preconceitos sociais e estereotipos

15
Esther Ramos Radaelli Maíra Mendonça Cabral Professora Orientadora: Júlia Almeida Comunicação Social - Ufes

Upload: julia-almeida

Post on 03-Jul-2015

2.695 views

Category:

Travel


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Preconceitos sociais e estereotipos

Esther Ramos Radaelli

Maíra Mendonça Cabral

Professora Orientadora: Júlia Almeida

Comunicação Social - Ufes

Page 2: Preconceitos sociais e estereotipos

A mídia é sempre alvo de inúmeras críticas. Mas será que ela é realmente a fonte

dos males do mundo moderno? Afirmar isso é extremismo. Porém, inúmeros artigos e

pesquisas confirmam que os meios de comunicação muitas vezes firmam

estereótipos, agravando assim certos tipos de preconceitos sociais. Um exemplo

claro disso é o fato de as pessoas recorrentemente afirmarem que nas favelas

existem apenas bandidos. Podemos culpar as pessoas por pensarem assim?

Constantemente, o enfoque das matérias sobre violência é dado numa perspectiva

que contribui para a existência desse tipo de pensamento estereotipado. Definições,

hoje já cristalizadas, foram enraizadas no nosso pensamento através de conceitos

tendenciosos oferecidos pela mídia. Cecília Coimbra em seu livro Operação Rio – o

mito das classes perigosas (2001, p. 278) afirma que “da mesma forma que se

construíram perigosos ‘inimigos da Pátria’ nos anos 60 e 70, também hoje,

principalmente via meios de comunicação de massa, estão sendo produzidos ‘novos

inimigos internos do regime”. Essa frase de Coimbra resume bem o que foi

delineado até aqui.

Page 3: Preconceitos sociais e estereotipos

Esse trabalho busca esclarecer preferências e estigmas da mídia com

relação a grupos sociais, fazendo com que a população seja mais

criteriosa com os assuntos noticiados. O desconhecimento quanto à

profundidade dos problemas sociais é o grande causador da falta de

questionamento da sociedade, que passa a aceitar e a difundir as

idéias veiculadas pelas grandes redes de comunicação. Por isto,

tornam-se necessários trabalhos com um enfoque diferente para que

haja um maior questionamento do produto oferecido pela mídia.

Explicitar o apartheid social maximizado pela ação preconceituosa

das mídias caracteriza-se como o grande objetivo desta pesquisa.

Page 4: Preconceitos sociais e estereotipos

Para conseguir alcançar esse objetivo, o trabalho foi realizado seguindo algumas etapas.

Como primeiro passo, pesquisas bibliográficas foram realizadas a procura de artigos

pertinentes ao assunto em questão. As principais fontes foram da internet, como o site

do Observatório da Mídia, do Scielo e da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares de Comunicação).

Logo após, houve um aprofundamento da leitura desses textos e uma análise dos

materiais mais relevantes para o entendimento do tema “Preconceitos Sociais e

Estereótipos na Mídia”.

Para dar consistência e originalidade ao trabalho, foi feita uma entrevista a alunos de

Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo, para que pudéssemos

analisar a maneira que a mídia influi no modo como as pessoas vêem situações que

envolvam moradores do morro. Feito isso, esse pôster científico foi elaborado com a

síntese das informações obtidas, levando assim o resultado da pesquisa ao conhecimento

público.

Page 5: Preconceitos sociais e estereotipos

Textos extraídos do site Observatório de Imprensa:

- “A mídia e a propagação de estereótipos”. Nesse artigo Mário Augusto Jakobskind conta sobre o então

novo livro Operação Rio – o mito das classes perigosas: um estudo sobre a violência urbana

(COIMBRA, 2001) , a mídia impressa e os discursos de segurança pública, de autoria da psicóloga e

professora universitária Cecília Coimbra. Esse livro trata da violência pública de maneira distinta com

a forma que a imprensa retrata esse mesmo tema, desarmando assim vários mitos que são difundidos

pela imprensa.

