poesia 50p

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  • 8/17/2019 Poesia 50p

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    Alexandre O'Neill 

    Mal nos conhecemosInauguramos a palavra amigo! Amigo é um sorriso

    De boca em boca,Um olhar bem limpoUma casa, mesmo modesta, que se oferece.Um coraço pronto a pulsar a nossa mo! Amigo "recordam#se, voc$s a%,&scrupulosos detritos'( Amigo é o contr)rio de inimigo! Amigo é o erro corrigido,o o erro perseguido, e*plorado.+ a verdade partilhada, praticada. Amigo é a solido derrotada! Amigo é uma grande tarefa,

    Um trabalho sem fim,Um espaço til, um tempo fértil, Amigo vai ser, é -) uma grande festa!

    ) palavras que nos bei-am/omo se tivessem boca,0alavras de amor, de esperança,De imenso amor, de esperança louca.

    0alavras nuas que bei-as1uando a noite perde o rosto,0alavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.

    De repente coloridas&ntre palavras sem cor,&speradas, inesperadas/omo a poesia ou o amor.

    "2 nome de quem se ama3etra a letra reveladoo m)rmore distra%do,o papel abandonado(

    0alavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao sil$ncio dos amantes Abraçados contra a morte.

     A meu favor 4enho o verde secreto dos teus olhos Algumas palavras de 5dio algumas palavras de amor 2 tapete que vai partir para o infinito&sta noite ou uma noite qualquer 

     A meu favor 

     As paredes que insultam devagar /erto refgio acima do murmrio1ue da vida corrente teime em vir 

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    2 barco escondido pela folhagem2 -ardim onde a aventura recomeça.

    esta curva to terna e lancinanteque vai ser que -) é o teu desaparecimento

    digo#te adeuse como um adolescentetropeço de ternurapor ti.

    6ei os teus seios.6ei#os de cor.

    0ara a frente, para cima,Despontam, alegres, os teus seios.

    7itoriosos -),

    Mas no ainda triunfais.

    1uem comparou os seios que so teus"8anal imagem( a colinas!

    /om donaire avançam os teus seios,9 minha embarcaço!

    0orque no h)0adarias que em ve: de po nos d$em seios3ogo p;la manh'

    1uantas ve:es

    Interrogastes, ao espelho, os seios'

    4o tolos os teus seios! 4oda a noite/om inve-a um do outro, toda a santaoite!

    1uantos seios ficaram por amar'

    6eios pasmados, seios lorpas, seios/omo barrigas de glut

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     Acaba por vencer...

    2 amor e*cessivo dum poeta>?& hei#de mandar fa:er um almanaqueda pele encadernado do teu seio?

    @etirar#me para uns seios que me esperam) tantos anos, fielmente, na prov%ncia!

     Arrulho de pequenos seioso peitoril de uma -anela Aberta sobre a vida.

    8otas, botirrafas0isando tudo, até os seios&m que o amor se e*alta e robustece!

    6eios adivinhados, entrevistos,amais possu%dos, sempre dese-ados!

    ?2culta, pois, oculta esses ob-ectos Altares onde fa:em sacrif%cios1uantos os v$em com olhos indiscretos?

    @aimundo 3lio, a mulher casada1ue corte-astes, que perseguistes Até entrares, a cavalo, p;la igre-a2nde fora re:ar,Mudou#te a vida quando te mostrou"?+ isto que amas'?(De repente a podrido do seio.

    @aparigas dos lim inesperados seios...

    Uma roda de velhos seios despeitados,@abu-ando, A prete*to de ch)...

    &ngolfo#me num seio até perder Mem5ria de quem sou...

    1uantos seios devorou a guerra, quantos,Depressa ou devagar, roubou = vida, C alegria, ao amor e =s gulosas

    8ocas dos midos!

    0ouso a cabeça no teu seio& nenhum dese-o me estremece a carne.

    7e-o os teus seios, absortos6obre um pequeno ser 

    Mesa dos sonhos Ao lado do homem vou crescendoDefendo#me da morte quando dou

    Meu corpo ao seu dese-o violento& lhe devoro o corpo lentamenteMesa dos sonhos no meu corpo vivem

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    4odas as formas e começam4odas as vidas Ao lado do homem vou crescendo& defendo#me da morte povoandode novos sonhos a vida.

    António Gedeão 

    Pedra Filososal&les no sabem, nem sonham,que o sonho comanda a vida1ue sempre que um homem sonhao mundo pula e avançacomo bola coloridaentre as mos de uma criança.

    Gota de Água&u, quando choro,no choro eu./hora aquilo que nos homensem todo o tempo sofreu. As l)grimas so as minhasmas o choro no é meu.

    Dez réis de esperança6e no fosse esta certe:a

    que nem sei de onde me vem,no comia, nem bebia,nem falava com ninguém. Acocorava#me a um canto,no mais escuro que houvesse,punha os -oelhos ) bocae viesse o que viesse.o fossem os olhos grandesdo ingénuo adolescente,a chuva das penas brancasa cair impertinente,aquele inc5gnito rosto,pintado em tons de aguarela,

    que sonha no frio encostoda vidraça da -anela,no fosse a imensa piedadedos homens que no cresceram,que ouviram, viram, ouviram,viram, e no perceberam,essas m)scaras selectas,antologia do espanto,flores sem caule, flutuandono pranto do desencanto,se no fosse a fome e a sededessa humanidade e*angue,ro%a as unhas e os dedos

    até os fa:er em sangue.

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    Poema do alegre desespero/ompreende#se que l) para o ano tr$s mil e talninguém se lembre de certo Berno barbudoque plantava couves em 2liveira do ospital,

    ou da minha virtuosa tia#av5 Maria das Dores

    que tirou um retrato toda vestida de veludosentada num canapé -unto de um vaso com flores.

    /ompreende#se.

    & até mesmo que -) ninguém se lembre que houve tr$s impérios no &gipto"o Alto Império, o Médio Império e o 8ai*o Império(com muitos fara5s, todos a caminharem de lado e a fa:erem tudo de perfil,e o &strabo, o Arta*erpes, e o enofonte, e o eraclito,e o desfiladeiro das 4erm5pilas, e a mulher do 0éricles, e a retirada dos de: mil,e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,que conquistavam o 3)cio e perdiam o +piro, e conquistavam o +piro e perdiam o 3)cio,

    e passavam a vida inteira a fa:er guerras,e quando batiam com o pé no cho fa:iam tremer todo o pal)cio,e o resto tudo por a% fora,e a Euerra dos /em Anos,e a Invenc%vel Armada,e as campanhas de apoleo,e a bomba de hidrogénio,e os poemas de Ant5nio Eedeo.

    /ompreende#se.

    Mais império menos império,mais fara5 menos fara5,

    ser) tudo um vast%ssimo cemitério,cacos, cin:as e p5.

    /ompreende#se.3) para o ano tr$s mil e tal.

    & o nosso sofrimento para que serviu afinal'

    Amostra sem valor &u sei que o meu desespero no interessa a ninguém./ada um tem o seu, pessoal e intransmiss%vel>com ele se entretéme se -ulga intang%vel.

    &u sei que a umanidade é mais gente do que eu,sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,que o respirar de um s5, mesmo que se-a o meu,no pesa num total que tende para infinito.

    &u sei que as dimens

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    Ary dos Santos 

    2riginal é o poetaque se origina a si mesmoque numa s%laba é seta

    noutro pasmo ou cataclismoo que se atira ao poemacomo se fosse um abismoe fa: um filho )s palavrasna cama do romantismo.2riginal é o poetacapa: de escrever um sismo.

    2riginal é o poetade origem clara e comumque sendo de toda a parteno é de lugar algum.2 que gera a pr5pria arte

    na força de ser s5 umpor todos a quem a sorte fa:devorar um -e-um.2riginal é o poetaque de todos for s5 um.

    2riginal é o poetae*pulso do para%sopor saber compreendero que é o choro e o risoGaquele que desce ) ruabebe copos quebra no:ese ferra em quem tem -u%:o

    versos brancos e fero:es.2riginal é o poetaque é gato de sete vo:es.

    2riginal é o poetaque chegar ao despudorde escrever todos os diascomo se fi:esse amor.&sse que despe a poesiacomo se fosse uma mulhere nela emprenha a alegriade ser um homem qualquer.

    Poeta castrado não!6erei tudo o que disserempor inve-a ou negaço>cabeçudo dromed)riofogueira de e*ibiçoteorema corol)riopoema de mo em mol:udo publicit)riomalabarista cabro.6erei tudo o que disserem>

    0oeta castrado no!

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    2s que entendem como euas linhas com que me escrevoreconhecem o que é meuem tudo quanto lhes devo>ternura como -) dissesempre que faço um poemaGsaudade que se partisseme alagaria de penaGe também uma alegriauma coragem serenaem renegar a poesiaquando ela nos envenena.

