perfil clÍnico epidemiolÓgico dos pacientes … · 2012-06-19 · 1 universidade cÂndido mendes...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
PERFIL CLÍNICO EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES
DIAGNOSTICADOS COMO CASOS NOVOS DE HANSENÍASE,
EM VILA VELHA-ESPÍRITO SANTO, EM 2007
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Saúde da Família da Universidade Cândido Mendes, “Instituto A Vez do Mestre”, como requisito parcial para obtenção de título de Especialista em Saúde da Família.
Por: Eliseu de Avila Silveira
VITÓRIA
2009
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, porque sem ele, eu não
estaria aqui.
A minha família, especialmente os meus pais, pelo apoio,
dedicação e incentivo sempre.
A minha namorada pelo carinho e compreensão.
As professoras Adriana Spinelli e Maria Poppe, tutora e
mentora respectivamente, sem vocês este trabalha não
seria concluído.
A Todos os profissionais inseridos no combate a
hanseníase como problema de saúde pública e dedicação
aos portadores desta patologia, prestando uma
assistência qualificada e diferenciada, especialmente, os
de Vila Velha - Espírito Santo. Parabéns!
E a todos aqueles que direta ou indiretamente
contribuíram para a confecção deste trabalho. Obrigado!
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DEDICATÓRIA
A todos os profissionais dedicados e conscientes da sua
importância no processo de controle da hanseníase como
problema de saúde pública.
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LISTA DE SIGLAS
CHAB - Controle da Hanseníase na Atenção Básica
ES - Espírito Santo
ESF- Estratégia de Saúde da Família
GCH - Guia para o Controle da Hanseníase
GVE – Guia de Vigilância Epidemiológica
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MB – Multibacilar
MPI- Manual de prevenção de Incapacidades
OMS – Organização Mundial de Saúde
PB – Paucibacilar
PMVV – Prefeitura Municipal de Vila Velha
PSF – Programa de Saúde da Família
PQT – Poliquimioterapia
SEMSA – Secretaria Municipal de Saúde
VV – Vila Velha
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RESUMO
A hanseníase é uma doença de origem milenar, de fácil diagnóstico e
tratamento, porém, quando diagnosticada tardiamente, pode gerar em seus
portadores incapacidades físicas permanentes. O agente causador dessa
moléstia possui alta infectividade e baixa patogenicidade. Apesar da redução
da prevalência dessa doença em território nacional nos últimos anos, o Brasil
continua sendo o 2º colocado no ranking mundial de detecção de casos novos
desta, ficando atrás somente da Índia. Este trabalho foi uma pesquisa
descritiva de análise quali-quantitativo onde foram analisados 135 casos novos
de hanseníase diagnosticados em Vila Velha – ES, entre o período de
01/01/2007 a 31/12/2007, com objetivo geral de traçar o perfil clínico
epidemiológico destes, subsidiando condições de elaboração de estratégias
específicas para o controle dessa endemia neste município. Os dados foram
coletados das fichas de notificação compulsória e controle de hanseníase do
referido município no mesmo período e analisados pelo Software Microsoft
Office Excel 2007 e apresentados sob a forma de tabelas e gráficos. As
variáveis analisadas foram: sexo, idade, forma clínica da hanseníase, grau de
incapacidade no momento do diagnóstico, modo de detecção e localidade;
Observou-se a predominância do sexo masculino (54,8%), com idade ≥ 15
anos (94%), com modo de detecção devido ao encaminhamento (51,9%),
forma clínica, segundo os critérios de Madri, Tuberculóide (31,9%), e segundo
os critérios da OMS, forma clínica Multibacilar (50,4%), com grau 0 de
incapacidade no momento do diagnóstico (77,7%, “n” avaliados neste quesito
de 126 casos), e em sua maioria moradores da região 03 de Vila Velha,
(28,2%).
Palavras-chave: Hanseníase. Estudo epidemiológico. Vila Velha.
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Metodologia
Tratou-se de um estudo descritivo de análise quali-quantitativo. Segundo
ROUQUAYROL, ET AL (2003) a pesquisa epidemiológica descritiva
[...] estuda a distribuição de freqüências das doenças e dos agravos à saúde coletiva, em função de variáveis ligadas ao tempo, ao espaço [...] e às pessoas, possibilitando o detalhamento do perfil epidemiológico, com vistas ao aprimoramento das ações de assistência e prevenção da doença, de promoção da saúde e também do refinamento das hipóteses causais. (ROUQUAYROL, ET AL, 2003, p.84).
Ainda segundo ROUQUAYROL, ET AL (2003) o estudo descritivo possibilita
conhecer a distribuição das doenças e dos fatores a determinam.
As variáveis analisadas neste estudo têm caráter qualitativo e quantitativo.
Segundo FERRARI (1982) as variáveis qualitativas são aquelas que não
possuem mensuração numérica, elas são definidas pelos seus atributos,
enquanto que, as variáveis quantitativas são identificadas por valores
numéricos que possuem sentidos.
Foram analisados 135 casos novos de hanseníase diagnosticados em Vila
Velha- ES, entre o período de 01/01/2007 a 31/12/2007, com objetivo geral de
traçar o perfil clínico epidemiológico destes pacientes, subsidiando condições
de elaboração de estratégias mais específicas para o controle dessa endemia
neste município.
As variáveis analisadas foram: sexo, idade, forma clínica da hanseníase, grau
de incapacidade no momento do diagnóstico, modo de detecção e localidade;
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As variáveis supracitadas foram subdivididas em:
§ Sexo:
• Masculino;
• Feminino;
§ Idade:
• ≤14 anos;
• ≥15 anos;
§ Forma clínica da Hanseníase:
• Pelo critério de Madri (1953):
Ø Tuberculóide;
Ø Indeterminada;
Ø Dimorfa;
Ø Virchowiana.
• Pelo critério da OMS:
Ø Paucibacilar;
Ø Multibacilar.
§ Grau de incapacidade no momento do diagnóstico:
• Grau 0
• Grau 1
• Grau 2
§ Modo de detecção:
• Encaminhamento;
• Demanda espontânea;
• Exame de contato;
• Exame de coletividade
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• Outros modos.
§ Localidade:
• Região 01;
• Região 02;
• Região 03;
• Região 04;
• Região 05;
Dos 135 casos novos de hanseníase de Vila Velha – ES, no ano de 2007, 04
foram pacientes que apesarem de serem moradores desse município, optaram
por receber tratamento em outros locais, logo, não foram avaliados na variável
“localidade”, uma vez que, suas fichas de notificação não se encontram na
Secretaria Municipal de Saúde desse município, portanto, o “n” dessa variável
foi de 131 casos.
