percepÇÃo ambiental dos moradores dos bairros … · aplicando-se um questionário...
TRANSCRIPT
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DOS BAIRROS
JARDIM PÉROLA E ILHA DOS ARAÚJOS DE GOVERNADOR
VALADARES/MG EM RELAÇÃO À ARBORIZAÇÃO URBANA
Luiza Mafra Nicolau – Aluna do 5º período do Curso de Tecnologia em Gestão
Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares. E-mail: [email protected]
Luiz Fernando da Rocha Penna – Professor Mestre do Curso de Tecnologia em Gestão
Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares.
Mariana Sarro Pereira de Oliveira – Professora do Curso de Tecnologia em Gestão
Ambiental do IFMG, campus Governador Valadares.
RESUMO
Objetivou-se, com este estudo, analisar a percepção dos moradores dos
bairros Jardim Pérola e Ilha dos Araújos, ambos do município de Governador
Valadares/MG, no que se refere à arborização urbana. Para isso, foi realizada
nos bairros uma pesquisa descritiva por uma amostragem aleatória simples,
aplicando-se um questionário semiestruturado contendo 15 perguntas,
totalizando 100 entrevistas. Com base nos resultados, apesar dos moradores
reconhecerem as desvantagens do mau planejamento da arborização, a maior
parte dos mesmos (98%), mostrou ser consciente da importância representada
por esta em seus bairros. Muitos também apontaram grande insatisfação
quanto ao manejo da arborização dentro do município. Por isso, faz-se
necessário uma fiscalização quanto à maneira como as intervenções na
arborização urbana estão sendo feitas e a realização de um trabalho de
educação ambiental com a comunidade, a fim de minimizar ou extinguir muitos
dos problemas identificados na pesquisa.
Palavras-chave: percepção; arborização urbana; manejo; educação ambiental.
ABSTRACT
It was intended, with this study, analyze the perceptions of neighborhoods
residents in Jardim Pérola and Ilha dos Araújos, in Governador Valadares/MG
city, with regard to urban arborization. For this, we performed a descriptive
survey in the neighborhoods by simple random sampling, applying a semi-
structured questionnaire containing 15 questions, totaling 100 interviews. Based
2
on the results, despite residents recognize the disadvantages of poor planning
of trees, most of them (98%), showed to be aware of the importance
represented by this in their neighborhoods. Many also showed great
dissatisfaction with the management of trees within the municipality. Therefore,
it is necessary oversight as to how the interventions in urban arborization are
being made and conducting environmental education work with the community
in order to reduce or extinguish many of the problems identified in the survey.
Keywords: perception, urban arborization, management, environmental
education.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, a maior parte da população mundial vive nos centros urbanos, que
se caracterizam, principalmente, pela existência de áreas destinadas às funções mais
básicas de sobrevivência, como moradia, trabalho, lazer, recreação e circulação.
Como consequência disso, as sensações de conforto ou desconforto dos moradores
estão inteiramente ligadas às alterações climáticas provocadas pelo meio em que
estes vivem (CEMIG, 2011).
Tendo em vista as infinidades de problemas ocasionados por estas alterações,
tornou-se necessário o planejamento urbano de modo que, as áreas cobertas de
vegetação rasteira, arbustiva ou arbórea, possam, além de proporcionar a preservação
ambiental, também contribuir para melhorar a estética da cidade, servir de atração e
abrigo aos pássaros ou outros animais, e, principalmente, contribuir para a
amenização do microclima e o controle da poluição urbana (BRANCO, 1991; CEMIG,
2011).
Com base nesse planejamento, a Companhia Energética de Minas Gerais –
CEMIG (2011) adverte que “o plantio de árvores deve ser planejado, tanto para as
áreas verdes, quanto para a arborização viária, pois, caso contrário, pode ocorrer uma
série de problemas futuros”.
Seguindo essa linha, Gonçalves e Paiva (2006) mencionam que as árvores de
vias públicas normalmente são contornadas por calçamento ou pavimentação e que,
por isso, torna-se fundamental estabelecer um planejamento, de modo que, durante a
implantação do projeto de arborização, possam ser deixadas áreas livres, ou também
chamadas áreas de crescimento, ao redor das árvores, para auxiliar no
3
desenvolvimento das espécies. Os autores ainda recomendam o espaçamento ideal
de 1m² na maioria dos casos.
