perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

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UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos de autorregulação das crianças Ana Luísa Fernandes Dissertação MESTRADO EM EDUCAÇÃO Área de Especialização em Formação Pessoal e Social 2012

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Page 1: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Perceções dos educadores de infância acerca dos

comportamentos de autorregulação das crianças

Ana Luísa Fernandes

Dissertação

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Área de Especialização em Formação Pessoal e Social

2012

Page 2: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Perceções dos educadores de infância acerca dos

comportamentos de autorregulação das crianças

Ana Luísa Fernandes

Dissertação orientada pelo Professor Doutor Feliciano

Henriques Veiga

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Área de Especialização em Formação Pessoal e Social

2012

Page 3: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

i

RESUMO

Neste estudo pretendeu-se averiguar as perceções dos educadores de infância

relativamente à autorregulação das crianças, em função de variáveis específicas. Foi

utilizada a Escala de Comportamentos de Autorregulação em Jardim-de-Infância (ECA)

e a Escala de Comportamentos de Agressão entre Pares (CTA). Procedeu-se à adaptação

para o contexto português da escala de comportamentos de autorregulação em crianças

de jardim-de-infância, a “Teacher ratings of behavioral self-regulation in preschool

children”, de Olson e Kashiwagi (2000), que apresentou bons índices de consistência

interna e validade externa (Veiga e Fernandes, 2012). Foi solicitada a autorização às

direções dos jardins-de-infância para a aplicação dos instrumentos; os educadores de

infância foram contactados e procedeu-se à distribuição dos inquéritos. Trinta

educadoras de infância classificaram 557 crianças, com idades entre os três os sete anos

de idade, 269 do género masculino e 288 do género feminino. Analisou-se a distribuição

das crianças em função da sua autorregulação elevada ou baixa, a frequência dos

comportamentos de autorregulação em função do género e da idade das crianças e a

correlação entre a autorregulação e a agressividade entre pares. Observou-se que a

maioria das crianças já apresenta elevados níveis de autorregulação, que as diferenças

de autorregulação entre géneros não foram muito significativas, que as diferenças de

autorregulação entre idades são significativas, sendo mais elevadas nas crianças entre os

cinco e os sete anos do que nas crianças entre os três e os quatro anos e que quanto

maior é o nível de autorregulação das crianças, menos são os casos de agressividade

entre pares. Os resultados sugerem o aprofundamento em posteriores estudos, com

novas variáveis e amostras mais diferenciadas.

Palavras-chave: autorregulação em crianças; infância; representações de educadoras

de infância; conflito entre pares.

Page 4: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

ii

ABSTRACT

In this study, there was an attempt to investigate the kindergarten teachers’

perceptions about the children self-regulation, depending on specific variables. There

were used the Escala de Comportamentos de Autorregulação em Jardim-de-Infância

(ECA) and the Escala de Comportamentos de Agressão entre Pares (CTA). We adapted

a self-regulation behavior scale in kindergarten children to the Portuguese context, the

“Teacher ratings of behavioral self-regulation in preschool children”, by Olson and

Kashiwagi (2000), which presented good internal consistency and external validity

(Veiga e Fernandes, 2012). It was requested the authorization to the kindergartens

principal's offices to apply the instruments; the kindergarten teachers were contacted

and the surveys were distributed. Thirty kindergarten teachers classified 557 children,

aged between three and seven years old, 269 of the male gender and 288 of the female

gender. We analyzed the distribution of the children according to their high or low self-

regulation, the frequency of the behaviors by the children gender and age and the

correlation between self-regulation and peer agression. We observed that most children

shows a high level of self-regulation, that differences of self-regulation between genders

are not significant, that differences of self-regulation between ages are significant, being

higher in children between five and seven years old than in children between three and

four years old and that the higher is the children’s self-regulation, less are the cares of

peer agression. The results suggested the need of going deeper in subsequent studies,

with new variables and more differentiated samples.

Keywords: Children self-regulation; infancy, kindergarten teachers’ perceptions; peer

agression.

Page 5: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

iii

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Feliciano Henriques Veiga, meu orientador da dissertação, pelo

voto de confiança, pela disponibilidade e pelo apoio durante todo o processo de

elaboração deste trabalho. Em especial, agradeço-lhe pela orientação durante o

tratamento estatístico dos dados, a qual foi fundamental para a realização da dissertação.

Aos Professores que acompanharam o mestrado, pelo apoio e pelos esclarecimentos

dados, os quais contribuíram para o aprofundamento dos meus conhecimentos.

Aos meus colegas de mestrado, pelo incentivo e cooperação, pela partilha de

conhecimentos e pelos bons momentos de convívio.

Às colegas educadores de infância que se disponibilizaram a participar na investigação,

sem as quais a recolha de dados não teria sido possível.

Aos meus amigos e família, pelo grande incentivo ao longo deste processo de realização

da dissertação, mas também pelo que me deram e ensinaram ao longo da vida.

Aos meus pais, as pessoas mais importantes, pela possibilidade de integrar este

mestrado, mas sobretudo pelo incentivo, pelo apoio incondicional e por tudo o que me

têm possibilitado.

A todos, o meu profundo agradecimento.

Page 6: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

iv

ÍNDICE

Resumo i Abstract ii Agradecimentos iii Índice iv Índice de tabelas vi Índice de gráficos vi Capítulo 1: Introdução 1

1.1 Definição e enquadramento do problema de investigação 1 1.2 Objetivos do estudo e questões de investigação 3 1.3 Estrutura geral da dissertação 3

Capítulo 2: Desenvolvimento psicossocial da criança dos três aos seis anos 5

2.1 Desenvolvimento na infância 5 2.2 Desenvolvimento do auto-conceito 7 2.3 A Identidade de género 9 2.4 O brincar 13 2.5 Educação e estilos parentais 14 2.6 Relação com os pares 19

Capítulo 3: Autorregulação 23

3.1 Autorregulação: definição do conceito 23 3.2 Autorregulação: o seu desenvolvimento segundo diversas perspetivas 26 3.3 Autorregulação e motivação 29 3.4 Autorregulação e controlo emocional e comportamental 31 3.5 Autorregulação e comportamento pro-social 33 3.6 Autorregulação: como se promove 37 3.7 Autorregulação: como se avalia 40

Capítulo 4: Autorregulação e variáveis sociodemográficas 43

4.1 Autorregulação e género 43 4.2 Autorregulação e idade 44 4.3 Autorregulação e agressão entre pares 46

Capítulo 5: Metodologia 49

5.1 Opções metodológicas 49 5.2 Sujeitos 49 5.3 Instrumentos 53

5.3.1 Escala de Comportamentos de Autorregulação em Jardim-de-Infância (ECA) 53 5.3.2 Escala de Comportamentos de Agressão entre Pares (CTA) 56

5.4 Procedimento 57 5.5 Variáveis de estudo 57

Capítulo 6: Resultados 59

6.1 Resultados da distribuição das crianças pela frequência de comportamentos de autorregulação 59 6.2 Resultados da análise diferencial 61

Page 7: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

v

6.3 Resultados da análise correlacional 66 Capítulo 7: Discussão de resultados e conclusões 69

7.1 Discussão dos resultados 69 7.1.1 Distribuição das crianças pela frequência de

comportamentos de autorregulação 69 7.1.2 Análise diferencial 71 7.1.3 Análise correlacional 72

7.2 Conclusões 73 7.3 Limitações do estudo e sugestões de novas investigações 74

Bibliografia 77 Anexos 88 Anexo 1: Questionário 89

Page 8: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

vi

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Sujeitos da amostra em função do género 50

Tabela 2. Sujeitos da amostra em função da idade 51

Tabela 3. Análise fatorial da escala ECA 54

Tabela 4. Índices de correlação entre os resultados nos itens da ECA e da CTA 56

Tabela 5. Distribuição dos comportamentos de autorregulação, em termos de

ocorrência baixa versus alta 60

Tabela 6. Distribuição das crianças em função do género 62

Tabela 7. Distribuição das crianças em função da idade 64

Tabela 8: Índices de correlação entre os resultados nos itens da ECA e da CTA 67

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Sujeitos da amostra em função da idade (frequência) 51

Gráfico 2. Habilitações literárias do pai 52

Gráfico 3. Habilitações literárias da mãe 52

Page 9: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Neste primeiro capítulo procede-se à introdução do trabalho, a qual se centra na

exposição do problema de investigação que deu origem à presente investigação, bem como a

sua importância no mundo atual, mais precisamente, no que concerne à educação de crianças

em idade pré-escolar. São também apresentados os objetivos do estudo e as consequentes

questões de investigação que orientam este processo de investigação. Segue-se a apresentação

da estrutura da dissertação. Esta dissertação foi elaborada em conformidade com o novo

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

1.1 Definição e enquadramento do problema de investigação

É no jardim-de-infância, que corresponde à faixa etária entre os três e os seis anos, que

se torna mais fácil observar os primeiros comportamentos de autorregulação nas crianças. Isto

é, a criança começa a desenvolver novas relações, com os seus pares e outros adultos fora do

círculo familiar. Estas interações vão-se tornando cada vez mais complexas, devido a uma

comunicação e coordenação cada vez maiores, à partilha de afetos cada vez mais forte, mas

também devido ao desenvolvimento de brincadeiras cada vez mais complexas (Ramani,

Brownell & Campbell, 2010). Desta forma, a criança começa a desenvolver progressivamente

mais competências para controlar os seus comportamentos de exteriorização, descobrindo

assim novas formas de expressar os seus sentimentos, ideias e desejos. Estas competências

pessoais e sociais desenvolvidas nesta fase têm uma grande importância para o

desenvolvimento equilibrado do sujeito (Eckerman & Peterman, 2001). A compreensão destas

competências de autorregulação é muito importante para se compreender o desenvolvimento

do sujeito como um ser global. Porém, estas têm sido um pouco deixadas de lado pela

investigação em Portugal. Por este motivo, este constitui um tema necessário à literatura

científica. É necessário procurar compreender melhor este processo, para que se possa

promover uma melhor adequação das estratégias de trabalho e dinâmicas nos jardins-de-

infância.

Page 10: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

2

Primeiro que tudo, é necessário ter em conta que os comportamentos nem sempre são

positivos, cooperativos e autorregulados. Tanto os comportamentos positivos como os

negativos são naturais nesta fase de desenvolvimento, visto que refletem as experiências da

criança na sua vida em grupo (Ramani, Brownell & Campbell, 2010). Tem-se assistido

atualmente a uma crescente mediatização de temas como a indisciplina e violência nas

escolas, e mais propriamente, o bullying. Estes têm constituído cada vez mais frequentemente

objetos de estudo da investigação científica no campo da educação, não só pela sua

complexidade, mas também devido às suas amplas e graves consequências, tanto nos sujeitos

envolvidos como nos contextos escolares e familiares associados. Contudo, esta investigação

tem-se centrado em crianças mais velhas e adolescentes, deixando um pouco de parte a

existência de condutas agressivas já em crianças do pré-escolar. Daí a importância de

relacionar a autorregulação e a agressão entre pares.

Para avaliar o desenvolvimento deste tipo de competências em crianças desta faixa

etária é importante pensar, primeiro, na melhor forma de o fazer. A forma mais fiável poderia

assentar na observação. Porém, observar uma grande amostra de crianças num contexto real,

ao longo de um período de tempo suficiente para avaliar o desenvolvimento das suas

competências da forma mais fidedigna possível seria um processo demasiado longo para esta

dissertação. Desta forma, recorrer aos educadores de infância e aos seus conhecimentos sobre

as crianças dos seus grupos pareceu a melhor forma de compreender como se processa o

desenvolvimento da autorregulação nesta fase. Definiu-se então como problema de

investigação para o presente trabalho o seguinte: qual a perceção dos educadores de infância

acerca das competências de autorregulação das crianças em idade pré-escolar?

Para melhor compreender o desenvolvimento da autorregulação será necessário ter em

conta diversas variáveis que o influenciam, como é o caso da idade e do género das crianças.

Como já foi referido, apesar de se verificar um grande desenvolvimento das competências de

autorregulação na idade pré-escolar, a conduta agressiva é também normal nesta fase. A nível

da literatura, tem sido dado o nome de “agressão entre pares”, conceito que também tem sido

pouco investigado no contexto científico português. Daí a importância de tentar também,

neste estudo, relacionar os comportamentos de autorregulação com a agressão entre pares no

jardim-de-infância, correspondendo a agressão entre pares à última variável de estudo.

Page 11: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

3

1.2 Objetivos do estudo e questões de investigação

A partir da definição do problema de investigação determinaram-se os objetivos de

estudo e as questões de investigação. Com este estudo pretende-se analisar a relação entre a

autorregulação e os fatores inerentes à criança, neste caso a idade e o género, bem como a sua

relação com a agressão entre pares. De uma forma mais especifica, os objetivos passam por:

§ Aprofundar o conceito da autorregulação em idade pré-escolar;

§ Observar a forma como os educadores de infância percecionam a autorregulação;

§ Analisar o seu desenvolvimento, em função da idade e do género da criança em

idade pré-escolar;

§ Compreender a relação entre a autorregulação e a agressão entre pares no período

pré-escolar.

Partindo do problema de investigação, dos seus objetivos específicos, e da

especificação das variáveis, formularam-se as seguintes questões de estudo:

Q1: Como se distribuem as crianças pela frequência de comportamentos de

autorregulação?

Q2: Será que a autorregulação varia consoante o género da criança?

Q3: Será que a autorregulação varia consoante a idade da criança?

Q4: Há relação entre os comportamentos de autorregulação e a agressão entre pares?

1.3 Estrutura geral da dissertação

De forma a que a organização da dissertação facilitasse a sua leitura e compreensão,

esta foi estruturada em sete capítulos. O primeiro capítulo diz respeito à introdução do

presente trabalho, na qual é apresentado o problema de investigação e os objetivos e questões

de estudo. O capítulo 2 centra-se num esclarecimento relativamente ao desenvolvimento

psicossocial das crianças, dos três aos seis anos de idade, ou seja, o período pré-escolar. No

capítulo 3 procede-se à definição do conceito de autorregulação, fazendo simultaneamente

uma apresentação do que a investigação diz sobre o seu desenvolvimento no indivíduo, e mais

precisamente, na idade pré-escolar. O capítulo 4 foca a relação entre a autorregulação e as

Page 12: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

4

variáveis em estudo: idade, género e agressão entre pares. Estas relações baseiam-se no que a

investigação tem observado até então. O capítulo 5 diz respeito à descrição da metodologia

utilizada no desenvolvimento do presente estudo. No capítulo 6 são apresentados os

resultados desta investigação. No último capítulo é realizada a discussão dos resultados e são

apresentadas as principais conclusões, limitações e sugestões para futuras investigações.

No que concerne à estrutura dos capítulos, esta dependeu em grande parte do conteúdo

de cada um. O primeiro capítulo divide-se num primeiro momento de exposição e

enquadramento do problema, seguindo-se a apresentação dos objetivos e questões de

investigação, terminando numa breve descrição da estrutura da dissertação. O segundo

capítulo encontra-se estruturado em cinco partes, as quais correspondem às principais

componentes do desenvolvimento psicossocial da criança entre os três e os seis anos: o auto-

conceito, a identidade de género, o brincar, a educação e estilos parentais e a relação das

crianças com os seus pares. O terceiro capítulo está organizado em sete pontos, que vão desde

a definição do conceito de autorregulação à forma como esta é avaliada e promovida,

passando pelo seu desenvolvimento, bem como a sua relação com outras componentes

inerentes ao comportamento humano: a relação da autorregulação com a motivação, o

controlo comportamental e emocional e o comportamento pró-social. Todos estes pontos são

primeiro abordados de forma geral, sendo seguidos de uma parte mais específica, referente à

idade pré-escolar. O quarto capítulo é composto por três partes, referentes às três variáveis

trabalhadas neste estudo: idade, género e agressividade entre pares. O quinto capítulo está

organizado em cinco partes onde são feitas as descrições das opções metodológicas, da

amostra, dos instrumentos utilizados, do procedimento e das variáveis de estudo. O capítulo 6

é composto por quatro partes, referentes às questões de estudo da presente investigação. O

sétimo capítulo está estruturado em três partes centrais, sendo que a primeira corresponde à

discussão dos resultados apresentados no capítulo anterior; a segunda parte diz respeito às

principais conclusões provenientes do estudo e a última parte baseia-se na apresentação das

suas limitações e são feitas sugestões relativamente a investigações futuras.