Os 04 pacientes supracitados que não receberam tratamento em Vila Velha, no
referido ano, foram incorporados como casos desse município pela Secretaria
Estadual de Saúde do Espírito Santo. Suas fichas de notificação ficaram nos
bancos de dados dos respectivos municípios que os diagnosticaram, que então
enviaram esta informação ao Estado, que por sua vez, que englobou esses
pacientes como casos do município onde afirmaram serem moradores.
As variáveis deste estudo foram coletadas das fichas de notificação e controle
de hanseníase dos pacientes diagnosticados como casos novos no ano de
2007, no município de Vila Velha, Espírito Santo. Estas informações foram
colhidas junto à coordenação do Programa de Hanseníase da Secretaria
Municipal de Saúde do referido município e foram analisadas através do
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Software Microsoft Office Excel 2007 e apresentadas sobre forma de tabelas e
gráficos.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................11
CAPÍTULO 1 VILA VELHA: ASPECTOS RELEVANTES AO
TRABALHO......................................................................................................15
CAPÍTULO 2 HANSENÍASE: ASPECTOS HISTÓRICOS,
CLÍNICOS, TERAPÊUTICOS E PROFILÁTICOS............................................20
2.1 ASPECTOS CLÍNICOS...............................................................................21
2.2 CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DA HANSENÍASE..........................................21
2.3 GRAU DE INCAPACIDADE FÍSICA DOS PORTADORES
DE HANSENÍASE..............................................................................................23
2.4 DIAGNÓSTICO DA HANSENÍASE..............................................................24
2.5 TRATAMENTO DA HANSENÍASE..............................................................25
2.6 HANSENÍASE: DA META DE ELIMINAÇÃO AO CONTROLE
DESSA PATOLOGIA.........................................................................................26
2.7 HANSENÍASE X SAÚDE DA FAMÍLIA........................................................27
CAPÍTULO 3 RESULTADO E DISCUSSÃO DOS DADOS..............................29
CONCLUSÃO....................................................................................................39
BIBLIOGRAFIA.................................................................................................42
ANEXOS............................................................................................................45
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INTRODUÇÃO
O tema que será abordado neste trabalho é o perfil epidemiológico da
hanseníase no município de Vila Velha em 2007. Para isso adotou-se como
título o “Perfil clínico epidemiológico dos pacientes diagnosticados como casos
novos de hanseníase em Vila Velha - Espírito Santo, em 2007.”
A problemática deste trabalho parte da idéia de: qual será o perfil clínico
epidemiológico dos pacientes que receberam diagnostico de caso novo de
hanseníase no Município de Vila Velha, Espírito Santo, em 2007?
A importância deste trabalho se justifica por ser a hanseníase uma doença
infecto-contagiosa de origem milenar, curável e de fácil diagnóstico. Também
pelo fato da mesma ser de notificação compulsória obrigatória em todo o
território nacional, e ainda, ser alvo do governo brasileiro e da Organização
Mundial de Saúde (OMS) de um conjunto de medidas que visem o seu controle
como problema de saúde pública.
A escolha de estudar o município de Vila Velha foi devido o mesmo ser
endêmico da patologia em questão, ocupando o 3º lugar da lista dos
municípios mais endêmicos do Estado do Espírito Santo e ser considerado pelo
Ministério da Saúde como prioritário para o controle desse endemia.
Diversas medidas já foram tomadas pelo Brasil para eliminar a hanseníase
como problema de saúde pública, prova disso, é que, em 1991, o Brasil
juntamente com outros países, se comprometeu junto a Organização Mundial
de Saúde (OMS) a eliminar a hanseníase até o ano de 2000, que é ter menos
de um doente para cada 10.000 habitantes, porém esse prazo não foi
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suficiente, sendo estendido até 2010. (Painel de Indicadores de Saúde, Ano 1,
n.1, ago/2006).
Em 2006 o Brasil lançou o “Plano Nacional de Eliminação da Hanseníase em
nível Municipal 2006-2010” onde assume a responsabilidade de aumentar a
oferta de serviços dos profissionais da Atenção Básica, onde o processo de
diagnóstico, tratamento, vigilância em saúde foram integrados, e
consequentemente ficando mais próximos das residências dos indivíduos
portadores de hanseníase.
Dessa forma, o diagnóstico é mais precoce, logo, as incapacidade e
complicações nos indivíduos / famílias tendem a diminuir.
Entretanto, o Brasil hoje, assume a condição de não estipular mais prazo para
a eliminação da hanseníase como problema de saúde pública e sim
estabelecer metas para controlar dessa patologia.
Visando o controle da hanseníase como problema de saúde pública, o Brasil,
em 2007, lançou algumas diretrizes para as atividades de comunicação e
educação que integram as ações para o controle dessa doença. Essas
diretrizes são baseadas em dois eixos norteadores, sendo Ações institucionais
e Mobilização social.
Apesar da visível redução da taxa de prevalência da hanseníase, de 19 para
4,52 doentes para cada 10.000 habitantes, entre o período de 1985 a 2003,
conforme dados do Guia de vigilância epidemiológica – GVE- (2002), ainda
hoje, o Brasil ocupa o segundo lugar no Ranking mundial de detecção de casos
novos de hanseníase, ficando atrás somente da Índia. E ainda, é responsável
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por 90% dos casos dessa patologia no continente americano. (MACHADO, K,
2008).
Conhecer o perfil clínico epidemiológico de uma população numa determinada
região é de suma importância para elaboração e implementação de políticas
públicas de saúde específicas.
Este estudo tem como objetivo geral traçar o perfil clínico epidemiológico dos
pacientes diagnosticados como casos novos de hanseníase em 2007, no
município de Vila Velha (VV) - Espírito Santo (ES) e, consequentemente,
auxiliar na elaboração de estratégias de orientação e abordagem de pacientes
com diagnósticos de hanseníase, contribuindo para o controle dessa doença
como problema de saúde pública.
