peregrinar2015

72
ZĞĐŽŶŚĞĐĞƌ ƌŝƐƚŽ W٦ٮÄÊ >®ÝÊ &ã®Ã ÊÃçÄ«Ê >®ÙãÊ ϴ ϭϯ KçãçÙÊ ϮϬϭϱ

Upload: papinto

Post on 17-Jul-2016

773 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Livrinho que acompanha a Peregrinação do CL de Lisboa a Fátima 8 a 13 de Outubro de 2015

TRANSCRIPT

Page 1: Peregrinar2015

����������������

�������������� ������������������������� ��������

�������������������������

Page 2: Peregrinar2015

�����������������������������������������

A oração é a posição mais verdadeira do homem diante de Deus; é o gesto, o ac-to do homem mais realista, mais completo, mais verdadeiro. A nossa colaboração com Deus, o nosso trabalho chama-se apenas oração. É o ponto no qual Deus “faz” e o homem faz. Em que consiste? Ela surge quando o homem procura o sentido da vida, quando nos damos conta de que o nosso eu nasce de um “Tu”.

Reflectir sobre si até à consciência da presença de um Outro incorre num perigo, numa dificuldade que deriva do facto de tal presença parecer abstracta, simbólica. Por isso mesmo, Deus se fez homem. Isso facilita o caminho.

A fé é consciência de uma presença: Jesus Cristo hoje. Uma segurança e uma facilidade a tal consciência são dadas pela liturgia — Cristo continua a Sua pre-sença na comunidade litúrgica. Na liturgia o Espírito torna-nos as coisas íntimas.

O amor é pôr-se em contacto com o que continuamente ressurge.

- O primeiro elemento metodológico da oração é a fidelidade no tempo. Fidelida-de no aderir dando o tempo a Deus não significa fidelidade a si mesmo, àquilo que se fixou como tempo e modo enquanto tal, mas é fidelidade à Pessoa a quem o gesto de oração se dirige. De resto, aquele gesto seria privado de sentido se não existisse Deus.

- O segundo é a atitude física. Também o lugar, o recolhimento, a atitude pode ser importante para rezar, desde que se refira sempre à Pessoa com quem se quer dialogar.

- Em terceiro lugar, é necessário que a oração não seja o "refugo" do dia, — sal-vo casos excepcionais. A oração é o primeiro trabalho, é o tempo de trabalho; à oração não se dá o tempo livre.

Por fim, a oração é mortificação, uma vez que deve ter como objecto só o ne-cessário. As contingências particulares não são elimináveis. Mas é preciso remon-tar do ponto de partida da necessidade particular ao verdadeiro necessário e isto é libertação e domínio de si. Enquanto se sente dominante o ponto de partida da própria contingência não se tem piedade para com os outros. Sentir superado o ponto de partida particular abre à compreensão para com os outros.

Em tudo isto a oração é “sacrifício” (sacrificium laudis).

A verdadeira distracção da oração é o tédio. As coisas e os acontecimentos só não são tédio se se referem à Pessoa de Cristo. No dirigir-se ao Tu permanece contudo mortificação, a normal e inevitável distracção.

Aquilo que não é razoável não é palavra humana. No gesto da oração é necessá-ria a harmonia do razoável. Esta é reflexo da beleza que é um facto espiritual.

É necessário, portanto, ponderação atenta ao que se diz.

A meditação é o aspecto individual da oração. A oração pessoal é fonte da oração comunitária, no sentido de que deve educar para fazer sempre mais pessoalmen-te a oração comunitária.

������������������ ������������������������������ ������

�����������������������������

Page 3: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

1

Orações “Angelus” O Anjo do Senhor anunciou a Maria E ela concebeu do Espírito Santo. Eis aqui a serva do Senhor, Faça-se em mim segundo a Vossa palavra. E o Verbo se fez carne, E habita entre nós. Avé Maria … Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Oremos Infundi, Senhor, a Vossa graça em nossos almas, para que nós, que pela Anunciação do Anjo conhecemos a Incarnação de Jesus Cristo Vosso Filho, pela Sua Paixão e Morte na cruz, alcancemos a glória da Ressurreição.

Por Cristo Nosso Senhor. Ámen.

Avé-Maria Avé-Maria, cheia de Graça, o Senhor é conVosco, bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus,

Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte, Ámen

Pai Nosso Pai Nosso, que estais nos céus, Santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra, como no Céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal, Ámen.

Glória Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo Assim como era no princípio, Agora e sempre, Ámen.

Credo Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso Cri-ador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós ho-mens e para nossa salvação desceu dos Céus. E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; pade-ceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai. De novo há-de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vi-da, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas. Creio na Igreja una, santa, católica e apostó-lica. Professo um só Baptismo para a remis-são dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há-de vir. Ámen.

Símbolo dos Apóstolos

Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Se-nhor que foi concebido pelo poder do Espíri-to Santo; nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; res-suscitou ao terceiro dia; subiu aos Céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, de onde há-de vir a julgar os vivos e os mor-tos. Creio no Espírito Santo; na santa Igreja Cató-lica; na comunhão dos Santos; na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; e na vida eterna. Ámen

Page 4: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015

2

Salve Rainha Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida doçura e esperança nossa, salve. A Vós bradamos os degredados filhos de Eva, a Vós suspiramos, gemendo e chorando, neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E depois deste desterro nos mostrai Jesus, bendito fruto do vosso ventre. ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria!

Salve, Regina

Salve, Regina, mater misericordiae; vita, dulcedo et spes nostra, salve. Ad te clamamus exsules filii Hevae. Ad te suspiramus gementes et flentes in hac lacrimarum valle. Eia ergo, advocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos conver-te. Et Iesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exsilium ostende. O clemens, o pia, o dulcis Virgo Maria.

Oração de São Bernardo Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que tem recorrido à vossa protecção, implorando a vossa assistência e reclamando o vosso socorro, fosse por vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem entre todos singular, como a Mãe recorro; de vós me valho; e gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés. Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus Humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo. Ámen.

Memorare, plissima Virgo Maria, a saeculo non esse auditum quemquam ad tua currentem praesidia, tua implorantem auxilia,

tuapetentem suffragia esse derelictum. Ego, tali animatus confidentia, ad te, Virgo virgi-num Mater, curro; ad te venio, coram te ge-mens peccator assisto. Noli, Mater Verbi, verba mea despicere, sed audi propitia et exaudi. Ámen.

Acto de Consagração a Nossa Senhora

Maria Vós sois a Mãe de Cristo Mãe da comunhão que o Vosso filho nos dá, como dom sempre novo e poderoso, que é gosto de vida nova. Por meio de vós, ó Mãe, consagramos toda a nossa pessoa, todo o sofrimento e alegria que o Vosso Filho escolher para nós, e a nossa própria vida, a fim de que vos torneis a Mãe da vida e Crista dê a todos os ho-mens o mesmo gosto de vida nova que nos concedeu a nós. Ámen.

Consagração

Ó Senhora minha, ó minha Mãe, eu me ofe-reço todo a Vós, e em prova da minha de-voção para convosco vos consagro, neste dia, os meus olhos, os meus ouvidos, a mi-nha boca, o meu coração, e inteiramente todo o meu ser. E porque assim sou todo vosso, ó incompa-rável Mãe, guardai-me e defendei-me como coisa e propriedade vossa. Lembrai-vos que Vos pertenço, terna Mãe, Senhora nossa. Ai guardai-me e defendei-me como coisa pró-pria vossa.

Orações de Fátima Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-vos perdão pelos que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, Adoro-Vos profundamente, e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divin-dade de Nosso Senhor Jesus Cristo presente

Page 5: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

3

em todos os sacrários da terra, em repara-ção dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E, pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecado-res. Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno; levai as almas todas para o céu, principalmente as que mais precisa-rem.

Os Mistérios do Rosário (comentários de don Luigi Giussani)

O Santo Rosário, a mais difundida das ora-ções que nos legou a tradição popular, consagrou para sempre o aspecto mais hu-milde da vida de Nossa Senhora. Quando o rezamos, é como se a figura de Maria se impusesse no seu aspecto mais simples e mais oculto. Ao propor-vos que vivais o Ro-sário recuperando em particular a consci-ência do que Nossa Senhora é na vida do homem e do mundo, sou guiado sobretudo pela impressão mais forte que tive na Ter-ra Santa. A coisa que mais me deixou estu-pefacto e fez com que ficasse como que imobilizado em espírito – imobilizado no sentido de tomado pelo maravilhamento – foi o momento em que vi a pequena casa-gruta em que vivia Nossa Senhora e li o que estava escrito numa placa pela qual ninguém repararia: Verbum caro hic fac-tum est – o Verbo aqui se fez carne –. Fi-quei como que petrificado pela repentina evidência do método de Deus, que usou o nada, realmente o nada.

MISTÉRIOS GOZOSOS (2ªf. e Sáb.)

Como a alegria era familiar ao coração de Maria, mesmo na incomparavelmente pro-funda sensação de mistério e obscuridade em que ela penetrava dia após dia. O que sustenta essa aparente contradição? A fé. A certeza de que tudo é de Deus, de que Deus é o pai de todos, de que o mundo es-

tá destinado a uma positividade eterna. Se ela não tivesse pensado nisso todos os dias, se não se tivesse levantado de manhã pen-sando nisso, se não tivesse feito as coisas durante o dia pensando nisso, se não tives-se ido repousar à noite pensando nisso, te-ria sido uma teoria abstracta, teriam sido apenas pensamentos. O mistério que agora nos é proposto é o mistério da Encarnação de Jesus, do Seu Nascimento. Nele se especifica a lembran-ça geral, a memória geral do nosso relacio-namento com Ele, do facto de que fomos chamados por Ele. Ele nasceu, foi concebido e nasceu de uma mulher. 1º Mistério: A Anunciação do Anjo a Nos-sa Senhora

“Hás-de conceber e dar à luz um filho ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssi-mo. ” (Lc 1, 31-32)

As palavras do Anjo podiam causar na jo-venzinha a que eram dirigidas uma confu-são de maravilhamento e humildade. Mas não a ponto de serem totalmente incom-preensíveis; tinham alguma coisa pela qual podiam ser compreendidas pelo espírito daquela menina que vivia os seus deveres religiosos. Nossa Senhora abraçou-as: “Eu sou a serva do Senhor. Faça-se em mim se-gundo a vossa palavra”. Não porque enten-desse tudo, mas, porque a confusão termi-nou graças ao Mistério que se anunciava vibrando na sua carne, Nossa Senhora abriu os seus braços, os braços da sua liberdade, e disse: “Sim”. E manteve-se alerta todos os dias, todas as horas, todos os minutos da sua vida. Que palavra pode definir melhor o estado de espírito de Nossa Senhora, esse estado de espírito que gera uma atitude de espera e ao mesmo tempo decide o que fazer so-bre a atitude a tomar diante das circuns-tâncias e de todo o tempo, que palavra po-de definir melhor esse estado de espírito que a palavra “silêncio”? O silêncio, exac-

Page 6: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015

4

tamente na medida em que está repleto de memória. Duas coisas contribuíam para es-sa memória, duas coisas determinavam es-se silêncio. A primeira era a lembrança do que tinha acontecido. Conservava-se intac-ta, a memória daquilo que havia aconteci-do, a sua maravilha, o seu mistério verda-deiro, o seu mistério de verdade, porque – e esta é a segunda coisa – algo daquilo es-tava presente: aquele Menino, aquele jo-vem presente, aquele Filho presente.

2º Mistério: A Visitação de Nossa Senhora a sua prima S. Isabel

“Bendita és tu entre as mulheres e ben-dito é o fruto do teu ventre! E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?” (Lc 1, 42-43)

A Palavra de Deus não é uma expressão literária, mas o indicador de um aconteci-mento; é sempre um facto: a Palavra de Deus é Cristo. A Sua palavra parte da promessa de um acontecimento. A figura de Nossa Senhora está toda cheia de memória, da palavra do seu povo, e toda voltada para o que os acontecimentos significam (o anúncio do Anjo, a saudação de Isabel). Por isso, a ex-pressão que Isabel usou foi a melhor coisa que se poderia dizer de uma pessoa: “Feliz aquela que acreditou no cumprimento da palavra do Senhor”. Também a cada um de nós, com a trans-missão da fé, foi dito que a vida tem um destino. Na sinceridade do nosso coração pode se repetir de maneira verdadeira o eco do Magnificat. Qualquer que seja a condição actual da nossa vida, ela é grati-dão, porque é caminho para aquele destino em que veremos a Deus. Nossa Senhora, no dia seguinte ao anúncio, envolta pela luz matutina nova, decidiu ir logo ajudar a sua prima Isabel, que, pelo Anjo, soubera estar grávida de seis meses; e percorreu a pé aqueles cento e vinte qui-lómetros de estrada de montanha, veloz-mente, como diz o Evangelho. Caridade: é o que nasce dessa luz matutina com a qual

também nós nos levantaremos todas as ma-nhãs, com a qual enfrentaremos todas as ho-ras do dia, as onze horas, ou as quatro ho-ras, ou as vinte e duas horas do dia; essa luz matutina dá-nos uma ternura para com os homens, para com os homens desconhecidos e para com os homens hostis, para com os homens estranhos; já não são mais estra-nhos, mas parte de nós.

3º Mistério: O Nascimento do Menino Jesus em Belém

“Estando eles ali, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu Filho primogé-nito. Envolveu-O em panos e deitou-O nu-ma manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria” (Lc 2, 6-7)

O Natal obriga-nos a aprofundar o olhar até à raiz, até aquele ponto onde surgem as coi-sas, onde as coisas se insurgem, onde o Ser irrompe no véu do nada, ou melhor, irrompe nesse nada que se cobre do véu do aparente, que se abriga na tenda que o pastor desmon-tará depois de tê-la usado um dia e deitará fora para que não lhe pese no caminho. “Veio habitar entre nós”. O acontecimento da presença d’Aquele que é o único que po-de desvelar o mistério das coisas, ou seja, o mistério do Ser, o mistério da vida. Desvelar o Mistério significa desvelar algo que conti-nua a ser mistério. Nenhum homem jamais viu o Seu rosto, o rosto do Ser: nenhum ho-mem! Mas Tu, ó Menino que vem, vieste pa-ra desvelar esse Mistério, o Mistério que ne-nhum homem jamais viu. Com alegria no coração adoremos Cristo que nasce, que nasce todos os dias do mistério de hoje, do mistério de um hoje. Cristo nas-ce. Com a alegria do coração, a nossa me-mória fixe o olhar sobre Ele e liberte-se num novo canto; que a nossa vida se torne nova, pois o canto da vida é a própria vida. Que se torne nova, todos os dias nova, que se reno-ve. Porque esse é o fruto da certeza da sua misericórdia, da certeza de que a sua potên-cia é maior do que a nossa fraqueza. Certos do “Deus connosco”. Só dessa certeza pode vir a alegria, só da certeza do “Deus connos-

Page 7: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

5

co” pode vir a alegria. Não há nenhuma outra fonte. A consciência dessa Presença é maior do que qualquer coisa que a pessoa possa fa-zer pelos outros. Nós fomos chamados a ter consciência dessa Presença; por isso, além do desejo de uma afeição quotidiana para com Ele, nós temos de desejar com todo o coração que a nossa vida dê teste-munho disso no mundo, que por meio de nós o mundo venha a dar-se conta, ou se-ja, que a nossa vida seja de facto consci-entemente imanente, que participe da vi-da do povo de Deus, do Seu povo, povo que Lhe pertence, todo cheio de boas obras.

4º Mistério: Apresentação do Menino Je-sus no Templo

“Terminados os dias da purificação se-gundo a Lei de Moisés, levaram o Menino para Jerusalém a fim de O apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na Lei de Deus” (Lc 2, 22-23)

Quando Nossa Senhora foi ao templo, oito dias depois, para oferecer o seu Primogéni-to, no grande templo com o qual todo ju-deu identificava a majestade de Deus, ela sentia se certamente como que anulada pela grandeza e pela majestade de Deus. Mas, ao perceber a grandeza do templo, um sentimento a penetrava e prevalecia: a grandeza de Deus era o Menino que tinha nos braços, era o Menino que chorava, era o Menino que ela amamentava. Vendo de que coisa Deus fez nascer aquele que é o factor decisivo da história e do mundo, co-mo dirá o velho Simeão, e que divide o mundo em dois – pois é uma proposta dian-te da qual o coração do homem se divide em dois, e todos os corações dos homens se dividem em dois –, vendo de que coisa nasceu Aquele que as portas dos infernos não poderão mais destruir, uma força hu-mana que é a maior de todas, vendo de que coisa surgiu, a pessoa fica como que petrificada pelo maravilhamento. Tudo o resto pode ser compreendido por todos os homens - o sentido religioso, as-

sim o chamam –, mas esse impacto e esse acontecimento é totalmente impensável, imprevisível, totalmente novo, total e ver-dadeiramente incompreensível: Deus feito parte da nossa experiência, da experiência do nosso eu, da experiência da maternida-de de Nossa Senhora, da experiência de cada acção que fazemos. 5º Mistério: O Menino Jesus entre os dou-tores

“Três dias depois encontraram-nO no Templo sentado entre os doutores, ouvin-do e fazendo perguntas. Todos que O escutavam maravilhavam-se da sua inteli-gência e das suas respostas.” (Lc 2, 46-47)

Experimentemos identificar-nos com a rea-lidade de Nossa Senhora. Quem era a sua autoridade, a autoridade para ela e para seu esposo, José? A presença daquele Meni-no, que talvez ainda não falasse, que quan-do começou a falar e a agir surpreendeu a todos aos doze anos, que impressiona como um instante de Mistério que levanta o seu véu; a autoridade era aquela Presença, por isso a regra era a convivência com aquele Menino, com o Menino deles. Tudo isso vive como consciência. A consciência é um olho arregalado para o real, que como tal não passa. Factum infectum fieri nequit: não se pode impedir que algo que é feito, seja. O que é feito permanece para sempre. A regra de Nossa Senhora era a presença da-quele Menino. Assim, roguemos a Nossa Se-nhora que nos ajude a participar dessa consciência com a qual viveu; que uma Presença constitua a regra da nossa vida, e portanto a companhia da nossa vida e a autoridade na nossa vida e a doçura na nossa vida. Esse ideal deve ser o ideal ro-gado, pedido, solicitado, mendigado, todos os dias. Voltamo-nos para ti, ó Nossa Senhora, para que purifiques o nosso coração de toda es-sa névoa que normalmente o envolve e im-pede que nossos olhos vejam, em toda a potência e inexorabilidade da tua presença

Page 8: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015

6

determinante, o significado, o sentido, a consistência de qualquer coisa que toca-mos, qualquer que seja a formulação que usemos. Nossa Senhora, faz com que sejamos fiéis a olhar para a tua presença todas as vezes que tu nos acordares, todas as vezes que for necessário para nós; por isso o Angelus da manhã, do meio-dia e da noite constitu-em os alicerces da nossa beleza e da nossa construtividade no mundo. Aconteça connosco, ó Espírito de Deus, co-mo aconteceu com Nossa Senhora: o misté-rio do Verbo fez-se carne nela, fez-se par-te da sua carne e coincidia com as suas ex-pressões. Que a memória de Cristo se tor-ne, assim, carne da nossa carne, torne-se parte de todas as nossas acções, conselho para cada pensamento e chama para cada afeição, e que se mova em nós em todos os nossos movimentos, de manhã até a noite, ao comer e ao beber, em todo o viver e no nosso morrer.

MISTÉRIOS DOLOROSOS (3ª e 6ºf.)

Nossa Senhora sentia que a criatura que tinha no seu ventre teria de morrer um dia – e isso qualquer mãe, mesmo tentando não pensar, sente –, mas não que ressusci-taria. Esse é o único acontecimento com-parável ao mistério do início; tal como a semente se formou dentro do seu seio, da mesma forma, tendo chegado a maturida-de do tempo, ressuscitaria; aquele homem ressuscitaria. Mas ela não sabia disso. "Faça-se em mim segundo a tua palavra", na boca de Nossa Senhora, é o mesmo que: "Senhor, seja feita a tua vontade" na boca de Cristo. A correspondência entre o Ange-lus e a Cruz está no facto de que ambos dizem: "Faça-se em mim segundo a tua pa-lavra". É o gesto da obediência na sua pura essencialidade. A sua pura essencialidade faz surgir, de alguma coisa que Deus pede, uma arrancada para passar por uma cruz e uma ressurreição das quais brota uma fe-cundidade sem limites, uma fecundidade

que tem o limite do desígnio de Deus. A fecundidade brota da virgindade. Só assim se pode conceber a virgindade.

1º Mistério: A Agonia de Jesus no Horto

“Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente e o suor tornou-se como grossas gotas de Sangue, que caíam por terra. Depois de ter orado, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir devido à tristeza” (Lc 22, 44-45)

“Minha alma está agora conturbada. Que direi? Pai, salva-me desta hora [ante o pen-samento do sacrifício, ante o pensamento da morte, da renúncia de si...]? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim [por isso, por essa condição fui escolhido, chamado, educado amorosamente pelo mistério do Pai, pela caridade do Filho, pe-la luz quente do Espírito. Minha alma está agora conturbada. Que direi? “Pai, salva-me desta hora? Manda embora esta condi-ção, Pai, leva com esta condição...” Devo dizer isso? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim!]”. Assim, poderei dizer no final: “Pai, glorifica o teu nome [glorifica a Tua vontade, concretiza, reali-za o teu desígnio], que eu não compreendo [porque ele não compreendia a grande in-justiça]. Pai, glorifica o Teu nome, diante do qual estou em temor e tremor, em obe-diência, ou seja, em amor: a minha vida é o Teu desígnio, é a Tua vontade”. Quantas vezes – ao rezarmos ao Espírito e a Nossa Senhora – teremos de reler este tre-cho para nos identificarmos com o instante mais lúcido e mais fascinante em que se exprimiu a consciência do homem Cristo Jesus; ela pode ser reconhecida, desde os seus recônditos mais profundos até os cu-mes mais altos do seu exemplo de amor ao Ser, de respeito à objectividade do Ser, do amor à sua origem e ao destino, e ao con-teúdo do desígnio do tempo, da história. "Pai, se é possível, que eu não morra; con-tudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita". É a aplicação suprema do nosso re-conhecimento do Mistério, ao aderirmos ao

Page 9: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

7

homem Cristo ajoelhado e banhado do san-gue que lhe escorre pelos poros da pele na agonia do Getsemani: a condição para se ser verdadeiro num relacionamento é o sacrifício. 2º Mistério: A Flagelação de Jesus

“Todo o povo respondeu : «O sangue dele caia sobre nós e sobre nossos fi-lhos». Então soltou-lhes Barrabás. Quan-to a Jesus, depois de o ter mandado açoitar, entregou-O para ser crucifica-do.” (Mt 27, 25-26)

A companhia do Homem-Deus à nossa vida tornou-se tragédia, inconcebível, inimagi-nável, que desafia a imaginação de qual-quer um. Em todos os séculos da história, não se po-de imaginar – nem por hipótese, nem que fosse numa fábula – uma tragédia maior do que esta: a companhia de Deus feito carne esquecida, ultrajada pelo homem; uma tragédia que nasce do cinismo de seguir os nossos instintos. Encontram-se, em torno desse “lenho”, a maldade do homem que perde a consciên-cia do chamado do Infinito e as desgraças que esse crime provoca, de forma tal que a morte do Homem-Deus é a soma e o sím-bolo de todas essas desgraças. Mas, ao mesmo tempo, encontra-se aí também a potência irresistível de Deus, pois justa-mente essa suprema desgraça, essa malda-de, torna-se instrumento para uma vitória sobre a própria maldade e para a sua re-denção. Esse é o enigma que Deus mantém na vida, pois esse grande desígnio de bon-dade, de discernimento, de sabedoria e de amor tem de ser provação, tem de pôr em prática a ideia de provação. Por quê prova-ção? Porque o mundo está no mal, o mun-do está posto no Maligno.

