prévia do livro "red luna: a biblioteca do czar"

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Capítulo 4 do livro "Red Luna: A Biblioteca do Czar". Alisa, uma vampira Varni recruta um jovem linguista para encontrar a biblioteca perdida do czar Ivan, o Terrível.

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Os próximos dias de pesquisa não foram produti-vos. Em três dias, Miguel não sabia se o balanço das ondas estava mais ameno ou se era ele quem estava se acostumando. Pelo menos conseguia ler com certa concentração; mas sem uma indicação do que pro-curava, era difícil focar a tradução. Seu talento em pes-quisa era desafiado pela total falta de organização nas anotações do tio.

A boa notícia: aproveitou o tempo para ler mais sobre vampiros. Era muito mais fácil acreditar que tudo aquilo não passava de folclore. Tentava associ-ar características que o ajudassem a chegar a alguma conclusão sobre sua desconfiança de que Alisa era uma vampira. Pelo menos, parte do que lia não podia ser verdade.

Alisa entrara escondida na taverna, e o livro dizia que vampiros não podem entrar em uma residência sem que o morador faça um convite. Entretanto, em favor do folclore, Alisa evitava a luz do sol, escon-dendo-se em um baú no compartimento de carga do veleiro.

Depois do incidente da primeira noite, Miguel recebeu uma permissão não anunciada para andar pela embarcação. Os tripulantes, mais acostumados com

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ele, revelaram até o destino da viagem: São Petersburgo, a capital da nação Russa*.

Apesar de não ter pistas, ele decidiu tentar procurar algo relevante no diário. Encontrou menções e até um retrato de Fleam. Parecia que Lasko fora mesmo seu companheiro na campanha do Egito.

Leu sobre a capacidade dos vampiros de se trans-formarem em outras criaturas, mas aparentemente não podiam se disfarçar em outras pessoas.

“Senão, Fleam teria me visitado na forma de Las-ko”, pensou Miguel.

Faltando vários dias para o destino final, em São Petersburgo, e com a frieza de Alisa, que não queria saber de conversa, os livros foram sua única compa-nhia. Logo trocou o dia pela noite, como Alisa.

Caía de sono depois do almoço e só acordava para o jantar. Ele já notara a determinação nos olhos dela à primeira vista, e cada vez mais sentia a ansiedade nos movimentos tensos da companheira de viagem.

Ela demonstrava que odiava esperar. Mesmo assim,

* São Petersburgo foi a capital do Império Russo por mais de

duzentos anos, entre 1713–1728 e 1732–1918

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nunca se intrometia nas leituras dele: apenas o obser-vava de longe. Uma forma estranha de respeito, cuja atitude Miguel apreciava.

Enquanto não estava lendo, Miguel gostava de es-tudar a rotina dos tripulantes no barco. Ele não sabia desenhar tão bem quanto o tio, mas decidiu pegar pena e tinteiro para rabiscar nas páginas em branco do diário: uma roupa incomum, feições estrangeiras, uma ferramenta estranha.

Conforme os dias passavam, as folhas iam se enchendo de ilustrações. As datas na borda das páginas eram a única maneira de ele acompanhar a passagem desses estranhos dias. Procurava manter-se ocupado para não pensar demais no tio. A falta de companhia lhe era muito estranha.

O ritual de observação seguia até a hora do almoço. Comer sozinho era uma experiência surreal. A hora das refeições era o momento em que ele estava sem-pre mais acompanhado na taverna. Isso sem falar na qualidade da comida que serviam.

A rede era o único lugar onde o balanço do mar

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ajudava. Ele se aconchegou com o diário, fazendo uma última anotação antes de cair no sono: “O mun-do aqui fora é muito menos hospitaleiro”.

Acordou com a sanfona de um dos marinheiros, indicando que já era o final da tarde. Suas pernas doíam pela posição que ficara na rede. Esfregou os olhos e procurou recobrar o balanço para voltar aos livros.

Dessa vez, focou sua procura na região a que se dirigiam. Até onde descobrira, o tio não havia feito grandes pesquisas em solo russo. Era muito difícil tra-duzir as cifras nas anotações. Pulou algumas páginas em busca de algo que pudesse ser relacionado à Rússia. Ou aos vampiros.

A maioria das páginas eram anotações obscuras de viagens para outros países. Várias frases sem sentido.

Algumas notas falavam de divindades mágicas an-tigas, e Miguel não conseguia encontrar nenhuma ligação muito clara com o que Fleam poderia querer com o tio.

Depois de um tempo estudando, desceu até o compartimento de carga. Foi até o grande baú onde Alisa se escondia durante o dia. Procurava não pensar que aquilo pudesse ser um caixão.

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Este, ainda destrancado, indicava que a garota devia estar lá. Segurando o diário, continuou em frente, dei-xando o baú para trás. Frustrado e com sede, pegou uma caneca para se servir de água num barril, quando um dos marinheiros se aproximou:

— Eu sei que nossa viagem não é longa, mas não brinque com o escorbuto*. Temos alguns limões na despensa.