São, portanto, objetivos específicos deste trabalho:
§ Caracterizar a amostra do estudo segundo as variáveis: sexo, idade
forma clínica da hanseníase, grau de incapacidade no momento do
diagnóstico, modo de detecção e localidade;
§ Analisar o nível de preenchimento das fichas de notificação compulsória
do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan - da
amostra do estudo, no momento do diagnóstico de caso novo de
hanseníase em 2007;
§ Distribuir os casos novos de hanseníase diagnosticados em 2007 por
região do município de Vila Velha- ES;
§ Auxiliar os profissionais da estratégia de saúde da família do município
referido a elaborar ações específicas de assistência para os portadores
de hanseníase, às suas famílias e seus comunicantes;
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O desenvolvimento deste trabalho é composto de 3 capítulos, sendo que, no
capítulo 1 é abordado alguns aspectos mais importantes do município de Vila
Velha – ES, em relação ao tema deste trabalho, o Capítulo 2 subdivide-se em
sete subtítulo, onde são abordados os aspectos históricos, clínicos,
terapêuticos e profiláticos da hanseníase. No capítulo 3 é apresentado o
resultado dos dados e discussão dos mesmos. E por fim, é concluído o
trabalho.
A realização desta pesquisa foi autorizada pela Coordenação de Estágio e
Pesquisa em Saúde, da Coordenação de Serviços em Saúde da PMVV,
atendendo os requisitos de pesquisa envolvendo seres humanos, conforme a
Resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96.
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CAPÍTULO 1- VILA VELHA: ASPECTOS RELEVANTES
AO TRABALHO
O Estado do Espírito Santo tem hoje 78 municípios, sendo Vila Velha (VV), o
mais antigo destes.
Vila Velha foi fundada com o nome de Vila do Espírito Santo em 23 de maio de
1535 pelo português Vasco Fernandes Coutinho, então donatário da capitania
do Espírito Santo.
Foi sede da capitania do ES até o ano de 1549, quando esta foi transferida
para Vitória e o município passou a ter o nome atual: Vila Velha.
O município de Vila Velha apresenta um clima tropical e está a 4 metros de
altitude (distância vertical entre esse e o nível médio do mar). Localiza-se na
região metropolitana da Grande Vitória, fazendo divisa com os seguintes
territórios:
ü Ao norte: Vitória;
ü Ao sul: Guarapari;
ü Ao oeste: Cariacica e Viana;
ü Ao leste: Oceano Atlântico.
De acordo com o IBGE, Vila Velha, tem uma área territorial de 209 km2,
possuindo um litoral de aproximadamente 32 quilômetros.
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Vila Velha é a cidade mais populosa no Espírito Santo, segundo dado do IBGE,
em 2007, o município referido apresentava uma população de 398.068
habitantes.
Considerando a população de Vila Velha e a área territorial desse município
supracitadas nos dois últimos parágrafos, é possível concluir que a densidade
demográfica de VV, em 2007, foi de 1,89 habitantes por km2.
Em relação a hanseníase no Estado do ES, os seis municípios mais endêmicos
dessa patologia são: Serra, Cariacica, Vila Velha, São Mateus, Vitória e
Linhares. VV ocupa o 3º lugar nesta lista.
Vila Velha por ser endêmico da hanseníase, é visto pelo Ministério da Saúde
como prioritário para o controle dessa endemia. Esse dado influenciou a
realização deste estudo neste município.
O município de VV é dividido estrategicamente em 5 regiões, sendo numeradas
respectivamente em: região 01, 02, 03, 04 e 05; sendo esta última e a segunda,
as únicas regiões cobertas pela saúde da família, totalizando um percentual de
cobertura de PSF de 28%. (PMVV, 2007).
Em 2007, Vila Velha apresentou uma taxa de prevalência de 3,21 casos de
hanseníase / 10.000 habitantes. Dado que classifica o referido município como
endêmico desta patologia. Esse mesmo dado é aproximadamente igual ao
apresentado pelo ES, que teve nesse mesmo período uma prevalência de
hanseníase de 3,20 casos / 10.000 habitantes (Secretaria Municipal de Saúde -
SEMSA- Vila Velha, 2007).
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A prevalência de hanseníase no ano de 2007, em Vila Velha - ES tem
parâmetro considerado “médio”, pois, de acordo com o GVE (2002), quando a
prevalência dessa doença está entre o intervalo de 5,0---1,0 casos / 10.000
habitantes, recebe essa classificação.
A prevalência da hanseníase engloba todos os casos que foram diagnosticados
e ainda estão em tratamentos da doença até o período avaliado, ou seja,
aqueles que ainda não receberam alto do tratamento. A prevalência mede a
magnitude da doença. (GVE, 2002).
Considerando que dados do IBGE de 2007 relatam que Vila Velha neste
mesmo ano apresentou uma população de 398.068 habitantes e que neste
mesmo período houveram 135 casos novos diagnosticados de hanseníase, é
possível concluir que neste ano, o coeficiente de detecção desta patologia foi
de 3,39/ 10.000 habitantes.
Logo, o coeficiente de detecção de hanseníase em Vila Velha – ES no ano de
2007 é classificado como “muito alto”, pois, de acordo com o GVE (2002),
quando este situa entre 4,0—2,0 casos / 10.000 habitantes, recebe essa
classificação.
O coeficiente de detecção anual de casos novos de hanseníase mede a
intensidade das atividades de detecção dos casos novos e também
determinam a tendência secular dessa endemia. (GVE, 2002).
O coeficiente de detecção de hanseníase do ES, em 2007, foi superior ao de
VV, tem valor de 3,50 casos / 10.000 habitantes. (SEMSA de VV, 2007).
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Um estudo de coorte com “n” de 179 pacientes com registro ativo de
hanseníase em VV, em 2007, onde foram analisados vários indicadores
epidemiológicos, entre eles, o percentual de cura desses pacientes, mostrou
que, o percentual de cura dos portadores de hanseníase deste município, neste
período, foi de 88,3%.
Portanto, o percentual de cura dos pacientes diagnosticados com hanseníase
em VV, analisada através do estudo supracitado, recebe parâmetro
considerado “regular”, pois, de acordo com o GVE (2002), esse indicador
recebe essa classificação quando apresenta valores entre 75---90 %.
O percentual de cura dos pacientes com diagnóstico de hanseníase é um
indicador epidemiológico que avalia a efetividade dos tratamentos recebidos
pelos mesmos. (GVE, 2002).
Outro indicador analisado por esse mesmo estudo já supracitado, foi a taxa de
abandono de tratamento entre os portadores de hanseníase, na qual foi
observado por esta mesma pesquisa, que, a proporção de abandono de
tratamento em VV no período estudado foi de 5,6 %. (SEMSA de VV, 2007).