3º Mistério: A Coroação de Espinhos

“Despiram-nO e envolveram-nO num manto de púrpura. Depois, colocaram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos e na mão direita uma vara. Dobrando o joelho diante d’Ele, escarneciam-nO dizendo: “Salve, rei dos judeus”. (Mt 27, 28-29)

Aquela cabeça pequenina, que Nossa Se-nhora, como toda mãe diante do filho re-cém-nascido, terá tomado nas mãos sem a apertar, terá acariciado com delicadeza como toda mãe faz, terá olhado com mara-vilhamento e com admiração, estava desti-nada a ser coroada de espinhos. Salve caput cruentatum. Como Nossa Se-nhora experimentava em si as consequên-cias desse mal do mundo, sem particulari-zação e sem acusações, mas como dor que já era imensa e viria a culminar no olhar para a morte de seu Filho! 4º Mistério: A Via Sacra até ao Calvário

“Levaram, pois, consigo Jesus. E carre-gando às costas a cruz, saiu para o lugar chamado Crânio, que em hebraico se diz «Gólgota».” (Jo 19, 16-17)

Deus, que veio viver entre os homens, vai para o patíbulo: derrotado, um fiasco; um momento, um dia, três dias de nada, nos quais tudo acabou. Essa é a condição, a condição do sacrifício no seu significado mais profundo: parece uma derrota, pare-ce que não se consegue, parece que os ou-tros é que têm razão. Ficar com Ele, mes-mo quando parece que tudo está acabando ou já acabou, ficar ao seu lado como fez Sua Mãe: só essa fidelidade nos leva, cedo ou tarde, à experiência que nenhum ho-mem fora da comunidade cristã pode fazer no mundo: a experiência da Ressurreição. E nós somos capazes de deixá-lo por outro amor, somos capazes de deixar esse Cristo que se entrega à morte para nos salvar do mal, ou seja, para que nós mudemos, para que o Pai eterno regenere em nós o que o crime do esquecimento venceu! Esse ho-mem, que se lança sobre a cruz para em-punhá-la, para abraçá-la, para pregar-se sobre ela, para morrer, uma coisa só com aquele lenho, “nós o deixaremos por outro amor”? Esse Homem dá tudo por nós, e nós temos de deixá-lo por outro amor? 5º Mistério: Crucifixão e Morte de Jesus

“Soltando um grande brado, Jesus expi-rou. E o véu do Templo rasgou-se em,

Page 10: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015

8

duas partes, de alto a baixo” (Mc 15, 37-38)

Nós somos pecadores e a morte de Cristo salva-nos. A morte de Cristo faz com que nosso passado se torne bem, qualquer que seja ele, mas o nosso passado está cheio da sombra que se chama pecado. E é a morte de Cristo que nos salva. Não pode-mos reconhecer Cristo na cruz sem enten-der e sentir imediatamente que essa cruz tem de nos alcançar, que não podemos mais fazer objecções ao sacrifício; não há mais objecção ao sacrifício desde que o Senhor morreu. Justamente por meio do nosso olhar fito na cruz – onde está Aquele que nos olha com o olhar fito da eternidade, fito de piedade e de desejo de salvação, tendo piedade de nós e do nosso nada –, por meio do olhar fito na cruz, torna-se experiência de re-denção aquilo que seria uma coisa tão es-tranha a ponto de nos parecer abstracta, criada arbitrariamente. É fitando a cruz que nós aprendemos experimentalmente a perceber nela a Presença que invade e a necessidade irresistível da graça para a perfeição da nossa vida, para a alegria da nossa vida. É em Nossa Senhora que a ado-ração do nosso coração encontra o seu exemplo e a sua forma. Com efeito, a cruz não foi condição apenas para Cristo: não é isolada em si mesma que a morte de Cristo na cruz salva o mundo. Não é sozinho que Cristo salva o mundo, mas com a adesão de cada um de nós ao sofrimento e à cruz. É o que diz São Paulo: "Completo, na minha carne de homem, o que falta das tribula-ções de Cristo, da paixão de Cristo". Contigo, ó Maria, reconhecemos que a re-núncia que é pedida à nossa vida não é castigo, mas condição para a salvação da vida, para a sua exaltação, para o seu in-cremento. Maria, faz com que a nossa oferta, a oferta da nossa vida ajude o po-bre mundo, este pobre mundo, a enrique-

cer-se na consciência de Cristo e a alegrar-se no amor a Cristo.

MISTÉRIOS GLORIOSOS (4ªf. e Dom)

Nossa Senhora, quando rezava com as pala-vras dos profetas, quando esperava, como humilde e fiel judia, não podia imaginar que aquela semente seria concebida, e co-mo seria concebida. Não podia pensar, quando o via brincar, pequeno, quando co-meçou a ouvi-lo chocar a mentalidade co-mum, o que aconteceria depois da sua morte, na sua morte. Aquela semente colo-cada em seu seio, aquela semente que de-pois foi colocada no seio da morte, da mes-ma forma como fez dela a rainha do mun-do, fez da morte a sua última escrava, ven-ceu-a. É a vitória sobre a morte. É preciso rezar a Nossa Senhora com todo o coração, porque nela começou todo o Mis-tério; uma vez que Deus é o único que tra-ta o homem segundo a totalidade do seu eu, ela começou a entender quando come-çou a ser mãe, quando disse: “Sim”. Foi então que ela começou a entender. Come-çou. Era ainda um infinitésimo, mas come-çou a entender. E o que começou a fazer? Começou trazer em si, a “gerir”. O quê? A Realidade de cada coisa que existe no mundo. Concebendo a Cristo, começando a gerir Cristo, começou a conceber, começou a gerir cada coisa que existe no mundo, pois cada coisa que existe no mundo é feita de Cristo. “Tudo n’Ele consiste”.

1º Mistério: Ressurreição de Jesus

“Por que buscais entre os mortos Aquele que está vivo? Não está aqui, ressusci-tou! Lembrai-vos do que vos disse, quan-do estava ainda na Galileia, dizendo que o Filho do Homem havia ser entregue às mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitaria ao terceiro dia”. (Lc 24, 5-7)

Morreu para ressuscitar, pois a glória de Deus por meio da sua vinda ao mundo não é a cruz, mas a ressurreição. Morreu para ressuscitar e ressuscitou para ficar. O mila-

Page 11: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

9

gre pelo qual se entende que é Deus mes-mo que continua entre nós é a unidade, a impossível unidade entre os homens. O mistério pascal, antes de mais nada, é para nós chamado de atenção para o maior acontecimento que o tempo da história pode hospedar em si. Todo o tempo e a história são feitos para isto: para que exis-tam pessoas que renasçam no Baptismo, renasçam a partir da morte e ressurreição de Cristo; a fé em Cristo morto e ressusci-tado torna-nos novas criaturas. Este é o verdadeiro sujeito da vida do mundo, o sujeito verdadeiro, aquele que ouve a voz da verdade, a voz d’Aquele que é a Verda-de, d’Aquele que morreu para testemunhar a Verdade que Ele é: quem vive a consci-ência de ser uma nova criatura. Essa cria-tura nova que o Baptismo traz para dentro de nós – não obstante deixe todos os traços do homem velho em nós e, portanto, esta-beleça um confronto, uma luta quotidiana que não podemos evitar –. Nessa novidade, trazida pelo Baptismo, o nosso eu, lenta-mente, confunde-se cada vez mais com Cristo. Dizer “Eu” significa dizer cada vez mais “Tu”, “Tu, ó Cristo”, e julgar de ma-neira diferente quer dizer julgar segundo a Sua mentalidade: metanoeite, mudem de mentalidade. E amar quer dizer cada vez mais amar o que Cristo ama e como Cristo ama, por que Cristo ama: a identidade en-tre nós e Cristo, ou seja, a vida como me-mória.

2º Mistério: Ascensão de Jesus ao Céu

“Levou-os em seguida até perto de Betâ-nia. Ali, levantou as mãos e os abençoou. Enquanto os abençoava, separou-se de-les e foi levado ao Céu.” (Lc 24, 50-51)

A Ascensão é a festa do humano. Com Je-sus, a humanidade física, carnal, entra no domínio total com o qual Deus faz todas as coisas. Cristo desce até a raiz de tudo. É a festa do milagre: um acontecimento que por sua força chama a atenção para o mis-tério de Deus.

Por isso a Ascensão é a festa na qual todo o Mistério se concentra e onde se concentra toda a evidência das coisas. É uma festa extraordinária e estranhíssima, onde todos os rostos de todas as coisas se encontram para gritar ao homem ignaro, distraído, sombrio e “malvisto” a luz de que são fei-tas; para dar-lhe de novo o significado pelo qual ele entrou em relação com todas as coisas, para gritar-lhe a tarefa que tem nas coisas, a sua parte entre as coisas. Pois tu-do depende dele: todas as coisas foram fei-tas para o homem. Qualquer um que tenta dar testemunho do Senhor com a sua vida já faz parte do mis-tério da sua Ascensão, pois Cristo elevado ao céu é o Homem pelo qual tudo é feito, o Homem que começou a tomar posse das coisas do mundo. 3º Mistério: Descida do Espírito Santo so-bre Nossa Senhora e os Apóstolos

“Viram então aparecer umas línguas à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e come-çaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimis-sem” (Act 2, 3-4)

Veni Sancte Spiritus, veni per Mariam. Vem, Espírito Santo (o Criador). Vem por meio de Nossa Senhora. Por meio da carne do tempo e do espaço, porque Nossa Se-nhora é o início da carne como tempo e espaço: é por meio dela que o Espírito vem. É através de Nossa Senhora que toda a re-novação do mundo passa; tal como passou por Abraão a escolha do povo eleito, da mesma forma o novo e definitivo povo elei-to – do qual fomos chamados a participar – passa pelo ventre de uma menina, pela carne de uma mulher. Por isso a simpatia e a afeição por ti, mãe de Deus e mãe nossa, é grande, como a que se tem por teu Filho. O Espírito é a energia com a qual a Origem, o Destino e a Feitura de tudo, mobilizando

Page 12: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 10

tudo segundo o seu desígnio, invadiu a nos-sa vida e levou-a até o coração desse de-sígnio, quer quiséssemos quer não. A única condição é que não o tivéssemos recusado, ou seja, que não o recusemos, ou seja, que não o venhamos a recusar. O Espírito nos revelou que Cristo morreu e ressuscitou, e esse é o significado exaustivo da minha vi-da. Este é o dom de Cristo ressuscitado, o dom do Espírito, que nos cura na origem, nos dá de novo a grande possibilidade, que é re-conhecer que tudo vem de Deus por meio de Cristo, que é o método usado por Deus.

4º Mistério: Assunção de Nossa Senhora

”E vi a cidade santa, a nova Jerusalém que descia do Céu, de junto de Deus, como uma esposa adornada para o seu esposo” (Ap 21, 2)

Na Ascensão, o Senhor, com a sua Ressur-reição, tornou-se o dominador do mundo, e por isso há alguém entre nós que salvará tudo o que somos, que é tão poderoso a ponto de salvar a nossa vida, a ponto de conservá-la toda, para no-la dar toda de novo perdoando-nos os nossos pecados. A demonstração disso é o mistério da Assun-ção, no qual o Senhor tomou a humanidade de Nossa Senhora e não a deixou à mercê da morte, nem por um momento. Com o mistério da Assunção, o Senhor diz: “Vede, eu não deixarei que percais nada do que vos dei, do que usastes, do que sa-boreastes, até daquilo que usastes mal, se fordes humildes diante de mim. Ou seja, bem-aventurados os pobres de espírito: se reconheceis que tudo é graça, que tudo é misericórdia, porque os vossos critérios são nada, o meu critério é tudo”. Nossa Senho-ra já está nesse nível último, profundo do Ser, do qual todos os seres extraem sua consistência, sua vida e seu destino. Para isto foi elevada ao céu, onde está o misté-rio de Deus: para que fosse para nós mãe quotidiana do acontecimento.

A glorificação do corpo de Nossa Senhora indica o ideal da moralidade cristã, a valo-rização de cada momento, o valor de cada instante. Por isso a valorização da vida, da nossa existência, da vida do corpo do mun-do, é a exaltação da matéria vivida pela alma, vivida pela consciência que é relaci-onamento com Deus, é a valorização da nossa vida terrena, não porque agraciada por particulares circunstâncias, mas porque por meio de cada uma das menores coisas se veicula a nossa relação com o Infinito, com o mistério de Deus.

5º Mistério: Coroação de Nossa Senhora Rainha do Céu e da Terra

“Depois, apareceu um grande sinal no Céu, uma mulher revestida de Sol, tendo a Lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça ” (Ap 12, 1)

Rainha do céu quer dizer rainha da terra, rainha da verdade da terra, da terra na sua verdade permanente, porque veritas Domi-ni manet: a verdade do Ser permanece. A espera do regresso de Cristo – e isto cada um de nós é chamado a experimentar – é a paixão, a alegria, a esperança cheia de alegria daquele dia em que todos seremos realmente nós mesmos, toda a humanidade O reconhecerá e Cristo realmente será “tudo em todos”. Esse momento é o signifi-cado de tudo o que existe, é o significado de todo o tempo, de tudo o que se faz, e é o vértice, o coração da esperança. Porque a glória do homem depende disso, nessa adesão o homem começa a gritar a glória de Deus. A nossa vida procura a glória porque é feita para ela, e a glória não é algo prometido para o amanhã, mas uma promessa já inici-ada e já cumprida; e que se realiza para nós na medida em que a nossa pessoa se oferece e reconhece que a consistência de tudo é Cristo. O Paraíso não está noutro lugar: será aqui. O Paraíso é a verdade to-

Page 13: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

11

tal entre ti e mim, na relação entre ti e mim; é a verdade total na relação entre mim e a imagem que me vem pelo pensa-mento, entre mim e as coisas. O Paraíso é uma festa que realiza “toda a alegria de que é ávido o coração”). Que a mão de Nossa Senhora nos introduza no Mistério, porque esse é o sentido dos nossos dias, o significado do tempo que passa; que o seu olhar nos guie no cami-nho, que o seu exemplo nos eduque, que a sua figura constitua o desígnio do nosso propósito. Mãe generosa, que geras para nós a grande presença de Cristo, nós que-remos ser consolados, confortados, alimen-tados, enriquecidos, amamentados por es-sa presença que renasceu da tua carne, e por isso te pedimos que nos tornes partíci-pes da tua liberdade, da tua disponibilida-de, da tua vida.

MISTÉRIOS LUMINOSOS (5ªf.)

1º Mistério: Baptismo de Jesus no Jordão

“Depois de baptizado, Jesus saiu da água e eis que os céus se abriram e viu o Espí-rito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E do céu veio uma voz que dizia: “Este é o Meu Filho muito amado, no Qual pus toda a Minha com-placência”. (Mt 3, 16-17)

Estavam lá de boca aberta e olhos escan-carados a olhá-Lo, a ouvi-Lo, atentíssimos. De repente um do grupo, um homem jo-vem, começa a andar, tomando o caminho ao longo do rio em direcção ao norte. E João Baptista imediatamente, fixando-o grita: «Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo!». É um primeiro gesto fundamental pelo qual na vida Igreja, um homem se torna ima-nente ao mistério de Cristo. É o baptismo: o gesto com que Cristo marca o homem e o traz dentro de si. Uma amálgama que se torna determinante para a fisionomia do homem que lhe toca na fibra mais íntima, que o transforma.

2º Mistério: Bodas de Caná

“No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus esta-va presente. Jesus e os discípulos tam-bém foram convidados para a boda.” (Jo 2, 1-2)

O milagre das bodas de Caná é uma das páginas mais significativas da concepção que Jesus tem da vida: qualquer aspecto da existência, mesmo o mais banal é digno de uma relação com Ele e portanto, tam-bém da sua intervenção. Todos os tipos de acontecimento são determinantes, isto é, reveladores precisamente pela específica e única característica do facto “Jesus” cuja acção em relação ao homem se realiza de um modo extremamente detalhado e con-creto.

3º Mistério: O anúncio do Reino de Deus

“Jesus veio para a Galileia, proclamando o Evangelho de Deus: «Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e acreditai no Evange-lho»” (Mc 1, 14-15).

Completou-se o tempo, o reino de Deus está próximo (Mc 1,15). Cada dia da nossa vida, cada instante, cada passo do nosso caminho ecoa isto. Porque está completo, porque tudo aquilo que se pode dizer está dito, tudo: que «não só de pão vive o ho-mem», que a realidade não é aparência, que a realidade é Cristo, a palavra saída da boca de Deus 4º Mistério: A Transfiguração

“Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e levou-os a sós para um monte alto e afastado. E transfigurou-se diante deles. O Seu rosto resplandeceu como o sol e as Suas vestes tornaram–se brancas como a luz” (Mt 17, 1-2)

O instante do tempo tem significado como regresso de Cristo, e aquele dia será o dia da glória; mas cada instante é instante da glória, e a glória de Cristo no instante é a transfiguração do conteúdo do instante, é

Page 14: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 12

a transfiguração que vem naquilo que fa-zemos. Esta transfiguração é a verdade do huma-no, é a verdade que fazemos, origem de uma humanidade diferente. 5º Mistério: Última Ceia e instituição da Eucaristia

“Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciar a bênção, partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo: “Tomai e comei, isto é o Meu Corpo”. Tomou em seguida um cálice, deu gra-ças e entregou-lho, dizendo: “Bebei to-dos dele” (Mt 26, 26-27)

Tudo o que nós somos grita a Deus a ora-ção que está no centro da missa: tudo de-ve tornar-se corpo e sangue de Cristo, par-te do mistério de Cristo que já libertou o mundo com a sua morte e ressurreição, mas que investe a nossa acção com a pos-sibilidade de colaborar nesta libertação. Todo o mundo tem necessidade da nossa fé, que a nossa vida mude pela fé, que se torne morte e ressurreição de Cristo ope-rante na história.

Laudes

É a oração da manhã do Ofício das Ho-ras, a que também se dá o nome de Lau-des matutinas. Evoca especialmente a ressurreição de Cristo, o Sol nascente, que veio iluminar e santificar o tempo da manhã

Page 15: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

13

“Benedictus” Bendito o Senhor Deus de Israel, *

que visitou e redimiu o seu povo

e nos deu um Salvador poderoso *

na casa de David, seu servo,

conforme prometeu pela boca dos seus santos, *

os profetas dos tempos antigos,

para nos libertar dos nossos inimigos *

e das mãos daqueles que nos odeiam

para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, *

recordando a sua sagrada aliança

e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, *

que nos havia de conceder esta graça:

de O servirmos um dia, sem temor, *

livres das mãos dos nossos inimigos,

em santidade e justiça, na sua presença, * todos os dias da nossa vida.

E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, *

porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos,

para dar a conhecer ao seu povo a salvação *

pela remissão dos seus pecados,

graças ao coração misericordioso do nosso Deus, *

que das alturas nos visita como sol nascente,

para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte *

e dirigir os nossos passos no caminho da paz.

Glória ao Pai e ao Filho *

e ao Espírito Santo,

como era no princípio,*

agora e sempre. Ámen. Lc 1, 61-79

Benedictus dominus … é a oração de Zacarias quando nasceu o seu filho João

Baptista, que lhe foi anunciado pelo Anjo, no momento em que readquire o uso

da palavra. Na Liturgia das Horas esta oração é recitada nas Laudes matutinas.

Page 16: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 14

Hinos Antes do alvorecer

Antes do alvorecer

na espera vigiamos:

tudo se cala e canta,

no silêncio, o Mistério.

O nosso olhar procura

na densa noite um Rosto:

na alma a Deus se eleva

mais puro o desejo.

Já se retira a sombra,

cedendo à luz que avança;

floresce a esperança

do dia que não morre.

Em breve a nova aurora

nos encherá de luz.

A tua misericórdia,

Ó Pai, nos dê a vida.

E este novo dia

que a aurora nos desvela

dilate em todo o mundo

o reino do Teu Filho.

E a Ti, ó Pai Santo,

e ao Teu eterno Verbo

ao Amor infinito,

louvor se dê para sempre. Ámen.

Na aurora que aclama o dia Na aurora que aclama o dia,

vestidas de luz e silêncio,

as coisas despertam do escuro

como era no início do mundo.

E nós, que de noite velamos,

atentos sempre à fé do mundo,

esperando o regresso de Cristo,

para a luz olhamos agora.

Ó Cristo, clara luz divina,

imagem esplendente do Pai,

em Vós nos vestimos de esperança,

vivemos de amor e alegria.

Ao Pai nós cantamos um hino,

ao Filho que é Luz da Luz,

e glória ao Espírito Santo

que reina nos séculos. Ámen.

Page 17: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

15

Laudes de Quinta-feira

P. Deus, vinde em nosso auxílio.

T. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.

P. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Como era no princípio, agora e sem-pre. Ámen.

HINO (pág. 14)

SALMODIA

Ant. Agora sois luz no Senhor.

T. Caminhai como filhos da luz.

Salmo 5,2-10.12-13 - Posso entrar em tua casa, Senhor

Sal. Senhor, ouvi as minhas palavras, repa-rai no meu lamento. *

Atendei a voz do meu clamor, ó meu Rei e meu Deus

1 c. Eu Vos invoco, Senhor, pela manhã, e ouvis a minha voz;*

de manhã vou à vossa presença e es-pero confiado.

2 c. Vós não sois um Deus que se agrade do mal, *

o perverso não tem aceitação junto de Vós +

nem os ímpios suportam o vosso olhar.

Vós detestais todos os malfeitores *

e exterminais os que dizem mentiras. +

O Senhor abomina os sanguinários e os fraudulentos.

Mas, por vossa bondade, eu entrarei na vossa casa, *

com reverência me prostrarei no vosso templo santo.

Senhor, guiai-me na vossa justiça,

por causa dos meus inimigos, *

aplanai diante de mim o vosso cami-nho.

Porque na boca deles não há sinceri-dade, *

no seu coração só se encontra malí-cia.

A sua garganta é um sepulcro aberto, *

a sua língua profere lisonjas.

Alegrem-se e rejubilem para sempre

os que em Vós confiam: *

Vós protegeis e alegrais os que amam o vosso nome.

Porque Vós, Senhor, abençoais o justo *

e o envolveis num escudo de benevo-lência.

Glória ao Pai e ao Filho * e ao Espírito Santo,

como era no princípio, * agora e sem-pre. Ámen.

Ant. Agora sois luz no Senhor.

T. Caminhai como filhos da luz.

LEITURA BREVE (Ef 2,19-22)

Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos e mem-bros da família de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, que tem Cristo Jesus como pedra angular. Em Cristo, toda a construção, bem ajusta-da, cresce para formar um templo santo do Senhor; e em união com Ele, também vós sois integrados na construção, para vos tornardes, no Espírito Santo, morada de Deus.

RESPONSÓRIO BREVE

L. Se Deus nos amou primeiro, também

Page 18: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 16

nós devemos amar –nos uns aos outros.

T. Se Deus nos amou primeiro, também nós devemos amar –nos uns aos outros.

L. Quem não ama não conhece a Deus, por-que Deus é amor.

T. Também nós devemos amar –nos uns aos outros.

L. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Se Deus nos amou primeiro, também nós devemos amar –nos uns aos outros.

