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Passeios Abrem-se os jardins, colhem-se pérolas e histórias O festival Jardins Abertos está de volta a Lisboa, com uma edição inédita de Outono. O objectivo é mostrar as cores da estação, os processos da natureza e as histórias de mais de 20 jardins. Mara Gonçalves (texto) e Miguel Manso (fotos) "A nossa infância foi passada aqui, nuns tapetes na 'avenida das tílias', a jogar cartas e [a fazer outros] jogos", vão contando Maria e Carlota Alber- garia, enquanto nos guiam pelo jar- dim da Quinta das Pintoras, em Mar- vila. Maria, de 39 anos, recorda-se de ajudar a colher tílias para o chá ou de irem até junto de outra árvore, que "dava umas florzinhas brancas". não sabe exactamente qual era. "A senhora que cuidava de nós tinha imensa paciência. Fazia-nos fios e pulseiras com aquelas flores, com uma agulha. Lembro-me tão bem." Naquela altura, "a coisa melhor era vir para a casa da avó". A proprieda- de, enorme, cortada a meio pela Estrada de Marvila, terá sido manda- da construir em 1859 por madame Burnay, modista belga, então "res- ponsável por fazer os vestidos da coroa portuguesa", e adquirida pelo bisavô de Maria e Carlota em 1918. Havia de tudo na quinta. Zona de mata, de hortas e de plantação de flores, que depois eram levadas "para os navios da Companhia Nacional de Navegação", que atracavam aqui per- to, no Tejo que se vislumbra em baixo. Carpinteiro, pintor, serralhei- ro, uma escola para os filhos dos tra- balhadores. Tinha cavalos, um pom- bal, um canil, e um jardim para frui- ção da família, com diferentes patamares e recantos. É esse espaço que agora percorre- mos. "Tudo junto são cerca de 18 mil metros quadrados", aponta Carlota. O que faz deste "um dos maiores jar- dins privados de Lisboa". O palace- te, à excepção de três salões, man- tém-se de acesso exclusivo à família, que aqui vive, terceira, quarta e quin- ta geração. Mas o jardim abriu pela primeira vez ao público dois anos, durante a segunda edição do festival Jardins Abertos, um dos espaços que se mantém no programa desde então (26 de Outubro, das lOh às 14h, acesso limitado à lotação). "Dá muito prazer mostrar isto às pessoas e ver como se sentem bem aqui e não que- rem ir embora", conta Carlota. Vamos caminhando por entre a sombra das árvores altas e frondosas. Alguns ramos estão mais despidos, encolhidos, mas como existem pou- cas plantas de folha caduca, não che- ga a cobrir-se dos tons característicos do Outono. um jardim muito ver- de o ano todo." Passamos pela estufa, com portadas em ripado de madeira e uma colecção de avencas, construída pela avó de Maria e Carlota. Ela "adorava este jar- dim e houve uma altura em que vivia com 14 cães, sete dentro de casa e sete fora, um macaco e uma arara", conta Carlota. E cavalos. "Adorava montar e saltava a cavalo", acrescenta Maria. "Temos a cocheira ao fundo e os cavalos vinham aqui pela Azinhaga da Bruxa até esta zona, onde era o pica- deiro." No tempo de meninice das duas irmãs, o espaço era campo de futebol improvisado e foi-se, entretan- to, degradando, ganhando mato. Já é difícil ver o painel de azulejos, pintado por Jorge Colaço, onde surge a avó e o cavalo Azeitona. Ao lado, fica o jardim de buxo. E, noutro recanto, o pequeno lago com

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Page 1: Press Review page - ULisboa · 2019. 10. 21. · trabalhos de jardinagem, sobretudo de plantio." Por isso, nas oficinas des-ta edição vai ensinar-se como fazer a poda, a multiplicação

Passeios

Abrem-seos jardins,colhem-sepérolase históriasO festival Jardins Abertos estáde volta a Lisboa, com uma ediçãoinédita de Outono. O objectivoé mostrar as cores da estação,os processos da naturezae as histórias de mais de 20 jardins.Mara Gonçalves (texto)e Miguel Manso (fotos)

• "A nossa infância foi passada aqui,nuns tapetes na 'avenida das tílias', a

jogar cartas e [a fazer outros] jogos",vão contando Maria e Carlota Alber-

garia, enquanto nos guiam pelo jar-dim da Quinta das Pintoras, em Mar-vila. Maria, de 39 anos, recorda-se de

ajudar a colher tílias para o chá ou deirem até junto de outra árvore, que"dava umas florzinhas brancas". Jánão sabe exactamente qual era. "A

senhora que cuidava de nós tinhaimensa paciência. Fazia-nos fios e

pulseiras com aquelas flores, comuma agulha. Lembro-me tão bem."