Além da área que precisa ser deixada ao redor das árvores e o manejo
adequado das mesmas, a CEMIG (2011) também enfatiza que:
Alguns aspectos importantes devem ser considerados na implantação da arborização, tais como os culturais e históricos da localidade ou as necessidades e anseios da comunidade, já que a participação da população é uma condição importante para o sucesso de qualquer projeto de arborização urbana.
Rio e Oliveira (1999) endossam esta ideia ao afirmarem que, para se obter um
melhor planejamento e compreensão do ambiente urbano, é preciso a realização de
estudos que visem à percepção da população em relação ao meio ambiente, pois
estes são os primeiros a notarem o impacto na qualidade ambiental, devido ao uso
direto e constante de seus recursos.
Nesse sentido, Rosa e Silva (2002) definem a percepção ambiental pela
maneira em que as pessoas interagem e compreendem o meio ambiente, também se
considerando as influências ideológicas geradas por cada comunidade.
Deste modo, segundo Trigueiro (2003 apud ARAÚJO, 2010), “o estudo da
percepção ambiental assume importância para a compreensão das inter-relações
entre o homem e o ambiente, bem como suas expectativas, anseios, satisfações e
insatisfações, julgamentos e condutas”.
Porém, de acordo com Berdague e Gomes (2006):
Ao se estudar então um determinado ambiente, admite-se que há não só a ação do indivíduo sobre este, mas de indivíduos que fazem parte de um grupo com características e percepções semelhantes. Esses grupos também podem fazer parte de um coletivo maior e que esteja sendo afetado pelas ações dos diversos grupos que o compõem. Surge então a necessidade de investigar a percepção desses diversos grupos, com fim de direcionar sua ação sobre o meio, visando a melhoria da qualidade de vida.
Entretanto, para efetuar um estudo com maior clareza e objetividade desses
grupos, é preciso levar em consideração a forma em que o mesmo será realizado.
Nesse sentido, Faggionato (2005) menciona que as imagens fotográficas, os
questionários e os mapas estão entre as muitas formas de se analisar essa percepção
ambiental. Além disso, o autor também destaca a existência de trabalhos neste
sentido que, não só retratam o entendimento da percepção do indivíduo, como
também promovem uma sensibilização por meio do desenvolvimento da percepção e
compreensão do meio ambiente.
Assim, a participação pública e a aceitação das intervenções para melhoria do meio ambiente são resultados de um consenso na definição de qualidade do ambiente e da priorização das metas ambientais. O processo de planejamento não se deve ater apenas à coleta de dados e opiniões, mas
4
também deve buscar promover uma reaprendizagem ecológica (BERDAGUE; GOMES, 2006).
Outro problema relacionado à arborização está associado aos conflitos que
estas apresentam com os elementos do ambiente urbano, como a iluminação, a rede
elétrica, as edificações, e outros. A adoção de práticas de manutenção ou manejo das
árvores é uma forma de garantir suas funcionalidades, ao mesmo tempo em que
assegura sua adequação e vitalidade. Entre essas práticas existe a poda, que precisa
ser conduzida por profissionais e orientada por conhecimentos técnico-científicos
(MILANO; DALCIN, 2000 apud MARTINS et al., 2010).
Diante disso, Gonçalves e Paiva (2006) definem as podas como técnicas
executadas periodicamente em centro urbanos que visam melhorar o desenvolvimento
e o aspecto visual das árvores. Muitos tipos de podas estão sendo realizados
atualmente. Entre estes, a poda de levantamento, que visa a “retirada de galhos
baixos da copa da árvore a fim de propiciar espaço para edificações, trânsitos de
pedestres e veículos e acesso visual à paisagem” (CEMIG, 2011); e a poda direcional,
que “consiste na eliminação de galhos que tendem a crescer em direção ao obstáculo
(serviços urbanos), permanecendo apenas os galhos que se desviam ou crescem em
direção oposta (GONÇALVES; PAIVA, 2006)” (Figura 1).