    2s que entendem como eua força que tem um versoreconhecem o que é seuquando lhes mostro o reverso>

    Da fome -) no se fala# é to vulgar que nos cansa #mas que di:er de uma balanum esqueleto de criança'

    Do frio no re:a a hist5ria# a morte é branda e letal #mas que di:er da mem5riade uma bomba de napalm'

    & o resto que pode sero poema dia a dia'# Um bisturi a crescernas co*as de uma -udiaGum filho que vai nascerparido por asfi*ia'!# Ah no me venham di:erque é fonética a poesia!

    6erei tudo o que disserempor temor ou negaço>

    Demagogo mau profetafalso médico ladroprostituta pro*enetaespoleta televiso.6erei tudo o que disserem>0oeta castrado no!

    Mário Cesariny 

    poema&m todas as ruas te encontroem todas as ruas te perco

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    conheço to bem o teu corposonhei tanto a tua figuraque é de olhos fechados que eu andoa limitar a tua alturae bebo a )gua e sorvo o ar que te atravessou a cintura

    tanto to perto to realque o meu corpo se transfigurae toca o seu pr5prio elementonum corpo que -) no é seunum rio que desapareceuonde um braço teu me procura

    &m todas as ruas te encontroem todas as ruas te perco

     Ao longo da muralha que habitamos) palavras de vida h) palavras de morte

    ) palavras imensas,que esperam por n5s& outras fr)geis,que dei*aram de esperar) palavras acesas como barcos& h) palavras homens,palavras que guardam2 seu segredo e a sua posiço

    &ntre n5s e as palavras,surdamente, As mos e as paredes de &lsenor

    & h) palavras e nocturnas palavras gemidos0alavras que nos sobem ileg%veis C boca0alavras diamantes palavras nunca escritas0alavras imposs%veis de escrever

    0or no termos connosco cordas de violinosem todo o sangue do mundo nem todo o ample*o do ar& os braços dos amantes escrevem muito altoMuito além da a:ul onde o*idados morrem0alavras maternais s5 sombra s5 soluço65 espasmos s5 amor s5 solido desfeita

    &ntre n5s e as palavras, os emparedados& entre n5s e as palavras, o nosso dever falar.

    Faz-me o avorBa:#me o favor de no di:er absolutamente nada!

    6upor o que dir)4ua boca velada+ ouvir#te -).

    + ouvir#te melhorDo que o dirias.2 que és nao vem = florDas caras e dos dias.

    4u és melhor ## muito melhor!Do que tu. o digas nada. 6$

     Alma do corpo nu1ue do espelho se v$.H

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    Mário de Sá!Carneiro 

    Álcool

    1ue droga foi a que me inoculei'9pio de inferno em ve: de paraiso' ...1ue sortilégio a mim pr5prio lancei'/omo é que em dor genial eu me eterni:o'

    em 5pio nem morfina. 2 que me ardeu,Boi )lcool mais raro e penetrante>& s5 de mim que ando delirante#Manh to forte que me anoiteceu.

    "uaseUm pouco mais de sol # eu era brasa.

    Um pouco mais de a:ul # eu era além.0ara atingir, faltou#me um golpe de asa...6e ao menos eu permanecesse aquém......um %mpeto difuso de quebranto,4udo encetei e nada possu%...o-e, de mim, s5 resta o desencantoDas coisas que bei-ei mas no vivi...

    #ete canç$es de decl%nioMeu alvoroço de oiro e lua4inha por fim que transbordar...

    # /aiu#me a Alma ao meio da rua,& no a posso ir apanhar!

    &aran'ue(ola Ah, que me metam entre cobertores,& no me façam mais nada!...1ue a porta do meu quarto fique para sempre fechada,1ue no se abra mesmo para ti se tu l) fores!

    Mi"#el $or"a 

    6ei um ninho.& o ninho tem um ovo.& o ovo, redondinho,4em l) dentro um passarinhoovo.

    Mas escusam de me atentar>em o tiro, nem o ensino.1uero ser um bom menino& guardar 

    &ste segredo comigo.& ter depois um amigo

    %

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    1ue faça o pino A voar...

    #)plica Agora que o sil$ncio é um mar sem ondas,

    & que nele posso navegar sem rumo,o respondas Cs urgentes perguntas1ue te fi:.Dei*a#me ser feli: Assim,) to longe de ti como de mim.

    0erde#se a vida a dese-)#la tanto.65 soubemos sofrer, enquanto2 nosso amor

    Durou.Mas o tempo passou,) calmaria...o perturbes a pa: que me foi dada.2uvir de novo a tua vo: seriaMatar a sede com )gua salgada. inda...

    &ernando essoa 

    7em sentar#te comigo, 3%dia, = beira do rio.6ossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos

    1ue a vida passa, e no estamos de mos enlaçadas."&nlaçemos as mos(.

    Depois pensemos, crianças adultas, que a vida0assa e no fica, nada dei*a e nunca regressa,7ai para um mar muito longe, para o pé do Bado,Mais longe que os deuses.

    Desenlacemos as mos, porque no vale a pena cansarmo#nos.1uer go:emos, quer no go:emos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente.& sem desassossegos grandes.

    0refiro rosas, meu amor, = p)tria,& antes magn5lias amo1ue a gl5ria e a virtude.

    3ogo que a vida me no canse, dei*o1ue a vida por mim passe3ogo que eu fique o mesmo.

    1ue importa =quele a quem -) nada importa1ue um perca e outro vença,6e a aurora raia sempre,

    6e cada ano com a 0rimavera As folhas aparecem& com o 2utono cessam'

    1(

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    & o resto, as outras coisas que os humanos Acrescentam = vida,1ue me aumentam na alma'

    ada, salvo o dese-o de indiferença& a confiança mole

    a hora fugitiva.

    1uer pouco, ter)s tudo.1uer nada> ser)s livre.2 mesmo amor que tenham0or n5s, quer#nos, oprime#nos.

    unca a alheia vontade, inda que grata,/umpras por pr5pria. Manda no que fa:es,em de ti mesmo servo.iguém te d) quem és. ada te mude.

    4eu %ntimo destino involunt)rio/umpre alto. 6$ teu filho.

    6im, sei bem1ue nunca serei alguém.6ei de sobra1ue nunca terei uma obra.6ei, enfim,1ue nunca saberei de mim.6im, mas agora,&nquanto dura esta hora,&ste luar, estes ramos,

    &sta pa: em que estamos,Dei*em#me crer 2 que nunca poderei ser.

    0ara ser grande, s$ inteiro> nada4eu e*agera ou e*clui.6$ todo em cada coisa. 0

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     A mim ensinou#me tudo.&nsinou#me a olhar para as coisas. Aponta#me todas as coisas que h) nas flores.Mostra#me como as pedras so engraçadas1uando a gente as tem na mo& olha devagar para elas.

     Acordo de noite subitamente.& o meu rel5gio ocupa a noite toda.o sinto a ature:a l) fora,2 meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.3) fora h) um sossego como se nada e*istisse.65 o rel5gio prossegue o seu ru%do.& esta pequena coisa de engrenagens que est) em cima da minha mesa Abafa toda a e*ist$ncia da terra e do céu...1uase que me perco a pensar o que isto significa,Mas estaco, e sinto#me sorrir na noite com os cantos da boca,0orque a nica coisa que o meu rel5gio simboli:a ou significa

    + a curiosa sensaço de encher a noite enorme/om a sua pequene:...

    & eu gosto tanto dela que no sei como a dese-ar.6e a no ve-o, imagino#a e sou forte como as )rvores altas.Mas se a ve-o tremo, no sei o que é feito do que sinto na aus$ncia dela.

    6em a loucura que é o homemMais que a besta sadia,/ad)ver adiado que procria'

    Deus quer, o homem sonha, a obra nasce..../umpriu#se o Mar, e o Império se desfe:.6enhor, falta cumprir#se 0ortugal!

    9 mar salgado, quanto do teu sal6o l)grimas de 0ortugal!0or te cru:armos, quantas mes choraram,1uantos filhos em vo re:aram!1uantas noivas ficaram por casar 0ara que fosses nosso, 5 mar!

    7aleu a pena' 4udo vale a pena6e a alma no é pequena.1uem quer passar além do 8o-ador 4em que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.

    4riste de quem vive em casa,/ontente com o seu lar,6em que um sonho, no erguer de asa,Baça até mais rubra a brasaDa lareira a abandonar!

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    4riste de quem é feli:!7ive porque a vida dura.ada na alma lhe di:Mais que a liço da rai:#4er por vida a sepultura....

    Erécia, @oma, /ristandade,&uropa # os quatro se vo0ara onde vai toda idade.1uem vem viver a verdade1ue morreu D. 6ebastio'

    6ou um evadido.3ogo que nasciBecharam#me em mim, Ah, mas eu fugi.