Page 13: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

5

CAPÍTULO 2

DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DA CRIANÇA DOS TRÊS AOS SEIS ANOS

O período entre os três e os seis anos, normalmente designado por período pré-escolar,

é muito importante para o desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial da criança. Para

melhor compreender o desenvolvimento da autorregulação no período pré-escolar, é

importante primeiro abordar o desenvolvimento psicossocial nesta fase de desenvolvimento.

Este capítulo será baseado nas obras O Mundo da Criança e Desenvolvimento Humano, de

Papalia, Olds e Feldman (2001, 2006), na qual os autores apresentam a sua perspetiva

relativamente ao desenvolvimento da criança a nível físico, cognitivo e psicossocial. O

desenvolvimento psicossocial da criança é abordado a partir de diversos fatores que o

caracterizam, como é o caso do auto-conceito, da identidade de género, do ato de brincar, da

influência dos estilos parentais e da relação com outras crianças.

2.1 Desenvolvimento na infância

Esta fase é caracterizada por uma complexificação das capacidades fisiológicas,

motoras, mentais e cognitivas da criança, da sua personalidade e das relações sociais que esta

vai criando. Aos três anos, idade que marca o início da segunda infância, a criança já não é

um bebé e está repleta de curiosidade para se descobrir a si mesmo, e ao mundo em seu redor

(Papalia, Olds & Feldman, 2006). A partir desta fase, adquire mais independência, autonomia

e noção de competência, ao tentar controlar as suas necessidades pessoais, como a higiene, o

sono, o vestir e o comer. É fundamental que a criança adquira, desde logo, hábitos de

alimentação, higiene e sono saudáveis, os quais são influenciados, sobretudo, por padrões

culturais. A competência nestas atividades está diretamente ligada ao aumento do controlo

consciente dos seus músculos. Este período corresponde também a diversos progressos a nível

motor. Como explicaram Papalia, Olds e Feldman (2001), a nível da motricidade grossa, a

que está ligada os músculos maiores, a criança vai adquirindo cada vez mais facilidade e

harmonia de movimentos ao correr, saltar ou transpor obstáculos. Quanto à motricidade fina,

a qual envolve a coordenação óculo-manual e dos músculos pequenos, a criança adquire mais

facilidade em realizar tarefas mais meticulosas, como desenhar, abotoar um botão ou atar os

Page 14: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

6

atacadores dos sapatos. É a partir dos três anos que a criança começa a mostrar preferência

por uma das mãos, designada por lateralidade.

Com a entrada na segunda infância, a criança começa também a estar mais predisposta

para aprendizagens cognitivas mais complexas, tanto a nível da linguagem e da matemática,

como do conhecimento do mundo em geral. Esta fase de desenvolvimento é caracterizada por

um grande egocentrismo e pelo desenvolvimento da memória, bem como por um grande

desenvolvimento a nível da linguagem. Com crescente interesse no mundo em redor, a criança

coloca questões sobre tudo, alargando o seu vocabulário e as suas noções gramaticais e

sintáticas, melhorando as suas competências linguísticas globais. Ao adquirir um maior

controlo da linguagem, a criança de três anos terá mais facilidade em comunicar com outros

sujeitos, e vice-versa. Ao compreender e assimilar mais facilmente as regras sociais, é-lhe

possível desenvolver mais e melhores relações sociais. Estas, por sua vez, desempenham um

importante papel no desenvolvimento da linguagem, da inteligência e da memória (Papalia,

Olds & Feldman, 2006). É sobretudo a partir desta fase, marcada pela entrada no jardim-de-

infância, que o ambiente social envolvente se torna uma grande influência no

desenvolvimento global da criança. Esta etapa é também marcada pelo facto de a criança

desenvolver então a sua consciência de género, a qual influencia o seu auto-conceito e os seus

comportamentos em função do seu próprio género, bem como as suas opiniões e atitudes face

aos papéis que os dois géneros têm na sociedade (Papalia, Olds & Feldman, 2006).

É ainda importante referir que o desenvolvimento da criança sofre diversas influências

ambientais ou biológicas, como é o caso de algumas doenças ou deficiências físicas, psíquicas

ou cognitivas, as quais muitas vezes provocam atrasos no desenvolvimento das crianças. Este

é também influenciado por outras questões ambientas com as quais a criança está em

contacto, mais propriamente, o a cultura e o contexto familiar.

Para melhor compreender a autorregulação, o importante aqui é centrarmo-nos no

desenvolvimento psicossocial dos três aos seis anos. Nesta fase, a criança adquire uma maior

noção de si mesma. Esta aprende também a que género pertence e começa a comportar-se de

acordo com o mesmo. É também importante referir que a brincadeira, a principal atividade

das crianças, desempenha um papel muito importante no seu desenvolvimento psicossocial.

Outra grande fonte de influência assenta no contexto familiar, mas propriamente das crenças e

comportamentos dos pais, e nos estilos parentais que estão na base na educação da criança. O

desenvolvimento psicossocial infantil recebe também uma grande influência da interação da

criança com os seus irmãos ou com outros pares. São estes os principais pontos a serem

desenvolvidos no presente capítulo.

Page 15: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

7

2.2 Desenvolvimento do auto-conceito

No que concerne ao desenvolvimento psicossocial da criança, o período pré-escolar é

caracterizado pelo desenvolvimento do seu auto-conceito ou self. De acordo com Papalia,

Olds e Feldman (2001), entende-se por auto-conceito a “imagem mental descritiva e

avaliativa das capacidades e traços de cada um” (p.352). É, portanto, a representação mental

que sujeito tem de si próprio, das suas características, capacidades e sentimentos e que orienta

o seu comportamento. Oosterwegel e Oppenheimer (1993) definem-no como “um sistema

gradualmente mais complexo e multidimensional que se desenvolve a partir da interação

recíproca com o meio, influencia e é influenciado pelo funcionamento do indivíduo” (p.321).

A partir dos três anos, a criança consegue refletir sobre si e sobre as suas ações, e identificar

as suas características. É assim capaz de autodefinir-se, autodescrever-se e autoavaliar-se

(Papalia, Olds & Feldman, 2006). Aos quatro anos, devido ao desenvolvimento da memória, a

criança já melhorou o conhecimento que detém sobre si. Contudo, a sua autodefinição centra-

se, em características físicas, competências, comportamentos observáveis, preferências e

posses, ou noutras informações referentes à habitação e a família (Papalia, Olds & Feldman,

2001). Apenas mais tarde a criança deixará de referir ações e habilidades, passando a

descrever-se em termos de capacidades, como ser inteligente, alta ou forte.

A investigação tem procurado compreender e o desenvolvimento do auto-conceito. De

acordo com as teorias neo-piagetianas (Case, 1992; Fischer, 1980) as principais mudanças

ocorrem ao longo de três fases. Até aos quatro anos a criança descreve-se a partir de

representações simples e isoladas. Não consegue considerar que pode ter diferentes emoções

em simultâneo, nem compreende que o seu self real é diferente do seu self ideal, o sujeito que

deseja ser. Desta forma, tende a descrever-se de forma irrealisticamente positiva. Por volta

dos cinco anos, a criança atinge outra etapa, caracterizada pelos mapeamentos

representacionais – ligações lógicas entre as suas características ou ações. Contudo, como

entende o bom e o mau como opostos, não compreende como pode ser bom em determinadas

coisas e mau noutras. A entrada para o primeiro ciclo corresponde a uma nova fase,

caracterizada pelos sistemas representacionais. A criança já consegue relacionar aspetos do

self de forma mais generalizada, realizando desta forma autodescrições mais equilibradas.

A compreensão das emoções nas crianças é paralela ao desenvolvimento do auto-

conceito. Esta permite que a criança se conheça melhor, conseguindo controlar a forma como

exprime os seus sentimentos e como reage aos sentimentos dos outros (Papalia, Olds &

Feldman, 2006). No período pré-escolar, as crianças já vão sendo capazes de falar sobre o que

Page 16: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

8

sentem e de aceitar os sentimentos dos seus pares. Contudo, há emoções muito complexas que

as crianças pequenas têm dificuldade em compreender, como a vergonha ou o orgulho. Estas

emoções dirigidas ao “eu” têm origem social, desenvolvendo-se a partir dos três anos, com a

aquisição dos padrões de comportamento parentais. A partir de uma investigação, Harter

(1996) observou que entre os três e os cinco anos, a criança percebe que os pais podem ficar

felizes, tristes ou zangados com as suas ações. Entre os cinco e os seis anos já reconhece que

estes podem ficar envergonhados ou orgulhosos, mas não reconhece essas emoções em si

própria

Para além disso, como já foi referido anteriormente, a criança em idade pré- -

escolar não consegue reconhecer a existência de duas emoções em simultâneo. De acordo

com Harter e Buddin (1987), a criança passa por cinco etapas até compreender a existência de

emoções simultâneas, o que acontece por volta dos doze anos. No primeiro nível (três-quatro

anos), a criança não reconhece dois sentimentos ao mesmo tempo. No nível seguinte (quatro-

cinco anos), esta aceita que possam existir duas emoções em simultâneo, mas apenas se

ambas foram positivas ou negativas e dirigidas à mesma pessoa ou situação. Na terceira etapa

(cinco-seis anos), a criança já consegue aceitar a existência de alvos diferentes. Contudo,

ambos os sentimentos têm que ser positivos ou negativos. No quarto nível (seis-dez anos), a

criança reconhece a existência de duas emoções opostas mas apenas se dirigidas a alvos

diferentes. Na última etapa (dez-doze anos), a criança consegue finalmente compreender a

existência de sentimentos opostos face ao mesmo alvo. Noutro estudo desenvolvido por

Brown e Dunn (1996), observou-se que as crianças, sobretudo do sexo feminino, adquirem

esta capacidade até ao final no primeiro ciclo, ou seja, por volta dos dez anos.

Erikson (1902-1994) teve um papel muito importante na compreensão da forma como

a criança lida com estes sentimentos contraditórios. Na sua teoria, este defendeu que o

desenvolvimento da personalidade é fruto da interação de fatores genéticos com fatores

ambientais e sociais e sucede ao longo de oito estágios, os quais assentam em fatores

psicossociais. A criança no período pré-escolar encontra-se na terceira crise de

desenvolvimento: iniciativa versus culpa, na qual a criança tem de lidar com emoções, muitas

vezes contraditórias. Este conflito está relacionado com o planeamento e realização de tarefas

e com as consequências que saí resultam. Enquanto algumas dessas ações são socialmente

aceites, outras não são aprovadas. A criança tem que decidir entre a vontade de prosseguir

com os seus desejos e planos, de experimentar novas situações e testar poderes e os

condicionalismos sociais e morais que se opõem, criando um conflito na sua personalidade.

Se esta crise for resolvida de forma positiva, a criança aprende a controlar a sua necessidade

Page 17: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

9

de explorar e testar novas coisas, a refletir e a adequar as suas ações, seguindo as suas

motivações e objetivos sem receio do sentimento de culpa e de possíveis punições. Se a crise

for mal resolvida, a criança poderá tornar-se num adulto que se exibe e está sempre em busca

de notoriedade e aprovação; ou num adulto inseguro e sem iniciativa própria; ou até mesmo

num adulto exigente e intolerante consigo mesmo.

Ao refletir acerca da formação do auto-conceito é importante também referir o

desenvolvimento da autoestima. De acordo com Oñate (1989), a autoestima é resultado de

uma avaliação de si próprio, da satisfação pessoal relativamente a si, ou seja, é um julgamento

que um sujeito faz do seu próprio valor. Como já foi referido anteriormente, a criança nesta

faixa etária tem tendência a sobrevalorizar as suas características e competências, de forma

que a noção que tem de si mesma é pouco realista. A ideia que tem em relação à sua

autoestima é muito global – “eu sou boa” ou “eu sou má” (Harter, 1996, 1998) e normalmente

tem origem nos julgamentos e ações dos adultos. O apoio, o carinho, a disponibilidade e a

atenção são grandes promotores de autoestima. Quanto a criança tem uma autoestima elevada

fica motivada. Caso contrário, poderá entender o seu fracasso como sinónimo do seu valor,

sentindo-se impotente e insegura (Papalia, Olds & Feldman, 2006). Muitas vezes desiste das

atividades, ou nem as tenta realizar. Daí o papel fundamental do adulto em ter

comportamentos favoráveis e em dar feedbacks positivos em vez de criticar e salientar os

aspetos negativos da criança.

2.3 A Identidade de género

Outro aspeto muito importante ao longo desta fase de desenvolvimento psicossocial

diz respeito à definição da identidade de género, a qual corresponde à consciência que o

sujeito tem do seu género e tudo o que este implica. A compreensão das diferenças físicas,

psicológicas e comportamentais e a aprendizagem dos papéis sexuais relacionados com o seu

género têm um papel muito importante no desenvolvimento do auto-conceito da criança no

período pré-escolar. Os papéis sexuais são constituídos pelo conjunto de comportamentos e

atitudes, gestos, interesses e competências que a sociedade considera adequados a cada género

(Papalia, Olds & Feldman, 2001). Todas as culturas têm definido diferentes papéis de género

ao longo da história, sendo que atualmente, os papéis sexuais ocidentais se tem tornado mais

diferenciados e flexíveis.

Page 18: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

10

Muitos são os estudos que têm observado que as diferenças entre géneros podem ser

muito significativas. A maior diferença observada assenta no facto de os rapazes serem física

e verbalmente mais agressivos que as raparigas (Coie & Dodge, 1998; Turner & Gervai,

1995). Por outro lado, estas parecem ser mais empáticas, cooperativas e obedientes do que os

rapazes (Eisenberg, Fabes, Schaller & Miller, 1989; Hoffman, 1977; Maccoby, 1980, Turner

& Gervai, 1995). Outra diferença prende-se com os tipos de brincadeiras e brinquedos

escolhidos por ambos os géneros (Turner & Gervai, 1995). Os rapazes parecem ser melhores

na análise mental de números e formas, enquanto as raparigas demonstram melhores

capacidades verbais e de perceção (Halpern, 1997).

Muitas das diferenças entre géneros que pensamos existir são, de facto, resultado dos

contextos culturais envolventes, mais propriamente, das experiências pelas quais as crianças

passam e pelas expectativas criadas pela sociedade (Papalia, Olds & Feldman, 2006). Muitas

sociedades estão repletas de estereótipos de género muito vincados, que podem determinar de

uma forma negativa a personalidade da criança, criando uma visão limitada de si próprio e do

mundo em redor em função do seu género. Os estereótipos podem ser observados em crianças

logo a partir dos dois/três anos, aumentando durante o período pré-escolar (Haugh, Hoffman

& Cowan, 1980; Ruble & Martin, 1998).

Desde cedo, as crianças adquirem um papel de género e algumas delas orientam--se

por estereótipos. São várias as teorias que tentam explicar a forma como as crianças os

adquirem. De acordo com a teoria psicossexual desenvolvida por Freud, esta aprendizagem é

denominada de identificação e está ligada ao facto da criança pequena se identificar com o

sujeito parental do mesmo sexo, adotando as suas crenças, valores, comportamentos e atitudes

(Papalia, Olds & Feldman, 2006). Contudo, a investigação tem observado que a criança em

idade pré-escolar se identifica mais com o progenitor do sexo oposto (Westen, 1998), de

forma que a identificação pode não ser uma causa mas uma consequência da tipificação de

género.

A teoria da aprendizagem social (Bandura, 1986; Bussey & Bandura, 1999) defende

que esta aprendizagem, como a aprendizagem de muitos outros comportamentos, advém da

observação e imitação de modelos. Estes são, geralmente, as figuras paternas, podendo ser

também outros adultos, pares ou meios de comunicação. A aprendizagem é assegurada pelo

reforço, juntamente com o ensino direto dos pais e outros adultos. Os rapazes são reforçados a

comportarem-se com “um menino” e as raparigas como “uma menina”, ou seja, de acordo

com os estereótipos associados aos diferentes géneros. Na segunda infância a criança começa

a ter capacidade para controlar os seus comportamentos e ações, passando a assimilar os

Page 19: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

11

padrões comportamentais de género. Entre os três e os quatro anos, esta passar a ter menos

necessidade do controlo do adulto, gerindo o seu comportamento com base na autorregulação.