CÂNTICO EVANGÉLICO (Benedictus, pág. 13)

Ant. Escutai a Minha voz e guardai a Minha aliança.

T. Sereis a Minha propriedade entre todos os povos.

Pai nosso

ORAÇÃO

Dilatai, ó Pai, a medida do nosso coração, para que, possuídos pelo amor de Cristo, possamos com Ele compartilhar a neces-sidade do homem e nela servi-Lo. Ele que é Deus convosco na unidade do Espí-rito Santo.

T. Ámen.

Laudes de Sexta-feira

P. Deus, vinde em nosso auxílio.

T. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.

P. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

HINO (pág. 14)

SALMODIA

Ant. Feliz de quem encontra em Vós a sua força,

T. e decide no seu coração a santa viagem.

Salmo 142, 1-11 - Só em Vós confio

Sal. Ouvi, Senhor, a minha oração, *

pela vossa fidelidade, escutai a minha súplica, +

atendei-me, pela vossa justiça.

1 c. Não chameis a juízo o vosso servo, *

porque ninguém é justo diante de Vós.

2 c. O inimigo persegue a minha alma, *

lançou por terra a minha vida,

atirou comigo para as trevas, *

como se há muito tivesse morrido.

Quebrantou-se-me o ânimo, *

gelou-se-me o coração dentro do peito.

Recordo os dias de outrora, *

medito em todas as vossas obras +

e considero as maravilhas que operastes.

Estendo para Vós as minhas mãos; *

como terra sem água, a minha alma tem sede de Vós.

Ouvi-me, Senhor, sem demora, *

porque se apaga a minha vida.

Não me escondais a vossa face: *

seria como os que descem ao sepulcro.

Fazei-me sentir, desde a manhã, a vossa bondade, *

porque em Vós confio.

Mostrai-me o caminho a seguir, *

porque a Vós elevo a minha alma.

Livrai-me dos meus inimigos, *

porque em Vós ponho a minha esperança.

Ensinai-me a cumprir a vossa vontade, *

porque sois o meu Deus.

O vosso espírito de bondade *

me conduza por caminho recto.

Por vosso nome, Senhor, conservai-me a vida, *

por vossa clemência, tirai da angústia a minha alma.

Glória ao Pai e ao Filho * e ao Espírito Santo,

como era no princípio, * agora e sempre. Ámen.

Ant. Feliz de quem encontra em Vós a sua força,

T. e decide no seu coração a santa viagem.

LEITURA BREVE (Heb 12,2-4)

Page 19: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

17

Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz desprezando a sua ignomí-nia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão gran-de hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.

RESPONSÓRIO BREVE

L. Alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós: completo, na minha carne, o que falta à paixão de Cristo.

T. Alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós: completo, na minha carne, o que falta à paixão de Cristo.

L. Em benefício do seu Corpo que é a Igreja.

T. Completo na minha carne o que falta à pai-xão de Cristo.

L. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós: completo, na minha carne, o que falta à paixão de Cristo.

CÂNTICO EVANGÉLICO (Benedictus, pág. 13)

Ant. Não poderão vencer-te:

T. Eu te formei e te estabeleci como aliança para o povo.

Pai nosso

ORAÇÃO

Ó Pai, no vosso misterioso desígnio de Salvação, unistes a paixão dos membros com a de Cristo, servo redentor: concedei aos que sofrem pelo Seu nome a graça de serem pacientes na prova e de perdoarem aos que os perseguem. Ele que é

Deus convosco na unidade do Espírito Santo� T. Ámen.

Laudes de Sábado

P. Deus, vinde em nosso auxílio.

T. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.

P. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

HINO (pág. 14)

SALMODIA

Ant. É hora de despertar-mos do sono:

T. a salvação está próxima.

Salmo 120 - O Senhor cuida sempre de ti

Sal. Levanto os meus olhos para os mon-tes: * donde me virá o auxílio?

1c. O meu auxílio vem do Senhor, * que fez o céu e a terra.

2c. Não permitirá que vacilem os teus passos, * não dormirá Aquele que te guarda.

Não há-de dormir nem adormecer * Aquele que guarda Israel.

O Senhor é quem te guarda, * o Senhor está a teu lado, Ele é o teu abrigo.

O sol não te fará mal durante o dia * nem a lua durante a noite.

O Senhor te defende de todo o mal, * o Senhor vela pela tua vida.

Ele te protege quando vais e quando vens, * agora e para sempre.

Glória ao Pai e ao Filho * e ao Espírito Santo,

como era no princípio, * agora e sem-pre. Ámen.

Ant. É hora de despertar-mos do sono:

T. a salvação está próxima.

LEITURA BREVE (Filip 1,3 - 6)

Dou graças ao meu Deus, todas as vezes que me lembro de vós, e em todas as minhas orações peço sempre por todos com alegria, recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho, desde o primeiro dia até ao presente. Tenho ple-na confiança de que Aquele que começou em vós tão boa obra há-de levá-la a bom termo até ao dia de Cristo Jesus.

RESPONSÓRIO BREVE

L. Sereis minhas testemunhas até aos confins da terra.

Page 20: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 18

T. Sereis minhas testemunhas até aos con-fins da terra.

L. Eu estou sempre convosco até ao fim do mundo.

T. Até aos confins da terra.

L. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Sereis minhas testemunhas até aos con-fins da terra.

CÂNTICO EVANGÉLICO (Benedictus, pág. 13)

Ant. Ouvi a voz do Senhor: "Quem enviarei?"

T. E eu respondi: “Eis-me aqui, enviai-me a mim”.

Pai nosso

ORAÇÃO

Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Laudes de Domingo P. Deus, vinde em nosso auxílio.

T. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.

P. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Como era no princípio, agora e sempre. Amen.

HINO (pág. 14)

SALMODIA

Ant. Pela justiça contemplaremos a vossa face

T. ao despertar me saciarei da vossa pre-sença.

Salmo 45 - Confiantes na morada de Deus

Sal. Deus é o nosso refúgio e a nossa força, *

auxílio sempre pronto na adversidade.

1c. Por isso, nada receamos, ainda que vaci-le a terra * e os montes se precipitem no fundo do

mar,

2c. Ainda que se encrespem e refervam suas águas * e estremeçam os montes com a sua fú-ria.

O Senhor dos Exércitos está connosco, * o Deus de Jacob é a nossa fortaleza.

Os braços de um rio alegram a cidade de Deus, * a mais santa das moradas do Altíssimo.

Deus está no meio dela e inabalável, a torna * Deus a protege desde o romper da auro-ra.

Agitaram-se os povos, tremeram os reinos: * Ele fez ouvir a sua voz e a terra estre-meceu.

O Senhor dos Exércitos está connosco, * o Deus de Jacob é a nossa fortaleza.

Vinde e contemplai as obras do Senhor, * as maravilhas que realizou na terra.

Põe termo às guerras até aos confins do mundo,* despedaça os arcos, quebra as lanças, + queima no fogo os escudos.

Rendei-vos e reconhecei que Eu sou Deus, * triunfo das nações e domino a terra.

O Senhor dos Exércitos está connosco, * o Deus de Jacob é a nossa fortaleza.

Glória ao Pai e ao Filho * e ao Espírito San-to,

como era no princípio, * agora e sempre. Amen.

Ant. Pela justiça contemplaremos a vossa face

T. ao despertar-me saciarei da vossa pre-sença.

LEITURA BREVE (Ba. 5,2-4)

Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus, e coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno. Pois Deus mostrará o teu fulgor debaixo do céu, e te chama-rá com o nome que vem de Deus para sempre: "Paz da justiça e Glória da pie-dade".

Page 21: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

19

RESPONSÓRIO BREVE

L. Ergue os teus olhos em torno e vê: todos eles se reúnem, os teus filhos vêem de longe.

T. Ergue os teus olhos em torno e vê: todos eles se reúnem, os teus filhos vêem de longe.

L. As nações caminharão na tua luz, e os reis, no clarão do teu sol nascente.

T. Todos eles se reúnem, os teus filhos vê-em de longe.

L. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito San-to.

T. Ergue os teus olhos em torno e vê:

CÂNTICO EVANGÉLICO (Benedictus, pág. 13)

Ant. Nos seus dias florirá uma grande paz;

T. O Senhor salva a vida dos seus pobres.

Pai nosso

ORAÇÃO

Pai, concedei ao vosso povo em festa a vonta-de de acorrer com as boas obras ao en-contro do Cristo que vem, para que, pos-suindo e contemplando a comunhão eter-na, se realize toda a promessa. Por nosso Senhor.

Laudes de Segunda-Feira P. Deus, vinde em nosso auxílio.

T. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.

P. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito San-to.

T. Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

HINO (pág. 14)

SALMODIA

Ant. Eis a geração que Vos procura, Senhor;

T. que procura a vossa face, Deus de Israel. Salmo 62, 2-9 - Sede de Deus

Sal. Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro.* A minha alma tem sede de Vós.

1c. Por Vós suspiro* como terra árida, sequiosa, sem água.

2c. Quero contemplar-Vos no santuário, * para ver o vosso poder e a vossa glória.

A vossa graça vale mais que a vida:* por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.

Assim Vos bendirei toda a minha vida * e em vosso louvor levantarei as mãos.

Serei saciado com saborosos manjares * e com vozes de júbilo Vos louvarei.

Quando no leito Vos recordo, * passo a noite a pensar em Vós.

Porque Vos tornastes o meu refúgio, * exulto à sombra das vossas asas.

Unido a Vós estou, Senhor, * a vossa mão me serve de amparo.

Glória ao Pai e ao Filho * e ao Espírito Santo,

como era no princípio, * agora e sem-pre. Ámen.

Ant. Eis a geração que Vos procura, Se-nhor;

T. que procura a vossa face, Deus de Isra-el.

LEITURA BREVE (Act. 17,23.27-28)

Aquele que venerais sem O conhecer, é esse que eu vos anuncio. Deus fixou períodos determinados e os limites da sua habitação, para que os homens procurassem a Deus e se esforçassem realmente para O atingir e encontrar. Na verdade, Ele não está longe de ca-da um de nós. É n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos, como disse-ram alguns dos vossos poetas: “Somos da raça de Deus”.

RESPONSÓRIO BREVE

L. Tudo foi feito por meio d’Ele. Da sua plenitude todos nós recebemos.

T. Tudo foi feito por meio d’Ele. Da sua plenitude todos nós recebemos.

L. A graça e a verdade nos vieram por Jesus Cristo.

T. Da sua plenitude todos nós recebemos.

L. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Page 22: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 20

T. Tudo foi feito por meio d’ Ele. Da sua plenitude todos nós recebemos.

CÂNTICO EVANGÉLICO (Benedictus, pág. 13)

Ant. O Verbo se fez carne e habitou entre nós.

T. Os nossos olhos viram, as nossas mãos tocaram o Verbo da vida.

Pai nosso

ORAÇÃO

Pai, a vossa omnipotência tirou do nada todas as coisas, a vossa misericórdia regenerou aquilo que se perdera. Ilumi-nai os nossos passos, desde o começo deste dia e mantende na vossa paz aqueles que somente em Vós esperam. Por Nosso Senhor...

Laudes de Terça-Feira P. Deus, vinde em nosso auxílio.

T. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos.

P. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

HINO (pág. 14)

SALMODIA

Ant. Não ponhais o Senhor à prova,

T. Quem pensa estar de pé, cuide de não cair.

Salmo 94 - Convite ao louvor de Deus

Sal. Vinde, exultemos de alegria no Senhor, * aclamemos a Deus, nosso Salvador.

1c. Vamos à sua presença e dêmos graças, * ao som de cânticos aclamemos o Se-nhor.

2c. Pois grande Deus é o Senhor, * Rei maior que todos os deuses.

Em sua mão estão as profundezas da terra * e pertencem-Lhe os cimos das montanhas.

D'Ele é o mar, foi Ele quem o fez, * d'E-

le é a terra firme, que suas mãos forma-ram.

Vinde, prostremo-nos em terra, * adore-mos o Senhor que nos criou.

Pois Ele é o nosso Deus * e nós o seu po-vo, ovelhas do seu rebanho.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz: * “Não endureçais os vossos corações,

como em Meriba, como no dia de Massa no deserto, * onde vossos pais Me tenta-ram e provocaram, apesar de terem vis-to as minhas obras.

Durante quarenta anos essa geração Me desgostou, * e Eu disse: É um povo de coração transviado, que não atinou com os meus caminhos.

Por isso jurei na minha ira: * Não entra-rão no meu repouso”.

Glória ao Pai e ao Filho * e ao Espírito Santo, como era no principio, * agora e sem-pre. Ámen.

Ant. Não ponhais o Senhor a prova,

T. Quem pensa estar de pé, cuide de não cair.

LEITURA BREVE (Jo. l, 6-7)

Se dissermos que estamos em comunhão com Ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Mas se cami-nharmos na luz, como Ele vive na luz, estamos em comunhão uns com os ou-tros, e o sangue de Jesus, Seu Filho, purifica-nos de todo o pecado.

RESPONSÓRIO BREVE

L. Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz.

T. Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz.

L. O fruto da luz é toda a bondade, justiça e verdade.

T. Comportai-vos como filhos da luz.

L. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

T. Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da luz.

Page 23: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

21

CÂNTICO EVANGÉLICO (Benedictus, pág. 13)

Ant. Tu vais ao encontro daqueles que praticam a justiça,

T. E Te reconhecem presente no meio de-les.

Pai nosso

ORAÇÃO

Ó Pai da Nova Aliança, o vosso povo é insen-sato e perde-se na longa caminhada. Fortalecei a nossa fé para que saibamos rejeitar o que não convém ao cristão e abraçar tudo o que é digno deste nome. Por Nosso Senhor.

Page 24: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 22

Escola de comunidade

Reconhecer Cristo

Existe um caminho?

«Existe um ponto de chegada, mas não há nenhum cami-nho» (Kafka). É inegável: existe um desconhecido (os geógrafos antigos quase tra-çavam uma analogia deste ignoto com a famosa «terra incógnita» com que terminavam os seus mapas). Nas margens da realidade que o olhar abraça, que o coração sente, que a mente imagina, existe um ignoto. Todos o reconhecem, sempre o reconheceram. De tal forma os homens de todos os tempos o reconheciam que até o ima-ginaram. Desde sempre que os homens, através das suas elucubra-ções e fantasias procuraram imaginar, fixar o rosto desse ignoto. Tácito, na Germânia, descrevia assim o sentimento religioso que caracterizava os antigos teutónicos: « aquela coisa misteriosa que eles intuíam com temor e tremor, a isto chamavam Deus, a isto chamam Deus ». Todos os homens de todos os tempos, independen-temente da imagem que lhe fizeram, chamam Deus a este ignoto pelo qual passam os olhos, muitas vezes indiferentes, mas também muitas vezes apaixonados. Imaginem o mundo humano como uma imensa planície, e nesta pla-nície uma imensa quantidade de escritórios, de empresas de cons-trução, particularmente vocacionadas para fazer estradas e pontes. Cada uma na sua posição, a partir do seu ângulo, tenta construir, entre o ponto onde está, entre o momento efémero que vive, e o céu sarapintado de estrelas, uma ponte que ligue os dois extremos, segundo a imagem de Victor Hugo na sua bela poe- sia Les Contem-plations intitulada «Le Pont». Imaginem, sentado na praia à noite, numa noite estrelada, um indi-víduo, um homem que olha, que fixa a estrela maior, aparentemen-

Page 25: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

23

te a mais próxima, e pensa nos milhares de arcos que é preciso pa-ra construir esta ponte, uma ponte que nunca se define, que não é nunca possível construir. Imaginem então, nesta planície imensa, apinhada de grupos grandes e pequenos, ou até de pessoas solitá-rias, como na imagem de Victor Hugo, cada um tentando construir o seu desenho imaginado, fantástico. De repente ouve-se na imensa planície uma voz potente que diz: «Parem! Parem todos!». E todos os operários, engenheiros, arqui-tetos suspendem o trabalho e olham para o lado de onde veio a voz: é um homem que, levantando o braço, diz: «Vocês são gran-des, são nobres no vosso esforço, mas esta vossa tentativa, apesar de grande e nobre, é triste, e por isso tantos homens vos recusam e não querem saber de vocês e tornam-se indiferentes; é grande, mas triste, porque nunca realiza o seu fim, nunca consegue ir até ao fundo. Vocês são incapazes de o fazer porque são impotentes diante deste objetivo. Existe uma desproporção entre vocês e a última estrela do céu, entre vocês e Deus. Vocês não podem ima-ginar o mistério. Por isso, deixem o vosso trabalho tão cansativo e ingrato, venham atrás de mim: eu construir-vos-ei esta ponte, ou melhor, eu sou esta ponte! Porque eu sou o caminho, a verdade, a vida!». Estas coisas não se percebem no seu rigoroso valor intelectual, se não nos identificarmos com elas, se não procurarmos identificar-nos com o coração. Imaginem vocês, por isso, que, no alto das du-nas perto do mar, veem um ajuntamento de pessoas da aldeia vizi-nha que estão ali a ouvir um daqueles homens que fala em público e que está ali no meio do grupo a falar; e vocês passam a caminho da praia para onde querem ir; passam ali ao lado e enquanto pas-sam olham curiosos, ouvem o indivíduo que está no meio e que diz: «Eu sou o caminho, a verdade, a vida. Eu sou o caminho, a verdade...»: o caminho que não se pode conhecer, de que falava Kafka; «Eu sou o caminho, a verdade, a vida». Imaginem, façam um esforço de imaginação, de fantasia: o que é que fariam, o que

Page 26: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 24

é que diriam? Por mais céticos que possam ser, não podem deixar de sentir os vossos ouvidos atraí- dos para aquelas bandas, e no mínimo olham com extrema curiosidade aquele indivíduo que ou é louco ou é verdadeiro. De facto, existiu um só homem, um só, a dizer esta frase, um homem em toda a história do mundo – do mundo! –, de tal forma é verdade. Um homem no meio de um gru-pinho de pessoas, tantas vezes no meio de um grupinho de pesso-as, e tantas vezes também no meio de uma grande multidão. Portanto, na grande planície todos suspendem o trabalho e ficam atentos a esta voz, e ele repete continuamente as mesmas pala-vras. Os primeiros a ficarem incomodados com a questão, quem é que foram? Os engenheiros, os arquitetos, os donos das várias em-presas de construção, que disseram quase imediatamente: «Vamos, vamos, rapazes, ao trabalho. Operários, ao trabalho! Aquele homem é um fanfarrão!». Era a alternativa radical ao seu projeto, à sua criatividade, ao seu rendimento, ao seu poder, ao seu nome, a si próprios. Era a alternativa a si mesmos. Depois, os engenheiros, os arquitetos e os chefes, e também os operários, começando a rir um pouco, com alguma dificuldade desviaram o olhar daquele indivíduo, comentando-o um bocado, gozando-o ou dizendo: «Quem será, quem será este, será louco?». Mas alguns, pelo contrário, não. Alguns ouviram uma palavra que nunca ti-nham ouvido, e ao engenheiro, ao arquitecto e ao dono da obra que lhes dizia: «Vamos, rápido, o que é que estão a fazer aqui, o que é que vos deu para estarem ainda a olhar para ali?», eles não respondiam; continuavam a olhá-lo. E ele avançava. Aliás, eles é que se aproximaram deles. Dos cento e vinte mil estes eram doze. Mas isto acontece: este é um facto histórico. Aquilo que Kafka diz («nenhum caminho») não é historicamente verdadeiro. Poder-se-ia dizer, paradoxalmente, que é verdadeiro teoricamente, mas não é verdadeiro historicamente. O mistério não se pode conhecer! Isto é verdadeiro teoricamente. Mas se o mistério bate à tua porta... «A quem me abre eu entrarei e janta-

Page 27: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

25

rei com ele»; são palavras que se leem na Bíblia, palavras de Deus na Bíblia. Mas é um facto que aconteceu.

Um facto histórico

E o primeiro capítulo de São João, que é a primeira página literá-ria que fala disso, além do anúncio geral «O Verbo fez-se carne», – aquilo de que toda a realidade é feita, fez-se homem -, contém a memória daqueles que o seguiram logo, que resistiram à ordem dada pelos engenheiros, pelos arquitetos. Numa folha, um deles anotou as primeiras impressões e os traços do primeiro momento em que o facto aconteceu. O primeiro capítulo de São João, de facto, tem uma série de apontamentos de memória. Um dos dois, já velho, lê na sua memória os apontamentos que guardou, já que a memória tem a sua lei. A memória não tem como lei uma continuidade sem espaços, co-mo é por exemplo numa criação fantástica, de fantasia; a memó-ria «toma notas», literalmente, como nós fazemos agora: uma nota, uma linha, um ponto, e este ponto cobre tantas coisas, de tal forma que a segunda frase parte depois de tantas coisas su-postas pelo primeiro ponto. Estas coisas são mais supostas que ditas, algumas são apenas ditas como pontos de referência. De-safio-vos a imaginarem uma coisa que é em si mais grave, mais pesada, mais densa, maior, mais cheia de desafio para a existên-cia do homem na sua fragilidade aparente, mais grave de conse-quências na história, do que esta, do que este facto. «Naquele dia João ainda estava ali com dois discípulos. Fixando o olhar em Jesus que passava disse...» Imaginem a cena. Há 150 anos que o esperavam. Finalmente o povo hebraico, que sempre, desde toda a sua história, de há dois milénios, tinha tido algum profeta, alguém reconhecido profeta por todos, depois de 150 anos finalmente o povo hebraico voltou a ter um profeta: chamava-se João Baptista. Outros escritos da antiguidade falam dele. É por isso documentado historicamente. Toda a gente – ricos e pobres, publicanos e fariseus, amigos e

Page 28: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 26

adversários – ia ouvi-lo e ver o modo como vivia, para lá do Jor-dão, em terra deserta, de lagartos e de ervas selvagens. Tinha sempre um grupo de pessoas à volta. Entre estas pessoas, naquele dia estavam também dois que iam pela primeira vez e vinham, digamos, do campo – ou melhor, vinham do lago que ficava bas-tante longe e estava fora da área das cidades evoluídas. Estavam ali como dois camponeses que vêm pela primeira vez à cidade, pasmados, que olhavam com os olhos arregalados tudo o que es-tava à volta e sobretudo olhavam-nos a ele. Estavam ali com a boca aberta e os olhos escancarados a olhá-lo, a ouvi-lo, atentís-simos. Inesperadamente, um dos do grupo, um homem jovem, le-vanta-se e vai pelo caminho junto ao rio em direção ao Norte. E João Baptista, de repente, fixando-o grita: «Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo!». Mas as pessoas não se espantaram, estavam habituadas a ouvir o profeta exprimir-se, de vez em quando, com frases estranhas, incompreensíveis, sem nexo, sem contexto; por isso, a maior parte dos presentes não fez caso. Os dois que vinham pela primeira vez, que estavam ali suspensos dos seus lábios, que olhavam com os olhos dele, que seguiam os seus olhos aonde quer que ele dirigisse o olhar, viram que fixava aquele indivíduo que se ia embora e puseram-se a ir atrás dele. Seguiram-no à distância, por temor, por vergonha, mas estranhamente, profundamente, obscuramente e sugestiva-mente curiosos. «Aqueles dois discípulos ouvindo-o falar assim, seguiram Jesus. Jesus voltou-se e vendo que o seguiam disse: “Que procuram?”. Responderam-lhe: “Rabbi, onde moras?”. Disse-lhes: “Vinde ver”». É esta a fórmula, a fórmula cristã. O método cristão é este: «Vinde ver». «E foram, e viram onde morava, e ficaram junto de-le o resto do dia. Era por volta das quatro da tarde». São João não especifica quando partiram, quando foram atrás dele; todo o trecho, até o seguinte, está feito de apontamentos, como dizia antes: as frases terminam num ponto que dá por subentendidas

Page 29: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

27

tantas coisas. Por exemplo: «Era por volta das quatro da tarde», mas, quem sabe, quando é que se foram embora, até quando esti-veram ali? Seja como for, eram as quatro da tarde. Um dos dois que tinha ouvido as palavras de João Baptista e o tinha seguido chamava-se André, era o irmão de Simão Pedro. Quem ele encon-trou primeiro foi o seu irmão Simão, que vinha da praia, voltava ou da pescaria ou de remendar as redes necessárias ao pescador, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias». Não narra nada, não cita nada, não documenta nada, é mais que sabido, é claro, são apon-tamentos de coisas que todos sabem! Poucas páginas se podem ler assim tão realisticamente verdadeiras onde nem uma palavra é acrescentada à pura recordação. Como foi possível dizer: «Encontrámos o Messias»? Jesus, falando com eles, terá dito esta palavra, que existia no seu vocabulário; porque dizer que aquele era o Messias, tão seguramente como di-zer «dois e dois igual a quatro», teria sido impossível. Mas vê-se que, estando ali horas a ouvir aquele homem, observando-o, ven-do-o falar – quem é que falava assim? Quem é que alguma vez fa-lou assim? Nunca se ouvira! Nunca se viu alguém assim! – lenta-mente, dentro do ânimo deles avançava a expressão: «Se não creio neste homem não creio em mais ninguém, nem mesmo nos meus próprios olhos». Não que o tenham dito, não que o tenham pensado, sentiram-no, não o pensaram. Aquele homem terá talvez dito, entre outras coisas, que ele era aquele que devia vir, o Mes-sias que devia vir. Mas foi tão óbvio na excepcionalidade do anún-cio (da afirmação), que eles levaram esse anúncio consigo como se fosse uma coisa simples – era uma coisa simples! -, como se fosse uma coisa fácil de perceber. «E André levou-o a Jesus. Jesus fixando o olhar sobre ele disse: “Tu és Simão, o filho de João. Chamar-te-ás Cefas que quer dizer pedra”.» Os hebreus costumavam mudar o nome ou para indicar o carácter da pessoa ou então por alguma coisa que acontecia. Por-tanto, imaginem Simão que vai com o irmão, cheio de curiosidade

Page 30: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 28

e com um pouco de temor, e que olha fixamente aquele homem que é levado pelo irmão. Aquele homem que o fixa de longe. Pen-sem no modo como ele o fixava, que deu para perceber o seu ca-rácter até à medula dos ossos: «Chamar-te-ás pedra». Pensem na-quele que se sente olhado assim por um homem que nunca tinha visto, totalmente estranho, que se sente tocado no mais profundo de si. «No dia seguinte Jesus tinha decidido partir para a Gali-leia...» É meia página feita assim, destes breves apontamentos e destes pontos em que tudo o que aconteceu está subentendido que todos o sabiam, que era evidente para todos.