Logo, o indicador epidemiológico que mede a capacidade dos serviços em
assistir aos portadores de hanseníase, analisado pelo estudo já supracitado,
mostra que os serviços prestados na rede de VV a estes pacientes, apresenta
parâmetro considerado “bom”, pois, de acordo com o GVE (2002), quando esse
valor for ≤10%, o mesmo recebe essa classificação.
Este estudo de coorte, citado nos parágrafos acima, mostra que, em VV,
apesar dos serviços que prestam assistência aos portadores de hanseníase
receberem parâmetro “bom”, a porcentagem de cura desses doentes recebe
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parâmetro “regular”. Esse dado revela que é preciso reformular as estratégias
de acompanhamento desses, a fim de se obter um maior percentual de cura
entre os doentes.
É de suma importância que os profissionais inseridos nos programas que
atendem aos portadores de hanseníase, em especial aos inseridos na
Estratégia de Saúde da Família, intensifiquem mais com esses doentes a
importância do tratamento dessa patologia, a fim de evitar tantas incapacidades
provocadas pelo bacilo de hansen, e consequentemente, interromper a cadeia
de transmissão dessa doença.
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CAPÍTULO 2: HANSENÍASE: ASPECTOS HISTÓRICOS,
CLÍNICOS, TERAPÊUTICOS E PROFILÁTICOS
A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa de origem milenar conhecida
no passado pelo nome Lepra. Há controvérsia sobre sua origem na literatura,
alguns historiadores referem como sendo originária há 2.600 a.C. na China,
mas a maioria dos pesquisadores refere sua origem no século XV a.C. na Índia
(LOPES FILHO, 2004).
A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que
tem como característica ser parasita intracelular obrigatório e apresenta uma
afinidade por células dos nervos periféricos e por células cutâneas. (GUIA
PARA O CONTROLE DA HANSENÍASE – GCH-, 2002).
O bacilo causador da hanseníase possui uma alta infectividade e baixa
patogenicidade, o que significa dizer que tem alta probabilidade de infectar
novos indivíduos, porém poucos adoecem. Seu período de incubação é em
média de dois a sete anos. O homem é reconhecido como a única fonte de
infecção, embora tenham sido identificados animais naturalmente infectados.
(GVE, 2002).
A transmissão da hanseníase se dá através do contato direto de um indivíduo
doente, portador do Mycobacterium leprae, não tratado, a pessoas
susceptíveis. As vias aéreas superiores do trato respiratório, do indivíduo
infectado, constitui na principal via de eliminação do bacilo de Hansen. (GCH,
2002).
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2.1- Aspectos Clínicos
A hanseníase manifesta-se através de sinais e sintomas dermato-neurológicos.
Entre as manifestações dermatológicas mais comuns, destaca-se: manchas
esbranquiçadas ou avermelhadas na pele; presenças de placas de forma
localizadas com bordas elevadas na pele, presença de infiltrações na pele de
forma difusa e sem bordas, presença de tubérculos e nódulos,
respectivamente, caroços externos e subcutâneos. (CONTROLE DA
HANSENÍASE NA ATENÇÃO BÁSICA – CHAB -, 2001).
As lesões de pele sempre apresentarão alteração de sensibilidade, podendo
ser hipoestesia (sensibilidade diminuída) ou anestesia (ausência de
sensibilidade, podendo ainda, na fase inicial apresentar uma sensibilidade
aumentada (hiperestesia). Podem aparecer em qualquer parte do corpo, sendo
mais freqüentes na face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas. (CHAB,
2001).
Entre as alterações neurológicas causadas pela hanseníase, destacam-se as
lesões em nervos periféricos, ocorrendo dor e espessamento destes, perda da
sensibilidade das áreas inervadas por esses e perda da força dos músculos
inervados pelos mesmos. (GCH, 2002).
2.2- Classificação clínica da Hanseníase
A classificação das formas clínicas da hanseníase pode ser baseada em dois
critérios, sendo, o primeiro proposto no congresso de hansenologia de Madri
(1953) e o segundo pela OMS.
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A Tabela 01 mostra as diversas formas clínicas da hanseníase, de acordo com
os critérios de MADRI (1953) e o da OMS.
TABELA 01: FORMAS CLÍNICAS DA HANSENÍASE
(GVE, 2002, p.366).
Em 1953, no congresso Mundial de Hansenologia, foi proposto que a
hanseníase fosse classificada nas seguintes formas clínicas: Indeterminada,
Tuberculóide, Dimorfa e Virchowiana.
Entretanto, para fins práticos e propedêuticas de tratamento, de acordo Guia do
Ministério da Saúde CHAB (2001) utiliza-se a seguinte classificação proposta
pela OMS:
§ Paucibacilares (PB): casos com até 5 lesões de pele e ou apenas um
tronco nervoso acometido;
§ Multibacilares (MB): casos com > 5 lesões de pele e ou mais de um
tronco nervoso acometido.
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Este tipo de classificação é de suma importância, pois determina o tipo e a
duração de tratamento.
Ainda, segundo o Ministério da Saúde, no guia de CHAB (2001), que constitui
num guia prático para profissionais da equipe de saúde da família, somente
10% dos indivíduos infectados pelo Mycobacterium leprae adoecem, dentre
esses uns têm pequena de quantidade de bacilos no organismo, logo, são
insuficientes para infectar outras pessoas (PB), enquanto que outros são os
casos MB que constituem na fonte de infecção de outras pessoas, mantendo
cadeia epidemiológica da doença.
2.3- Grau de incapacidade física dos portadores de
hanseníase
O grau de incapacidade dos portadores de hanseníase é um indicador
epidemiológico que deve ser realizado no início e na alta do tratamento e tem a
finalidade de avaliar programas, determinar a precocidade do diagnóstico e
comparar o grau de incapacidade no início e na alta do paciente. (GVE, 2002).
Para realização, deve ser feito um exame físico rigoroso fazendo inspeção,
pesquisar sensibilidade, avaliar a acuidade visual e a mobilidade articular.
(CHAB, 2001).
O grau de incapacidade é classificado nos respectivos graus: 0, I e II. De
maneira que o “0” indica nenhum grau de incapacidade e “2” o grau máximo.
(MANUAL DE PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES – MPI -, 2008).
É de fundamental importância a classificação do grau de incapacidade de todos
os portadores de hanseníase, uma vez que, esta “[...] doença compromete
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mecanismos de defesa, como a capacidade de sentir dor, a visão e o tato,
tornando-as mais vulneráveis aos riscos de acidentes, queimaduras, feridas,
infecções, amputações, entre outros”. (MPI, 2008, p.8).