No que concerne às influências do meio, como foi referido anteriormente, o papel

mais importante cabe aos progenitores. Vários estudos têm mostrado que os pais têm mais

influência no reconhecimentos das diferenças de género no que na tipificação dos

comportamentos em si (Fagot & Leinbach, 1995; Turner & Gervai, 1995). A investigação

também tem observado que os pais exercem mais pressão nos rapazes do que nas raparigas

para agirem de acordo com o socialmente aceite para o seu género, para não ter

comportamentos femininos. Os rapazes sofrem mais influência quanto à escolha das

brincadeiras, enquanto as raparigas têm mais liberdade de escolha (Lytton & Romney, 1991;

Miedzian, 1991). Os pais mostram mais desconforto por um menino brincar com uma boneca

do que por uma menina brincar com um carrinho. Quanto aos comportamentos, também se

tem verificado que os pais aceitam a agressividade nos rapazes e promovem comportamentos

afetuosos nas raparigas.

Os pares também constituem uma grande influência na identidade de género da

criança, sobretudo a partir dos três anos. Mais uma vez, os rapazes parecem sofrer mais

pressão do que as raparigas a agir de acordo com o socialmente esperado (Ruble & Martin,

1988). Aos quatro anos, as crianças têm consciência de como devem agir de forma a serem

aprovadas pelos seus pares (Bussey & Bandura, 1992).

No que diz respeito às influências culturais, a televisão surge como principal agente

socializador. Desta forma, muitas das atitudes e comportamentos que a criança assimila

relativamente ao género são fruto das imensas imagens estereotipadas que a televisão

transmite (Ruble & Martin, 1998). Uma criança que passa muito tempo a ver televisão torna-

se mais tipificada relativamente ao género (Kimball, 1986). Outro elemento cultural que

influência a definição da identidade de género é o livro, o qual transmite, tal como a televisão,

imensas imagens estereotipadas. Atualmente é possível observar uma evolução na

flexibilidade dos papéis de género e dos estereótipos, como é o caso dos livros retratarem

meninos e meninas a brincar em conjunto, ou meninas mais aventureiras, que vestem calças

ou calções. Contudo, as personagens masculinas continuam a ter maior predominância como

os heróis que ajudam as personagens femininas (Beal, 1994; Evans, 1998). Ao ouvir um

conto, é provável que as crianças estejam a espera de um conto de fadas padronizado, em que

o príncipe salva a princesa, podendo ficar desiludidas se o mesmo não acontecer (Evans,

1998).

Page 20: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

12

Por outro lado, a teoria cognitiva de Kohlberg (1966) defende que a criança aprende o

seu papel de género como aprende todas as outras coisas, através da sua reflexão sobre as

experiências que vivencia. Ao compreender que o seu género será sempre o mesmo –

constância de género - a criança faz a sua tipificação de género sozinha, identificando-se com

o seu género e organizando, a partir daí, o seu comportamento em função dessa classificação.

Porém, estudos têm mostrado que a criança já reconhece e demonstra preferências de género

mesmo antes de obter totalmente a noção de constância de género (Bassey & Bandura, 1992).

Aos três anos os meninos já demonstram mais interesse por carrinhos e as meninas por

bonecas, e ambos escolhem crianças do seu género para brincar (Ruble & Martin, 1998).

Posteriormente, ao adquirir conhecimentos mais complexos relativamente aos géneros, as

crenças das crianças tornam-se mais flexíveis.

Sabendo que há padrões de género que são comuns em culturas muito distintas, é

possível sugerir que algumas das diferenças de género têm origem biológica. Para além das

características físicas que determinam o sexo de um indivíduo, a investigação tem mostrado

que as hormonas afetam o cérebro, e consequentemente, as diferenças de género. A

testosterona, hormona maioritariamente masculina, em conjunto com níveis baixos de

serotonina (neurotransmissor) pode estar na base da agressividade, da competitividade e do

domínio nos rapazes (Bernhardt, 1977). Já a prolactina, hormona feminina, aparece ligada aos

comportamentos maternos dos indivíduos do sexo feminino. Sabe-se que a identidade de

género é também em muito influenciada pelo meio. Contudo, há estudos que provam que esta

está já demasiado gravada na estrutura cromossómica do sujeito e apesar das influências após

o seu nascimento, dificilmente esta identidade é alterada. Por outro lado, aos cinco anos, o

cérebro do sujeito atinge praticamente o tamanho adulto. O cérebro dos meninos pode ser até

10% maior do que o das meninas. Porém, estas têm uma maior densidade neural no córtex,

bem como um corpo caloso (tecidos que unem os hemisférios direito e esquerdo) maior, o que

sugere uma maior coordenação entre os dois hemisférios. Esta situação é justificativa do facto

das meninas apresentarem, geralmente, uma maior capacidade verbal (Papalia, Olds &

Feldman, 2006).

Em resultado das diferentes teorias que foram surgindo, atualmente é possível afirmar

que o desenvolvimento da identidade de género é influenciado por características biológicas

inerentes ao indivíduo, mas também pelo meio em que cresce, pelas figuras parentais, pelos

pares e pela cultura em que está inserido.

Page 21: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

13

2.4 O Brincar

Durante o período pré-escolar, a aprendizagem infantil tem sobretudo por base o

brincar. É a brincar que a criança aprende e se desenvolve. A brincadeira ocupa grande parte

do dia-a-dia da criança, e sobretudo da rotina do jardim-de-infância e é através desta que a

criança realiza as mais variadas aprendizagens, quer sozinha, quer em conjunto com os seus

pares. O jogo é, portanto, um meio de desenvolvimento físico e de aprendizagens, não só

cognitivas mas também sociais. Através do jogo a criança estimula os seus movimentos

corporais e os seus sentidos, adquirindo um controlo cada vez mais do seu corpo e da sua

motricidade. Em muitas das suas brincadeiras, a criança representa os mais diversos papéis

sociais e reproduz situações da vida real. A criança vai reproduzindo o que observa e

experimenta novos desafios, como forma de compreender o mundo em seu redor. Desde os

mais simples jogos planificados até às brincadeiras mais espontâneas, a criança vai testando e

assimilando as mais variadas regras sociais, bem como desenvolvendo a sua linguagem. De

acordo com Papalia, Olds e Feldman (2001), existem diferentes tipos de jogo, os quais se

dividem no jogo social, que engloba a interação da criança com os seus pares; e no jogo não

social ou cognitivo, que está na base do desenvolvimento mental da criança.

No que diz respeito ao jogo social e ao jogo não social, a investigação tem verificado

uma evolução no tempo, com a passagem de um para outro. Ao ingressar no jardim-de-

infância, aos três anos, a criança tende a brincar sobretudo sozinha. Com o passar do tempo a

acompanhar o seu desenvolvimento, começa a brincar junto de outras crianças, e finalmente,

em conjunto com estas. As brincadeiras vão-se tornando, não só mais complexas mas cada

vez mais sociais e cooperativas. Contudo, há crianças que preferem brincar sozinhas, o que

não quer dizer que o seu desenvolvimento social seja precário. Este jogo mais solitário pode

refletir sim uma maior independência e maturidade da criança, que opta por atividades por

vezes mais complexos e que exijam mais concentração na resolução dos problemas, em vez

das atividades de grupo. Em relação ao jogo não social ou cognitivo, este pode ser dividido

em três estilos: o jogo de construção (construções com blocos, por exemplo), os jogos formais

com regras (jogos organizados e com regras específicas, como a macaca, a apanhada ou os

jogos coletivos), e o jogo dramático ou simbólico, muitas vezes denominado de faz-de-conta.

A brincadeira de faz-de-conta assenta na capacidade que a criança tem em recordar e utilizar

símbolos que observa na vida real. Tal como verificámos na evolução do jogo não social para

o jogo social, o faz-de-conta também passa de solitário para um jogo socio dramático, no qual

a criança interage com os seus pares na mesma brincadeira. A investigação de Singer e Singer

Page 22: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

14

(1990) mostrou que as crianças que mais utilizam o jogo dramático desenvolvem melhores

competências sociais e de resolução de problemas, aumentam a sua criatividade e tendem a

ser mais cooperativas, populares e alegres. Contudo, temos de ter em conta as influências da

cultura envolvente. Enquanto determinadas sociedades ou grupos culturais promovem a

resolução de problemas, a participação ativa nas próprias aprendizagens e a colaboração e

partilha social, outras defendem a importância das competências académicas, fomentando a

eficácia na realização das tarefas e uma aprendizagem passiva.

2.5 Educação e estilos parentais

A educação das crianças é um grande desafio para os pais. À medida que a criança

cresce, vai formando a sua personalidade. Para tal, vai impondo as suas vontades, como forma

de compreender quais os seus limites e quais os comportamentos mais adequados. Os pais

têm a importante tarefa de tomar as decisões mais corretas relativamente à educação dos seus

filhos, de definir os melhores métodos e práticas utilizadas para promover o autocontrolo, o

carácter e os comportamentos corretos, ou seja, a disciplina.

Há autores que salientam a importância do reforço e da punição. Normalmente, os pais

recorrem à punição como forma de travar um comportamento indesejável. Porém, muitas

vezes não elogiam os comportamentos positivos. Com isto, estão a valorizar os

comportamentos mais inadequados. A punição passa não só pelos castigos, mas também pela

agressão, seja ela física ou verbal. A criança aprende muito por observação e imitação dos

seus modelos. Se a agressão for uma situação normal ou recorrente, é provável que a criança

desenvolva, mais facilmente, atitudes agressivas, como resposta normal e eficaz aos

problemas que possam surgir. Por outro lado, a criança pode tornar-se passiva, impotente e

amedrontada. A agressão pode não ser a forma mais eficaz de contornar problemas

comportamentais. Como tem mostrado a investigação, os resultados são mais positivos se os

pais recorrerem ao reforço, podendo este ser positivo ou negativo. Os reforços podem ser

materiais (prendas) ou físicos (carinho ou elogio).

A investigação tem também identificado como formas de disciplina a afirmação do

poder, a retirada de afeto e a indução. A primeira diz respeito a uma educação mais

autoritária, na qual os pais têm uma postura ríspida e recorrem a exigências e ameaças, a

castigos e à agressão como prevenção ou resposta a comportamentos inadequados. A retirada

de afeto passa pelos pais ignorarem a criança ou até mesmo mostrar aversão face a si. Esta

Page 23: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

15

forma de disciplina pode ter consequências psicológicas muito graves para a criança, que se

pode sentir abandonada ou deixar de se sentir amada pelos seus pais. Já a indução é utilizada

como forma de promover comportamentos mais adequados e como tal os pais impõem limites

ou explicam as possíveis consequências dos atos da criança. Esta parece ser a forma mais

equilibrada de fomentar a disciplina.

Diana Baumrind (1971, 1996) debruçou-se sobre este tema, tendo identificado três

estilos parentais: os autoritários, os permissivos e os democráticos. Os pais autoritários

tendem a modelar e controlar os comportamentos das crianças de acordo com um padrão

educacional muito rígido. Valorizam o respeito e a obediência e têm tendência para recorrer à

punição, em vez da explicação. A criança deve aceitar a palavra dos seus pais como a certa,

sem a questionar. São pouco afetuosos e pouco disponíveis. As crianças são tão controladas

que têm receio de tomar decisões de forma independente. Tendem a ser inseguras, ansiosas,

tristes e desconfiadas. As raparigas podem tornar-se pouco persistentes e os rapazes

agressivos. Normalmente têm um bom percurso escolar. No que diz respeito aos pais

permissivos, estes tendem a colocar a criança no centro de toda a educação e das decisões.

Raramente recorrem à punição e aceitam facilmente os impulsos e desejos das crianças.

Permitem que seja ela a organizar o mais possível as suas tarefas e atividades e consultam-na

ao tomar decisões. São pouco exigentes nada controladores. Utilizam a explicação quando

tentam impor regras. Vêm-se como recursos e não como modelos. Valorizam a sua

autoexpressão e autorregulação. São muito afetuosos. A criança recebe muito pouca

orientação, de forma que se torna, muito imatura, insegura e ansiosa, sobretudo na altura de

tomar decisões de forma independente. Revelam pouco autocontrolo e pouca iniciativa.

Quando a sua vontade é contrariada, tendem a desafiar. Tornam-se pouco persistentes face a

problemas. No que concerne aos pais democráticos, estes são os que apresentam um estilo

parental mais equilibrado e respeitador, visto que os pais delimitam padrões e expectativas

realistas. Estes valorizam a individualidade da criança, os seus interesses, decisões e carácter,

mas nunca pondo de lado o seu papel. Tendem a orientar as atividades das crianças, de forma

racional. São afetuosos, exigentes e consistentes. Valorizam os comportamentos corretos mas

não deixam de punir os comportamentos desadequados, se necessário. Recorrem ao reforço

para alcançar os padrões que defendem. Impõem as suas opiniões como adultos, sem deixar

de reconhecer as opiniões da criança. Usam a explicação como base das suas regras e decisões

e encorajam o diálogo. Valorizam a autonomia e as capacidades da criança. Tendem a definir

padrões para futuras condutas. A criança tende a ser alegre, segura, autoconfiante,

autoassertiva, autocontrolada e exploradora. Devido ao apoio que sente por parte dos pais, a

Page 24: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

16

criança sabe quando está a agir da forma mais correta e de acordo com as expectativas destes,

sentindo o seu valor por alcançar o sucesso. Desenvolve facilmente competências sociais.

Como foi possível observar, a principal causa do conflito entre pais e filhos assenta no

nível de liberdade que os primeiros conferem aos segundos. Enquanto alguns pais acreditam

que os filhos devem ser educados de forma mais controlada, outros defendem que lhes deve

ser dada toda a liberdade para aprenderem como e quando querem, e outros ainda entendem

que devem fomentar a autonomia dos seus filhos. Como referem Nucci e Smetana (1996),

uma educação que assente na autonomia com limites promove um desenvolvimento

equilibrado. Deve ser dado às crianças o poder de decisão em determinadas situações, como a

escolha de alimentos, da roupa e da realização de tarefas. O limite na área de negociação varia

em função da cultura e de fatores níveis socioeconómicos. Apesar dos pais democráticos

tentarem criar um clima de negociação equilibrado, é normal que com o desenvolvimento da

criança vão surgindo conflitos quando a essas negociações e decisões. No caso de situações

mais complexas, sobre as quais as crianças já pretendem ter poder decisão mas que os pais

ainda pretendem controlar, Grusec e Goodnow (1994) referem que a melhor forma de evitar

conflitos é explicar-lhes e ajudá-las a compreender que a opinião dos pais como é a mais

correta e adequada, promovendo a autodisciplina. Para tal, os pais também devem ser justos e

verdadeiros, tanto aos comportamentos adequados das crianças, como aos mais incorretos. A

internalização não deve passar apenas pela assimilação das respostas e comportamentos mais

adequados, mas também por aquisição de outras competências como a capacidade de

negociação por parte da criança. Os se espera que uma criança cresça como uma cópia dos

pais, mas que após aprender e assimilar os valores fundamentais, seja livre e autónomo para

decidir o que é mais adequado para si. Os conflitos que surgem não são apenas maus

momentos, mas sobretudo momentos de aprendizagem para a criança. Ao deparar-se com o

conflito, irá aprender a comunicar as suas opiniões e a argumentar, a aceitar outras opiniões;

irá assimilar regras e competências sociais. Contudo, estudos mostraram que, a longo prazo, o

tipo de relação afetiva acabou por influenciar mais os comportamentos dos sujeitos do que os

objetivos parentais com os quais tinham sido educados (McClelland, Constantian, Regalado

& Stone, 1978; Sears, Maccoby & Levin, 1957). As crianças que cresceram com mais afeto,

autonomia e confiança tornaram-se indivíduos mais tolerantes e compreensivos do que as

crianças oriundas de famílias mais afetivas ou conflituosas.

No período pré-escolar, os pais não se preocupam apenas com a transmissão dos

valores e regras sociais e dos comportamentos mais adequados. O altruísmo, a agressividade e

os medos são três aspetos que surgem nesta faixa etária e que constituem uma grande

Page 25: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

17

preocupação para os pais. Entende-se por altruísmo ou comportamento pró-social a

capacidade de agir com base no interesse ou dedicação por outro sujeito, sem esperar por uma

recompensa. O altruísmo surge, em muitos casos, antes dos dois anos de idade. A criança

desde cedo que ajuda e partilha com outras crianças. De acordo com a teoria ecológica do

desenvolvimento de Bronfenbrenner (1986, 1994), a origem destes comportamentos é inata à

criança, sendo também influenciada por fatores sociais. Já Zahn-Waxler, Radke-Yarrow,

Wagner e Chapman (1992) defendem que o altruísmo se começa a desenvolver quando a

criança começa a ser capaz de se colocar no lugar do outro e a imaginar os sentimentos deste.

