ponto de fusão nº 3

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Os males da rotatividade No mundo do trabalho, chama-se rotatividade a substituição imotivada de funcionários pelas empresas. Essa rotina causa prejuízos ao trabalhador e à economia. O Brasil não segue convenções internacionais que inibem a prática. Entrevista Paulo Henrique Amorim DENGUE REFORMA POLÍTICA O que pode ser feito para a epidemia não voltar Câmara atropela proposta de movimentos sociais TRABALHO, COMUNIDADE E CIDADANIA - SOROCABA - Nº 3 - JULHO 2015 Trimestral

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Revista Trimestral / Julho, Agosto e Setembro de 2015

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Page 1: Ponto de Fusão nº 3

Os males da rotatividadeNo mundo do trabalho, chama-se rotatividade a substituição imotivada de funcionários pelas empresas. Essa rotina causa prejuízos ao trabalhador e à economia. O Brasil não segue convenções internacionais que inibem a prática.

Entrevista

PauloHenriqueAmorim

DENGUE

REFORMA POLÍTICA

O que pode serfeito para a

epidemia não voltar

Câmara atropela proposta de

movimentos sociais

Entrevista

HenriqueAmorim

TRABALHO, COMUNIDADE E CIDADANIA - SOROCABA - Nº 3 - JULHO 2015 Trimestral

Os males da rotatividadeNo mundo do trabalho, chama-se rotatividade

pelas empresas. Essa rotina causa prejuízos ao trabalhador e à economia. O Brasil não segue convenções internacionais que inibem a prática.

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Page 3: Ponto de Fusão nº 3

Uma publicação do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região

Editor Paulo Rogério Leite de Andrade

Redação e reportagem Fernanda IkedoMaurício Sérgio Dias Paulo Rogério Leite de Andrade Daniele Gáspari

Fotografi a José Gonçalves Filho (Foguinho)

Projeto gráfi co e editoração Cássio de Abreu FreireLucas Delgado

Assistente de redaçãoGabrielli Duarte

Endereço Rua Júlio Hanser, 140Bairro Lageado – Sorocaba SPCEP 18030-320 Tel. (15) 3334-5400www.smetal.org.br

Impressão Bangraf

Tiragem 50 mil exemplares Distribuição gratuita

Diretoria Executiva

PresidenteAdemilson Terto da Silva Vice-presidenteTiago Almeida do NascimentoSecretário GeralLeandro Cândido SoaresSecretário de Adm. e FinançasAlex Sandro FogaçaSecretário de OrganizaçãoJoão de Moraes Farani Diretor ExecutivoSilvio Luiz Ferreira da Silva Diretor ExecutivoJoel Américo de Oliveira

Desde 2007, o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Re-gião (SMetal) vem buscando aprimorar seus meios de comuni-cação com a categoria e com a sociedade. Desde então, o SMetal lançou um portal na internet, integrou-se a redes sociais, ampliou a cobertura de notícias do semanário Folha Metalúrgica e ensaiou algumas vezes a produção de uma revista.

Durante essa fase experimental foram lançadas duas edições da Ponto de Fusão, bem distantes uma da outra, em 2007 e 2011.

Mas agora a Ponto de Fusão veio para fi car. A partir desta edi-ção, a número 3, a publicação passa a ser trimestral.

Partindo já deste número 3, as pautas da revista vão abordar assuntos relacionados tanto ao mundo do trabalho (Rotatividade, Terceirização) como da vida do trabalhador na sociedade (Crise da Água, Epidemia de Dengue, História, Cultura).

O ponto de vista das reportagens, o olhar da publicação sobre os fatos, bem como as opiniões contidas na revista não escondem o segmento social que a publicação busca representar, que é a clas-se trabalhadora. Essa transparência é saudável para a democracia.

Essa clareza editorial de forma alguma altera a precisão que buscamos nas informações, nos fatos, nas estatísticas, nas fontes que consultamos para as reportagens. Pelo contrário, oferecemos uma opção de veículo noticioso com a vantagem do leitor saber, sem dúvidas, quais são as diretrizes e as prioridades sociais da publicação que tem em mãos.

Embora a Ponto de Fusão tenha inegável origem metalúrgica, a publicação se propõe a ser um meio de comunicação útil tam-bém para os familiares e amigos do trabalhador e, por extensão, para toda a sociedade.

Afi nal, o fato dos metalúrgicos constituírem uma das catego-rias mais bem organizadas do Brasil deve-se bastante, historica-mente, à sua capacidade de se informar e formar opiniões. Diante dessa trajetória, torna-se natural partir dessa categoria a iniciativa de oferecer ao público um veículo de comunicação de abrangên-cia comunitária e social, e não apenas trabalhista.

Boa leitura!Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região

EXPEDIENTE

Editorial / Patulê

Assuntos de trabalho e da vida

3Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 4: Ponto de Fusão nº 3

Índice

Dengue em Sorocaba

Reportagem traz balanço sobre a epidemia de dengue na cidade e na região metropolitana, as possíveis causas e as providências para evitar que o cenário se repita em 2016.

A falta de normas sobre a troca constante de funcionários pelas empresas representa prejuízos nos salários e na trajetória profi ssional do trabalhador e reduz a massa salarial no país.

Movimentos sociais, sindicatos e jornalistas independentes se destacam em várias mídias, especialmente na internet, como fontes alternativas de informação e opinião.

Rotatividade nas empresas

Reforma Política

Alternativas de comunicação

PatulêEditorial 3DropsMeio ambiente emovimentos sociais 6Região MetropolitanaÀ espera deresultados concretos 12TrabalhoLER: sofrimentoinvisível 22TrabalhoTerceirização nasmãos do Senado 30

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4 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 5: Ponto de Fusão nº 3

Uma reforma política autêntica no Brasil tem potencial para aprimorar a democracia e inibir a corrupção. Mas a reforma que está em discussão no Congresso faz o oposto disso.

Especialistas afi rmam que a falta de chuvas teve menos culpa na crise da água em São Paulo do que a gestão voltada para o lucro das empresas que administram o recurso natural.

Reportagem resgata a história dos primeiros metalúrgicos que se instalaram na região de Sorocaba, em 1589, seis décadas antes da chegada de Baltazar Fernandes.

O jornalista Paulo Henrique Amorim conversou com a Ponto de Fusão sobre alei das comunicaçõesno país e criticouo domínio político e cultural das tradicionais redes de mídia.

Entrevistaexclusiva

O valor da água

História da metalurgia

PatulêEditorial 3DropsMeio ambiente emovimentos sociais 6Região MetropolitanaÀ espera deresultados concretos 12TrabalhoLER: sofrimentoinvisível 22TrabalhoTerceirização nasmãos do Senado 30

EsporteSorocaba noBicicross mundial 32Meio ambienteMovimentosreiventam parques 38Em cenaAgenda edicas culturais 48Uma imagemMonumentoà Varnhagen 49CrônicaVamos cozinhar? 50

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5Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 6: Ponto de Fusão nº 3

Drops

Formação para a sociedade A política de formação do SMetal planejou uma série de palestras e debates com renoma-dos pensadores do país para toda a categoria, mas também abertas ao público em geral. A primeira foi no dia 9 de maio. O convidado foi o sociólogo Emir Sader. Em seguida, no dia 29, Marcio Pochmann explicou o que é precarização do trabalho. Já para o dia 27 de julho o SMetal programou palestra sobre maioridade penal com Negro Belchior. No dia de lançamento desta revista, 4 de julho, o palestrante convi-dado é o jornalista Paulo Henrique Amorim. Acompanhe no portal informações sobre os próximos eventos: www.smetal.org.br

CarrinhadaOs catadores da Cooperativa de Re-

ciclagem de Sorocaba (Coreso) e repre-sentantes das cooperativas dos 22 mu-nicípios que integram a Rede Solidária Cata-Vida saíram pelas ruas do Centro de Sorocaba na sexta-feira, dia 19 de junho, na tradicional “Carrinhada”. A atividade, organizada pelo Ceadec (Centro de Estudos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cidadania), acontece há mais de quinze anos e tem por objetivo chamar a atenção da população sobre a importância da preservação do meio ambiente e da prática da coleta seletiva, com valorização dos catadores.

Meio ambiente Moradores de Piedade realizaram

protesto no final de abril contra a ins-talação de uma pedreira na cabeceira do Rio Pirapora. Segundo manifestan-tes, a pedreira colocaria em risco o abastecimento de água na cidade. O protesto em Piedade contou com o apoio do SMetal. Em Araçariguama os moradores estão em luta ambiental semelhante, mas contra a instalação de um aterro sanitário em região pró-xima às nascentes que desembocam no Ribeirão do Colégio. A subsede da CUT e o SMetal apoiam a população na defesa do Ribeirão.

Plano DiretorTornar a zona rural de Sorocaba po-

pulosa é uma ameaça à sobrevivência de toda a população da cidade pela ameaça de degradação às nascentes existentes nessa região, que dá um respiro verde à cidade. Esse é o en-tendimento do Ministério Público que enviou inquérito à Procuradoria-Geral da Justiça para anular o Plano Diretor, vigente há apenas seis meses. O proje-to reduz 45% das áreas de conservação ambiental e expande em 26% a área de ocupação urbana.

Campanha SalarialA data-base dos metalúrgicos da

CUT no estado de São Paulo é dia 1º de setembro. Mas em junho a categoria já estava se preparando para a campanha salarial. A federação dos metalúrgicos (FEM/CUT) realizou plenárias regionais, nas quais trabalhadores fizeram suges-tões para a pauta de reivindicações. Os principais itens da pauta são redução da jornada de trabalho sem redução no salário; reposição da inflação e aumento real; unificação e valorização dos pisos e valorização das cláusulas sociais.

Leia mais sobre esses e outros assuntos do cenário social, político e sindical em www.smetal.org.br

Emir Sader abriu o circuito de palestras

“Carrinhada” reuniu catadores cooperados

Pochmann falou sobre precarização

Moradores querem evitar danos às nascentes

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Por Maurício Sérgio Dias

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O Valor da Água

Uma crise de gestãoA chamada crise hídrica ocorreu menos por falta de chuvas do que por falta de planejamento e falhas na administração de reservatórios

Por Maurício Sérgio Dias

O Valor da Água

Uma crise de gestãoA chamada crise hídrica ocorreu menos por falta de chuvas do que por falta de planejamento e falhas na administração de reservatórios

Não é novidade que o sudeste viveu, entre 2014 e 2015, uma das maiores crises de abastecimento de sua história. A cidade de São Paulo e vários municípios do interior do estado sofreram forte impacto e en-frentaram racionamentos.

Quais foram as causas dessa cri-se? Há muitas versões, mas especia-listas concordam num ponto: não foi só falta de chuvas que gerou a crise. A estiagem apenas mostrou como é frágil o nosso sistema de abastecimento de água, cada vez mais baseado no lucro e não no atendimento ao cidadão.

Não foi a secaPara o meteorologista Michael

Rossini Pantera, formado no IAG/USP e profi ssional do Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo, a falta de

chuvas foi crônica, mas não foi a principal responsável.

“O governo do estado e a Sa-besp (Companhia de Saneamento e Abastecimento do Estado de São Paulo) fazem gestão imprudente dos reservatórios há anos, além de se descuidarem completamente da fi scalização para manutenção dos mananciais que alimentam os rios”, afi rma Pantera.

Um exemplo foi o descumpri-mento de critérios que constam na outorga recebida pela Sabesp em 2004. Dentre eles, a de que a reti-rada de água do Sistema Cantareira deveria ser proporcional à quanti-dade acumulada no reservatório. Porém, isso não foi obedecido por diversos meses de 2014. Se isso fos-se cumprido desde 2012, seria des-necessário o uso do volume morto do Cantareira.

8 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 9: Ponto de Fusão nº 3

Causas da crise Também contundentes são as

afi rmações do professor-doutor An-dré Cordeiro dos Santos, da UFSCar/Sorocaba, especialista em engenha-ria ambiental aplicada aos recursos hídricos.

Para André dos Santos, as razões da crise são nítidas: “as causas desta crise hídrica em São Paulo são cla-ras. Pode perguntar para qualquer pesquisador na área: o problema não é climático, não é a falta de chuvas. O sistema é feito para quando se enfrentar uma seca ainda continuar tendo água. Se cada vez que min-guarem as chuvas não tiver água, não precisa ter sistema. Se o abaste-cimento de água depende do clima, para que que precisa ter gestão?”

Mas o que parece imperícia tem por trás uma lógica fi nanceira: “é uma série de questões que se somam a uma gestão muito mal feita, voltada só para a lógica do lucro, sem qua-lidade de serviço público. Com esta situação, da Sabesp sendo adminis-trada de forma privada, o estado não faz nenhuma redução de lucro para transformá-lo em investimento” diz Santos.

Não foi surpresaSegundo Santos, nenhum gover-

nante ou gestor foi pego de calças curtas: “acompanho o Comitê de Bacias desde 1996. Todo mundo que trabalha com os comitês já discutia sobre a falta de água e sobre as obras necessárias para evitar o problema em São Paulo. Os órgãos de estado sabiam da existência desses proble-mas”.

Santos diz que a falta de investi-mentos no setor foi grave, em espe-cial na redução de perdas e na eco-nomia de consumo. São duas ações que afrontam as empresas: a primei-ra por exigir investimentos em obras, e a segunda por desestimular o con-sumo de água, principal produto ne-gociado.

Nota ofi cialEm nota para a Ponto de Fusão,

a Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos reconheceu que enfrentou uma seca, mas não assu-miu problemas de gestão.

Dentre suas ações para conter a crise, estão: criação de bônus para quem gasta menos; criação de ônus para quem gasta 20% de sua média;

campanhas publicitárias para a po-pulação; uso de outros mananciais para abastecer o Cantareira; criação do comitê de crise hídrica em 2015; reativação do antigo projeto de cons-trução do sistema São Lourenço.

Gestão voltadapara o lucroDe acordo com a denúncia da

Agência Pública, em investigação fei-ta em dados fornecidos pela própria Sabesp, mesmo nos altos períodos de crise aguda, a empresa de saneamen-to paulista vendeu água com até 75% de desconto para grandes grupos empresariais. Eram os contratos cha-mados de demanda fi rme, conforme aponta reportagem da revista Carta Maior.

Neste sentido, o professor André dos Santos fez uma declaração intui-tiva, porém esclarecedora: “a crise de São Paulo está brava, não? Mas você não vê alguém da indústria reclamar! Já viu a FIESP ou o CIESP reclamar? Será que está faltando água para eles como está faltando para a popula-ção? Eu não sei lhe dizer, mas acho muito estranho os empresários não reclamarem”.

