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    A Igreja Catlica como representante terrena da religio catlica desde aIdade Mdia tenta estabelecer-se como uma unidade poltico-administrativa eeconmica, alm de manter a funo religiosa. Naquela poca, a igreja era o grande

    senhor feudal: ela construa territrios para assegurar seu poder, dominava as terraspor meio de seus vassalos e controlava as pessoas pela f-religiosa. Estadominao, alm de construir territrios, tambm construa paisagens prprias docatolicismo, claramente identificveis. Esse poder durou at a laicizao do Estado.

    Na atualidade, ela perdeu muito de seu poder de dominao, porm aindaexerce influncia tanto sobre catlicos quanto no catlicos, por meio dadeterminao de uma cultura baseada na religio, como feriados, festas, crena nos

    dizeres bblicos, no estabelecimento de lugares santos, no seguimento de umcalendrio estabelecimento pela Igreja Catlica Apostlica Romana, etc. Osacerdote, neste cenrio, ocupa o centro da gesto territorial; ele promove a unioentre a populao, cria simbolismos e representaes prprios da Igreja, sempreaproximando e submetendo as prticas aos ritos oficiais dos romanos.

    Quando os portugueses chegaram ao Brasil, o Estado ainda estava atrelado Igreja Catlica, assim o novo espao foi colonizado com territrios e paisagens

    formados pela religio. Pelas mos da Companhia de Jesus o catolicismo seconsolidou nas terras brasileiras (ABREU, 1997). Nesse sentido, possvel dizer que o Brasil, consequentemente Sergipe, j nasceu religioso, ou pelo menoscatlico, uma vez que a Igreja desempenhou uma forte influncia no poder damonarquia portuguesa.

    Assim, de acordo com Bonjardim e Vargas (2010) quando se inicia aocupao do Brasil, no somente as leis e regras do Rei de Portugal que

    acompanham a colonizao, mas tambm as leis e regras da Igreja Catlica. Por isso, ao mesmo tempo em que numa cidade construdo o poder do Estado, tambm construdo o poder de Deus, na figura de seus representantes na terra: os

    padres, bispos, missionrios de vrias ordens distintas, criando nas cidadesbrasileiras um cenrio muito parecido com o europeu.

    As cidades desse perodo eram construdas, preferencialmente, prximas arios, o melhor meio de circulao da poca. Nas partes altas da povoao estavamlocalizados os poderes da Igreja e do Estado e ainda a residncia dos maisabastados. Na parte baixa, localizava-se a moradia dos menos afortunados, juntamente com o comrcio. Como no existia somente uma ordem de missionrios,

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    as cidades acabaram ficando repletas de igrejas, pois cada ordem construa a sua,alm de capelas ou at mesmo igrejas construdas nas fazendas destinadas famlia do senhor das terras, tanto para o dia-a-dia da vida quanto da morte

    (BONJARDIM & VARGAS, 2010). Esse modelo de ocupao foi acompanhado deum mesmo padro de construo, conformando uma paisagem comum poca. Aorganizao do espao em Sergipe enquadrou-se nesse modelo, sendo que, at naatualidade existem algumas cidades neste modelo. Assim, o Brasil se formou umpas extremamente catlico, mesmo com a separao da Religio e Estado em1888.

    Hoje o pas predominantemente catlico, ainda com o catolicismo

    impregnado em vrias paisagens e territrios das cidades. No somente de Igrejase Capelas que as paisagens e territrios catlicos so formados, mas tambm defestas, procisses, quermesses, peregrinaes, santurios, colgios, seminrios deformao, conventos, etc.