Desta forma, já consegue raciocinar de forma mais complexa, bem como assumir outros

papéis. Apesar de inato, a família tem um papel importante no seu desenvolvimento, como

modelo. As crianças que revelam comportamentos pró-sociais no período pré-escolar provêm

normalmente de ambientes familiares seguros com pais apoiantes, cooperantes, afetuosos e

também eles altruístas. (Kestenbaum, Farber & Soufre, 1989; Soufre, 1983). São pais que

promovem a cooperação, a empatia, a partilha, a generosidade e a entreajuda, com base em

métodos disciplinares indutivos. Quando a criança se comporta de forma desadequada com

outra pessoa, o pai deve questioná-la em relação a como esta se sentiria ao colocar-se no papel

dessa outra pessoa, explicando-lhe porque está errada de forma prática e direta. Da mesma

forma, os educadores e professores também são modelos de altruísmo. Em muitas culturas, a

educação moral e para os valores faz mesmo parte do currículo.

Outra grande preocupação dos pais diz respeito aos medos tão comuns nesta fase de

desenvolvimento, o medo dos animais, do escuro, ou até dos médicos, etc. Estes medos têm

origem, sobretudo, na incapacidade que a criança tem em distinguir a realidade da

imaginação. Deste modo, as crianças mais pequenas têm mais medo de coisas irreais ou que

não as podem magoar, como monstros, do que de coisas que as podem fazer mal na realidade,

como uma explosão (Cantor, 1994). Os medos também podem refletir receios mais reais. A

criança, com medo de perder um familiar doente, pode transportar esta história para uma outra

história semelhante em desenhos animados ou no mundo animal. Há ainda o caso da criança

que vivencia um acontecimento assustador, como um rapto ou um acidente, e que tem medo

que este volte a acontecer. Os pais tentam evitar estes medos ao criarem um clima de

confiança e segurança, que por vezes se pode tornar super-protector. Para ultrapassar o medo,

os pais devem ajudar a criança a encarar a sua origem de forma calma e gradual, sem pressão.

O mais importante é não ridicularizar ou forçar a criança a encarar o medo.

O outro fator que causa uma grande preocupação nos pais diz respeito à agressividade,

a qual, de acordo com Papalia, Olds e Feldman (2001) pode ser instrumental ou hostil. A

Page 26: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

18

primeira diz respeito a comportamentos agressivos usados como forma de atingir um objetivo.

Por exemplo, quando uma criança tira um brinquedo a outra criança, não para magoar mas

apenas porque quer ter esse brinquedo. Este é o tipo de agressão mais comum no jardim-de-

infância. Os principais conflitos têm por base a posse de brinquedos ou o controlo de um

espaço. A criança que mais luta desta forma não é necessariamente a mais agressiva ou má,

mas sim a que está a procurar desenvolver mais competências sociais. Com o

desenvolvimento da linguagem, a criança vai deixando de mostrar tanto a sua agressividade

instrumental de forma física. Ainda assim, estudos mostraram que as diferenças individuais

têm tendência a manter-se, sobretudo nos rapazes. As crianças que são mais agressivas aos

dois anos tendem a ser também as mais agressivas aos cinco anos (Cummings, Iannotti &

Zahn-Waxler, 1989). Ao entrar para o primeiro ciclo, a criança tem tendência a tornar-se

menos agressiva e mais cooperante e empática. Por outro lado, existe a agressão hostil, que se

define por ter a intenção de magoar ou prejudicar o outro sujeito. No geral, este tipo de

agressão também é mais frequente no período pré-escolar do que posteriormente. Contudo,

existem os casos das crianças que ao não desenvolver corretamente a autorregulação ou ao

serem sujeitos extremamente emocionais, acabam por ser tornar indivíduos cada vez mais

agressivos (Eisenberg, Fabes, Nyman, Bernzweig & Pinuelas, 1994). A testosterona, hormona

masculina, está muitas vezes na base da explicação da razão pela qual os sujeitos do sexo

masculino são mais agressivos. Outros estudos e teorias indicam os comportamentos parentais

mais agressivos como origem da agressividade na criança (Patterson, DeBaryshe & Ramsey,

1989). Em muitos casos de agressividade na infância, as crianças crescem em ambientes

severos e punitivos, sem reforço dos comportamentos adequados. Ao conviver com a

violência no seu quotidiano, a criança assimila-a como uma forma eficiente de resolver

problemas, visto que os seus pais são modelos educativos. Ao mesmo tempo, a dor, a

humilhação e a frustração que a agressão provoca na criança podem também incentivá-la à

violência. Bandura mostrou nos seus estudos que as crianças que observam ou experienciam

atos violentos tendem a ter comportamentos mais violentos do que as crianças que não

passam por essas situações (Bandura, Ross & Ross, 1961). Estes estudos insinuaram que

enquanto um modelo agressivo incita à violência, um modelo não agressivo pode ser

moderador da frustração. Em situações em que os pais também não têm uma relação próxima

e afetiva com os filhos pode ser sinónimo de falta de modelos, pelo que as crianças têm que os

procurar noutros locais. Tal situação pode acontecer no jardim-de-infância, onde as crianças

podem tentar modelar os seus comportamentos ao de outras crianças, por vezes também elas

mais agressivas. A agressividade infantil também pode ser incentivada pela violência que uma

Page 27: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

19

criança pode observar na sua vida real, no contexto social em que vive. Crianças em período

pré-escolar que vivenciem situações violentas ou tumultuosas têm mais tendência para

reproduzir cenas violentas do que crianças de outros contextos sociais (Farver & Frosch,

1996).

Outro meio com o qual as crianças estão constantemente em contacto e onde procuram

frequentemente modelos é a televisão. As crianças passam em média três horas diárias a ver

televisão (Farver & Frosh, 1996). Os estudos levados a cabo nos Estados Unidos da América

pelo NIMH (Instituto Nacional de Saúde Mental) têm revelado que as crianças que estão em

contacto com a violência televisiva agem de forma mais agressiva, independentemente do

contexto social, do nível socioeconómico, do género da criança e da sua saúde mental. Outros

estudos têm ainda mostrado que as crianças que mais vêm violência na televisão também

tendem a ser mais agredidas. O comportamento da criança também é influenciado pela cultura

em geral. Uma equipa de investigação mostrou que as crianças americanas são mais violentas

que as crianças japonesas (Zahn-Waxler, Friedman, Cole, Mizuta & Hiruma, 1996). No

Japão, a agressividade é encarada como uma impossibilidade à harmonia. As mães japonesas

utilizam mais estratégias como a indução da culpa ou o desapontamento com os atos das

crianças.

2.6 Relação com os pares

Os pais são os principais modelos educativos da criança. Contudo, esta também vai

aprender com os seus pares. No caso de uma criança ter irmãos com uma idade próxima, é

com estes que desenvolve as primeiras relações entre pares. São estas relações que

constituirão uma base para as suas relações futuras. É então que se formam as primeiras

relações de afeto, companheirismo e empatia. No caso de irmãos com diferença de idades até

quatro anos, as crianças mais novas tendem a imitar os comportamentos dos irmãos mais

velhos, tanto os amigáveis como os menos amigáveis (Abramovitch, Corter, Pepler &

Stanhope, 1986; Abramovitch, Pepler & Corter, 1982). Aos cinco anos, as crianças mais

velhas tendem a deixar de agir com os irmãos mais novos de forma física, passando a

relacionar-se sobretudo de forma verbal. Da mesma forma, os irmãos mais novos imitam estes

comportamentos. No caso de irmãos com pouca diferença de idades, é comum a prevalência

de comportamentos altruístas, face a situações de rivalidade e agressividade (Abramovitch,

Corter, Pepler & Stanhope, 1986). Contudo, estes conflitos e disputas são muito frequentes

Page 28: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

20

nesta faixa etária e dizem respeito, sobretudo, a guerras de posse de brinquedos ou de espaços

físicos. Estes momentos são grandes oportunidades de aprendizagem, nos quais a criança

começa a tentar gerir as suas opiniões e vontades com as dos outros e com as regras sociais e

morais adequadas. É desta forma que os pais devem encarar estes conflitos. Estudos

mostraram a forma como as crianças encaram a partilha dos brinquedos. Já com dois anos de

idade, a criança aceita que o direito de posse do dono prevalece sobre outro individuo que

tenha o brinquedo; e nos casos em que o brinquedo pertence a ambas ou várias crianças, o

direito é de quem está a utilizar o brinquedo no momento (Ross, 1996). No que concerne às

situações em que estes conflitos originam comportamentos mais agressivos, a criança com

quatro anos já consegue refletir sobre a intenção do ato, valorizando o consentimento (afirma

que a outra criança disse para esta agir desta forma), a necessidade (a criança afirma que agiu

para evitar outra situação), ou a restituição (a criança defende-se por já ter pedido desculpa)

(Martin & Ross, 1996).

No que diz respeito à criança que não tem irmãos, esta é muitas vezes encarada como

mimada, egoísta ou solitária. Contudo, de acordo com a investigação, a criança que é filha

única tende a mostrar resultados superiores a outras crianças com irmãos, do que toca à escola

ou à futura profissão. Esta criança tem também tendência a ser mais madura e a ter níveis

superiores de autoestima e motivação. A nível das relações sociais, a investigação não mostra

grandes diferenças das crianças filhas únicas para as outras.

Com a entrada no jardim-de-infância, as relações entre pares alargam-se às outras

crianças do contexto escolar. Até aos três anos, a criança brinca sobretudo sozinha, mesmo

que partilhe o espaço com outra criança. A partir desta idade, já começa a desenvolver

brincadeiras em conjunto com outras crianças. É nesta fase que a criança começa a fazer

amigos, sobretudo do mesmo sexo. Neste caso, podemos até falar de género, visto que a

criança começa a classificar os brinquedos e comportamentos como sendo “de raparigas” e

“de rapazes” e daí surgem a comunhão de interesses entre crianças do mesmo sexo. No geral,

as crianças do mesmo sexo tendem a brincar de forma semelhante, não se interessando pelos

hábitos do sexo oposto (Serbin, Moller, Gulko, Powlishta & Colbourne, 1994). Os rapazes

mostram tendência para brincadeiras mais ativas e ruidosas, em espaços mais amplos,

enquanto as raparigas optam mais frequentemente por brincadeiras mais calmas e com mais

regras, em grupos mais pequenos (Benenson, 1993; Macoby, 1980).

Contudo, a escolha dos amigos não se limita ao critério sexual ou de género. As

crianças optam por brincar sobretudo com crianças com que tiveram experiências anteriores

positivas (Snyder, West, Stockemer, Gibbons & Almquist-Parks, 1996). Numa investigação,

Page 29: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

21

crianças com idades entre os quatro e os sete anos mostraram preferência em critérios como:

fazer coisas em conjunto, gostar do outro, partilhar e ajudar o outro (Furman & Bierman,

1983). As crianças tendem a preferir outras crianças que brinquem apenas consigo (Ladd,

Kochenderfer & Coleman, 1996) ou que se mostrem altruístas para consigo (Hart, DeWolf,

Wozniakk & Burts, 1992). As crianças mais populares são, normalmente, as que revelam

melhores competências sociais, respondendo aos conflitos que surgem de forma prática e

ativa e evitando impulsos e ameaças (Eisenberg, Fabes, Nyman, Bernzweig & Pinuelas, 1994;

Fabes & Eisenberg, 1992). Ainda assim, revelam comportamentos diferentes quando lidam

com crianças de quem gostam e de quem não gostam.

As relações entre pares são fundamentais para o desenvolvimento da criança.

Aprendem a criar e manter amizades, a ser altruístas, a resolver conflitos, desenvolvem a

capacidade de se colocar no lugar do outro e exploram os papéis de género. Nestas relações, a

criança entra em contacto com muitos outros modelos de educação, bem como diferentes

normas e valores. É na interação com os outros que a criança também desenvolve as suas

competências linguísticas e de diálogo. As crianças que têm um maior grupo de amigos

tendem a gostar mais da escola (Ladd & Hart, 1992). A relação entre os irmãos e os amigos

influencia-se mutuamente no desenvolvimento psicossocial da criança. Se esta tiver relações

mais agressivas com os seus irmãos, pode ter tendência para transportar estes comportamentos

para os seus companheiros. Pelo contrário, uma criança que normalmente é controlada por um

irmão pode ter um papel mais dominador com os seus pares no contexto escolar

(Abramovitch, Corter, Pepler & Stanhope, 1986). No caso dos irmãos mais velhos, as

amizades que desenvolve no jardim-de-infância podem ajudá-la a preparar-se para a chegada

do irmão mais novo. Os estilos parentais também influenciam o desenvolvimento das relações

entre pares. A criança proveniente de um clima democrático e afetuoso tende a ser mais

popular, assertiva e altruísta e menos agressiva. A criança com pais autoritários tem tendência

a ser mais agressiva e coerciva (Crockenberg & Lourie, 1996). As crianças provenientes de

ambientes mais agressivos têm também tendência a ser mais agressivas e a evitar o contacto

com os seus pares.

Page 30: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

22

Page 31: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

23

CAPÍTULO 3

AUTORREGULAÇÃO

O terceiro capítulo centra-se na definição do conceito de autorregulação, na forma

como esta se desenvolve e a sua relação com motivação, com o controlo emocional e

comportamental, com o comportamento pró-social. Cada um destes tópicos é abordado a nível

geral e posteriormente, a nível da idade pré-escolar. Neste capítulo refere-se também como a

autorregulação pode ser promovida e avaliada.

3.1 Autorregulação: definição do conceito

A autorregulação define-se pelo conjunto de processos mentais que exercem controlo

sobre o sujeito, sobre as suas funções, comportamentos, pensamentos, emoções, impulsos e

desejos. É o mecanismo que regula o self, tendo em vista os padrões e regras aceites pela

sociedade (Baumeister & Vohs, 2004). De uma forma geral, é a autorregulação que

transforma o Homem num ser civilizado. O ser humano tem necessidade de agir de forma

planeada e controlada com vista a atingir objetivos pessoais (Boekaerts, Pintrich & Zeidner,

2000). Temos como exemplo de processos de autorregulação a capacidade de controlar

impulsos e respostas automáticas ou o adiantamento da gratificação (saber aguardar por uma

recompensa). De acordo com a perspetiva sociocognitiva, o conceito de autorregulação

abrange a interação de processos pessoais, comportamentais e ambientais (Bandura, 1986). Os

processos pessoais dizem respeito à monitorização e ao ajustamento cognitivo e afetivo. Por

outro lado, autorregulação comportamental refere-se à auto-observação e avaliação e às ações

estrategicamente ajustadas e controladas. Já a autorregulação ambiental envolve observações

e ajustamentos de fatores ambientais (Boekaerts, Pintrich & Zeidner, 2000). Segundo esta

teoria, a autorregulação é, então, considerada um processo cíclico, visto que as suas

consequências influenciam posteriores ajustes no comportamento do sujeito. Estes ajustes são

necessários porque tanto os fatores pessoais e comportamentais como os fatores ambientais

estão em constante mudança durante o processo de desenvolvimento do sujeito (Boekaerts,

Pintrich & Zeidner, 2000). A autorregulação constitui, portanto, um processo que inclui

Page 32: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

24

seleção, modificação e modelação de comportamentos, controlo da atenção e mudanças

cognitivas (Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010).

O desenvolvimento da autorregulação tem por base processos interiores ao sujeito.

Eisenberg, Derryberry e Rothbarth, entre outros investigadores, consideraram fundamental

distinguir os processos de controlo voluntários dos menos voluntários. Os processos de

autorregulação estão presentes no dia-a-dia do indivíduo e começam a verificar-se desde cedo,

quando as crianças começam a modelar os seus comportamentos e respostas (Eisenberg,

Smith, Sadovsky & Spinrad, 2004). Visto que se exige que o indivíduo pense antes de agir, os

processos de autorregulação refletem o seu desenvolvimento motor e cognitivo. A criança tem

que começar, desde cedo, a compreender em que situações cada resposta é adequada

(Kochanska, Murray & Harlan, 2000). A autorregulação voluntária é frequentemente referida

por effortful control. Rothbart definiu-o como “a capacidade de inibir uma resposta

dominante para executar uma resposta subdominante” (Rothbart, 1998, p.137) mais

especificamente, a capacidade intencional ou voluntária do indivíduo inibir, ativar ou

modificar a sua atenção e o seu comportamento sempre que necessário (Eisenberg, Smith,

Sadovsky & Spinrad, 2004; Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010). O effortful control está

diretamente relacionado com o comportamento conscientemente planeado, bem como com o

controlo voluntário dos pensamentos e sentimentos (Posner & DiGirolamo, 2000; Posner &

Rothbart, 1998). Temos como exemplos a capacidade do indivíduo focar a sua atenção da

presença de distrações, de saber esperar ou de permanecer sentado ou em silêncio durante um

longo período de tempo, de não interromper outros indivíduos ou de realizar uma atividade

para si desagradável. É a partir destas capacidades que surgem na infância que a

autorregulação se vai desenvolvendo.