Figura 1 - Poda direcional à esquerda e poda de levantamento à direita.
Fonte: Manual de Arborização da CEMIG (2011).
Por essas e outras razões, além de contribuir significavelmente para a melhoria
e adequação de planos e projetos municipais, este trabalho torna-se imprescindível
para analisar a percepção dos moradores em relação à arborização urbana, sendo
estes os principais fiscalizadores dos serviços de manutenção da arborização local.
5
Além do mais, ressalta-se que este trabalho também poderá contribuir para despertar
o interesse e a participação coletiva da comunidade frente às questões ambientais
uma vez que seja abordado o assunto com o morador.
Dessa maneira, o objetivo geral desse trabalho foi analisar a percepção dos
moradores dos bairros Jardim Pérola e Ilha dos Araújos, ambos do município de
Governador Valadares/MG, no que se refere à arborização urbana. E como objetivos
específicos, realizar uma comparação entre as respostas dos entrevistados destes
dois bairros e fornecer informações que possam ser úteis à gestão pública ou
companhias que são, direta ou indiretamente, responsáveis pela manutenção da
arborização local.
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O presente trabalho foi realizado em dois bairros distintos da cidade de
Governador Valadares (Figura 2), que está situada no leste mineiro e possui uma
população residente de, aproximadamente, 263.689 pessoas (IBGE, 2010).
Figura 2 - Localização dos bairros Jardim Pérola e Ilha dos Araújos em Governador Valadares/MG.
Fonte: Google Maps (2012).
6
Um destes bairros é o Jardim Pérola, localizado às margens da BR 116 e com
número de moradores aproximado de 5.270 (IBGE, 2010). Este bairro teve o início de
sua ocupação por volta dos anos 60 e é considerado hoje um bairro comercial e
residencial. Um dos locais de maior importância histórica para o bairro e seus
moradores é a Lagoa do Pérola, que é muito frequentada pela população local, sendo
utilizada também para atividades relacionadas à prática de exercícios físicos, à pesca,
ao contato com o meio ambiente e ao lazer.
O outro bairro é a Ilha dos Araújos com um número de moradores aproximado
de 7.659 (IBGE, 2010) e que, por se tratar de um bairro residencial contornado pelo
Rio Doce, também é ponto de prática de esportes, como caminhada, corrida e passeio
de bicicleta por seu calçadão, que conta com 4,5km de extensão e uma intensa
arborização (PMGV, 2012).
No intuito de relatar diferentes situações e pontos de vista, a escolha dos dois
bairros se deu em função de que suas realidades atenderiam, plenamente, ao
proposto pelo trabalho de pesquisa. O bairro Jardim Pérola situa-se numa área fora da
região central do município, enquanto a Ilha dos Araújos já é um bairro mais central.
Além disso, o primeiro apresenta, de uma forma geral, moradores considerados de
uma classe social mediana, ao passo que o segundo é composto por moradores
considerados de uma classe social mais elevada.
2.2. TIPO DE ESTUDO
A metodologia empregada na realização do presente trabalho baseou-se na
revisão bibliográfica acerca do assunto abordado, que serviu de base na elaboração
do mesmo. Também foram feitas pesquisas em órgãos públicos e empresas
diretamente ligadas ao tema, como a Prefeitura Municipal e a CEMIG; e em sites
especializados disponíveis na internet.
Foi elaborado um questionário semiestruturado para uma pesquisa do tipo
descritiva que foi aplicado aos moradores de ambos os bairros sobre suas percepções
quanto à arborização urbana. O questionário, composto por 15 perguntas, foi
classificado em duas partes: a primeira, referente às informações básicas do
entrevistado; e a segunda, que serviu para avaliar a percepção do morador. A
aplicação destes questionários foi realizada por uma amostragem do tipo aleatória
simples, sendo empregados em pelo menos 50 moradores de cada um dos bairros,
totalizando 100 entrevistados.