    6e a gente se cansaDo mesmo lugar,Do mesmo ser 0or que no se cansar'

    Minha alma procura#meMas eu ando a monte,2*al) que elaunca me encontre.

    6er um é cadeia,6er eu é no ser.7iverei fugindo

    Mas vivo a valer.

    /usta tanto saber o que se sente quando reparamos em n5s!... Mesmo viver sabe a custartanto quando se d) por isso... Balai, portanto, sem repardes que e*istis......1uem pudesse gritar para despertarmos! &stou a ouvir#me gritar dentro de mim, mas -) no seio caminho da minha vontade para a minha garganta.

    2 mistério do mundo,2 %ntimo, horroroso, desolado,7erdadeiro mistério da e*ist$ncia,

    /onsiste em haver esse mistério....o é a dor de -) no poder crer 1ue moprime, nem a de no saber,Mas apenas completamente o horror De ter visto o mistério frente a frente,De t$#lo visto e compreendido em toda A sua infinidade de mistério....1uanto mais fundamente penso, mais0rofundamente me descompreendo.2 saber é a inconsci$ncia de ignorar...

    65 a inoc$ncia e a ignorFncia soBeli:es, mas no o sabem. 6o#no ou no'

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    1ue é ser sem o saber' 6er, como a pedra,Um lugar, nada mais....1uanto mais claro7e-o em mim, mais escuro é o que ve-o.1uanto mais compreendo

    Menos me sinto compreendido. 9 horror parado*al deste pensar...... Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,/omo me amarga nalma essa alegria!

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    Binge to completamente1ue chega a fingir que é dor  A dor que deveras sente.

     Ai que pra:er 

    o cumprir um dever,4er um livro para ler & no o fa:er!3er é maçada,&studar é nada.2 sol doira6em literatura.2 rio corre, bem ou mal,6em ediço original.& a brisa, essa,De to naturalmente matinal,/omo tem tempo no tem pressa...

    3ivros so papéis pintados com tinta.&studar é uma coisa em que est) indistinta A distinço entre nada e coisa nenhuma.

    1uanto é melhor, quanto h) bruma,&sperar por D. 6ebastio,1uer venha ou no!

    Erande é a poesia, a bondade e as danças...Mas o melhor do mundo so as crianças,Blores, msica, o luar, e o sol, que peca65 quando, em ve: de criar, seca.

    2 mais que isto+ esus /risto,1ue no sabia nada de finançasem consta que tivesse biblioteca... 8om é que no esqueçais

    1ue o que d) ao amor rara qualidade+ a sua timide: envergonhada&ntregai#vos ao travo doce das delicias1ue filhas so dos seus tormentos0orém, no busqueis poder no amor 1ue s5 quem da sua lei se sente escravo0ode considerar#se realmente livre 8endito se-a eu por tudo o que no sei

    go:o tudo isso como quem sabe que h) o sol 1ue estpido se no sabe que a infelicidade

    dos outros é delee no se cura de fora.0orque sofrer no é ter falta de tintaou o cai*ote no ter aros de ferro! & eu sinto que em meu gesto e*iste o teu gesto e em

    minha vo: a tua vo:.

    Gar)ia *or)a 

    #e as minhas mãos pudessem desolhar &u pronuncio teu nomenas noites escuras,

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    quando v$m os astrosbeber na luae dormem nas ramagensdas frondes ocultas.& eu me sinto ocode pai*o e de msica.

    3ouco rel5gio que cantamortas horas antigas.

    &u pronuncio teu nome,nesta noite escura,e teu nome me soamais distante que nunca.Mais distante que todas as estrelase mais dolente que a mansa chuva.

     Amar#te#ei como entoalguma ve:' 1ue culpatem meu coraço'

    6e a névoa se esfuma,que outra pai*o me espera'6er) tranqJila e pura'6e meus dedos pudessemdesfolhar a lua!!

    * poeta pede a seu amor 'ue lhe escreva Amor de minhas entranhas, morte viva,em vo espero tua palavra escritae penso, com a flor que se murcha,que se vivo sem mim quero perder#te.2 ar é imortal. A pedra inerte

    nem conhece a sombra nem a evita./oraço interior no necessitao mel gelado que a lua verte.

    0orém eu te sofri. @asguei#me as veias,tigre e pomba, sobre tua cinturaem duelo de mordiscos e açucenas.&nche, pois, de palavras minha loucuraou dei*a#me viver em minha serenanoite da alma para sempre escura.

    &lor+ela ,s-an)a 

    +anguidezBecho as p)lpebras ro*as, quase pretas,1ue poisam sobre duas violetas, Asas leves cansadas de voar...

    & a minha boca tem uns bei-os mudos...& as minhas mos, uns p)lidos veludos,4raçam gestos de sonho pelo ar...

    FanatismoMinhalma, de sonhar#te, anda perdida.Meus olhos andam cegos de te ver!o és sequer ra:o do meu viver 0ois que tu és -) toda a minha vida!

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    ...&, olhos postos em ti, digo de rastros>KAh! 0odem voar mundos, morrer astros,1ue tu és como Deus> 0rinc%pio e Bim!...L

    Fumo3onge de ti so ermos os caminhos,3onge de ti no h) luar nem rosasG3onge de ti h) noites silenciosas,) dias sem calor, beirais sem ninhos!

    * nosso mundo1ue importa o mundo e as ilus

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    1ue a minha boca tem pra te di:er !6o talhados em m)rmore de 0aros/in:elados por mim pra te oferecer.

    4em dolencia de veludo caros,6o como sedas p)lidas a arder...

    Dei*a di:er#te os lindos versos raros1ue foram feitos pra te endoidecer !

    Mas, meu Amor, eu no te digo ainda...1ue a boca da mulher é sempre linda6e dentro guarda um verso que no di: !

     Amo#te tanto ! & nunca te bei-ei...& nesse bei-o, Amor, que eu te no deiEuardo os versos mais lindos que te fi:.

    8ei-a#mas bem!... 1ue fantasia louca

    Euardar assim, fechados, nestas mos,2s bei-os que sonhei pra minha boca!...

    6er poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem bei-a!

    + ser mendigo e dar como quem se-a@ei do @eino de Aquém e de Além Dor!

    + ter de mil dese-os o esplendor & no saber sequer que se dese-a!

    + ter c) dentro um astro que flame-a,

    + ter garras e asas de condor!

    + ter fome, é ter sede de Infinito!0or elmo, as manhs de oiro e de cetim...

    + condensar o mundo num s5 grito!

    & é amar#te, assim, perdidamente...+ seres alma, e sangue, e vida em mim

    & di:$#lo cantando a toda a gente!

    ,#".nio de Andrade 

    0assamos pelas coisas sem as ver,gastos, como animais envelhecidos>se alguém chama por n5s no respondemos,se alguém nos pede amor no estremecemos,como frutos de sombra sem sabor,vamos caindo ao cho, apodrecidos.

    + urgente o amor.+ urgente um barco no mar.

    + urgente destruir certas palavras,5dio, solido e crueldade,

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    alguns lamentos,muitas espadas.

    + urgente inventar alegria,multiplicar os bei-os, as searas,é urgente descobrir rosas e rios

    e manhs claras.

    /ai o sil$ncio nos ombros e a lu:impura, até doer.+ urgente o amor, é urgentepermanecer.

    &ntre os teus l)biosé que a loucura acode,desce = garganta,invade a )gua.

    o teu peitoé que o p5len do fogose -unta = nascente,alastra na sombra.

    os teus flancosé que a fonte começaa ser rio de abelhas,rumor de tigre.

    Da cintura aos -oelhosé que a areia queima,o sol é secreto,

    cego o sil$ncio.

    Deita#te comigo.Ilumina meus vidros.&ntre l)bios e l)biostoda a msica é minha.

    Di: homem, di: criança, di: estrela.@epete as s%labasonde a lu: é feli: e se demora.

    7olta a di:er> homem, mulher, criança.

    2nde a bele:a é mais nova.

    + na escura folhagem do sonoque brilhaa pele molhada,a dif%cil floraço da l%ngua.

    Msica, levai#me>

    2nde esto as barcas'2nde so as ilhas'

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    0rocura a maravilha.2nde um bei-o sabea barcos e bruma.o brilho redondoe -ovem dos -oelhos.a noite inclinada

    de melancolia.0rocura.0rocura a maravilha.

     A boca,onde o fogode um veromuito antigocintila,a boca espera"que pode uma bocaesperar 

    seno outra boca'(espera o ardor do ventopara ser ave,e cantar.

    3evar#te = boca,beber a )guamais funda do teu ser #se a lu: é tanta,como se pode morrer'

    # tu a palavra.6$ tu a palavra,branca rosa brava.

    N.65 o dese-o é matinal.

