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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE ENGENHARIA
CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA
Metacercárias de Austrodiplostomum compactum (Digenea:
Diplostomidae) em Plagioscion squamosissimus (Perciformes:
Sciaenidae) sob influência de piscicultura em tanques-rede no
reservatório de Ilha Solteira, SP.
Maria Luiza Diniz dos Reis
Ilha Solteira – SP
Fevereiro, 2017
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE ENGENHARIA
CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA
Metacercárias de Austrodiplostomum compactum (Digenea:
Diplostomidae) em Plagioscion squamosissimus (Perciformes:
Sciaenidae) sob influência de piscicultura em tanques-rede no
reservatório de Ilha Solteira, SP.
Discente: Maria Luiza Diniz dos Reis
Orientador: Prof. Dr. Igor Paiva Ramos
Co-orientadora: Letícia de Oliveira Manoel
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Faculdade de Engenharia,
Câmpus de Ilha Solteira, Universidade
Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho”, como parte das exigências para
obtenção do título de Bacharel em Ciências
Biológicas.
Ilha Solteira – SP
Fevereiro, 2017
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AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Sandra Diniz de Araújo dos Reis e Roberto
Aparecido dos Reis, por sempre me apoiarem em meus sonhos e
acreditarem em meu potencial.
Agradeço a Turma XI de Biologia e a Batera do Inferno, por fazerem da
minha graduação mais especial com as suas amizades e com os momentos
únicos em conjunto.
Agradeço ao Professor Igor Paiva Ramos, pela oportunidade de estágio em
seu laboratório – Pirá – Laboratório de Ecologia de Peixes – e todos seus
integrantes, em especial ao Denis William Johansem e a Leticia Manoel,
por me auxiliarem na rotina do laboratório.
Agradeço a todas essas pessoas e meus professores de graduação, pois cada
um contribuiu no meu crescimento como ser humano.
4
SUMÁRIO
RESUMO......................................................................................................5
LISTA DE FIGURAS...................................................................................6
INTRODUÇÃO............................................................................................7
OBJETIVOS...............................................................................................11
Objetivo geral...................................................................................11
Objetivos específicos........................................................................11
MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................12
Área de estudo..................................................................................12
Procedimentos em campo.................................................................14
Análises laboratoriais.......................................................................14
Análises dos dados............................................................................14
RESULTADOS..........................................................................................17
DISCUSSÃO..............................................................................................19
CONCLUSÕES..........................................................................................23
REFERÊNCIAS.........................................................................................24
5
RESUMO
O aumento de pisciculturas em taques-rede em todo o mundo tem sido
associado a mudanças ambientais e aumento de doenças parasitárias em
organismos aquáticos como os peixes. O enriquecimento orgânico,
resultante dos efluentes desta atividade (restos de ração, fezes, muco,
escamas e peixes mortos), atraem animais como mamíferos, aves, peixes e
invertebrados para áreas próximas a estes empreendimentos. Tais animais
podem atuar como hospedeiros definitivos, intermediários e paratênicos
para diversas espécies de parasitas. Assim, o objetivo do presente estudo
foi verificar a influência de uma piscicultura em tanques-rede no município
de Santa Clara do Oeste – SP, no braço Can-Can do reservatório de Ilha
Solteira, rio Grande, sobre a taxa de infecção de Austrodiplostomum
compactum em Plagioscion squamosissimus. Duzentos e quarenta e seis
exemplares de P. squamosissimus foram capturados e examinados, sendo
121 em área sob a influência da atividade de piscicultura (área Tanque) e
125 em área sem a influência desta atividade (área Controle). Todos os
exemplares foram capturados com auxílio de redes de espera e tiveram
mensurados comprimento padrão (cm) e massa total (g). Posteriormente,
seus olhos foram removidos, metacercárias foram coletadas e identificadas.