7
Respeitando os aspectos éticos e legais da pesquisa, também foi elaborado e
utilizado, juntamente ao questionário, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) como uma forma de assegurar os dados e as opiniões dos entrevistados. Esse
termo continha duas vias no qual uma fora entregue ao entrevistado, enquanto a outra
permaneceria com a pesquisadora.
Diante das respostas apresentadas pela pesquisa, foi feita a comparação e a
análise dos dados através de gráficos, com o intuito de apontar a percepção dos
moradores no que se refere ao tema abordado. E, com base nestes resultados, foi
realizada uma entrevista com os representantes da CEMIG e da Gerência de Parques
e Jardins da cidade, a fim de se obter informações sobre o manejo da arborização
urbana municipal.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a pesquisa de campo, foram realizadas 100 entrevistas, sendo que,
64% dos entrevistados pertenciam ao sexo feminino enquanto apenas 36%
pertenciam ao sexo masculino. A maior parte dos entrevistados (60%) apresentou
idade superior a 40 anos (Figura 3), justificado pelo fato de que as entrevistas foram
realizadas durante a semana e em horário comercial, ou seja, período em que grande
parte dos moradores mais novos encontravam-se no trabalho.
Figura 3 – Faixa etária dos entrevistados.
5%
35%
60%
10%
38%
52%
0%
32%
68%
menor de 20 anos
entre 20 e 40 anos
acima de 40 anos
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
8
Quanto ao grau de escolaridade dos entrevistados, pode-se perceber uma
notável diferença entre os bairros escolhidos para a pesquisa. A maioria dos
entrevistados do Jardim Pérola, relatou ter escolaridade entre o ensino fundamental
incompleto (40%) e o ensino médio completo (30%). Já os entrevistados da Ilha dos
Araújos indicaram, em sua maioria, ter escolaridade entre o ensino médio completo
(50%) e o ensino superior ou mais (30%) (Figura 4).
Figura 4 - Grau de escolaridade dos entrevistados.
Apesar da diferença em relação ao nível de instrução existente nos dois
bairros, apenas 2% dos entrevistados afirmaram que não consideram a arborização
urbana importante. Os outros 98% dos entrevistados afirmaram que a arborização
urbana é importante.
Quando perguntados sobre como classificariam a arborização dos bairros
quanto ao número de espécies, foi possível confirmar a diferença entre estes em
relação à demanda de árvores. No bairro Ilha dos Araújos, considerado um dos bairros
mais arborizados da cidade, 54% dos entrevistados disseram que sua arborização é
razoável, enquanto 38% afirmaram ser muito arborizado e apenas 8% de ser pouco.
Já no bairro Jardim Pérola, 50% dos entrevistados também consideraram a
26%
6%
8%
40%
20%
40%
10%
10%
30%
10%
12%
2%
6%
50%
30%
ensino fundamental incompleto
ensino fundamental completo
ensino médio incompleto
ensino médio completo
ensino superior ou mais
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
9
arborização razoável, porém, 42% afirmaram ser pouco arborizado, enquanto apenas
8% disseram ser muito (Figura 5).
Figura 5 – Indicação dos moradores quanto à classificação da arborização de seus bairros.
Dentre os benefícios gerados pela arborização urbana que foram citados pelos
moradores, a proporcionalidade de sombra foi a que obteve maior destaque, sendo
citado por 74% dos entrevistados, confirmando o que foi dito por Santos e Teixeira
(2001), que “a disponibilidade de sombreamento, seja ao caminhar, nos veículos
estacionados ou em ambientes construídos, faz parte das exigências de conforto dos
cidadãos”.
Outros benefícios também foram citados durante a pesquisa (Figura 6). Entre
estes a redução do calor com 65% dos entrevistados, e a melhoria na qualidade do ar,
com 31%. Sobre estes aspectos, Santos e Teixeira (2001) ainda enfatizam que,
mesmo que a arborização não consiga controlar totalmente as condições de
desconforto térmico, ela pode, certamente, abrandar sua intensidade.
23%
52%
25%
8%
50%
42%
38%
54%
8%
muito arborizada
razoavelmente arborizada
pouco arborizada
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
10
Figura 6 - Vantagens da arborização citada pelos moradores de ambos os bairros.