    O.0oupar o coraçoé permitir = mortecoroar#se de alegria.

    P.Morrede ter ousadona )gua amar o fogo.

    Q.8eber#te a sede e partir # eu sou de to longe.

    R.Da chama = espadao caminho é solit)rio.

    S.

    2(

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    1ue me quereis,se me no daiso que é to meu'

    &olhe todo o oiro

    /olhetodo o oiro do diana haste mais altada melancolia.

     Ainda sabemos cantar,s5 a nossa vo: é que mudou>somos agora mais lentos,mais amargos,e um novo gesto é igual ao que passou.

    Um verso -) no é a maravilha,

    um corpo -) no é a plenitude.

    unca o vero se demoraraassim nos l)biose na )gua# como pod%amos morrer,to pr5*imose nus e inocentes'

    Devias estar aqui rente aos meus l)biospara dividir contigo esta amargura

    dos meus dias partidos um a um

    # &u vi a terra limpa no teu rosto,65 no teu rosto e nunca em mais nenhum

    De palavra em palavraa noite sobeaos ramos mais altos

    e cantao $*tase do dia.

    Boi para ti que criei as rosas.Boi para ti que lhes dei perfume.0ara ti rasguei ribeirose dei )s roms a cor do lume.

    mido de bei-os e de l)grimas,ardor da terra com sabor a mar,o teu corpo perdia#se no meu.

    "7ontade de ser barco ou de cantar.(

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    6$ pacienteG esperaque a palavra amadureçae se desprenda como um frutoao passar o vento que a mereça.

    o-e roubei todas as rosas dos -ardinse cheguei ao pé de ti de mos va:ias.

     C breve, a:ul cantilenados teus olhos quando anoitecem.

    &ram de longe.Do mar tra:iamo que é do mar> doçurae ardor nos olhos fatigados.

     A rai: do linhofoi meu alimento,foi o meu tormento.

    Mas ento cantava.

     Cs ve:es tu di:ias> os teus olhos so pei*es verdes!& eu acreditava. Acreditava,porque ao teu lado

    todas as coisas eram poss%veis.

    Mas isso era no tempo dos segredos.&ra no tempo em que o teu corpo era um aqu)rio.&ra no tempo em que os meus olhoseram os tais pei*es verdes.o-e so apenas os meus olhos.+ pouco, mas é verdade>uns olhos como todos os outros.

    ) gast)mos as palavras.1uando agora digo> meu amor..., -) no se passa absolutamente nada.& no entanto, antes das palavras gastas,tenho a certe:ade que todas as coisas estremeciams5 de murmurar o teu nomeno sil$ncio do meu coraço.

    o temos -) nada para dar.Dentro de tino h) nada que me peça )gua.2 passado é intil como um trapo.

    & -) te disse> as palavras esto gastas.

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     Adeus

    /a0id Mo#rão!&erreira 

    & por ve:es as noites duram meses& por ve:es os meses oceanos& por ve:es os braços que apertamosnunca mais so os mesmos & por ve:es

    encontramos de n5s em poucos meseso que a noite nos fe: em muitos anos& por ve:es fingimos que lembramos& por ve:es lembramos que por ve:es

    ao tomarmos o gosto aos oceanoss5 o sarro das noites no dos mesesl) no fundo dos copos encontramos

    & por ve:es sorrimos ou choramos& por ve:es por ve:es ah por ve:esnum segundo se envolam tantos anos.

    5s temos cinco sentidos>so dois pares e meio de asas.

    # /omo quereis o equil%brio'

    &resp)sculo

    + quando um espelho, no quarto,se enfastiaG1uando a noite se destacada cortinaG1uando a carne tem o travoda saliva,e a saliva sabe a carnedissolvidaG1uando a força de vontaderessuscitaG1uando o pé sobre o sapatose equilibra...& quando =s sete da tarde

    morre o dia# que dentro de nossas almasse ilumina,com lu: l%vida, a palavradespedida.

    Penélopemais do que um sonho> comoço!sinto#me tonto, enternecido,quando, de noite, as minhas mosso o teu nico vestido.

    e recomp

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    que eu, sem saber, tinha tecido,todo o pudor que desfi:estecomo uma teia sem sentidoGtodo o pudor que desfi:estea meu pedido.

    mas nesse manto que desfias,e que depois voltas a pTr,eu reconheço os melhores diasdo nosso amor.

    Cesário erde 

    as nossas ruas, ao anoitecer,) tal soturnidade, h) tal melancolia,1ue as sombras, o bul%cio, o 4e-o, a maresiaDespertam#me um dese-o absurdo de sofrer 

    &u que sou feio, s5lido, leal, A ti, que és bela, fr)gil, assustada,1uero estimar#te, sempre, recatadauma e*ist$ncia honesta, de cristal.

    6entado = mesa de um café devasso, Ao avistar#te, h) pouco fraca e loura,esta babel to velha e corruptora,4ive tenç

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    & eu, que urdia estes fr)geis esbocetos,ulguei ver, com a vista de poeta,Um pombinha t%mida e quietaum bando ameaçador de corvos pretos.

    & foi, ento que eu, homem varonil,1uis dedicar#te a minha pobre vida, A ti, que és ténue, d5cil, recolhida,&u, que sou h)bil, pr)tico, viril.

    &, enorme, nesta massa irregular De prédios sepulcrais, com dimens

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    meus olhos secos como pedrase as minhas duas mos quebradas.

    o mistério do sem#fimequilibra#se um planeta.

    &, no planeta, um -ardim,e, no -ardim, um canteiroGno canteiro uma violeta,e, sobre ela, o dia inteiro,

    entre o planeta e o sem#fim,a asa de uma borboleta

    4u tens um medo> Acabar.o v$s que acabas todo o dia.

    1ue morres no amor.a triste:a.a dvida.o dese-o.1ue te renovas todo o dia.o amor.a triste:a.a dvida.o dese-o.1ue és sempre outro.1ue és sempre o mesmo.1ue morrer)s por idades imensas. Até no teres medo de morrer.

    & ento ser)s eterno.

    .etrato&u no tinha este rosto de ho-e, Assim calmo, assim triste, assim magro,em estes olhos to va:ios,em o l)bio amargo.

    &u no tinha estas mos sem força,4o paradas e frias e mortasG&u no tinha este coraço

    1ue nem se mostra.

    &u no dei por esta mudança,4o simples, to certa, to f)cil># &m que espelho ficou perdida A minha face'

    #erenata0ermita que eu feche os meus olhos,pois é muito longe e to tarde!0ensei que era apenas demora,e cantando pus#me a esperar#te.

    0ermite que agora emudeça>

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    que me conforme em ser so:inha.) uma doce lu: no silencio,e a dor é de origem divina.

    0ermite que eu volte o meu rostopara um céu maior que este mundo,

    e aprenda a ser d5cil no sonhocomo as estrelas no seu rumo.

    A arte de ser elizouve um tempo em que minha -anelase abria sobre uma cidade que pareciaser feita de gi:. 0erto da -anela havia umpequeno -ardim quase seco.&ra uma época de estiagem, de terraesfarelada, e o -ardim parecia morto.Mas todas as manhs vinha um pobre

    com um balde e, em sil$ncio, ia atirandocom a mo umas gotas de )gua sobreas plantas. o era uma rega> era umaespécie de asperso ritual, para que o -ardim no morresse. & eu olhava paraas plantas, para o homem, para as gotasde )gua que ca%am de seus dedosmagros e meu coraço ficavacompletamente feli:. Cs ve:es abro a -anela e encontro o -asmineiro em flor. 2utras ve:es

    encontro nuvens espessas. Avistocrinças que vo para a escola. 0ardaisque pulam pelo muro. Eatos que abreme fecham os olhos, sonhando compardais. 8orboletas brancas, duas aduas, como refelectidas no espelho do ar.Marimbondos que sempre me parecempersonagens de 3ope de 7ega. Csve:es um galo canta. Cs ve:es umavio passa. 4udo est) certo, no seulugar, cumprindo o seu destino. & eu mesinto completamente feli:.Mas, quando falo dessas pequenasfelicidades certas, que esto diante decada -anela, uns di:em que essas coisasno e*istem, outros que s5 e*istemdiante das minhas -anelas, e outros,finalmente, que é preciso aprender aolhar, para poder v$#las assim.

    Carlos /r#ond de Andrade 

    2s ombros suportam o mundo/hega um tempo em que no se di: mais> meu Deus.4empo de absoluta depuraço.

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    4empo em que no se di: mais> meu amor.0orque o amor resultou intil.& os olhos no choram.& as mos tecem apenas o rude trabalho.& o coraço est) seco.

    &m vo mulheres batem = porta, no abrir)s.Bicaste so:inho, a lu: apagou#se,mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.+s todo certe:a, -) no sabes sofrer.& nada esperas de teus amigos.