Segundo o MPI (2008), a cada ano no Brasil é registrado em média 47.000
novos casos de hanseníase, deste total, 23,3% apresenta grau de
incapacidade I e II. Transformando esse dado em números absolutos, tem-se
que, cerca de 10.951 pessoas são diagnosticadas tardiamente, o que contribui
para permanência da hanseníase como problema de saúde pública, além de
aumentar o número de portadores com incapacidades provadas pelo bacilo de
Hansen, aumentando também o medo, preconceito e discriminação aos
portadores de hanseníase e seus familiares.
2.4- Diagnóstico da hanseníase
Segundo o GCH (2002, p.11) é definido como caso de hanseníase, o indivíduo
que apresenta uma ou mais das seguintes características:
§ lesão (ões) de pele com alteração de sensibilidade;
§ acometimento de nervo(s) com espessamento neural;
§ baciloscopia positiva.
É de fundamental importância o diagnóstico precoce dessa patologia, para se
propor o tratamento adequado mais rápido, minimizando as chances de
incapacidades físicas, psíquicas e sociais dos portadores e familiares.
Segundo o GCC (2002) O diagnóstico de hanseníase pode ser feito das
seguintes formas:
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§ Clínica: onde se realiza um exame físico, procede-se uma avaliação
dermatoneurológica, buscando-se identificar sinais clínicos da doença;
§ Laboratorial: onde é realizado a baciloscopia que é o exame
microscópico onde pesquisa-se a presença do Mycobacterium leprae, de
esfregaços de raspados intradérmicos das lesões hansênicas ou dos
lóbulos auriculares e/ou cotovelos.
§ Diferencial: visto que existem várias outras doenças dermatológicas e/ou
neurológicas com sinais e sintomas semelhantes ao seu, entre elas:
Ptiríase versicolor, eczemátide, tinha do corpo, vitiligo, síndrome do túnel
do carpo, neuralgia parestésica, neuropatia alcoólica, neuropatia
diabética e lesões por esforços repetitivos.
2.5- Tratamento da hanseníase
Tratar o indivíduo com hanseníase é de fundamental importância para quebrar
a cadeia de transmissão deste bacilo. O Tratamento disponibilizado pela OMS,
que é realizado a nível ambulatorial, baseia-se numa combinação de
medicamentos, constituindo a Poliquimioterapia (PQT), tendo duração de seis a
vinte quatro meses.
Segundo o Ministério da Saúde, no guia CHAB (2001), logo no início do
tratamento com o PQT a transmissão para outros indivíduos é interrompida,
não havendo necessidade de isolar o portador de hanseníase do convívio de
outras pessoas.
Segundo o GCH (2002), o PQT é constituído da combinação das seguintes
drogas: rifampicina, dapsona e clofazimina. A associação evita a resistência
medicamentosa do bacilo de Hansen.
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O esquema padrão de combinação do PQT e a duração do tratamento são de
acordo com a forma clínica apresentado pelo indivíduo no momento do
diagnóstico, sendo diferentes para os casos PB e MB. Ver Anexo A.
2.6- Hanseníase: da meta de eliminação ao controle dessa
patologia
Durante a 44º Assembleia Mundial de Saúde, organizada pela OMS, o Brasil,
juntamente com outros países assumiu o compromisso de eliminar a
hanseníase como problema de saúde pública até o final do ano 2000. Eliminar
essa doença significa dizer que existe menos de um doente para cada 10.000
habitantes. (INFORME DA ATENÇÃO BÁSICA, ANO 1, N.3, AGO/2000).
Segundo o INFORME DA ATENÇÃO BÁSICA, ANO 1, N.3 (2000), a prevalência da
hanseníase neste período reduziu drasticamente, passando de 17,4/10.000
habitantes em 1991 para 3,6/10.000 habitantes em 1999, redução de 80%.
Devido as altas taxas de prevalência e detecção de casos novos de
hanseníase até o ano de 1999, não foi possível para o Brasil eliminar a mesma.
E ainda segundo INFORME DA ATENÇÃO BÁSICA, ANO 1, N.3 (2000), em 1999,
o Brasil assume novamente o compromisso de eliminar essa patologia até o fim
de 2005, em reunião promovida pela OMS na Costa do Marfim.
Objetivando atingir essa meta o Brasil diz que:
“[...] as ações de controle da hanseníase devem ser desenvolvidas por todas as unidades da rede básica, incluindo-se aí as equipes do PACS e do PSF. Estas ações incluem a redução do estigma social associado à doença, a identificação precoce de casos suspeitos e o adequado diagnóstico, o tratamento preconizado dos casos diagnosticados, a identificação da fonte de contágio e de casos novos
27
entre contatos intradomiciliares, e a prevenção do contágio de outras pessoas [...]”. (INFORME DA ATENÇÃO BÁSICA, ANO 1, N.3, AGO/2000, p. 1).
Novamente o Brasil não conseguiu atingir tal meta, sendo postergada para
2010. (PAINEL DE INDICADORES DE SAÚDE, ANO 1, N.1, AGO/2006).
Entretanto, hoje o Brasil, não estipula mais prazo para a eliminação da
hanseníase como problema de saúde pública e estabelece metas para o
controle dessa patologia no país.
2.7- Hanseníase x Saúde da Família
A Saúde da família é:
“[...] uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade [...]”. (BRASIL, acesso em 04 mar. 2009).
Os profissionais inseridos na Estratégia de Saúde da Família (ESF) são
fundamentais nesse processo de eliminação da hanseníase, uma vez que,
estão mais próximos das comunidades, acompanhando todo o processo saúde
e doença dos indivíduos de sua área de abrangência.
Entretanto, é necessário que esses profissionais sejam livres de todas as
formas de preconceitos sobre a hanseníase e se conscientizem de sua
importância no processo de controle dessa endemia como problema de saúde
pública.
28
Conhecer o perfil clínico epidemiológico da hanseníase em um determinado
espaço é de fundamental importância para os profissionais da ESF, porque os
ajudará a fazerem um diagnóstico mais preciso, e consequentemente, propor
um tratamento mais eficaz, implantar busca ativa de comunicantes dos
portadores dessa doença e fazerem orientações mais específicas.
Logo, a epidemiologia deve ser uma ferramenta de trabalho dos profissionais
da ESF para o controle da hanseníase de sua área de abrangência, do seu
Município, seu Estado e do Brasil.