Foram calculados comprimento padrão médio e massa total média para P.
squamosissimus. Quanto aos atributos parasitológicos prevalência,
abundância média e intensidade média de infecção para metacercárias de A.
compactum foram calculados para ambas as áreas. Após todos os resultados
foram comparados estatisticamente entre as áreas Tanque e Controle. Os
resultados demonstram que exemplares de P. squamosissimus pertencentes
à área Tanque apresentaram maiores valores de prevalência, intensidade
média de infecção e abundância média, para infecção por metacercárias de
A. compactum. Tais resultados podem ser consequências da maior
disponibilidade de matéria orgânica e energia, que favorece o aumento das
populações que servem como alimentos para espécies piscívoras, além da
própria ração, para espécies onívoras de peixes e outros animais, que
podem atuar como hospedeiros de A. compactum como invertebrados
(moluscos) e vertebrados (peixes e aves). Assim, conclui-se que a
piscicultura em tanques-rede avaliada influencia as taxas de infecção de A.
compactum em P. squamosissimus no município de Santa Clara do Oeste –
SP no braço Can-Can do reservatório de Ilha Solteira, rio Grande.
Palavras-chaves: aquicultura, interferência ambiental, corvina, peixe silvestre
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Ciclo de vida generalizado de parasitas da família Diplostomidae..................9
Figura 2. A) Mapa do Brasil, em destaque o reservatório de Ilha Solteira, com
indicação das áreas amostrais nas quais foi desenvolvido o projeto; B e C) Vista
panorâmica da área Tanque e Controle respectivamente................................................13
Figura 3 - A) Exemplar de Plagioscion squamosissimus (30 cm), em destaque
metacercárias de Austrodiplostomum compactum no globo ocular; B, C e D)
Metacercária de Austrodiplostomum compactum oriunda do reservatório de Ilha
Solteira, no município de Santa Clara D’Oeste – SP, rio Grande, do braço Can-Can. CG
= Células glandulares; VO = Ventosa oral; PV = Pseudoventosa; FA = Faringe; OT =
Órgão tribocítico; PC = Processo cônico.........................................................................17
Figura 4 - Comparação de aspectos parasitológicos entre as áreas Tanque e Controle:
A) Prevalência (teste-Z); B) Intensidade média de infecção (teste-U) e C) Abundância
média (teste-U) para metacercárias de Austrodiplostomum compactum em Plagioscion
squamosissimus no reservatório de Ilha Solteira, no município de Santa Clara do Oeste
– SP, no braço Can-Can, rio Grande...............................................................................18
7
INTRODUÇÃO
Políticas públicas atuais incentivam a substituição da pesca extrativista por
atividades de aquicultura (PELICICE et al., 2013), cuja taxa de crescimento anual em
território brasileiro é maior do que qualquer outra atividade zootécnica, apresentando
crescimento de 25% nos últimos oito anos (SEAP, 2008; MPA, 2011). Neste sistema de
criação a espécie Oreochromis niloticus (tilápias do Nilo e suas linhagens) possui a
maior produção dentre as espécies de peixes cultivadas no Brasil (219.329 toneladas =
45,4% da produção de pescado em 2015). Entretanto, o cultivo de O. niloticus pode
causar problemas para a biodiversidade brasileira bem como nos serviços ecológicos
prestados pelas comunidades aquáticas atingidas/influenciadas por estes
empreendimentos (PELICICE et al., 2013).
Desta forma, efluentes (restos de ração, fezes, muco, escamas, peixes mortos)
desta atividade são aportados ao ecossistema aquático, podendo induzir diversas
alterações ambientais. Dentre elas, destacam-se processos de eutrofização (PENCZAK
et al., 1982; WESTON, 1991), alterações na cadeia alimentar da biota silvestre
(BEVERIDGE, 2004; HÅKANSON, 2005; RAMOS et al., 2008, 2013a), alterações em
atributos populacionais da ictiofauna silvestre (BRANDÃO et al., 2012; RAMOS et al.,
2013a) mudanças na estrutura da ictiofauna local (DEMPSTER et al., 2002; MACHIAS
et al., 2006) e alterações nas relação parasita-hospedeiro de peixes silvestres
(KRKOSEK et al., 2005 e 2006, RAMOS et al., 2014).