    0ouco importa venha a velhice, que é a velhice'4eus ombros suportam o mundoe ele no pesa mais que a mo de uma criança. As guerras, as fomes, as discuss

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    porque a aus$ncia, essa aus$ncia assimilada,ninguém a rouba mais de mim.

    "uadrilhaoo amava 4eresa que amava @aimundo

    que amava Maria que amava oaquim que amava 3ilique no amava ninguém.oo foi para os &stados Unidos, 4eresa para o convento,@aimundo morreu de desastre, Maria ficou pra tia,oaquim suicidou#se e 3ili casou com . 0into Bernandesque no tinha entrado na hist5ria.

    1ue pode uma criatura seno,entre outras criaturas, amar'amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar'

    sempre, e até de olhos vidrados, amar'

    Destruição2s amantes se amam cruelmentee com se amarem tanto no se v$em.Um se bei-a no outro, refletido.Dois amantes que so' Dois inimigos.

     Amantes so meninos estragadospelo mimo de amar> e no percebemquanto se pulveri:am no enlaçar#se,

    e como o que era mundo volve a nada.

    ada. inguém. Amor, puro fantasmaque os passeia de leve, assim a cobrase imprime na lembrança de seu trilho.

    & eles quedam mordidos para sempre.dei*aram de e*istir, mas o e*istidocontinua a doer eternamente.

    a+lo Ner#da 

    Angela Adonicao-e deitei#me -unto a uma -ovem puracomo se na margem de um oceano branco,como se no centro de uma ardente estrelade lento espaço.

    Do seu olhar largamente verdea lu: ca%a como uma )gua seca,em transparentes e profundos c%rculos

    de fresca força.

    6eu peito como um fogo de duas chamas

    2%

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    ard%a em duas regicuecas, toalhas e camisas que choramlentas l)grimas s5rdidas.

    + assim que te quero, amor,assim, amor, é que eu gosto de ti,

    tal como te vestese como arran-asos cabelos e comoa tua boca sorri,)gil como a )guada fonte sobre as pedras puras,é assim que te quero, amada, Ao po no peço que me ensine,mas antes que no me falteem cada dia que passa.Da lu: nada sei, nem dondevem nem para onde vai,apenas quero que a lu: alumie,

    e também no peço = noite e*plicaç

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    uma folha da )rvore do nosso amor, uma folhaque h)#de cair sobre a terracomo se a tivessem produ:ido os nosso l)bios,como um bei-o ca%dodas nossas alturas invenc%veispara mostrar o fogo e a ternura

    de um amor verdadeiro.

    4u eras também uma pequena folhaque tremia no meu peito.2 vento da vida pTs#te ali. A princ%pio no te vi> no soubeque ias comigo,até que as tuas ra%:esatravessaram o meu peito,se uniram aos fios do meu sangue,falaram pela minha boca,floresceram comigo.

    Dois amantes feli:es no t$m fim nem morte,nascem e morrem tanta ve: enquanto vivem,so eternos como é a nature:a.

    o te quero seno porque te quero,e de querer#te a no te querer chego,e de esperar#te quando no te espero,passa o meu coraço do frio ao fogo.1uero#te s5 porque a ti te quero,2deio#te sem fim e odiando te rogo,

    e a medida do meu amor via-ante,é no te ver e amar#te,como um cego.

    4al ve: consumir) a lu: de aneiro,seu raio cruel meu coraço inteiro,roubando#me a chave do sossego,nesta hist5ria s5 eu me morro,e morrerei de amor porque te quero,porque te quero amor,a sangue e fogo.

    ega#me o po, o ar,a lu:, a primavera,mas nunca o teu riso,porque ento morreria.

    *s teus pés1uando no te posso contemplar/ontemplo os teus pés.

    4eus pés de osso arqueado,4eus pequenos pés duros,

    &u sei que te sustentam& que teu doce peso

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    6obre eles se ergue.

    4ua cintura e teus seios, A duplicada purpuraDos teus mamilos, A cai*a dos teus olhos

    1ue h) pouco levantaram voo, A larga boca de fruta,4ua rubra cabeleira,0equena torre minha.

    Mas se amo os teus pés+ s5 porque andaram6obre a terra e sobre2 vento e sobre a )gua, Até me encontrarem.

    0osso escrever os versos mais tristes esta noite.

    &screver, por e*emplo> ?A noite est) estrelada,e tiritam, a:uis, os astros l) ao longe?.2 vento da noite gira no céu e canta.

    0osso escrever os versos mais tristes esta noite.&u amei#a e por ve:es ela também me amou.&m noites como esta tive#a em meus braços.8ei-ei#a tantas ve:es sob o céu infinito.

    &la amou#me, por ve:es eu também a amava./omo no ter amado os seus grandes olhos fi*os.

    0osso escrever os versos mais tristes esta noite.0ensar que no a tenho. 6entir que -) a perdi.

    2uvir a noite imensa, mais imensa sem ela.& o verso cai na alma como no pasto o orvalho.Importa l) que o meu amor no pudesse guard)#la. A noite est) estrelada e ela no est) comigo.

    Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. A minha alma no se contenta com hav$#la perdido./omo para cheg)#la a mim o meu olhar procura#a.2 meu coraço procura#a, ela no est) comigo.

     A mesma noite que fa: branque-ar as mesmas )rvores.5s dois, os de ento, -) no somos os mesmos.) no a amo, é verdade, mas tanto que a amei.&sta vo: buscava o vento para tocar#lhe o ouvido.

    De outro. 6er) de outro. /omo antes dos meus bei-os. A vo:, o corpo claro. 2s seus olhos infinitos.) no a amo, é verdade, mas talve: a ame ainda.+ to curto o amor, to longo o esquecimento.

    0orque em noites como esta tive#a em meus braços,a minha alma no se contenta por hav$#la perdido.

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    &mbora se-a a ltima dor que ela me causa,e estes se-am os ltimos versos que lhe escrevo.

    So-ia de Mello reyner Andresen 0orque os outros se mascaram mas tu no0orque os outros usam a virtude0ara comprar o que no tem perdo.0orque os outros t$m medo mas tu no.0orque os outros so os tmulos caiados2nde germina calada a podrido.0orque os outros se calam mas tu no.

    0orque os outros se compram e se vendem& os seus gestos do sempre dividendo.0orque os outros so h)beis mas tu no.

    0orque os outros vo = sombra dos abrigos& tu vais de mos dadas com os perigos.0orque os outros calculam mas tu no.

     A hora da partida soa quando&scurece o -ardim e o vento passa,&stala o cho e as portas batem, quando A noite cada n5 em si deslaça.

     A hora da partida soa quandoas )rvores parecem inspiradas

    /omo se tudo nelas germinasse.

    6oa quando no fundo dos espelhosMe é estranha e long%nqua a minha face& de mim se desprende a minha vida.

    /hamo#4e porque tudo est) ainda no princ%pio& suportar é o tempo mais comprido.

    0eço#4e que venhas e me d$s a liberdade,1ue um s5 dos teus olhares me purifique e acabe.

    ) muitas coisas que eu quero ver.

    0eço#4e que se-as o presente.0eço#4e que inundes tudo.& que o teu reino antes do tempo venha.& se derrame sobre a 4erra&m primavera fero: pricipitado.

    4error de te amar num s%tio to fr)gil como o mundo

    Mal de te amar neste lugar de imperfeiço2nde tudo nos quebra e emudece

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    2nde tudo nos mente e nos separa

    1ue nenhuma estrela queime o teu perfil1ue nenhum deus se lembre do teu nome1ue nem o vento passe onde tu passas.

    0ara ti criarei um dia puro3ivre como o vento e repetido/omo o florir das ondas ordenadas.

    8ebido o luar, ébrios de hori:ontes,ulgamos que viver era abraçar2 rumor dos pinhais, o a:ul dos montes& todos os -ardins verdes do mar.

    Mas solit)rios somos e passamos,o so nossos os frutos nem as flores,

    2 céu e o mar apagam#se e*teriores& tornam#se os fantasmas que sonhamos.

    0or que -ardins que n5s no colheremos,3%mpidos nas auroras a nascer,0or que o céu e o mar se no seremosunca os deuses capa:es de os viver .

    i)tor #"o 

    Dese-o primeiro que voc$ ame,& que amando, também se-a amado.

