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Portfolio of contemporary arts

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Jardim de Aclimatação XXI O trabalho intitulado Jardim de Aclimatação XXI nasceu a partir de uma residência artística realizada num galpão dentro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Nesta, ao iniciar a residência com muitas caminhadas pelo jardim , senti o peso que a história do jardim tem sobre a cidade e sobre ele mesmo. Passei a frequentar a biblioteca, onde pude aprofundar a pesquisa sobre a criação deste jardim que é concomitante a criação da cidade do Rio de Janeiro. Meu interesse pela botânica e pelos desenhos dos artistas viajantes e pela história de modo geral, vem já a bastante tempo. A série Paisagens Hybridas iniciada em 2013 é composta por eles e minha pesquisa artística até então é permeada por esse universo. Quando me deparei com o decreto de Dom João afirmando querer criar um Jardim de plantas exóticas 1 , estabeleci um paralelo de que o Jardim Botânico seria como um grande gabinete de curiosidades a céu aberto. Era como se o inverso ocorrese, trouxemos para o dito novo mundo as plantas oriundas de países distantes que estavam próximas a essas viagens

                                                                                                               1 Gaspar Braga, Claudia e Barata, Carlos Eduardo. De Engenho a Jardim pág.47, 2008.

do descobrimento, como China, Ilhas Mauricio India, Africa e outros. Assim, o trabalho começou a ganhar forma de maneira bastante fragmentada na medida que ia coletando objetos e referências diversos na atualizacão desse gabinete, refazendo visitas ao meu próprio atêlie onde já havia trabalhado com plantas secas, além do constante olhar a toda iconografia da cidade do Rio e da Fazenda da Lagoa. Junto com todos esses elementos a criação de novas plantas hibridas feitas a partir de moldes de plantas de plástico, percebi que coleção foi cresendo e se juntando naturalmente em torno de uma mesa, na qual foi possivel observar que operavam no trabalho diversos processos relacionados por Walter Benjamin a uma mente dita alegórica. A intertextualidade que cada objeto ganha ao se justapor um ao outro, a apropriação e a fragmentação estavam ali. 2 A mesa então era como um grande papel, e sobre ela a colagem de objetos estava sendo feita. A mesa também traz de certa maneira a questão de se expor o processo, como uma mesa de trabalho que neste caso deve ser colocada afastada da parede para que o espectador possa dar a volta nela, e assim perfazer um caminho, como uma outra viagem.

                                                                                                               2 Buchloch,Benjamin. Procedimentos Alegóricos, apropriaçnao e montagem na srte contemporânea. pág. 8,2.000.

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A questão da coleção, no caso do Jardim de Aclimatação XXI, se dá de maneira a perceber e tentar refletir sobre a dimensão da ficção que operam nesses locais em que estes objetos são armazenados, primeiramente nos gabientes e posteriormente o museu. A percepção é que essas coleções devem ser vistas como representações, estatutos fictícios de uma realidade,um recorte absolutamente importante de se problematizar. Para Baudrillar citado por James Clifford, “O ambiente de objetos privados e sua posse – dos quais as coleções são uma manifestação extrema - são uma dimensão da nossa vida que é tanto essencial quanto imaginária. Tão essencial quanto os sonhos.”3. Portanto, uma das questões que esse trabalho pretende levantar são os limites da representação daquilo que se configurou chamar de real. Outro ponto importante que tento levantar com o trabalho é a idéia da criação de um jardim, que passa pelo questionamento da possibilidade do homem dominar a natureza. Esse domínio, essa construção é tensionada na medida em que se cria um gabinete de curiosidades contemporâneo com diversas espécies artificiais. O questionamento se dá acerca de que em qualquer jardim nada cresce "naturalmente". Colocada desta maneira, todo jardim é falso.                                                                                                                3  Cliford, James. Colecionando Arte e Cultura. pág.15, 2011.

Por outro lado, de modo mais lúdico e geral, o jardim também é visto como um lugar de utopia4, onde se poderia armazenar todos os tipos de plantas do mundo, assim como um museu mas um museu de plantas.

E como num sonho, tento nessa mesa tão dispersa juntar tempos diferentes e assim tentar chegar nessa idéia de um outro tempo, um tempo sem tempo histórico determinado mas que estabeleça relação com diversos outros. Um tempo não linear, um entre tempos, depositário de todos esses, e assim sem tempo nenhum. Esta definição se aproxima da idéia de uma espaço heterotópico que Michel Foucault coloca, onde "ocorre que as heterotopias são frequentemente ligadas a recortes singulares de tempo." Nesses recortes estariam, os jardins, os manicômios, os museus e o cinema. Para Robert Smithson, o problema do jardim se dá na tentativa de sempre se buscar um jardim paradisíaco, como que um éden perdido, um certo lugar do paraíso na terra. Ele fala que: "O problema abissal dos jardins envolve de alguma maneira uma queda de algum lugar ou de algo. A certeza do jardim absoluto nunca será recuperada."5

                                                                                                               4 Foucalt, Michel. O Corpo Utópico e as Heterotopias, 2013. p. 24 5 Smithson, Robert. Escritos de artistas. p.188,2006.

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Laissez - Passer Laissez - Passer é um termo em francês

utilizado na emissão de um documento que literalmente significa deixar-passar. Este documento é expedido para cidadãos que se tornaram apátridas ( ou seja sem passaporte, sem nacionalidade).