A autorregulação voluntária, ou effortful control, corresponde a uma das primeiras

componentes da formação do temperamento, o qual diz respeito a um nível de controlo que

surge ao longo do desenvolvimento infantil (Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010). O

temperamento é definido pelas características individuais e pelas capacidades de

autorregulação e reação, pela afetividade, medos e frustrações, normalmente observadas nos

comportamentos e ações, na demonstração de emoções e na capacidade de atenção, orientação

e adaptação do sujeito (Rothbart, 2011; Rothbart & Bates, 2006). Este também tem

constituído um tema emergente na investigação, devido à preocupação de tentar compreender

as capacidades individuais do sujeito controlar as suas emoções mais fortes (Kagan, 2010),

mas sobretudo por estar na base do desenvolvimento da personalidade, constituindo uma

grande influência no desenvolvimento psicossocial e cognitivo do sujeito. Observou-se até

Page 33: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

25

então que o temperamento da criança influencia a sua compreensão relativamente às

estratégias de autorregulação. Uma criança com um temperamento reativo tem mais

oportunidades para experienciar situações e aprender estratégias de autorregulação. Porém,

uma criança que seja demasiado reativa pode ter tendência para ter comportamentos mais

negativos, perdendo assim oportunidades de aprendizagem (Cole, Dennis, Smith-Simon &

Cohen, 2009).

Por outro lado, existem os sistemas de controlo menos voluntários, denominados

reactivos ou atencionais (Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010). Alguns destes, por serem

automáticos e involuntários, dificilmente são controlados pelo sujeito, visto que ele nem tem

consciência deles (Gross & Thompson, 2007). Outros apenas são controlados numa fase

posterior do desenvolvimento, por sistemas de controlo cerebrais mais complexos (Derryberry

& Rothbarth, 1997; Posner & Rothbarth, 1998; Rothbarth & Bates, 1998; Bargh & Williams,

2007). De uma forma mais concreta, a regulação emocional envolve as capacidades de gerir a

atenção, a motivação e o comportamento de forma mais voluntária. É flexível e deve ser

modelada, de forma a que o indivíduo não esteja completamente controlado ou fora de

controlo (Eisenberg, 2002). É caracterizada pelo processo de iniciar, inibir, manter ou alterar a

ocorrência, a intensidade e a duração de estados emocionais, de processos psicológicos e de

comportamentos associados às emoções (Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010). Já o

desenvolvimento do temperamento envolve processos de inibição menos voluntários, como é

o caso da impulsividade ou de um elevado nível de inibição (Derryberry & Rothbart, 1997).

No geral, um indivíduo regulado deve conseguir agir de forma espontânea, em situações que

assim o permitam, bem como ter a capacidade de conter as suas tendências mais involuntárias

quando for apropriado (Eisenberg, Smith, Sadovsky & Spinrad, 2004).

O desenvolvimento da autorregulação tem uma grande base biológica, mas também é

influenciado, em grande parte, pelo ambiente social. A modelação e a instrução são

consideradas os principais veículos de promoção por parte das famílias, dos professores, dos

pares e da sociedade em geral, tanto no que concerne às aprendizagens motoras e cognitivas,

como às principais capacidades de autorregulação. Os padrões comportamentais que o sujeito

vai assimilando são resultado da autoavaliação que este faz dos seus comportamentos, tendo

em conta as normas e regras que constituem a sua instrução, a observação de modelos e ainda

as respostas sociais a esses comportamentos (Boekaerts, Pintrich & Zeidner, 2000).

Page 34: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

26

3.2 Autorregulação: o seu desenvolvimento segundo diversas perspetivas

No que diz respeito ao desenvolvimento da autorregulação, são diversas as perspetivas

existentes. Boekaerts, Pintrich e Zeidner (2009) centram-se na perspetiva sociocognitiva,

segundo a qual a autorregulação se desenvolve ao longo de quatro fases (Schunk &

Zimmerman, 1997). Na primeira fase, denominada “nível de observação”, o sujeito assimila

as mais variadas capacidades e estratégias de autorregulação a partir da observação dos seus

modelos mais experientes. O sujeito assimila também padrões de comportamento, orientações

para a motivação e valores, os quais poderá utilizar durante o seu processo de

desenvolvimento. Segue-se o “nível da competitividade”, no qual o sujeito age, tentado

competir com o comportamento padrão, ou seja, o seu comportamento não se assemelha

exatamente ao do seu modelo (Rosenthal, Zimmerman & Durning, 1970). Para que sujeito

aprenda a estratégia ou comportamento correto, é necessário que o seu modelo adote uma

posição de promotor, apoiando, orientado e reforçando as suas ações. Estes reforços serão

essências para promover também a motivação do sujeito a agir da forma mais adequada. Para

que este conquiste as estratégias e capacidades corretas, terá que passar a uma fase de prática

ponderada. Este atinge então o “nível autocontrolado” quando domina estas capacidades sem

estar na presença de um modelo, baseando os seus comportamentos na representação dos

padrões que já assimilou. Por fim, o sujeito atinge o “nível autorregulado” quando consegue

adaptar os seus comportamentos e estratégias de acordo com as condições individuais ou

contextuais em questão, com muito pouco ou nenhum apoio do modelo. Nesta fase, a

motivação desempenha um papel fundamental. Esta depende das consequências das ações do

sujeito, e do sentimento de autoeficácia derivado destas (Rosenthal, Zimmerman & Durning,

1970).

Bronson (2000) apresenta oito perspetivas relativamente à autorregulação, mais

propriamente, ao seu desenvolvimento. De acordo com a perspetiva psicanalista, o

desenvolvimento da autorregulação era resultado das necessidades emocionais do sujeito.

Para Freud (1923, 1965), a primeira tarefa desenvolvimentista da criança era o

desenvolvimento do ego, capaz de controlar impulsos desadequados e de lidar com a

realidade. Este é a instância da personalidade mais consciente e racional que, em luta com as

outras duas forças internas (id e superego), gere o comportamento humano e lida com as suas

vivências da vida real. É então a partir desta luta do ego para controlar as forças antagónicas

da personalidade, e das interações de sucesso com o meio envolvente, que se desenvolve a

autorregulação.

Page 35: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

27

Por outro lado, a perspetiva behaviorista, em grande parte desenvolvida por Pavlov

(1927), Skinner (1974) e Thorndike (1911), salientava a importância do ambiente no controlo

do comportamento humano, mais propriamente na aprendizagem de contingências e reforços,

na capacidade de esperar pelo reforço ou na aprendizagem de estratégias de autoinstrução.

Desta forma, a autorregulação era encarada como um autocontrolo aprendido a partir de

fatores externos ao sujeito.

Já a teoria da aprendizagem social (Bandura, 1997) defendia a aprendizagem por

observação, e sustentava que esta acontecia sem a necessidade de reforços, mas através da

interiorização de representações do comportamento efetivo ou competente e da autoavaliação

(lidar com o autorreforço ou com a autopunição). Como tal, o sujeito aprende que

comportamentos são aceites, valorizados e recompensados a partir da observação dos seus

comportamentos e dos comportamentos dos outros, e avaliando os seus efeitos. A

autoavaliação tem então um papel fundamental na aprendizagem, correspondendo a uma base

no desenvolvimento da autorregulação.

De acordo com a perspetiva social cognitiva, os sujeitos estão motivados para explicar

ou dar sentido às suas experiências. Rotter (1966) defendeu que há diferentes “locos de

controlo”, em função da capacidade de cada indivíduo em controlar a ocorrência de situações

de reforço. Por este motivo, a base da autorregulação é entendida como as perceções dos

sujeitos relativamente à sua capacidade de controlar acontecimentos no ambiente envolvente.

Estes teóricos vêm o sujeito como um processador ativo em busca de um modelo coerente do

mundo social.

A teoria de Vygotsky (1978) defendia o papel do ambiente sociocultural na formação

da autorregulação, apesar de considerar que o desejo de controlo era inato. Deste modo,

apesar de uma criança ter uma necessidade inata de agir de forma efetiva e independente, os

objetivos e os meios para os atingir são culturalmente determinados e aprendidos. Vygotsky

encarou a autorregulação como fruto da curiosidade inata pela independência, bem como das

suas experiências de controlo e da atribuição de controlo às ações e competências próprias do

indivíduo.

Por outro lado, Piaget considerou a autorregulação como algo intrínseco à mente. O

propósito dos processos de autorregulação é permitir a adaptação do sujeito ao ambiente

envolvente. Segundo Piaget (1952), o desenvolvimento ocorre através de um processo de

equilibração, o qual engloba a assimilação e acomodação de novas experiências e

aprendizagens, como forma de resolver conflitos internos. É através deste processo de

equilibração relativamente à compreensão do ambiente físico e social, bem como ao

Page 36: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

28

desenvolvimento do pensamento lógico, que o indivíduo desenvolve automaticamente a

autorregulação.

Mais recentemente, a perspetiva neo-Piagiana (Case, 1992; Fischer & Rose, 1994)

defendeu que as crianças constroem modelos do seu ambiente de forma ativa, revelando

formas de pensar típicas consoante os estádios de desenvolvimento. A autorregulação

desenvolve-se então partir do interesse inato e do pela resolução de problemas e do domínio

de competências específicas de controlo, mas ainda a partir do desenvolvimento e

processamento de capacidades que suportem os suportem.

Autorregulação: O seu desenvolvimento no período pré-escolar

Já no primeiro ano de vida da criança é possível observar alterações no controlo dos

comportamentos. Esta passa de uma fase de simples modelação de comportamentos para uma

fase controlo de comportamentos sem monitorização por parte dos adultos. À medida que a

criança demonstra uma maturação motora e cognitiva cada vez maior, deixa também,

progressivamente, de depender exclusivamente dos adultos, aprendendo a controlar-se e a

acalma-se sozinha (Kopp & Neufeld, 2003).

Com a entrada no jardim-de-infância, o desenvolvimento da autorregulação torna-se

ainda mais evidente, visto constituir um contexto mais complexo do que o contexto familiar,

exigindo das crianças uma adaptação a rotinas estruturadas, ao respeito pela autoridade de

outros adultos que não os pais, à partilha de recursos e também da atenção dos adultos entre

pares (Boyer, 2009). Por este motivo, Olson e Kashiwagi (2000) consideraram que este seria o

contexto ideal para a avaliação das primeiras competências de autorregulação nas crianças.

Estes investigadores referem que o alcance de competências de autorregulação é um marco

muito importante na idade pré-escolar, visto que estas competências influenciam o seu futuro,

tanto a nível pessoal como social e académico. As crianças em idade pré-escolar que

apresentam dificuldades na aquisição destas competências podem vir a desenvolver

problemas de agressividade, impulsividade, rejeição social, fracasso académico, dificuldades

em expressar os seus pensamentos e emoções e em compreender os pensamentos e emoções

dos outros, quer durante a infância e adolescência, quer posteriormente, na idade adulta.

(Calkins, 1994; Campbell, 1995; McGinnis & Goodstein, 1984). Estas competências, em

crianças de idade pré-escolar, dizem respeito sobretudo à autoafirmação e auto

expressividade, as quais podem ser observadas em atividades criativas e na participação

Page 37: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

29

positiva entre pares; e à auto inibição, definida por comportamentos como a espera pela

gratificação ou recompensa, a partilha de brinquedos e outros materiais, a inibição de

comportamentos impulsivos ou agressivos, o seguimento das indicações dos adultos, o

cumprimento das regras de conduta da sala, o controlo de comportamento negativos como a

raiva, a frustração ou a deceção, a resposta às tarefas de forma consistente, sistemática e

persistente ou a capacidade para ligar de forma positiva com críticas construtivas (Olson &

Kashiwagi, 2000).

Após a investigação levada a cabo nos Estados Unidos da América, Olson e

Kashiwagi (2000) concluíram que as crianças em idade pré-escolar apresentam elevados

níveis de comportamento de autorregulação: capacidade de cumprir as regras da sala de aula,

capacidade de adiar a gratificação imediata, capacidade de inibir comportamentos disruptivos,

capacidade de controlar emoções negativas, comportamento verbal assertivo, capacidade de

se comportar de forma criativa e/ou auto expressiva e envolvimento positivo com os pares. De

acordo com Brazelton e Sparrow (2009), aos quatro anos a criança começa a saber lidar mais

facilmente com os seus sentimentos e já consegue avaliar as consequências dos seus atos, ou

seja, o que está certo o errado. Começa a ser evidente o desenvolvimento da sua

autorregulação, visto que se torna capaz de reprimir os seus impulsos agressivos e de respeitar

os sentimentos do outro.

3.3 Autorregulação e motivação

Bronson (2000) salienta a grande relação entre a autorregulação e a motivação. A nível

conceptual, a capacidade de controlar ações e pensamentos difere da vontade de os realizar.

Porém, na prática, quando a autorregulação acontece voluntariamente, a motivação está

intrínseca. As decisões e ações do indivíduo são em grande parte influenciadas tanto pela

motivação como pela autorregulação. São ambas, interligadas, que permitem que este atinja

os seus objetivos. O indivíduo tem a necessidade inata de influenciar outras pessoas e o

próprio ambiente à sua volta. Estas situações são muitas vezes recompensadas, criando no

indivíduo sentimentos de competência e eficácia (Bandura, 1997). Este sente-se então

motivado para alcançar determinados objetivos no ambiente em que está inserido, como esse

reconhecimento social ou até benefícios materiais. Para agir de forma correta, que o leve a

atingir os seus objetivos, o indivíduo necessita de autorregulação. No que concerne à

aprendizagem escolar, vista atualmente como um processo ativo por parte das crianças, os

Page 38: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

30

professores preocupam-se cada vez mais em promover a motivação para uma aprendizagem e

resolução de problemas ativas (Dweck, 1986; Harter, 1978). Para a existência de uma

aprendizagem ativa coesa, é necessário que as crianças desenvolvam também a

autorregulação. Os defensores de uma educação e currículo mais flexíveis defendem que as

crianças devem aprender a controlar as suas ações e a suas decisões na resolução dos seus

problemas. Desta forma deve ser-lhes concedido poder de decisão nas suas tarefas e objetivos,

bem como diversas hipóteses de escolha (Deci & Ryan, 1987). Por outro lado, os defensores

de uma educação mais estereotipada acreditam que é o ambiente que modela a autorregulação

e a motivação da criança. Estes centram o ensino num ambiente mais controlado, em

atividades pré-estabelecidas, no controlo de comportamentos e na persistência no desempenho

das atividades realizadas (Logue, 1995). Os defensores da aprendizagem social acreditam, por

outro lado, no papel da observação de modelos como controlador e motivador dos

comportamentos do sujeito. Este aprende a agir ao observar os comportamentos e

experiências dos outros, bem como as suas consequências, as recompensas e as punições

(Bandura, 1986, 1997; Zimmerman, 1989, 1995). Já Vygostky (1978) defendia a motivação

inata do sujeito para a autorregulação. Contudo, a motivação para controlar determinadas

situações e atingir determinados objetivos era influenciada sobretudo pela cultura e pela

linguagem, como meio de transmissão dessa mesma cultura.

Autorregulação e motivação no período pré-escolar

No que concerne à motivação para a autorregulação, esta é intrínseca ao sujeito. Desde

logo que o bebé mostra interesse em controlar-se a si próprio, o seu corpo, os mais variados

processos cognitivos, as suas atividades e decisões, o mundo à sua volta (Bruner, 1970;

Piaget, 1952). A motivação para a competência e para o desempenho das mais variadas

atividades também necessita de autorregulação. A criança necessita de autocontrolo, não só

para a realização de tarefas cognitivas, mas também para a forma como as realiza, para se

sentir competente (Bronson, 2000). O período pré-escolar é caracterizado pela enorme

motivação da criança em compreender e controlar o mundo à sua volta. A mastery motivation

na criança em idade pré-escolar é entendida como a sua força que a estimula a ser esforçada,

autónoma e persistente na resolução de problemas ou tarefas mais desafiantes (Morgan,

Harmon & Maslin-Cole, 1990). Neste período de desenvolvimento, a criança vai perdendo o

interesse pela simples exploração do mundo à sua volta, focando cada vez mais o seu

Page 39: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

31

interesse no alcance de objetivos específicos (Hunt, 1960). É neste período que a criança

começa a adquirir padrões para avaliar os resultados das suas atividades, melhorando a sua

capacidade para delinear os seus objetivos. Desta forma, esforça-se para conseguir controlar

níveis de dificuldade mais elevados, tendo como base padrões de excelência. Ao compreender

a importância dos seus objetivos e padrões, a criança sente-se orgulhosa e competente quando

realiza uma tarefa da melhor forma, e envergonhada quando acha que falhou (Heckhausen,

1968). A criança passa a estar cada vez mais motivada para realizar tarefas e resolver

problemas, tendo em vista o sucesso e o sentimento de competência (Harter, 1978). É este

desejo pelo sucesso que está na base na motivação e do desenvolvimento da autorregulação da

criança em idade pré-escolar (Bandura, 1997).