Represa do rio Jaguari, que abastece o sistema Cantareira, estava com volume baixo de água desde 2014

9Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 10: Ponto de Fusão nº 3

O SAAE de SorocabaEm Sorocaba, embora a prin-

cipal fonte de captação de água, o sistema Itupararanga, tenha sido menos afetado pela estiagem do que outros reservatórios do estado, che-gou a haver racionamento em algu-mas regiões da cidade, como Éden, Cajuru, Aparecidinha e alguns bair-ros da zona norte.

O problema só não foi mais gra-ve porque a autarquia que adminis-tra o recurso natural na cidade, o SAAE (Sistema Autônomo de Água e Esgoto), contava com um plane-jamento elaborado dez anos antes para enfrentar crises.

O SAAE é responsável pela cap-tação, tratamento e distribuição de água e pelo sistema de esgoto para uma população de mais de 630 mil habitantes e 210 mil domicílios.

Adutora rompidaFoi o rompimento de adutoras

que transportam as águas de Itupa-raranga até a estação de tratamento do Cerrado, em 2004, que fez cair a fi cha do SAAE para a necessidade de planejamento.

Hoje a empresa conta com três reservatórios (Itupararanga, Ipa-neminha e Pirajibu-mirim), tendo duas estações de tratamento de água (ETA) em funcionamento, a do Cerrado e do Éden, e outra projeta-da para iniciar trabalhos em 2017: a prometida ETA Vitória Régia.

Um dos problemas crônicos en-frentados é a distribuição. Trans-portar a água das ETAs até as casas é o calcanhar de Aquiles. Esse gargalo foi sanado em parte com a implan-tação de um sistema de bombea-mento. Além disso, está em início de execução, um projeto de interli-gação da cidade toda por meio de dutos.

Os extremos da cidade, como Quintais do Imperador, Genebra e Brigadeiro Tobias são servidos por

poços artesianos. Contudo, a ten-dência é que sejam desativados com a ampliação da rede de abasteci-mento.

Mesmo tendo passado por tur-bulências internas — dois de seus ex-diretores, Pedro Dal Pian Flores e Geraldo Caiuby, foram acusados de corrupção pela Operação Águas Claras, do Ministério Público —, a autarquia, no aspecto técnico, mos-trou-se efi ciente.

Despoluição do rioA despoluição do rio Sorocaba,

com verbas do governo federal deu uma nova qualidade à água, fazen-do voltar uma fauna que tinha desa-parecido. Isso só foi possível com a implantação de tubulações coletoras e receptoras e a criação de estações de tratamento de esgoto (ETEs). Se-gundo dados do SAAE, 89% do es-goto coletado é tratado.

Ainda à respeito do rio, o diretor do SAAE, Adhemar Spinelli Júnior explica: “é evidente que a recupera-ção se dá a longo prazo, porque o rio recebeu por anos a fi o o lodo do esgoto caindo constantemente. Essa contaminação fi ca. O próprio rio vai se auto depurar”.

O Valor da Água

Adhemar Spinelli: Planejamento do SAAEAndré Cordeiro: Clima não é o culpado

FONTE: UNIAGUA

Consumo deágua por setor

Embora quando se fale em consumo de água a primeira imagem que venha em mente seja a de torneiras domiciliares e chuveiros, apenas 8% do recurso captado da natureza vai para o cidadão. A agroindústria e a indústria de transformação consomem juntas os outros 92%.

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Fonte: SAAE Sorocaba

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Região Metropolitana

À espera deresultados concretos

Passado um ano desde a criação da Região Metropolitana de Soro-caba (RMS), oficializada no dia 8 de maio de 2014, a sensação dos quase 1,8 milhão de habitantes de 26 mu-nicípios é de que nada mudou.

Uma região metropolitana tem por objetivo o planejamento social e econômico integrado, visando a criação de políticas públicas e ações em conjunto, que busquem soluções para necessidades comuns entre as cidades.

Para Mara Melo (PT), prefeita de Araçoiaba da Serra, cidade integrante Região Metropolitana, até o momen-to não houve nada de concreto a ser mostrado para a população. “Efetiva-mente a RMS não saiu do papel”, la-menta. “A região ainda não viu políti-cas públicas de diminuição nas taxas do transporte coletivo, a questão do lixo, que pode ser regionalizada, ou a questão das águas, que pode ser mais bem tratada”, critica a prefeita.

• Alambari • Alumínio • Araçariguama • Araçoiaba da Serra • Boituva • Capela do Alto • Cerquilho • Cesário Lange • Ibiúna • Iperó • Itu • Jumirim • Mairinque • Piedade • Pilar do Sul • Porto Feliz • Salto • Salto de Pirapora • São Miguel Arcanjo • São Roque • Sarapuí • Sorocaba • Tapiraí • Tatuí • Tietê • Votorantim

Hamilton Pereira é oidealizador da RMS

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A Região Metropolitana de Sorocaba é formada por 26 municípios:

Por Daniela Gáspari

Page 13: Ponto de Fusão nº 3

Outro processo em andamento é a questão da telefonia. Desde 2011, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) ampliou os critérios da defi nição de áreas locais para li-nhas fi xas. Com isso, moradores que fazem parte de uma mesma região metropolitana, passam a realizar chamadas interurbanas com o custo de ligação local.

Sobre a possibilidade da região de Sorocaba se benefi ciar com a lei, Flaviano explica que a Anatel já foi ofi cializada pela Emplasa (Empre-sa Paulista de Planejamento Metropolitano) sobre a existência da nova unidade de desen-volvimento, mas que existe um prazo de no máximo três anos para assimilação e transição da telefonia.

O transporte intermunicipal na RMS passou a ser de responsabilidade da Empresa Metropo-litana de Transportes Urbanos (EMTU), que co-meçou a redesenhar a rede de linhas que aten-de Sorocaba e os demais municípios da região.

Uma das primeiras ações que deve ser per-ceptível aos usuários é a padronização dos veí-culos. Outro ponto importante que vem sendo estudado é integração das tarifas e a interliga-ção entre as linhas. Atualmente parte dos ôni-bus da região não possui conexão municipal e intermunicipal. A expectativa é que principal-mente idosos e estudantes sejam benefi ciados com a integração do transporte, passando a viajar gratuitamente de acordo com critérios a serem estabelecidos.

Projetos iniciados

Transporte Telefonia

Flaviano: Instalação da Agem é fundamental

A demora na criação do Fundo de Desenvolvimento e da Agência Metropolitana (Agem) foi um dos principais fatores que difi cultam o processo de efetivação da RMS, acredita o ex-deputado estadual Ha-milton Pereira (PT), autor do pro-jeto original de metropolização de Sorocaba.

Durante a cerimônia de sanção da Região Metropolitana em 2014, o Governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), prometeu encami-nhar nos “próximos dias” os respec-tivos projetos, o que não aconteceu.

“Essas ferramentas são impor-tantíssimas porque dão uma auto-nomia maior aos municípios, que não fi carão tão dependentes dos ór-gãos estaduais para a elaboração de projetos e busca de recursos”, afi rma Hamilton.

O Fundo de Desenvolvimento Metropolitano foi criado dia 8 de maio de 2015, exatamente um ano

depois da sanção da RMS, por de-creto do governador Geraldo Alck-min (PSDB).

A Agem Sorocaba só foi consu-mada em 15 de junho deste ano.

Longo prazoPresidente do Parque Tecnológi-

co de Sorocaba e membro do Con-selho de Desenvolvimento da RMS, o economista Flaviano Agostinho de Lima, que desde junho é também secretário de Educação de Sorocaba, explica que a população só deve sen-tir os resultados a longo prazo.

Ele conta que, depois de feito o diagnóstico e defi nição de priori-dades da região, a expectativa do Conselho é que a Agência seja ins-talada rapidamente, pois ela será fundamental para a elaboração de projetos, além de dar sustentação ao trabalho das demais ferramentas da RMS, como os conselhos consulti-vos e as câmaras temáticas.

Alexandre Ogusuku, presidente da Subseção de Sorocaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), comenta que mais difícil que criar a RMS, será implementá-la. “É ne-cessário, além de toda a estrutura necessária ao seu funcionamento, modifi car a cultura dos nossos go-vernantes, para uma verdadeira ges-tão integrativa”.

Mesmo com a demora na criação da agência e do fundo, que terão o papel de elaborar projetos de interesse da população e buscar fi nanciamentos, algumas ações tímidas estão sendo iniciadas.

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13Ponto de Fusão Nº3 - 2015

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Em 2016ele volta?

Por Paulo Andrade e Gabrielli Duarte

Quando resolveu, em 2013, tratar a questão do lixo na base do impro-viso e partidarizar os problemas da saúde, o prefeito de Sorocaba, An-tônio Carlos Pannunzio, talvez não imaginasse que, dois anos depois, o despreparo da administração muni-cipal fosse revelado por um mosqui-to, o Aedes aegypti, transmissor da dengue.

Por mais que o prefeito e seu se-cretariado tentem transferir a res-ponsabilidade a terceiros, como o governo federal, o clima e a própria população, os números mostram que Sorocaba detém o infeliz título de maior número de casos de dengue por habitante em qualquer compara-ção, seja com o país, com o estado de São Paulo ou entre as 26 cidades da região metropolitana.

A crise na saúde estava instalada em Sorocaba há meses quando, no

início deste ano, surgiu a epidemia de dengue, que, até maio, já havia incapacitado temporariamente mais de 52 mil sorocabanos e matado pelo menos 31.

Quando a dengue chegou, tam-bém fazia mais de um ano que as falhas na coleta e destinação do lixo na cidade haviam se tornado endê-micas. Sem contar a resistência do prefeito e do seu antecessor, Vitor Lippi, ambos do PSDB, em implan-tar uma política local de resíduos sólidos para coleta e destinação de recicláveis.

A ausência de mais rigor na exi-gência de limpeza dos terrenos parti-culares, o abandono de terrenos pú-blicos, a negligência na fi scalização de focos do mosquito em fábricas e escolas, a falta de opções ao cida-dão para destinação de entulhos, a retirada dos contêineres das ruas e

Os descuidos do governo de Sorocaba em relação à coleta de lixo e ao atendimento à saúde são apontados como determinantes para a instalação da epidemia. Detectadas as prováveis causas, a pergunta é: as providências necessárias serão tomadas?

Dengue

14 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 15: Ponto de Fusão nº 3

o défi cit de pessoal no setor de zoo-noses foram algumas das críticas ao governo apontadas por parlamen-tares, munícipes e funcionários da prefeitura.

De acordo com as críticas publica-das em vários veículos, além da falta de medidas preventivas e de controle da epidemia, o governo municipal falhou no atendimento aos doentes, devido ao quadro insufi ciente de profi ssionais na saúde, a inexistência do prometido hospital municipal e a demora na instalação de centros de monitoramento da dengue.

Automedicação“O número real de casos da den-

gue em Sorocaba provavelmente é muito superior ao registrado ofi cial-mente. Diante de uma fi la de espe-ra por atendimento de mais de seis horas nas unidades de saúde, muitos cidadãos passaram a se automedicar. Esses casos não entram no balanço ofi cial”, explica o vereador Izídio de Brito Correia, presidente da comis-são de saúde da Câmara.

Certamente os maus hábitos de parte da população contribuíram para potencializar a epidemia. A lim-peza regular de terrenos particulares por seus proprietários, a consciência de não jogar entulhos em terrenos

desocupados e a preocupação de evi-tar criadouros do mosquito em casa são algumas atitudes que podem evi-tar a proliferação do Aedes. “Mas os cuidados dos munícipes, sozinhos, não evitariam a epidemia”, acredita o parlamentar.

Durante a epidemia, a adminis-tração municipal gastou tempo e energia tentando responsabilizar o governo federal, de Dilma Rousseff , do PT, pelo problema de saúde lo-cal. Alegou falta de recursos, argu-mentou que a dengue era um surto nacional e reclamou de falhas no sis-tema de comunicação com o minis-tério da saúde.

O prefeito e seus secretários, no entanto, pouparam cobranças pú-blicas ao governo do estado, admi-nistrado por Geraldo Alckmin, do PSDB.

Os números, porém, compro-vam que São Paulo foi o campeão de dengue no Brasil. Sorocaba, por sua vez, foi um dos municípios com mais casos da doença por habitante no es-tado onde o mosquito transmissor mais fez vítimas este ano.

Também entre os 26 municípios que integram a Região Metropoli-tana de Sorocaba (RMS), a cidade sede foi onde, proporcionalmente, a doença mais causou estragos.

Com a retirada dos contêineres, em 2013, o lixo residencial passou a fi car espalhado nas ruas e calçadas

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Espera por atendimento nas unidades de saúde ultrapassava seis horas

15Ponto de Fusão Nº3 - 2015

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De janeiro a maio Sorocaba teve um caso de dengue para cada 12,1 habitantes, segundo cálculo a partir de dados da secretaria municipal de saúde. No Estado, essa relação foi de um caso a cada 88,8 paulistas. No Brasil, considerando os 26 estados e o distrito federal, a média foi de um caso de dengue a cada 198,5 habitan-tes no mesmo período. Os números estaduais e nacionais são divulgados pelo Ministério da Saúde.

No quesito óbito, os resultados

de Sorocaba e do estado também foram trágicos. Até o final de maio Sorocaba tinha registrado 31 mortes por dengue hemorrágica e outras 13 estavam sendo investigadas. No es-tado, foram 256 mortes pela doença desde janeiro. No Brasil, 378.

O número de mortes confirma-das em Sorocaba representava, até o final de maio, 12% dos óbitos do es-tado. São Paulo, o estado mais rico do Brasil, era sozinho o responsável por 67,7% do total de óbitos por

dengue no país.Na RMS, criada há um ano, Soro-

caba foi a líder absoluta de casos de dengue por habitante (veja quadro).

“Feitas as contas e recolhidos os cacos, fica a pergunta mais impor-tante para a população: a prefeitura de Sorocaba vai continuar batendo panela contra o governo federal ou vai, finalmente, tomar as providên-cias necessárias para que o caos e a tragédia na saúde não mais se repi-tam?”, questiona Izídio.