O trabalho tem este nome por se tratar deste direito de ir vir, de estabelecer fronteiras e e a convergência entre a noção de território, sua consequente sensação de pertencimento e a idéia de casa. Para a construção dessas imagens, me apropriei do único documento que meu pai tinha desde de sua saída do Egito em 61, o Laissez - Passer. A partir dele, tentei ficcionalmente reconstruir a trajetória de perambulações de minha família. Assim, fui localizar na internet alguns países habitados por eles e coletar a lembrança dos outros. Fiz uma colagem de memórias e sensações que não são minhas e que juntas tentam trazer esse sentimento de partida. Mas por mais que a saibamos que é impossível retomar o passado, resta a dicotomia entre o que esquecer e o que lembrar. Assim, "esquecer não apenas torna a vida vivível, como constitui a base dos milagres e epifanias da própria memória.”1

1 Huyssein, Andreas, Resistência a Memória. p. 158.

E, é por isto, nessa epifania que posso inventar uma imagem do passado. É como se perder para se achar, esquecer para reconstruir. O mote inicial do trabalho, era o questionamento de para onde devemos ir, e se de fato existe um norte?

Acabei entendendo, que o norte é sempre para onde a gente escolhe ir. Por isso, a própria imagem do Laisses Paissez é uma foto do universo, achada da internet do céu de 61, uma das primeiras imagens coletados antes do homem pisar na lua. Como se pudéssemos ir a qualquer lugar, não há limites pré-estabelecidos. Há sim, a vontade de deixar passar, de maneira livre e desimpedida. Outra imagem deste trabalho, foi um astrolábio arábe transliterado para o hebraico encontrado na biblioteca de Warbur. A ele, juntei a imagem da única foto tirada errada no navio que trouxe os meus familiares ao Brasil, onde aparecia, o mar. Parecia que existia em mim a tentativa de juntar, reconectar essas histórias por meio deste objeto.

Por fim, imprimi as colagens sobre chapas de Offset, a matriz das impressões gráficas, onde a idéia é a de se referir a possível ligação e questionamento sobre uma suposta idéia de origem, que se relaciona com todo esse ir e vir , todo o deslocamento, sendo o próprio significado de Offset, fora do lugar.

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PAISAGENS HYBRIDAS

Os desenhos das Paisagens Hybridas nasceram de um desvio de olhar. Nasceram de meu fascínio pelas gravuras dos artistas viajantes do séc. XXI, e pela descoberta da vastidão que é o universo da pesquisa em uma biblioteca.

Inicialmente me deparei com um livro, primeiro por puro acaso, do Francês Denis Ferdinad, que se chama “Bresil, par Denin Ferdinand. Histoire et Description de tut le peuple.” Esses desenhos faziam a representação do novo mundo para o velho continente e iam na medida de seu conhecimento transformando a ideia deste novo lugar, como que revelando as novas terras através das mesmas. Em parte, a construção do imaginário Europeu acerca de nós se dá pelo olhar dos artistas viajantes, e mais tarde sem percebemos passamos também a adotar esse mesmo olhar, e quase que somos constituídos por ele. Afinal, nossos registros estão condicionados aos registros deles. Para Ana Maria Belluzo que tem uma pesquisa que resultou num livro sobre os viajantes, ela fala: “As obras configuradas pelos viajantes engendram uma história de pontos de vista de distâncias entre modos de observação, de triangulações de olhar......”.1

Nesse sentido, construção desse olhar passa também pela ideia de atestar o mundo através de uma estrutura de representação, vinculada ao

projeto enciclopédico iniciado na Europa no séc. XVI. A formatação da representação articula uma linguagem própria e esta linguagem é entendida e aceitada por todos como uma forma que iguala e exclui toda a incerteza, atesta a verdade do mundo e colabora com o que se quer dizer histórico. Essas questões da representação estão sempre presentes em meio pensamento. Toda uma fórmula de representação, baseado em tratados de ciências antigos, formatam essa mesma linguagem. Para Michel Foucault:

“...Trata-se em primeiro lugar da não distinção entre aquilo que se vê e aquilo que se lê, entre o observado e o relatado, da constituição, pois de uma superfície única e lisa, onde olhar e linguagem se entrecruzam no infinito.....” 2

Portanto, fui buscar nos meus desenhos atestar a mesma verdade, criando a mesma formatação dos desenhos antigos e mantendo até o nome dos gravadores antigos. O trabalho se dá de forma a tentar tencionar as nossas convenções de linguagem que atestam a verdade, usando o mesmo sistema para questionar o sistema. Por isso estão presentes também nessa série os objetos óticos, surgidos no séc. X e que aqui constituem uma espécie de túneis do tempo. São eles que fazem a mediação do olhar, e nas Paisagens Hybridas eles continuam com o mesmo papel. Cada objeto ótico é

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formado pela gravura da qual inicialmente me apropriei e que apagada tem um tamanho próximo ao tamanho original das gravuras, que era de 10 x 15cm.