Naquela altura, "a coisa melhor eravir para a casa da avó". A proprieda-de, enorme, cortada a meio pelaEstrada de Marvila, terá sido manda-da construir em 1859 por madameBurnay, modista belga, então "res-

ponsável por fazer os vestidos da

coroa portuguesa", e adquirida pelobisavô de Maria e Carlota em 1918.

Havia de tudo na quinta. Zona de

mata, de hortas e de plantação de

flores, que depois eram levadas "paraos navios da Companhia Nacional de

Navegação", que atracavam aqui per-to, no Tejo que se vislumbra lá embaixo. Carpinteiro, pintor, serralhei-

ro, uma escola para os filhos dos tra-balhadores. Tinha cavalos, um pom-bal, um canil, e um jardim para frui-

ção da família, com diferentespatamares e recantos.

É esse espaço que agora percorre-mos. "Tudo junto são cerca de 18 milmetros quadrados", aponta Carlota.O que faz deste "um dos maiores jar-dins privados de Lisboa". O palace-te, à excepção de três salões, man-tém-se de acesso exclusivo à família,que aqui vive, terceira, quarta e quin-ta geração. Mas o jardim abriu pelaprimeira vez ao público há dois anos,durante a segunda edição do festival

Jardins Abertos, e é um dos espaçosque se mantém no programa desdeentão (26 de Outubro, das lOh às 14h,acesso limitado à lotação). "Dá muito

prazer mostrar isto às pessoas e vercomo se sentem bem aqui e não que-rem ir embora", conta Carlota.

Vamos caminhando por entre asombra das árvores altas e frondosas.

Alguns ramos já estão mais despidos,encolhidos, mas como existem pou-cas plantas de folha caduca, não che-

ga a cobrir-se dos tons característicosdo Outono. "É um jardim muito ver-de o ano todo."

Passamos pela estufa, com portadasem ripado de madeira e uma colecçãode avencas, construída pela avó deMaria e Carlota. Ela "adorava este jar-dim e houve uma altura em que viviacom 14 cães, sete dentro de casa e sete

fora, um macaco e uma arara", contaCarlota. E cavalos. "Adorava montare saltava a cavalo", acrescenta Maria."Temos a cocheira lá ao fundo e oscavalos vinham aqui pela Azinhaga da

Bruxa até esta zona, onde era o pica-deiro." No tempo de meninice dasduas irmãs, o espaço já era campo defutebol improvisado e foi-se, entretan-

to, degradando, ganhando mato. Já é

difícil ver o painel de azulejos, pintadopor Jorge Colaço, onde surge a avó e

o cavalo Azeitona.Ao lado, fica o jardim de buxo. E,

noutro recanto, o pequeno lago com

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três cisnes negros. Ou a casinha cor-

de-rosa. Carlota, agora com 37 anos,a mais nova de três irmãos, tem aquia "memória mais viva" da infância

passada no jardim da família. Era acasa das bonecas. "Tinha lá dentrouma cantoneira com um serviço daVista Alegre em miniatura, um fornode fazer pão e uma espreguiçadeira.E nós vínhamos cá para fora apanharsol. É uma imagem de toda a minhainfância." ¦*

Actualmente, é o enorme dragoei-ro que se destaca, na clareira princi-pal. Há um ano, a família decidiualugar o jardim para eventos privadose, quando há casamentos, o altar é

quase sempre ali, junto à árvore ori-

ginária da Macaronésia. "Aprende-mos isso contigo", aponta Maria a

Tomás Tojo, director do Jardins Aber-

tos, que nos acompanha na visita a

três dos espaços incluídos no progra-ma da primeira edição de Outono dofestival. "Toda a vida brincámos à

volta destas árvores e para nós eram

iguais a todas as outras. Só desde quete conhecemos é que aprendi o queera um dragoeiro. "

Um jardim exóticonuma ruína

Até agora, o Jardins Abertos contava

apenas com uma edição anual, naPrimavera. Mas este ano a organiza-ção decidiu avançar com uma dataextra, no último fim-de-semana des-

te mês. "No Outono, a natureza pare-ce estar meio parada, a preparar-separa hibernar. Mas, na verdade, é

quando os sistemas de ramificaçãodas árvores se desenvolvem parapoderem tolerar o próximo Verão",vai contando Tomás Tojo enquantopartimos rumo ao próximo jardim.