Quanto à influência das atividades aquícolas sobre a relação parasita-hospedeiro,
tem-se que o rápido e recente desenvolvimento de sistemas de pisciculturas em tanques-
rede tem sido associado ao aumento de doenças parasitárias (NOWAK, 2007). Nestes
sistemas, os tanques de cultivo protegem os peixes cultivados contra os predadores, mas
o livre fluxo de água permite a transmissão de parasitas a partir desses sistemas para os
8
peixes selvagens, podendo causar graves problemas ambientais, como o declínio das
populações selvagens (FRAZER, 2009).
Outra influência observada em áreas utilizadas para pisciculturas em tanques-
rede é a atração de aves piscívoras tais como os biguás, incluindo Phalacrocorax spp.
Brisson, 1760 (CARSS, 1990, 1993), peixes (RAMOS et al., 2008; RAMOS &
CARVALHO, 2010; RAMOS et al., 2010) e moluscos (EDGAR et al., 2005). Os
moluscos podem atuar como hospedeiros intermediários para trematódeos da família
Diplostomidae Dubois, 1970 (KARVONEN et al., 2006).
O gênero Austrodiplostomum Szidat & Nani, 1951 tem o ciclo de vida que inclui
dois hospedeiros intermediários. Moluscos são os primeiros hospedeiros intermediários,
sendo infectados pelos miracídeos após a eclosão, desenvolvendo-se em cercarias, que
por penetração ativa irão infectar peixes, seu segundo hospedeiro intermediário. A
penetração ativa, pode se dar por qualquer parte da superfície do hospedeiro, contudo a
penetração pelas brânquias é comumente relatada. Após a infecção, por meio da
corrente sanguínea migram até os olhos, transformando-se em metacercárias, podendo
causar problemas de visão (catarata, cegueira, opacidade do cristalino e exoftalmia).
Tais problemas podem facilitar a predação destes peixes por aves piscívoras, o
hospedeiro definitivo de Austrodiplostomum (Figura 1).
No Brasil, as aves piscívoras Phalacrocorax olivaceus (Humboldt, 1805) e
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) são parasitados por Austrodiplostomum
compactum (Lutz, 1928) (Diplostomidae) (MACHADO et al., 2005; NORONHA et al.,
2009) e espécies de moluscos do gênero Biomphalaria Preston, 1910 foram registrados
como hospedeiros intermediários para este parasita (OSTROWSKI DE NÚÑEZ, 1982;
VIOLANTE-GONZÁLEZ et al., 2009). Assim, o aumento na abundância numérica
desses hospedeiros intermediários e definitivos de A. compactum em áreas utilizadas
9
para a piscicultura pode interferir na transmissão deste parasita, afetando a ictiofauna
selvagem, causando aumento das infecções, como observado para Plagioscion
squamosissimus (corvina) na bacia do rio Paranapanema (RAMOS et al., 2014),
contudo esses os resultados são baseados em um número amostral reduzido,
necessitando de novos trabalhos para comprovar tal influência.
Figura 1 – Ciclo de vida generalizado de parasitas da família Diplostomidae. Fonte:
Metacercárias de A. compactum foram registradas em uma ampla variedade de
peixes do Brasil (37 espécies), incluindo peixes das ordens Characifomes, Siluriformes
e Perciformes (RAMOS et al., 2013b), demonstrando que esta forma parasitária possuí
baixa especificidade em relação ao segundo hospedeiro intermediário (peixe)
(YAMADA et al., 2008). Neste sentido, P. squamosissimus espécie não-nativa mais
importante na pesca artesanal na região Sudeste do Brasil (TORLONI et al., 1993;
AGOSTINHO et al., 1995), apresenta altas taxas de infecção por metacercárias A.
10
compactum (RAMOS et al., 2014), sendo, portanto suscetíveis a esse parasita e uma boa
espécie para ser avaliada quanto a influência da atividade aquícola sobre peixes
silvestres.
Assim, considerando a crescente expansão dessa atividade no Brasil, detentor de
cinco milhões de hectares de água doce e da maior fauna de peixes do mundo, estudos
com foco nas interferências nos ecossistemas aquáticos são de fundamental importância.
Tais estudos podem fornecer subsídios para um melhor ordenamento e aproveitamento
dessa atividade zootécnica e diminuição de seus impactos sobre o ecossistema aquático
de reservatórios brasileiros.