Maior média do país

Dengue

16 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 17: Ponto de Fusão nº 3

Cidade PopulaçãoEstimada 2014

Casos de Dengue

Casos porhabitante

Sorocaba 637.187 52.624 12,1

Iperó 32.568 1.953 16,67

Salto de Pirapora 43.148 1.759 24,52

Votorantim 116.706 2.229 52,35

Boituva 54.594 837 65,22

Araçariguama 19.636 212 92,62

Porto Feliz 51.628 536 96,32

Salto 113.127 1.125 100,55

Alumínio 17.924 167 107,32

Mairinque 45.729 319 143,35

Sarapuí 9.734 61 159,57

Itu 165.511 907 182,48

São Roque 85.502 436 196,1

Tietê 39.765 196 202,88

Jumirim 3.092 15 206,13

Araçoiaba da Serra 30.713 147 208,93

Cerquilho 44.320 201 220,49

Piedade 54.523 215 253,59

Alambari 5.460 13 420

Tatuí 115.515 262 440,89

Cesário Lange 16.943 33 513,42

Capela do Alto 19.212 31 619,74

São Miguel Arcanjo 32.696 52 628,76

Pilar do Sul 28.097 39 720,43

Ibiúna 75.845 44 1.723,75

Tapiraí 8.085 3 2.695

A dengue na Região Metropolitana de Sorocaba

Contêineres de lixoDesde novembro de 2013, os sorocabanos não contam mais com contêineres para depositar o lixo doméstico, que muitas vezes fi ca espalhado pelas ruas em sacos plásticos.

Centro de MonitoramentoForam instalados dois centros de monitoramento da dengue (CMD) em Sorocaba. O primeiro foi aberto dia6 de março, quando já haviam cinco mortes e 8.693 casos confi rmados.

Limpeza dos terrenosA roçagem de terrenos baldios só passou a ser fi scalizada a partir de 13 de maio quando foi reduzidode 15 dias para 48h o prazo para que proprietáriosfaçam a limpeza em situações de emergência municipal.

Destinação de entulhosSorocaba não tem política efetiva para o descartede materiais inertes. A população tem que pagar caçamba particular para se desfazer de inservíveisou entulho.

Fábricas e escolas Segundo depoimento de um representante dos agentes sanitários à CPI da Dengue, não houve nebulização e fi scalização em escolas e fábricas, locais onde são encontrados muitos focos do mosquito transmissor.

Demora no atendimentoO tempo de espera dos pacientes na unidades de saúde era de seis horas ou mais. A demora fez com que pacientes com sintomas de dengue deixasse de procurar as unidades e passasse a se automedicar.

Leitos em hospitaisA falta de leitos hospitalares fez com que parlamentares e movimentos sociais relembrassem o não atendimento, por parte da prefeitura, de uma reivindicação antiga da população: a construção de um Hospital Municipal.

ARTE

: CÁS

SIO

FREI

RE

Fontes dos gráfi cos - RMS: secretarias ou diretorias municipais de Saúde (dados de janeiro até a última semana de maio); Brasil e Estado de São Paulo: Ministério da Saúde (balanço de 30 de maio); População: IBGE/2014

17Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 18: Ponto de Fusão nº 3

Para aprimorar a democracia brasileira

Todos querem mudança no sistema político brasileiro. Isso é claro ao ver toda manifestação de rua, seja daqueles que empunham bandeiras pelos direitos trabalhistas quanto daqueles que estendem pelas avenidas o apelo contra a corrupção, mesmo apoiando pautas conservadoras.

Lá atrás, a própria jornada de junho de 2013 de-monstrava a insatisfação com a representação polí-tica em todos os níveis. Os cartazes diziam “eles não nos representam”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Edu-ardo Cunha (PMDB), aproveitou-se dessa insatis-fação para colocar um pacote de propostas em vo-tação que chamou falsamente de “reforma política”. (Leia mais na página 21 sobre a votação).

Para os mais de 100 movimentos sociais, sindi-cais e entidades que participam do movimento pelo

Plebiscito pela Constituinte Exclusiva, essa iniciati-va de Cunha se contrapõe aos anseios da população que já se manifestou contra o financiamento priva-do e empresarial de campanha política.

O advogado e um dos coordenadores do Ple-biscito Popular por uma Constituinte Exclusiva, Ricardo Gebrim, explica que a reforma necessária que precisa ser feita para que os sistemas político e eleitoral não incentivem a corrupção é justamente aquela que acaba com o financiamento empresarial que, obviamente, elege políticos atrelados aos inte-resses das empresas.

“Portanto, a reforma política democrática não pode e não deverá ser feita pelo atual Congresso Nacional que está a serviço de quem o financiou e não do povo brasileiro. Para isso, é preciso uma nova Constituinte”, afirma Gebrim.

Um dos problemas do atual sistema político é a preponderância do poder econômico influenciando as eleições. A necessidade é a de se ter mais mecanismos para participação popular

Reforma política

Por Fernanda Ikedo

FOGU

INHO

18 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 19: Ponto de Fusão nº 3

Somente uma Constituinte que seja

exclusiva, que não seja formada pelos atuais deputados e

senadores, pode mudar democraticamente o atual sistema político. Precisamos empunhar

ainda com mais força a bandeira da

Constituinte, a principal resposta ao atual cerco

político da direita

RICARDO GEBRIM é advogado e membro da Coordenação Nacional do Plebiscito pela

Constituinte. Foi advogado da CUT Nacional.

19Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 20: Ponto de Fusão nº 3

Assembleia Constituinte reúne pessoas escolhidas para redigir ou reformar uma Constituição, a carta maior de um país. É um momento de disputa de poder. A Constituinte exclusiva do sistema político, como vem sendo pleiteada pelos movimentos sociais, é uma reforma estrutural, que mexa com a dinâmica da estrutura constitucional, para uma maior participação popular no processo político.

O que é areforma política?Um conjunto de propostas que tem potencial para mudar o atual sistema eleitoral e político brasileiro. Entre os temas estão sistema eleitoral, financiamento eleitoral e partidário, coligações, alteração das datas de posses, entre outros.

Câmara dos Deputados não muda financiamento de campanha

Reforma política

São Paulo

Robe

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laro

Deputados ignoraram os anseios de mais de 100 entidades e movimentos sociais e votaram uma falsa reforma política, em tópicos, durante o mês de junho.

Um dos principais pontos defendido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento de Combate à Cor-rupção Eleitoral (MCCE), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entre outros movimentos exigia mudança no financiamento de campa-nha para que fosse público apenas, sem permitir o financiamento empresarial.

Não houve mudança também no sis-tema eleitoral. Aprovou-se o proporcio-nal, em que deputados e vereadores são eleitos de acordo com a votação do par-tido ou da coligação. Nem se discutiu o sistema de lista fechada, que fortaleceria ideais e partidos com o fim de coliga-ção para reduzir o número de partidos.

No texto final, manteve-se as coligações com liberdade plena para os partidos.

O eleitor continuará votando em um candidato e acabando por ajudar a ele-ger outros que não têm qualquer identi-dade ideológica.

No texto aprovado em primeiro tur-no pela Câmara, as doações de empresas só podem ser feitas aos partidos e não mais aos candidatos. As pessoas físicas podem doar à legenda e ao candidato. O analista político Antônio Augusto Quei-roz , diretor do Departamento Intersin-dical de Assessoria Parlamentar (Diap), destaca que a restrição às doações de pessoas jurídicas não produz mudanças.

A matéria ainda precisa passar por um segundo turno de votações na Câ-mara. Se aprovada, segue para avaliação do Senado. O que for acatado pode ser promulgado imediatamente e os pontos que sofrerem alterações voltam à Câma-ra para nova votação.

O que é uma Constituinte?

20 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 21: Ponto de Fusão nº 3

1• O movimento Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva, que conta

com participação da Central Única dos Tra-balhadores (CUT), promove debates em todo território nacional sobre “O Desafi o da Cam-panha por uma Constituinte Exclusiva”. Em ju-nho, os militantes, incluindo Ricardo Gebrim e a representante da Marcha Mundial das Mu-lheres, Liliane Coelho, participaram de deba-tes no Paraná e em Minas Gerais.

2 • Além da defesa do fi m do fi nanciamen-to empresarial de campanha, as organiza-

ções defendem o voto proporcional, a pari-dade de sexo e a ampliação da participação popular no sistema político brasileiro.

3• O início da votação do pacote de pro-postas da falsa reforma política, no plená-

rio da Câmara dos Deputados começou dia 26 de maio de 2015. O pacote é fruto da Co-missão hoje presidida pelos deputados fede-rais Rodrigo Maia (DEM/RJ) e Marcelo Castro (PMDB/PI), ambos ligados a grupos políticos conservadores de direita. Foram aprovados o fi m da reeleição para o Executivo, a inclusão das doações privadas na Constituição, a ins-tituição de cláusula de barreira para partido político, a redução da idade mínima para can-didatura a deputado, governador e senador e a impressão de votos para conferência de dados em urnas eletrônicas.

4 • Uma das maiores bancadas no Con-gresso Nacional é de políticos ligados ao

agronegócio. O atual sistema político não privilegia propostas e sim a fi gura do candi-dato e por isso, faz com que a população seja sub-representada, ou seja, mulher, negro e a própria classe trabalhadora não são devida-mente representados.

Entenda

Brasília

Rio Grande do Sul

Minas Gerais

Ceará

Mato Grosso

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CUT

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Confi ra o suplemento especial do SMetal sobre Reforma Política em www.smetal.org.br

21Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 22: Ponto de Fusão nº 3

Na década de 90 pouco se co-nhecia sobre Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e predominava o preconceito até entre compa-nheiros de fábrica contra os traba-lhadores acometidos pela doença ocupacional.

Por se tratar de uma doença que não é visível aos olhos, as ofensas contra os lesionados giravam em torno de ‘preguiçoso’ ou ‘vagabun-do’. Acontece que, mesmo após tan-tas epidemias de LER, estudos da medicina, avanços nas prevenções e relatos sobre o tema, o preconcei-to continua a fazer suas vítimas.

O montador Otacílio Eduardo Maluche, 45, pegou carona recen-temente para ir ao trabalho por-que o ônibus da fábrica tinha que-brado. O motorista, trabalhador da mesma empresa, comentava com ar de desconfi ança, durante o trajeto, sobre os ‘restritos’, como são chamados os lesionados na fá-brica. Sem saber que Maluche era um deles.

LER:Dores, adaptação, afastamento, retorno ao trabalho. As lesões por esforços repetitivos afetam a vida do trabalhador em todos os níveis

O diagnósticoMaluche entrou na ZF Sistemas em

Sorocaba, em 1994 e chegava a carregar até 72 eixos de 32 quilos por dia em sua rotina como montador. Rotina que, na maioria das vezes, atingia 12 horas diá-rias. “Eu pedia para colocar uma talha, que ajudaria na diminuição do peso, mas fi cava com receio de fi car batendo na mesma tecla”, afi rma. E na própria linha de produção tudo era feito a mão.

Dois anos depois, o metalúrgico passou a sentir as consequências dessa rotina de trabalho com fortes dores nos punhos e braços. “Meu supervisor reco-mendou que eu procurasse um médico e fui para a Santa Casa. Os tendões já esta-vam comprometidos”, lembra.

O braço direito foi engessado e Ma-luche fi cou nove anos afastado. Entrou no Programa Reabilita do INSS (CRP, na época). Pai de dois fi lhos, ele teve a vida virada de ponta cabeça. Entrou em depressão e se separou. Em sua própria casa ele não conseguia carregar certos objetos. “Nem fazer a manutenção em casa, as tarefas domésticas eu conseguia”.

Quando voltou ao trabalho na ZF, em 2006, Maluche relata que muita coisa já tinha mudado. Havia braços mecâni-cos na produção e não se usava mais a força braçal como antes. Mesmo assim, mais três Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT) foram abertos porque ele voltou a atuar como montador numa área de bomba a óleo.

“Depois, me mudaram de setor por-que o serviço ainda era incompatível com minhas condições físicas”, conta. Mas, as dores continuam e agora ele está de li-cença médica por depressão e aguarda na Justiça a aposentadoria por invalidez.

O secretário-geral do SMetal, Lean-dro Soares, é enfático ao dizer que esses acidentes de trabalho são frutos de uma lógica capitalista direcionada para as me-tas de produção, na lucratividade além da exploração de horas extras. “É preciso ainda muita fi scalização e cobrança para que se diminua o ritmo de produção e para que se tenha ergonomia nos postos de trabalho. Por isso, continuamos nessa luta, que não se esgota, pela melhoria nas condições de trabalho”.

EDUARDO MALUCHE: Eu preferia não

ter adoecido e ter meus movimentos

de volta

LUCA

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EMTrabalho

Por Fernanda Ikedo

sofrimentoinvisível

22 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 23: Ponto de Fusão nº 3

Colabore - Telefone: (15) [email protected]

O Banco de Alimentos de Sorocaba é uma organização não-governamental (ONG), criada em dezembro de 2005 com a fi nalidade diminuir o desperdício de alimentos, difundir a segurança alimentar e, ao mesmo tempo, ajudar no combate à fome em Sorocaba e região.

Contra a fomee o desperdício.

Pela segurança alimentar.

Page 24: Ponto de Fusão nº 3

“Eles sempre alegam queda na produção”, afirma a trabalhadora V.R.R., 48, que já vivenciou em sua trajetória profissional o fenômeno da rotatividade. Em 2008, a Alberflex a mandou embora, junto com uma leva de trabalhadores. “Depois, de alguns meses me contrataram novamente”.

Recentemente, V. trabalhou na metalúrgica Flextronics e conta que presenciou o vai-e-vem no setor onde trabalhava. “É uma prática antiga da empresa. Há oito anos, uma amiga

minha que estava procurando em-prego conseguiu entrar na Flex, mas por um contrato de apenas três meses. Mas antes disso ela foi mandada em-bora e não foi por falta de dedicação”, conta.

O professor titular do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais da Unicamp, Mar-cio Pochmann, alerta que a rotativi-dade no Brasil é duas vezes superior a dos Estados Unidos e quase três vezes maior que a da Europa.

Entre os males que a rotatividade impõe na vida do trabalhador está a interferência na trajetória previdenci-ária. “É necessário completar 35 anos de contribuição, mas com esse fenô-meno da rotatividade o trabalhador não consegue fazer as 12 contribui-ções no ano porque fica desempre-gado por um determinado período”, explica o economista.

Além disso, a rotatividade intensa compromete a formação e a qualifica-ção da mão de obra porque a própria

A geradora de desemprego

A alta rotatividade no Brasil cria empecilhos para a conquista por melhores salários e prejudica a qualificação profissional

Por Fernanda Ikedo

Rotatividade

24 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 25: Ponto de Fusão nº 3

empresa deixa de investir no trabalha-dor, que não fi cará muito tempo na função.