    Diante disso, a Geografia, enquanto cincia socioespacial, traz valiosossubsdios para o estudo da territorialidade da Igreja, principalmente por meio de seuvis cultural. A abordagem cultural imps a necessidade de se repensar a geografia

    humana, com a ideia de que a geografia no pode ser totalmente separada dacultura de onde se desenvolveu. Essa ideia exposta por Claval (1992, 2002) ediscutida em vrias de suas obras. Fica claro no somente em seus estudos, mastambm de outros pesquisadores que vieram a aumentar e fortificar essasdiscusses como Gomes (2005), Santos (2002), Cosgrove (1998), Haesbaert(1999), entre outros, que a abordagem cultural nos traz um vasto leque depossibilidades na anlise social, no campo das representaes, das percepes, das

    identidades, dos significados e tambm das religies.A juno da geografia com a religio est dentro do grande leque depossibilidades que emanam do repensar a geografia que a abordagem culturalimps. Rosendahl (1995) escreve sobre essa ligao esclarecendo que desde osprimrdios o homem era um ser religioso e mesmo no sabendo ou noreconhecendo exatamente a disciplina que chamamos de geografia, ele sempre fezgeografia. A juno da Geografia e da Religio pode ser feita porque ambas seencontram na esfera espacial, a geografia porque analisa o espao e a religio que um fenmeno cultural acontece no espao. Desta forma, perfeitamente lgico oestudo na abordagem cultural da religio, dentre outras da religio catlica, que

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    visivelmente cria territorialidades, signos, identidades, significados, define paisagem,territrios, estabelece representaes e est visivelmente impregnada na vida dohomem contemporneo com as paisagens e territrios formados pelas Igrejas

    Catlicas.Desde modo, neste estudo pretendemos interpretar a territorialidade da Igreja

    catlica Apostlica Romana no Estado de Sergipe, explicando a expanso doterritrio sagrado e seu sistema de redes.

    AS TERRITORIALIDADES DA IGREJA EM SERGIPE

    O Estado de Sergipe est situado entre os estados da Bahia e de Alagoas, naregio Nordeste do Brasil, menor estado da federao, na atualidade possuindo 75municpios e com uma rea total de 22.000 m2. Com um clima e vegetaodiversificada, que perpassa desde a zona da mata de clima quente e mido at oserto com clima seco. Neste cenrio, o Estado rico em manifestaes, rituais,sincretismos religiosos e paisagens simblicas.

    A paisagem das cidades sergipanas semelhante a muitas outras do Brasil,isto , nas cidades do menor estado do pas encontram-se presentes aspectosmodernos e tambm rugosidades de tempos passados. O Estado comeou a ser colonizado na segunda metade do sculo XVI, principalmente pela necessidade quese impunha aos portugueses de uma ligao por terra entre o territrio que hoje oestado de Pernambuco e a antiga capital da colnia Bahia (SANTANA, 2003).Naquela poca, muitos dos contatos com os nativos eram feitos pelos jesutas com o

    intuito de catequizar e domesticar e, no territrio de Sergipe, isso no foi diferente.Conhecido como territrio de ndios ferozes, algumas misses vieram para fazer contato e catequizar os nativos.

    Contudo, a colonizao efetiva inicia-se somente a partir de 1590, com aconquista do territrio por Cristvo de Barros: vilas e povoados foram fundados, asterras distribudas, a populao iniciada. Tudo feito aos moldes dos colonizadoresportugueses, que mantm, como na maior parte da Europa, o Estado atrelado religio catlica (BONJARDIM & VARGAS, 2010).

    Em Sergipe a religiosidade sempre esteve presente, na forte presenamissionria e no crescente sincretismo religioso da populao. O territrio rico em

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    manifestaes ligadas Igreja Catlica. Ainda hoje, tem-se a percepo que a Igrejatem um grande poder de deciso sobre a vida da sociedade, principalmente nascidades do interior sergipano. Esta influncia comeou a ser estabelecida com a

    construo do territrio sagrado no final do sculo XVI, com a doao das sesmariass ordens religiosas.

    O territrio, conforme explica Raffestin (1993), forma-se a partir do espao,sendo o resultado de uma ao conduzida por um ator sintagmtico (ator que realizaum programa) em qualquer nvel. Isto , o espao bem anterior ao territrio, que seapoia no espao, mas no o espao; uma produo a partir do espao. Ao seapropriar de um espao, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela

    representao), o ator territorializa o espao; ou seja, a partir do mom ento que umasociedade inseriu suas prticas no espao, este j uma apropriao econsequentemente um territrio.