- “O preconceito social na notícia”, por Luciano Martins Costa. Através desse texto, o autor faz uma

crítica direta à elitização das grandes redes de comunicação, que em sua maioria, destinam-se a

cidadãos de classe média e alta. Em conseqüência desse fato, a ligação entre crime e pobreza é cada

vez mais acentuada pela mídia e contribui para uma verdadeira segregação social, na qual os

moradores de bairros carentes e favelas são excluídos e encarados como um risco à paz e à

preservação da tranqüilidade dos grandes centros urbanos.

- “A perpetuação do estereótipo da favela, por Marcos Paulo de Araújo Barros. Esse artigo trata de como

as favelas são retratadas nas novelas, analisando que estas acabam, em sua grande parte,

perpetuando os estereótipos da favela.

Page 6: Preconceitos sociais e estereotipos

Textos de outras fontes:

- Site Scielo: “Mídia, violência e alteridade: um estudo de caso” de Fabiana Pinheiro

Ramos e Helerina Aparecida Novo da Universidade Federal do Espírito Santo. Esse

artigo é um estudo de caso. Analisando o episódio do assalto ao ônibus 174, ocorrido

em junho do ano 2000, no Rio de Janeiro, as autoras desse artigo busca elucidar a

produção e divulgação de representações sobre o agente da violência (o criminoso)

veiculada pelos meios de comunicação, através desse acontecimento.

- Site do Intercom: O artigo “Territórios proibidos: mídia e subjetividade na favela da

Maré”, de Carla Baiense Felix, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Neste

trabalho, Carla procurou evidenciar, através de pesquisas sobre o Jornal RJ TV 2ª

Edição (Rede Globo) e da análise de eventos ocorridos na Comunidade da Maré, no

Rio de Janeiro, a influência exercida pela mídia em relação à criação de um

estereótipo da favela: a visão de um lugar sujo, excluído e marginalizado. Além

disso, o texto busca enfatizar o modo como a estigmatização dessas comunidades

por parte de grandes redes de comunicação contribui para a desconstrução da

subjetividade de seus moradores, que passam todo o tempo tentando minimizar as

conseqüências da exclusão e do preconceito que os cercam.

Page 7: Preconceitos sociais e estereotipos

A mídia contribui significativamente com os preconceitos e estereótipos

que se enraízam na mente da população que na maior parte das vezes só

possui os meios de comunicação de massa como fonte de informação.

Isso é o que se pode depreender da leitura de especialistas, como

gostaríamos de mostrar. No artigo “A mídia e a propagação de

estereótipos” Mário Augusto Jakobskind discorre sobre o livro Operação

Rio – o mito das classes perigosas: um estudo sobre a violência urbana, a

mídia impressa e os discursos de segurança pública (COIMBRA, 2001) que

aprofundou pesquisas sobre o tema da Operação Rio tal como abordada

nos principais jornais do Brasil (Folha de S. Paulo, Estado de S.Paulo, JB

e O Globo) de janeiro de 1994 até maio de 1995.

Page 8: Preconceitos sociais e estereotipos

Percebemos assim, que esse livro escrito há mais de quinze anos nãopoderia ser mais atual. Essa fala de Coimbra ilustra o papel da mídia anos fazer ver com bons olhos as operações militares e policiais queinvadem morro acima. Naquela ocasião, os jornais ilustravammanchetes que induziam a essa visão, como: "Empresários queremExército nos morros", "Exército Comanda a Operação contra o crime","Nova Fase da Operação vai corrigir erros". Com isso, a populaçãoacreditava e continua acreditando que as pessoas armadas quetrabalham a mando do Estado são heróis que apenas buscam levar apaz aos lugares de desordem e violência, como a favela. Na época daOperação Rio, ao anunciarem a retirada das Forças Armadas, jornaisreceberam inúmeras cartas de leitores, que pediam a permanênciadesse órgão. Os que pensavam e pensam o contrário são tratados comodefensores de bandidos.