— Obrigado, mas odeio limões. Meu tio sempre tentava me convencer dos benefícios deles, mas até hoje a única utilidade interessante que achei neles é... − Ele parou no meio da frase.

Deixou o marinheiro falando sozinho e saiu correndo para pegar um lampião. Acendeu a chama e remo-veu o vidro protetor, aproximando cuidadosamente uma página do diário do fogo.

Sem respirar, esperou pelas marcas escuras sur-girem. Lasko sempre fizera questão de ensinar o so-brinho como escrever mensagens invisíveis usando suco de limão. Insistia que era um truque importante.

Assim que as primeiras manchas marrons come-

* Doença provocada pela carência de vitamina C na dieta.

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çaram a se formar na folha, ele respirou tão fundo que sentiu que seu peito ia explodir.

Estava certo! Todas as cifras serviam apenas para despistar os curiosos. O verdadeiro segredo do diário estava nas anotações em tinta invisível. Era o tipo de truque que ele esperava do tio. Repetiu o processo com outras páginas, xingando a si mesmo por ter de-senhado sobre várias delas. Mas ainda havia várias no-tas bastante legíveis.

As anotações eram de alguns anos antes do nasci-mento de Miguel. Prosseguiam por vários outros, no tempo em que Lasko cuidava da taverna. Revelava que o tio ainda estava trabalhando nesse diário, mesmo de-pois de ter encerrado temporariamente suas viagens.

Entre as anotações havia uma lista de títulos; co-mentários sobre algumas cidades no leste Europeu e na Rússia; uma árvore genealógica de reis bizantinos que se iniciava com uma princesa chamada Sofia Paleo-loga, indo até o czar Ivan Grozny.

O nome lhe era familiar.Ivan Grozny...Não seria ele o famoso Ivan, o Terrível?Miguel se surpreendeu ao saber que o monarca

russo tinha ascendência bizantina. Continuou a ler as

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notas secretas, detendo-se em uma, em particular:“A entrada fica no Kremlin”.E, então, uma página sem nenhuma anotação. Ape-

nas um grande desenho feito à mão. Incompleto, era com certeza o fragmento de uma ilustração maior.

Era uma imagem religiosa. Uma figura de Cristo acompanhado pela Virgem Maria, recebendo os fiéis que subiam uma escada que dava para os portões do Paraíso. Emoldurando os portões do Paraíso havia uma faixa onde era possível ler as seguintes palavras:

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As oito paixões do homem: Gula, Ira, Orgulho, Preguiça, Avareza, Luxúria, Vaidade, Melancolia.

— Será que...?— Alisa! Alisa! — Miguel correu para o baú onde

a vampira dormia. Abriu o tampo com rapidez e viu os olhos vermelhos dela faiscarem pela sua ousadia.

A jovem se levantou com um movimento gracioso e sem esforço, como se estivesse sendo impulsionada pelas cordas de uma marionete.

Ela ainda o encarava. Ele ficou sem palavras por alguns instantes. O peso do diário em suas mãos o tirou do transe.

— Meu tio... ele... a Rússia... Eu sei o que ele estáprocurando! Liberia!

Algumas horas depois, a dupla estava sentada de pernas cruzadas no convés. A luz da Lua cheia confe-ria ao Clipper uma atmosfera fantasmagórica.

— Está vendo o L em GULA? Como a letra está afastada do resto da palavra? O mesmo acontece no I de IRA, e assim por diante. É uma técnica chama-

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da esteganografia ou “escrita escondida” — ensinava Miguel com uma ponta de orgulho.

— Por que oito pecados capitais? Não eram sete? — perguntou Alisa juntando as letras destacadas nas palavras em latim com certa dificuldade.

— A lista dos sete pecados que conhecemos foi se desenvolvendo ao longo do tempo. Uma dessas listas continha essas oito. Aconteceram muitos debates teo-lógicos até se chegar a uma lista final.

— L...I...B...E...R...I...A... Muito interessante, mas não tenho a menor ideia do que seja isso.

Miguel tentava conter a própria empolgação.— Talvez você não faça ideia, mas Liberia é uma

biblioteca lendária. Pertenceu a ninguém menos que Ivan, o Terrível, o primeiro czar da Rússia. Sua avó, Sofia, foi a última princesa antes da queda do Império Bizantino e fugiu para se casar com o monarca da Rússia. Dizem que trouxe consigo um grande car-

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regamento de livros da biblioteca de Constantinopla como dote de casamento.

Era visível o entusiasmo do jovem em explicar a Alisa um pouco de história.

— Tratados raros de filósofos gregos, evangelhos perdidos, documentos históricos... Todos esses livros inestimáveis foram escondidos nessa biblioteca sub-terrânea. Sua localização foi passada de pai para filho, até chegar a Ivan. Dizem que ele recebeu inúmeras ofertas para vender a biblioteca, mas nunca aceitou nenhuma. O segredo de sua localização morreu com ele. Com certeza, encontrá-la deve ser o objetivo de meu tio!