Um encontro excecional

«Existe um ponto de chegada, mas não existe o caminho.» Não! Um homem que disse: «Eu sou o caminho» é um facto histórico que aconteceu, cuja primeira descrição está nesta meia página que comecei a ler. E cada um de nós sabe que aconteceu. Nada aconteceu no mundo que seja tão impensável e excecional como aquele homem de que estamos a falar: Jesus de Nazaré. Mas aqueles dois, os dois primeiros, João e André – André era ca-sado e tinha filhos, muito provavelmente – como foi possível fica-rem logo conquistados e logo o reconhecerem? (não existe outra palavra para dizer que não seja reconhecer)? Direi que, se este facto aconteceu, reconhecer aquele homem, reconhecer que aquele homem era alguma coisa de excecional – era absolutamen-te não comum -, irredutível a qualquer análise, reconhecer isto devia ser fácil. Se Deus se tornasse homem, vivesse no meio de nós, se viesse agora, se se encontrasse entre a multidão, se esti-vesse aqui entre nós, reconhecê-lo deveria ser fácil: fácil reco-nhecê-lo no seu valor divino. Porque é que é fácil reconhecê-lo? Por uma excecionalidade, por uma excecionalidade sem compara-ção. Eu tenho diante de mim uma execionalidade, um homem ex-cecional, sem comparação. O que é que quer dizer excecional? Porque é que sentes «excecional» uma coisa excecional? Porque

Page 31: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

29

corresponde às expectativas do teu coração, por mais confusas e enubladas que possam ser. Corresponde logo – logo! – corresponde às exigências da tua alma, do teu coração, às exigências irresistí-veis, inegáveis do teu coração como jamais terias podido imaginar, prever, porque não há ninguém como aquele homem. Quer dizer, o excecional, é, paradoxalmente, o surgir daquilo que é mais natu-ral para nós. O que é que é natural para mim? Que aquilo que de-sejo aconteça. Não há nada mais natural do que isto! Esbarrar com qualquer coisa de absolutamente e profundamente natural, porque correspondente às exigências do coração que a natureza nos deu, é uma coisa absolutamente excecional. É como uma estranha contradição: o que acontece nunca é excecional, verdadeiramente excecional, porque não consegue responder ade-quadamente às exigências do coração. Toma-se como excecionali-dade quando alguma coisa faz bater o coração por uma correspon-dência que se crê de um certo valor e que no dia seguinte se con-tradiz, e que o ano seguinte anulará. É a excecionalidade com que aparece a figura de Cristo que torna fácil reconhecê-lo. É preciso identificarmo-nos, é necessário o identificar-se com estes acontecimentos. Se se pretende ajuizá-los, se se quer ajuizá-los, não apenas percebê-los, mas ajuizá-los substancialmente, se são verdadeiros ou falsos, é a sinceridade da tua identificação que torna verdadeiro o verdadeiro e não falso, que torna verdadeiro o teu coração e não duvidoso do verdadeiro. É fácil reconhecê-lo como presença divina porque é excecional: corresponde ao coração, e uma pessoa quer ficar e nunca mais se quer ir embora e segui-lo-ia toda a vida – e de facto seguiram-no os outros três anos que ele viveu. Mas imaginem aqueles dois que o estão a ouvir durante algumas horas e que depois deviam voltar para casa. Ele despede-se deles, e eles voltam para casa calados porque invadidos pela impressão tida pelo mistério sentido, pressentido, ouvido, e depois separam-

Page 32: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 30

se. Cada um vai para sua casa. Não se despedem, não porque nor-malmente não se despeçam, mas despedem-se de outro modo, saú-dam-se sem se saudarem porque estão cheios da mesma coisa, são uma coisa só, eles os dois, a tal ponto estão cheios da mesma coisa. E André entra na sua casa e tira o manto, e a mulher diz-lhe: «Mas, André, que tens? Estás diferente, o que é que te aconteceu?». Ima-ginem que desata num pranto abraçando-a, e que ela, desconcerta-da, continua a perguntar: «Mas o que é que tens?». E ele a abraçar a sua mulher, que nunca se tinha sentido abraçada assim em toda a sua vida: era outro. Era outro! Era ele, mas era outro. Se lhe tives-sem perguntado: «Quem és?», teria dito: «Percebo que me tornei noutro... depois de ter ouvido aquele indivíduo, aquele homem, eu tornei-me noutro». Rapazes, isto, sem grandes subtilezas, aconte-ceu. Não só é fácil reconhecê-lo, foi fácil reconhecê-lo na sua excecio-nalidade – porque «se eu não posso crer neste homem não posso crer em mais nada», mas foi também fácil compreender que tipo de moralidade, isto é, que tipo de relação nascia dele: porque a mora-lidade é a relação com a realidade enquanto criada pelo mistério, é a relação justa, ordenada, com a realidade. Foi fácil compreender quanto era fácil a relação com ele, e segui-lo, o ser coerentes com ele, o ser coerentes à sua presença. Há uma outra página de São João que diz estas coisas de uma forma espetacular: é o último capítulo do seu evangelho, o vigésimo pri-meiro. Naquela manhã o barco estava a chegar à margem e não ti-nham apanhado peixe. A algumas centenas de metros da margem deram conta de um homem que estava ali, direito – tinha preparado uma fogueirita, via-se a cem metros – e interpelou-os de um modo que agora não pormenorizo. João disse primeiro: «Mas é o Se-nhor!»; e São Pedro logo se lança no lago e em quatro braçadas chega à margem: e é o Senhor. Entretanto chegam os outros e nin-guém fala. Põem-se todos em círculo, ninguém fala, todos calados, porque todos sabiam que era o Senhor ressuscitado: já tinha morri-do, e já se tinha feito ver a eles depois de ter ressuscitado. Tinha

Page 33: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

31

preparado peixe assado para eles. Todos se sentam, comem. No silêncio quase total que reinava na praia, Jesus, estendido, olhou o seu vizinho, que era Simão Pedro; fixou-o, e Pedro sentiu, ima-ginemos como sentiu o peso daquele olhar, porque se recordava da traição de poucas semanas antes, e de tudo o que tinha feito – a ponto de Cristo lhe ter chamado Satanás: «Afasta-te de mim Satanás, escândalo para mim, para o destino da minha vida» -, recordava-se de todos os seus defeitos, porque quando se erra gravemente uma vez, vem à mente também tudo o resto, até aquilo que é menos grave. Pedro sentiu-se como que esmagado sob o peso da sua incapacidade, da sua incapacidade de ser ho-mem. E aquele homem ali ao lado abre a boca e diz-lhe: «Simão imaginem como Simão deve ter tremido, tu amas-me?». Mas se vocês procurarem identificar-vos com esta situação, tremam ago-ra pensando nela, só de a pensar, pensando nesta cena assim tão dramática; dramática pois é tão descritiva do humano, expositiva do humano, exaltadora do humano, porque o drama é aquilo que exalta os fatores do humano, é só a tragédia que o aniquila. O niilismo leva à tragédia, este encontro com Cristo traz consigo o drama da vida, porque o drama é a relação vivida entre um eu e um tu. Então, respondeu como um respiro: «Não sei como; sim, Senhor, eu amo-te; não sei como, mas é assim». «Sim, Senhor. Não sei como, não posso dizer-te como, mas...» Enfim, era facílimo lidar com ele, viver a relação com aquele ho-mem, bastava aderir à simpatia que fazia nascer, uma simpatia profunda, semelhante àquela vertiginosa e carnal que é a da cri-ança com a sua mãe, que é simpatia no sentido intenso do termo. Bastava aderir à simpatia que fazia nascer. Porque depois de tu-do o que lhe tinha feito e da traição, ouviu dizer: «Simão, tu amas-me?». Por três vezes. E ele duvidou à terceira vez, talvez houvesse uma dúvida na pergunta, e respondeu mais amplamen-te: «Senhor, tu sabes tudo, tu bem sabes que te amo. A minha simpatia humana é para ti; a minha simpatia humana é para ti, Jesus de Nazaré».

Page 34: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 32

Aprender de uma excecionalidade está dentro duma simpatia: isto é, da lógica do conhecimento e da lógica da moralidade que a convivência com aquele indivíduo tornavam necessárias. Aprender é uma simpatia última. Como para a criança com a sua mãe, que pode errar mil vezes por dia, cem mil vezes por dia, mas se a le-vam para longe da sua mãe, cuidado! Se pudesse perceber a per-gunta: «Amas esta mulher?», e pudesse responder, pensem que espécie de «sim» gritaria. Quanto mais errasse, tanto mais berra-ria «sim», para o afirmar. Qual é no fundo, então, o que a moralidade da simpatia em rela-ção a ele exige que tu esperes, que tu realizes? Observá-lo, ou seja, aquele observar ativo que se chama seguir. Segui-lo. E na verdade voltaram a ele no dia seguinte, ele voltou com eles no terceiro dia, porque vivia numa aldeia vizinha. Começou a ir à pesca com eles, e à tarde ia ter com eles à praia quando conser-tavam as redes. E quando ele, de vez em quando, ia às aldeias do interior, passava por eles e dizia: «Vêm comigo?», alguns iam, ou-tros não, depois acabavam por ir todos. Acabavam por ir algumas horas, depois mais horas, depois o dia inteiro, porque ele come-çava a passar fora também as noites, e seguiam-no, esqueciam-se da própria casa... Não esqueciam a própria casa! Era qualquer coisa maior do que a própria casa, era qualquer coisa de onde a própria casa nascia, de onde o seu amor à mulher nascia, que po-dia salvar o amor com que olhavam os filhos e os viam com preo-cupação tornar-se grandes, era qualquer coisa que salvava tudo isto mais do que as suas paupérrimas forças e a sua pequeníssima imaginação. O que é que eles podiam fazer? Diante das tremendas carestias do ano, ou diante dos perigos com que os filhos esbarra-vam? Foram atrás dele! Todos os dias ouviam o que ele dizia, toda a gente estava ali com a boca aberta, e eles com a boca ainda mais aberta. Não se cansavam de ouvi-lo. E depois era bom. «Agarrou numa criança, apertou-a ao peito e disse: “Ai daquele que arrancar um cabelo à mais pequena destas

Page 35: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

33

crianças”», e não se referia ao não fazer mal físico à criança, que até um certo ponto há sempre uma repugnância em fazer, mas falava do escândalo feito às crianças, que, embora ninguém o pense, é fazer-lhe mal. Era bom. Quando viu aquele funeral quis logo saber: «Quem é?». «É um adolescente, a quem morreu há pouco o pai.» E a sua mãe gritava e gritava, e gritava atrás do fé-retro, não como era costume na altura, mas como é costume na natureza do coração de uma mãe, que livremente se exprime. Deu um passo na direção dela e disse-lhe: «Mulher, não chores!». Mas existe alguma coisa de mais injusto do que dizer a uma mu-lher a quem morreu o filho, a uma mulher sozinha: «Mulher, não chores»? E no entanto era o sinal de uma compaixão, de uma afei-ção, de uma participação na dor desmesurada. Disse ao filho: «Levanta-te!». E restituiu-lhe o filho. Mas não podia restituir-lhe o filho sem dizer nada: teria ficado na sua gravidade de profeta e taumaturgo, de homem dos milagres. «Mulher, não chores», dis-se. E restituiu-lhe o filho. Mas disse-lhe primeiro: «Mulher, não chores». Imaginem que por um ano, ou dois, ouvi-lo assim todos os dias, senti-lo assim bom, senti-lo assim potente sobre a natureza, que a natureza estava como que ao seu serviço. E naquela tarde foi no barco com eles, e fez-se a noite. A um certo momento, levanta-se um vento impetuoso, uma tempestade terrível desencadeia-se imprevistamente no lago de Genesaré, e quase que se afundavam a pique. O barco estava cheio de água, ele dormia, de tal manei-ra estava cansado que nem sequer ouvia a tempestade e dormia à popa. Um deles disse: «Mestre, acorda, acorda, que vamos a pi-que!». E Ele levantou a cabeça, estendeu a mão e «ordenou ao vento e ao mar, e fez-se de repente uma grande bonança». Aque-les homens – termina o Evangelho -, aqueles homens amedronta-dos, diziam entre eles: «Quem é este?».

Page 36: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 34

Quem é este?

Esta pergunta inicia na história do mundo, até ao fim do mundo, o problema de Cristo. Esta pergunta – precisa – encontra-se no oita-vo capítulo do Evangelho de São Lucas. Era gente que o conhecia muitíssimo bem, que conhecia a família, conheciam-no como as suas próprias mãos, iam atrás dele, tinham abandonado as próprias casas! Mas era de tal forma desproporcionado o modo de agir da-quele homem, de tal forma inconcebível, de tal forma soberano, que acontece espontaneamente os seus amigos dizerem: «Quem é este?». «O que há por detrás disto?». Não existe nada que o ho-mem mais deseje que esta «incompreensibilidade». Não existe na-da que o homem deseje mais ardentemente, seja ainda timida-mente sem se dar conta, do que esta presença inexplicável. Por-que Deus é isto. Este é o sinal e a relação com o mistério. De fac-to, é a mesma pergunta que lhe fizeram os seus inimigos, no fim, antes de o matarem. Poucas semanas antes de o matarem, discu-tindo com Ele, disseram-lhe: «Até quando nos manténs com a res-piração suspensa – literalmente -, diz de onde vens e quem és tu?». Era alguém de quem conheciam o registo, há trinta e três anos. De nenhum homem no mundo nós podemos dizer: «Quem é este que faz isto?», impressionados pelo espanto e pela despropor-ção entre a imaginação do possível e o real que tinham diante. Percebe-se agora como aquela vez em que Ele saciou mais de cin-co mil homens, sem contar com as mulheres e com as crianças – saciou-os misteriosamente – depois desaparece porque queriam fazê-lo rei. Disseram, impressionados pela questão económica: «Este é verdadeiramente o Messias que deve vir!», voltando logo à mentalidade comum que sempre tinham vivido, que todos tinham – como lhes era ensinado pelos seus chefes, o Messias deveria ser um homem potente que deveria dar a Israel, ao seu povo, a supre-macia no mundo. Jesus fugiu deles, e muitos calcularam que tives-se ido a Cafarnaum. Fizeram então o périplo do lago para ir reen-contrá-lo, noite dentro do dia de sábado. Foram à sinagoga, por-

Page 37: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

35

que o sítio onde o podiam encontrar era aqui: Ele, de facto, para falar tomava sempre a indicação do trecho bíblico que era pro-posto ao povo naquele dia, do rolo que o sacerdote escolhia. E de facto estava ali na sinagoga a falar, e dizia-lhes que os pais deles tinham comido o maná, mas que Ele dava de comer uma coisa muito maior, a sua palavra: a sua palavra é verdade. A verdade dava-lhes de comer, a verdade dava-lhes de beber, o qu é verda-deiro sobre a vida e sobre o mundo. Abre-se a porta ao fundo, en-tra este grupo que o procurava, que o tinha seguido, digamos. Procuravam-no. Procuravam-no por um motivo errado, porque o queriam fazer rei, não porque estivessem tocados pelo sinal que ele era, do mistério da sua pessoa, que a potência dos seus gestos assegurava, mas porque tinham um interesse, procuravam nele um interesse material. O motivo era errado, mas procuravam-no. Procuravam-no. Tinha nascido para que todo o mundo o procuras-se. Comoveu-se e de repente – porque, homem como nós, tal co-mo a nós, as ideias lhe surgiam conforme as circunstâncias – vem-lhe à mente uma ideia fantástica. Mudou o sentido àquilo que di-zia e exclamou: «Não é a minha palavra que vos dou, mas o meu corpo que vos dou a comer, o meu sangue a beber!». O pretexto, finalmente os políticos e os jornalistas e os «televisivos» de en-tão, tinham o pretexto: «É louco, quem pode dar de comer a sua carne?». Quando dizia uma coisa que lhe parecia urgente, mas os homens não o percebiam e escandalizavam-se por aquilo que di-zia, ele não explicava, mas repetia, repetia: «Em verdade vos di-go, quem não come a minha carne não pode começar a perceber a realidade, não pode entrar no reino do ser a perceber a realida-de, não pode entrar nas entranhas da realidade, porque o verda-deiro é isto». Foram-se todos embora. «É louco, é louco», diziam, «tem um modo de falar estranho». Até que na penumbra da tar-de, ficaram com Ele os doze do costume. Também eles em silên-cio, com a cabeça baixa. Imaginem a cena na pequena sinagoga de Cafarnaum, que era como uma sala das nossas escolas com 30

Page 38: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 36

a 40 lugares. «Também vós vos quereis ir embora? Não retiro o que disse: também vós vos quereis ir embora?» E Simão Pedro, teimoso: «Mestre, também nós não compreendemos o que dizes, mas se nos vamos embora, para onde vamos? Tu tens palavras que dão sentido à vida». Kafka: «Existe um ponto de chegada, mas não existe nenhum cami-nho». Aquele homem era o caminho. «Se nos vamos embora, para onde vamos? Qual será a estrada, qual pode ser o caminho? O cami-nho és Tu!»

O método cristão

Aqueles dois, João e André, e aqueles doze, Simão e os outros, dis-seram-no às suas mulheres, e algumas daquelas mulheres foram com eles; a uma dada altura foram com eles e seguiram-nos: deixa-vam as suas casas e iam com eles. Mas também o contaram a outros amigos, os quais não deixaram necessariamente também as suas casas, mas participavam na simpatia deles, participavam na sua po-sição positiva de espanto e de fé naquele homem. E os amigos dis-seram-no a outros amigos, e depois a outros amigos. Assim passou o primeiro século, e estes amigos invadiram com a sua fé o segundo século e no entretanto invadiam também o mundo geográfico. Che-garam até à Espanha no fim do primeiro século e até à Índia no se-gundo século. E depois estes do segundo século disseram-no a ou-tros que vieram depois deles, como um grande fluxo que engrossa-va, como um grande rio que se engrossava e chegou a ser dito à mi-nha mãe. E a minha mãe disse-o a mim que era pequeno, e eu digo: «Mestre, também eu não percebo aquilo que dizes, mas se nos va-mos embora para onde vamos? Só tu tens palavras que correspon-dem ao coração». Esta é a lei da razão: a lei da razão é a compara-ção com o coração. Os critérios da razão são as exigências da minha natureza, do coração. Contaram-me que uma amiga nossa, ao ler um texto nosso, e ela não é católica, observou: «Mas aqui eu en-contrei a palavra coração não usada como eu a entendo, porque co-

Page 39: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

37

mo eu o entendo o coração é o ponto de referência do sentimento: eu tenho um sentimento, ele tem outro; mas aqui não, é igual pa-ra todos este coração de que se fala n’ O sentido religioso, é igual para todos, é igual para ti e para mim». Se o coração é a sede de exigência do verdadeiro, do belo, do bom, do justo, da sede da felicidade, quem de nós pode fugir a estas exigências, quem? Constituem a nossa natureza, a minha e a tua, por isto estamos mais unidos do que «ausentes» e estranhos, como somos normal-mente. E o último coreano, o último homem da mais longínqua e perdida região da terra está unido a mim precisamente por isto. A partir daquela tarde nasceu um fluxo humano que chegou até agora, até mim. Como pertencia a este fluxo a minha mãe, assim pertenço eu, e dizendo-o a muitos amigos eu torno-os também participantes deste fluxo.