Assim, o presente trabalho busca responder ao seguinte questionamento: Seria
possível pisciculturas em tanque-redes influenciar nos aspectos parasitológicos de A.
compactum, em P. squamosissimus na bacia do rio Paraná?
11
OBJETIVOS
Objetivo geral
Verificar a infecção por metacercárias de A. compactum no globo ocular de P.
squamosissimus do reservatório de Ilha Solteira, no município de Santa Clara do Oeste
– SP, rio Grande, sob influência de uma piscicultura em tanques-rede.
Objetivos específicos
• Caracterizar os aspectos parasitológicos (prevalência, intensidade média de
infecção e abundância média) de A. compactum, em P. squamosissimus em área
sob influência de uma piscicultura em tanques-rede e área sem influência desta
atividade;
• Comparar os aspectos parasitológicos (prevalência, intensidade média de
infecção e abundância média) de A. compactum, em P. squamosissimus entre as
duas áreas avaliadas.
12
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O reservatório de Ilha Solteira, formado em 1978, sob domínio da União,
localiza-se na região do alto rio Paraná, seu principal rio formador, entre os Estados de
São Paulo e Mato Grosso do Sul. O reservatório de Ilha Solteira é do tipo bacia de
acumulação, com profundidade média de 17,6 m, volume máximo de 21,06 x 109 m3,
bacia hidrográfica de 1.195 km2 de área e tempo de residência de 46,7 dias (CESP,
2011). Atualmente vários empreendimentos de pisciculturas em tanques-rede utilizam
este reservatório para criação de linhagens de tilápias-do-nilo (O. niloticus), entre outras
espécies.
As coletas foram realizadas em duas áreas amostrais, sendo uma piscicultura em
tanques-rede - Área Tanque (TQ) no município de Santa Clara D’Oeste – SP, no braço
Can-Can do reservatório de Ilha Solteira, rio Grande (50°55’57.60’’W e
20°02’33.62’’S) e a segunda em uma área 10 km a montante, similar fisiograficamente -
Área Controle (CT), sem a influência de sistemas de pisciculturas em tanques-rede
(50°51'58.94"W e 20° 0'13.71"S) (Figura 2 – A, B e C).
13
Figura 2 – A) Mapa do Brasil, em destaque o reservatório de Ilha Solteira, com
indicação das áreas amostrais nas quais foi desenvolvido o projeto; B e C) Vista
panorâmica da área Tanque e Controle respectivamente.
C B
A
14
Procedimentos em campo
As coletas foram realizadas entre setembro/2014 até agosto/2016 com
periodicidade bimestral, com auxílio de redes de espera de diferentes malhagens. Foram
utilizados dois lotes de redes com malhas 3, 4, 5, 6 e 7 cm entre nós não adjacentes e um
lote de redes com malhas 7, 8, 10, 12 e 14 cm entre nós não adjacentes por área
amostral. Os espécimes de P. squamosissimus coletados foram individualizados em
sacos plásticos e gradativamente resfriados (caixas térmicas preenchidas com gelo em
cubos) a fim de diminuir rapidamente a sua atividade metabólica até o óbito, conforme
autorização SISBIO nº 42229-1. Posteriormente, foram congelados e encaminhados ao
Laboratório de Ecologia de Peixes – Pirá, localizado no Departamento de Biologia e
Zootecnia, na FEIS – Câmpus de Ilha Solteira, que foram mantidos congelados até o
momento da realização das análises laboratoriais.
Análises laboratoriais
Os exemplares de peixes coletados tiveram mensurados o comprimento padrão
(cm) com auxílio de ictiômetro (comprimento da ponta do focinho a última vértebra
caudal) e massa total (g) com auxílio de balança analítica (0,01 g). Para avaliar a
ocorrência de metacercárias de A. compactum, os olhos dos peixes coletados, foram
retirados e analisados sob estereomicroscópio binocular. Quando localizada a
metacercária, essa foi coletada e conservada em um frasco etiquetado com álcool 70%
para futuras análises morfométricas.