29
CAPÍTULO 3: RESULTADO E DISCUSSÃO DOS DADOS
A amostra deste estudo foi composta de 135 casos novos de hanseníase
diagnosticados em VV no ano de 2007. Deste total, 74 eram homens, o que
representou 54,8% da amostra, e 61 casos eram mulheres, representando os
outros 44,2%, conforme o Gráfico 1.
GRÁFICO 1- DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS NOVOS DE HANSENÍASE ENTRE OS SEXOS MASCULINO E FEMININO EM 2007, EM VILA VELHA- ESPÍRITO SANTO.
(Fonte: SEMSA de VV, 2007).
A predominância do sexo masculino neste estudo foi ao encontro de outras
pesquisas que objetivaram também a traçar o perfil epidemiológico em outras
regiões.
Como demonstra LONGO E CUNHA (2005), que ao traçar o perfil clínico
epidemiológico de 192 casos de hanseníase atendidos no Hospital
Universitário de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, entre janeiro de 1994 a
Julho de 2005, onde concluíram que 62,5% da amostra pertenciam ao sexo
masculino.
Homens
Mulheres
30
Outro estudo realizado por SANTOS E RABAY (1999), Concluiu que num total
de 103 pacientes com hanseníase, 51,5% da amostra eram do sexo masculino.
Em relação a faixa etária dos pacientes que comporam esta amostra de
estudo, verificou-se que 6% (8 casos) tinham entre 0----14 anos de idade, o
que representa uma taxa de detecção de 0,74/ 10.000 habitantes,
considerando a população desta faixa etária em VV com um total de 107.568
habitantes neste mesmo período. (IBGE, 2000).
Os outros 127 pacientes tinham 15 anos ou mais, representado 94% da
amostra, mostrando que a hanseníase acomete mais na fase produtiva.
O coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase entre ≤ de 14 anos
de VV em 2007, tem parâmetro considerado “muito alto”, pois, de acordo com o
GVE (2002), quando essa taxa está entre 1,0—0,5 / 10.000 habitantes, recebe
essa classificação.
Este dado revela que é necessário focalizar e diagnosticar de forma ágil os
casos de hanseníase em menores de 15 anos, pois os mesmos podem ser
comunicantes de adultos portadores desta doença ainda não diagnosticados.
Em relação ao modo de detecção da hanseníase em VV- ES, em 2007, ver
Tabela 2, observou-se que 51,9% dos casos foram diagnosticados devido ao
encaminhamento ao especialista e somente 34,8 % da amostra reconheceram
os sinais e sintomas da moléstia em questão e procuraram atendimento de
saúde por livre demanda.
O dado acima mostra que é preciso maior divulgação por parte dos serviços de
saúde, com introdução de cartazes nas unidades, distribuição de folders
educativos, palestras, entre outros, para aumentar o grau de conhecimento da
31
população sobre esta patologia. Cabe aos profissionais de saúde, em especial
aos inseridos na ESF, desenvolver tal educação em saúde.
Outro dado importante é a realização de exames em todos os contactantes de
casos de hanseníase, como demonstrou este estudo que 11,1% dos casos
desta amostra foram diagnosticados através da realização de tal exame.
TABELA 2- MODO DE DETECÇÃO DOS CASOS NOVOS DE HANSENÍASE EM VILA VELHA
- ES, EM 2007.
N % Modo de Detecção
69 51,9 Encaminhamento
47 34,8 Demanda espontânea
15 11,1 Exame de Contato
02 1,5 Exame de Coletividade
02 1,5 Outros Modos
(Fonte: SEMSA de VV, 2007).
Quanto as formas clínicas de hanseníase encontradas neste estudo, ver
Tabela 3, verificou-se a seguinte situação:
32
TABELA 3 – DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAS CLÍNICAS DOS CASOS NOVOS DE
HANSENÍASE, DIAGNOSTICADOS EM VILA VELHA- ES, EM 2007
Forma clínica
Paucibacilar Multibacilar
Indeterminada Tuberculóide Dimorfa Virchowiana
N % N % N % N %
25 18,5 43 31,9 37 27,4 30 22,2
(Fonte: SEMSA de VV, 2007).
A Tabela 3 permite concluir que de acordo com os critérios de MADRI (1953), a
forma clínica predominante foi a Tuberculóide (31,9%), seguida da Dimorfa,
Virchowiana e Indeterminada, representando 27,4%; 22,2% e 18,5%,
respectivamente.
Um estudo realizado por GOMES ET AL (2005), onde traçaram o perfil clínico
epidemiológico dos pacientes diagnosticados com hanseníase em 2004, num
centro de referência na região nordeste do Brasil, onde foram analisados 967
casos, observaram quem a prevalência da forma clínica Dimorfa foi de 54,6%
dos casos seguidas das formas clínicas Tuberculóide, Virchowiana e
Indetermina, com 26,6 %; 11,5% e 5,8%, respectivamente. Neste estudo, 1,5%
da amostra não tiveram a classificação da forma clínica no momento do
diagnóstico.
De acordo com a proposta da OMS de classificação da forma clínica da
hanseníase, neste estudo, 68 casos foram da forma clínica MB e 67 casos da
foram clínica PB.
33
O dado explícito acima demonstra que houve praticamente um empate técnico
entre estas formas clínicas, porém, faz-se necessário fazer um diagnóstico
mais rápido e intensificar buscas ativas para agilizar os diagnósticos de outros
casos, uma vez que, os pacientes MB são considerados fontes de infecção, por
possuíram uma maior quantidade de bacilo de Hansen, quando comparados
com as pacientes que apresentam a forma clínica PB, que não são
considerados fontes de infecção.
Outra variável avaliada neste estudo foi o grau de incapacidade dos pacientes
diagnosticados como casos novos de hanseníase, em Vila Velha – ES, em
2007, no momento do diagnóstico. Ver Gráfico 2.
GRÁFICO 2- REPRESENTAÇÃO DO GRAU DE INCAPACIDADES DOS INDIVÍDUOS
DIAGNOSTICADOS COMO CASOS NOVOS DE HANSENÍASE, EM VILA VELHA – ES, EM
2007.
(Fonte: SEMSA de VV, 2007).
De acordo com o Gráfico 2 houve predominância absoluta de grau 0 de
incapacidade física provocado pelo bacilo de Hansen (98 casos).
