o olhar para o conjunto de escalas, a relação em si muda. Vemos
que há desigualdades por todos os cantos do país e o estado do Vale do Ribeira não o
é exceção à regra. Como constata a Tabela 2, assim como na Tabela 3, alguns dos
dados em municípios paulistas podem refletir os mesmos indicadores que possuem
outras regiões do país, muitas vezes consideradas pelo senso comum – ou vinculadas
na mídia nacional – como deficitárias no acesso à riqueza, informação, educação,
14
saúde, cultura, etc.
15
Tabela 1 – Percentual de pessoas de 15 e mais anos alfabetizadas, por mesorregião
do estado de São Paulo - ano 2000:
Brasil e Mesorregião Geográfica %
Brasil 67,82São José do Rio Preto - SP 74,74Ribeirão Preto - SP 74,45Araçatuba - SP 74,37Bauru - SP 74,22Araraquara - SP 75,12Piracicaba - SP 75,82Campinas - SP 75,9Presidente Prudente - SP 72,44Marília - SP 74,12Assis - SP 73,24Itapetininga - SP 70,44Macro Metropolitana Paulista - SP 74,5Vale do Paraíba Paulista - SP 74,86Litoral Sul Paulista - SP 69,4Metropolitana de São Paulo - SP 76,67Nota: 1 - Dados da amostra Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000
Tabela 2 – Percentual de pessoas de 15 e mais anos alfabetizadas - ano 2000:
Brasil, Grande Região, Unidade da Federação e
Município
%
Brasil 67,82Norte 60,59Nordeste 56,3Sudeste 74,13Sul 73,75Centro-Oeste 69,74São Paulo (Estado) 75,61Angatuba - SP 71,13Buri - SP 65,78Campina do Monte Alegre - SP 67,49Itapetininga - SP 74,01Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2000Nota: Dados da amostra
16
Tabela 3 – Percentual de pessoas de 15 e mais anos não alfabetizadas - ano 2000:
Brasil, Grande Região, Unidade da Federação e Município
%
Brasil 10,08Norte 11,29Nordeste 18,63Sudeste 6,18Sul 5,75Centro-Oeste 7,96São Paulo 5,03Angatuba - SP 7,52Buri - SP 9,83Campina do Monte Alegre - SP 10,14Itapetininga - SP 5
Fonte: IBGE - Censo Demográfico.
Nota: Dados da amostra.
Não obstante, devemos olhar a cidade como um país pluralista – com seus
estados, suas meso e microrregiões e municípios, diversas culturas e etnias, etc.
Imaginemo-nos em milhares de pés de altitude, observando a realidade que abaixo
nos circunda, desfocada, porém, completa em sua beleza e magnitude; ao descermos
algumas milhas, notamos a presença de veículos e casas que se tornam nítidas; e,
pouco a pouco, a cada mil metros abaixo, descendo, imagens de pessoas em seus
destinos e, em um instante, boom! Eis que estamos entre elas, mais um grão em meio
à multidão.
Neste devaneio é possível ver que cada bairro é um bairro e cada setor,
perímetro urbano é diferente do outro, assim como as ruralidades – diferentes em si. A
diferença não se dá apenas na conjuntura da população, quantas pessoas moram na
casa, ou nível de escolaridade média. Ocorre no dia-a-dia, na junção de todos os
conjuntos que permeiem a vida cotidiana. Em seu limite, indicadores quantitativos
buscariam por evidenciar estas diferenças bairristas. Mas, isto não deslegitima o uso
de indicadores de escala nacional. Ao contrário, ao nos depararmos com eles e os
colocarmos em perspectiva com as demais escalas, poderíamos questionar a
motivação política que esta homogeneização contém.
17
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Navegando por estes mares indicativos, dúvidas sobre a legitimidade de
métodos quantitativos foram ora surgindo, ora sendo sanadas. Percebemos que
variáveis em escalas elevadas, sem o devido zelo, podem se tornar maneiras de
mascarar informações riquíssimas. O “escritório” antropológico dos evolucionistas
culturais assume outra forma no século XXI: a facilidade numérica que nos permite
exercer o papel ludibriante de meros telespectadores de gabinete. Jamais podem eles
suprir a necessidade de ir até o local de análise – se assim o objeto de pesquisa
requisitar –, de descobrir in loco as mazelas sociais a serem superadas. Eles, no
limite, homogeneízam dados e, com isto, perdemos informações.