Análises dos dados
Foram calculados comprimento padrão médio, massa total média, prevalência
(porcentagem de peixes infectados por ao menos 1 parasita), intensidade média de
15
infecção (média de parasitas por hospedeiro infectado) e abundância média (média de
parasitas por hospedeiro avaliado) de acordo com Bush et al. (1997), considerando-se a
área amostral (Tanque e Controle). A prevalência entre as áreas Tanque e Controle
foram comparadas com teste-Z, enquanto a intensidade média de infecção e abundância
média foram comparadas com teste de Mann-Whitney (teste-U) devido à não
normalidade dos dados (Lilliefors (k amostras)). Para avaliar possível correlação entre a
massa total, comprimento padrão com intensidade média de infecção parasitária, foi
empregado o coeficiente de correlação Spearman devido à distribuição não normal dos
dados.
Ressalta-se que o nível de significância utilizado para todas as análises foi de p <
0,05 e todos os testes estatísticos foram realizados com auxílio do programa Bioestat 5.0
e SigmaStat 3.0. Ainda, exemplares testemunhos dos parasitas e hospedeiros serão
depositados na Coleção Helmintológica do Departamento de Parasitologia (CHIBB) e
Coleção do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes (LBGP), respectivamente,
ambos pertencentes ao Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista,
Botucatu, SP, Brasil.
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RESULTADOS
Foram capturados 246 exemplares de P. squamosissimus, sendo 121
pertencentes à área Tanque e 125 à área Controle. O comprimento padrão médio para a
área Tanque foi 22,4 ± 0,72 (11,3 – 60,0 cm) e massa total média 261,73 ± 36,4 (28,75 -
3019,00 g), enquanto para área Controle o comprimento padrão médio foi de 20,5 ±
0,54 (13,0 - 41,5 cm) e massa total média de 188,82 ± 15,40 (14,00 - 1312,70 g).
Quanto aos atributos parasitológicos, para área Tanque foram amostradas 767
metacercárias de A. compactum (1 – 80 por hospedeiro) (Figura 3 – A, B, C e D),
enquanto para área Controle foram amostradas 81 metacercárias (1 – 30 por
hospedeiro).
Figura 3 - A) Exemplar de Plagioscion squamosissimus (30 cm), em destaque
metacercárias de Austrodiplostomum compactum no globo ocular; B, C e D)
Metacercária de Austrodiplostomum compactum oriunda do reservatório de Ilha
Solteira, no município de Santa Clara D’Oeste – SP, rio Grande, do braço Can-Can. CG
= Células glandulares; VO = Ventosa oral; PV = Pseudoventosa; FA = Faringe; OT =
Órgão tribocítico; PC = Processo cônico.
PC
D
VO PV PV
FA
C
A B
CG
VO
OT
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A prevalência (TQ 68,03% e CT 17,60%), intensidade média infecção (TQ
9,51±1,76 e CT 3,68±1,35) e abundância média (TQ 6,47±1,26 e CT 0,65±0,26),
apresentaram diferenças (p<0,05) entre as áreas avaliadas, sendo os maiores valores
observados na área Tanque (Figura 4 – A, B e C), não foram observadas correlações
entre comprimento padrão e massa total com abundância e intensidade média de
infecção (Correlação de Spearman = p>0,05).
Figura 4 - Comparação de aspectos parasitológicos entre as áreas Tanque e Controle:
A) Prevalência (teste-Z); B) Intensidade média de infecção (teste-U) e C) Abundância
média (teste-U) para metacercárias de Austrodiplostomum compactum em Plagioscion
squamosissimus no reservatório de Ilha Solteira, no município de Santa Clara do Oeste
– SP, no braço Can-Can, rio Grande.