"É uma altura propícia a váriostrabalhos de jardinagem, sobretudode plantio." Por isso, nas oficinas des-

ta edição vai ensinar-se como fazer a

poda, a multiplicação de algumasespécies, a recolha e a preservação

de sementes ou como plantar begó-nias. E, se chover durante a próximasemana, um dos passeios levará os

participantes numa caminhada de

identificação de cogumelos no Par-

que Florestal de Monsanto (activida-de sujeita às condições climatéri-cas).

Os workshops mais técnicos decor-rem nas Escolas de Jardinagem e Cal-

ceteiros de Lisboa, na Quinta Condedos Arcos, cujos jardins estão abertosao público desde o ano passado eentram agora, pela primeira vez, na

programação do festival, com entra-da livre durante todo o fim-de-sema-na e uma visita guiada na manhã de

domingo (das lOh às 12h). "É um per-curso muito bonito, com 28 árvoresde interesse botânico, porque vêmde outros continentes e foram lá esta-bilizadas ou porque já têm uma idade

considerável, o que faz com quesejam exemplares únicos."

O festival nasceu em 2017 por caro-lice de um grupo de amigos, "criado

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A Quinta das Pintoras,em Marvila, pertenceà família de Mariae Carlota Albergariadesde 1918; tem um jardimenorme, com cisnes

negros, uma estufae inúmeros recantos

com poucos recursos" e duas mãosde jardins, privados ou semiprivados,escondidos no miolo da cidade deLisboa. Logo naquela edição, e num

espaço de 48 horas, receberam 3000inscrições para as 80 vagas quetinham previsto. Hoje, são quase 30jardins, com a Câmara Municipal deLisboa como co-organizadora e cercade 12.000 participantes.

Os espaços que vão estar abertosnesta edição piloto de Outono são

sensivelmente os mesmos que inte-

graram a programação da Primave-ra. A ideia passa também por mos-trar a transformação da natureza ao

longo das estações. E no "jardim deexóticas tropicais", colado ao mira-douro da Senhora do Monte, a dife-

rença "é incrível", espanta-se PietroRomani. Foi ele o voluntário respon-sável por "abri-lo" para a última edi-

ção do festival, em Maio, e, uma vez

que o proprietário, Nuno Prates, não

pôde estar presente, é Pietro quemnos guia por esta minúscula pérolatropical instalada no quintal de umaruína.

Lá de cima, debruçados sobre ovarandim do miradouro, damos mais

pelos edifícios mutilados, completa-mente em ruínas, e pelo ar inacabadodo jardim do que pela riqueza da

colecção botânica. É preciso descer

e percorrer o estreitíssimo corredor

por entre a folhagem exuberante."Não tem uma única espécie autócto-ne portuguesa. São do mundo intei-

ro", revela Tomás Tojo. Muitas bro-mélias de variedades diferentes, umaparede de epífitas ("são todas as plan-tas que vivem sobre outras, agarradasa outras, em troncos"), e árvores defrutos tropicais: anona, líchia, manga,papaia, pitanga, lima, araçá, ananás."No fundo, este jardim é uma aulasobre como estabilizar plantas quenão são destes ecossistemas .

" ¦*E como "cresceu tudo" tanto nos

últimos meses, compara Pietro. "As

folhas desta papaia tinham queimadotodas durante o Inverno. Havia apenasuns primeiros rebentos, umas folhi-nhas pequeninas e uns frutos que ainda

vinham do Verão passado. O tamanho

que tem agora é incrível." As plantastropicais "tendem a crescer mais nestaaltura de Verão/Outono", por isso estátudo maior e mais viçoso.

Nuno Prates, contam-nos, é umautodidacta apaixonado pelo mundoda botânica e da jardinagem. Há três

anos que começou a plantar este jar-dim e, quando o edifício for reabili-tado, "vão ter de arranjar maneira defazer a obra sem lhe mexer". Há 30anos que se enreda no universo das

plantas, tentando recriar diferentesecossistemas. Tem cinco jardins emdiferentes pontos do centro de Lis-boa, cada um com um tema diferen-

te, e três abrem ao público no festival:

este, apelidado de "exóticas tropi-cais" na programação (sábado e

O castanheiro do jardimdo Beco do Monte é umararidade em Lisboa;já o jardim de ExóticasTropicais escondeuma ampla vista paraa cidade e espéciesde todo o mundo

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domingo, das lOh às 17h); o jardimmediterrâneo do "último andar" deum prédio na zona do Saldanha; e o

jardim integrado na biblioteca botâ-nica privada do proprietário, comuma colecção de obras especializa-das em plantas tropicais e subtropi-cais (estes últimos estarão abertossábado e domingo, das lOh às 14h).