3.4 Autorregulação e controlo emocional e comportamental

O controlo das emoções e dos comportamentos também faz parte da autorregulação do

indivíduo. Entende-se por controlo emocional a capacidade do sujeito regular a excitação de

forma adequada, tendo em vista o alcance dos seus objetivos, bem como de controlar a

expressão comportamental dessas emoções de um modo socialmente aceite (Bronson, 2000).

Eisenberg define a regulação emocional como “o processo de iniciar, evitar, inibir, manter

ou modelar a ocorrência, a forma, a intensidade ou a duração de formas de sentir internas,

de processos psicológicos emocionais, de objetivos emocionais e/ou de comportamentos

concomitantes das emoções, geralmente ao serviço do alcance de um objetivo” (Eisenberg,

2002).

A investigação sugere que a emotividade e o comportamento são influenciados não só

pelo temperamento (Derryberry & Rothbart, 1988), mas também pelas experiências do sujeito

(Sandler, Tein & West, 1994), pelos estilos parentais (Eisenberg, Fabes, Schaller, Carlo &

Miller, 1991) e pela interação entre pares (Barkley, 1997). Outros investigadores associaram o

controlo das emoções à competência social do indivíduo e ao seu comportamento adequado

(Eisenberg, Fabes, Schaller, Carlo & Miller, 1991). A autorregulação prematura surge

associada ao controlo em idades posteriores.

Page 40: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

32

Autorregulação e controlo emocional e comportamental no período pré-escolar

A partir dos três anos, a comportamento da criança já é autorregulado por regras e

estratégias. Durante o período pré-escolar, espera-se que a criança adquira a capacidade de

aceitar outras opiniões, desejos e regras contrárias às suas sem recorrer à agressão derivada da

frustração, bem como lidar com a excitação derivada do ambiente envolvente ou do cansaço

de forma calma (Sroufe, 1995). Com a entrada no jardim-de-infância, a interação entre pares

começa a ter uma grande importância no desenvolvimento da criança. Esta realiza

brincadeiras e atividades em conjunto com outras crianças, aprendendo com estas

experiências e interações. Por este motivo, uma destas estratégias que a criança utiliza para se

autorregular diz respeito à linguagem, como meio de controlar os seus pensamentos e ações

(Berk & Winsler, 1995; Vygotsky, 1962). São diversas as propriedades da linguagem que se

relacionam com a autorregulação (Bronowski, 1977). Em conjunto com a memória, a

linguagem ajuda a recordar o passado e a projetar o futuro, permitindo melhores

aprendizagens com experiências passadas e melhores planeamentos futuros. Permite também

separar o conteúdo emocional do conteúdo real de uma mensagem, e ao auxiliar os

pensamentos e planeamento, permite ainda prever uma série de alternativas antes de agir. A

linguagem facilita ainda a construção, a assimilação e o ajustamento de materiais na memória,

preparando a mente para novos conceitos e para a resolução de novos problemas. Vygotsky

(1962) centrou parte da sua teoria na importância da linguagem no desenvolvimento do

sujeito. Segundo o mesmo, o self-speech começa a surgir no período pré-escolar. Este

discurso que o sujeito realiza consigo mesmo está também na base do desenvolvimento da

autorregulação. Por volta dos sete anos, deixa de ser exteriorizado, transformando-se num

discurso mental interno. O self-speech, seja ele exteriorizado ou interno, permite que a criança

compreenda melhor as suas experiências, que reflita sobre suas tarefas e sobre os problemas e

desafios que surgem, que ultrapasse os obstáculos e que atinja os seus objetivos (Harris,

1990). Nas crianças mais pequenas, o self-speech é sinal de organização mental e da criação

de estratégias de autorregulação (Berk, 1994). A investigação também tem mostrado que as

capacidades simbólicas e de representação que a criança vai desenvolvendo nesta fase a

ajudam a gerir as suas emoções (Sroufe, Cooper & De Hart, 1996). Desta forma, a criança

recorre muitas vezes à brincadeira e ao jogo de faz-de-conta para lidar com as suas emoções

mais complexas ou difíceis.

Com o desenvolvimento da autorregulação, a criança em idade pré-escolar deixa de

necessitar tanto da orientação e monitorização do adulto. Contudo, este continua a ser uma

Page 41: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

33

fonte de apoio e aprendizagem. Já assimilaram e cumprem diversas regras e já adquiriram

capacidade de desempenhar diversas tarefas adequadas à idade de forma autónoma, tanto no

ambiente escolar como em casa. As crianças começam a assimilar os padrões de

comportamento mais adequados e a controlar as suas próprias ações (Kopp, 1982). À medida

que os adultos vão perdendo a relevância no quotidiano da criança, os seus pares vão

adquirindo cada vez mais importância. O sucesso das relações sociais passa a ser um elemento

central no seu desenvolvimento. Para que estas interações sejam bem-sucedidas é necessário

que a criança regule as suas emoções e comportamentos da melhor forma (Eisenberg et al.,

1993).

3.5 Autorregulação e comportamento pro-social

Quando se fala de autorregulação, pensa-se em comportamentos sociais positivos e

proactivos, que afaste o sujeito de comportamentos desviantes e antissociais (Bronson, 2000).

Estes comportamentos positivos são frequentemente referidos como altruístas, pro-sociais ou

morais. Contudo, a sua definição tem sido difícil, visto que as diferenças culturais entre

grupos sociais levam a diferentes visões sobre o que são os comportamentos considerados

adequados e os comportamentos desviantes. Para compreender melhor o desenvolvimento do

altruísmo, Bronson (2000) apresenta diferentes explicações teóricas. A perspetiva etológica

estudou tanto os comportamentos pro-sociais como a agressividade do ponto de vista dos

impulsos inatos característicos do animal. Segundo Lorenz (1965), há quatro tipos de

impulsos inatos: o impulso sexual, a fome, flight e a agressividade. Wilson (1975) salienta o

papel da família como a base da sociedade, da transmissão das regras morais que estabelecem

o funcionamento social. Destaca também o papel do parentesco no desenvolvimento da

partilha, uma das principais características do ser humano. O autor realça ainda as diferenças

culturais e as suas regras sociais e comportamentais específicas na definição do que é

considerado correto, ético ou aceitável em cada sociedade. Apesar das relações de parentesco

serem vitais para o sujeito, a forma como estas se desenvolvem varia de cultura para cultura.

De acordo com esta perspetiva, tanto a agressividade como o altruísmo contribuíram para a

sobrevivência do Homem ao longo dos tempos, pelo que hoje são componentes inatas do

comportamento humano.

A teoria psicanalítica também assumiu a influência do instinto no comportamento

humano. Para Freud (1930), este é orientado pelo instinto de vida e pelo instinto de morte. O

Page 42: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

34

primeiro está na base dos comportamentos positivos, do envolvimento em atividades de forma

ativa, do desenvolvimento de relações interpessoais. Por outro lado, é o instinto de morte que

está na base da agressividade, que surge como necessidade de destruição. A teoria de Freud

assenta na existência de mecanismos mentais dinâmicos que estão na base da personalidade

humana. Estas três instâncias do aparelho psíquico são o id (a líbido, o principio do prazer), o

ego (a razão, o princípio da realidade) e o superego (o princípio da moral). Para o autor, a

autorregulação assenta no superego, o qual se desenvolve a partir das recompensas e castigos

que o sujeito vai recebendo e que está formada com a entrada para o primeiro ciclo, pelo que

as experiências até esse período são fulcrais no desenvolvimento da personalidade do sujeito.

O id é constituído pelas experiências mais negativas e pelas punições, que fizeram com que a

criança sentisse vergonha. O ego é composto pelas experiencias positivas, as quais foram

valorizadas e recompensadas, e que fizeram com que o sujeito se sentisse competente e

orgulhoso de si. O superego tem como missão orientar o sujeito para comportamentos mais

corretos e aceites pela sociedade. Por este motivo, a mente do sujeito está em constante

conflito, à medida que o ego tenta equilibrar os desejos do id e os princípios morais do

superego. Deste modo, o desenvolvimento do altruísmo tem por base o ego, que orienta o

indivíduo a agir da forma moralmente mais correta, sem violar as necessidades do id. Os

teóricos posteriores da perspetiva psicanalítica encararam o desenvolvimento da

personalidade de forma mais positiva. Para estes, os desejos do sujeito (id) não se distanciam

completamente dos requisitos da sociedade (Erikson, 1959) e o seu desenvolvimento não se

limita tanto aos resultados das suas experiências (Erikson, 1963). Estes investigadores

defenderam, ainda, que o ego tem objetivos próprios, para além do controlo dos objetivos do

id e do superego, como é o caso da competência (White, 1963), da autorrealização (Rogers,

1963) e do desenvolvimento de valores e conceitos (May, 1967).

A perspetiva behaviorista focou-se na importância do ambiente na modelação dos

comportamentos do sujeito. Desta forma, os teóricos entenderam o comportamento altruísta

como resultado das experiências do sujeito e da associação entre estas e as suas recompensas

ou punições posteriores (Eysenck, 1976). Para os behavioristas, a criança desenvolve um

controlo gradual sobre os seus impulsos e espera a recompensa pelos seus comportamentos.

Desta forma, o autocontrolo é visto como um meio altruísta de controlar os nossos

comportamentos, em função das suas consequências (Baldwin & Baldwin, 1998). Esta teoria

não é específica quanto aos comportamentos altruístas, visto que considera que estes são

determinados pelo ambiente. As estratégias que o sujeito utiliza para atingir os seus objetivos

são aprendidas. É o ambiente que fornece os modelos, as regras e os reforços que garantem a

Page 43: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

35

aprendizagem. Deste modo, a criança vai assimilando o que é correto ou incorreto e o que

deve ser recompensado ou punido, aprendendo agir da forma mais correta, a que é

recompensada, e a inibir comportamentos indesejados, os quais devem ser punidos (Harris,

1982). Os behavioristas acreditam que tanto os objetivos onde assenta autorregulação como os

meios para exercer esse controlo são exteriores ao sujeito.

A teoria da aprendizagem social, derivada da teoria behaviorista, centrou-se nos

aspetos cognitivos do desenvolvimento e deu importância não só ao controlo exterior dos

comportamentos, como também ao controlo interno. Tanto os comportamentos positivos

como os negativos são considerados resultados da aprendizagem e influenciam o

comportamento. Contudo, são as capacidades de avaliação do sujeito que mais influenciam o

seu autocontrolo (Bandura, 1986, 1997). Tanto os comportamentos altruístas como os

antissociais são fruto das experiências pessoais do sujeito e das suas consequências, bem

como pela observação das experiências dos outros e suas consequências. Apesar da teoria de

Bandura se centrar na aprendizagem, alguma investigação mostrou que a genética e as

diferenças de género influenciam os comportamentos pro-sociais e agressivos (Bandura, Ross

& Ross, 1963). Com o aumento da idade e da maturidade, o comportamento vai sendo

influenciado por padrões internos ao sujeito, os quais regulam e avaliam quais os

comportamentos mais adequados a cada situação. Estes padrões também permitem que o

próprio sujeito de recompense (sentimentos de autossatisfação e competência) ou puna

(autodesprezo) a si próprio.

Para Piaget (1965), o desenvolvimento moral depende não só do desenvolvimento

cognitivo do sujeito, mas também das suas interações com os outros. De acordo com esta

teoria, o comportamento moral é reflexo do nível de compreensão do sujeito face às regras

sociais, às opiniões dos outros e ao sentido de justiça. Piaget dividiu o desenvolvimento moral

do sujeito em quatro estágios: estádio sensório-motor (do nascimento até aos dois anos);

estádio das representações simbólicas (dos dois até aos seis/sete anos de idade); estádio das

operações concretas (dos seis/sete até aos doze anos de idade); estádio das operações formais

(a partir dos doze de idade). Para o autor, a capacidade de julgamento moral e a capacidade

controlar os comportamentos de acordo com esses julgamentos desenvolvem-se a partir do

momento em que a criança atinge o estádio do pensamento lógico e tem capacidade de

compreender outros pontos de vista. Esta compreensão torna-se possível a partir das

interações sociais do sujeito. Ao lidar com diferentes sentimentos, opiniões e objetivos, o

sujeito entra em conflito. De acordo com esta teoria, é o conflito que está na base da

aprendizagem. O sujeito tem necessidade de assimilar as novas aprendizagens, acomodando e

Page 44: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

36

desenvolvendo novas e melhores formas de agir. Desta forma, vai-se tornando capaz de

aceitar as diferentes opiniões com as quais se confronta, entendo cada vez melhor os conceitos

de justiça e reciprocidade. Piaget defendeu ainda que a vontade de agir de forma altruísta

acompanha o desenvolvimento moral do sujeito. Apesar das influências do meio, é a mente do

sujeito que molda a sua compreensão da realidade. A criança tem uma necessidade inata de

compreender o mundo à sua volta. Esta interação da criança com o meio físico e social cria

muitas vezes conflito com o que esta já sabe. A adaptação a estes novos conhecimentos acerca

da realidade que a rodeia influencia o seu comportamento e forma de pensar. O autocontrolo

necessita, então da compreensão dos princípios morais, do que esta correto ou incorreto, que

se vai desenvolvendo com a idade, em paralelo com o desenvolvimento cognitivo.

Autorregulação e comportamento pro-social no período pré-escolar

A natureza dos comportamentos altruístas das crianças varia ao longo do seu

desenvolvimento. Durante o período pré-escolar, a criança já tem a capacidade de conversar

sobre as suas atividades mentais, como o pensar, o lembrar e o acreditar (Johnson &

Wellman, 1982). Ao longo desta fase, a criança também já consegue colocar-se no lugar do

outro e aceitar a existência de outros sentimentos e opiniões diferentes dos seus (Johnson &

Wellman, 1982; Wellman & Estes, 1986). Devido a esta nova capacidade, a criança começa a

experimentar uma série de diferentes papéis sociais, nos mais variados jogos dramáticos.

Há diversas teorias que salientam o egocentrismo que caracteriza esta fase de

desenvolvimento. Contudo, a investigação tem mostrado que é nesta fase que surgem o jogo

de papéis e a empatia, capacidades características do comportamento pro-social (Hoffman,

1984). À medida que a criança cresce, os seus comportamentos altruístas vão-se tornando

cada vez mais específicos e pessoais (Eisenberg & Mussem, 1989) e torna-se mais evidente a

ligação entre a empatia e o comportamento altruísta (Eisenberg & Miller, 1987). As crianças

de jardim-de-infância que revelam uma maior capacidade pro-social revelam também um

autocontrolo mais ajustado e positivo (Eisenberg & Mussem, 1989). Por esta lógica, os

comportamentos mais desadequados podem ser resultantes de um baixo autocontrolo.

Com o seu crescimento da criança, o altruísmo vai-se agregando à sua personalidade e

à forma como vê o mundo, tornando-se um forte motivador de comportamentos mais corretos

e positivos.

Page 45: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

37

3.6 Autorregulação: como se promove

A promoção da autorregulação começa a ser, cada vez mais uma preocupação de pais,

educadores e professores. As crescentes situações de mau comportamento, indisciplina e

bullying que se têm vindo a registar tornaram-se uma grande preocupação nas sociedades

ocidentais. Promover as capacidades de autorregulação desde cedo pode ser uma forma de

prevenir desajustamentos comportamentais e de fomentar o desenvolvimento de competências

sociais positivas. Apesar de existir pouca investigação nesta área, já há evidências de que a

intervenção pode estimular o desenvolvimento da regulação e consciência emocional e das

funções executivas, ou seja, da autorregulação. (Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010).

É possível começar a estimular a autorregulação desde o primeiro ano de vida da

criança. Uma das estratégias passa por promover o autoconsolo da criança, ou seja, fazer com

que esta aprenda a acalmar-se sozinha. Por exemplo, pode ser permitido à criança recorrer a

um objeto de conforto, ou até mesmo a chuchar no dedo; ou incentivá-la a desviar o olhar de

um estímulo que lhe provoque frustração ou ansiedade (Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010).