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DISCUSSÃO
A entrada de matéria orgânica no ecossistema aquático por meio de restos de
ração, peixes cultivados, animais mortos, escamas e fezes (efluentes) atua como
alimento disponibilizado a ictiofauna silvestre local (RAMOS et al., 2013a,
DEMÉTRIO et al., 2012 e HÅKANSON, 2005). Este efeito ocorre principalmente
devido ao fato de que reservatórios geralmente são pobres em habitats e recursos
alimentares, quando comparados a sistemas lóticos (rios sem represamento)
(AGOSTINHO et al., 2007). Desta forma, as estruturas dos tanques-rede oferecem
abrigo (DEMPSTER & TAQUET, 2004) e alimento a biota silvestre (DEMÉTRIO et
al., 2012; RAMOS et al., 2013a; UGLEM et al., 2014). Isto ocorre, pois até 30% da
matéria orgânica utilizada no sistema de cultivo, são disponibilizados no ambiente
aquático na forma de efluentes (PILLAY, 2004).
Esta utilização pode ocorrer de forma direta por meio do consumo dos efluentes
ou indiretamente por meio do enriquecimento orgânico local. Assim, a atratividade de
animais de pequeno porte que fazem parte da cadeia alimentar (STRICTAR-PEREIRA
et al., 2010; BRANDÃO et al., 2012; DEMÉTRIO et al., 2012; RAMOS et al., 2013a),
atraem animais de porte grande (predadores) que se alimentam desses animais de
pequeno porte, como P. squamosissimus animal utilizado no presente estudo.
Aliado a este fato, tem-se que o ciclo de vida de parasitas diplostomídeos é
completado no intestino delgado de aves piscívoras (KARVONEN et al., 2006).
Moluscos pertencentes ao gênero Biomphalaria atuam como primeiro hospedeiro
intermediário (OSTROWSKI DE NÚÑEZ, 1977, 1982; VIOLANTE-GONZÁLEZ et
al., 2009) e peixes como segundo hospedeiro intermediário (KARVONEN et al., 2006).
Neste sentido, diversas espécies de moluscos pertencentes ao gênero Biomphalaria têm
sido registradas no estado de São Paulo (CORRÊA et al., 1970) e Biomphalaria
19
straminea (Dunker, 1848) e Biomphalaria gabrata (Say, 1818) possuem registros para
bacia do alto rio Paraná (TELES & VAZ, 1987). Outro aspecto relevante é a relação
entre moluscos do gênero Biomphalaria e locais com grande concentração de matéria
orgânica observada por Oliveira & Krau (1970), Barbosa (1983) e Callisto et al. (2005),
sendo que nestes locais observaram-se maiores abundância destes animais.
Nossos resultados demonstraram aumento significativo na taxa de infecção de
metacercárias A. compactum nos olhos de P. squamosissimus em áreas utilizadas para
pisciculturas em tanque-rede, como também observado por RAMOS et al. (2014) no rio
Paranapanema, SP. As possíveis causas desse aumento podem estar relacionadas com o
enriquecimento orgânico do sedimento e água nas áreas próximas aos tanques. Assim,
áreas próximas aos tanques recebem efluentes (rações não consumidas, fezes, peixes
mortos, muco e escamas), que são depositados no sedimento e dissolvidos na coluna de
água (BEVERIDGE, 2004), ou são consumidos por peixes onívoros (RAMOS et al.,
2008, 2010).
Assim, este enriquecimento orgânico poderia alterar a abundância local de
moluscos (EDGAR et al., 2005) e peixes (RAMOS et al., 2013a) nestas áreas. Além
disso, a elevada disponibilidade de peixe oriundos do cultivo ou silvestres nessas áreas
atuam como um fator atrativo para as aves piscívoras, tais como P. brasilianus
(CARSS, 1990, 1993; FLOWERS et al., 2004). Juntos, o aumento do número de
moluscos, peixes e aves piscívoras, todos hospedeiros envolvidos no ciclo de vida de A.
compactum, podem induzir a aumento da transmissão de A. compactum aos hospedeiros
intermediários e definitivos, justificando os resultados observados.