“Detive-me em reportagens sobre a

violência no Rio, editoriais e cartas de

leitores. Quis mostrar como os veículos

prepararam a população para aceitar e

aplaudir a Operação Rio e como

produzem verdades, do tipo quem é o

vilão e quem é perigoso, e

esquecimentos.”

Cecília Coimbra

Page 9: Preconceitos sociais e estereotipos

Na opinião de Luciano Martins Costa (2006) é possível perceber o distanciamento da grande

imprensa em relação às classes mais baixas da sociedade, já que jornais de grandes centros

urbanos, contribuem para a composição de um verdadeiro “apartheid social”, em função de

sua tendência elitista e sua aproximação as classes mais altas. Desse modo, a mídia, em sua

maioria, torna-se a responsável por propagar uma associação entre a pobreza e a

marginalidade, encarando os moradores de favela como os verdadeiros vilões da sociedade

contemporânea.

Porém, não só a imprensa contribui para isso. No artigo,

“A perpetuação do estereótipo da favela”, Marcos Paulo

(2010) de Araújo Barros, também atenta para o fato de as

novelas contribuírem para a formação desses estereótipos.

E ao analisar a novela Viver a Vida tal como retrata a favela, questiona:

[...] o fato de a principal telenovela do país transformar a favela como um de seus temas

promove o debate público sobre a imagem que os telespectadores fazem da periferia? Ou o

enredo de Manoel Carlos apenas contribui para reforçar estereótipos? (ARAÚJO BARROS;

2010)

Page 10: Preconceitos sociais e estereotipos

É esse o ponto. Grande parte dos meios de comunicação utiliza estereótipos

simplistas para vender as notícias e os produtos de entretenimento. Poucas

vezes notamos alguma tentativa de desmistificação desses preconceitos. O

artigo comenta o caso da novela Duas Caras, na qual Aguinaldo Silva tenta

desmistificar a relação que todos fazem entre violência e favela. Porém, esse

é um caso isolado, em que a favela é retratada como um ambiente pacífico e

habitado por pessoas trabalhadoras.

Representação da favela Portelinha, de

Duas Caras

Lá os moradores da favela eram

representados como

trabalhadores

Page 11: Preconceitos sociais e estereotipos

Carla Baiense Felix, no texto “Território Proibido:

Mídia e subjetividade na favela da Maré” (2009) ao

longo de 23 dias, durante os doze meses do ano de

2004, observou que cerca de 88% das notícias veicu-

ladas dirigem-se à favela e, desse total, em 73%

das matérias que enfocam o tema, são retratados

crimes ou ações violentas da polícia.

Na opinião desses moradores, há uma grande descriminação, como podemos notar através

desses depoimentos colhidos por Felix: “Eu ouvi dizer numa reportagem que na comunidade

tem bandido porque os moradores deixam. Isto não é verdade. Agora, o bandido ta lá armado,

ninguém é maluco de ir lá pra tentar convencer ele”; “Tem uma discriminação grande. Quando

vai arrumar emprego, botar Maré...Não pode fazer. Já aconteceu comigo.” Depoimentos como

esses mostram o quão árdua se torna a vida desses indivíduos, estigmatizados por uma visão de

violência, criminalidade e desordem.

Complexo da Maré

Page 12: Preconceitos sociais e estereotipos

Para comprovarmos o quão enraizada está a concepção de que favela e violência andam

juntas, realizamos uma pesquisa, com vinte estudantes de Comunicação Social, da

Universidade Federal do Espírito Santo. A entrevista consistia na apresentação de uma foto

em que policiais carregavam um homem nas costas, enquanto descia as escadarias de uma

favela e a seguinte pergunta foi feita:? “Analisando a abordagem que a mídia faz da

violência, qual a sua visão da favela”.