    De acordo com Haesbaert (2004), o territrio, como em qualquer acepo,tem a ver com o poder, mas no apenas o tradicional poder poltico. Ele diz

    respeito tanto ao poder no sentido mais concreto, de dominao, quanto ao poder nosentido mais simblico, de apropriao base para o entendimento do territrio

    sagrado. Neste estudo, o territrio expresso a partir da apropriao simblica, darepresentao. Conforme Raffestin (1993), a representao uma forma deconstruo do territrio; se o espao tem signos prprios para a sociedade, o local j um territrio. O espao representado no mais o espao, mas a imagem do

    espao, ou melhor, do territrio visto e/ou vivido. em suma, o espao que setornou o territrio de um ator, desde que tomado numa relao social decomunicao (RAFFESTIN, 1993, p. 147). Dessa forma, a representao e o

    espao no se desvencilham, pois uma separao causaria o fim desse territrio.Os territrios formados a partir do espao representao se constituem por meio da identidade e se mantm pelas redes e pelas relaes de poder. Aidentidade, como afirma Castells (1999), organiza significados com base ematributos culturais, ou seja, a identidade fonte de significados e experincias de umpovo e pode estar relacionada, entre diversos fatores, ao poder religioso. Este poder religioso conforme se expande constri uma rede de territrios dependentes.

    Contudo, para existir o territrio religioso necessria a construo doespao-representao. E isso pode acontecer com apropriao por meio daconstruo de igrejas, capelas, conventos, casas de formao e, tambm, da

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    realizao de festas, quermesses, missas religiosas neste espao. Esta apropriaoque seria a territorialidade da religio.

    Segundo Haesbaert (2002, p. 45), territorialidade o conjunto de mltiplasformas de construo/apropriao (concreta e/ou simblica) do espao social, emsua interao com elementos como o poder. Sack (1986, p.219) afirma tambm: Aterritorialidade, como um componente do poder, no apenas um meio para criar emanter a ordem, mas uma estratgia para criar e manter grande parte do contextogeogrfico por meio do qual ns experimentamos o mundo e o dotamos designificado. E assim que a Igreja Catlica ir administrar e manter seu territrio,dando significado e implantando o grande smbolo da instituio: a Igreja.

    Neste sentido, os primeiros missionrios chegaram para construir o territriosagrado antes da colonizao. Em 1575 um pequeno grupo de jesutas seestabelece no territrio prximo onde hoje se encontra a cidade de ItaporangadAjuda-SE. Esta misso tinha como finalidade catequizar e domesticar os ndios.Porm alguns anos depois os jesutas foram expulsos juntamente com soldadosportugueses que os acompanhavam por causa de desentendimentos com osnativos. A segunda misso jesutica chegou ao Estado na poca da colonizao

    efetiva, nos ltimos anos do sculo XVI, com a doao de sesmarias para as ordensreligiosas.

    De acordo com Freire (1977) o clero secular recebe sesmaria em Sergipe DelRey um ano depois de sua chegada, por volta de 1600, com doao para o vigrioPadre Ferraz. Em 1602 o Padre Gaspar Fernandes, tambm vigrio do clero secular recebe sesmarias. Os Beneditinos chegam por volta de 1603, conforme carta desesmaria que lhe dada em agosto de 1603. Os carmelitas, alm da Igreja e

    convento em So Cristvo, adquirem sesmarias no sul do Estado para produodiversa. Os Franciscanos chegam aps alguns anos, em 1657, e edificam na cidadea primeira Igreja franciscana com o convento em terreno doado pelo sargentoBernardo Correia Lima. Todas estas ordens edificaram Igreja, algumas comconvento ou casa de morada, na capital da Provncia, So Cristvo.

    Alm disso, por ser Portugal um pas catlico e seu povo extremamentefervoroso, os sesmeiros construam no local onde estabeleciam moradia o smbolodo poder religioso: uma Capela/Igreja. Por isso, em todo o Estado existem estasCapelas/Igrejas abandonadas, principalmente as que ficavam na rea rural, no meiode fazendas de gado ou engenho de acar. Este tipo de construo quanto mais

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    suntuosa identificava a f e o poder da famlia construtora. Ou seja, demostrava opoder da Identidade cultural da sociedade em formao. Autores como Almeida(2003), Claval (1999), Mendes e Almeida (2008), entre outros, enfatizam a fora da

    cultura na criao de identidades, que acaba criando paisagens, representaes esmbolos culturais.