Mais prejudicado ainda é o traba-lhador terceirizado, que enfrenta uma rotatividade duas vezes maior que um trabalhador não terceirizado. “Seten-ta por cento dos terceirizados sofrem com a rotatividade”, diz Pochmann.

EnfrentamentoPor isso, Pochmann avalia que

uma reação contra esse fenômeno que

prejudica a vida do trabalhador e da sociedade é a luta contra o projeto que instaura e generaliza a terceirização no Brasil, e que agora, está sob avalia-ção das comissões do Senado.

“Não se trata de falta de conscien-tização por parte dos empresários. É porque as empresas são baseadas pela orientação a curto prazo. Quando mandam trabalhadores embora para contratar outros é com o objetivo de re-dução de custos”, alerta o economista.

Apesar do atual Congresso Na-

cional ser formado por deputados e senadores, na maioria, conservadores e membros das bancadas ruralista e empresarial, Pochmann acredita na negociação com o Congresso para estabelecer critérios e combater a ro-tatividade. “Perdemos uma oportuni-dade de termos feito uma modifi cação legislativa nesse sentido uma década atrás, quando a correlação de forças era mais favorável aos trabalhadores, mas não descarto que isso possa acon-tecer numa negociação mais ampla”.

A base do SMetal também é afetada pela rotatividade

A rotatividade é uma característica do mercado brasileiro que se repete na base do Sindicato dos Metalúrgi-cos de Sorocaba e Região (SMetal). O economista da subseção do Dieese do SMetal, Fernando Lima, diz que apesar de alta, a taxa de rotatividade local é menor do que a registrada no total dos metalúrgicos do Brasil (46,1%) e da taxa de rotatividade geral do mercado

de trabalho brasileiro (63,7%).Ela afeta as perspectivas do traba-

lhador e automaticamente prejudica o enfrentamento das questões centrais (campanha salarial, plano de cargos, carreira e salários, redução da jornada, etc.).

Lima comenta que a rotatividade tem um perfi l: “a rotatividade tem por característica ser alta nos primeiros

anos profi ssionais e baixa com o de-correr da idade”.

Há dois tipos de conceitos de rota-tividade, a voluntária e a descontada, explica o economista do Dieese, Fer-nanda Lima. O primeiro diz respeito aos trabalhadores que por sua própria vontade mudam de empregos e na ca-tegoria descontada, são as demissões motivadas pelas empresas.

MARCIO POCHMANN:A rotatividade no

Brasil é duas vezes superior a dos Estados Unidos

Evolução da taxa de rotatividade geral e descontada dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região.

Fonte: RAIS (2012). Elaboração: Subseção Dieese Metalúrgicos de Sorocaba

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VARIAÇÃO DA ROTATIVIDADE ENTRE OS METALÚRGICOS DE SOROCABA E REGIÃO

25Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 26: Ponto de Fusão nº 3

Rotatividade

Diretor do SMetal faz estudo sobre Sorocaba e região

Um artigo escrito como trabalho de conclu-são de curso de economia da Universidade de Sorocaba pelo diretor executivo do SMetal Silvio Ferreira, sob orientação do professor universi-tário e doutor Manuel Payes, analisa as taxas de rotatividade de Sorocaba por faixa etária (até 29 anos e acima de 29 anos), no período de 2002 a 2012 e aponta as causas e consequências das elevadas taxas de rotatividade.

O trabalho demonstrou que a taxa de rotati-vidade é altamente pró-cíclica, sendo maior em períodos de aquecimento da economia onde há um crescimento do emprego formal.

Nos últimos dez anos o mercado de trabalho brasileiro apresentou desempenho positivo, com redução das taxas de desemprego, crescimento da ocupação e da formalização dos vínculos de trabalho, melhoria nas remunerações e manuten-ção da política de valorização do salário mínimo. “Porém, segundo o Ministério do Trabalho e Em-prego, o número de desligamentos é muito pró-ximo do número de admitidos, apontando para uma alta taxa de rotatividade em todos os setores do mercado de trabalho, crescendo de 52% em 2003 para 64% em 2012.” O artigo também con-clui que para a juventude o mercado de trabalho é fortemente desestruturado e precário.

Ferreira explica que nesse período, o mercado de trabalho geral em Sorocaba registrou abun-dante crescimento de novos postos de trabalho (2002/2012). Ao todo foram abertos 94.957 pos-tos de trabalho que corresponderam a um cresci-mento de 95,92% no total de trabalhadores com carteira assinada.

Sorocaba Estado de SP Brasil

Indústria de transformação

50,4% 46,10% 53,40%

Comércio 74,2% 61,30% 62,90%

Serviços 80,8% 64,80% 57,10%

Rotatividade Geral

66,9% 56,50% 54,50%

Taxas de Rotatividade Global, 2012. Fonte: RAIS – MTE/2014.

ROTATIVIDADE EM SOROCABA, EM SP E NO PAÍS

26 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 27: Ponto de Fusão nº 3

O autor comenta que isso deixa visível que a discussão sobre a taxa de rotatividade em Sorocaba tem in-fl uência direta do mercado de traba-lho aquecido e com criação de novas oportunidades.

PerdasUm mercado de trabalho com

tanta fl exibilidade pode sugerir maior efi ciência locativa, mas gera grande insegurança para os traba-lhadores, pela redução do tempo de permanência em um emprego ou perda de bem-estar por custos de ajustamento e de oportunidade, além de perdas salariais dos traba-lhadores na troca do emprego.

Conforme é possível visualizar na Tabela 1, entre 2002 e 2012, o total de trabalhadores na indústria de trans-formação registrou crescimento de 85,5%, enquanto as vagas no comér-cio aumentaram 84,2% e no setor de serviços aumentou 123,6%.

visível que a discussão sobre a taxa de rotatividade em Sorocaba tem in-fl uência direta do mercado de traba-lho aquecido e com criação de novas oportunidades.

PerdasUm mercado de trabalho com

tanta fl exibilidade pode sugerir maior efi ciência locativa, mas gera grande insegurança para os traba-lhadores, pela redução do tempo de permanência em um emprego

SILVIO FERREIRA: Rotatividade causa

também perdas salariais O que

acarreta?A curta duração dos contratos de trabalho prejudica o trabalhador, a empresa e a sociedade.

1. Gera insegurança e ainda achata os salários, pois os empresários contratam outra pessoa para ganhar menos.

2. O trabalhador perde estabilidade e não consegue ter carreira porque a qualquer momento pode ser mandado embora; faz várias vezes o saque do FGTS e não consegue acumular um valor para comprar um imóvel, por exemplo.

3. Prejudica a aposentadoria, pois recebendo salários achatados, a aposentadoria também será baixa.

4. Afeta a empresa porque compromete a qualifi cação e ela acaba tendo mais custo de treinamento.

SoluçãoHá um documento internacional, já adotado em diversos países, que pode melhorar a situação. Trata-se de um acordo de conduta internacional que precisa ser ratifi cado pelo Congresso. É a Convenção 158 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), um órgão da ONU. Para o presidente do SMetal, Ademilson Terto da Silva, “o Brasil precisa ratifi car esse documento. Trata-se de uma condição para avançar rumo às relações de trabalho mais modernas, justas e de caráter desenvolvimentalista”.

FOGU

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27Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 28: Ponto de Fusão nº 3

Rotatividade

Rotatividade prejudica a economia“Todo ano lutamos e con-

seguimos um reajuste salarial bom, acima da infl ação, mas a empresa demite na sequência, causando perda salarial liga-da à rotatividade. Ela baixa o montante que ela desembolsaria para pagamento dos salários, prejudicando a economia do país. Também prejudica a car-reira dos trabalhadores”, afi rma o presidente da FEM/CUT, Luiz Carlos da Silva Dias.

Segundo ele, existem setores do ramo metalúrgico que a ro-tatividade ultrapassa 35%, 40%. Troca-se quase a metade dos trabalhadores em um ano. Uma das ações que poderia evitar isso era o Brasil ser signatário da Convenção 158 da OIT, que ini-be a demissão imotivada.

“Consequentemente, você teria o trabalhador com mais tempo na empresa, facilitaria a sindicalização, a conscientiza-ção do trabalhador, que poderia planejar melhor a sua vida e o Brasil melhoraria se fosse signa-tário disso”, afi rma.

O papel do movimento sin-dical é pressionar o governo para que seja signatário, “mas sabemos que não é fácil por-que há um lobby muito gran-de dos empresários contrários a isso”. Outra ação sindical é aproveitar as discussões da data base para provocar um debate:além do reajuste a ser conquista-do também deve estar na pauta um prazo de estabilidade para os trabalhadores para evitar esse tipo de modelo.

LUIZ CARLOS

DA SILVA DIAS: EXISTEM SETORES DO RAMO METALÚRGICO

EM QUE A ROTATIVIDADE ULTRAPASSA 40%

Para o pessoal de Recursos Humanos a rotatividade é chamada de turn over, mas o signifi cado é o mesmo e representa a saída de um trabalhador de uma em-presa para recolocação de outro em um determinado espaço de tempo.

Desde 2003 a categoria metalúrgica tem aumento real de salário todos os anos, mas a rotatividade causa prejuízo ao rendimento dos trabalhadores.

O economista Fernando Lima ressalta que, de fato, a rotatividade diminui o salário, mas o percentual va-ria. Confi ra ao lado, no infográfi co, como a rotatividade causa prejuízo ao bolso do trabalhador.

Perda no poder de compra

Os trabalhadores de soldagem e corte de metais admitidos em 2014 foram contratados por um salário médio de R$ 2.013,02.

O trabalhador atua na empresa A recebendo o piso de R$ 1.000.

Após um ano ele recebe aumento salarial de 10% = R$ 1.100. Mas é mandado embora pela empresa.

Se ele for trabalhar em uma empresa B, provavelmente voltará a receber o piso. Enquanto a empresa A contratou outro trabalhador pelo piso.

Resultado: tanto a empresa A quantoa B ganharam e o trabalhador perdeu.

O salário dos trabalhadores desligados nesse setor, no mesmo período, era de R$ 2.329,78. O salário do admitido equivalia a 86,40% do salário do demitido.

a rotatividade diminui o salário, mas o percentual va-ria. Confi ra ao lado, no infográfi co, como a rotatividade causa prejuízo ao bolso do trabalhador.

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Fernando Lima, da subseção do DIEESE dos

Metalúrgicos de Sorocaba

28 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

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Trabalho

Terceirizaçãonas mãos do SenadoProjeto de terceirização no mercado de trabalho ainda tramita no Congresso, agora no Senado. Por precaução, CUT mantém mobilização contra a proposta de precarização

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“Não podemos deixar a ameaça do projeto de am-pliação da terceirização cair no esquecimento. Ele ainda não virou lei. Está no Senado. Mas os sindicatos e mo-vimentos sociais têm que continuar lutando juntos para impedir esse prejuízo irreparável aos trabalhadores”. O alerta é do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), Ademilson Terto da Silva.

Ressuscitado pela Câmara Federal nos primeiros meses deste ano, o projeto de lei 4330/2004, de auto-ria do empresário Sandro Mabel, foi aprovado a toquede caixa pelos deputados no mês de abril. O proje-to amplia a possibilidade de terceirização de trabalha-dores em todos os setores, inclusive nas atividades-fi m das empresas.

Por Paulo Andrade

30 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 31: Ponto de Fusão nº 3

Em Sorocaba, o SMetal teveoutdoors censurados pelas empre-sas exibidoras dos painéis porque as placas criticavam dois deputados locais, Vitor Lippi (PSDB) e Jeff er-son Campos (PSD), por terem vo-tado a favor do PL em primeira dis-cussão na Câmara. Nessa votação, dia 8 de abril, o projeto de precari-zação do trabalho foi aprovado por ampla margem: 324 a 137.

Na segunda votação do PL, dia 22 de abril, após protestos organi-zados por centrais sindicais e mo-vimentos sociais, muitos deputados mudaram de opinião. A aprovação do PL acabou confi rmada, mas por uma diferença muito menor de vo-tos: 230 a favor e 203 contra.

Lippi, no entanto, confi rmou sua posição a favor da precarização do trabalho e manteve seu voto favo-rável à terceirização sem limites. Campos não compareceu à sessão. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de ser conservador e autoritário até por seus colegas de partido, foi o prin-cipal responsável pelo trâmite ace-lerado da proposta.

PLC 30Aprovado na Câmara, o projeto

seguiu para o Senado e recebeu o

nome de PLC 30/2015. O presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), trocou farpas com Eduardo Cunha e afi rmou que, no Senado, o projeto seria tratado com mais cautela, mais debates e sem pressa.

Até o fi nal de junho, Renan vi-nha cumprindo a promessa. O pro-jeto tramitava por várias comissões do Senado e não tinha previsão de data para ser votado. As centrais sindicais, especialmente a CUT, mesmo assim, mantinham mobili-zação para realizar uma greve geral caso a proposta não fosse radical-mente melhorada, em benefício dos trabalhadores, antes de qualquer votação.

Quem defende o projeto, como os deputados da Região Metropoli-tana de Sorocaba, argumentam que

ele iria regularizar a situação dos 14 mi-lhões de brasileiros que já trabalham sob o regime da terceirização. Esse argumento foi reba-tido por economis-tas, líderes sindicais e juízes em diversos meios de comunica-ção que deram espa-ço sincero a quem se dedica ao mundo do trabalho, e não só aos representantes do empresariado.

Não regulamenta. PrecarizaDurante palestra na Câmara de

Sorocaba, dia 6 de maio, o desembar-gador João Batista Martins César, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), afi rmou que o projeto é nocivo aos trabalhadores. “O projeto não regula-menta nada. Pelo contrário, terceirizar é sinônimo de precarizar. Mente quem diz o contrário”, afi rmou.

O desembargador, que já foi pro-curador do trabalho e cujo cargo atu-al equivale ao de juiz de 2ª instância, disse que a regulamentação do servi-ço terceirizado já existe. “Está na CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]. O que falta é fi scalização no cumpri-mento da lei. E isso o projeto não re-solve”, explicou.

Para ele, ao propor a terceirização, o Brasil está na contra-mão de outros países, que estão incentivando a con-tratação direta de trabalhadores, pois a terceirização, ao reduzir o poder de compra dos trabalhadores, prejudicou a economia.