— E o de Merian e Fleam. Mas por que alguém sedaria a tanto trabalho por alguns livros? — Alisa

perguntava, ainda incrédula com a teoria.— Um acervo de livros dessa magnitude não tem

apenas um valor financeiro incalculável... O conheci-mento em si é um poder enorme. Você poderia, por exemplo, questionar e derrubar uma linhagem inteira de reis ou até mesmo uma instituição religiosa.

Estava tão empolgado que, pela primeira vez, não ficou constrangido com os olhos penetrantes de Ali-sa encarando os seus. Mas o pensamento dela estava

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longe. Processava as informações e calculava os desdo-bramentos dessa nova peça no tabuleiro.

— Com certeza, bem provável de Merian ser ten-tada por esse tipo de poder... — Apesar de falar alto, ela não estava preocupada em esclarecer Miguel. — Ela então precisaria de um especialista como seu tio, para prosseguir.

Voltando sua atenção para Miguel, perguntou:— Supondo que Merian esteja mesmo atrás dessa

biblioteca, você tem ideia de onde se encontra?— Bem, governantes famosos como o czar Pedro,

o Grande, já fizeram buscas pela biblioteca. Dizem que até mesmo Napoleão tem interesse em procurá-la quando chegar a Moscou. Se eu soubesse onde ela está, seria rico e famoso, não é mesmo?

Alisa fuzilou-o com o olhar.O jovem esclareceu rapidamente que havia várias

teorias. Algumas diziam que a biblioteca podia fazer parte dos túneis subterrâneos do Kremlin, o centro fortificado da antiga capital russa. Outras, que estaria escondida em um castelo de veraneio de Ivan, num vilarejo próximo a Moscou. Ninguém tinha muita certeza de nada. Imóvel, Alisa olhava para o oceano.

— Vamos chegar a São Petersburgo em breve. Eu

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já sinto o cheiro da cidade.Miguel também olhou para o horizonte, esperan-

do ver algo. Sua tentativa foi em vão.— Precisamos ter cuidado quando entrarmos em

terras russas. Os exércitos de Napoleão estão marchan-do em direção a Moscou, mas principalmente as tro-pas Varnis estão se aproveitando disso para explorar esse território, considerado proibido para nosso povo.

— Varnis?Alisa se virou e as palavras que saíram de sua boca

foram as primeiras que ele efetivamente considerou como pertencentes a um diálogo entre eles:

— Em teoria, é um tabu revelar nossa existência para humanos. Mas os tabus são relíquias de um pas-sado retrógrado. Sim, eu sou uma Varni, uma cria-tura da noite. Vou salvar a Rainha, nem que isso custe minha vida.

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Os Sanguinários Varnis

As lendas sobre os vampiros são realidade! Sur-gidos das cinzas da guerra contra seus predecessores, os místicos Devas, os Varnis ascenderam como uma milenar ordem secreta, adquirindo poderes ao con-sumir sangue, mas sendo amaldiçoados a não mais se exporem ao Sol.

Depois de séculos exterminando os Devas, dedi-caram-se a infiltrar-se entre os humanos, controlan-do os rumos da História. Os Vens, os curandeiros do sangue, controlam o Leste enquanto os metamorfos Sorrows dominam o Oeste. E assim duas poderosas monarquias se estabeleceram.

Valorizando linhagens sanguíneas, os Varnis são ex-tremamente competitivos e obcecados com honra e mérito. Vivendo nas sombras, começaram a recrutar humanos como criados em sua sociedade secreta.

Agora que as Guerras Napoleônicas se aproximam, o precário equilíbrio entre os reinos vampíricos está prestes a terminar...

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AlisaA princesa bastarda, herdeira do Reino Ocidental dos Var-nis. É uma “hollow” centrada, teimosa e muito séria. Sempre

tentando agradar sua mãe, Alisa galgou rapidamente

posições na guarda real depois de ser

preterida para a sucessão.

MiguelÓrfão criado pelo seu tio em uma pequena taverna,

Miguel aprendeu muito sobre história e línguas. Seu desejo por viagens e aventuras está prestes a se realizar quando

é recrutado por Alisa para descobrir uma biblioteca perdida,

Liberia.

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MerianUma poderosa general

Varni, Merian poderia ter sido a própria rainha do Reino ocidental. Enquanto ela lidera a invasão dos Var-nis à Rússia, secretamente

planeja um golpe, cobi-çando o poder de um

livro de Liberia, o Livro dos Selos de Sangue.

JeanLendário general, é um Sorrow, um Varni trans-morfo. Mestre de Alisa

e o único que confia nela, está perdido na vas-tidão da Rússia, possuído pela maldição que afasta

os Varnis dessa região, chamada de “Terri-

tórios Proibidos”

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