Em relação às desvantagens observadas pelos moradores no que se refere à
arborização de seus bairros, a sujeira das ruas e das calçadas acabou se tornando a
mais comentada na pesquisa, sendo citada por 67% dos entrevistados, seguido da
destruição parcial das calçadas, com 33%, e da redução da iluminação pública, com
13%. Esses resultados vão de encontro ao estudo de Branco (1991), onde muitas
pessoas afirmaram detestar árvores em seus quintais ou mesmo em suas calçadas,
1%
1%
2%
3%
4%
4%
11%
11%
31%
65%
74%
2%
2%
2%
4%
0%
6%
2%
8%
38%
60%
78%
0%
0%
2%
2%
8%
2%
20%
14%
24%
70%
70%
nenhuma
ajuda na fixação do solo
habitat de animais
auxílio em chuvas
redução da poluição sonora
questão ambiental
presença de flores e frutos
estética
melhoria na qualidade do ar
redução do calor
sombra
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
11
por causa das folhas e flores que sujam o chão, das raízes que quebram calçamentos
ou entopem encanamentos de esgotos, ou ainda, dos galhos que batem na fiação
elétrica.
Além dessas desvantagens, outras também foram citadas durante a pesquisa
(Figura 7). Porém, cabe salientar que 10% dos moradores entrevistados afirmaram
que não existem desvantagens decorrentes da arborização urbana. Alguns ainda
citaram que pequenos problemas, como as sujeiras no chão, são poucos se
comparados às vantagens que as mesmas proporcionam.
Figura 7 - Desvantagens da arborização citada pelos moradores de ambos os bairros.
Quanto à colaboração dos entrevistados na manutenção da arborização de
seus bairros, 51% disseram que não colaboram, mas que também não danificam as
2%
3%
3%
9%
10%
13%
33%
67%
2%
0%
4%
4%
14%
6%
20%
64%
2%
6%
2%
14%
6%
20%
46%
70%
quando são retiradas
oiti inadequado
risco de queda de galhos ou troncos
problemas com rede elétrica ou telefônica
nenhuma
redução da iluminação pública
destruição parcial de calçadas
sujeira das ruas e calçadas
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
12
árvores, e 39% afirmaram que já plantaram ou ainda plantam mudas de árvores em
locais específicos, como em torno do calçadão da ilha ou ao redor da lagoa do Pérola.
Ainda foram citados outros tipos de colaboração como: realização de algumas
manutenções e podas (10%), limpeza ao redor das árvores (6%), ou ainda, cuidados
com plantas em quintais e jardins próprios (2%) (Figura 8).
Figura 8 - Colaboração dos moradores com a arborização de seus bairros.
Quando questionados se as podas das árvores eram realizadas de forma
correta, os moradores de ambos os bairros praticamente compartilharam da mesma
opinião. Dos entrevistados, 66% responderam que essas podas eram feitas de forma
incorreta, 15% disseram ser feitas da forma correta, 12% disseram que as podas eram
parcialmente corretas, e 7% afirmaram não saber (Figura 9). Inclusive muitos
moradores citaram que os responsáveis pela prestação deste tipo de serviço
precisavam de um melhor acompanhamento técnico na execução do mesmo.
Segundo a Gerência de Parques e Jardins do município, dois tipos de poda são
mais frequentes na cidade: as podas de levantamento, realizadas pela gerência em
questão, e as podas direcionais, realizadas pela CEMIG. Entretanto, em contradição
ao percebido pelos entrevistados, os representantes de ambas as partes afirmaram
que estas podas estão sendo feitas corretamente e sob uma orientação técnica.
2%
6%
10%
39%
51%
4%
2%
6%
40%
50%
0%
10%
14%
38%
52%
cuidando de outras plantas
limpando o arredor da árvore
fazendo a manutenção e podando
plantando árvores
não colabora/ não danifica
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
13
Figura 9 - Opinião dos moradores se as podas realizadas nos bairros são feitas de forma correta.