No Brasil, 27% do mercado de trabalho é terceirizado atualmente. Esse número deverá aumentar muito se o projeto de lei for aprovado. Anos atrás, o Japão também ampliou a ter-ceirização, que chegou a 30% no país. “Com o impacto negativo da mudan-ça para a economia, o governo japo-nês pediu um estudo ministerial, que recomendou não apenas a redução, mas a extinção da terceirização”, afi r-mou o desembargador.

JOÃO BATISTA: TERCEIRIZAR É

PRECARIZAR. MENTEQUEM DIZ O CONTRÁRIO

ADEMILSON TERTO:NÃO PODEMOS DEIXAR

A AMEAÇA CAIR NO ESQUECIMENTO

Prejuízos mais evidentes

Fonte: SMetal Sorocaba

31Ponto de Fusão Nº3 - 2015

Page 32: Ponto de Fusão nº 3

Esporte

Da pista do Clube Sorocabano de Bicicross para o mundo. Assim tem sido a vida de alguns atletas da cidade dedicadas ao esporte. As jovens Bian-ca Quinalha e Priscilla Stevaux, ambas de 21 anos, são exemplos de destaque pouco comentadas nas vias tradi-cionais de comunicação. Atletas de BMX – sigla para Bicycle MotoCross, como a modalidade é mundialmente conhecida – atualmente integram a Seleção Brasileira e buscam o mesmo sonho: representar o país nas Olimpí-adas do Rio de Janeiro em 2016.

As duas iniciaram no esporte mui-to cedo por infl uência de familiares. Bianca começou a praticar aos 5 anos e teve como inspiração o seu pai, o ex-piloto Robinson Quinalha, primeiro a levantar a taça de campeão na pista de bicicross de Sorocaba. A partir daí, a atleta tem se destacado e já foi duas vezes campeã mundial e brasileira de BMX na categoria Elite Woman.

Já Priscilla se espelhou no irmão

mais velho, Douglas, aos 7 anos. “Ao passar na frente da pista de BMX, meu irmão se interessou e começou a praticar o esporte. Então logo iniciei também, mas acabei me apaixonando e, o que era brincadeira, se tornou um sonho olímpico”. Além de diversos títulos nacionais e internacionais, a sorocabana é atual campeã brasileira também na categoria Elite Woman.

Com apoio da Confederação Bra-sileira de Ciclismo (CBC) e da Caixa Econômica Federal, patrocinadora ofi cial da modalidade, hoje os atletas da Seleção Brasileira de BMX estão treinando em Chula Vista, Califórnia (EUA), para disputarem campeonatos internacionais. “É um grande diferen-cial poder treinar no Centro Olímpi-co Americano, onde estão duas das melhores pistas de Supercross do mundo, que são de formato olímpico”, conta Priscilla Stevaux.

Esporte olímpico desde 2008, o Brasil possui apenas uma vaga garan-

tida nas Olimpíadas em 2016, maso número pode chegar a três. A esco-lha da representante brasileira se dará pelos resultados das atletas no Cam-peonato Mundial e nas disputas do ano olímpico.

Sorocabano BicicrossmundialIntegrantes da Seleção Brasileirade BMX, jovens atletas sorocabanas, Bianca Quinalha e Priscilla Stevaux, compartilham o sonho de participarem das Olimpíadas doRio de Janeiro, em 2016

Esporte

Bianca começou a praticar aos 5 anos de idade

BIANCA QUINALHA: Estoutreinando duro para defender

nosso país da melhor forma nas Olimpíadas no Brasil. Acordo e

durmo pensando nisso

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Por Daniela Gáspari

32 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 33: Ponto de Fusão nº 3

Além de Bianca e Priscilla, o Clube Sorocabano de Bici-cross já revelou diversos atletas desde sua criação, em 1988. Por iniciativa de Cida Comitre, atu-al presidente do clube e que na época era Secretária Municipal de Esporte, a construção da pis-ta foi incluída junto ao projeto do Centro Esportivo “André Matiello”, no bairro Pinheiros.

Cida conta que a luta pela pista iniciou em 1986, quando seu fi lho, o ex-piloto de Bici-cross Ricardo Comitre Perez, começou a praticar a modali-dade junto com outros meni-nos pelas ruas de Sorocaba. A partir daí, iniciou a busca por parcerias para a construção de um local próprio para a prática do esporte, o que se concreti-zou dois anos depois.

Desde então, Sorocaba virou um “celeiro de atletas”, afi rma Cida. “Infelizmente, nós não te-mos muitas condições fi nancei-ras para mantê-los aqui. Quan-do um piloto chega ao nível de Seleção Brasileira, ele precisa de estrutura para poder com-petir. Por isso, no Clube Soro-cabano, trabalhamos mais com

a iniciação no esporte”, explica.Hoje Bianca e Priscilla in-

tegram o Clube de Ciclismo de São José dos Campos, no qual têm recebido apoio para o cres-cimento no esporte.

Ricardo Perez, Mayara Pe-rez (fi lho e neta de Cida Co-mitre) e Robinson Palomar são outros nomes que também se destacaram no bicicross em Sorocaba.

InfraestruturaHoje a maior difi culdade

para a prática do bicicross em Sorocaba é a falta de infraes-trutura. Segundo a presidente do clube, a pista necessita de algumas modifi cações para voltar a receber grandes cam-peonatos, além da construção de banheiros, bebedouros, sala do professor e almoxarifado.

Em fevereiro deste ano, a Prefeitura de Sorocaba abriu licitação para a contratação de uma empresa que elabore o projeto da adequação da pis-ta, conforme o circuito ofi cial olímpico, mas até o fechamen-to desta edição, não havia inte-ressados aptos para o processo.

Além de administrar a pista, o Clube Sorocabano de Bicicross também possui um projeto social chamado “Integrar pelo Esporte”, que disponibiliza bicicletas e professores para a iniciação de crianças carentes no esporte.

Nele, crianças de 4 a 14 anos, a partir de parcerias com escolas e entidades, têm a oportunidade de conhecer e praticar o BMX. Inclusive crianças especiais.

Para participar dos treinos, que ocorrem de terça a sexta nos períodos da manhã e tarde, as crianças devem levar atestado médico mostrando que estão aptos a prática de esportes e manter um bom aproveitamento escolar.

O Clube Sorocabano de Bicicross fi ca na Rua Padre Lara de Moraes, 217, bairro Pinheiros, à margem direitado Rio Sorocaba.

Integrar pelo Esporte

Assim nasceu o Clube Sorocabano de Bicicross

O projeto “Integrar pelo Esporte” disponibiliza bicicletas e professores de iniciação ao Bicicross para crianças carentes de 4 a 14 anos

PRISCILLA STEVAUX: É um grande privilégio quando participo de competições em

Sorocaba, pois tenho a torcida degrandes amigos e familiares.

Me sinto muito confi ante

CIDA COMITRE: Queremosdeixar a pista adequada para

receber grandes campeonatos, como em 2005, quando

recebemos o pan-americano

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33Ponto de Fusão Nº3 - 2015

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Antes deBaltazarMetalúrgicos se estabeleceram na região em 1589, seis décadas antes da chegada de Baltazar Fernandes, fundador de Sorocaba

Mais de 60 anos antes da chegada de Baltazar Fernandes, fundador de Sorocaba, trabalhadores metalúrgicos já forjavam mi-nério de ferro e construíam vilas operárias na região. O primeiro povoado da categoria foi formado no final do século 16, no morro de Araçoiaba. O segundo, no início do sécu-lo seguinte, onde hoje fica o bairro Itavuvu, zona norte de Sorocaba.

Em 1589, uma expedição liderada pelos Afonso Sardinha, pai e filho, sendo o pai por-tuguês, conhecido como “o Velho”; e o filho mameluco, chamado de “o Moço”, chegou ao morro de Araçoiaba, onde encontrou farta quantidade de magnetita, que chegava a bro-tar do solo. Hoje o morro é parte integrante da Floresta Nacional de Ipanema (Flona).

Contando com a mão de obra vinda de São Paulo, de onde também vinham os Sardi-nha, foram construídos no morro, na região do Vale das Furnas, dois fornos rústicos de

Acima, ruínas dos fornos do Sardinha atualmente e nos anos 80; Abaixo, panorâmica do Morro Araçoiaba, conhecido como Morro Ipanema

Por Paulo Andrade

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História

34 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 35: Ponto de Fusão nº 3

fundição, do tipo catalão, e uma for-ja. A fábrica começou a funcionar em 1591.

Segundo Jackson Marcos Siquei-ra Campolim, professor de história, pesquisador e guia de visitantes na Flona há 17 anos, os trabalhadores da fundição eram bandeirantes, mame-lucos e índios escravizados.

A fundição despertou o interesse do governador geral do Brasil, Dom Francisco de Souza, que visitou o em-preendimento em 1598.

No ano seguinte, o governador voltou para o morro e lá se estabele-ceu por cerca de seis meses, período em que mandou erguer no local um pelourinho, símbolo da Coroa Portu-guesa. O povoado de metalúrgicos foi eleva-do à condição de vila, com o nome de Nossa Senhora de Monte Serrat do Itapevuçu.

A produção de ferroOs fornos catalães alcançavam 700 graus

centígrados e o minério, além de conter mui-tas impurezas, não chegava ao estado líqui-do (O ponto de fusão do ferro é 1.538 °C). O combustível era o carvão obtido da peroba, abundante no morro.

O ferro era refi nado com a ajuda de um malho, acionado por uma roda d’água, e mol-dado em uma forja. Assim eram fabricados arreios, ferramentas e utensílios como facas e colheres.

O engenho de fundição fi cava a cerca de

Jackson Siqueira: trabalhadores eram bandeirantes, mamelucos e índios

três quilômetros, morro acima, do local onde hoje fi ca a sede da Fazenda Ipanema. A roda d’água era acionada pelo Ribeirão do Ferro.

De acordo com o pesquisador e escritor José Monteiro Salazar (falecido em 2014), cada forno precisava de cinco homens para operá-lo. Havia também outras tarefas rela-cionadas à produção, como o transporte do minério. Pela estimativa de Jackson, no fi nal do século 16 a fábrica devia contar com o tra-balho de aproximadamente 20 homens livres e um número bem maior de escravos índios.

Parte dos moradores da vila também se dedicava à lavoura de subsistência. “Conside-rando homens, mulheres e crianças, a vila de-via contar com várias dezenas de moradores”, avalia Jackson.

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Simulação da rotina de trabalho em um engenho rústico de ferro, com forno catalão

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35Ponto de Fusão Nº3 - 2015

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A Vila no ItavuvuNos primeiros anos do século 17,

o governador já tinha voltado para a Corte e os Sardinha haviam partido para outras empreitadas. Com a au-sência dos empreendedores, os mo-radores começaram a procurar outros locais para se estabelecerem.

Parte dos metalúrgicos voltou para São Paulo. Outra parcela continuou mantendo a fábri-ca, que produziu até 1615. Um terceiro grupo mudou-se para “uma região melhor, às margens do Rio Sorocaba, conhecida então como Itavuvu, cerca de 12 quilôme-tros a leste do Ara-çoiaba”, conta Salazar em seu livro O “Esconderijo do Sol”, uma das principais referências literá-rias sobre o assunto.

O povoado do Itavuvu foi reconhe-cido em 1611 como vila. Ali também a coroa portuguesa autorizou a instala-ção de um pelourinho e batizou a lo-calidade como Vila São Felipe.

As ruínas dos fornos dos Sardinha foram descobertas em 1977. Já os ves-tígios da vila operária de Monte Serrat não foram encontrados.

Pelourinho transferidoEm meados do século 17, o capitão

bandeirante Baltazar Fernandes apri-sionava índios no caminho de Peabiru, que passava pela região de Sorocaba, e foi nomeado proprietário das terras locais pela realeza.

Em 1654, vindo de Santana do Par-

naíba, Baltazar mudou-se para a re-gião com familiares e escravos índios e fundou o povoado de Sorocaba. Nessa época, a fábrica de ferro dos Sardinha estava abandonada havia quase quatro décadas.

O povoado fundado pelo ban-deirante atraiu antigos habitantes da região, incluindo os moradores re-manescentes do Itavuvu, que se deslo-

caram para locais mais próximos do núcleo de Soroca-ba.

Em março de 1661, o povoa-do de Baltazar foi elevado à Vila de Nossa Senhora da Ponte de Soroca-ba. O despacho de

fundação permitiu a transferência do pelourinho do Itavuvu, que fi cava a 10 km do centro da nova vila.

Atual polo metalúrgicoHoje os 14 municípios cobertos

pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região reúnem 43 mil tra-balhadores da categoria, sendo 85% deles na cidade de Sorocaba. Eles estão distribuídos em centenas de fábricas e outras centenas de ofi cinas, que for-mam um dos principais polos do setor metal-mecânico no Brasil.

Mas a origem dessa vocação re-monta aos metalúrgicos que operavam fornos quase primitivos, no alto de um morro, a duas semanas de viagem da capital da província, a pé e no lombo de mulas, por trilhas antes conhecidas somente pelos tupiniquins.

CONHEÇA PESSOALMENTEFloresta Nacional de Ipanema (Flona Ipanema) - 5.069 hectares • Entrada 1 - Estrada Sorocaba-Iperó • Entrada 2 - Araçoiabinha• Visitas - De terça a domingo, das 8h às 16h • Preço da entrada - R$ 7 por pessoa • Visitas monitoradas - Taxa mínima de R$ 50 para até 10 pessoas (cada trilha). Acima de 10 pessoas, R$ 5 por pessoa. Os monitores são integrantes da Associação Tupiniquins• Atrações - Arquitetura histórica na parte baixa, arvorismo e quatro opções de trilhas no morro, incluindo a do sítio arqueológico Afonso Sardinha e a do monumento à Varnhagem (Visconte do Porto Seguro), considerado Pai da História do Brasil, nascido na Fazen-da Ipanema • Informações: (15) 3266-9099

Acima, pelourinho da Rua Nogueira Martins, centro de Sorocaba, datado de março de 1661; Ao lado, pelourinho da Avenida Itavuvu, que relembra a vila instalada em 1611

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Enquanto Baltazar fundava Sorocaba, a Coroa portuguesa voltou a se interessar pelas jazidas de ferro do morro Araçoiaba. Por isso, em 1660 ela proibiu a exploração do local por particulares, sob pena de morte, mas não realizou nenhum empre-endimento.

Revogada a proibição, em 1680 os irmãos Mo-reira Cabral reativaram a produção de ferro no morro. Essa experiência durou cinco anos.