Demonstrando que os casos novos de hanseníase em Vila Velha – ES em
72,60%
17,00%
3,70%
6,70%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00%
Grau 0
Grau I
Grau II
Não avaliado
Relação do grau de incapacidade nos casos novos de Hanseníase em Vila
Velha- ES, em 2007
34
2007 foram diagnosticados precocemente. O número de indivíduos que
apresentaram grau de II e I de incapacidades foram de 5 e 23,
respectivamente.
Como demonstra o Gráfico 2, 93,3% dos casos novos de hanseníase
diagnosticados em VV, em 2007 foram avaliados quanto ao grau de
incapacidade no momento do diagnóstico, indicador que coloca a qualidade
dos serviços de saúde prestada por este município aos portadores de
hanseníase, com parâmetro considerado “bom”, pois de acordo com o GVE
(2002), quando os serviços alcançam índice ≥90% recebem essa classificação.
Entretanto, seria de suma importância, que todos os pacientes diagnosticados
fossem avaliados quanto ao grau de incapacidade, como demonstra o Gráfico
2, onde 6,7 % das fichas de notificação compulsória da hanseníase de VV, em
2007, foram preenchidas inadequadamente em relação ao grau de
incapacidade apresentada pelos indivíduos que formaram a amostra deste
estudo. O aumento desse parâmetro prejudica a qualidade de assistência
prestada aos portadores dessa patologia.
Pesquisando o grau de incapacidades apresentada pelos indivíduos
diagnosticados com hanseníases GOMES ET AL (2005), obtiveram resultados
semelhantes deste estudo. Numa amostra de 967 casos de hanseníase, eles
referem que 72,5% não apresentavam nenhum grau de incapacidade,
enquanto que 15% e 6,7% apresentaram grau de incapacidade I e II,
respectivamente. Da amostra pesquisada por estes autores 5,8% também não
foram identificados o grau de incapacidade na ficha de investigação dos
pacientes.
Ao relacionar a forma clínica PB e MB com o grau de incapacidade
apresentado pelos indivíduos no momento do diagnóstico, ver Tabela 4,
35
observa-se que dos 67 casos de hanseníase diagnosticados como PB, 93,8%
destes, não apresentaram nenhum grau de incapacidade, enquanto que, 6,3%
apresentaram grau de incapacidade I, 4,5% não foram avaliados quanto ao
grau de incapacidade e o grau II não apareceu entre os indivíduos classificados
como PB.
Já entre os indivíduos MB deste estudo (68 casos), deste total, 61,3%
apresentaram grau 0 de incapacidade, 30,6% grau I, 8,1% grau II, 8,8% não
foram avaliados.
De acordo com o GVE (2002), o indicador epidemiológico, que mede a
proporção de incapacidades físicas entre os casos novos detectados e
avaliados no ano, onde é analisada a proporção de casos com grau II de
incapacidade por casos novos notificados e que tiveram o grau de
incapacidade avaliado, o município de Vila Velha tem parâmetro considerado
“médio”, uma vez que, esse manual diz que quando esse indicador situar entre
5---10% recebe essa classificação.
O indicador supracitado pode auxiliar os profissionais de saúde do referido
município, em especial os inseridos na ESF, a estimular a endemicidade que
pode estar oculta e também mostra a importância de um diagnóstico mais
precoce.
36
TABELA 4- REPRESENTAÇÃO DO GRAU DE INCAPACIDADE ENTRE AS FORMAS
CLÍNICAS PAUCIBACILAR E MULTIBACILAR.
(Fonte: SEMSA de VV, 2007).
A Tabela 4 mostra ainda que, a porcentagem de pacientes que não foram
avaliados quanto ao grau de incapacidade no momento do diagnóstico foi
maior entre os casos MB (8,8%), evidenciando também a estreita relação entre
a predominância de maior grau de incapacidade entre os indivíduos
classificados como MB, isto demonstra a importância de se ter um diagnóstico
mais precoce de hanseníase para evitar as incapacidades físicas que o bacilo
de Hansen causa nos indivíduos portadores do mesmo.
Em relação a região habitada pelos indivíduos diagnosticados como casos
novos de hanseníase em 2007, no município estudado por esta pesquisa, tem-
se o Gráfico 3 como representação.
Formas Clínicas
Paucibacilar
(N= 37)
Multibacilar
(N=68)
Grau de incapacidade Grau de incapacidade
0 I II Não
avaliado
0 I II Não
avaliado
93,8% 6,3% 0% 4,5% 61,3% 30,6% 8,1% 8,8%
37
GRÁFICO 3- DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS NOVOS DE HANSENÍASE, POR REGIÃO, EM
VILA VELHA – ES, EM 2007.
(Fonte: SEMSA de VV, 2007).
O “N” de casos novos de hanseníase, por distribuição, entre as regiões do
município objeto deste estudo foi de 131. Este “N” foi menor do que o “N” do
estudo (n= 135), porque 04 pacientes apesar de serem moradores de Vila
Velha – ES, não foram diagnosticados e nem tratados nesse município. Logo,
suas fichas de notificação não se encontram nos bancos de dados da SEMSA
de VV. Eles foram incorporados como casos deste município, pela Secretaria
Estadual de Saúde do Espírito Santo, por declararem como moradores do
referido município, porém, escolheram serem tratados em outros locais.
Apesar de ter a região 03 a maior predominância de casos novos de
hanseníase em 2007, observa-se através de dados da SEMSA de VV (2007)
que a região 05 nos dois anos anteriores 2005 e 2006, apresentou
predominância absoluta em casos de diagnósticos de hanseníase, tendo,
17,60%
11,40%
28,20%
25,20%
17,60%
Região 01
Região 02
Região 03
Região 04
região 05
38
30,85% e 54,32%, nos respectivos anos. A queda em 2007 pode ter sido
influenciada pelas mudanças operacionais que esta região enfrentou em 2007,
como a troca de funcionários e a não permanência de muitos destes nessa
região.
39
CONCLUSÃO
Este estudo nos permite concluir que houve predominância do sexo masculino
(54,8%) sobre o feminino (44,2%). Mostrou também que em 2007 entre os
casos analisados, 94% tinha idade ≥ 15 nos, evidenciado que essa patologia
acomete mais na idade adulta, ou seja, na fase produtiva.
Entretanto, em 2007, VV apresentou uma taxa de detecção de casos novos de
hanseníase em menores de 15 anos de 0,74 / 10.000 habitantes, colocando o
referido município com parâmetro “muito alto” para este indicador.