Na creche e no jardim-de-infância, o educador deve prestar muita atenção ao ambiente da

sala, proporcionando o acesso a materiais diversos, a uma rotina estruturada e a horários de

alimentação e sesta regulares, para que as crianças tenham oportunidade de compreender

como é que os adultos regulam o seu quotidiano, os seus limites, os seus comportamentos e

emoções, assimilando e reproduzindo posteriormente essas aprendizagens (Boyer, 2009).

Outro método proposto por Martinez-Pons (1996) assenta em apoiar as atividades das

crianças, acompanhando as suas atividades, fazendo sugestões e dando feedback das suas

ações; encorajar comportamentos positivos, promovendo o discurso privado como forma de

auto monitorização e estimulando a reflexão acerca das ações; agir como um modelo e

valorizar verbalmente as ações e comportamentos das crianças. O discurso privado acima

referido é uma boa estratégia para fomentar a auto monitorização da criança. Este foi muito

defendido por Vygotsky (1978), que mostrou que as crianças do pré-escolar têm necessidade

de recorrer ao discurso privado para planear e orientar o seu comportamento e as suas ações,

desenvolvendo assim uma aprendizagem autorregulada. Para além destas estratégias, o

educador pode também criar momentos de diálogo metacognitivo, ou seja, diálogos que

levem a criança a refletir acerca de aspetos da sua aprendizagem. Os educadores devem

orientar a conversa, colocando questões relacionadas com os seus planos e objetivos no início

de uma atividade, e sobre os resultados das suas ações no final das atividades ou

relativamente aos seus comportamentos (Pramling, 1988).

Page 46: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

38

Dentro da sala de aula, os educadores podem adotar estratégias proactivas para

promover o desenvolvimento da autorregulação, como por exemplo, ao encorajar as crianças

a seguir as regras da sala, promovendo assim a inteligência social de cada uma, ao mostrar

que esta faz parte de um grupo, e fora da escola, de uma família e de uma comunidade, ou

seja, estimulando o desenvolvimento das suas capacidades interpessoais e sociais. Outro dos

métodos diz respeito a desafiar a criança a olhar e compreender o mundo de diferentes

perspetivas. Com o apoio do adulto, as crianças devem ter tempo e espaço para partilhar as

suas ideias, emoções e problemas entre si, tentando resolvê-los e conjunto. Desta forma, as

crianças aprendem a respeitar as opiniões e problemas dos outros, bem como a tentar resolver

conflitos através do diálogo. Também é importante que o educador faça com que a criança se

responsabilize pelos seus atos e pela forma como trata os seus pares. Deste modo as crianças

começam a reconhecer o impacto que as suas ações têm sobre as outras pessoas, seja este

positivo ou negativo. Uma outra estratégia prende-se com o facto de o educador dever adaptar

as tarefas e atividades ao nível de desenvolvimento, às necessidades e aos interesses do grupo

e de cada criança. Deste modo, as crianças sentem-se mais valorizadas e ao mesmo tempo,

aprendem a aceitar as diferenças dos seus pares. Por fim, o educador deve ter em conta que as

regras da sala podem ser delineadas em conjunto com as crianças e posteriormente podem ser

alteradas e reajustadas, em atividades e momentos específicos, em função das necessidades e

dos interesses do grupo. É mais fácil as crianças cumprirem as regras se estas fizerem sentido

para si. (Boyer, 2009).

Têm sido também criados programas de intervenção no contexto escolar, como é o

caso do programa de intervenção norte-americano Head Start Research-Based

Developmentally Informed Intervention, criado para promover o desenvolvimento da

linguagem, da literacia e de competências sociais e emocionais. Este foi aplicado em jardins-

de-infância durante um ano letivo e observou-se que as crianças demonstraram mais

facilidade em desempenhar tarefas de orientação e tarefas que implicavam inibição de

comportamentos, memória e controlo da atenção, face a crianças de salas que não receberam a

intervenção (Bierman, Nix, Greenberg, Blair & Domitrovich, 2008).

O Currículo PATHS (Promoting Alternative Thinking Strategies Curriculum) foi

criado nos Estados Unidos, para crianças mais velhas e adolescentes. Posteriormente já foi

aplicado em jardins-de-infância. As crianças que receberam esta intervenção demonstraram

mais consciência emocional, menos tendência para o isolamento e mais competências sociais

do que as crianças do grupo de controlo. Contudo, não foram observados efeitos significativos

relativamente à inibição de comportamentos e à capacidade de manter atenção (Domitrovich,

Page 47: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

39

Cortes & Greenberg, 2007). O Programa EBP (Emotion Based Prevention Program), também

de origem norte-americana, inclui tarefas que abordam a consciência emocional e estratégias

de controlo. Este programa também envolve as famílias, ao partilhar com estas os resultados

das tarefas e pedindo a sua colaboração, com a realização das mesmas, em casa. O programa

foi aplicado tanto em meios rurais e cidades pequenas, como em grandes áreas urbanas, tendo

sido adaptado para este ultimo caso (Izard et al., 2008). No primeiro caso, as crianças de

quatro anos revelaram mais consciência emocional apos a intervenção, o que não aconteceu

com as crianças de três anos. As representações dos educadores revelaram menor

instabilidade emocional e emoções negativas, menor agressividade e menos sintomas de

ansiedade e depressão após a intervenção. No segundo caso, o Programa EBP foi associado a

outro programa de intervenção – ICPS (I Can Problem Solve). No final da intervenção foi

possível observar nas crianças um grande desenvolvimento da consciência emocional, bem

como um aumento das capacidades de autocontrolo e de comportamentos positivos. A

promoção da autorregulação pode também ser feita a partir do currículo Tools of Mind, o qual

se centra no treino, no desafio e no apoio das funções executivas. Este foi aplicado em salas

com crianças provenientes de meios com baixo rendimento, durante períodos de um a dois

anos. As crianças revelaram mais precisão nas funções executivas do que as crianças que

trabalharam com um currículo regular (Diamond, Barnett, Thomas & Munro, 2007).

Muitas vezes, a formação inicial dos educadores de infância pode deixar as estratégias

de promoção de competências pessoais e sociais um pouco de parte. A investigação também

tem proposto a aplicação de treino específico nesta área, como é o caso do programa de treino

proposto por Perels e os colegas (Perels, Merget-Kullmann, Wende, Schmitz & Buchbinder,

2009). Estes aplicaram um programa que tinha como objetivo ensinar aos educadores

estratégias de autorregulação para os seus próprios processos de aprendizagem, para que estes

pudessem ser modelos corretos, e ao mesmo tempo, ensinar-lhes estratégias para promover o

desenvolvimento da autorregulação das crianças. Este programa assentava em quatro pilares:

o educador como modelo, a autonomia e tomada de responsabilidades, atividades relacionadas

com a autorregulação e transferência de atividades de um dia para outro. O programa mostrou

ser muito eficaz: a autorregulação dos educadores teve um grande aumento, bem como a

aprendizagem autorregulada das crianças. Promover a autorregulação dos educadores pode ser

uma estratégia importante para o desenvolvimento da autorregulação das crianças.

Page 48: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

40

3.7 Autorregulação: como se avalia

Devido ao facto da população ser composta por crianças pequenas, a investigação tem

recorrido à fenomenologia, o estudo da realidade vivenciada de forma subjetiva e individual

pelo sujeito (Gall, Gall & Borg, 2009). Ou seja, os investigadores recorrem às representações

que pais e educadores têm relativamente aos comportamentos das crianças. Como exemplo

desta situação refere-se o questionário de Olson e Kashiwagi (2000), “Teacher ratings of

behavioral self-regulation in preschool children, o qual foi utilizado como instrumento na

presente dissertação. Há ainda investigadores que recorrem à criação de grupos foco, para

tentar compreender de forma mais unificada as representações que pais e educadores têm face

à forma como as crianças adquirem autorregulação (Boyer, 2009). Em muitos casos, os meios

de recolha de dados utilizados baseiam-se na observação de tarefas controladas em ambiente

laboratorial ou em visitas domiciliárias (Ramani, Brownell & Campbell, 2010; Cole et al.,

2008). Estas tarefas avaliam a persistência da criança na realização destas, a sua capacidade

de concentração, a sua capacidade de inibir ou iniciar comportamentos e a sua capacidade de

esperar por uma recompensa (Eisenberg, 2005).

Existem outras tarefas que testam a capacidade de atenção, o tempo de reação e as

funções executivas da criança, como é o caso dos testes Stroop, das tarefas Day/night, das

tarefas Tapping, das tarefas Go/no go, das tarefas Dimensional Change Card Sort ou do teste

Attention Network (Baumeister & Vohs, 2004; Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010;

Eisenberg, 2005; Posner & Rothbart, 1998). A tarefa Stroop passa por

Nas tarefas Day/night, a criança deve dizer “dia” quando lhe é mostrado um cartão

preto com estrelas e “noite” quando lhe é mostrado um cartão branco com um sol, de forma a

contrariar a associação entre as imagens e as palavras-chave. Nas tarefas Tapping, pede-se à

criança que bata uma vez na mesa quando o adulto bate duas vezes, e vice-versa, tentando

controlar a tendência para imitá-lo.

Alguns investigadores recorrem ao jogo Simon Says, conhecido em Portugal como “O

Rei Manda”, para avaliar as capacidades de cumprimento de orientações e inibição de

comportamentos das crianças (Posner & Rothbart, 1998). Foram também desenvolvidas

tarefas de sequência visuais com o objetivo de avaliar o olhar antecipado, isto é, o olhar para o

local de um determinado alvo antes do seu aparecimento (Eisenberg, Spinrad & Eggrum,

2010). Para avaliar a compreensão das crianças relativamente às emoções e à autorregulação,

alguns investigadores têm recorrido à análise de verbalizações espontâneas das crianças em

reposta a questões do tipo “e se…”, incidindo sobre a melhor forma de um fantoche agir em

Page 49: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

41

determinadas situações (Cole et al., 2008). Na mesma linha, estes também recorreram ao uso

de um conjunto de tarefas denominado Transparent Box Task, o qual avalia cinco

componentes do comportamento autorregulado: persistência, busca de resoluções de

problemas alternativas, procura de ajuda, distração e comportamento disruptivo (Cole et al.,

2008).

Kochanska e os seus colegas criaram uma bateria de tarefas, apresentadas como jogos,

que avaliam cinco componentes da autorregulação: aguardar pela recompensa, acalmar a

atividade motora, inibir ou iniciar uma atividade, baixar o tom de voz e controlar a atenção

(Kochanska, Murray & Harlan 2000; Kochanska, Murray, Jacques, Koenig,& Vandegeest,

1996). Carlson (2005) organizou também uma bateria composta por 17 tarefas recolhidas em

nove estudos científicos. Para avaliar a capacidade de adiar a gratificação, tem-se recorrido a

tarefas como pedir à criança que espere por comer um alimento muito desejado até um sinal

permissivo, ou escolher entre receber uma pequena recompensa no momento ou esperar por

uma grande recompensa mais tarde (Carlon, 2005; (Kochanska, Murray & Harlan 2000).

Smith-Donald e os seus colegas (Smith-Donald, Raver, Hayes, & Richardson, 2007)

criaram um conjunto de testes que avaliam a autorregulação e os comportamentos de

conformidade em crianças – Preschool self-regulation Assessment (PRSA).

Page 50: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

42

Page 51: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

43

CAPÍTULO 4

AUTORREGULAÇÃO E VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS

No quarto capítulo aborda-se a relação da autorregulação com três variáveis a si

associadas: o género da criança, a idade da criança e a agressividade entre pares.

4.1 Autorregulação e género

No que concerne ao género, este tem sido considerado um fator de influência no

desenvolvimento da autorregulação em crianças do pré-escolar. Durante este período, a

investigação tem encontrado grandes diferenças das capacidades de autocontrolo entre

rapazes e raparigas. A sociedade vê os rapazes como sendo crianças maiores, mais fortes,

enérgicas, autoconfiantes e independentes, sendo tratados de um modo mais físico, enquanto

as raparigas são vistas como crianças amorosas e doces, responsáveis e obedientes, sendo

tratadas de uma forma mais delicada (Best, 2010). No que toca aos comportamentos em

atividades e interações, as raparigas tentam criar e manter relações interpessoais positivas,

revelam-se mais e evitam criar conflitos. Em contraste, os rapazes são mais dominantes,

correm mais riscos, brincam de formas mais físicas e brutas e mostram relutância em assumir

fraquezas (Best, 2010). Na mesma linha, os investigadores têm observado que os rapazes são

mais agressivos, enquanto as raparigas demonstram competências sociais de reação mais

positivas (Broidy et al., 2003; Fabes et al., 1999). Os rapazes revelam uma maior prevalência

de comportamentos de exteriorização, enquanto as raparigas demonstram um menor nível de

impulsividade (Zahn-Waxler, Schmitz, Fulker, Robinson & Emde, 1996). Também se

verificado que as crianças do género feminino têm uma maior compreensão face à

autorregulação e às estratégias a esta associadas e conseguem ser mais corretas do que as

crianças do género masculino (Bajgar, Ciarrochi, Lane & Deane, 2005). A investigação tem

mostrado que as emoções maternais têm uma grande influência na compreensão e controlo

emocional relativamente aos filhos rapazes, o que não acontece nas raparigas (Martin &

Green, 2005). No geral, verifica-se uma maior tendência para as raparigas serem mais

autorreguladas no período pré-escolar do que os rapazes.

Page 52: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

44

Em relação à investigação que esteve na base do presente estudo, Kashiwagi (1988)

averiguou que as crianças japonesas do género feminino em idade pré-escolar manifestam

níveis de autorregulação significativamente mais elevados do que crianças do género

masculino. Posteriormente, Olson e Kashiwagi (2000) observaram que entre os três e os

quatro anos, os níveis de autorregulação são semelhantes em crianças de ambos os géneros. A partir dos cinco anos, os investigadores verificaram uma maior capacidade de autorregulação

em crianças do género feminino.

4.2 Autorregulação e idade

A investigação tem observado que as capacidades de reação e autorregulação variam

não só em função da cultura e do género, mas também em função do desenvolvimento do

indivíduo (Kagan, 2010). O período pré-escolar constitui uma fase fundamental no

desenvolvimento da autorregulação do ser humano. A partir de uma série de diferentes testes,

os investigadores têm conseguido documentar e compreender melhor o desenvolvimento

destas competências nas crianças entre os três e os seis anos de idade. A investigação tem

mostrado que os processos de controlo voluntário parecem aumentar com a idade (Eisenberg,

Spinrad & Eggrum, 2010; Boekaerts, 1997). Durante o período pré-escolar, as crianças

começam, progressivamente, a ser capazes de se concentrar durante períodos de tempo mais

longos (Kannass, Oakes & Shaddy, 2006).

Com base em diversos testes utilizados na recolha de dados tem sido possível observar

que, aos três anos, a criança já responde com elevada precisão a diversas tarefas que implicam

o controlo do foco de atenção, como é o caso da tarefa Stroop (Posner & Rothbart, 1998).

Entre os três e os quatro anos, a criança demonstra também um grande desenvolvimento nas

suas capacidades de inibição de comportamentos, visível em tarefas como “O Rei Manda”

(Jones, Rothbart & Posner, 2003; Posner & Rothbart, 1998). Relativamente à capacidade de

adiar a gratificação, como por exemplo, esperar por comer um doce até obter um sinal de

permissão, tem sido observado um aumento da capacidade de tempo de espera entre os dois e

os quatro anos de idade (Kochanska, Murray & Harlan, 2000). Os investigadores também têm

observado melhorias nas funções executivas das crianças entre os três anos e os sete anos,

mais particularmente entre os três anos e meio e os quatro anos, em tarefas como Day/night e

tapping (Diamond & Taylor, 1996; Diamond, Prevor, Callender & Druin, 1997). Outros

investigadores observaram que, aos três anos, a criança ainda responde de forma um pouco

Page 53: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

45

involuntária a diversas tarefas, como é o caso das tarefas Stroop, Taping ou Go/no go, sendo

que aos cinco anos já apresenta capacidade de inibição e controlo nas suas respostas

(Gerstadt, Hong & Diamond, 1994). A investigação tem mostrado que a criança apresenta um

grande desenvolvimento na sua autorregulação entre os três e os cinco anos de idade, nas mais

variadas funções executivas (Carlson, 2005).