Outra hipótese para esclarecer os resultados obtidos pode estar relacionada a
taxa de ventilação dos hospedeiros. A decomposição natural da matéria orgânica
presente no fundo dos rios pode acarretar em diminuição da concentração de oxigênio
20
dissolvido, forçando a uma maior taxa de ventilação (abertura e fechamento do
opérculo) nos peixes que habitem estas áreas. Tal fato já foi observado para ambientes
marinhos utilizados para a atividade de aquicultura (WU, 1995), contudo, ainda não há
relatos para ambientes dulcícolas Neotropicais. Neste sentido, Mikheev (2014) observou
em condições laboratoriais que a intensidade média de infecção aumentou
significativamente com a diminuição da concentração de oxigênio dissolvido. A
redução na saturação de oxigênio de 60% a 90% ocasionou aumento considerável na
infecção por parasitas diplostomídeos após 10 minutos de exposição, demonstrando que
atividade ventilatória é uma variável importante que pode afetar a taxa de parasitismo
em diplostomídeos. Reforçando a hipótese acima, estudos realizados por Martins et al.
(2002) e Santos et al. (2002) relatam superficialmente a relação entre as concentrações
de oxigênio e maiores taxas de infecção de A. compactum em P. squamosissimus.
Contudo, devido aos objetivos dos trabalhos citados não serem a avaliação da relação
entre concentração de oxigênio dissolvido e taxas de infecção de A. compactum em
peixes silvestres, apenas inferências sem dados contundentes são apresentados.
Os resultados demonstraram que os exemplares de P. squamosissimus na área
Tanque foram infectados com até 80 metacercárias, enquanto na área Controle 30
metacercárias foi a infecção máxima observada. De acordo com Eiras (1994), a
presença de metacercárias A. compactum pode causar perda de visão e cegueira em
peixes com altas taxas de infecção, tornando-os mais suscetíveis à predação (SEPPÄLÄ
et al., 2004) e assim, facilitar a transmissão do parasita para hospedeiros definitivos.
Ainda, KARVONEN et al. (2004), discutem que um único caracol pode liberar até
10.000 cercárias por dia. Assim, pode-se inferir que o aumento da abundância de
hospedeiros intermediários (moluscos e peixes), devido a atividade aquícola e uma
maior possibilidade de predação por aves piscívoras, pode acarretar em aumento no
21
número de ovos e cercárias dispersos no ambiente. Consequentemente, as chances de
infecção por metacercárias A. compactum em P. squamosissimus são aumentadas,
explicando os resultados obtidos.
Espécies do gênero Austrodiplostomum incluindo adultos e metacercárias, pode
infectar aproximadamente 125 espécies de diferentes grupos de animais (EIRAS, 1994;
NIEWIADOMSKA, 1996). Assim, o aumento da metacercárias em locais utilizados
para empreendimentos aquícolas, devido ao aumento da abundância de seus hospedeiros
intermediários e definitivos, juntamente com a baixa especificidade deste parasita
(YAMADA et al., 2008), pode aumentar a possibilidade de infecção em outras espécies
de peixes. Assim, infere-se que a atividade de piscicultura em tanques-rede no
reservatório de Ilha Solteira afeta as taxas de infecção de metacercárias de A.
compactum em P. squamosissimus devido ao aumento da abundância de hospedeiros
intermediários e definitivos que são atraídos pela disponibilidade de alimento nestes
locais.
22
CONCLUSÕES
Com base nos resultados apresentados concluímos que a atividade de
piscicultura em tanques-rede no reservatório de Ilha Solteira no município de Santa
Clara do Oeste - SP, braço Can-Can, rio Grande, influencia os atributos parasitológicos
avaliados para espécie P. squamosissimus. Contudo, ainda há necessidade de novas
pesquisas para caracterizar o impacto destas alterações sobre os aspectos metabólicos do
hospedeiro.
23
REFERÊNCIAS
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River basin: limnological and ichthyologycal aspects. pp. 59–104. In TUNDISI,
J.G.; BICUDO, C.E.M.; MATSUMURA-TUNDISI, T. (Eds). Limnology in Brazil.
Rio de Janeiro, ABC/SBL, 1995.
AGOSTINHO, A.A.; GOMES, L.C.; PELICICE, F.M. Ecologia e manejo de
recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Maringá, Eduem, 2007.
BARBOSA, F.S. Atuação dos serviços de saúde no controle das doenças endêmicas.
Saúde no Brasil, 1: 198–204. 1983.
BEVERIDGE, M.C.M. Cage aquaculture. 3ª ed. Oxford, Blackwell Publishing,
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