    & que se no for, se-a breve em esquecer.& que esquecendo, no guarde m)goa.Dese-o, pois, que no se-a assim,Mas se for, saiba ser sem desesperar.Dese-o também que tenha amigos,1ue mesmo maus e inconseqJentes,6e-am cora-osos e fiéis,& que pelo menos num deles7oc$ possa confiar sem duvidar.& porque a vida é assim,Dese-o ainda que voc$ tenha inimigos.

    em muitos, nem poucos,Mas na medida e*ata para que, algumas ve:es,7oc$ se interpele a respeitoDe suas pr5prias certe:as.& que entre eles, ha-a pelo menos um que se-a -usto,0ara que voc$ no se sinta demasiado seguro.Dese-o depois que voc$ se-a til,Mas no insubstitu%vel.& que nos maus momentos,1uando no restar mais nada,&ssa utilidade se-a suficiente para manter voc$ de pé.Dese-o ainda que voc$ se-a tolerante,o com os que erram pouco, porque isso é f)cil,Mas com os que erram muito e irremediavelmente,

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    & que fa:endo bom uso dessa tolerFncia,7oc$ sirva de e*emplo aos outros.Dese-o que voc$, sendo -ovem,o amadureça depressa demais,& que sendo maduro, no insista em re-uvenescer & que sendo velho, no se dedique ao desespero.0orque cada idade tem o seu pra:er e a sua dor e+ preciso dei*ar que eles escorram por entre n5s.Dese-o por sinal que voc$ se-a triste,o o ano todo, mas apenas um dia.Mas que nesse dia descubra1ue o riso di)rio é bom,2 riso habitual é insosso e o riso constante é insano.Dese-o que voc$ descubra ,/om o m)*imo de urg$ncia, Acima e a respeito de tudo, que e*istem oprimidos,In-ustiçados e infeli:es, e que esto = sua volta.

    Dese-o ainda que voc$ afague um gato, Alimente um cuco e ouça o -oo#de#barro&rguer triunfante o seu canto matinal0orque, assim, voc$ sesentir) bem por nada.Dese-o também que voc$ plante uma semente,0or mais minscula que se-a,& acompanhe o seu crescimento,0ara que voc$ saiba de quantasMuitas vidas é feita uma )rvore.Dese-o, outrossim, que voc$ tenha dinheiro,0orque é preciso ser pr)tico.

    &que pelo menos uma ve: por ano/oloque um pouco delea sua frente e diga Isso é meu,65 para que fique bem claro quem é o dono dequem.Dese-o também que nenhum de seus afetos morra,0or ele e por voc$,Mas que se morrer, voc$ possa chorar 6em se lamentar esofrer sem se culpar.Dese-o por fim que voc$ sendo homem,4enha uma boa mulher,& que sendo mulher,

    4enha um bom homem&que se amem ho-e, amanh e nos dias seguintes,& quando estiverem e*austos e sorridentes, Ainda ha-a amor para recomeçar.& se tudo isso acontecer,o tenho mais nada a te dese-ar.

    ini)i#s de Moraes 

     A maior solido é a do ser que no ama. A maior solido é a dor do ser que se ausenta, que sedefende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

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     A maior solido é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,o que no d) a quem pede o que ele pode dar de amor, de ami:ade, de socorro.

    2 maior solit)rio é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir#se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. &sse queima como uma lFmpada triste,cu-o refle*o entristece também tudo em torno. &le é a angstia do mundo que o reflete. &le é o

    que se recusa =s verdadeiras fontes de emoço, as que so o patrimTnio de todos, e,encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.

    &u sei e voc$ sabe) que a vida quis assim1ue nada nesse mundo levar) voc$ de mim&u sei e voc$ sabe1ue a distFncia no e*iste1ue todo grande amor 65 é bem grande se for triste0or isso meu amor o tenha medo de sofrer 

    1ue todos os caminhosMe encaminham a voc$.

     Assim como o 2ceano, s5 é belo com o luar  Assim como a /anço, s5 tem ra:o se se cantar  Assim como uma nuvem, s5 acontece se chover  Assim como o poeta, s5 é bem grande se sofrer  Assim como viver sem ter amor, no é viver o h) voc$ sem mim& eu no e*isto sem voc$!

    Procura-se um amigo

    o precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coraço. 0recisasaber falar e calar, sobretudo saber ouvir. 4em que gostar de poesia, de madrugada, dep)ssaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canç

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    Dialética+ claro que a vida é boa& a alegria, a nica indi:%vel emoço+ claro que te acho linda&m ti bendigo o amor das coisas simples+ claro que te amo

    & tenho tudo para ser feli:Mas acontece que eu sou triste...

    Ausncia&u dei*arei que morraem mim o dese-o de amar os teus olhos que so doces0orque nada te poderei dar seno a m)goa de me veres eternamente e*austo.o entanto a tua presença é qualquer coisa como a lu: e a vida& eu sinto que em meu gesto e*iste o teu gesto e em minha vo: a tua vo:.o te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.1uero s5 que sur-as em mim como a fé nos desesperados0ara que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

    1ue ficou sobre a minha carne como n5doa do passado.&u dei*arei... tu ir)s e encostar)s a tua face em outra face.4eus dedos enlaçaro outros dedos e tu desabrochar)s para a madrugada.Mas tu no saber)s que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande %ntimo da noite.0orque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.0orque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.& eu trou*e até mim a misteriosa ess$ncia do teu abandono desordenado.&u ficarei s5 como os veleiros nos pontos silenciosos.Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.& todas as lamentaç

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     Amo#te como um bicho, simplesmenteDe um amor sem mistério e sem virtude/om um dese-o maciço e permanente.

    & de te amar assim, muito e amide

    + que um dia em teu corpo de repenteei de morrer de amar mais do que pude.

    *per1rio em construção&ra ele que erguia casas2nde antes s5 havia cho./omo um p)ssaro sem asas&le subia com as asas1ue lhe brotavam da mo.Mas tudo desconheciaDe sua grande misso>o sabia por e*emplo

    1ue a casa de um homem é um temploUm templo sem religio/omo tampouco sabia1ue a casa que ele fa:ia6endo a sua liberdade&ra a sua escravido.

    De fato como podiaUm oper)rio em construço/ompreender porque um ti-olo7alia mais do que um po'4i-olos ele empilhava/om p), cimento e esquadria

    1uanto ao po, ele o comiaMas fosse comer ti-olo!& assim o oper)rio ia/om suor e com cimento&rguendo uma casa aqui Adiante um apartamento

     Além uma igre-a, = frenteUm quartel e uma priso>0riso de que sofreriao fosse eventualmenteUm oper)rio em construco.Mas ele desconhecia

    &sse fato e*traordin)rio>1ue o oper)rio fa: a coisa& a coisa fa: o oper)rio.De forma que, certo dia C mesa, ao cortar o po2 oper)rio foi tomadoDe uma subita emoço Ao constatar assombrado1ue tudo naquela mesa# Earrafa, prato, faco&ra ele quem fa:ia&le, um humilde oper)rioUm oper)rio em construço.

    2lhou em torno> a gamela8anco, en*erga, caldeiro

    3

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    7idro, parede, -anela/asa, cidade, naço!4udo, tudo o que e*istia&ra ele quem os fa:ia&le, um humilde oper)rioUm oper)rio que sabia

    &*ercer a profisso.

     Ah, homens de pensamentoao sabereis nunca o quanto Aquele humilde oper)rio6oube naquele momentoaquela casa va:ia1ue ele mesmo levantaraUm mundo novo nasciaDe que sequer suspeitava.2 oper)rio emocionado2lhou sua propria mo6ua rude mo de oper)rio

    De oper)rio em construço& olhando bem para ela4eve um segundo a impressoDe que no havia no mundo/oisa que fosse mais bela.

    Boi dentro dessa compreensoDesse instante solit)rio1ue, tal sua construço/resceu também o oper)rio/resceu em alto e profundo&m largo e no coraço& como tudo que cresce

    &le nao cresceu em vo0ois além do que sabia# &*cercer a profisso #2 oper)rio adquiriuUma nova dimenso> A dimenso da poesia.

    & um fato novo se viu1ue a todos admirava>2 que o oper)rio di:ia2utro oper)rio escutava.& foi assim que o oper)rioDo edificio em construço

    1ue sempre di:ia ?sim?/omeçou a di:er ?no?& aprendeu a notar coisas A que nao dava atenço>otou que sua marmita&ra o prato do patro1ue sua cerve-a preta&ra o uisque do patro1ue seu macaco de :uarte&ra o terno do patro1ue o casebre onde morava&ra a manso do patro1ue seus dois pés andarilhos

    &ram as rodas do patro1ue a dure:a do seu dia

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    &ra a noite do patro1ue sua imensa fadiga&ra amiga do patro.

    & o oper)rio disse> o!& o oper)rio fe:#se forte

    a sua resoluço

    /omo era de se esperar  As bocas da delaço/omecaram a di:er coisas Aos ouvidos do patroMas o patro no queriaenhuma preocupaço.# ?/onvençam#no? do contr)rioDisse ele sobre o oper)rio& ao di:er isto sorria.

    Dia seguinte o oper)rio

     Ao sair da construço7iu#se sbito cercadoDos homens da delaço& sofreu por destinado6ua primeira agresso4eve seu rosto cuspido4eve seu braço quebradoMas quando foi perguntado2 oper)rio disse> o!