Criar uma comunidademais consciente

O objectivo do festival é "ir do pátioao palácio". Literalmente. Desde os

típicos quintais alfacinhas, como osCaldeireiros ou o "pátio do João e daTeresa" aos jardins do Palácio deBelém ou do Palácio Fronteira, pas-sando por jardins botânicos (da Uni-versidade de Lisboa ou o MonteiroMor, por exemplo), jardins de insti-

tuições (Grémio Literário, TribunalConstitucional, este uma estreia, ouo Centro Ismaili de Lisboa) e jardinsprivados (de palacetes como a Quin-ta das Pintoras ou de colecções botâ-nicas como as de Nuno Prates).

E através da atracção do voyeuris-mo de espreitar jardins de outra forma

inacessíveis, da vontade de aproveitara entrada gratuita ou as visitas guia-das, conseguir falar a novos (e velhos)

públicos sobre consciência ambiental."Não nos vendemos como um festivalde consciência, é um festival de jar-dins. Mas, assim que as pessoas estãodentro do jardim, conseguimos falarsobre estes temas e trazer estas ques-tões, que é pensar a natureza e a nos-

sa relação com ela em contexto urba-

no", resume Tomás Tojo.Para Pietro Romani, "há um movi-

mento, cada vez maior, de vontadede aproximação à natureza e aos

espaços verdes da cidade". E uma"revolução" na forma como os por-tugueses usufruem - e se apropriam- dos jardins públicos. "Antigamenteem Lisboa era mal visto, quase proi-bido, pisar a relva de um jardim.Hoje, entras no Jardim da Estrelanum fim-de-semana, por exemplo, e

não vês quase relva livre." Tomás

Tojo acredita que este movimento eo regresso destes temas ao debate

público ajudam a explicar o sucessoe adesão ao festival. "As pessoas que-rem falar sobre a natureza e, de algu-ma maneira, conectar-se com ela."

Há vontade de procurar estilos devida que estejam "mais de acordocom o respeito pelo planeta Terra e

pelos recursos que temos à nossa

disposição e que, eventualmente,vão esgotar se não formos sensatos

na sua utilização." E de voltar a criarraízes, com a natureza e com outroshumanos, longe dos ecrãs.

A aposta no voluntariado vem nes-se sentido. Além do apoio na organi-zação do festival, são criados pré-e-ventos durante os fins-de-semana queantecedem a iniciativa com o objecti-vo de "construir uma comunidademais consciente dos espaços verdes

urbanos", conta Pietro Romani, quecoordena agora a equipa de volunta-riado. São já "cerca de 70" elementos."São acções de jardinagem colectiva,

para nos conhecermos e criarmos umespírito de equipa e de comunidade,mas também para as pessoas senti-rem que podem ter um papel activona manutenção e na intervenção dos

espaços verdes públicos e que muitasmãos conseguem fazer muito traba-lho em muito pouco tempo. " O jardimde buxo da Quinta das Pintoras, porexemplo, foi um dos espaços inter-vencionados num dos pré-eventos de

outras edições.

Um ponto de encontrono coração da Graça

No Jardim do Beco do Monte talveznunca tenha existido uma acção devoluntariado oficial, mas têm colabo-rado pessoas de diversas áreas na sua

criação, em regime laboratorial.Arquitectos paisagistas de profissãoe jardineiros amadores como Tomáse Pietro. "Já tivemos aqui quase 15

pessoas ao mesmo tempo" . O jar-dim, de mil metros quadrados, per-tencia a uma quinta em plena colinada Graça, abandonado há mais 15

anos. "Estava uma loucura mas mui-to bonito, com as árvores de fruto e

abóboras grandes por todo o lado",recorda Vincent Trintignant. Foicomo se tivessem encontrado "um

campo no meio da cidade". "Quiscomprá-lo logo", conta ChristineChansou. "A minha mãe é portugue-sa e a minha família está cá. Para mimera muito importante regressar às

raízes e mostrá-las aos nossos doisfilhos."

O casal de cineastas francesesmudou-se para Lisboa há três anos e

desde então que decorrem as obrasde recuperação do casario e do jar-dim. "A área que foi plantada e queestá a ser mantida com maior escalaé esta, que é o primeiro sector, umjardim tropicalista que se vai arrastaraté ao patamar de baixo", guia-nosTomás Tojo, primo do casal e gestordo projecto de jardinagem.