Em relação à frequência destas podas, a maior parte dos entrevistados
respondeu que estas eram feitas com muito atraso (70%), alguns citaram que as
mesmas eram realizadas frequentemente (17%) e outros afirmaram que as podas
nunca eram feitas de fato (13%) (Figura 10).
Sobre essa frequência, tanto a CEMIG quanto a Gerência de Parques e Jardins
informaram que, devido à demanda, essas podas são realizadas durante o ano inteiro.
Porém, a CEMIG afirmou que todas as árvores de sua responsabilidade são podadas
pelo menos uma vez ao ano, e que em alguns casos, pode até haver o retorno antes
de completar este ciclo. Já a Gerência de Parques e Jardins afirmou que suas podas
se baseiam nas solicitações dos moradores ou em casos emergenciais, mas que os
prazos são devidamente cumpridos dentro das possibilidades. Entretanto, na literatura
consultada, não se encontrou menção alguma em relação à época correta da
realização das podas.
7%
12%
15%
66%
8%
10%
16%
66%
6%
14%
14%
66%
não sei
parcialmente
sim
não
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
14
Figura 10 - Opinião dos moradores em relação à frequência das podas no bairro.
Outro questionamento realizado na pesquisa foi em relação ao que poderia ser
feito para melhorar a arborização do bairro. Entre as respostas obtidas, 66% dos
entrevistados da Ilha dos Araújos e 56% do Jardim Pérola citaram a realização da
manutenção e das podas de forma adequada e em época correta.
É importante salientar também que 42% dos moradores do Jardim Pérola
citaram que é preciso plantar mais árvores em seu bairro, remetendo-se ao resultado
apresentado na classificação do bairro quanto à sua arborização onde, grande parte
dos entrevistados, disseram que o bairro era pouco arborizado.
Outro ponto de grande destaque, foi que 38% dos entrevistados da Ilha dos
Araújos e 30% do Jardim Pérola, disseram ser importante realizar um trabalho de
conscientização ambiental com a comunidade sobre a arborização. Apesar de não ter
sido questionado, muitos moradores da Ilha relataram que este trabalho de educação
ambiental precisa ser feito, não somente com os próprios moradores do bairro, mas
também com os turistas e moradores de outros bairros que por ali trafegam devido à
grande ocorrência de casos de vandalismo.
Também foram citadas que devem ser feitas melhorias como: realizar uma
limpeza adequada e plantar outras espécies de árvores diferentes do oiti (Licania
tomentosa), sendo esta, a espécie arbórea mais comum no município. Alguns ainda
disseram que não precisam ser feitas melhorias e outros admitiram que não faziam
ideia do que poderia ser feito para melhorar a arborização do bairro (Figura 11).
13%
17%
70%
14%
24%
62%
12%
10%
78%
nunca
frequentemente
com muito atraso
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
15
Figura 11 - Opinião dos moradores em relação ao que poderia ser feito para melhorar a arborização do bairro.
Os entrevistados dos dois bairros, em sua maioria, discordaram do corte
desnecessário de uma árvore localizada na calçada pública (93%) e autorizariam, se
necessário, a prefeitura ou outro órgão competente de fazer o plantio de uma árvore
na porta de suas residências (77%). Porém, muitos ressaltaram que não aceitariam o
plantio da espécie oiti, mas sim de alguma outra espécie que pudesse atender tanto às
necessidades de sombreamento, como que também pudesse gerar flores e não
prejudicar o calçamento.
Quando questionados se eles saberiam informar qual é o tamanho da área livre
que precisa ser deixada ao redor da árvore, 80% dos moradores do Jardim Pérola e
58% da Ilha dos Araújos disseram que não sabiam. Outros ainda responderam valores
próximos a 0,5m², próximos ou exatos de 1m², ou também valores maiores que 1m²
(Figura 12).
1%
1%
2%
14%
32%
34%
61%
0%
2%
0%
10%
42%
30%
56%
2%
0%
4%
18%
22%
38%
66%
realizar uma limpeza adequada
não precisa
não sei
plantar outro tipo de árvore
plantar mais árvores
realizar um trabalho de conscientização ecológica sobre
a arborização
fazer manutenção e realizar podas de forma adequada e
em época correta
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
16
Figura 12 – Resposta dos moradores sobre o tamanho da área livre deixada para a árvore.