    &m vo sofrera o oper)rio6ua primeira agressoMuitas outras seguiram

    Muitas outras seguiro0orém, por imprescind%vel Ao edificio em construço6eu trabalho prosseguia& todo o seu sofrimentoMisturava#se ao cimentoDa construço que crescia.

    6entindo que a viol$nciao dobraria o oper)rioUm dia tentou o patroDobr)#lo de modo contr)rioDe sorte que o foi levando

     Ao alto da construço& num momento de tempoMostrou#lhe toda a regio& apontando#a ao oper)rioBe:#lhe esta declaraço># Dar#te#ei todo esse poder & a sua satisfaço0orque a mim me foi entregue& dou#o a quem quiser.Dou#te tempo de la:er Dou#te tempo de mulher 0ortanto, tudo o que ver 6er) teu se me adorares

    &, ainda mais, se abandonares2 que te fa: di:er no.

    4(

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    Disse e fitou o oper)rio1ue olhava e refletiaMas o que via o oper)rio2 patro nunca veria2 oper)rio via casas

    & dentro das estruturas7ia coisas, ob-etos0rodutos, manufaturas.7ia tudo o que fa:ia2 lucro do seu patro& em cada coisa que viaMisteriosamente havia A marca de sua mo.& o oper)rio disse> o!

    # 3oucura! # gritou o patroao v$s o que te dou eu'# Mentira! # disse o oper)rio

    o podes dar#me o que é meu.

    & um grande sil$ncio fe:#seDentro do seu coraçoUm sil$ncio de martiriosUm sil$ncio de priso.Um sil$ncio povoadoDe pedidos de perdoUm sil$ncio apavorado/om o medo em solidoUm sil$ncio de torturas& gritos de maldiçoUm sil$ncio de fraturas

     A se arrastarem no cho& o oper)rio ouviu a vo:De todos os seus irmos2s seus irmos que morreram0or outros que viveroUma esperança sincera/resceu no seu coraço& dentro da tarde mansa Agigantou#se a ra:oDe um homem pobre e esquecido@a:o porém que fi:era&m oper)rio construido2 oper)rio em construço

    * Desespero da PiedadeMeu 6enhor, tende piedade dos que andam de bonde& sonham no longo percurso com autom5veis, apartamentos...Mas tende piedade também dos que andam de autom5vel1uantos enfrentam a cidade movediça de sonFmbulos, na direço.

    4ende piedade das pequenas fam%lias suburbanas& em particular dos adolescentes que se embebedam de domingosMas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam& sem saber inventam a doutrina do po e da guilhotina

    4ende muita piedade do mocinho fran:ino, tr$s cru:es, poeta

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    1ue s5 tem de seu as costeletas e a namorada pequeninaMas tende mais piedade ainda do imp)vido forte colosso do esporte& que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

    4ende imensa piedade dos msicos de cafés e de casas de ch)1ue so virtuoses da pr5pria triste:a e solidoMas tende piedade também dos que buscam o sil$ncio& sbito se abate sobre eles uma )ria da 4osca.

    o esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram& para quem o suic%dio ainda é a mais doce soluçoMas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram& tornam#se her5icos e = santa pobre:a do um ar de grande:a.

    4ende infinita piedade dos vendedores de passarinhos1uem em suas alminhas claras dei*am a l)grima e a incompreenso& tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balco

    1ue amam as freguesas e saem de noite, quem sabe onde vo...

    4ende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros1ue se efeminam por profisso mas so humildes nas suas car%ciasMas tende maior piedade ainda dos que cortam o cabelo>1ue espera, que angstia, que indigno, meu Deus!

    4ende piedade dos sapateiros e cai*eiros de sapataria1uem lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatosMas lembrai#vos também dos que se calçam de novoada pior que um sapato apertado, 6enhor Deus.

    4ende piedade dos homens teis como os dentistas1ue sofrem de utilidade e vivem para fa:er sofrerMas tente mais piedade dos veterin)rios e pr)ticos de farm)cia1ue muito eles gostariam de ser médicos, 6enhor.

    4ende piedade dos homens pblicos e em particular dos pol%ticos0ela sua fala f)cil, olhar brilhante e segurança dos gestos de moMas tende mais piedade ainda dos seus criados, pr5*imos e parentesBa:ei, 6enhor, com que deles no saiam pol%ticos também.

    & no longo cap%tulo das mulheres, 6enhor, tenha piedade das mulheres/astigai minha alma, mas tende piedade das mulheres&nlouquecei meu esp%rito, mas tende piedade das mulheresUlcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

    4ende piedade da moça feia que serve na vidaDe casa, comida e roupa lavada da moça bonitaMas tende mais piedade ainda da moça bonita1ue o homem molesta V que o homem no presta, no presta, meu Deus!

    4ende piedade das moças pequenas das ruas transversais1ue de apoio na vida s5 t$m 6anta anela da /onsolaço& sonham e*altadas nos quartos humildes

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    2s olhos perdidos e o seio na mo.

    4ende piedade da mulher no primeiro coito2nde se cria a primeira alegria da /riaço& onde se consuma a tragédia dos an-os& onde a morte encontra a vida em desintegraço.

    4ende piedade da mulher no instante do parto2nde ela é como a )gua e*plodindo em convulso2nde ela é como a terra vomitando c5lera2nde ela é como a lua parindo desiluso.

    4ende piedade das mulheres chamadas desquitadas0orque nelas se refa: misteriosamente a virgindadeMas tende piedade também das mulheres casadas1ue se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

    4ende piedade, 6enhor, das mulheres chamadas vagabundas1ue so desgraçadas e so e*ploradas e so infecundasMas que vendem barato muito instante de esquecimento& em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

    4ende piedade, 6enhor, das primeiras namoradasDe corpo hermético e coraço patético1ue saem = rua feli:es mas que sempre entram desgraçadas1ue se cr$em vestidas mas que em verdade vivem nuas.

    4ende piedade, 6enhor, de todas as mulheres

    1ue ninguém mais merece tanto amor e ami:ade1ue ninguém mais dese-a tanto poesia e sinceridade1ue ninguém mais precisa tanto alegria e serenidade.

    4ende infinita piedade delas, 6enhor, que so puras1ue so crianças e so tr)gicas e so belas1ue caminham ao sopro dos ventos e que pecam& que t$m a nica emoço da vida nelas.

    4ende piedade delas, 6enhor, que uma me disse4er piedade de si mesma e da sua louca mocidade

    & outra, = simples emoço do amor piedosoDelirava e se desfa:ia em go:os de amor de carne.

    4ende piedade delas, 6enhor, que dentro delas A vida fere mais fundo e mais fecundo& o se*o est) nelas, e o mundo est) nelas& a loucura reside nesse mundo.

    4ende piedade, 6enhor, das santas mulheresDos meninos velhos, dos homens humilhados V sede enfim0iedoso com todos, que tudo merece piedade& se piedade vos sobrar, 6enhor, tende piedade de mim!

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    TRADUZIR-SE

    Uma parte de mimé todo mundo>outra parte é ninguém>fundo sem fundo.

    Uma parte de mimé multido>outra parte estranhe:ae solido.

    Uma parte de mimpesa, pondera>outra partedelira.

    Uma parte de mim

    almoça e -anta>outra partese espanta.

    Uma parte de mimé permanente>outra partese sabe de repente.

    Uma parte de mimé s5 vertigem>

    outra parteGlinguagem.

    4radu:ir#se uma partena outra parte# que é uma questode vida ou morte #ser) arte'

    Mário Quintanilha

    2"uem #a3e um Dia41uem 6abe um Dia1uem sabe um dia1uem sabe um seremos1uem sabe um viveremos1uem sabe um morreremos!

    1uem é que1uem é macho1uem é f$mea

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    1uem é humano, apenas!

    6abe amar 6abe de mim e de si6abe de n5s6abe ser um!

    Um diaUm m$sUm anoUm"a( vida!

    6entir primeiro, pensar depois0erdoar primeiro, -ulgar depois Amar primeiro, educar depois&squecer primeiro, aprender depois

    3ibertar primeiro, ensinar depois Alimentar primeiro, cantar depois

    0ossuir primeiro, contemplar depois Agir primeiro, -ulgar depois

    avegar primeiro, aportar depois7iver primeiro, morrer depois

    &anção do dia de sempre

    4o bom viver dia a dia... A vida assim, -amais cansa...

    7iver to s5 de momentos/omo estas nuvens no céu...

    & s5 ganhar, toda a vida,Ine*peri$ncia... esperança...

    & a rosa louca dos ventos0resa = copa do chapéu.

    unca d$s um nome a um rio>6empre é outro rio a passar.

    ada -amais continua,4udo vai recomeçar!