O castanheiro, raro no clima ame-no de Lisboa, já está repleto de ouri-

ços, que vão caindo ao ritmo da con-versa. "As castanhas não são maravi-lhosas, porque não tem chovidomuito", ri-se. Ao longo do trilho tra-

çado com troncos sobre a terra,vamos encontrando algumas espé-cies autóctones, como o acanthus,"vê-se muito na Mata de Benfica", e

espécies exóticas, como a monstera

monkey, "muito na moda", ou ver-sões variegatas (com laivos albinosna folhagem), de heras, fiais benja-minas, jibóias. E, depois, as tais árvo-res de fruto: citrinos, uma figueiraenorme, uma nespereira. E umaailanthus altíssima, uma "invasoratramada" que decidiram manter a

pedido dos vizinhos de cima. "É mui-to engraçado, porque muito do quesabemos sobre este jardim foi conta-do pelos vizinhos." Ainda hoje, há

quem baixe uma cesta pelo muro, a

pedir abóbora-chila ou alguma fruta.E Vincent e Christine querem queassim continue.

"Queremos manter a vida do jar-dim, mas não só para nós." Doar aos

vizinhos, fazer parcerias com asso-

ciações para que possam vir colher afruta excedente, colaborar com jar-dineiros amadores, receber eventose workshops. "Queremos organizarencontros aqui, em que as pessoaspossam imaginar e fazer coisas emconjunto. Eventos em torno do cine-

ma, debates, workshops para criançastambém, ligados à natureza e nãosó."

Todos os trabalhos têm sido feitosde acordo com os princípios da per-macultura, sem recurso a produtosquímicos ou maquinaria pesada. O

prado melífero, por exemplo, criadocom flores que atraem as abelhas, éceifado à mão e deixado sobre o solo,

para que as sementes fiquem na terra

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"Queríamosdar aos nossos

filhos umjardim puro,mesmo no meioda cidade, paramostrar que é

possível fazê-10,até aqui"

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e voltem a germinar no ano seguinte."Queríamos dar aos nossos filhos umjardim puro, mesmo no meio da cida-

de, para mostrar que é possível."Quando estiver terminado, o jar-

dim do Beco do Monte há-de ter mais

uma romãzeira e um pequeno bos-

quete comestível, um jardim mediter-râneo no patamar inferior, de acesso

privado à família, um tanque e umdeck multiusos, que se poderá trans-formar num minianfiteatro para os

eventos. Quem sabe um tomateiro ouumas flores comestíveis. "A economia

portuguesa cresceu muito nos últi-mos anos. Toda a gente comprou os

terrenos, está a fazer grandes edifí-cios e piscinas e tudo isso. Acho queé muito importante que algumas pes-soas mantenham simplesmente a

terra e façam alguma coisa com ela,

que mantenham essa herança e o ver-de da cidade", defende Christine.

"Se alguém trouxer alguma coisa,nós plantamos. Se quiserem algo,levam. Não é para ser só um jardimbonito. Queremos que mude com os

anos. Porque alguém veio e pôs flores

aqui, o outro levou dali. E manter um

bocadinho selvagem", resume Vincent."E partilhar", acrescenta Christine."Como um ponto de encontro no meioda natureza." No meio de Lisboa.

Jardins Abertos

26 e 27 de Outubro - LisboaAlém das visitas a cada um dosjardins, que podem ser livres,limitadas (a um número restritode participantes por entrada) ouguiadas, a programaçãocontempla seis percursostemáticos guiados pordiferentes especialistas,mostras e oficinas.No sábado, por exemplo,decorrem percursos guiadosdedicados à relação entre arte ebotânica (lOh-12h, com AndréLaurins), à água (14h-17h, comHelena Ramos), ou por entrejardins, avenidas e varandas(15h-17h, com Ivo Meço). Nodomingo, há uma visita inédita

ao sapal, no estuário do Tejo,guiada por Ana Cristina Brito(9h30-12h30), ou de bicicletaentre a Gulbenkian e Monsanto(12h-16h30, com MarianaMachado). Estas duasactividades são as únicas querequerem inscrição prévia.Durante o f im-de-semana, oMercado de Ofícios do BairroAlto tem também patente duasexposições (10h-14h):fotografias de jardins ejardineiros, da autoria deFabiana Übida, e uma mostra delivros infantis sobre a natureza,da editora Planeta Tangerina.Enquanto na Estufa Fria deLisboa decorre uma mostra deorquídeas (lOh-17h).A festa de encerramento estámarcada para o Jardim doPríncipe Real, ao longo da tardede domingo, com uma acção desensibilização para a recolha debeatas.Preço: gratuito(por ordem de chegada)jardinsabertos.com

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