Absolutamente todos falaram de violência,

mencionando palavras e expressões como:

tiroteio, desordem, falta de higienização e

planejamento, tráfico de drogas, balas

perdidas, lugar de bandidos, lugar onde nunca

se deve ir e etc. Para muitos, a resposta para

essa pergunta parece óbvia, porém só é óbvio,

pois essa relação já está cristalizada na mente

de todos.

Page 13: Preconceitos sociais e estereotipos

No artigo “Mídia, violência e alteridade: um estudo de caso”, Pinheiro

Ramos e Aparecida Novo, constatam que:

Imagem de Sandro

durante o seqüestro do

ônibus 174

Essa citação, nada mais é, do que uma

comprovação de tudo que vemos diariamente na

imprensa. Na maioria das vezes, as matérias de

violência relacionam o crime com a pobreza.

“Em suas análises sobre a desqualificação social,

Paugam (1999) mostra que a pobreza assume um

status social desvalorizado, o que obriga os pobres

a viver numa situação de isolamento, procurando

dissimular a inferioridade de seu status. A mídia,

freqüentemente, parece corroborar essa

desqualificação, uma vez que a violência produzida

e/ou mantida pelas elites não tem a mesma

cobertura e ênfase que fenômenos como o

seqüestro do ônibus, contribuindo ainda mais para

a associação entre pobreza e violência.” (PINHEIRO

RAMOS; APARECIDA NOVO; 2003)

Page 14: Preconceitos sociais e estereotipos

A mídia, de maneira geral, faz com que analisemos os indivíduos menos favorecidos como

criminosos e “perturbados”, levando-nos a crer que suas atitudes são apenas motivadas por

problemas individuais. Deixam de lado a complexidade das causas da violência, que são um

fenômeno da estrutura social.

Mas porque será que ela toma essa posição? Através dessa pesquisa notamos que a mídia, de

modo geral, preocupa-se fundamentalmente com os aspectos mercadológicos das notícias,

dirigindo-as a membros de classe média e alta. Sendo assim, afasta-se de sua função social

que é levar à população informações com o menor grau de preconceito possível, para que a

sociedade busque cada vez mais desenvolver seu senso crítico e de justiça.

O desprezo pelo aprofundamento desse assunto faz com que ocorra a formulação de idéias

distorcidas, como no caso em que as pessoas se referem à favela como se fosse um tipo de

limbo que não pertence à cidade. Porém, mesmo as zonas menos favorecidas dos municípios

são cidadãs, portanto são da responsabilidade de toda a população. A partir do momento que

passarmos a ver os problemas sociais como pertencentes a todos, os pensamentos

estereotipados passarão a existir com menos freqüência. Assim, o modo como a mídia trata

esse tema é fundamental para darmos um passo rumo ao esclarecimento da população.

Page 15: Preconceitos sociais e estereotipos

FELIX, Carla. Territórios proibidos: mídia e subjetividade na favela da Maré.

XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Rio de Janeiro.

Maio. 2009 <http://www.intercom.org.br>. Acesso em: 28 de junho. 2010

DE ARAÚJO BARROS, Marcos Paulo. A perpetuação do estereótipo da favela,

maio. 2010. Disponível em: <www.observatoriodaimprensa.com.br>. Acesso

em: 28 junho.2010.

MARTINS COSTA, Luciano. O preconceito social na notícia, julho. 2006.

Disponível em: <http://www.intercom.org.br>. Acesso em: 28 de junho. 2010.

JAKOBSIND, Mário Augusto . A mídia e a propagação de estereótipos.

Disponível em: <http://www.intercom.org.br>. Acesso em: 28 de junho. 2010.

PINHEIRO RAMOS,Fabiana; Aparecida Novo ,Helerina Aparecida Novo. Mídia,

violência e alteridade: um estudo de caso, Sep./Dec. 2003. Disponível em:

< http://www.scielo.br>. Acesso em: 28 de junho. 2010.