Por fim, foi interrogado aos moradores a quem eles encaminhariam, se
necessário, as reclamações referentes à arborização urbana (Figura 13). A maioria dos
entrevistados respondeu que procuraria a Prefeitura Municipal para tais queixas
(90%). Dentre estes, alguns ainda citaram os órgãos públicos ou setores responsáveis
como o Serviço Municipal de Obras e Viação - SEMOV (31%), a Gerência de Parques
e Jardins (5%), o Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE (1%) e a Defesa Civil
(1%). Outros responderam que procurariam por órgãos ou unidades voltados à área
ambiental, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA (1%) e a Polícia Florestal (2%).
É importante destacar que 7% dos moradores afirmaram que, devido ao
constante estresse e demora no atendimento de suas reclamações, prefeririam
resolver os problemas por conta própria. Entretanto, segundo afirma Pires (2007),
“uma poda mal executada pode desequilibrar completamente a árvore trazendo risco
de queda”.
69%
7%
14%
10%
80%
10%
8%
2%
58%
4%
20%
18%
não sei
0,5m²
1m²
mais de 1m²
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
17
Figura 13 - Opinião dos moradores sobre a quem encaminhar as reclamações referentes à arborização.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De uma forma geral, os resultados da pesquisa demonstraram que, em relação
ao nível de percepção dos moradores sobre a arborização urbana, a maior parte dos
mesmos, seja no Jardim Pérola ou na Ilha dos Araújos, apontaram ter conhecimento
sobre o tema e serem conscientes da importância da arborização para seu bairro.
1%
1%
1%
2%
2%
3%
5%
7%
10%
31%
90%
0%
2%
2%
0%
2%
4%
8%
8%
12%
32%
82%
2%
0%
0%
4%
2%
2%
2%
6%
8%
30%
98%
SAAE
Defesa Civil
IBAMA
amigos
Polícia Florestal
depende do tipo de problema
Gerência de Parques e Jardins
resolvo por conta própria
companhias responsáveis pela telefonia e/ou energia
elétrica
SEMOV
Prefeitura Municipal
ILHA DOS ARAÚJOS JARDIM PÉROLA AMBOS
18
Entretanto, com base nestes mesmos resultados, verifica-se a necessidade de
se realizar um trabalho educativo com a comunidade, a fim de minimizar os problemas
de plantio incorreto ou inadequado de espécies arbóreas em locais inapropriados, a
falta de informação em relação ao tamanho ideal da área livre que precisa ser deixada
para o bom desenvolvimento da árvore, fornecer orientações para solução de
problemas referentes à arborização ou os riscos em se tentar resolvê-los por conta
própria, e minimizar críticas à administração municipal quanto ao manejo da
arborização urbana.
Segundo a Gerência de Parques e Jardins do município, o responsável pelo
atendimento das reclamações referentes à arborização está vinculado ao tipo de
problema que está ocorrendo. Por exemplo, em casos de conflito com a rede elétrica,
procurar o órgão específico de fornecimento da mesma, ou em casos de conflito com a
rede pluvial, procurar o órgão específico de atendimento deste último serviço.
Também foi possível notar o descontentamento dos moradores em relação à
utilização da espécie oiti na arborização dos bairros. Diante deste fato, recomenda-se
um estudo da viabilidade da troca dessa arbórea por outra espécie que evite conflitos
com os elementos urbanos como a iluminação, a rede elétrica, as edificações, entre
outros, e que também satisfaça aos anseios da comunidade.
Além disso, percebe-se também a grande insatisfação dos moradores no que
se refere à manutenção e/ou manejo da arborização urbana. Tal descontentamento
não está ligado a um órgão específico, mas sim à maneira geral de como este manejo
está sendo gerenciado dentro do município. E em virtude destes resultados é
indispensável a realização de uma fiscalização quanto à maneira como as
intervenções na arborização urbana estão sendo feitas, a fim de esclarecer as
contradições existentes entre as informações adquiridas com os responsáveis pelos
serviços de podas no município e a percepção dos moradores. Os resultados dessa
fiscalização devem ser divulgados aos moradores dos bairros analisados, a fim de
orientá-los para o acompanhamento da execução destes serviços.