Testemunhos (1)

Vale a pena ler uma carta que me enviaram, e descoberta infeliz-mente tarde demais, escrita por um jovem doente com Sida, mor-to dois dias depois de me ter escrito: «Caro Dom Giussani, escrevo-lhe chamando-lhe caro, embora não o conheça, nunca o tenha visto, nem nunca o tenha ouvido falar. Ou melhor, para dizer a verdade, posso dizer que o conheço, por-que, se percebi alguma coisa d’ O sentido religioso e daquilo que me disse o Ziba, conheço-o através da fé e, acrescento eu agora, graças à fé. Escrevo-lhe somente para lhe agradecer, agradecer pelo facto de ter dado um sentido a esta minha vida árida. Sou um colega de universidade do Ziba, com quem tive sempre uma rela-ção de amizade, porque, mesmo não partilhando a sua posição, me tocou sempre a sua humanidade e a sua disponibilidade desin-teressada que é o único modo com que podemos gritar a outro e a todo o mundo: «Cristo é verdadeiro». Penso ter chegado ao termo desta atormentada vida, trazido por aquele comboio que se chama Sida e que não dá tréguas a ninguém. Agora, dizer estas coisas já

Page 40: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 38

não me mete medo. O Ziba dizia-me sempre que o importante na vida é ter um interesse verdadeiro e segui-lo. Este interesse per-segui-o eu muitas vezes, mas nunca era o verdadeiro. Mas agora vi-o, vejo-o, encontrei-o e começo a conhecê-lo e a chamá-lo pelo nome: chama-se Cristo. Não sei propriamente o que é que isto quer dizer, nem sei como posso dizer estas coisas, mas quando ve-jo o rosto do meu amigo ou leio O sentido religioso, que agora me acompanha, e penso em si ou nas coisas que o Ziba me conta de si, tudo me parece mais claro, tudo, até o meu mal e a minha dor. A minha vida esmagada e tornada estéril, como uma pedra lisa on-de tudo escorre como a água, ganha um sobressalto de sentido e de significado que varre os pensamentos maus e as dores, aliás, abraça-os e torna-os verdadeiros, fazendo do meu corpo pútrido e cheio de larvas sinal da sua presença. Obrigado, Dom Giussani, obrigado por me ter comunicado esta fé ou, como lhe chama, este acontecimento. Agora sinto-me em paz, livre e em paz. Quando o Ziba recitava o Angelus diante de mim, eu blasfemava-lhe na cara, odiava-o e dizia-lhe que era um cobarde porque a única coisa que sabia fazer era dizer aquelas orações estúpidas diante de mim. Agora, quando tento dizê-lo com ele, a balbuciar, percebo que o cobarde era eu, porque não via nem a um palmo do nariz a verda-de que estava diante de mim. Obrigado Dom Giussani, é a única coisa que um homem como eu lhe pode dizer. Obrigado porque no meio das lágrimas posso dizer que morrer assim agora tem um sen-tido, não porque seja mais belo – tenho um grande medo de mor-rer – mas porque agora sei que há alguém que me quer bem e que se calhar eu também me posso salvar e posso também rezar para que os meus companheiros de cama encontrem e vejam o que eu vi e encontrei. Assim sinto-me útil, repare, apenas usando a voz sinto-me útil; com a única coisa que eu ainda consigo usar, posso ser útil; eu que deitei fora a vida posso fazer o bem apenas dizen-do o Angelus. É impressionante, mas ainda que fosse uma ilusão, esta coisa é demasiado humana e razoável, como diz n’ O sentido

Page 41: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

39

religioso, para não ser verdadeira. O Ziba pendurou sobre a minha cama a frase de São Tomás: “A vida do homem consiste no afeto que principalmente o sustem e no qual encontra a sua maior satis-fação”. Ao escrever-lhe esta carta, penso que a minha maior satis-fação seja a de tê-lo conhecido nunca o vi!, mas a maior ainda é que na misericórdia de Deus, se Ele quiser, conhecê-lo-ei lá onde tudo será novo, bom e verdadeiro. Novo, bom e verdadeiro como a amizade que Dom Giussani trouxe à vida de muitas pessoas e da qual posso dizer que “também eu faço parte”, também eu nesta vida suja vi e participei deste acontecimento novo, bom e verda-deiro. Reze por mim; eu continuarei a sentir-me útil no tempo que me resta a rezar por si e pelo movimento. Abraço-o. Andrea». Dois mil anos perpassaram nesta carta. Não foi ontem, é hoje, não é hoje para mim, mas é hoje para ti, qualquer que seja a posição em que estejas: muda-a, se é de mudar! Também eu todas as ma-nhãs percebo que a devo mudar, porque eu sou responsável de tantas coisas que Ele me deu. Digo só que este acontecimento ou esta presença é de hoje – de hoje! Aquele fluxo humano de que falámos, levo-o hoje à tua vida. Não há nada senão Deus, só Deus, ontem, hoje e sempre. Um grande acontecimento, dizia Kierkega-ard, só pode ser um presente, porque não é um passado, um mor-to, que nos pode mudar. Mas se alguma coisa nos muda, está pre-sente: «Existe, se muda», diz um texto nosso.

Testemunhos (2)

Há um outro testemunho que quero referir. Sete amigos nossos, quatro mulheres dos Memores Domini e três sacerdotes, dos quais dois de Roma, do seminário de Monsenhor Massimo Camisasca, to-dos do Movimento, estão na grande Sibéria, em Novosibirsk. É a diocese, a paróquia maior do mundo, que vai de Novosibirsk a Vla-divostok, 5000 km. E toda esta zona é percorrida por eles, 400 km todas as semanas. Tiveram recentemente o primeiro sínodo católi-co da Sibéria, em Vladivostok, a cidade próxima do Japão, na ex-

Page 42: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 40

tremidade oriental da Sibéria. E os Bispos convidaram também os nossos. Há três anos que estão lá e têm um grupo de amigos que se quiseram batizar: alguns vivem a vida do CL. Um deles contou o que aconteceu na sua vida. É um rapazola de 17 anos. «Encontrei o Movimento logo a seguir ao meu encontro com a Igreja católica. Na altura não sabia praticamente nada da vida cristã e ainda percebia menos. Encontrei uma companhia de gen-te bastante jovem, feita sobretudo de estudantes e alguns italia-nos que falavam pouco ou nada de russo. Ouvi-os falar da vida, do trabalho, falavam da sua experiência cristã, do seu primeiro encontro com Cristo; também cantavam e se divertiam. Depois iam juntos à Missa, às vezes rezavam as Vésperas. Tive a impres-são de que eram bons amigos, mas, na verdade, havia algo de estranho para mim: porque é que estes estrangeiros tinham vin-do de tão longe, mas porquê? Virem para aqui, onde faz tanto frio e a vida não é tão confortável como em casa deles? E depois, pessoas tão novas, diferentes umas das outras, e no entanto tão amigas, e depois, porquê juntas? Provavelmente, é exatamente nisto, e também nisto, que consiste a graça do primeiro encon-tro, quando tu, intuitivamente, ouves mesmo aquilo de que pre-cisas na vida, ouves alguma coisa de correspondente, de bom, que desperta em ti curiosidade e desejo, assim de cada vez revi-ves o primeiro encontro sem reconhecer até ao fim porquê. E, com efeito, só depois comecei a intuir e a perceber que nesta companhia está presente Alguém, diante do qual todos se incli-nam e que junta pessoas que à primeira vista nunca poderiam estar juntas. Eu penso que para mim este foi uma espécie de “momento extraordinário”, quando reconheci a presença de Cristo, quando o descobri naquela companhia. Reconheci que sou amado como André, muito amado por Jesus, precisamente atra-vés destas pessoas que Ele mesmo colocou ao meu lado e me acompanham. Já há três anos que estou no Movimento do CL e isto ajuda-me. Posso dizer que agora experimento o gosto da vi-

Page 43: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

41

da e que isto me parece mesmo muito importante o contrário do que predomina hoje: a perda do gosto da vida como sinto-ma do macabro da cultura presente. Com efeito, os aspetos da vida são diferentes: trabalho, descanso, estudo, férias, e ver sentido em todos os aspetos da vida, reconhecer que Deus se tornou acontecimento na nossa vida: é exatamente isto o cris-tianismo. Nada acontece por acaso, nada acontece simples-mente assim e cada momento da história pode testemunhar a presença de Cristo aqui e agora. Tenho muitos amigos, encon-tro muita gente e sinto sempre uma grande tristeza pelo facto de ainda não terem experimentado a graça do primeiro encon-tro que permite perceber a Sua presença e nos obriga a segui-la. Queria comunicar a todos aqueles que encontro o desejo de experimentar o gosto desta vida «gosto»: é um termo tão natu-ral, tão carnal e tão divino: é antecipação da felicidade eter-na, daquele gosto eterno, que é a finalidade da vida. Claro, a minha experiência é ainda pequena, mas peço para que em to-dos os aspetos da vida eu possa testemunhar Cristo, presente aqui e agora. Josif.» E com efeito, como para Josif, a maior surpresa para mim, cristão, é experimentar agora, é encontrar a correspondência com o coração que Ele é, agora. Quando o jornalista abordou a irmã da madre Teresa de Calcu-tá, na Índia, uma irmã muito jovem, com menos de vinte anos, e lhe fez algumas perguntas, entre outras coisas ela disse-lhe: «Lembro-me de ter recolhido um homem da rua e de o ter tra-zido para a nossa casa». «E o que disse aquele homem?» «Não resmungou, não blasfemou, disse apenas: “Vivi na rua como um animal e vou morrer como um anjo, amado e cuidado. ... Irmã, vou voltar para a casa de Deus” e morreu. Nunca vi um sorriso como aquele do rosto daquele homem.» O jornalista replicou: «Por que é que mesmo nos maiores sacrifícios parece que vocês não fazem nenhum esforço, que não existem dificul-

Page 44: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 42

dades?». Então interveio a Madre Teresa: «É a Jesus que nós faze-mos tudo. Nós amamos e reconhecemos Jesus, hoje». Hoje: ontem já passou. Aquilo que existia ontem, ou existe hoje ou já não exis-te.

Testemunhos (3)

Tenho pena de não a poder ler toda, porque é muito grande, mas quero citar pelo menos um excerto duma carta da Gloria, a nossa amiga e jovem professora que foi com a Rose para África, para Kampala, e que escreve: «Nada aqui é imediato para mim nada é conveniente para mim, nada me é fácil. E em certos momentos, senti como que uma impossibilidade de estar diante das pessoas do-entes, sujas, sem o mínimo de condições higiénico-sanitárias Mas quem é que a leva a fazer isto? A lembrança de uma coisa de há dois mil anos? Não! Alguma coisa agora. Uma presença que existe agora. Uma manhã, quando cumprimentei a Rose, ela disse-me: “Reza a Nossa Senhora para que hoje não tenhas que te assustar ao ver como Cristo se irá apresentar-te”. Com estas palavras no cora-ção, fui com a Claudia ao estabelecimento de detenção de meno-res. Tudo me fazia nojo: o cheiro, a porcaria, a sarna, os piolhos. E naquele momento percebi que a minha pergunta coincidia com a posição da minha pessoa». Ela, debruçada sobre o doente, ou sobre a criança presa, ela assim debruçada, naquela posição: o seu pedi-do, o pedido de ser, que é o pedido do coração do homem – porque mesmo que uma pessoa não pense nisso, grita isso – o pedido de ser, o pedido de ser feliz, o pedido da verdade, o pedido do bem, do bom, do justo, do belo, este pedido coincidia com a própria po-sição que assumia.

Testemunhos (4)

Mas a notícia maior destes tempos, talvez a maior de toda a nossa história, é aquela do que aconteceu em Brasília. Peço-vos que lei-am a história do assassinato de Edimar, um dos muitos miúdos de-linquentes de Brasília, várias vezes assassino, porque o seu bando é um bando de assassinos. No início do ano, vai para a sua turma uma

Page 45: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

43

professora dos Memores Domini, libanesa, atualmente no Brasil. Fala a nossa linguagem. Perturbou o Edimar, também ele quer ter os olhos cheios de azul como os dela, e não escuros, negros, su-jos, como tem ele. Promete a si mesmo que vai mudar. O chefe do bando percebe que alguma coisa não está bem, e mete-o logo à prova, intima-o a ir matar uma pessoa. Edimar diz: «Eu não ma-to mais ninguém». E ele: «Então eu mato-te»: matou-o. É o se-gundo mártir da nossa história.

A vida é vocação

Cristo é o ideal da vidaMas qual é a fórmula sintética de toda a figura de Cristo por si mesma, de Cristo como homem, registado no recenseamento de Belém, e presente agora a solicitar e a exi-gir a vida e o coração de cada um de nós, para que através de nós o mundo inteiro o reconheça, seja mais feliz, para que toda a gente do mundo seja mais feliz, saiba o «porquê», possa morrer como Andrea? A fórmula sintética que descreve toda a dinâmica de Jesus é que foi «enviado» pelo Pai. Porque é que Jesus, sendo Deus, Verbo de Deus, a expressão de Deus, e por isso origem do mundo, se tornou homem? Por que razão entrou no seio duma ra-pariguinha de 15 anos, foi gerado neste seio, nasceu criança, tor-nou-se jovem, adolescente, homem, homem de trinta anos, fala-va como ouvimos, impressiona o Andrea, impressiona os nossos amigos de Villa Turro (os doentes de Sida de quem os nossos ami-gos cuidam), impressiona o Edimar? Porque é que se tornou ho-mem e age na história assim, se torna presente na história deste modo? Para realizar o desígnio de um Outro. Ele usa, Ele próprio usa da palavra extrema para indicar a origem de tudo, do qual, portanto, a vida nasce: o Pai. A sua vida define-se como chama-mento do Pai a cumprir uma missão: a vida é vocação. Esta é a definição cristã de vida: a vida é vocação. E vocação é cumprir uma missão, realizar uma tarefa, que Deus determina para cada um através das circunstâncias banais, quotidianas, de instante em instante, que Ele permite que nós tenhamos que atravessar. Por isso Cristo é o ideal da nossa vida, na medida em

Page 46: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 44

que ela é tentativa de resposta, desejo de responder ao chama-mento de Deus; vocação, chamamento de Deus, desígnio que o Mis-tério tem sobre mim. Porque eu neste instante, se for sincero, se pensar, percebo: não há nada tão evidente, nem sequer tu que es-tás a dois metros de mim, nada é tão evidente como o facto de que neste instante eu não me faço a mim mesmo, não me dou os cabe-los, não me dou os olhos, não me dou o nariz, não me dou os den-tes, não me dou o coração, não me dou a alma, não me dou os pen-samentos, não me dou os sentimentos, tudo me é dado: para que cumpra o Seu desígnio, um desígnio que não é o meu, através de todas as coisas, através da escrita, através da fala, através do An-gelus, como dizia o Andrea, através de tudo, tudo. «Quer comais, quer bebais», diz São Paulo, fazendo a comparação mais banal que se possa pensar; «na vigília ou no sono»; «quer vivamos, quer mor-ramos» - dirá ainda noutras passagens – tudo é glória de Cristo, ou seja, desígnio de Deus. Cristo é o ideal da vida. Aquele que João e André ouviam falar era o ideal da vida. Por isso o seu coração se sobressaltou, por isso fo-ram para casa em silêncio, por isso naquela noite André abraçou a mulher como nunca tinha abraçado, sem saber dizer nada. Tinham encontrado o ideal da vida. Não podiam expressar-se logo assim, coitadinhos. Disseram-no poucos anos depois. Desde aí, foram por todo o mundo dizê-lo: Cristo é o ideal da vida. O que quer dizer que Cristo é o ideal da vida? Quer dizer que é o ideal para o modo com que tratamos toda a natureza; é o ideal pa-ra o modo como vivemos o afeto, com o qual concebemos, olha-mos, sentimos, tratamos, vivemos a relação com a mulher e com o homem, com os pais e com os filhos; é o ideal com que nós nos diri-gimos aos outros e vivemos as relações com os outros, ou seja, com a sociedade, como conjunto e companhia de homens. Qual é a ca-racterística que este ideal infunde nas formas que temos de nos tratarmos uns aos outros, de tratar tudo, da natureza – pretendo indicar com esta palavra tudo aquilo que existe, porque posso tra-tar mal, injustamente, até ao pai e à mãe?

Page 47: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

45

Gratidão e gratuidade

A característica está em duas palavras que têm a mesma raiz, mas são uma o princípio e a outra o fim da trajetória da ação: a primei-ra chama-se gratidão. Porquê? Por aquilo que eu disse primeiro, que nada é mais evidente neste momento, para mim e para ti, do que o facto de que não és tu que te fazes, que tudo te é dado, há um Outro em ti que é mais do que tu mesmo, tu jorras duma nas-cente que não és tu: esta nascente é o mistério do ser. Assim, da mesma forma, percebes que todas as coisas são feitas por um Ou-tro. Tu, como homem, és a consciência da natureza: o eu é o nível em que a natureza toma consciência de si mesma. Tal como tomo consciência de que não sou eu que me faço, assim tenho consciên-cia de que toda a natureza não se faz por si, é dada: dado, dom. Por isso, grato: a gratidão como fundamento e premissa de toda a ação, de toda a atitude. O que é que insinua em todas as ações esta gratidão? Insinua um aspeto, um contorno, uma aura de gratuidade; gratuidade pura. Amas, gostas da flor, não porque a cheiras, mas porque existe, olhas o fruto que amadurece não porque o mordas, mas porque existe. Olhas a criança, não porque é tua, mas porque existe. Esta é a pureza absoluta. Por favor, façam um esforço para se identifi-carem com esta totalidade de pureza. Um sombreado desta pureza, desta gratuidade entra dentro de nós ainda que não demos por isso, entra quase naturalmente dentro de cada ação nossa. Porque se qualquer atitude minha em relação a ti não tem dentro esta gratui-dade, uma sombra desta gratuidade, é feia, é uma relação perdida, é uma relação no início da sua derrocada, do seu desfazer-se. É so-mente esta pureza de gratuidade que nunca se desfaz, que não des-faz nada, que mantém todas as coisas que existiam no passado, e que as mantém no presente; de tal forma que o meu sujeito no pre-sente se enriquece de tudo o que fez ontem e antes de ontem, e nada é inútil como dizia o nosso amigo Andrea dois dias antes de morrer. Por isso, o resultado de seguir Jesus como ideal da vida, da vida co-

Page 48: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 46

mo vocação, o resultado – como diz o Evangelho – é o cêntuplo: as coisas tornam-se mais potentes, torna-se mais potente a minha re-lação contigo, é como se tivéssemos nascido juntos: não te conhe-cia, até há poucos anos não te conhecia, e não tenho nenhum tipo de interesse, no sentido de contrapartida, de benefício, de nenhu-ma espécie, não é por uma contrapartida que estamos juntos; e es-tou muitíssimo bem contigo, não obstante aquilo que pensas, mas não me faço amigo teu por isto. Por isso é uma riqueza mais poten-te em todas as relações, no modo de olhar a flor, no modo de olhar as estrelas, no modo de olhar as plantas, as folhas, no modo de me suportar a mim mesmo, no modo com que penso nas minhas culpas de ontem, de anteontem: «Senhor, perdoa-me, perdoa-me a mim, pecador», mas dizer isto não me desilude, não me deprime, torna-me mais verdadeiro, porque se dissesse isto seria menos verdadei-ro, porque o sou, pecador.

Fecundidade

Desta riqueza deriva uma capacidade de fecundidade que ninguém tem; de fecundidade, ou seja, de comunicação da própria natureza, da própria inteligência, da própria vontade, do próprio coração, do próprio tempo, da própria vida. É dizer: «Daria a pele por cada um de vocês»; cada um de nós o poderia dizer por cada um dos outros, di-lo. Se não o diz é porque nunca pensou nisto, se nunca pensou nisto é porque nunca pensou dando-se conta da presença de Cristo. Se parte desta, di-lo: «Também eu daria a minha pele» – Jesus, no entanto, ajuda-me! É uma fecundidade no trabalho, uma paixão pelo trabalho que não é interesseira ou por gostos ou por particula-res incidências sobre o resultado da minha presença na sociedade: é amor ao trabalho como perfeição de ação, independentemente de como o consegue. É uma fecundidade que é amor a dar aquilo que sou, a dar-me a mim próprio a ti, o que é o mesmo que dar-se a si próprio aos filhos. Amor a tudo o que entra e entrará em rela-ção com os filhos, amor aos outros que são filhos, também eles são filhos, a todos os homens: ao povo. Uma fecundidade no trabalho, uma fecundidade diante dos filhos, uma fecundidade na vida do po-

Page 49: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

47

vo. Em resumo, o ideal da vida torna-se o bem dos outros, o bem para os outros: o bem para os outros, o vosso bem, o meu bem. Este é o objetivo com que Deus fez o mundo: o bem de tudo, o bem. O ideal da vida torna-se o bem.

Virgindade Há uma forma de vocação que decide por uma estrada inopinada e inopinável, impensada e impensável na mente de quem quer que seja e que se chama, desculpem se o digo já, virgindade. É uma forma de vocação que trespassa, como a luz trespassa o vi-dro (a palavra «trespassa» é um bocado insubstituível), é uma forma de vocação que trespassa as urgências mais naturais, tal como se apresentam na experiência realizando-as, paradoxal-mente, segundo um potenciamento novo. Neles, com esta vida, com esta forma de vocação, o trabalho tor-na-se obediência. Porque cada um vai trabalhar por tantos moti-vos, um dos quais é também aquela sombra que se chama gratui-dade: mas aqui o trabalho torna tudo gratuidade, tende a tornar-se totalmente gratuidade. Porque é que vais ao escritório de ad-vogados, porque é que vais às tuas aulas como professor? O fim do mês, ou a carreira, ou o facto que é preciso simplesmente tra-balhar, realmente, no tempo que passa, esmorece; subsiste só a vontade do bem pelos outros: que se faça a vontade de Deus. Ou seja, o trabalho torna-se obediência. O que é a obediência? A obediência é fazer uma ação para afirmar um Outro. O que é a ação? A ação é o fenómeno pelo qual o eu se afirma, se afirma a si próprio, se realiza a si próprio. Para me realizar, a ação que faço não a faço por mim próprio, mas por um um Outro: isto é a obediência. A lei da ação é um Outro, é afirmar um Outro, é amor o Verbo, é amor a Cristo. O trabalho é amor a Cristo. Se o trabalho se torna obediência, o amor à mulher ou ao homem exalta-se. Um homem que se exalta no sentido físico do termo, é um homem que se ergue direito, em toda a altura da sua pessoa. O amor à mulher exalta-se como sinal da perfeição, da atração para que o homem é feito. O amor à mulher exalta-se como sinal

Page 50: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 48

de perfeição e de atração do belo, do bom, do verdadeiro e do jus-to, que é Cristo, porque a perfeição, a fonte da atratividade, a fon-te do belo, do bom, do verdadeiro e do justo é o Verbo de Deus. Aquilo que transparece num panorama da natureza, ou na beleza de um sonho, ou na beleza de um rosto, é o divino que está na ori-gem de cada coisa: no rosto do outro – do outro é, para o homem, por excelência, a mulher, e vice-versa – transluz; transluz de modo inefável, que não se consegue dizer. Para que não vos pareçam abstratas estas coisas, leio-vos uma carta escrita à namorada pelo próprio ex-namorado. Andaram juntos três anos. Depois de três anos, ela intuiu que a sua vocação era a da vir-gindade e disse-lhe que tinha passado por um período de verifica-ção. O ex-namorado escreve-lhe assim: «Caríssima, quero só aprisionar poucas palavras, já que tudo está selado nos nossos corações para sempre para sempre! Não eliminou nada. Estou comovido, melhor, movido de espanto pelo que se está a cumprir na tua vida, ou me-lhor, de quem o está a cumprir. É uma alegria que me conduzirá no tempo ao destino de bem que te agarrou a Ele. Até a dor que sinto, às vezes mais forte que outras, por aquilo que te fiz em certos mo-mentos do nosso encontro, é refrescado por uma misericórdia que o torna mais verdadeiro. Permanece um mistério, que no entanto já se revela. Toda a plenitude da relação entre nós, daquele pedaço de história caminhado juntos, é mais explicado assim. Agrada-me acreditar que cada instante que gastaste comigo, até diante da mi-nha incapacidade, não se perde para sempre! e tenha servido, ou melhor, tenha sido usado por Cristo para te levar até Ele. Peço-te perdão, ou pelo menos, dares-me a tua mendicância, na certeza de teres dado um amor maior à minha pessoa pertencendo assim aos Memores Domini, que me quiseste maior bem assim do que casando-te comigo. Agradeço-te por esta tua espera e rezo a Nossa Senhora para que existam sempre à tua volta rostos de esperança como tens agora, para te protegerem e amarem em cada passo teu. Ofereci-te um ícone de Cristo, sinal da sua encarnação para que te confortes

Page 51: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

49

sempre na Sua presença e para que te recordes de rezar por mim, pela tarefa que tenho agora de amar a Elisabetta, pelos meus fami-liares e pelos nossos amigos, mas sobretudo para que não abandone aquele abraço do Espírito Santo que é o movimento e a sua misteri-osa sentinela». Ele percebeu. Perceberam que ele percebeu? O trabalho torna-se obediência, o amor à mulher torna-se sinal supremo de perfeição da atracção que ela exerce em nós, da felicidade que nos espera. E o povo, em vez de sujeito de uma história humana, cheia de litígios e de lutas, torna-se a história de gente, de um fluxo, de um rio de consciências que lentamente se iluminam rendendo-se, ao menos na morte, à glória de Cristo. Chama-se caridade, estas mudanças chamam-se caridade. O traba-lho que se torna obediência chama-se caridade. O amor à mulher que se torna sinal da perfeição final, da beleza final, chama-se ca-ridade. E o povo que se torna história de Cristo, reino de Cristo, glória de Cristo, é caridade. Porque a caridade é olhar a presença, cada presença, surpreendidos no ânimo pela paixão por Cristo, pela ternura por Cristo. Há uma letícia e uma alegria que só são possí-veis nestas condições. Letícia e alegria são duas palavras para riscar do vocabulário humano, porque não existe possibilidade de letícia e de alegria de outra forma: existe o contentamento, a satisfação, tudo o que quiserem, mas a letícia não existe, porque a letícia exi-ge a gratuidade absoluta que só é possível com a presença do divi-no, com a antecipação da felicidade, e a alegria é a sua explosão momentânea, quando Deus quer, para sustentar o coração de uma pessoa ou de um povo em momentos educativamente significativos. Mas, desculpem, que o trabalho se torne obediência, que o amor à mulher se torne sinal, que o povo não seja um aglomerado de ros-tos, mas sim o reino de Cristo que avança, esta caridade é a lei de todos, não dos virgens. É a lei de todos, sim, é a lei de todos. A vir-gindade é a forma visível de vida que relembra a todos o mesmo ideal de todos, para todos, que é Cristo, o único pelo qual vale a pena viver e morrer, trabalhar, amar a mulher, educar os filhos,

Page 52: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 50

reger e ajudar um povo. É para todos, mas alguns são chama- dos ao sacrifício da virgindade precisamente para que estejam entre todos, presentes a relembrar este ideal que é para todos. O milagre é um acontecimento que, inexoravelmente, remete para Deus, um fenómeno que nos obriga a pensar em Deus. O milagre dos milagres, maior do que todos os milagres de Fátima, maior do que todos os milagres de qualquer que seja o santuário do mundo, o milagre dos milagres, ou seja o fenómeno que inexoravelmente nos obriga a pensar em Jesus, é uma bela rapariga de vinte anos que abraça a virgindade. A Igreja é o lugar deste caminho e de todos os influxos operativos, fecundos, floridos, na gente que caminha junta, na companhia que Deus cria, na qual todos os caminhos estão juntos. A Igreja é o lu-gar no qual toda esta gente se enriquece, se dá e se enriquece com a dádiva alheia. A Igreja é mesmo um lugar comovente de humani-dade, é o lugar da humanidade, onde a humanidade cresce, se in-crementa, expurgando continuamente o que de sujo entra, porque somos homens; mas ela é humana, por isso os homens são humanos quando limpam o sujo e amam o puro. A Igreja é uma coisa verda-deiramente comovente. A luta com o niilismo, contra o niilismo, é esta comoção vivida.