    Os jesutas tambm edificam capelas e casas de morada nas suas terrascomo nos engenhos Dira, Colgio, Comandaroba, Retiro, Moura e Camassary, ondeiniciam produes diversas, com destaque para a cana-de-acar, conforme relata oLivro de Tombo da Cria Metropolitana de Aracaju (S/D). Assim inicia-se osterritrios sagrados no estado conformando uma paisagem cultural religiosa e ainda

    um sistema de redes com a Bahia e Portugal.Desde o incio as Igrejas se organizam em redes de dependncia conforme o

    territrio religioso cresce. A primeira Igreja do Estado a ser sede de uma Parquia foiA Igreja Nossa Senhora das Vitrias de So Cristvo em 1608, ficando o estadotodo por quase setenta anos com uma nica parquia ligada a Bahia e tambm aPortugal. Os padres do clero secular vinham da metrpole ensinar e catequizar emSergipe.

    No fim da dcada de setenta do sculo XVII a diocese de Salvador eleva maisquatro Igrejas em parquias: Santo Antnio e Almas de Itabaiana (1675) no agreste;Santo Antnio de Nepolis (1679), no norte do estado s margens do Rio SoFrancisco; Nossa Senhora da Piedade de Lagarto (1679); e Santa Luzia do Itanhyna cidade de mesmo nome (1680), no sul do estado. A partir deste momento cadaparquia tem seu territrio delimitado, sendo subordinadas diocese da Bahia. Estecenrio se expande com os anos, chegando s vsperas da criao da Diocese de

    Aracaju com uma rede de desmembramentos, conforme Figura 01.

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    Figura 01: Desmembramento das Parquias da Igreja Catlica do estado de Sergipe (1608-1910). As parquias esto referenciadas pelo nome dasfuturas cidades para melhor localizao.Fonte: Livro de Tombo da Criao da Diocese de Aracaju.

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    Todavia, alguns destes primeiros desmembramentos no so mantidos com odecorrer dos anos, certas parquias so criadas a partir de outras e depois extintasou reagrupadas, como a Parquia de Santo Amaro das Brotas 2 criada em 1700 com

    sede na antiga Capela de So Gonalo 3. Contudo aps anos ela foi agrupada naParquia Jesus, Maria e Jos de Siriri 4, retornando ao seu papel de parquiasomente em 1768. Outra que acaba dependente a Parquia Nossa Senhora doSocorro desmembrada duas vezes, a primeira de Santo Amaro das Brotas e asegunda da Parquia Santo Antnio criada em 1915 na cidade de Aracaju.

    Deste modo, percebe-se que a territorialidade das parquias est emconstante mudana, a partir do momento que uma nova territorialidade

    estabelecida, algum outro territrio perde espao. Isto por que os territrios vosendo divididos pelo crescimento da populao, aumento do nmero de fiis e,tambm, construo de novas capelas, contudo, o territrio no perde seu smbolo,nem sua representatividade. Com relao a territorialidade Igreja, pode-se remeter aGil Filho (2006, 2008), este autor afirma que a instituio mantm seu poder por meio das representaes, dos discursos e do sistema simblico. A ao dereagrupamento das parquias no desfaz o poder, na verdade aumenta as redes de

    dominao, principalmente por que a territorialidade da Igreja se mantm, crescendoa dependncia pelo discurso religioso para a salvao.

    A respeito da independncia de Sergipe da diocese da Bahia, o Estado tersua primeira diocese em 1910, na capital Aracaju. Esta ser criada como umdesmembramento da Diocese da Bahia, Diocese Primaz Principal primeira doBrasil, por causa do crescimento do territrio religioso: aumento no nmero de fiis ede Igrejas no Estado de Sergipe. No momento do desmembramento Sergipe

    contava com vinte e nove parquias. Aps a criao da diocese este nmero quaseduplica, chegando s vsperas da elevao da Diocese em Arquidiocese e dosdesmembramentos com cinquenta e seis parquias.