Portanto, conclui-se, por meio da realização do presente trabalho, que foi
possível comprovar a importância do estudo da percepção ambiental dos moradores
em relação à arborização de seus bairros. Através desta pesquisa, conseguiu-se obter
ainda informações de grande relevância que podem auxiliar de muitas maneiras no
gerenciamento ambiental do município no que tange à arborização. Além do mais,
entende-se que a metodologia utilizada neste trabalho poderá subsidiar novos estudos
com base na mesma temática.
19
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERDAGUE, C.; GOMES, E. C. Percepção Ambiental: A cidade versus seu rio. In:
FONTES, L. E. F. et al (Ed.). Recursos hídricos e percepção ambiental no
município de Viçosa, MG. Viçosa: Folha de Viçosa, 2006. p.61 - 73.
BRANCO, S. M. Ecologia na cidade. 15. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1991.
(Coleção Desafios) 56p.
COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS (CEMIG). Manual de Arborização.
Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2011. 111p.
FAGGIONATO, S. Percepção ambiental. Disponível em:
<http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.html>. Acesso em: 28 mai. 2012.
GOOGLE MAPS. Disponível em: <http://maps.google.com.br/maps?hl=pt-
BR&tab=wl>. Acesso em: 10 ago. 2012.
GONÇALVES, W. PAIVA, H. N. Silvicultura Urbana: Implantação e manejo. Viçosa:
Editora Aprenda Fácil, 2006. v.4, 203p.
GOVERNADOR VALADARES. Prefeitura Municipal (PMGV). Site disponível em:
<http://www.valadares.mg.gov.br/current/portal/aspectos_gerais>. Acesso em: 25 jul.
2012.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo de 2010.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 24
jul. 2012.
MILANO, M.; DALCIN; E. Arborização de vias públicas. Rio de Janeiro: Light, 2000
apud MARTINS, L. F. V.; ANDRADE, H. H. B.; ANGELIS, B. L. D. Relação entre
podas e aspectos fitossanitários em árvores urbanas na cidade de Luiziana,
Paraná. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba - SP, v.5,
n.4, p.141 - 155, 2010. Disponível em:
<http://www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo155-publicacao.pdf>.
Acesso em: 15 jul. 2012.
20
PIRES, R. K.; DIAS, M. B.; BRITO, J. O conflito: Arborização x Energia Elétrica, no
bairro Vermelha, em Teresina – PI. II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede
Norte Nordeste de Educação Tecnológica João Pessoa – PB, 2007. Disponível em:
<http://www.redenet.edu.br/publicacoes/arquivos/20080213_112939_MEIO-122.pdf>.
Acesso em: 03 set. 2012.
RIO, V.; OLIVEIRA, L. (org.). Percepção Ambiental – A experiência brasileira. 2 ed.
São Paulo: UFSCar/Studio Nobel, 1999. 265p.
ROSA, L.G.; SILVA, M.M.P. Percepção ambiental de educandos de uma escola do
ensino fundamental. Anais do 6º Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental; 2002; Vitória – ES, Brasil. Vitória; 2002.
SANTOS, N. R. Z.; TEIXEIRA, I. F. Arborização de Vias Públicas: Ambiente x
Vegetação. 1. ed. Porto Alegre – RS: Instituto Souza Cruz, 2001. 136p.
TRIGUEIRO, A. Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão
ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003 apud
ARAÚJO, J. L. O. et al. Percepção Ambiental dos residentes do bairro Presidente
Médici em Campina Grande – PB, no tocante à arborização local. Revista da
Sociedade Brasileira de Arborização Urbana; Piracicaba - SP, v.5, n.2, p.67 - 81, 2010.
Disponível em: <http://www.revsbau.esalq.usp.br/artigos_cientificos/artigo117-
publicacao.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2012.