    & sem nenhuma lembrançaDas outras ve:es perdidas, Atiro a rosa do sonhoas tuas mos distra%dasW

    DA# 56*P7A#6e as coisas so inating%veis... ora!

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    o é motivo para no quer$#las...1ue tristes os caminhos se no fora A m)gica presença das estrelas!

    87+9:6:6e tu me amas, ama#me bai*inho.

    o o grites de cima dos telhados, dei*a em pa: os passarinhos.Dei*a em pa: a mim!6e me queres,enfim,.....tem de ser bem devagarinho,.....amada,.....que a vida é breve,.....e oamor.....mais breve ainda.

    ;6enta :s'uecer-me<4enta esquecer#meW 6er lembrado é como evocar Um fantasmaW Dei*a#me ser o que sou,2 que sempre fui, um rio que vai fluindoW&m vo, em minhas margens cantaro as horas,Me recamarei de estrelas como um manto real,Me bordarei de nuvens e de asas,

     Cs ve:es viro a mim as crianças banhar#seWUm espelho no guarda as coisas refletidas!& o meu destino é seguirW é seguir para o Mar, As imagens perdendo no caminhoWDei*a#me fluir, passar, cantarW4oda a triste:a dos rios+ no poder parar!

    ;*s .etratos<2s antigos retratos de paredeo conseguem ficar longo tempo abstratos. Cs ve:es os seus olhos te fi*am, obstinados0orque eles nunca se desumani:am de todoamais te voltes pra tr)s de repente.o, no olhes agora!2 remédio é cantares cantigas loucas e sem fimW6em fim e sem sentidoWDessas que a gente inventavaenganar a solido dos caminhos sem lua.

    ;&anção Para 5ma =alsa +enta<Minha vida no foi um romanceWunca tive até ho-e um segredo.6e me amar, no digas, que morroDe surpresaW de encantoW de medoWMinha vida no foi um romanceMinha vida passou por passar 

    6e no amas, no fin-as, que vivo&sperando um amor para amar.Minha vida no foi um romanceW0obre vidaW passou sem enredoWEl5ria a ti que me enches de vidaDe surpresa, de encanto, de medo!Minha vida no foi um romanceW Ai de mimW ) se ia acabar!

    ;#e :u Fosse 5m Padre<6e eu fosse um padre, eu, nos meus serm

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    ou das suas terr%veis maldiçanelas Mortas< Ao longo das -anelas mortasMeu passo bate as calçadas.1ue estranho bate!W6er)1ue a minha perna é de pau' Ah, que esta vida é autom)tica!&stou e*austo da gravitaço dos astros!7ou dar um tiro neste poema horrivel!7ou apitar chamando os guardas, os an-os, ossoY6enhor, as prostitutas, os mortos!7enham ver a minha degradaço,

     A minha sede insaci)vel de no sei o qu$, As minhas rugas.4ombai, estrelas de conta,3ua falsa de papelo,Manto bordado do céu!4ombai, cobri com a santa inutilidade vossa&sta carcaça miser)vel de sonho...

    ?* Auto-.etrato?o retrato que me faço# traço a traço #=s ve:es me pinto nuvem,=s ve:es me pinto )rvore...=s ve:es me pinto coisasde que nem h) mais lembrança...ou coisas que no e*istemmas que um dia e*istiro...e, desta lida, em que busco# pouco a pouco #minha eterna semelhança,no final, que restar)'Um desenho de criança.../orrigido por um louco!

    ?Poema?2 grilo procurano escuro

    o mais puro diamante perdido.2 grilocom as suas fr)geis britadeiras de vidroperfuraas implac)veis solid

  • 8/17/2019 Poesia 50p

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    Meu velho pai # que -) morreu!/omo pude ficarmos assim'osso olhar # duro # interroga>?2 que fi:este de mim'!?&u, 0ai'! 4u é que me invadiste,3entamente, ruga a ruga...1ue importa' &u sou, ainda,

     Aquele mesmo menino teimoso de sempre& os teus planos enfim l) se foram por terra.Mas sei que vi, um dia # a longa, a intil guerra!#7i sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...

    ?*s Parceiros?6onhar é acordar#se para dentro>de sbito me ve-o em pleno sonhoe no -ogo em que todo me concentromais uma carta sobre a mesa ponho.Mais outra! + o -ogo atro: do 4udo ou ada!& quase que escurece a chama triste...&, a cada parada uma pancada,o coraço, e*austo, ainda insiste.

    Insiste em qu$'Eanhar o qu$' De quem'2 meu parceiro...eu ve-o que ele temum riso silencioso a desenhar#senuma velha caveira carcomida.Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce.../omo também disfarce é a minha vida!

    ?&arta?&u queria tra:er#te uma imagem qualquer para os teus anos...2h! mas apenas este va:io dolorosode uma sala de espera onde no est) ninguém...+ que,longe de ti, de tuas mos milagrosasde onde os meus versos voavam # p)ssaros de lu:a que deste vida com o teu calor #é que longe de ti eu me sinto perdido# sabes' #desertamente perdido de mim!&m vo procuro...mas s5 ve-o de bom, mas s5 ve-o de puroeste céu que eu avisto da minha -anela.& assim querida,eu te mando este céu, todo este céu de 0orto Alegree aquelanuven:inhaque est) sonhando, agora em pleno a:ul!

    ?* Mapa?2lho o mapa da cidade/omo quem e*aminasse A anatomia de um corpo..."& nem que fosse o meu corpo!(6into uma dor infinitaDas ruas de 0orto Alegre2nde -amais passarei...) tanta esquina esquisita,4anta nuança de paredes,) tanta moça bonitaas ruas que no andei

    "& h) uma rua encantada1ue nem em sonhos sonhei...(1uando eu for, um dia desses,

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  • 8/17/2019 Poesia 50p

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    0oeira ou folha levadao vento da madrugada,6erei um pouco do nadaInvis%vel, delicioso1ue fa: com que o teu ar 0areça mais um olhar,

    6uave mistério amoroso,/idade de meu andar "Deste -) to longo andar!(& talve: de meu repouso...

    ?8ilhete?6e tu me amas, ama#me bai*inhoo o grites de cima dos telhadosDei*a em pa: os passarinhosDei*a em pa: a mim!6e me queres,enfim,tem de ser bem devagarinho, Amada,que a vida é breve, e o amor mais breve

    ainda...?:u :screvi um Poema 6riste?&u escrevi um poema triste& belo, apenas da sua triste:a.o vem de ti essa triste:aMas das mudanças do 4empo,1ue ora nos tra: esperanças2ra nos d) incerte:a...em importa, ao velho 4empo,1ue se-as fiel ou infiel...&u fico, -unto = corrente:a,2lhando as horas to breves...& das cartas que me escrevesBaço barcos de papel!ZBelicidade realista[. A princ%pio, bastaria ter sade, dinheiro e amor, o que -) é um pacote louv)vel, mas nossosdese-os so ainda mais comple*os.

    o basta que a gente este-a sem febre> queremos, além de sade, ser magérrimos, sarados,irresist%veis.

    Dinheiro' o basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema>queremos a piscinaol%mpica e uma temporada num spa cinco estrelas.

    & quanto ao amor' Ah, o amor.. no basta termos alguém com quem podemos conversar,dividir uma pi::a e fa:er se*o de ve: em quando.Isso é pensar pequeno> queremos AM2@, todinho maisculo. 1ueremos estar visceralmenteapai*onados, queremos ser surpreendidos por declaraç

  • 8/17/2019 Poesia 50p

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    Dinheiro é uma benço.1uem tem, precisa aproveit)#lo, gast)#lo, usufru%#lo.

    o perder tempo -untando, -untando, -untando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, masno aprisionado.

    & se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas quesaiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.

    6er feli: de uma forma realista é fa:er o poss%vel e aceitar o improv)vel.Ba:er e*erc%cios sem alme-ar passarelas, trabalhar sem alme-ar o estrelato, amar sem alme-aro eterno.

    2lhe para o rel5gio> hora de acordar.

    + importante pensar#se ao e*tremo, buscar l) dentro o que nos mobili:a, instiga e condu: mas

    sem e*igir#se desumanamente. A vida no é um -ogo onde s5 quem testa seus limites é queleva o pr$mio. o se-amos v%timas ing$nuas desta tal competitividade.

    6e a meta est) alta demais, redu:a#a. 6e voc$ no est) de acordo com as regras, demita#se.Invente seu pr5prio -ogo.

    Baça o que for necess)rio para ser feli:. Mas no se esqueça de que a felicidade é umsentimento simples, voc$ pode encontr)#la e dei*)#la ir embora por no perceber suasimplicidade. &la transmite pa: e no sentimentos fortes, que nos atormenta e provocainquietude no nosso coraço.

    Isso pode ser alegria, pai*o, entusiasmo, mas no felicidadeW