    A elevao Arquidiocese Metropolitana aconteceu em 1960, juntamentecom a criao de duas dioceses sufragneas: Propri e Estncia. Nesta diviso o

    2 Criada como Parquia Nossa Senhora das Grotas.3 Na atualidade esta capela desapareceu. Os documentos dizem que a partir do momento em que ela perde o

    status de parquia, abandonada e alguns anos depois entra em runa.4 Nos documentos pesquisados encontramos a Parquia Jesus Maria e Jos como sendo do P do Banco, antigonome de Siriri. Isso acontece no somente em Siriri, mas com vrias localidades que tiveram seu nomealterado. Neste artigo trataremos todas pelo nome atual.

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    Estado ficou com a diocese de Propri no Norte, a diocese de Estncia no Sul e aArquidiocese de Aracaju no centro do Estado, conforme figura 02.

    Figura 02: Arquidiocese e Dioceses de Sergipe.Base Cartogrfica: SRH - 2004.

    Elaborado por: Solimar G.M. Bonjardim

    Com esta diviso o maior nmero de parquias ficou concentrado no centrodo Estado, ou seja, a Arquidiocese de Aracaju a maior detentora de Parquias com oitenta e quatro e, assim de territrios religiosos. Principalmente por quenesta rea est concentrada a maior parte da populao do Estado e, tambm, ascapelas rurais dos antigos engenhos e as Igrejas e conventos de ordens religiosas.

    No ano de 2006, os bispos de Aracaju e de Propri instituram a diviso dasdioceses tambm em vicariatos, para facilitar a administrao e manuteno do

    territrio. A arquidiocese de Aracaju est dividida em quatro vicariatos, com o nomedos quatro apstolos: So Joo Evangelista, So Lucas, So Mateus e So Marcos.

    SEDE DA ARQUIDIOCESE/DIOCESE

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    Propri est dividida em trs vicariatos: Imaculada Conceio, Bom Jesus dosNavegantes e Santssima Eucaristia. Na figura 03 fica clara a diviso territorial eapresenta as redes de dependncia, sendo as sedes diocesanas os ns que iro se

    ligar diretamente com Roma. Na Diocese de Estncia percebe-se um emaranhadode fios de ligao, isto por que cada parquia se liga diretamente Cria Diocesana.Nos outros territrios as parquias se ligam a sede vicarial e esta com a sedediocesana/arquidiocesana.

    Figura 03: Arquidiocese e Dioceses de Sergipe com seus respectivos vicariatos e redes dedependncia sede da diocese com sede dos vicariatos.

    Elaborado por: Solimar G.M. BonjardimBase Cartogrfica: SRH - 2004.

    Vale esclarecer que as dioceses so autnomas entre si, existindo umarelao de unidade, Estncia e Propri reconhecem a arquidiocese de Aracaju,

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    todavia, no so dependentes de Aracaju. Os bispos das dioceses agemindependentes do arcebispo. O que existe um relacionamento de respeito.

    Com relao subordinao, cada vicariato subordinado a sua diocese. Na

    verdade, vicariato uma forma encontrada para facilitar a administrao paroquial.Assim sendo, quem decide criar vicariatos o bispo. Quando se tem muitasparquias, o vicariato estabelecido. O vicrio episcopal, naquela rea, faz s vezesdo bispo; ele resolve os problemas da parquia. Ele acompanha e suaviza o trabalhodo bispo/arcebispo, ajudando nas necessidades e realizaes para a conduo dadiocese. Os vicariatos ajudam a criar unidade entre os padres e o bispo e destescom a populao.

    A subdiviso territorial aumentou a rede de subordinao: as capelas sodependentes de uma parquia, esta por sua vez subordinada a um vicariato, estea diocese/arquidiocese, que dependente direto de Roma. Sergipe uma provnciaeclesistica e essa formada por uma arquidiocese e vrias dioceses, todavia, semvinculo de prestao de contas. A subordinao direta com Roma, comoapresentado na figura 04 abaixo.