Page 53: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

51

� ����� � �� ���� ���� �������� �� ���� - � � ���� ���� - ��� � � ���� ����� ������ �� ���� � �������� ������� ��� �� � ��-����� ����� � ������ �� ���� � ��� ��� ����� � !����" � �� � �� ��-��� #�$ � �� " ����� �� � � ���������� ����� %���� �� ��� � ��� �����������" ��� � !�$ � �� �� ��" � �� ��!�" � �� �������� %���� !�$ �!�-� �����&�-��� ���� �� �� � ���� '� ����" � ����� ( ������" � ����� �� ����� ) !�� ����� �� �� �������* ��� �� �� ����������� � �������� ��� !���� ��-���" ��� � !���� ��������� � � �� ��� �� � ������� �� � �����&�� ��� ��� � � �� ���� � �� ����" ��� ��� � �� ��� � ����������� ��� ��!��+

��������������

Page 54: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 52

���� ���� ),-%� .�/0�, ,�1#���

)��!" .(2��" �3� ��� ��4 ���* !2��" ������" � ��� �4�� �" �3�!� ,� � ����3���" �����" 5��� 6!�� ,� � ����� 3���" (���� � 7��� �� ��� ��� ��3 �� !3��� ��� (�" ��!��3�� �4�� �" 2���� ���� ��� ��4 �� 4����� ��

��� ���! �� �� 8���" 9��2���� # ����� !�� �� ���" �49�� ���� ���

��2���� ������ � �����* � �2�* � ������ %2 (� :� 2��

������������)��! .�����" :� � ��� ��4 ���" ; !���" ��&� � �� ��&� �����" ���!� ; , %4� 9 ������" �� �( ����� <���� � �!�" ; � %4� ����� �-���" (���� ��� ����" ��� !�� � �3( ����� ; ���" ����" ,�!�-(��� �����" ��� !����� ����� ��� ��� ������ � �4� !��!�� ; � �-���� ��� ��� �" ��� ���� �� 8���" 9����� # ��� �� !���� !�-� � ; = �����" ; 4 ������" ; 4 ��� %� (� :� ���

��)), )��6�., >� ?,.:� '����� ���� ���

����� )��� � �� ?� �� @� ��3 �� �� ���� � A���� �3 !���� � ���� " � � ����� � ����� !���� $� � )��� �" �� � �� � >��" .�(�� �� �4� �� <���� ���� '����� � ��� �4 !�$" ����� )��� � �(�� �� �4��

),�?AB) )������" )������" )������ >������ >�� )�9���� '��� ���� ���� � � � (�� �� ���� 6������ �� ������� C������� ��� !��� �� ������ >������ 6������ �� ������

,/�B) >�0 ,(��� >� ��� ������ ������ �����* ��� ��9��� ,(��� >� ��� ������ ������ �����* ��� ��9��� ,(��� >� ��� ������ ������ �����* ���� ��9�� �����

��� ��C0) ��� �49��" >4���" >4���� ��� �49�� >4���� �� �4����" �� �4���� ��� �� (�4 ����

� ��������� � �4�" )��� " ; ��� � �4�" ; ��� �� !���� ��� ��� (�4 ���

8�)B A0C0 %0%� 8��" 19� !2!�" 8��" 19� �4 �� D 8��" �2! !2!�" �2! �4 �� ���� ����

������������������ �8���" �� � %4� !�!�D ; 8���" �� � %4� �� �D ; 8���" �� � !�!�" ; �� � �� �" ��� !�����

� ),�?A0))0:, ?���� ���������

� ����1�����" � ��2�����" ������ %2 (� :� ��� :3� ��3��" ���� 3��" 4 �" 4 � � � �49��E A� #�(��� � ���3��� ������ %2 (� :� 2�� @������� ���3���" � � �� 3���E = �" 4 � � � �49��E

�����������= ���1�����" 4 ��2�����" ; 4 ��� %� (� :� ��� ; :� ����� �������" ; �(� �� �4�� ; A� � #�(�� �������" ; ��� %� (� :� ��� ; A��� � �� ���������� � A� � �� ����� ; .�(� �� �4��

'�%� A�B )�:�)" = )��6�. :����� �� ��� F%00

'�!� �� �����" 4 )��� " ���� A� ��� ��9 ���� ��� '���! � ��� ,�� ��� �� ��� �(������ ��� �� �!���� �� �(���* �� >�� �� ���� ���� ���� �� ���� # �� ��� !�!��� ���� � �����

A� !��" )��� " �� � ��� �� ����� ��� �4 ��!�" �� !�� ����(� ����� �� ��!�� ?��" ����� ��!��

A� �� �&�� �9 �� ��3 �� � ��� �� (�� ���� ) � ��� #� " �4 �G�� � 3 � ���!�&��" � !����

>3-���" )��� " � �4� � ������" � �� �!����" �� � �(�� ��� ��� �� � ���� �� ����� �� !� ����

6����" � ����" ������" ������ ����� �G6������ /�4 �� � ? ����" �� ���2 ��� �� '��" ������* 6�� �E %��4 ��E

?,�A,0 ,� )��6�. B: 60�� ��%� )� HI

���������������� ������������������������������� �����������������

Page 55: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

53

?����� �� )��� �� ���� ��!� ���� �� �!����� �� �� �� ��� , ��� ��� � �� ����� 9 �&� -� � �� � !��4 ���

������������������ � )��� �� � ����� � ���!�&��" !��� ��� ����� ��� ��&J� � ��� ���&�� .�� ���-� �� ��� <������ � #�!� �� ���� � 0� ���

������������������ �� ���<�� �� � � ��� �� ! � ���!�&�� �� ����� >��� ,������ � )��� " � � ���� �" ������ � ��( �� �������

������������������ ?����� �� )��� �� ��� �� �2�� �" �� ��� �� �2�� � �� �� �D �� ��� �� ��9� �� � ��9��" ������� � )��� " ����� .��

������������������

.��� � �� ���� � �� � �� �" � � � ���� � ���� � �� ��� ��9���D �������� �� ���" �� ��������� ����� � ��( ���

����������������

, A.�K� >� :,0�

, � $ � :���" �� ��!� �� 0 ��" ��� �� 9 ������� � %� (� :� ���

������������������������

, %� (� :� ��" � ���� � ��$" ����� :� 9����� :� � 8����

������

L�� ��� '���� ����� �� � %� (� #����" ��� ���� ��� ����� ��!� ��$ 9 �����E

������

?�� ���� ����! �� ������-��� $� " � %� (� :� �� �� � ��� ���!� �

������

, � $ � ����9 � #�� � �� ���� � %� (� :� �� !����� �� � �� ?���

������

M !� (� 9����� ���� �� ���!� ���� � ����� � � ��� ���� � ��� �

�����

C��>0K�:�) � A�B ��:� ,� :�$�

C���$��� � �� ���"

:� �� ?�" %� (� :� ��" 9���$��� � �� <� � �� L���� )��!��� �

������� ����������� ���!����"���-$���������� ����

����(���" 4 %� (� )����" ���� 9�� ���������" � ��9&� �!����� �� � �(�� �(����� �

������� ������

A��� � �����" 4 :� 9�����" ���� ��3 ��� ���� (�4 ���" � � ����� ��4 ��� � �� ��� �� ���!� �

������� ������

,�!�(��� ��� ���" � ���! �� � A� ���<�" �� �� � A� #�(�� (��� �� � � ���� ����� �

������� ������

?.�:�) �: %=)" = >�B)

? ��� � %4�" 4 >��" � ��� � %4�� = '�� �� ����� ��� ?��" ����� �� �4�� ?�(� �� %4�" 4 >��" � ����� ������ !�$� ? ��� � %4�" 4 >��" � ��� � %4��

)��� ����� >��" )��� " ���� ����� >��� , ����� #� &� ��$" ���� � ����� 9�� )� �G�� !��� ��� � ����� �#��� " ����� )�� �� 9�" 4 >�� � ��� �

�� �� � � %4�" )��� " � �� � � %4�" �� �� ���� ��� ?�� !���� �� �4�� ) #� ��� �� � � !���" �� ���� �� ��9���� �� �� � � %4�" )��� " ���" � �� � � %4��

�� � �� � %4�" )��� " � � �� � %4�" ��� � ��� ���� � �4�� �� ���� ����� � ! � � !���� ��� � �� � �� � %4�" )��� " � � �� � %4��

�� ���-%�� )��� "

Page 56: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 54

����� � %4�� @������ �� ,�� �� �� �4�� )�� %�� ��� �" ����� ���� %�� �� �� �� ���-%�� )��� " ��� �4 � %4��

>,0-��) B: ?�.,NO� /.,�>� ��������

%��-����� �!���&���"��� ������� ����%��-����� �!���&��������������������������

6���� ��!��" � ���� � �� ����4 ��" ����� ��� � �� ��!� ���������� 6���� ��!�� �� !�!� � ��������� ��� �� ���� � �� ���(� ������� �

%��-����� �����

6���� ��!��" ������ � �� �� ��&�" ���������� ������ � ! ���" ����� ��!�� �� # ��� �� ������" ����� ��! � �� ��(� ��9 ����

%��-����� �����

6���� ��!�� ������ �� # ���� ��" �� � ��� � �&�� ��(� �" ����� ��!�� �� ���� ��� ��9 �" �� ������� ��� �� ���� ����

%��-����� ���

�B )�B � 'O� %0%� ?� )��!�

���������'���(���� �!� �� ���)���*� � +���!� ������,����� ����

$� ����!� ���:� '�� ��� !�� �3 � '�� �� ?�� )4 �� ����� �� � !��� �� ������

���������'���(��������

0��� � �� ?� �� �� (� �� !4�� ��� � �3��� �� ��!� ,����&��

���������'���(��������

) ��� ��� �� �� �� � �� L���� �� 6��� ��� � �� � !��� � !4��

���������'���(��������

@�� ��� � ����� �� � 99 � �� ���(� � ���� � :�� �� �G��

���������'���(��������

� ��� � >�� � �� ��� �� ?� �� � �� � !��� �� ������

���������'���(���������

�O� '�>�:�) ?,:0�6,. �-����� ���!� �������� ��� ��� �� ��.�

%,-����� ��� ���'��.�$������������"����������

?������ ����� ��� '�� �� � '�� �� ?� ��� �3D '�� �� � ����� ��� � �$ #� &� ��$ �� ���(� ������� � �4� ����� � ( ���� A��D )��� " !���� � A� �� ��( �� � ����� � � ��$ �� ��� �3-� � <�� � ��!� � �� ��� �� � >��" ������� ��� � ��$D , �� ��&� � ��(� � A� 93����� �� �� � :���� ���� ���� �4 �� A�" ����� ���� � >��D :�� � 9 ! ��(� � � ! A� ����" 4 �� )��� � @�� ��� � ?� �� � 8���" � !��� �� � ��D %�! 3 ��� )��� �� # �� �� ��&� �� ��� � � '�� �� A� ��� �3�" )��� " � �4� #�$ � �����D @�� �����(� �! �� � ��� �� �� � �����

),�A�) ,�8�) 8� '� ��

)����� ,� �� , ��� ��" !��� � ����� ���������" � ����-��� � ���!� � >�!��� ���� ����� �9��� %�!� 8��� ��� �������" %�!� 8���" ����� )��� " %�!� 8���" '�� ��� ���" %�!� 8���" �� ����� ��� �9���� , >�!��� ���� ���� P 8���" >�� 6�������" > :� �� ��� %� (� L ��� �� !�� ��( ���� �9���

,%P :,.0, A��� � ��� � �� � �� ��� �� � ��(� �<�" �� � ��� �� � A� ���� ������� �(� � � ����

���������"��/��������%� ������!� 0�1� �!�������

�%��� ���<� -A � �� � ���� � �� � ���� >�� A��� ���� ��(� 8���� ���� ������ ����

����������

-!� � ���<��&� � !�! �� A� ��� � ���� �� � ���� :� � 8���" �!�-� �� )��� �

����������

,%P :,.0, A ���&�� .2�����

,!" :� ��" �� �� �� �����D

Page 57: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

55

A�" �� !���� ��� ���� �� �4�" �(� �� �4�" �� ���&���� �� ���" �(� �� �4� �� ���� � ����� !���� ,!" :� ��� = �� � �����" �3-��� � �� L���� �� A� � ����� �� �� ��� �� �4�� ����� �� �4�" �Q � ��� ��9 �� �� �� �� :� �� �� �4�" �Q � ��� �����$� � %���� ,!" :� ���

?��� � ( �&�" ��$ �� ������� ��� �3 � !��� � �� ��� �Q � �4�� '� �� �4� ��� ��4 ��� �� )��� � '� �� �4� �� ��� �� � )�� '�$� R���

L��A� >� R/B, %0%, �C�����" 9����� � ��" ? ���� �� )��� ��� ���� ����� P� #� &� �� ������� " -�$ �� ��� �� � ��� �� �� ��� (���� , A� !�� ���� � ��� L��� � R(�� !�!� �� � � %��� �� ��� �� ��9 � �� ������ ����� �� � ? ���� � ��� ���� ��� @�� 99 � ������ #��� ��� � 3 �� �� �� ������� � @�� 99 � 8��� ? ���� �� ��-� ������ �Q � ��� � � � � C�����" 9����� � �� '���� �� ��� �!�� M� 3(��� �� %���� ,9 ���� � �� �&�� ��G ���� � 0( � ����� :� �� ���� %4� ����� �� ���� �� !��� �� 3(��� �� �� ���� �� ��(� 8��� ���� �� �� ? �$ �� � � ���� � ���� � ( �&� ���!� � C�����" 9����� � ��" ���� �� �� �� ���!�&�� �� ��!� @� � ����� ���� ���� �� # ���� � %��� # ���� � ,�� ��!��

� C�: ',)A�.

�@����� A ����� � �������� A� ���#� ��� ����� �����

�������������)����"��������� ��������

��� �!�� ���� ������ ���� ���������� ������ ��� ����������

'� ��� �������� � (����" �� � ���!� �� A� ����

�������������

��� �� � �� � �(�� ���� �� �� A� S��3� ����(��

���������������

� A� #��� � ���#� �� #�$-� ����� � ��( ���

�������������

A�� 9����� � � ��� �� !�! � ���� ����

�������������

:���� �� ��� �G � ��� � � ��� ����" )��� �

��)), )��6�.," :O� >� 8�)B) L� �!�

����� )��� �" :� � 8���" �3-��� � ( �&� �� ��� ��$� %� (� :� ��" >�!��� L�� " �3-��� � ����� �� �� ��� �

����!������2����� ���!)������������� ������!� �� ����������!� ������"������!��������������3���������� ��������� �4�����

) � �� (�&�" 9����� :�" ���� � ��� (� � ���� ��* �� ������ ����� ��� �� !3� ���� �� (� � #�$ � ��$E

����!��������� '��� � ���&��" 7� � � 9����" ���� !������� �� �� �� ���" ���� �������� �� � (� � !��" )��� � ����� ����� � �&��E

����!���������

= %0./�: >� .�)R.0�

= %� (� �� .��3 ��" �� L3��� )��� �" � '� ��(�� .�����" ��� ����� � ����� �� = %� (� �� .��3 ��" �� L3��� )��� �" �� !���� )����3 ��" #� &��� � -� �9� ��

5 ����!�/�����

Page 58: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 56

��� �6��-(������� �%����(����� ��� � ������ �����"������ �����.�7�8,9 ���� ����(��" ������ ����

> %4� � ��� ��" 4 %� (�" �� � ( ��� � �� " �� ����� �� ����� -� � ��9 ����� � > %4� � ��� ��" 4 %� (�" �� � ( ��� � �� ��� ,����" :� 9������" �� ����� ����� �

5 ����!�����

> %4� � ��� ��" 4 %� (�" ��� ����� 9�����" ��� � ���� � ��$ ���� �� �# �� �7���� > %4� � ��� ��" 4 %� (�" ��� ����� 9�����" ��� ����� � � ��� � �� �&�� ���� ����

5 ����!�����

> %4� � ��� ��" 4 %� (�" ���� �������� �����" ��� 8��� �� ���" ��� � ����� ������ > %4� � ��� ��" 4 %� (�" ���� �������� �����" �� � �� �&�� ��� � ��" �� � ����� ���� �������

5 ����!�����

> %4� � ��� ��" 4 %� (�" � � ���� ��� ����� !�" ��� ���-� #��$ ��� !���� 9��&�� ��� > %4� � ��� ��" 4 %� (�" � � ���� ��� ����� !�� ,���" ���� ��� �" ����" ������� :��

5 ����!����

',0 ��))� :� -�2�

'�� �����" �� ����� �� ?�" ��� ���!��� � ��� ��� )���� ���� ����" '�� >�!��� �� ��� ����E

1� ������� �����3����%��������!����9��������� ������������:"�3��!� �������� �!� �� ����!� �������� �!� �� ����

) � !���� ����� ( �&�" ����� ��� � ���� ���� C����� � ���" )��� " ��� )���� ���� �����

1� ������� ��������

%��� � �4� � !���� ���" ����-��� �� !���� ��$

��� )���� ���� ����" ?� �� )��(� � 8����

1� ������� ��������

�� � � ���� ��� ?��" !���� !����� � #�&� ��� )���� ���� ����" ���� ��� �� !���� ( �&��

1� ������� ��������

%���� >�!��� ' ��� ��� � � ����" )��� " ��� )���� ���� ����" ���� ��� �� !���� ��� �

1� ������� ��������

/�� ���-��� � !���� ( �&�� -�! ��-��� � ���� � ���" ��� )���� ���� ����" ���� �� !��� ��� ����

1� ������� ��������

',., A0" :�.,>, ),�A, T� , (����

'����$������� ��������������$�������� ������&������"�������!� ���������� ��������$���

%���� � ��� ��� < �� ����� �����&�� ?�� ��� ��� �� �" �� ���(� ��� (��� 3�

'����$������

.��� ��� ?���(� � ��� �� ��� )����� C9 ��� �� )��(�" ��� # ��� ���!� 3�

'����$������

)���� �� ��!� �����" �� �� ������� ������ A� !��� �� � � �4�" �� ��� ��� (��� 3�

'����$������

),-%P" ��C.� ',>.��0.,

)��!" ��9 ��� �� � �� ��!� �� � ��(���" �� ����� �������� �� � ��!� �� )��� �

7�"�;���� ������������������������� �� ���������������������������"����$����,�������� �����������������������"����$����,�������� �����

P� � ����� '�� �� �" ��� �� (�� � ��� ���� �� 9���� ���<���

Page 59: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

57

�� �� ��� � ����� �

7�"�;��������

, ��� (�4 �� !�� -���" ��� ��� ���� ��( ��� ���(�� ����� �� :� �� �� ��� ������ #�!� �

7�"�;��������

'� ��(��" ���� ��� � L���" � !��� �� �� ��� � !$� ��� � ���� �� ��(��� ��� � ����� �� # ��� #� �

7�"�;��������

)��6�., ��)),

)��� � �����" )��� � �����* !���" �� ��&�" �������� ��$�

�����2�����������2������������ �������� �4�����

%� (� ��� >� �" �� ?����&��* ��� ����� � �� ���������E

�����2��������

%� (�" ��� / �&�� :����� �* ��� �� ��(��� ���� ��� �� �E

�����2��������

����� )��� � � '� ��(��* !��� ��! � -��� � ���� � ���E

�����2��������

)��6�.," �=) %�) -�B%,:�) :� L� ��

)��� �" �4� %�� ���!����" � �� ��� " ���� ���E )��� �" �4� %�� ���!�����

<����������������2����� �'����"����<����������������(��" ��������

)��� �" �4� %�� $����E @�� %�� $� � %4� ���<�� )��� �" �4� %�� $����E

<����������

)��� �" �4� %�� ��������" ����� �� ����� ��( ��E )��� �" �4� %�� ���������

<���������

)��6�.," B: >0, >�)?�)A�) ?� )��!�

)��� �" �� ��� ������ � � � �� � %4� ���<�" ������ � ) � �Q,� � ���� ?�!� �� 0 ���

�����2"����������2"��������������������������

��� ���� � �$2�� � � &�" �� ��� �� !���� ���(�D �� # ��� ��� �� �� � �� �" ��� �39���" ��� ����(��

�����2"��������

L������ � � �� ����� ����� � ���� � ��� �$���� �" � (���� � ��������� ��� ��!�� �� � � ���� ��

�����2"��������

'����� �� ��� ��2����� �� � �&�� ����4 ���" ?�� ��� ��� ����� �" = :� � ��� ��4 ����

�����2"�������

�����" 4 %� (� �� ?�" � ����� �� �� ��$� C����� � ���" )��� �E C����� � � 8���E

�����2"��������

)�C.� �) C.,N�) >, ,K0�6�0.,

)�9 �� 9 �&�� �� �$���� � A� !���" 4 :� ?����" !����� � ���� (��" � ��� � � '�� �� ��

��������������!��9���������������!�����'����"����

L�� �� ?�!� �� 0 ��" ������ � � &� A $�!��" ������ �� ����� ���!���!�� � � � - � ���-���

�������

@� ����� �3 ��� ��� � #��� ��� ����� �����" �������" ��9 $�����" :� ��� �����" :� � >���

�������

'�������� � �&�� � <$�� ��� �����" �� ��3 �� �� � �$��� ���� ����� � �!�&���

�������

) �" ����" � ����� � &�" �� �� �� ��� � �&��" � �� !�!� �!�&�� �� � �# � � ���� 9 &��

�������

>� .��3 ��" %� (� �� �" :� � L3���" :� �� ���" A� � 3� �� ���� � !��� ����� ��$" ����� !��� ��

�������

Page 60: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 58

?,�A�:�) ,-�/.�)

?������" ��( �" � ��� �4 !�$* L ������� 8������ �(�� �� �4� )��!" ���!" '���� ����� ����� ������ ��( �� )��!" ���!" ����� ����� ' ������� � :� �� %����� ����� ������� ?������� �� � )��� � >�� ��� <���� � ( ���� ?� ������ � ����� � A�:,0 � .�?�C�0 :� L� ��

$� �����!����������� �� �� ������"������ ���������������������8��������!���������� �����(��� ������ ����������� ��������

@� ���� �" �� >��" �G � �� ��9 � ����� �� �� ���� �� ��� ��� �!�� �� ���� � , ��� � ��� �����" ��� ��<���� ��� � ���� � �� � �� �

$� �����!������

A�:,0" )��6�." � .�?�C�0 � �&�� � )� 0�3���

A����" )��� " �9� ���� � ����� ��9 ���" � ����� ��4 ��" � �� ���������" ���� � ����� !����� ���� � �� � ������� %4� �� ����" � %4� � ������

A��� !����" ������� ��� !���� !������ >��-� �����" )��� " � !���� ,�� / �&�" �� ���� � 9�����

�)A� P � >0, >� )��6�. ��� � ��� �� )��� ��� � ���� �� ��� ��4 ��� �U�� >���� ��� ��� ����� 3 ��� ���� ! (���� �� ����� �� ���(� ����� �� �� ��!�� , ���� 3� �� � � � �� �&�� ��9 9�" � 3� �� ��!� ������ � �� �&�� ���� �� �� ��� ��� ��&J� ����� ����� ��� � ����� ���� �9 �� � ������� �� ���� ) ��� ��!� �&�" ��!�� ��� �� ����" ��!� ��� ����� ������� �� �� L�����

:�B >�B)" �B ?.�0� :� >��" � � ��" ��� �" �� � ���-!��� '&�-!�� � ��� �� � �� �� ��� � ��" ��� ��� ��" ��� �� �� ��� %�� �����

?�:�0 >� 'O� ?��� �� ���" 99� �� !����" ��� !� � :�� ��� � 3 #��� ?��� �� ���" 99� �� !����" ��� !� � :�� ��� � 3 ��� �� ��� � ��� �� !���" � ��� �� ���� �� ?�� ) ��(�� ��� ��� ���" !�! 3 �� � � � ������ � ��� �� ���� �� ��" �� � �� � !��� �� �����E

�B A� �L�.�N� �� A �# &� � ����� !���" 4 )��� " � A �# &� ���� � �� ���" ���� � �� ���" ���� � �� ���� @�� �4 � A� �� �" ��� � ������� �9��� >��-��� � !���" !��� ! ���� �� �9���

%,:�) A�>�) %���� ����� � ���� � >��" �� >�� �� ��( � � ����� !���� , 0( � � ���(� ��� ?���

-;���� ������� =�������� ���

� ���� � ��� � >��" �� ��� �� � #�$ ����� ������� ,� �� ���� ���" )��� "

-;���� ������� =�������� ���

>��" �� '��" ���9� ����� � ���� , ( �&� �� ��� �3 ��� !���� ,�� ���� ������ � ���"

-;���� ������� =�������� ����

,%P :,.0," -BK ?-,., >, :,�6O A ���&�� .2�����

,! :� ��" ��$ ��� � �� �����" A� � ������ �� � � �� ���� � ' ��( � ����� ��!� � ������� ��G� � �� � �� �� ��� <��

�������������� �"��� �$������� ��� �6�- ������������������8���!� ������������� �����������������$������ �!��!���� ����

= :�" A� �� ���� � �� ��� <����" ��� ���� �� ����� � !3 �9� �D �������-��� � � �$ � �������" �����-��� ��� ����� ���� �� ����

�������������� �"�������

Page 61: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

59

,! :� ��" ��$ ��� � �� �����" A� � ������ �� � � �� ���� � ' ��( � ����� ��!� � ������� ��G� � �� � �� �� ��� <�� �9���

%B�)A., )�V )� A �� � R!���

%��� � ��W" �� � %�� ���2" �� ������� ��� � ��X �9��� >�� ���$� � ��9 $�" ��� ������� � ���������" ��( �� � � ���$�" !��� ����" ��� ��� !��" ��� �� ���� � ��2" �� ������� ��� � ��X

� ����� ��%���� ���" �� � %4� �����" ; �� ������� #�$ � ���X ; >�� ���$� �� ��9 $�" ; ��� ������� �� ���������" ; ��( �� �� � ���$�" ; !��� ���" ��� �� !�" ; ���� ���� � %4� � ���" ; �� ������� #�$ � ���X

6�V ?,�A,.Y

�� � ��� � �� �������� 9���� ����� � �� ! ���� @�� ������ )� ' �����" )� ���� ����4� ��!��� �

:� !������� ����� 3 �� ����� )� ������� :� !��� � )� � ������� ���� � �� ����� 3�

<�>�!�����?��!�����?� ���� ���� �� �����<�>������"��?�������"��?��� �� ��������<�>�!�����?��!�����?� ���� ���� �� �����<�>�����!���?������!���?���������"���������

6 �������� �� #��� �� ���!� �� ���9 �� ���� �� �� �� � � ( ��� #� � W � �� ���( ��������

:� ��!� �W � �� ����� �� �� � �� ������ �(�� � / ��� � �� ��� ��� ��� ����� �� �� � �2�

<�>�!�����?�����

� ����������

� � ��� �� ����� ��������� ; � ��� � ����� � � ��� ! ��� ; @� ����� ��� ' ��&�" ; ���� � ��� ��� ��&��� ; :���� !����� ���� 3 ; �� � ���� ��� ���&�� ; :���� !��� ��� � ��-&� ; ���� �� ����� 3� ; 6� ����� �" ����� � � ����� !��� �� � ����� �� �� ; 6� � ���� �" � ���� � ���� � ����� �� �� ; 6� ����� �" ����� � � ����� !��� �� � ����� �� �� ; 6� ������� �" ������� � �� �� ������� � ���� ; ?����� � #��� ; �� ���!� � ���� �� ���� ; �� ����� �� � ( ��� #� � ; ������� �� �� ���(�� ; ����� ��!� �� � ����4 �� ; �� � ���9 �(�� � ; / ��� � )�� ��� ��4 ���" ; �9� � ��� � � &�� ; 6� �����- ����

'�%�., %�?� ,� ���� :����(��

'�! � !�� �� �� ���� �� ��� �SZ �� ���� � !��" � ��� �� ��[ �� � ��* �! ( ��� " �! ����� � �� �� ��� � ���� !��� ��� �99�� <�� '�� �! ����� � ��Z �� !��� �SZ" ��\� �� !��� ���� �S� ����D ��� ��] �� � " ��� ��] <�� �� ���� � !�� �� �� !��� ���� ���S,�� � ��� Z ��! � !�� �� �� ���� �� ��� �SZ" �� ���� � !�� ����� ��� �� � �� �

� ����� ��'�9 � !�$ � �� ���� �� ��� � ; , ����� !�$" � ��� �� �� �� ���* ; �� �� ( ��� " �� �� ����� � ; �� � �� � ����� �� !��� ��� ���9� ; >����" �! ����� " �� �� � !��� ����D ; ���� � !��� �� � � �����* ; ��� ��� �� " ��� ��� ���9� ; � ����� !�$ �� � !��� �� �� ,�� � ; ��� ��9 � !�$ � �� ���� �� ��� " ; � ����� !�$ ����� ��� �� �� �����

0- )�:� ?������ ?��^�

:����"������ �������� ����������� �� ���"��� �����:����"������ �������� ���������� �� �� ��� �@����

0� ����� � � ���� ���� �� ���� ���� ��� ��� 9����� !��!� (�� �� �� ��� �" !��!� !� �� ���

��������"������ �������� ����������� �� ���"��� �����:����"������ �������� ����A������� �� ���!� �����

�� ! � �� <� ��� �� ��" �� !� � �� ������ �� <� " �� �� ���� �� ( ��(��� �� ������ �� ��� )�(�� �

:����"������ �������� ����������� �� ���"��� �����:����"������ �������� ���������� �� �� ��� �@�����

���������

B� ����� !���!���� �� � ��� C� ��� ����� �� �� 3�� � �� C�B� �����!���!���� ��� ���C������� �� �� ���� ���� ; ��" ��(� �� � �� �����" ; ���� �� ����� !� ���� ; �� �� !�-�� �� ��� �" ; �� �� ! � ����� ; ������������!���!������ ���C��������� �� ��3�� � ��C�B������!���!������ ���C������=!��� �� ��!� ���� ; �� �� �� �� � ���� ��� 7� " ; � �� �� �� � 7� ������" ; ��� � ���� �� ( ����&�� ; �����-� � �� )��� � ; B������ !���!���� ��� ���C��������� �� ��3�� � ��C�B������!���!���� ��� �-��C������� �� �� ���� �����

-, )A.,>, ?������ ?��^�

D������������� �����!��!� ����D������������� �����!�����D������������� ��!���������!����� ���9����E����"�F��

Y (����� ��\� �� �����(�� � �� (�� ������(�� �� � �� ��! !��� �SZ ��� ���\�

Page 62: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 60

���� !� �� �� ��� � ����

D������������� �����

'� �� ��� � � �� ���$��� � ��� ��� �� ���������� Z ! ���� ( ��� >�� Z ( ��� ����� ���� � !����

D������������� �����

����������P 9�� � �� ��� �� � ��� �������" ; 9�� � �� ��� �� � ��� ��� !��� ; P 9�� � �� ��� �� �!� � ����" ; ��� 3 � �� ���� ; A���� �� ������ ���� ��� ����" ; 3 ���� ������� ����" ; ��� �� � ��� !�� �3 ��� � �� " ; �����" � �(�-� ��� � � ������ ; P 9�� � �� ������ ; -!� ����(� �� ������ ���&J� ; ��� ����4 �� ���&���D ; ����� ( ��� >��" ; ( ��� ��� ����� !���� ; P 9�� � �� ������

�=) �O� ),C�:�) @B�: �., ,��� .�����;/�� (�� .����� ;,�9 �� ,(�� ;/����� ,(��

A ���&�� .2�����

-;��������� ����� �����-;��������� ����� ������ ��������-��!� ���4�����

'� � ����� ��-� ��� �� (�� �� ��(�� '���� ����� ��-� �� �� ��� � >������� %�" ���(�E 63-� ��! ��(� " �� ��(� �� � ��

-;��������� �������

:� �� ����� ��-� ��� ����� �� !���� >���� ����� ��-� �� ���� �� � �$� %�" ���(����

-;��������� ������

�4� ����� 3��--� � ����� �� �� �� ����� �-� � ����� �� �� %�" ���(����

�"������� ����� ������"������� ����� ����������*� ����!�������������-��!� ���4������

A��6� '��, -0�>� ,:�. ,��� �

A��� ��� ����� ��� � ���� ���� A��� ��� ����� ��� " ���� �4" A��� ��� � ��� � � #��� ��� �� � ���� ��� �4" ��� �� � � ��� ��� �4" ��� �� � � ��� ��� �������� A��� ��� ����� ��� " ���� ���" � ��� ��� �4 ������

B������������"����/���������������������� �!���G�

-�9 ��&�� �� �� ��� �� �9��� �� �(����-#� �"

�� �9��� �� �(����-#� �" )(����-#� � � �� �����"

B����������������� �!������������������"����/��G��

?,�NO� >, .�:O C���� ,��� �

L�� ���� ��� ���" ���!� ���� � ��� ���" #�� ����� � �� � ���" #�� ����� � �� � ���" ����� ���� �� � ���� � ����� ���� �� � ��� ��-�� �� �� �� � ���� ����!� ���� � ��� ���" ���!� ���� � ��� ��� � ��� ���� �� ����� �� ���9�� ������ ���� �� ������ �� ���� �� ���� �� �G � �� �� ���9�� ��� ! ��" �� �G � �� �� ���9�� ��� ! �� � 9�� �� �� �&��� %��-� �9� � �� � � �����" 3 � ����� � �9� �" �� � �3 �� ����� ����" �� � �3 �� ����� ���� ��� ���� �� ��� ����� L�� ���� ��� ������ � ����� ���� �� � ������

@B,0)" @B,0) ,��� �

�� ��( � ����� ����� 3 ��� ��!� ����� � ,� �� �� �4 � ��!� " �� ���(�� �� ����� �

*����������������������������������������"�������6��;����!���!;������!��� ;���� ��!"�����,��������"��������� �������"������������ �����!� ��������!����6������� �����!�!���� ����!��0�!� �����,� �����

C� ����� � ���� ���� ���� ��� � ����!��� � ���� ���� ��� �� ���� �� ����� ����9���

*����������������*����������������*���������������

Page 63: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

61

, '.�?0))O� $�!� �������������$���� ���"�3��<,���� ���������!�� �����!���-������� �� ������%���������3��(��������� �������!������

:��� �� # �� �� ������ � �������� � #� ��� ��!�� !� � �4���4 ������ � (�� �� ���� ��� � 9 �&� ��(� � � ��9�� #�$ �4-�4-�4� ,� �� 9������ �� !�� �� �� ����� ��� �� ������� �� !�� �� � ���� �� ��� �!� � �� �� � ������� � ���� ����� � �� ��� ����

$�!� ��� �������

���� �� � ���� �� ����� ���# � �� ����� ����� ��� ���� ! ����� ���(�� ���_� �� ���� ����� ��!�� ������ 9�(��� ���� ��9 �������� '��� ����� �� ��� �� <����" �� ���� ������� #� ����� � �#�� �� ������ ����� �� � 3� ��� �������� �� �� � �� �� �� !� �� ��� ���

$�!� �����������

?�� � ���� " � ' �� !�� �7��� � ��!� � ���� �� ����� � ���� ��� �3 �� ����� ���� ���� 9����� �� ��� ������� � ����� )��� E

$�!� �������������$���� ��:"�3��<,���� ���������!�� �����!���-���������� ������%���������3��4,�������������!�������

%�.>�) )O� �) ?,:'�) -�2� � ?��J�" 8�� ,#����

% �� ��� �� ������ �� �� � �����" ����� ��� �� ����� �� �� �� �&��� ?���� �� � ����� ��� ! �� �� 9���D �!���� �� ���� !���� ����� ����� > !�� !�� ������� �� � �$ � ! ��" � ��� ��9 ��&�� �� �� �� �&��� 0��� �� ����� ��� ��� !��" ���* ��� ( �&�� ��� ����� �� �� �� �&��� > !�� !�� ���������� 0��� �� �����`

>R-:� B:, '0�/B0�6, >QR/B,

C���� ,��� �

>3-� ��� ���(����� �G3(��" ���� �� � ��&� �� � ��� �� �� �� �����" �� �� �� �� ����� ��(��� (��� �3-� ��! � ,�(��� (��� �3-� ��! � @� � ����� � (� (����" �� � ����� ���� � ���" �� � ����� ���� � ���� ?��� � ��� ���(�� ������ L�� � #��� 99 3(��" ���� �� ������ ! �" ��� �� � �� ���� ��� �" ��� �� � �� ���� ��� �" ��� ��� ����� ���� ���

� �3-� ������

,�(��� (������

�B �B%0 B: ',)),.0�6� C���� ,��� �

�� ��!� �� ����� ����" �� ���� � �� ��� �(���" �������� ������ ����(�� � �� �� �� ��� ������

'� ��!� ����� ��� 9�" � ��� ����� ��� ��� M� ���� � �� ��� �(��� � ����� ���� �������

�� ��!����

'� ��!� ���

= -B,. >, :�0,-��0A� ,��� �

= ��� �� ���-����" ��� ��(�� � ����� �����D 4 ��� �� ���-����" ��� ��(�� � ����� ����� �� � ����� � �� ��� �� ���� � �� ��� �(���" �� � ����� � �� ��� �� ���� � �� ��� �(����

-���)���� �� �)�! �.������ � �� ����������-���)���� �� �)�! �.������ � �� �����������������3,���,� ��� ��� ���� �� ����-���"������������3,���,� ��� ��� ���� �� ����-���"�����

�� �� ��� �� ������ ��!�* ����" ����� �� �� ��� �� ������ ��!�* ����" ����� � ��(� ������* ������������ ��(� ������* ����������

A���� �� �" ����� ���!�" ����� ���!�" ����� ��� �D

Page 64: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 62

����� �� �" ����� ���!�" ����� ���!�" ����� ��� �" ����� ������� 9�����" � �� ��� �� ��� �� �D ����� ������� 9�����" � �� ��� �� ��� �� ��

-���)���� ����

�� �� ��� �����

= .,:," = @B� -0�>, .,:, ,��� �

7��� ���;������� ���� �0�;��� �� ������������ ������)��� ������� ������� ������������ �����������*���� ������������ ���������������� �����������"����7��� ���;������� ���� �0�;��� �� �����������

��� � ��! � � ��� ���� (���" �� ���� ������ )4 � ��! � � ��� 99 � 3(�� � ����� �� #�����

7��� ������

�� (���� ����� � ��!� ����� � ��� �� ���� ) ���! � ��� � ����� �" ��� �� ���� � ��

7��� ����

)�. '��A, L�� 9�� �������" -� .� ���

) ���� � ���� ����" � ���� �� �� �� �����E :� � ���� ��� 9� �E P � ����(� �� ���� ��� � � .� �� .��� � ,��� � ,�� >� E P � � ��� �� �� � ������ ��� ��9 ��� �� � �� �E P � �3 ��� � �� ��� � �� 7�� �" � (� �� ���� � ����� E

P � #��" � �� � 0�<����E '� ���" �� ������ � �� � � ������ P ������� � ����� ��� �4 ( ���E

� ��� -�" �����" � ���R������ P � � ����" ���(�" !��� � ��� ��$�-�� �������� � ���� � (��E

%,:�) -R ),0�>� C���� ,��� �

%���� �3 ������ �� ��� ������ #� �" �� � ����� !� !���� ��� ����� �� �� � ��

>�� ����� �� �� � � � ����� !� !����" �� ��� ������ #� � !���� �3 �������

%���� �3 ���������

>�� ����� �� �� � ����

%�B-:� �:C�.," %�B ',.A0. ,��� �

%��-� �9� �" !�� �� � " ��� ���� ��Q ��&�D !�� �� � ����� ���� �" �� � � " �� � ! ����� " ��� 9 ���� � !��� � �� �� ���� � �� �� �� � , !��� � �� �� ���� � 9 ���� 7� " �� ���� ������� �� �� ��� ������� ,���" ���� ����� �� �� ,�� E A��� �� ��&� � !���� ��� � ����� ,���" ���� ����� � �" !�� �� � E :�� � � ����� �� � � ���(��� >� �� ����� ����� !���� �� � � � ��� �� � �3 !���� �" ���� 9��

.�:,.0, .���� A��� �

P � ����� � �4 � ����� � �� �4" #��� �" � ���� � �������� ��9 � �� ��!���� P � ��&� � �4" � (�9� � � ��4 ���� !��� ��# ��� � ����

����!�����������������-����������� �����!� ����� ������ �����!�������� ������ � �� ������ ���������

� �� ��� #�� ���" ����� �� �������" ��� � ���� � � ��-� �� !��� � 9���� � �!��� ��� >�����" �(��" ��!��" �����" � �3 �� �" � ��� ��" ����� !��

����!�����������: ���� ��" �� �" �� � !��� ���� �G � ��� " � .��� �� � � �" ��$ ��� ���!����� ?��� � ��� �� $� " �4 �� �� ���� � �� ���� " �� ���� " �� ���� ���

����!����������

Page 65: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

63

?,.C���.� '����� ���������

:�� " �� �� 9�� � �� !��� �����" W � ���! �� ���� ����� ��� ����

�����;���!���;���!���;�������;�� ��!����>���!;���!���;�� ��!�������!;�� ������0���H�������������!�� �"���

:�� " �� �� 9�� � !�� � %Z�$ W � � ���9 � � � ���!���

����;���!���;�����

A�� �� �� 9�� � � � ���9 � �� �\ � �� ���* a?�3��� � ��� �Ea

����;���!���;�����

����� �� :�" � �� �� !�� � ��� !�� ���� � ����" ; �� � �� � �� �� ��$� ; �������� !������� !������� C� ������� � ������ � !������ �I �� C�!������ � ������� !������ �I �� � �������0� C������� ������� � � ���!� �"�� ; :�" � �� �� !�� � !� � %�$ ; � �$ ���� � � �!�� �� ������ ; �������� !�������� ; � �� �� !�� � �� �� ����� ; �� �� � � �� ��$* a������ � ���Ea ; ��������!��������

?B,�>� >� :0 ',A.��, �?����� � �� '�� ��� !�W � ��

���� � � ��� ����� �9� � �� �����

� �9�� V ������ 9� �" W ������ 9� �� � � ��� ����� � �9� 0� �����

�9� �� V ������ 9� �" W ������ 9� �" � � ��� ����� � �9� 0� �����

�9� �� �� � �� � �� �� ��

%� (�����" �� � �� � �� �� ������ �

�� �� @� ��� ��� � �� ���� ��� ��* �W" ���� ���� � ���� �� � �

� ����E

���������� !�"��#��$�%!$��@����� �� ����� '�� �� � !�� � ���� ; �� � �� � � #�$ ����-�� � ��9���* ; ������ ��&�* ������ ��&�� ; �� � �� � � #�$ ��9��� � ������� ; ������ ��&�* ������ ��&�� ; �� � �� � � #�$ ��9��� � ������� ; ��� ��" ��� �� � �� #� � ����� %� (�$�-��" ; ��� ��" ��� �� � �� � � ������ � ����� ; @� ��� ��� ����� ���� �� ���* ; ��� ��� ����� ��� ���� -� ���E

),�A, C,.C,., '����� ���� ���� �

)���� C3 9� � 9�����" ����������������������������

)���� C3 9� � 9�����" ����������������������������

��� ��� � ��� ��� ��" ������� ������ �����H��� ������� �����!� ����"��>���

A ��(� �� ������ � �" ����������������������������

A ��(� �� ������ � �"

����������������������������� ���( � �� �����b �"