Em 1765, uma sociedade liderada por Domin-gos Ferreira Pereira construiu outra fábrica de fer-ro no Araçoiaba, cerca de 3 quilômetros distante do engenho dos Sardinha, seguindo o curso do Ribeirão do Ferro.

A fundição rústica de Domingos durou seis anos. Os motivos do fechamento teriam sido as difi culdades para tirar as impurezas do minério e os altos impostos cobrados pela Coroa.

Em 1785, D. Maria I, a Louca, proibiu a ma-nufatura no Brasil, impedindo qualquer iniciativa fabril que concorresse com produtos portugueses, incluindo o ferro.

A Real Fábrica de FerroEm 1808, quando a família real mudou-se para

o Brasil, fugindo do exército de Napoleão, o Rei D. João VI ordenou a especialistas que projetas-sem uma grande siderúrgica na colônia brasileira.

Em 1810, foi criada, por carta régia, no sopé do morro Araçoiaba e próxima ao Rio Ipanema, a Companhia Montanística das Minas Gerais de Sorocaba, que pouco depois foi renomeada Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema.

A represa que atendia à produção foi a primei-ra do gênero no Brasil.

A fábrica começou a operar com 14 estrangei-ros assalariados e muitos escravos negros.

O período da Real Fábrica de Ferro é bem mais conhecido e documentado do que as iniciativas anteriores. A siderúrgica foi desativada em 1895.

Boa parte das construções do século 19, bem como equipamentos utilizados na época, são abertos à visitação. Alguns sítios arqueológicos no morro também podem ser visitados. Porém, somente com acompanhamento de monitor.

GLOSSÁRIONo século 16, os principais habitantes da região de Sorocaba eram os tupiniquins, que deram nomes a muitas localidades. A região tem infl uência das línguas Tupi e Guarani e suas ramifi cações. Especialistas divergem sobre a junção de vocábulos indígenas que foram transcritos pelos europeus. Por isso há interpretações diferentes sobre o signifi cado de alguns nomes.

Araçoiaba Esconderijo do solIpanema Rio imprestável, sem peixesItapevuçu Pedra grande e chataPeaberu Caminho pisado, caminho de grama amassadaIperó Casca amarga/Águas profundasItavuvu/Itapebuçu Caminho de pedra / Caminho de pedra pretaSorocaba Terra Rasgada

Iniciativas após os fornos de Afonso Sardinha

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Além dos visitantes usufruírem das áreas reservadas para lazer nos parques de Sorocaba e Votorantim, os movimentos sociais e culturais tam-bém ocupam esses espaços públicos para promoverem suas atividades e, com isso, estabelecer uma maior pro-ximidade com a comunidade.

Isso acontece, por exemplo, no Par-que Natural “Chico Mendes”, que ocu-pa 145 mil m2 na avenida Três de Mar-ço, 1.025, no Alto da Boa Vista, em Sorocaba. Entre eucaliptos e trilhas, em meio à vegetação de Mata Atlân-tica, o Grupo de Articulação Regional da Feira Agroecológica de Sorocaba (Garfos) realiza desde o segundo se-mestre de 2013 a comercialização di-reta de produtos orgânicos.

Agricultores da região vendem

seus produtos cultivados sem o uso de agrotóxicos para o consumidor fi -nal, a preço acessível. Entre eles, está o trabalhador rural José Boaventura, do Assentamento Ipanema, de Iperó.

“Muita gente não consome produ-tos orgânicos porque é caro nas redes de supermercados e quitandas, mas a feira dá possibilidade dessa relação nossa com o consumidor fi nal”, explica Boaventura que vende alface, limão e mandioca, entre outros produtos.

De acordo com um dos articulado-res do Garfos, Bruno Franques, além de popularizar o acesso a esses produ-tos, a feira, que acontece sempre aos sábados, das 8h às 13h, também tem um caráter educativo e de conscienti-zação sobre a agricultura familiar.

Periodicamente, junto com a fei-

ra acontecem eventos como troca de sementes e de saberes, além de shows com artistas de Sorocaba e região.

Franques conta que o Garfos sur-giu da necessidade de se buscar uma nova maneira de viver na cidade e se relacionar com o campo.

Movimentosreiventam parquesMovimento pela agroecologia no Parque Natural Chico Mendes e coletivo de arte contemporânea no Parque do Matão dão vida nova aos espaços públicos de Sorocaba e Votorantim, respectivamente

José Boaventura é trabalhador rural de Iperó e comercializa produtos sem agrotóxicos diretamente ao frequentador do Parque Chico Mendes

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Meio Ambiente

Por Fernanda Ikedo

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Artistas do Coletivo O¹² foram os responsá-veis pelo revigoramento do Parque Ecológico do Matão em Votorantim. Formado pelos jovens Preta Ribeiro, 28, Tati Almeida, 24, Th iago Ali-xandre, 26, o Coletivo está sediado há sete anos no Matão, antigo zoológico da cidade e que foi reaberto à comunidade no dia 5 de junho de 2013, após fi car desativado por oito anos.

Agora, o parque oferece um aspecto cultu-ral “ressignifi cado” para a cidade, como uma

reserva cultural com o Parque da Autonomia, coordenado por Alixandre e patrocinado pela Votorantim Cimentos.

“Para nós, é uma mega realização porque é um fl orescimento do projeto que implanta-mos aqui há sete anos. Oferecíamos cursos e workshops, entre outras atividades, mas espora-dicamente. Agora, produzimos uma formação para a comunidade artística de Votorantim e região”, diz Alixandre.

Coletivo O12, de arte contemporânea, transforma o Parque do Matão em uma referência do interior paulista em reserva cultural em Votorantim, oferecendo cursos, workshops, apresentações e outras atividades para artistas e público em geral

ZooNo Zoológico, crianças a partir de 9 anos serão guiadas por monitores para conhecer as espécies da fauna brasileira e têm ainda a oportunidade de visitar os setores de nutrição e veterinária do Zoo. O “Quinzinho de Barros” fi ca na Rua Teodoro Kaisel, 883, na Vila Hortência. A inscrição deve ser feita pelo e-mail [email protected]. Mais informações pelo telefone (15) 3227-5454 (ramal 5).

Jardim BotânicoAs trilhas têm como objetivo sensibilizar o público para conservaçãodas áreas verdes urbanas e naturais. O Jardim Botânico está localizado na Rua Miguel Montoro Lozano, 340, no Jardim Dois Corações.A inscrição deve ser feita pelo e-mail: [email protected]. O telefone: (15) 3227-9996.

Água VermelhaCom o tema “Água”, o passeio explora conteúdos relacionados àconservação dos recursos hídricos, a importância das matas ciliares,uso consciente da água, entre outros assuntos. O “Água Vermelha”fi ca na Rua România, 150, no Jardim Europa. A inscrição é feitapelo telefone: (15) 3221-6643.

BiquinhaNo Parque da Biquinha, crianças a partir de 5 anos recebeminformações sobre consumo consciente, água, aves urbanase cultura indígena. O Parque da Biquinha está localizado naAvenida Comendador Pereira Inácio, 1.112, no Jardim Emília.Os interessados devem se inscrever pelo telefone: (15) 3224-1997.

Chico MendesOs monitores do Parque “Chico Mendes” trabalharão o tema“Biodiversidade da Flora”. O Parque Natural fi ca na AvenidaTrês de Março, 1.025, no Alto da Boa Vista. A inscrição é feitapelo e-mail [email protected]. O telefone daunidade é (15) 3228.1256.

Parque da BiodiversidadeNo Parque da Biodiversidade as visitas monitoradas trabalhama sensibilização ambiental por meio de recursos lúdicos e docontato com a natureza. Escolas e grupos interessados devemse inscrever pelo e-mail [email protected]. O parquefi ca na Avenida Itavuvu, 11.500, próximo ao Parque Tecnológicode Sorocaba (PTS).

Atividades voltadas para a educação ambiental são promovidas pela Secretaria do Meio Ambiente de Sorocaba. Representantes de escolas e grupos organizados podem agendar os horários diretamente nas unidades ambientais

Parques têm visitas monitoradas com agendamento

Em Votorantim, uma reserva cultural

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39Ponto de Fusão Nº3 - 2015

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Outra mídia é possível

Enquanto a lei que regulamen-ta a comunicação social no Brasil continua defasada desde a época em que a internet e o telefone celu-lar eram retratados em fi lmes como fantasias futuristas (a lei atual é de 1962), movimentos sociais, sindi-catos e jornalistas independentes se esforçam para oferecer ao público novas opções de mídia, com con-teúdo diferenciado em relação aos meios convencionais de opinião e informação.

A missão assumida por essas mí-dias, chamadas de alternativas, é se contrapor ao predomínio cultural das bilionárias corporações familia-res de comunicação que, no Brasil, detêm o privilégio, por herança, de serem donas de redes de TV aberta e por assinatura, jornais impressos,

cadeias de rádio, agências de notí-cias e portais na internet. Tudo ao mesmo tempo, na mesma área de abrangência.

Esse acúmulo de meios de co-municação nas mãos de um único dono, denominado de propriedade cruzada, não existe em outros paí-ses democráticos do mundo, que há tempos estabeleceram limites para evitar que conglomerados de mídia constituam oligopólios de forma-ção da mentalidade, dos gostos, do comportamento e da visão política e social da nação.

A boa notícia é que o empenho dos pequenos vem dando certo. A audiência dos alternativos cresce, bem como cresce o número de ini-ciativas modestas que proporcio-nam pluralidade de informação e

repercussão dos fatos. Porém, jornalistas e diretores de

mídia ouvidos pela Ponto de Fusão alertam para dois aspectos desse cenário. Primeiro, os movimentos sociais não podem se acomodar e abrir mão da batalha pela mudança na lei, pela aprovação de um marco regulatório que democratize as co-municações no Brasil. Segundo, só vão se manter no mercado os veícu-los que oferecem informação bem apurada e opinião bem embasada ao público.

“Nesse movimento [das mídias alternativas], quanto mais meios de comunicação houver, melhor. Mas precisa ter qualidade, informação, conteúdo jornalístico”, afi rma Paulo Henrique Amorim, do blog Conver-sa Afi ada.

Vem crescendo no Brasil a infl uência da chamada imprensa alternativa, composta por blogs de opinião e portais noticiosos que se contrapõem ao predomínio cultural das tradicionais corporações de comunicação

Por Paulo Andrade

Comunicação

40 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

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Iniciativas sindicaisUma das organizações sociais que

mais tem investido em comunicação nos últimos anos é o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). Sozinho ou em parceria com outras entidades, o sindicato coordena ini-ciativas em diversas plataformas de mídia, como jornais impressos, por-tais na internet, TV, rádio e aplicati-vos para smartphone.

Para o diálogo com seu público direto, que são os trabalhadores no chão de fábrica, o SMABC mantém a histórica Tribuna Metalúrgica, que circula de terça a sexta-feira, tem ti-ragem de 40 mil exemplares e é dis-tribuída nas fábricas.

Ainda na comunicação impressa, o Sindicato é mantenedor do jor-nal ABCD Maior, que sai três vezes por semana, tem tiragem de 20 mil exemplares e traz notícias sobre eco-nomia, política, cultura, esportes e cotidiano.

O ABCD Maior é distribuído gratuitamente em 256 locais públi-cos e estabelecimentos comerciais de São Bernardo do Campo e municí-pios vizinhos.

O jornal é também um portal na internet com atualização diária de notícias sobre assuntos diversos de interesse social. O portal tem 20 mil acessos por dia de IP único.

“Alcançamos um público mui-to maior na internet do que no im-presso, mas o papel ainda é relevante porque as pessoas pegam o jornal a caminho do trabalho, no semáforo, no trem, na padaria. Além disso, nem todo mundo tem conexão re-gular com a internet”, explica Valter Sanches, secretário geral e diretor de comunicação do SMABC.

“Hoje nós temos uma tiragem duas vezes maior do que o jornal mais tradicional da região [Diário do Grande ABC] e três vezes mais acessos na internet do que eles”, co-memora.

Cobertura regionalO ABCD Maior concorre com os

veículos comerciais da região inclu-sive no campo da publicidade, em-bora os anúncios ainda não cubram todas as despesas, que são custeadas em grande parte pelo sindicato.

Para Sanches, o maior atrativo do ABCD é a cobertura regionali-zada da reportagem, sem deixar de dedicar espaço a notícias nacionais e internacionais. “Um exemplo: nós dávamos ampla cobertura para um time de Diadema chamado Água Branca quando ainda ele ainda es-tava na várzea. Os outros jornais no máximo soltavam notinhas es-porádicas. Em poucos anos, o Água Branca subiu de forma meteórica e agora está na série A do campeo-nato paulista. O público reconhece esse compromisso com os assuntos locais”.

A cobertura política e social do ABCD também busca fazer a dife-rença. Ela apresenta uma visão clas-sista dos fatos, tratando as notícias de acordo com a pauta social e eco-nômica da classe trabalhadora, além de destacar as iniciativas populares da comunidade. “Para nós, o evento cultural, o sarau organizado na peri-feria por algum movimento social é pauta “, exemplifi ca Sanches.

Na opinião de Tiago Almeida do Nascimento, vice-presidente e dire-tor de comunicação do SMetal Soro-caba, “a comunicação do ABC tem o mérito de cobrir todos os assun-tos possíveis, mas sem esconder que tem lado, que é o lado da classe tra-balhadora, da democracia popular. Não é o lado do neoliberalismo, da elite patronal e do mercado fi nan-ceiro, que veículos convencionais representam de forma dissimulada”.

VALTER SANCHES. Secretário geral e diretor de

comunicação do SMABC

TIAGO NASCIMENTO. Vice-presidente e diretor de

comunicação do SMetal

“Alcançamos um público muito maior na internet do que com o impresso, mas o papel ainda é relevante; as pessoas pegam o jornal no

trem, na padaria”

“A comunicação do ABCtem o mérito de cobrir

todos os assuntos possíveis sem esconder que tem

lado, que é o lado da classe trabalhadora”

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41Ponto de Fusão Nº3 - 2015

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Rede Brasil AtualPara noticiar fatos nacionais e

estaduais, o SMABC conta com a Revista do Brasil, na qual San-ches também é diretor. Trata-se de uma publicação mensal de 300 mil exemplares criada em 2007 por 36 sindicatos e associações ligados à CUT, incluindo o SMetal Sorocaba. A revista é distribuída pelas entida-des que apoiam o empreendimento em diversas regiões do país.