    Figura 04: Hierarquia da Igreja Catlica.

    Todavia, existe no Brasil o territrio regional que agrupa asdiocese/arquidioceses para os dilogos, congressos, seminrios, encontros

    regionais, etc. Sergipe faz parte da regio NE03 (nordeste trs), formada por Bahia eSergipe. Os bispos tm encontros e discutem as diretrizes que seguir. Eles podem

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    tomar decises conjuntas e existir certa unio, porm cada um livre para tomar suas prprias decises, seguindo apenas as diretrizes romanas, pois a prestao decontas com o papa. Deste modo, cada bispo tem sua diocese, sendo proibido ditar

    normas e regras outra, o mesmo vlido ao arcebispo.No momento Sergipe conta com um vasto territrio religioso, formado por

    mais de setecentas e cinquenta Igrejas 5. A arquidiocese de Aracaju conta comoitenta e quatro parquias, contra vinte da diocese de Estncia e vinte e cinco dePropri, num total de cento e vinte e nove Igrejas paroquiais. Alm destas aindatemos os seminrios, casas de formao, colgios de formao bsica e superior,santurios, casas de repouso, casas paroquiais, institutos de vida consagrada e

    sociedades apostlicas.Assim, percebe-se a proporo que ganhou o territrio religioso no menor

    Estado do Brasil, construdo a partir de 1600 com a chegada das ordens religiosas.E a sua territorialidade da Igreja aconteceu juntamente com o crescimento dapopulao e a elevao de algumas povoaes em cidades.

    CONSIDERAES FINAIS

    Portanto, percebe-se que na atualidade o territrio catlico do Estado deSergipe muito extenso e forma uma paisagem homognea no local, repleta desmbolos catlicos que deixam esta territorialidade marcada e delimitada, perceptivae representativa, interagindo com o dia-a-dia da populao. Vale ressaltar que aterritorialidade catlica do estado criou uma rede de parquias, vicariatos,dioceses/arquidioceses independentes e, ao mesmo tempo, interligadas pelasdiretrizes de um denominador comum: Roma. Esta territorialidade , tambm, a

    maneira encontrada pela Igreja de estabelecer a ordem e manter o poder em seuterritrio.Neste sentido, verificamos que todo o territrio religioso da Igreja Catlica

    veio de uma matriz comum: So Cristvo, a primeira capital. Com expansoordenada para as localidades de maior desenvolvimento econmico. Afragmentao dos territrios levou o estado a ter espaos-representao, poisquando falamos de Parquias nos remetemos na verdade Igrejas estruturadas erepresentativas que gerenciam o territrio, estabelecendo territorialidades.

    5 Capelas, Igrejas, sedes paroquiais, Crias Diocesanas/Arquidiocesana, Igrejas desativadas, Igrejas particulares,e as abandonadas, que inclui tambm as arruinadas que mantm a fachada.

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    Assim sendo, quando interpretado a territorializao da Igreja Catlicapercebemos que sua expanso se deu em cadeia, ou seja, de acordo com ocrescimento das povoaes. Em Sergipe a expanso aconteceu com uma forte

    presena religiosa em todo o territrio, um territrio com crescenterepresentatividade catlica. Todavia, uma expanso sem dependncia, pois umaParquia desmembrada torna-se soberana, com suas prprias diretrizes quesomam-se as estabelecidas pela Arquidiocese/Diocese.

    Destarte, percebemos que o grau de dependncia do territrio religioso direcionado completamente para a sede Romana. esta que dita regras e normas,estabelece diretrizes e proibies, deixando algumas decises livre para o

    Arcebispo/Bispo decidir sobre a conduo das Arquidioceses/Dioceses e, tambm,decises para os procos, contudo, todas regidas por Roma.

    Enfim, diante do exposto, podemos esclarecer que os dados levantados nospermitem avanar, num momento futuro, para uma anlise dos territrios religiosos esuas relaes de poder na tese de doutorado a qual se refere este trabalho.

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