Aprofundando a pesquisa na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, pude constatar, por comparação, que os desenhos ali contidos não eram todos “originais”. Dennis Ferdinand selecionou outros desenhos de outras expedições como a missão Austríaca e redesenhou-os sem ao menos ter ido ao local. Foi uma descoberta libertadora, na medida em que eu também estava fazendo uma cópia sobre uma cópia, e esse ponto da originalidade passou a ter uma certa relevância em relação trabalho.

Este pesquisa também é uma busca sobre até aonde a paisagem pode interferir nas nossos relações espaço/tempo, dialogando com a ideia histórica do que somos, questionando aquilo que acreditamos ser real. Se é possível nos transformamos ao vermos uma paisagem, se ela dialoga conosco de maneira a sofrermos desvios poéticos de devir. Acredito, que estabeleço entre as Paisagens Hydridas uma ligação direta coma afirmação de Anne Cauqelin onde ela fala: “ Do lado uma atividade construtivista, tratar-se-á de marcar a distância entre a natureza e sua descrição pela paisagem...”3

Nas montanhas do Piauí, por exemplo, eu desenho um traçado geometrizado tentando fazer a menção de campos arados pelo homem. Nosso pequeno

tamanho em relação a paisagem, nosso tamanho que não existe nessa representação. Assim como Cauqulein acredita que a feitura de novas paisagens também é a vasta e permanente afirmação do poder de representação do próprio conhecimento, acaba deixando aberta possibilidade de recriação do espaço. É nesse sentido, que espero ressaltar essa diferença, onde aquilo que para nós, homens nos é natural, o pensar, acaba por reforçar nosso poder de refazer, reconstruir e poder desta forma resignificar a mesma paisagem.

Outro aspecto importante, é tentar estabelecer, afinal um diálogo entre tempos. Uma ideia sim, marcada pela simultaneidade dos tempos. A superposição de tempos variados, uma tentativa de interlocução entre passados e presente, de reescrever histórias ao mesmo que se dúvida de própria linguagem é que permeia este projeto. Como para Gilles Deluze: “.....um grandioso tempo de coexistência que não exclui nem o antes nem o depois, mas os superpões numa ordem estratigráfica.....” 4

                                                                                                               1  Belluzo, Ana Maria. In.: A próposito do Brasil dos Viajantes. Revista Usp,1996. 2 Foucault, Michel. In.: A Palavra e as coisas. Martins Fontes, 2000. 3 Cauquelin, Anne. In.: A Invensão da Paisagem, Martins Fontes, 2007. 4 Deleuze, Gilles. In.:O Tempo não reconciliado. Citado por Peter Paul Palbart.

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Débora Mazloum Rio de Janeiro, 1982. Artista plástica e cenógrafa. Mestranda da linha de Processos Artísticos Contemporâneos na UERJ. Formou-se em cenografia pela Escola de Belas Artes da UFRJ em 2009 e em Cinema na Estácio de Sá em 2005. Como parte complementar de sua formação em artes fez diversos cursos livres no EAV- Parque Lage desde 2001 e também o curso imersivo de desenho Procedência e Propriedade no ateliê do Charles Watson. A busca conceitual do trabalho está atualmente voltada para elaboração de espaços e imagens que estabeleçam diálogos históricos entre tempos diversos, buscando desenvolver a relação com a territorialidade e novas paisagens. Como jovem artista, participou de exposições coletivas no Brasil e fez uma exposição individual – Paisagens Hybridas, na Galeria do Sérgio Porto, no Rio de Janeiro em 2013. Na área de Cenografia atuou no mercado de cinema, teatro e exposições durante mais de 8 anos, tendo feito comerciais programas de tv e 6 longas metragens. Natural do Rio de Janeiro, vive e trabalha entre Rio e Brasilia. FORMAÇÃO

2014 -2016 Mestranda em Artes Visuais, Processos Artísticos Contemporâneos Universidade Estadual do Rio de janeiro, UERJ. 2012 Procedência e Propriedade. Workshop intensivo de desenho e conceitualização. Realizado no ateliê do prof. Charles Watson, RJ. 2005 - 2009 Bacharel em artes - habilitação Cenografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.

2002 - 2004 Graduada em Cinema na Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro.

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EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL

2013

• Paisagens Hybridas - Exposição Individual no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, no Humaitá, Rio de Janeiro.

EXPOSIÇÕES COLETIVAS 2015

• Novas Poéticas - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em Novembro de 2015. • Projeto Planta Baixa. Instituto Tom Jobim, Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Agosto de 2015.

2014

• Coletiva de Setembro – Galeria Objeto Encontrado, Brasilia DF. • 2ª Coletiva EAV Parque Lage, RJ.

RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS

• Projeto Planta Baixa - Residência Artística no Galpão das Artes, Espaço Tom Jobim, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2015.

PUBLICAÇÕES 2012

• Revista do prêmio Belvedere Paraty de Arte Contemporânea 3. Débora Mazloum Email.: [email protected] tels.: 61 98329425 / 21 980877290