Em suma, dados de âmbito nacional podem ser “camufladores” de
desigualdades. Ao olhar todas as escalas, notamos que não é possível falar de uma
homogeneidade nacional. Há desigualdade(s) e elas são perceptíveis quando nos
damos ao trabalho de olhar atentamente e de modo zeloso ao objeto de análise. De
todas as coisas que pudemos absorver a que mais nos vem em mente é este olhar
diferenciado ao qual devemos empregar aos objetos sociais de estudo. Um olhar
voltado para o outro, que manipule instrumentos procedimentais de modo que sejam
compatíveis com as realidades empíricas, mesmo as mais abstratas – como dados
quantitativos – que expressem de modo generalista e não tão palpável à realidade
vivida. Devemos nestes, então, dedicar maior zelo. Ansiando torna-los não indutores
de falsas premissas, mas, ao contrário, reflexos quase que precisos da realidade
humana.
18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Morris. A Lógica da Análise do Levantamento de Dados. São Paulo: Editora Cultrix;
Editora USP, [19--?].
19
SOUZA, Celina. Estado da Arte da Pesquisa em Políticas Públicas. In: HOCHMAN,
Gilberto. Políticas Públicas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.
20
ANEXOS
ANEXO I
Mapa das Regiões Administrativas e de Governo do Estado de São Paulo. Em destaque (linha Azul), a Região Administrativa de Sorocaba. Encontra-se em destaque (cor) rosa, as cidades que contém campus consolidados da UFSCar; destaque à cidade em (cor) vermelho (Campina do Monte Alegre) por ser o perímetro urbano mais próximo da localidade do campus Lagoa do Sino – apesar deste ser implementado no território rural da cidade de Buri.
FONTE: INSTITUTO GEOGRÁFICO E CARTOGRÁFICO. Disponível em: < http://www.igc.sp.gov.br/produtos/regioes_adm.html>. Acesso em: 15 jul 2012.
21
ANEXO II
Mapa da Divisão Municipal (recorte). Este mapa representa a zona de influência do campus da Lagoa do Sino: em amarelo, a zona de influência intermediária do campus; em verde, a zona expandida. As cidades em laranja são cidades que possuem IES públicas no Estado de São Paulo, com exceção de. Campina do Monte Alegre, que é a região urbana mais próxima da fazenda que se instalará a UFSCar. Assim, acreditamos que esta cidade em particular seu perímetro urbano será mais impactado que o da cidade sede do campus (Buri).
INSTITUTO GEOGRÁFICO E CARTOGRÁFICO. Disponível em: <http://www.igc.sp.
gov.br/produtos/divisao_municipal.html>. Acesso em: 15 jul 2012.
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ANEXO III
Municípios por região (zona) de influência
Municípios Zona Municípios ZonaAngatuba IperóBuri IporangaCampina do Monte Alegre ItaberáItapetininga ItaócaArandu Itapirapuã PaulistaCapão Bonito ItaporangaGuapiara ItararéGuareí ItatingaItaí JuquiáItapeva ManduriNova Campina PardinhoParanapanema PereirasRibeirão Branco PiedadeRibeirão Grande Pilar do SulSão Miguel Arcanjo PirajuTaquarivaí PorangabaAlambari QuadraApiaí RegistroAraçoiaba da Serra RibeiraAvaré RiversulBarão de Antonina Salto de PiraporaBarra do Chapéu SarapuíBofete SarutaiáBoituva Sete BarrasBom Sucesso de Itararé SorocabaBotucatu TaguaiCapela do Alto TapiraíCerqueira César TaquaritubaCesário Lange TatuíCoronel Macedo TejupáEldorado TimburiFartura Torre de Pedra
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Continuação
23
ANEXO IV
Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDH-M) – Estado São Paulo, ano 2000.
FONTE: Fundação SEADE
24
ANEXO V
Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) – Estado São Paulo, ano 2000.
FONTE: Fundação SEADE
25
ANEXO VI
Incidência da Pobreza nos municípios do Estado de São Paulo. Em destaque vermelho. Município de Buri.