planicies litorâneas

Upload: lucivaniojatoba

Post on 27-Feb-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/25/2019 planicies litorneas

    1/6

    AS PLANCIES LITORNEAS ARENOSAS DA REGIO OCENICA

    ARTIGO 8

    Pelo Gelogo Josu Barroso

    1-Introduo

    Uma caracterstica marcante do litoral do Estado do Rio de Janeiro reside num

    conjunto de feies alongadas, paralelas linha de costa, de composio

    arenosa, que delimitam os bordos ocenicos de lagunas e as separam do

    Oceano Atlntico. Tais feies podem ser muito alongadas, com at dezenas

    de quilmetros de comprimento, mas so normalmente estreitas, com cerca de

    um quilmetro de largura, e altitudes que podem alcanar at 10 metros.

    Nas lagunas da Regio Ocenica de Niteri: Itaipu e Piratininga, as faixas

    arenosas alongadas tm cerca de dois quilmetros de comprimento, largura

    inferior a um quilmetro e, nas suas formaes isolaram pequenas baias ou

    enseadas, que eram conformadas pelo delineamento externo das serras e

    morros locais.

    O termo restinga assumiu significado diverso e abrangente na literatura

    brasileira. Neste artigo ser usado com o significado especfico de plancie de

    cordo litorneo arenoso.

    2-Condies para formao dos cordes litorneos arenosos

    Conforme Suguio & Tessler (1984), so quatro os fatores principais

    originadores das plancies de cordes arenosos litorneos:

    a) fontes de fornecimento de material arenoso

    b) correntes marinhas de deriva litornea

    c) variao do nvel recativo do mar

    d) reentrncias da linha de costa antiga

    Fontes de fornecimento de material arenoso

    O predomnio absoluto de rochas de composio grantica (gnaisse facoidal) e

    os solos dela derivados, que constituem o arcabouo geolgico-pedolgico dos

    morros e serras da Regio Ocenica (Veja artigo 3)so fontes de fornecimento

  • 7/25/2019 planicies litorneas

    2/6

    de material arenoso, pelo alto teor de quartzo que possuem. O material

    necessrio formao dos cordes arenosos litorneos foi transportado pela

    rede de drenagem da Regio Ocenica diretamente para o Oceano Atlntico

    (fase pr-lagunar), formando assim os depsitos arenosos da plataforma

    continental, posteriormente remobilizados pela dinmica costeira marinha, na

    formao dos cordes arenosos litorneos de Piratininga e Itaipu/Camboinhas.

    Correntes marinhas de deriva litornea

    Quando uma onda incide obliquamente sobre a costa, criada uma corrente

    marinha, paralela costa, entre a praia e a zona de arrebentao, semelhana

    de uma componente tangencial da onda incidente. A velocidade desenvolvida

    por essa corrente pode ser suficiente para o transporte de sedimentos,

    paralelamente praia, definindo assim o que se conhece por deriva litornea.

    O transporte de sedimentos, paralelamente praia, complementado por

    outro, originado por fluxo e refluxo das ondas obliquas incidentes. Quando a

    arrebentao da onda oblqua se processa, o sedimento arrancado do assoalho

    ocenico transportado na mesma direo da onda incidente. No entanto, no

    refluxo, o movimento da gua governado pela gravidade e, portanto, faz-se

    segundo a linha de maior declive da face inclinada da praia, o que resulta no

    transporte lateral dos sedimentos, sucessivamente, a cada incidncia da onda

    obliqua (Figura 1). Ondas perpendiculares praia no resultam em transporte

    de sedimentos longitudinalmente praia.

    Observa-se que a Praia de Piratininga tem direo prxima da E-W, o que a

    faz muito sujeita aos ventos do Sul, por vezes provocando variaes na largura

    da praia. Quando h predominncia prolongada de ventos do quadrante SW

    verifica-se engordamentona ponta E da praia e vice-versa. Na praia de

    Camboinhas/Itaipu, essa variao dificultada, em virtude da proteo

    exercida pelas ilhas ocenicas que constituem o prolongamento do Morro das

    Andorinhas. Por outro lado, as ondas de SW provocam um forte assoreamento

    da Laguna de Itaipu, atravs do canal construdo de ligao com o mar e

    situado praticamente a meio da curvatura exibida pela

  • 7/25/2019 planicies litorneas

    3/6

    Figura 1 Transporte dos sedimentos ao longo da praia, por fluxo e refluxodas ondas obliquas. Cada gro de areia segue a seqncia: A-B-C,

    sucessivamente, at N. (Fonte: Silva et al, 2004)

    .

    As mars na Regio Ocenica so classificadas como micro-mars (amplitudeentre 0 e 2 metros), o que, confrontada com o regime das ondas, configuram

    predomnio dessas na dinmica costeira. Tais condies resultam em lagunas

    fechadas para o mar, ou parcialmente fechadas, significando que a ao das

    ondas tende a manter os cordes litorneos contnuos, pelo aporte de

    sedimentos arenosos (assoreamento dos canais). A abertura dos canais d-se

    de dentro pra fora das lagunas, quando a coluna dgua das lagunas cresce, por

    pesadas precipitaes pluviomtricas, coadjuvadas por mars altas.