Em relação à forma clínica, segundo critérios de Madri (1953) houve
predominância de forma Tuberculóide (31,9%), seguida das formas clínicas
Dimorfa, Virchowiana e Indeterminada, com 27,4%; 22,2% e 18,5% dos casos,
respectivamente.
De acordo com os critérios adotados pela OMS, a forma clínica Multibacilar
representou 50,4%, sendo superior a Paucibacilar (49,6%) dos casos novos de
hanseníase no referido município em 2007.
Em relação ao Modo de Detecção desta patologia, em 2007, em VV, 51,9%
dos casos foram diagnosticados devido ao encaminhamento aos especialistas,
e apenas 34,8% por demanda espontânea.
O dado supracitado mostra que a proporção de conhecimento sobre os sinais e
sintomas dessa doença é baixa pela população do estudo, pois, a grande
maioria (65,8%) dos casos novos de hanseníase não foi diagnosticada por
40
demanda espontânea, que são aqueles casos que procuram a Unidade de
Saúde, após reconhecerem os sinais e sintomas da doença.
Dos 135 pacientes analisados neste estudo, 93,3% tiveram seu grau de
incapacidade física avaliado no momento do diagnóstico, mostrando que a
qualidade dos serviços de saúde prestada aos portadores de hanseníase em
VV, nesse período foi considerada como parâmetro “bom”.
Entretanto, 6,7% das fichas de investigação foram preenchidas
inadequadamente no momento do diagnóstico, uma vez que, esses pacientes
não tiveram o grau de incapacidade avaliado, ou esse dado não foi anotado
adequadamente como deveria.
É extremante importante, abranger 100% de avaliação do grau de
incapacidade física dos portadores de hanseníase.
Entre a forma clínica MB, 38,7% dos casos tiveram grau de incapacidade física
I e II, enquanto que, apenas 6,3% dos casos PB apresentaram grau I de
incapacidade. O grau II, não apareceu nessa foram clínica. Esse dado mostra a
importância do diagnóstico mais precoce para minimizar as incapacidades.
Em relação a localidade dos casos de hanseníase, este trabalho permite
concluir que na região 03 de VV, houve predominância dos casos
diagnosticados em 2007, representado um percentual de 28,2%, acompanhada
da região 04, com 25,2%. As regiões 01 e 05 representaram 17,6% dos casos,
cada uma; e por último, a região 02, com 11,4% dos caos novos.
Logo, este estudo permite concluir que o perfil clínico epidemiológico dos
pacientes diagnosticados como casos novos de hanseníase em Vila Velha-
41
Espírito Santo, em 2007 é representado por indivíduos que são: do sexo
masculino (54,8%), com idade ≥ 15 anos (94%), que tiveram diagnóstico devido
ao encaminhamento (51,9%), que apresentaram forma clínica Tuberculóide
(31,9%), de acordo com critérios de Madri, e de acordo com os critérios da
OMS, apresentaram a forma clínica MB (50,4%), que apresentaram grau 0 de
incapacidade no momento do diagnóstico (77,7%,), o “n” avaliado neste quesito
foi de 126 casos, e são em sua maioria moradora da região 03 de Vila Velha,
(28,2%).
Fica a contribuição deste trabalho aos profissionais da rede municipal de saúde
de Vila Velha, em especial aos inseridos na ESF. Espera-se que, o
detalhamento do perfil epidemiológico da hanseníase nesse município, auxilie
na elaboração de estratégias mais adequadas para um diagnóstico mais
precoce desta doença.
42
BIBLIOGRAFIA
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Gestão de Iniciativas Sociais)- Coppe, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro. Disponível em: <
http://www.morhan.org.br/docs/estudos_teses/hansen_mono_antonio.pdf >.
Acesso em 07 fev 2009.
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44
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In: ROUQUAYROL, M.Z; ALMEIDA FILHO, N. EPIDEMIOLOGIA & SAÚDE. 6.
ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.p.83-121.
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município de Taubaté –SP no ano de 1999. Hansenologia Internationalis.
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php/hi/article/viewFile/784/813>>. Acesso em 20 jan 2009.
SINAN. Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Dados Fornecidos
pela Secretaria Municipal de Vila Velha, Vila Velha, 2007.
45
ANEXO A
TRATAMENTO PADRÃO PARA ADULTOS, DA HANSENÍASE,
DE ACORDO COM O GUIA PARA CONTROLE DA
HANSENÍASE, 2002
§ Esquema Paucibacilar (PB)
É utilizada uma combinação da rifampicina e dapsona, acondicionados
numa cartela, no seguinte esquema:
• Medicação:
ü rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com
administração supervisionada,
ü dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose
diária auto-administrada;
• Duração do tratamento: 6 doses mensais supervisionadas de
rifampicina.
• Critério de alta: 6 doses supervisionadas em até 9 meses.
§ Esquema Multibacilar (MB)
É utilizada uma combinação da rifampicina, dapsona e de clofazimina,
acondicionados numa cartela, no seguinte esquema:
• medicação:
ü rifampicina: uma dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com
administração supervisionada;
ü clofazimina: uma dose mensal de 300 mg (3 cápsulas de 100 mg) com
46
administração supervisionada e uma dose diária de 50mg auto-
administrada; e
ü dapsona: uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose
diária auto-administrada;
• Duração do tratamento: 12 doses mensais supervisionadas de
rifampicina;
• Critério de alta: 12 doses supervisionadas em até 18 meses.
§ OBS: O tratamento pra crianças tem um ajuste das doses dos
medicamentos de acordo com a idade.
47
ANEXO B
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Formas clínicas da Hanseníase.................................................22
Tabela 2 – Modo de detecção dos casos novos de
Hanseníase em Vila Velha – ES................................................................31
Tabela 3 – Distribuição das formas clínicas dos casos novos
de hanseníase, diagnosticados em Vila Velha –ES, em 2007.................32
Tabela 4 – Representação do grau de incapacidade entre
As formas clínicas Paucibacilar e Multibacilar............................................36
48
ANEXO C
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição dos casos novos de Hanseníase
entre os sexos masculino e feminino, em Vila Velha-ES..............................29
Gráfico 2 – Representação do grau de incapacidade dos
Indivíduos diagnosticados com casos novos de Hanseníase,
Em Vila Velha- ES, em 2007.........................................................................33
Gráfico 3 – Distribuição dos casos novos de Hanseníase,
por região, em Vila Velha, em 2007...............................................................37