Da redação da Revista do Bra-sil saíram dois outros produtos de comunicação: a Rede Brasil Atual (RBA), na internet; e a emissora de rádio Brasil Atual. Todos com forte apoio do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Em poucos anos, a RBA se tor-nou uma agência alternativa de no-tícias, que tem seu conteúdo utiliza-do gratuitamente por movimentos sociais e sindicais. O portal conta com 500 mil acessos por mês de IP único.

A rádio tem programação 24 horas por dia, mesclando música e jornalismo, nas emissoras de São Bernardo, Mogi das Cruzes e São Vicente, além de link na internet.

Em 2009, após mais de 20 anos de trâmite no governo, o SMABC conquistou a outorga da primeira TV aberta de um movimento sin-dical ou social no Brasil: a TV dos Trabalhadores (TVT).

Inaugurada na versão analógica em 2010, a TVT transmitia somente para Mogi das Cruzes e parte de São Bernardo do Campo. O acesso mais amplo era somente via internet. No ano passado a emissora inaugurou uma antena na Avenida Paulista, na mesma torre que a TV Aparecida, e passou a cobrir toda a Grande São Paulo com sinal digital.

A TVT tem seis horas diárias de conteúdo próprio e o restante da grade é preenchido com programa-ção da TV Brasil. A emissora dos trabalhadores hoje tem programas exibidos em 16 TVs comunitárias no país e está fi rmando parcerias para instalar pequenas sucursais em seis capitais até o fi nal deste ano.

Essa rede de comunicação da qual o sindicato participa também se tornou um empregador signifi ca-tivo na área de imprensa, com 150 profi ssionais trabalhando nos im-pressos, rádios, TV e internet.

Comunicação

Sem desmerecer a importância dos blogs de opinião, Valter Sanches destaca que a rede de comunicação do SMABC prioriza a oferta de in-formação para o público. “Temos blogs de opinião dentro da Rede Brasil Atual, mas damos especial atenção à cobertura jornalística. Pri-meiro a gente informa. Depois opi-na”, explica.

O jornalista Paulo Henrique Amorim concorda. “Opinião todo mundo tem. É preciso oferecer in-formação, reportagem, conteúdo”. Para ele, é preciso batalhar para ter qualidade nas mídias mais modestas, que concorrem com grandes estru-turas de comunicação tradicional.

Sanches gostaria que o número de meios alternativos de informa-ção de amplo alcance crescesse tanto quanto o volume de páginas de opi-nião vêm crescendo. No campo da esquerda, segundo ele, além da Rede Brasil Atual, existem ainda poucas opções de reportagem. Uma delas é o portal Fórum.

O portal Fórum de notícias é de-rivado da revista impressa Fórum, que circulou entre 2001 e 2014. A re-vista mensal foi inspirada no Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre (RS) no início de 2001, tinha tiragem de 20 a 25 mil exemplares e era vendida em bancas. Desde 2014 a Fórum existe somente na versão digital.

O dirigente cita ainda a revista e o site Carta Capital que, de acordo com ele, não pode ser classifi cado como “de esquerda”, mas também oferece notícias com enfoque independente em relação às mídias dominantes, de direita, no Brasil.

Informaçãoprecede a opinião

TVT transmite em sinal digital na Grande SP e exibe programas em 16 TVs comunitárias

FOGU

INHO

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Para aumentar o alcance dos seus veículos de comunicação, o Sindi-cato dos Metalúrgicos do ABC tem investido na criação de aplicativos próprios para celular e inserção de conteúdo em broadcasts existentes.

Já estão disponíveis na internet, por exemplo, aplicativos de acesso à página de notícias do Sindicato, do ABCD Maior, da Rádio Brasil Atual e da TVT para smartphones.

O próximo passo, segundo Val-ter Sanches, é instalar aplicativos em smartTVs. “Estamos negociando com os cinco maiores fabricantes de TV para que elas saíam de fábrica com nossos aplicativos de comuni-cação instalados”, conta.

A linguagem digital veio para mudar o mundo que conhecemos. A mídia alternativa soube aprovei-tar as novas tecnologias para chegar a um público jovem e sedento por um jornalismo mais interativo, in-clusive em Sorocaba.

A Universidade Federal de São Carlos em Sorocaba (UFSCar/So-rocaba) é um dos locais de produ-ção de conhecimento a respeito de comunicação.

A professora Teresa Melo é uma pesquisadora do assunto e refl ete sobre as mudanças: “acredito que o maior impacto na vida cotidiana das pessoas seja a possibilidade de produzir conteúdos, seja de que or-dem forem”.

Mas as mudanças esbarram na exclusão digital dos mais pobres. Ela é demonstrada quando Melo expõe os dados da Pesquisa Bra-sileira de Mídia 2015, do Governo Federal. Praticamente todos entre-vistados têm TV, mas só a metade acessa internet: “as pessoas com en-sino superior são 72% daqueles que acessam a internet todos os dias, com uma média diária de 5h41. As pessoas com até a quarta série, que são 5%, acessam em média 3h22”.

Outro exemplo é do mestrando Ari Leme Pinheiro Junior, que tra-balha com registro in loco de ma-nifestações de rua em seu projeto. Para ele, o “participante da mídia alternativa, o midiativista, tenta mostrar a realidade sem o fi ltro da indústria de massifi cação; um jornalismo feito de maneira mais ideológica do que comercial”.

A rádio comunitária Cultural FM, instalada no terreno da Igreja Cristo Rei, no Parque das Laranjei-ras, é um dos mais antigos meios alternativos em atividade no muni-cípio. Ela existe desde o início dos anos 90 e é ligada à Associação Co-munitária Cultural (Asconc). Entre os programas de destaque atual-mente está o “Viva Legal Cidadão”, trasmitido todos os sábados das 10h às 12h. Há três anos no ar, é um programa de debates e prestação de serviços, com espaços para infor-mações sobre concursos, notícias da política local e fatos relacionados à zona norte de Sorocaba.

“É um canal que a gente abriu para que população se manifestas-se. Uma voz popular”, explica Ro-berto Escaramez, idealizador do programa.

Sorocaba também quer mais opções

Novas tecnologias ampliam alcance

Rede Brasil Atualwww.redebrasilatual.com.br

TVTwww.tvt.org.br

ABCD Maiorwww.abcdmaior.com.br

Portal Fórumwww.revistaforum.com.br

Carta Capitalwww.cartacapital.com.br

Barão de Itararéwww.baraodeitarare.org.br

Carta Maiorwww.cartamaior.com.br

Mídia Ninjaninja.oximity.com

Observatório da Imprensaobservatoriodaimprensa.com.br

Conversa Afi ada/Paulo H. Amorimwww.conversaafi ada.com.br

Viomundo/Luiz Carlos Azenhawww.viomundo.com.br

Luís Nassifwww.jornalggn.com.br/luisnassif

Blog do Miroaltamiroborges.blogspot.com.br

Sugestões aos leitores

A rádio comunitária Cultural FM, no Laranjeiras, é uma das pioneiras na cidade

Por Maurício Sérgio Dias

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Entrevista

Paulo Henrique Amorim‘A Veja é um detrito sólido de maré baixa’Por Paulo Andrade

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Paulo Henrique Amorim atendeu à reportagem da Ponto de Fusão dia 15 de maio, na redação do seu blog, Conversa Afiada, na Barra Funda, em São Paulo, para falar sobre as possibilidades de democratização da mídia no Brasil. Descrente em uma mudança na legislação, o jornalista

defende a imprensa alternativa como opção informativa e cultural aos grandes conglomerados de mídia.

Além de blogueiro, Paulo é apre-sentador do programa Domingo Espetacular, na TV Record.

Ex-funcionário da Veja e da Rede Globo, o jornalista não poupa críti-

cas aos antigos patrões. “O PIG [Partido da Imprensa Golpista] não esconde mais sua parcialidade.É um militante dos interesses da Casa Grande”.

Leia a seguir trechos da entrevista, que pode ser conferida na íntegra em www.smetal.org.br/entrevistas

EntrevistaFO

GUIN

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Revista Ponto de FusãoNa sua opinião, qual o caminho para o Brasil ter uma mídia mais democrática, no sentido de haver mais pluralidade, mais opções de veículos de comunicação para o brasileiro poder escolher?

Paulo Henrique Amorim – O caminho é muito simples. Ou a pre-sidenta Dilma manda pro Congresso um projeto de lei ou um deputado do PT ou da base aliada apresenta um projeto de lei. E aí deixa o Congresso se estraçalhar, se engalfi nhar. A bancada da Globo torpedeia. A bancada do PT teoricamente luta pela democratiza-ção dos meios de comunicação...mas tenho dúvidas sobre se a bancada do PT agirá assim. A bancada do PCdoB eu tenho certeza que fará, porque o PCdoB já entrou com uma moção pra fazer isso. Outra maneira de apressar tudo isso é o governo incorporar um trabalho belíssimo da FNDC, a Frente Nacional de Democratização da Comunicação, que fez um projeto de lei quase perfeito e que poderia ser o ponto de partida de um projeto de iniciativa governamental.

RPF - O que justifi ca a necessidade de mudançana Lei de Comunicação?

PHA - O Brasil é o único país dito civilizado e democrático que não tem um marco regulatório da co-municação. Porque o marco regu-latório existe nos Estados Unidos, na Alemanha, na França, na Itália e acabou de ser refeito e aperfeiçoado na Inglaterra por causa das bandi-dagens dos jornalistas do grupo do Murdoch [Rupert Murdoch, magnata da comunicação]. Aqui não. Nós não copiamos a Argentina, não copiamos o Uruguai, não copiamos o Chile, não copiamos o México...[que inibem oligopólios de mídia] porque nós somos “melhores”.

Na legislação americana, que é o país mais capitalista do mundo, existe a proibição à propriedade cruzada. No mesmo mercado você não pode ser dono de uma rede de televisão e um jornal, uma rede de televisão e uma revista. Nos Estados Unidos você não pode ter mais do que 30% da audi-ência em um determinado mercado. Aqui vale a lei da selva.

A lei que regula a radiodifusão no Brasil é de 1962. Foi sancionada pelo grande presidente João Goulart. No Brasil a televisão era preto e branco, não tinha internet e tinha mais televi-zinho do que televisor [Era chamado de televizinho o costume da vizinhan-ça se reunir na casa do morador mais abastado para assistir à TV].

RPF – Mesmo com essas difi culdades, há chances de um projeto de democratização da mídia ser aprovado?

PHA – Nenhuma chance, porque o Congresso não tomará a iniciativa, sobretudo a Câmara, nas mãos desse “grande brasileiro” que é o Eduardo Cunha, que deve ter no momento uma preocupação muito importante, que é saber se a tornozeleira eletrôni-ca combina com as gravatas Hermés

que ele usa, porque tem que haver uma combinação, ele é um homem muito elegante [irônico].

Então, sob a iniciativa do Eduardo Cunha não haverá provavelmente na Câmara essa discussão. E também não vejo interesse da parte do PT. Porque o que eu vejo no PT é que eles adoram o PIG (Partido da Imprensa Golpista)....

RPF – Mas o PT critica o PIG...

PHA - Embora critiquem o PIG, eles adoram. Porque o PT é majoritaria-mente paulista, e aí eles levam o PIG a sério. O paulista leva o PIG a sério. Eu, como sou carioca, morro de rir do Estadão, da Folha, da Veja, onde eu já trabalhei. Eu aprendi o jornalismo no Rio de janeiro, e lá ninguém levava a Folha a sério, ninguém levava o Estadão a sério.

Eu trabalhei na Veja no tempo do Mino Carta [criador e diretor de redação de algumas das principais revistas brasileiras desde a década de 60]. Mas hoje a Veja é uma contrafa-ção. A Veja, eu digo no meu site, é um detrito sólido de maré baixa.

O ministro Berzoini [Ricardo Berzoini, das Comunicações], que é uma pessoa dotada dos mais nobres sentimentos, um homem de bem, ele foi “bernardizado” [em alusão ao seu antecessor, Paulo Bernardo, criticado por não se empenhar na democratiza-ção da mídia]. Ele diz que vai discutir a questão da liberdade de expressão e de um marco regulatório. Aí eu pergunto: discutir o que ministro? O que falta discutir? Nós estamos com uma legislação de 1962, o senhor quer discutir o quê?

Ou seja, eles não querem. A chan-ce é a Globo ser “googlada”.

RPF – O que isso signifi ca?

PHA – Signifi ca o seguinte: a Globo vai morrer gorda. Ela vai acabar com uma audiência muito boa, porque

O Brasil é o único país

dito civilizado e democrático que não tem

um marco regulatório da comunicação

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ela vai conseguir preservar o status quo. Mas hoje, o segundo maior beneficiário das verbas publicitárias é o Google. Não é a Record, não é o Sílvio Santos, é o Google.

O Google está comendo a Globo pela borda. O Netflix vai tomar a audiência da Globo. Já tá tomando a audiência nos Estados Unidos. Então, é um trabalho que a tecnologia vai fazer por si própria.

RPF – Nós temos uma profusão de mídias alternativas, de veículos de comunicação mais modestos, que estão disputando espaço com as grandes redes. Como fazer para essas mídias conquistarem mais o público, aumentarem sua audiência?

PHA –Eu trabalho no blog Conversa Afiada e a gente rebola pra atrair o interesse do público, do amigo nave-gante, pra transformar em dinheiro essa audiência, que é muito boa. Mas é uma batalha, a gente tem que fazer um esforço cada vez maior e oferecer

um produto de boa qualidade para o internauta vir nos visitar.

Assim nós temos também o Azenha, o Rodrigo Viana, o Nassif [blogueiros]; nós temos a Carta Capital, que faz um trabalho muito competente na internet, nós temos o Miro Borges, temos a turma do Barão de Itararé, que é um instituto de mídia alternativa que reúne os chamados blogueiros sujos, qualifi-cação que nos foi dada, para nosso orgulho, pelo José Serra, por quem temos uma admiração e um respeito infinitos [risos].

Mas é da natureza desse produto que você só tenha uma ideia de fato dessa massa visitando muitos, porque nenhum deles tem a audiência de uma TV aberta. Por mais que a gente repercuta, é claro que o Jornal Na-cional tem uma força muito grande. Decadente, porém.

O conjunto de blogs é que, soma-dos, vai dar uma massa significativa, que se chama de cauda longa, de audiências relativamente baixas, mas que somadas dão um bicho grande. Então, isso com o tempo vai ser mais significativo do que é hoje.