    Na Laguna de Itaipu, o molhe construdo fixou um canal aberto que, no

    entanto, exibe forte assoreamento. Na Laguna de Piratininga a interveno mais antiga. Primeiro construiu-se o Canal de Camboat, escoadouro das

    guas de Piratininga para Itaipu (dcada de 40) e, mais recentemente, foi

    construdo um tnel de ligao do mar com a laguna, equipado com sistema de

    comportas que impedem a sada de gua da laguna para o mar. Hoje, com

    essas obras, o nvel dgua da Laguna de Piratininga tende a manter-se

    constante e, portanto, desativando o seu canal natural.

  • 7/25/2019 planicies litorneas

    4/6

    Variao do nvel relativo do mar

    No Perodo Quaternrio da histria geolgica ocorreram grandes oscilaes do

    nvel do mar (avanos transgresses e recuos regresses), que resultaram

    na inundao das atuais plancies de restinga ou expuseram os assoalhos

    ocenicos. A causa maior das mudanas globais do nvel do mar foram os

    crescimentos e desintegraes das geleiras continentais, que resultaram,

    respectivamente, em regresses e transgresses. Por razes diversas

    (oceanogrficas, terrestres, meteorolgicas e outras), aqui no discutidas, as

    variaes do nvel do mar no se fizeram de forma homognea, considerando

    a escala global. No litoral brasileiro, por exemplo, variaes locais tm sido

    constatadas, conforme mostram dataes por rdio/carbono em vestgios

    deixados pelas flutuaes do nvel do mar.

    Conforme Silva et al (2004), estima-se que nos ltimos 20.000 anos

    (Quaternrio Superior) o nvel do mar subiu, em mdia, 65 a 70 metros, com

    grandes variaes entre 20.000 e 7.000 anos atrs (Figura 2), enquanto no

    intervalo entre 7.000 e 3.000anos a variao mdia foi de 5 metros e, a partir

    de ento, nos ltimos 3.000 anos o nvel do mar tem sido mantido no nvel

    atual.

    As variaes do nvel do mar nos ltimos 7.000 anos so exibidas na Figura 3,

    onde so observadas oscilaes secundrias, de curtas amplitudes temporais,

    que podem ser fruto de medidas imprecisas. Assim admitindo, a feio real da

    Figura 3, assumiria uma variao suavizada e contnua, a partir de 5.100 anos

    atrs, at o presente.

    Reentrncias da linha de costa antiga

    A morfologia da antiga linha de costa, representada pelas bordas externas dos

    morros e serras da Regio Ocenica, foram originadas pelo processo tectnico

    de soerguimento de suas rochas componentes, impondo-lhes deformaes e

    fraturas, finalmente modeladas pelo intemperismo e pela rede de drenagem(Artigo 6). Desse conjunto de aes resultaram zonas de reentrncias, e,

    finalmente, com a transgresso marinha surgiram enseadas.

  • 7/25/2019 planicies litorneas

    5/6

    Figura 2 Curva de flutuao do nvel do mar no Quaternrio Superior(ltimos 20.000 anos) (Fonte: Silva et al, 2004)

    Figura 3 Variaes do nvel relativo do mar nos ltimos 7.000 anos

  • 7/25/2019 planicies litorneas

    6/6

    . As feies de reentrncias acima descritas esto presentes, tanto na zona da

    Laguna de Piratininga como na zona da Laguna de Itaipu. Em Piratininga a

    enseada formada pelas serras do Cantagalo e Grande, delimitada a E e a W,

    por afloramentos rochosos avanados para o mar, respectivamente, o Morro da

    Pea e a Ponta da Galeta. Em Itaipu, a reentrncia tem uma forma alongada

    para o interior, ao longo do vale do Rio Joo Mendes, delimitado pelas serras

    Grande e Tiririca. Assim como em Piratininga, em Itaipu, duas pontas

    rochosas avanadas sobre o mar formaram a entrada da enseada, o Morro da

    Pea, a W, e o morro das Andorinhas, a E.

    .3-ConclusoAs quatro condies apontadas por Suguio & Tessler (op.cit) para formao

    de cordes litorneos arenosos so atendidas para a Regio Ocenica de

    Niteri. Resta apenas apresentar o mecanismo de formao desses cordes,

    formados durante a ltima fase de regresso do mar, mostrada na Figura 3.

    No prximo artigo, quando sero tratados os processos da dinmica costeira, o

    mecanismo de formao dos cordes arenosos litorneos da Regio Ocenica

    estaro includos.

    4-Bibliografia

    - Silva,C.G., Patchineelan,S.G., Batista Neto, J.A. e Ponzi,V.R.A. (2004)-Ambientes de Sedimentao Costeira e Processos Morfodinmicos Atuantes

    na Linha de Costa. In: Introduo Geologia Marinha Cap.8 pp.175-218

    Ed. Intercincia Rio de Janeiro.

    - Suguio, K e Tessler,M.G. (1984)- Plancies de Cordes LitorneosQuaternrios do Brasil: Origem e Nomenclatura - Simppsio sobre RestingasBrasileiras Anaes. Universidade Federal Fluminense Niteri - RJ