��������

�� � ��$� :� �� -����" ����������������������������

�� � ��$� :� �� -����" ����������������������������

�� � �� ��� ��� ��" ���������A ��(� �� ��9$� ���"

����������������������������A ��(� �� ��9$� ���"

������������������������������ � �� ����4 �� 9� ��"

��������&��'��(�$(�$��

)���� C3 9� � 9�����" ; � �� �� �� �� �� ��� �� �� ; )���� C3 9� � 9������ ; � � �� �� ` ; ��� �� � ��� ���� ��" ; �����" �����" ����� ���� � ����� ; A��� � ������ ! ����" ; � �� �� �� � ; A��� � ������ ! ����" ; � � �� �� �� �� ��� �� ��� ; �� ���(� � �� �������� �" ; �������� ; �� ��&� :� �� -����� ; � �� �� �� � ; �� ��&� :� �� -���� ; � � �� ��� ; �� �� �� ���� ��" ; �������� ; A��� � ��9&� �� ���" ; � �� �� ��� ; A��� � ��9&� �� ���" ; � � �� �� �; �� �� �� �� �� 9� ��" ; �������� ,:,K0�/ /.,?� ,��$��( ( ��E 6�c �c� �� ����� ���� ��!� � c ��� ��d �� 0 ��� c�� ���� 9�� ��c 0Q� #����" c�� 9����" 9�� ��c 0 �� 0� c�� ( �� ���� ���(�� �W �� � �� #� ��� ( �� �W #� � ��!�� 6�c � ����� ��� ���� ( �� ���� �� ��� 0 < �� 9��!�� A� ��(� ���W ���( �" ����� ��� ��� � 0 ��! �� ��W ���� A��� ( �� ��� 9 ��(�� � ��# ���� #� " ��� ( �� c��� ��� � ���� A� -� � ��� � ����� (��� �� �* 6�� c� � �W ��� ��� �� 6 c��� �W ����� ��� �� ��� 9 �� ���( �� ��# ��� ��

����� ���)��*� ��������� ( �&�E ?��� ��� � ��� ; �� ���!�� �� ��� 3!� ���� �� ; ,��� � ����" ��� �(� � ����� �-�" ; ���� �(�" ��� �(� � ! �* ; #�� � ( �&� �� ������ � �� �� �&�� � �� " ; � ( �&� �� ���!��� �� ��� ����� ; ?��� �� �� � ����� ��� ( �&� ; �� �� � � �� � ��� � �� ����� ; '� ������ � �(��" � �9����� � �������� ; 3 ����� ; ���� ( �&� � ���-� � ���!� �� ���� ; � ���� ( �&� � (��� 3 �� ����� ; � )��� � ���� � 9� �� � ���* ; � )�� ����! � ���(� � � ����� �� ��&�� ; �� � 3 � �� ����� ������� ; �� ���(� �� ����� !����

/� >�e� :�)�) ���� ����� �( �

e�� 0� �� c�� �� �(W�������* �� �W ���� (�

�� ��� �� �� � ��W ����� ��� �����* �� �W ���� (��

J�� �K���������K�>� �K������">������ �������� �'�������� >������"���

Page 66: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 64

A��� ���d" �� -� � 9��� :��� ����"

�� �W ���" �# ���" 0S�� ���� W�� < ��-9� � ���"

�� �W `

J�� �K������ V�� #�� ����� ��� 9#� W�� �����"

�� �W ���" ��� W��S�� ������ #�� ?����S� ����"

�� �W ���

J�� �K������ V��S�� ��� (� ���� �� �� c��� ���

�� �W ���" c��� � ��(��� ����� �� W�� 9 ���"

�� �W ���

J�� �K������ �� �� ����� ��W �� 9����( ����"

�� �W ���" �� ��� ��� ��� c��� �(W��S� ����"

�� �W ���

J�� �K������ � �� �� ��� # �� 9����( 7"

�� �W ���" ��� �� �� ��� �� ?� ��� 9 # "

�� �W `

������ ����

@����� 0� �� ���!� �� � � �� �(���� ; ����� � �� ��!� ; � ��� �� ����� �� ��� ����� �(���� -�* ; ����� � � �� ��!� ; (��������)��� �,��������� ���"������� ����������;������� �6��� ����� ����-��� ; ,���� #���� � )��� - ���� :���� �� !���* ; ���� � � �� ��!�" ; �� �� ��� � ���(����� �� ��� ;(��������)�� ��� ; �� ��� �����(�� ��� � #� �� # �� ; ���� 3� ���� �� 9�� � � � ?���� ;�(��������)�� ��� ; ��� � � � 3� �� �� �� ; ��� ��� !�� ���� �� �� ���� ; (��������)�� ��� ; ��� ���� � �9���� �� � � !���� ; ���� ��� � �� ��!� �� � � �� �(���� ; (��������)����� ; ��" !���� ����� ��! � -��� �� � !����; !���� ����� � ��! � � ? ���� ; (�������-�)�������

.�?T :V )�B- ���� ����� �( � � � �� !�$�

.��d �W ���� �� �� 9���� �# ,9 ����" ��d �W ���� �� �� 9���� �# ,9 ����D ��d �W ���� �� �� 9���� �# ,9 ����" ��" ��d �W ����� )� ��(� 0 ���Q� (� �! ��" ��� ��c 0 ���Q� (� ��� ��D �� c�� 0 ���Q� (� � ���� ��" ��" ��d �W ����� .��d �W ����� �f�� �

���������������������9��� � ����� ���� �� ��� � ,9 ��� ; �� �9��� � ����� ����� ; A�� ���� �� ��� �����(� ����� -�� �� ���� ; ��� 9���� �� ��� �����(� �_ -� �9���� �� ; ��� �� (� �� ��� ����� �� -�� � !���� ;

�� �9��� � ����� �����

L.��>�: ���� ����� �( �

�� # ���" �� # ���" �� # ��� �! �E

�� ������:A������������:A���������� ���� >�"������ �"��� ���� >�L�� ��� �������

�� �� ��� ���( �� �� ��� ���( �� �� ��� ���( �! �E

�� ������:A���������������� �� �� ������( �� �� ������( �� �� ������( �! �E

�� ������:A���������������� �� �� � W��( �� �� � W��( �� �� � W��( �! �E

�� ������:A����������������

-B�A,��" ??60g -B�A,�� '����� �9 ����" 0�3���

' ����� ��� ���� ��� ��� � ��� � ��E A�\ ��� ��� ������" ��\ ��� �� �� � #� ��(��� :� � Q\ ���" � Q\ �� ����Q����� �" �$$Q� ��� ���" ��� �� " �� ������� �� �$ �� ��� -�����" ����[ ������ � �� ������ ����" ��� �� ��� ����[ 9�� �� � #� ��� ������ -����� ����[ ��� :� ���" �Q�� �� !�(� � � ��\� ��� ���� ���" ���� �� !� � �� !��" �� ���� ( ��� �� ������ !�* �� �� �� ���! !�Q� ��Q���� �Q �Q �� h 9��� �� ��$� -����� Q�(�� �� ����� �� 0Q �� ��h�

��+�� )�������� )��

'� � ��� ����� � ��� ��� ���� ; ����� �� � �� �� �&�� �� ��E ; A��� �� �� �� ����" ���� �� �� ; �� � #�$ ����� ���; :�� �4 �� �" �� �" 9 ��� �� ����Q����" ; �� ��� ��� ��" ��� �� " ; �� ����� �� ��� ����� ���� � ; -3 ���(" ���� ���( �� �� ���(2����� �� ���" ; 9 ���� � ��$ ���� 9�� ; �� � #�$ � �� �&�� ����� � ; -3 ���( ��� ; :� ���� �" � ��� � !�(� �� �� ���� ��� ��� ����" ; ����� ��� �� !��� �� !���" ��� ����� ���&�� �� !3 �� � ����� ���(* ; A� ��9� ���� �� � ��� ���� �� � ��� �� � ; -��( ��� ��� ����� �� �� ��� �� !� � ; -3 ���( �

Q� )B.>,A� Q��,::B.,A� ?��&�� ����������

)��� ������� �� ��� �� � � !��� ��Q Q� ��$� �* ���� !�(��� ���� �� � �� �� � ��� � 9 ����� � �E )� ���� � �����Q����

Page 67: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

65

����Q� ��Q ���� � Q � ���

B���������������� �������!��M�!�����!������M�������M����� M�� ��.�MB���� �����M��9 ����������� ��

@����� ��\ ��� � !��" ��� � ���� ���Q� �� 9 �����" ��� � !��� ����� #�����" ��� �Q��� (�� #� � �9 ����� � �X :� �������� Q� �� ����� � #�� ����(� �Q� ���

B����������� )� �! ��� ���Q ������* �� ��� ��$� �� � � ����" �� ��$� � �� ���$���* �Q� � ���$ ������� � � ��� Q, ����� 9��� � ��\Q 9�� ��� ��� ����� 9��� Q �E

B�����������

�� ���� ����, �� ����3� ���( ��� �� �&�� ; �� � � !��� �� ��� ��������� ; ���� �� � ���� �� � ; � ��� � � -� ��� ��� ��� 9 �&��E ; A�� �(� � �� ��� ; ���� � ���� �(� � � �� ; B��� ����� ������ ��� C� �� !���&���� �� �� !���&���� C� ��� ����� �� ��� ���� � ��.� C� ����� �������I�9 ���N-��-F������� � � ; @������ ����� ��� � ! �" ; ��� � ����� ���� 9 �&��" ; ��� � 9� � �� �� �" ; ��� � �� �� #� ���� ���� � ���X ; :��" ���� ����� ������ ; #�$-� ��� � �� �� ; B��� ����� ; ��� !-� ��� ����-� <�� ������* ; �� ��� ���� ���� ����� � �" ; ����� �������� � �������" ; � ��� � � � �� �� �4 ���� � ��� ���; , ���� 9�� � ����� �� ���� 9��� ; ����� ���� 9�� �� �� ��E ; B��� ����

?0�-0A� -0�>� '����� ���������

,W" � ���� �� ��� ������ �����" ���� � �� 9���" �� � �� �� � ����" ������ �����" �� � �� � �����

�>���>���>���>��!�����>�����������������!����� ������"�����!��������� �������!��������������

�� �3 � � �� �9������" ������ �����" �� � ��� ����" �� �� ����� � �������" ������ �����" 9�� � �����

�>���>���>���>�������

> �� �� � :� ��" ������ �����"!��� 9� ���� ���� � ���� �( ��" ������ �����" � ���� �9�����

�>���>���>���>������

-���� ��� .�,�" �� ��� �� ���" ; !������ ��� ��� ���� � 9���D ; ��� � ��� � ���-(��" !��������� ��; �� �� � ���� ; ����������������!����������!�����C������� !����� �� �� ��"�� �� C� !������ ��� ��� ��� !���&O�� ; � �3��� � �� �9������" ; !������ ��� ���� �� � ��� � ������ ; ������� ��� ��

9� #���E C������������������ ; >� � � �� ��" ; !��������� �� !�� 9�����-�� ; ��� ����� �( ��" ; !��������� �� � ���� �9����� ; ����������������� �

%0�BF 'P-�.0� %��� �Z� �� ��� !�(�9��� ���� �� ���� �� � ��( " ���� ���� �� ��Q� �Q��� ���� >�� !� �Q�^ � �[ � ��( � 8 !��� ��-9�� !�� ��� �Z " <�� ��� ��� � ����� � , �Q��� 9� � � �� �!�Z ������ � ��� !��� � ��! �

8Q���Z! �� 9���_� �� ���" Q����� ���� � ���� �� 8�� �����* �� �� � �Q� �� �� ����" QW ����� �� ���� �� ���( ���� 8 !��� ��-9�� !�� �� �Z " � Z� �Q�� �<� � ������ " �� �Q��� 9� � � �� �!�Z � �� ������ � ��� �

%���� �� <� � �� ���^ ����" � � ��� ��� ��� !��� �� ��" !���� !�� �� ������ �� >�� � ���� � �� ^� ��� 8 !��� ��-9�� �� �� �� ��(�" � ��9����� �� !��� ������" ���� � ��� ����" ���� � �����(" �� � 8��� ���� <� � ���

���� �����)� �%��� � ( ��� �� !�(��� ��� ����� ; ��� � ���� � �� � �� �� �-��� ; ��� ���� � � �$� �� �� ��� � ����� ; >�� � �� 3 �� ��(� �� � �� � � ; -3 � � ! � �� ��� ; � ������ �� � ��� � �������� ; �� ��� � �� (� �� �� ; ��� ���� ����� !�� ����� � � ; ����� � ��� � ���9� � ����� �� ���" ; ��&� 9� � 4���� � 8� ��� ; � �� � ��� �� ���� �� � ��� ; ��� �� ���� � ����� �� ��� ��(������ ; -3 � � ! � ����� ��" ; �� � ��� �<� ����� � �������� ; �� ��� � �� (� �� �� ; ������� � � ����� ����� ; ��� � <� ��� ��� �� ��-���" ; � ����� �� � � �� !��� �� ��" ; �� �� !� � ������� ; � ����� �� >�� ��� ��� �#� &��� ; -3 �� �� �� ��" ; ������� �� ���(�� � �����&J�" ; ����� � � �� ����" � ���!� �" ; ��$��� � 8��� �� <� �9 �(����

�6E >�BF ',V) >� ?6,�,,� ,: ?���(���

B�� ��6���>�� �����������M���������"���! ������������B�� ��6���>�� ��������� ��6���>�� ��������������

- ���� � ��9� ���( � ( �� �� ���!�� � � ���� ��W�" ���� �\ ���� ���� �� � ��� ! � � ��W� � �� ��������

B�� ��6�����

8Q����� � ��� �� ���9�� ��� ����� �� ���� ����Q�� ����" � ���!�� �� ���� �(��� ���� � ���( �� ����� � 7����

B�� ��6����

Page 68: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 66

���� ���� ��� �� ����� �Q^ �� ���� �� �� � (��� � !��� # ����D ���� �� �� �� � ����� ��� ���� 9 i� �Q�� #� �Q���� �

B�� ��6���� >��� � ���� �Q�� �� ����� ����� �<� _ �� � �� ����D �� ��� ��� �� � ���� ����� ��� � ( ��� 6���� � �� ��������

B�� ��6����

��� ����������������B�� �!���=�� ���������C�!� ��)����"����!� ���������9�C�B�� �!���=�� ���������C� �!���=�� �������������&�� ; � ���� �� �-� ���� ��� ���$���" ; ������ �� �� �� ��� ��2�" ; ��� ��� ���� !���� �� � ; �� � � ��2� �� ������� ; B�� �!���=����� ; ��&� � ��� ��� ���9� ���" ; �����$���� � ���&� �� �� ������ ; � �� ��&�� �� ��� �� �� � ; �� � ���(� �� � � �� ; '���� ��� ����� � � � " ; ��� �� �� (���� ���� !���� # ���D ; ��� � ��!� ����-��� ; �� � ��� ����� ��� �� #�(� � ��� � ; B�� �!���=����� ; �� ����� � �� ��� ������" ���!E ; �<�" 4 �� �� ��� ��� ; �3 �� � ��� ����� ��� ; � ( ��� 6���� �� �������� ; B�� �!���=�����

Page 69: Peregrinar2015

COMUNHÃO E LIBERTAÇÃO

67

/01234�

, '.�?0))O� �����������������������������������������������������������������������������jk , A.�K� >� :,0� ����������������������������������������������������������������������lm ,/�B) >�0 ��������������������������������������������������������������������������������lU ,:,K0�/ /.,?� �����������������������������������������������������������������������jf ,%P :,.0, ��������������������������������������������������������������������������������ll ,%P :,.0, ��������������������������������������������������������������������������������ll ,%P :,.0," -BK ?-,., >, :,�6O ������������������������������������������lH C��>0K�:�) � A�B ��:� �������������������������������������������������������lf ?,�NO� >, .�:O ��������������������������������������������������������������������jk ?,�A,0 ,� )��6�. B: 60�� ��%� ����������������������������������������lm ?,�A�:�) ,-�/.�) �����������������������������������������������������������������ln ?,.C���.� ������������������������������������������������������������������������������jm ?0�-0A� -0�>� ���������������������������������������������������������������������������jj ?�:�0 >� 'O� ��������������������������������������������������������������������������lH ?.�:�) �: %=)" = >�B) ���������������������������������������������������������lf ?B,�>� >� :0 ',A.��, ���������������������������������������������������������jm >,0-��) B: ?�.,NO� /.,�>� �����������������������������������������������lf >R-:� B:, '0�/B0�6, >QR/B, ����������������������������������������������jU �)A� P � >0, >� )��6�. ����������������������������������������������������������ln �B �B%0 B: ',)),.0�6� ���������������������������������������������������������jU �B )�B � 'O� %0%� ������������������������������������������������������������������lf �B A� �L�.�N� �������������������������������������������������������������������������lH L��A� >� R/B, %0%, ����������������������������������������������������������������ll L.��>�: ��������������������������������������������������������������������������������jl /� >�e� :�)�) ���������������������������������������������������������������������jf 6�V ?,�A,.Y����������������������������������������������������������������������������lH 0- )�:� ��������������������������������������������������������������������������������jo 8�)B A0C0 %0%� ���������������������������������������������������������������������������lm -, )A.,>, ��������������������������������������������������������������������������������jo -B�A,��" ??60g -B�A,�� �������������������������������������������������������jl :�B >�B) �B ?.�0� �����������������������������������������������������������������lH �O� '�>�:�) ?,:0�6,. �������������������������������������������������������ll ��� ��C0) ��������������������������������������������������������������������������������lU �=) �O� ),C�:�) @B�: �.,�������������������������������������������������jo ��)), )��6�.," :O� >� 8�)B) �����������������������������������������������lm ��)), )��6�., >� ?,.:� ����������������������������������������������������lU � C�: ',)A�. �������������������������������������������������������������������������lm = -B,. >, :�0,-��0A� �������������������������������������������������������������jU = .,:," = @B� -0�>, .,:, ���������������������������������������������������jU � ),�?A0))0:, �������������������������������������������������������������������������lm Q� )B.>,A� Q��,::B.,A� ���������������������������������������������������jl = %0./�: >� .�)R.0� �������������������������������������������������������������lm �6E >�BF ',V) >� ?6,�,,� ���������������������������������������������������jj ',0 ��))� ��������������������������������������������������������������������������������lm ',., A0" :�.,>, ),�A, ����������������������������������������������������������lI '�%�., %�?� ����������������������������������������������������������������������������jo '�%� A�B )�:�)" = )��6�.���������������������������������������������������lU @B,0)" @B,0) ����������������������������������������������������������������������������jk .�?T :V )�B- ��������������������������������������������������������������������������jl .�:,.0, ��������������������������������������������������������������������������������jm ),-%� .�/0�, ���������������������������������������������������������������������������lU ),-%P" ��C.� ',>.��0., ��������������������������������������������������������lI ),�?AB) ��������������������������������������������������������������������������������lU ),�A, C,.C,., ������������������������������������������������������������������������jf ),�A�) ,�8�) � ,.?,�8�) ������������������������������������������������������ll )��6�., ��)), �����������������������������������������������������������������������lI )��6�.," �=) %�) -�B%,:�) �����������������������������������������������lI )��6�.," B: >0, >�)?�)A�)���������������������������������������������������ln )�. '��A, ��������������������������������������������������������������������������������jU )�C.� �) C.,N�) >, ,K0�6�0.,����������������������������������������������ln A��6� '��, -0�>� ,:�. ��������������������������������������������������������jk A�:,0 � .�?�C�0 �����������������������������������������������������������������������ln A�:,0" )��6�." � .�?�C�0 �������������������������������������������������������ln %,:�) -R ),0�>� ��������������������������������������������������������������������jm %,:�) A�>�) ��������������������������������������������������������������������������lH %�.>�) )O� �) ?,:'�) �����������������������������������������������������������jk %0�BF 'P-�.0� ���������������������������������������������������������������������������jj %�B-:� �:C�.," %�B ',.A0. ������������������������������������������������jm %B�)A., )�V�����������������������������������������������������������������������������lH

Page 70: Peregrinar2015

PEREGRINAR 2015 68

Page 71: Peregrinar2015

Sobre o silêncio

Elevai para os céus o olhar: em primeiro lugar para fazer isto, devemos recolher-nos e recolher; imaginem quando não havia ceifeiras-mecânicas e o trigo era colhido à mão... Mal tenhamos vagar, devemos recolher-nos, porque é nos momentos de silêncio que o Ser emerge, pode emergir, co-mo substância nossa e companhia da nossa existência. Por isso, o primeiro indício de que alguma coisa de novo aconteceu em nós e, portanto, cresce (dado que a chuva mandada por Deus não cai so-bre a terra sem dar fruto), é o amor ao silêncio. O silêncio é a procura da vida, é a busca de significado, por isso da plenitude do viver. Não, não se deve amar o silêncio; mas, certamente, no silêncio aparece o que deve aparece, num esplendor crescente. A primeira necessidade do nosso caminhar é o silêncio, porque só com esta condição podemos procurar o Verbo da vida, porque “tudo foi feito por meio d’Ele, e de tudo o que existe, nada foi feito sem Ele” (Jo 1, 3), Aquele que nasce entre nós. Ele, que começou a nascer entre nós, surgi-rá cada vez mais no seu esplendor, se nós o procurarmos. A primeira flor do silêncio é a alegria, tal como florescem silenciosamente os rebentos sobre as árvores. Silêncio e alegria deveriam ser as características apaixonadas da nossa alma, isto é, do nosso existir consciente, do nosso viver como homens. Silêncio, isto é, a procura, e alegria, que acompanha inexoravelmente a procura. Nossa Senhora ensina-nos esta atitude de espera atenta: No anúncio a Maria, as palavras do Anjo podiam confundi-la de espanto e humildade. Porém, não eram de molde a serem totalmente incompreensí-veis, tinham qualquer coisa pela qual se tornavam compreensíveis à alma daquela rapariga que vivia os seus deveres religiosos. Nossa Senhora abraçou-as: “Eu sou a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. Não porque compreendesse, mas na confu-são tornada imensa pelo Mistério que se anunciava vibrando na sua car-ne, Nossa Senhora abre-lhe os seus braços, os braços da sua liberdade e diz: “Sim”. E esteve alerta todos os dias, todas as horas, todos os minutos da sua vida. O estado de alma de Nossa Senhora, aquele estado de ânimo que opera uma atitude e a decide face às ocasiões e ao tempo, como se pode definir melhor este estado de alma de Nossa Senhora do que com a palavra “silêncio”? É mesmo o silêncio, repleto de memória. Duas coisas contribu-íam para esta memória, duas coisas determinavam este silêncio. A pri-meira era a recordação do acontecido. O acontecido conservava intacta a sua maravilha, o seu mistério verdadeiro, o seu mistério de verdade, por-que – e é a segunda coisa – tinha qualquer coisa de presente: aquele Me-nino, aquele jovem presente, aquele Filho presente.

Page 72: Peregrinar2015

�������������� ���������������

�������� ��������

�������������������������

�� ��!�����"�� ��!��

��� !"#�$!�%#&#'()

�*'�#�$!�%#+ #�

%#+ #�()

�#� #,��

-"&#+./!0

1#"!�$!�%#+ #�()�

�!�+!0

�2�3&!3�#�

4�3 #0-1!+$#�

43+$!�

��'6��$����!".��

7�"!3��0

��'#�$#�8�3#�

-"'!�&#�$��93:# !;�

�#0 #+.!3�#�$��93:#-

-<#):2;#�13"#�=�'#�$#�9#3+.#