RPF- Além da internet, esse movimento de mídias alternativas consegue se estender para o jornalismo impresso, para a TV? PHA - Sim. Eu acho que, nesse movimento, quanto mais meios de comunicação houver mais gente será mobilizada, mais gente será sensibi-lizada.

O Brasil é determinado, é foca-do, ele é condicionado pela visão parcial, limitada e deliberadamente discricionária da elite jornalística de São Paulo.

O Brasil vê o Brasil pelo olhar da Folha, do Estadão, da Veja e da Globo. Os padrões de aferição de audiência e qualidade são todo eles feitos em 2.100 lares que o Ibope mede em São Paulo. E ninguém fica sabendo o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso, em Tocantins.

E isso é culpa do governo tam-bém, que só fala sobre economia. O governo precisa do aval da Globo e das agências de risco [que avaliam o desempenho econômico dos países]

Entrevista

‘Eu gosto é de greve’

RPF- Como você avalia o fato de haver grupos pedindo a volta da ditadura, do militarismo, no meio de manifestações de rua, que só são possíveis porque estamos numa democracia?

PHA- [Por isso] Eu não gosto de manifestação. Eu gosto de greve. Porque aí o cara vai lá pedir aumento [de salários], que nem na Volkswagem, suspenderam as

demissões. Fechar a via Anchieta e dizer assim: quero meu salário, quero meu emprego! Isso eu gosto.

Agora, ir lá pra Avenida Pau-lista, pra ficar comendo coxinha e tomando champanhe no camarote do Oliva [Vitor, empresário brasi-leiro], Isso não me interessa, isso não muda nada. Vão lá pra fazer barulho. Como diz o Mino Carta, vão lá por que é engraçado, pela

farra. E pra falar mal do governo. Claro que eles querem os militares.

No fundo, o substrato disso é acabar com a democracia, acabar com a manifestação do povo, com a soberania do povo. Eles querem um regime militar ou então um regime de economista de banco, como era no regime do Fernando Henrique [Cardoso], que era go-vernado pelos bancos, que tinha a ideologia dos bancos.

Em resposta a uma das perguntas da Ponto de Fusão, Paulo Henrique Amorim ressaltou o papel do movimento sindical na transformação da sociedade. De acordo com ele, manifestações de “coxinhas” não muda o país e, quando muda, é para pior. Agora, as pautas sindicais, seguidas de greve, por serem objetivas e dirigidas aos trabalhadores, são positivas.

46 Nº3 - 2015 Ponto de Fusão

Page 47: Ponto de Fusão nº 3

pra governar. E a Globo é nada mais que o trombone, o auto falante das agências de risco, do FMI, que em última instância são os trombones dos bancos. E o governo fica se ex-plicando pra eles!

RPF - Essas informações limitadas sobre o Brasil fora de São Paulo geraram aquelas manifestações pós eleições, com traços de xenofobia e discriminação?

PHA - Não, aquilo ali tem uma quí-mica diferente. Aquilo ninguém sabe direito o que é. Mas pode ser pelo sentimento dos coxinhas. Principal-mente de São Paulo, de Higienópolis, subindo esse viaduto aqui perto. Eles estão indignados. Primeiro porque São Paulo está perdendo participação no conjunto da economia brasileira. O PIB de São Paulo tem uma parti-cipação cada vez menor no PIB do Brasil, porque o Brasil está crescendo fora de São Paulo. E o Brasil melhora fora de São Paulo.Uma boa parte dessa crise, desse ambiente de mau humor, de ressen-timento, dessa biles que contamina a opinião pública brasileira tem origem em São Paulo. Aí essa classe media-zinha coxinha, que bate panela, vai pra rua. Deixe ir pra rua, nunca vi manifestação derrubar governo.Teve manifestação em Hong Kong e o governo não caiu. Teve a manifestação de maio de 1968, entrou um governo de direita na França. Manifestação bota a direita no poder. Manifestação contra o Obama elegeu o Congresso mais reacionário da história dos Esta-dos Unidos. E manifestação no Brasil elegeu o Congresso mais reacionário

da história do país. Portanto, não muda nada, se muda é para pior. Eles vão ficar batendo panela e a Dil-ma governando. Agora, o problema é que ninguém sabe o que a Dilma faz, é um governo trancado em casa, de costas para o país.

RPF- Já declararam a morte do jornalismo impresso várias vezes. Agora estão falando sobre isso de novo. Você acha que o impresso tem futuro?

PHA - Tem para o jornalismo de nicho. O modelo de negócios do jornalismo impresso foi pro saco, não tem futuro. Tem futuro o jornalismo de nicho, que é a revista dirigida aos metalúrgicos de Sorocaba, é a “The Economist” na Inglaterra, é a Carta Capital no Brasil.A Carta Capital que é dirigida ao nicho de pessoas de alto padrão in-telectual e que pensam contra o PIG.Mas depende muito da qualidade.

RPF- Como se conquista essa qualidade?

PHA- Qualidade você conquista com o trabalho, com estudo, com leitura e, sobretudo, no que diz respeito ao jornalismo, você conquista com reportagem, apurando, se informan-do, telefonando, indo pros lugares, pegando depoimentos.Mas não adianta você só dar opinião, porque todo mundo tem opinião. Você precisa ter informação, você precisa ter conteúdo. Precisa ter músculo.

RPF - O chamado PIG vende a imagem de imparcialidade jornalística...

PHA - Não vende mais. A grande imprensa, o PIG, prega para os convertidos. Para tentar preservar o seu modelo de negócio eles tentam segurar os leitores fiéis, que são os coxinhas, a direita. O Estadão e a Folha ficam disputando, um pega numa ponta e o outro pega na outra ponta da coxa. Evidentemente que os dois estão quebrados. Vamos falar sério, eles não tem mais a pretensão da imparcialidade, eles são militantemente defensores dos interesses da Casa Grande [residência dos coronéis, donos de escravos].

SERVIÇOLeia a entrevista na íntegra em www.smetal.org.br/entrevistas

O Google está comendo

a Globo pela borda.

O Netflix vai tomar a

audiência da Globo

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Em cena

O álbum “Novo”, do músico sorocabano João Leopoldo, foi lançado em maio de 2015 e possui 11 faixas autorais. O pianista tem seu trabalho identifi cado como “surrealismo sonoro”, concepção infl uenciada pela vanguarda paulistana. Suas composições são todas tocadas ao piano solo e algumas interpretadas pela artista paulistana Cida Moreira. O Quarteto Sorocaba de cordas, sob regência do músico Bruno Cavalcante, participa de algumas canções.

O trabalho independente teve a parceriacom a Secretaria Municipal de Cultura, via LINC e apoio do SMetal. A produçãoé assinada por Maurício Nogueira.O CD pode ser encontrado emwww.soundcloud.com/joaoleopoldo

Já tem data marcada a 10ª edição do Rock dos Metalúrgicos. Será no dia 30 de agosto. O evento é realizado todos os anos em celebração ao Dia Mundial do Rock, comemorado em 13 de julho. Este ano, os shows estão programados para acontecer no Parque das Águas em Sorocaba com a participação de bandas com pelo menos um integrante metalúrgico. A programação tem início às 13h30. Já estão confi rmadas as bandas Black Shadow, Downed, Kataros, Inteligência Acidental e Efeito iMoral. A entrada do evento é gratuita e aberta ao público.

O CD/DVD “Lá,lá,iá – um canto plural brasileiro” da cantora Marcia Mah, lançado em 2011, com o apoio do SMetal, recebeu convite da Produtora Europeia MIMS para realizar quatro shows na cidade de Lisboa em outubro deste ano. “Uma alegria”, segundo a cantora, pois este é seu primeiro disco autoral e foi selecionado pelo Departamento de Artista & Repertório da Music In My Soul (MIMS) por ser identifi cado como um grande potencial em termos artísticos e comerciais. Os músicos que a acompanham são Zé Marcos (bacharel em violão), Luiz Anthoni (multi-instrumentista), Rodrigo Moura (professor de Percussão de Tatuí) e o violeiro e fotógrafo Álvaro Mestre.

O ator Paulo Betti deve voltar a Sorocaba em agosto com seu monólogo “Autobiografi a Autorizada”, que em maio e junho lotou os teatros do Sesc e o Municipal. Desta vez as apresentações serão no teatro do Sesi, dias 1 e 2 de agosto. Ainda não há informações sobre horários ou preços dos ingressos. O espetáculo, já apresentado com sucesso em várias cidades do país, comemora os 40 anos de carreira do ator e resgata sua trajetória de vida. A infância e juventude de Paulo em Sorocaba é um dos destaques.

De 24 a 26 de julho acontece a Conferência de Música de Sorocaba.Trata-se do Festival Febre. A programação completa pode ser encontrada no site www.festivalfebre.com.br. Já foram confi rmadas participações do ex-baterista do O Rappa, Marcelo Yuka; do rapper Sombra; do grupo SNJ; Pedra Branca; Boogarins, que já tocou no Lollapalloza; e da banda sorocabana Wry. O Sesc, a Secretaria de Cultura de Sorocaba, o Asteroid e várias outras entidades estão envolvidas na organização do evento.

NOVOJoão Leopoldo

10° Rock dosMetalúrgicos

Marcia Mah em Portugal Paulo Betti volta em agosto

Festival Febre

Lançamentos, agendae dicas culturais

Mah, lançado em 2011, com o apoio do SMetal, recebeu convite da Produtora Europeia MIMS para realizar quatro shows na cidade de Lisboa em outubro deste ano. “Uma alegria”, segundo a cantora, pois este é seu primeiro disco autoral e foi selecionado pelo Departamento de Artista & Repertório da Music In My Soul (MIMS) por ser identifi cado como um grande potencial em termos artísticos e comerciais. Os músicos que a acompanham são Zé Marcos (bacharel em violão), Luiz Anthoni (multi-instrumentista), Rodrigo Moura (professor de Percussão de Tatuí) e o violeiro e fotógrafo Álvaro Mestre.

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Imagem: Final de tarde no Morro Araçoiaba, monumento à Varnhagen - Foto: Foguinho

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Um fator que nos difere, homens, dos outros animais, é que somos o único ani-mal que cozinha.

A história da cozinha se mistura com a história da humanidade, moldando rela-ções culturais e sociais ao longo dos tem-pos.

A partir do momento que o homem do-mina o fogo e utiliza como instrumento de transformação dos alimentos, sua condi-ção de líder na cadeia alimentar se efetiva. Com o cozimento, se gasta menos tempo na digestão, ocupando-se de outros afaze-res, muitos responsáveis diretos pela evolu-ção da espécie.

À medida que evoluímos nosso modo de cozinhar também evoluiu. Ou, talvez, à medida que nossos modos de cozinhar evoluíram, nossa evolução foi facilitada. Passamos de comida assadas diretamente no fogo, geralmente carnes de caças, a co-zinhar em panelas, até a fabricação de pães e outras iguarias, dominando variadas téc-nicas de processamento de alimentos.

Com o passar dos anos e a formação de nossas estruturas sociais, a alimenta-ção tem cada vez mais lugar de destaque e importância entre nós. Historicamente os papéis foram se estabelecendo: cabendo ao homem prover os alimentos e a mulher preparar as refeições. Temos a lembrança de nossas mães e avós à beira de um fogão preparando o que a família comeria.

Mas, a partir de meados do século XX, o mercado passou a incorporar a mão de obra feminina. A mulher que fi cava em casa e se ocupava dos afazeres domésticos, passa a sair de casa e também ser prove-dora. Assim, a indústria de alimentos vê uma oportunidade de oferecer refeições prontas para o consumo. A mulher já não tinha todo tempo disponível para preparar as refeições. Passamos da era dos alimentos embalados para a das refeições embaladas.

Desde então observamos cada vez mais as grandes empresas de alimentos ditando nossos hábitos alimentares, nos ofertando comidas que nem sempre trazem benefí-cios à nossa saúde.

Atualmente, falamos muito de culiná-ria. Elevamos os cozinheiros, que viram “Chefs”, a condição de pop star, vemos na TV inúmeros programas do gênero, depa-ramos nas livrarias com centenas de títulos dedicados ao assunto. Mas, e cozinhar?

Estamos cozinhando cada vez menos, e

por cozinhar não podemos entender tirar uma refeição da embalagem e requentar no micro-ondas. Ou tirar de um saco plástico um macarrão, acompanhado de um molho de tomates de dentro de uma caixa.

Como em todo sistema capitalista que nos rege, a produção de alimentos está na mão de poucos grupos empresariais, que ditam o que comer. Sabemos que estão muito mais preocupados com o lucro, cer-ne do capitalismo, do que com a saúde dos consumidores.

Ao longo da história temos exemplos. O consumo de pão de farinha branca, em detrimento ao pão feito com farinha inte-gral, passa a ser incentivado e disseminado justamente no período da revolução indus-trial. Com o a farinha branca, retirando a maioria dos seus nutrientes, o trabalhador tinha uma digestão mais lenta, indo menos ao banheiro durante sua jornada, assim, abandonando menos vezes seu trabalho.

Recentemente, aqui no Brasil, pudemos observar o poder dos tentáculos das indús-trias de alimentos. A Câmara dos Deputa-dos aprovou o PL 4148/2008, que prevê a não obrigatoriedade da rotulagem de ali-mentos com ingredientes transgênicos.

Por isso hoje, cozinhar, passa a ser um ato de resistência política. Escolher o que vamos ingerir em nossas refeições é en-frentar esse sistema predador desenfreado que nos consome.

Precisamos voltar às cozinhas e encarar como reforço de nossos laços históricos e culturais. Evidente que hoje essa tarefa não pode ser exclusiva da mulher, pois ela tam-bém é trabalhadora e muitas se ocupam de inúmeras tarefas, além de suas jornadas de trabalho.

Vamos todos cozinhar, homens, mu-lheres, pais, fi lhos, companheiros e com-panheiras. Aliás, a origem da palavra com-panheiro, está em pão. Companheiro quer dizer aquele com quem dividimos o pão.

Não vamos permitir que as “Monsan-tos” da vida nos enfi em goela abaixo tudo que desejam, podemos enfrentá-las. A bei-ra de nossos fogões, dentro de nossas pane-las, usando produtos de boas procedências, com produtos orgânicos produzidos por movimentos de resistência, como o MST e outros trabalhadores agrícolas.

Experimente, chame sua família, cozi-nhem e comam juntos, será uma sensação incrível!

Zé Bocca é ator, contador dehistórias, produtor cultural

e adora cozinhar.

Vamos cozinhar? Por Zé BoccaIlustração: Julio Freire

Crônica

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