Boyer (2009), a partir das perceções de educadoras de infância, propôs-se a avaliar o

apoio que as crianças precisam por parte dos adultos, no que concerne ao autocontrolo, em

diferentes faixas etárias. As crianças de dois anos, como ainda têm poucas competências

verbais e são muito reativas, necessitam de muito apoio e intervenção por parte dos adultos.

Conseguem reconhecer as suas emoções positivas mas ainda têm dificuldade em reconhecer

as negativas. As crianças de três anos necessitam sobretudo que os adultos lhes chamem a

atenção para quando estão a agir incorretamente. Já sabem reconhecer quando estão zangadas

mas muitas vezes precisam que os adultos as ajudem a compreender a razão. Tanto na faixa

etária dos dois como dos três anos, as crianças precisam de ver os adultos como modelos

emocionais, de forma que estes devem ser carinhosos e usar linguagem reconfortante e

movimentos suaves. Aos quatro anos, as crianças já têm consciência das expectativas que

caem sobre si, mas ainda necessitam do apoio dos adultos no que toca a situações de conflito

e lutas de poder. Para além disso, necessitam do apoio dos adultos para compreender os sinais

de angústia noutras pessoas, bem como para atuar de forma gentil e atenciosa para com os

outros. As crianças de cinco anos já têm plena consciência das regras mas também necessitam

de apoio na gestão de interações sociais e, sobretudo, de conflitos. Entre os cinco e os seis

anos, as crianças ainda têm alguma dificuldade em compreender os sinais de angústia

sozinhas, mas já sabem ser atenciosos com as pessoas à sua volta. Aos seis anos, as crianças

necessitam que os adultos os valorizem pelas suas capacidades e que lhes deem tarefas e

responsabilidades. As crianças de cinco e seis anos já têm noção de si como parte de uma

comunidade e começam a compreender que a autorregulação pode e deve ser aplicada nas

suas interações com outras pessoas.

No que diz respeito à compreensão da autorregulação, Cole e os seus colegas (Cole,

Dennis, Smith-Simon & Cohen, 2008) mostraram que esta se desenvolve entre os três e os

quatro anos de idade, sendo superior aos quatro anos, nos quais as crianças demonstram mais

capacidade de criar estratégias para gerir a fúria. Tanto aos três como aos quatro anos, as

crianças já revelam capacidades de compreender as estratégias de gestão da tristeza. Estes

investigadores observaram ainda que, na idade pré-escolar, as crianças já tem capacidade de

Page 54: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

46

gerar estratégias de autorregulação, não tendo surgido evidências de que as compreendam

necessariamente.

Relativamente aos estudos que estiveram na base da presente investigação, Kashiwagi

(1988) observou que as pontuações das crianças japonesas na escala de autorregulação

aumentam significativamente entre os 3 e os 6 anos. Posteriormente, Olson e Kashiwagi

(2000) concluíram que, tal como no contexto japonês, o controlo do comportamento

impulsivo aumenta entre os 3 e os 5 anos de idade, ou seja, a autorregulação é superior em

crianças mais velhas, as quais manifestam melhores capacidades de auto assertividade e de

participação com os pares.

4.3 Autorregulação e agressão entre pares

Como tem sido referido, a autorregulação e as capacidades a si associadas constituem

capacidades base do ser humano. Contudo, na fase inicial do seu desenvolvimento, a qual

incide na idade pré-escolar, é normal a criança apresentar tanto comportamentos regulares e

positivos como negativos. Estes são o reflexo da forma como lidam com as suas experiências,

interações e desafios diários (Ramani, Brownell & Campbell, 2010). Nesta fase de

desenvolvimento, a criança tem que aprender a controlar os seus impulsos negativos,

aprendizagem que acontece em simultâneo com o desenvolvimento da autorregulação (Olson,

Lopez-Duran, Lunkenheimer, Chang, & Sameroff, 2011). Estes comportamentos negativos,

atípicos ou problemáticos podem prolongam-se no tempo, dependendo da influência de outros

fatores genéticos e sociais associados à criança (Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010). Por

vezes, podem corresponder a sinais de futuros problemas comportamentais. No que diz

respeito aos comportamentos negativos então referidos, a investigação tem evidenciado

conceitos como agressão, conflito ou agressividade entre pares, problemas de exteriorização

ou comportamento disruptivo. Utiliza-se o conceito de “agressão” em vez de “bullying”

porque a violência na idade pré-escolar apresenta diferenças face à violência em grupos mais

velhos: tende a ser menos complexa e não há necessariamente repetição durante um longo

período de tempo (Monks, Palermiti, Ortega, & Costabile, 2011). Os comportamentos

violentos começam por ser físicos, e com o desenvolvimento mental e cognitivo da criança,

tornam-se gradualmente mais verbais, o que acontece sobretudo entre os seis e os doze anos

de idade (Rubin, Cheah & Menzer, 2010).

Page 55: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

47

A investigação tem mostrado que as diferenças individuais relativamente à

autorregulação estão inversamente correlacionadas com os problemas de exteriorização

(Olson, Lopez-Duran, Lunkenheimer, Chang, & Sameroff, 2011; Eisenberg, Spinrad &

Eggrum, 2010; Olson, Sameroff, Kerr, Lopez, & Wellman, 2005). Os problemas da aquisição

da autorregulação estão, então, na base do desenvolvimento de problemas de exteriorização

(Olson, Sameroff, Lunkenheimer, & Kerr, 2009; Rothbart & Bates, 2006). Crianças que

reagem de forma frustrada a situações de fúria manifestam elevados níveis de agressão e

problemas de exteriorização no geral (Hughes, Cutting & Dunn, 2001; Calkins & Dedmon,

2000). As crianças que demonstram pouco controlo de impulsos e que têm dificuldade em

seguir as orientações dos adultos e são desobedientes podem apresentar dificuldades em

integrar o seu grupo de pares (Ramani, Brownell & Campbell, 2010). Relativamente às

diferenças de idade, tem-se observado que crianças emocionalmente desreguladas apresentam

menos competências sociais e mais problemas comportamentais aos quatro anos do que

crianças mais reguladas (Denham, Blair, Schmidt & DeMulder, 2002; Rubin, Burgess, Dwyer

& Hastings, 2003). Os comportamentos de exteriorização tendem a diminuir

significativamente entre os dois e os seis anos de idade (Owens & Shawn, 2003). No que diz

respeito ao género, este também influencia as situações de agressão entre pares. As crianças

do género masculino apresentam níveis mais elevados de comportamentos disruptivos do que

as do género feminino (Monks, Palermiti, Ortega, & Costabile, 2011; Card, Stucky, Sawalani

& Little, 2008). As raparigas entre os três e os cinco anos tendem a utilizar mais a agressão

relacional (tem como objetivo afetar as relações sociais da vítima), enquanto os rapazes,

sendo fisicamente mais forte, utilizam mais a agressão física direta, ou seja, conflitos e

violência cara-a-cara (Card, Stucky, Sawalani & Little, 2008; Crick, Casas & Ku, 1999).

Tem-se então verificado que as crianças do género feminino apresentam níveis de

autocontrolo mais elevados (Olson, Sameroff, Kerr, Lopez, & Wellman, 2005). No geral, as

crianças em idade pré-escolar recorrem mais à agressão física e verbal, visto que ainda não

têm competências cognitivas suficientes para desenvolver formas de violência mais indiretas e

sofisticadas (Monks, Palermiti, Ortega, & Costabile, 2011).

É importante ter em atenção que muitos dos comportamentos desajustados podem

estar relacionados com problemas causados por perturbações no desenvolvimento, como é o

caso da hiperatividade e défice de atenção (PHDA), da síndrome de Asperger, do défice

cognitivo, entre outros. A investigação tem observado que as capacidades de autocontrolo da

criança e a forma como estas lidam com emoções negativas são um preditor de possíveis

psicopatologias de exteriorização (Eisenberg et al., 2001).

Page 56: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

48

Page 57: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

49

CAPÍTULO 5

METODOLOGIA

Segue-se a apresentação das opções metodológicas, bem como da distribuição da

amostra e dos procedimentos levados a cabo durante a realização do presente estudo. São

ainda apresentadas as variáveis de estudo utilizadas.

5.1 Opções Metodológicas

No início da investigação foi necessário tomar determinadas opções metodológicas,

tendo em conta a faixa etária da amostra e de forma a encontrar respostas o mais precisas

possível para as questões de investigação.

No que diz respeito à recolha dos dados, foi necessário ter em conta que se tratava de

uma amostra composta por crianças, com idades compreendidas entre os três e os sete anos.

Por este motivo, estas ainda não tinham capacidade mental para analisar e refletir sobre as

suas atitudes e comportamentos, de forma que a entrevista ou questionário às crianças ficou

fora de questão. A observação também não era uma opção adequada, visto que a presença de

um membro externo à sala poderia alterar os comportamentos das crianças. Para além disso,

para obter registos de observações fidedignos com uma amostra de grande dimensão seria

necessário alargar o estudo por um longo período de tempo. Conclui-se que a melhor forma

de recolher os dados seria recorrendo aos educadores de infância. Deste modo, optou-se por

utilizar um questionário a ser preenchido por estes, com as suas perceções relativamente aos

comportamentos de autorregulação e agressividade das crianças inseridas nos grupos com que

trabalham

.

5.2 Sujeitos

A aplicação dos questionários aos educadores foi realizada em diversos jardins-de-

infância públicos, particulares de solidariedade social e particulares cooperativos, localizados

na área da Grande Lisboa e no concelho de Santiago do Cacém. Estas opções deveram-se a

Page 58: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

50

uma procura de recolha de dados em contextos culturais e socioeconómicos diferentes,

constituindo, no entanto, uma amostra de conveniência. Desta forma, a amostra integrava

crianças provenientes de contextos familiares com diferentes níveis socioeconómicos, mas

também com origem num grande meio urbano e num meio urbano mais reduzido.

Os questionários foram aplicados a um total de trinta educadoras de infância, com

idades compreendidas entre os 24 e os 54 anos, inseridas nestes jardins-de-infância. Estas

preencheram os questionários com base nas suas perceções relativamente aos

comportamentos das crianças, visto que estas ainda são muito pequenas para os analisarem.

Quanto à amostra propriamente dita, esta foi constituída por 557 crianças, com idades

compreendidas entre os três os sete anos de idade, sendo 269 do género masculino e 288 do

género feminino. As crianças estavam inseridas tanto em grupo homogéneos como em grupos

heterogéneos, no que concerne às idades. Por este motivo, a amostra não se distribui de forma

homogénea relativamente às idades.

Para uma melhor apresentação e análise dos dados, recorreu-se à utilização de tabelas

e gráficos. A tabela 1 apresenta a distribuição dos sujeitos em função do género, sendo estes

269 (48,3%) do género masculino e 288 (51,7%) do género feminino, num total de 557

crianças.

Tabela 1. Sujeitos da amostra em função do género

Género Frequência Percentagem

Masculino 269 48,3

Feminino 288 51,7

Total 557 100

No que concerne à distribuição dos sujeitos por idade, esta pode ser observada na

tabela 2 e no gráfico 1. As crianças tinham idades compreendidas entre os três e os seis anos,

sendo que a maior parte da amostra tem quatro (27,5%), cinco anos (35,7%) e seis anos

(20,5%). As faixas etárias dos três (16%) e dos sete anos (0,4%) são as que incluem um

menor número de crianças. A faixa etária dos três anos apresenta menos crianças porque

muitas delas fazem os quatro anos pouco tempo após a entrada no jardim-de-infância. Por

outro lado, a faixa etária dos sete anos uma reduzida quantidade de crianças visto que,

normalmente, as crianças dão entrada no 1º Ciclo do Ensino Básico com seis anos.

Page 59: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

51

Tabela 2. Sujeitos da amostra em função da idade

Idade Frequência Percentagem

3 89 16

4 153 27,5

5 199 35,7

6 144 20,5

7 2 0,4

Total 557 100

Gráfico 1. Sujeitos da amostra em função da idade (frequência)

Para uma melhor caracterização da amostra, foram também recolhidos dados

referentes às habilitações escolares da mãe e do pai de cada criança. Relativamente às

habilitações escolares do pai, os resultados mais significativos centram-se num nível inferior

ao 12º ano de escolaridade, correspondendo a 156 casos (30,9%), seguidos por 112 casos em

que terminaram o ensino secundário (22,2%) e por 104 casos que terminaram o nível de

licenciatura (20,6%). Numa percentagem menor surgem 74 casos de pais que obtiveram uma

pós-graduação (14,7%), seguidos por 52 pais que apenas tinham um nível de bacharelato

(10,3%). Por fim, há 2 casos de pais com mestrado (0,4%) e 5 casos com doutoramento (1%).

Estes dados estão apresentados no gráfico 2.

0

50

100

150

200

250

3 Anos 4 Anos 5 Anos 6 Anos 7 Anos

Idade das crianças

Page 60: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

Nas informações referentes às habilitações escolares da mãe

3, foi possível observar que as frequências mais elevadas se centram no nível 12º ano de

escolaridade, bem como no nível de lic

e a 126 dos casos (24,8%). Segue

ao 12º ano (20,6%) e de 94 casos de mães com pós

observam-se 94 casos de mães com nível de bacharelato e por fim 3 casos de mestrado e

igualmente, 3 casos de doutoramento (0.6% em ambos os casos).

Tanto no que diz respeito às habilitações literárias das mães, como dos pais, as

maiores frequências centram

fim do ensino secundário e ao nível da licenciatura.

Gráfico 3.

10%

21%

15%

0% 1%

Habilitações literárias do Pai

25%

Gráfico 2. Habilitações literárias do pai

Nas informações referentes às habilitações escolares da mãe, tal

, foi possível observar que as frequências mais elevadas se centram no nível 12º ano de

como no nível de licenciatura, correspondendo respetivamente a 127 (25%)

e a 126 dos casos (24,8%). Segue-se uma frequência de 105 casos que têm um nível inferior

ao 12º ano (20,6%) e de 94 casos de mães com pós-graduações (18,5%). De seguida

94 casos de mães com nível de bacharelato e por fim 3 casos de mestrado e

igualmente, 3 casos de doutoramento (0.6% em ambos os casos).

Tanto no que diz respeito às habilitações literárias das mães, como dos pais, as

maiores frequências centram-se em três níveis: o inferior ao 12º ano, o que corresponde ao

fim do ensino secundário e ao nível da licenciatura.

Gráfico 3. Habilitações literárias da mãe

31%

22%

Habilitações literárias do Pai

Inferior ao 12º Ano

12º Ano

Bacharelato

Licenciatura

Pós-graduação

Mestrado

Doutoramento

21%

25%

10%

25%

18%

0% 1%

Habilitações literárias da mãe

Inferior ao 12º Ano

12º Ano

Bacharelato

Licenciatura

Pós-graduação

Mestrado

Doutoramento

52

, tal como indica o gráfico

, foi possível observar que as frequências mais elevadas se centram no nível 12º ano de

tivamente a 127 (25%)

se uma frequência de 105 casos que têm um nível inferior

graduações (18,5%). De seguida

94 casos de mães com nível de bacharelato e por fim 3 casos de mestrado e

Tanto no que diz respeito às habilitações literárias das mães, como dos pais, as

níveis: o inferior ao 12º ano, o que corresponde ao

Inferior ao 12º Ano

Page 61: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

53

Após ter sido apresentada a análise dos sujeitos da amostra, serão explicados os

instrumentos utilizados no decorrer da presente investigação.

5.3 Instrumentos

Foram utilizadas duas escalas: a Escala de Comportamentos de Autorregulação em

Jardim-de-Infância (ECA) e a Escala de Comportamentos de Agressão entre Pares (CTA).

Dada a importância da escala ECA, procedeu-se, desde logo e com os dados do presente

estudo, à sua adaptação para Portugal, num estudo já publicado (Veiga & Fernandes, 2012).

5.3.1 Escala de Comportamentos de Autorregulação em Jardim-de-Infância (ECA)

Após ter sido delineada a questão de partida e as questões de investigação associadas,

procedeu-se à busca de um instrumento adequado à recolha da informação necessária. Como

já foi referido, este deveria constar num inquérito por questionário a ser respondido pelos

educadores de infância, com respostas codificadas, de forma a facilitar o tratamento estatístico

dos dados, de acordo com uma metodologia quantitativa. O inquérito era constituído por

quatro partes, correspondendo a primeira à recolha de dados relativa aos educadores de

infância: género, idade, nacionalidade, anos de serviço, habilitações literárias/profissionais e

tipo de instituição de ensino. A segunda parte dizia respeito a dados relativos à criança e ao

seu agregado familiar: data de nascimento e género das crianças e habilitações literárias do

pai e da mãe. As secções três e quatro do inquérito diziam respeito às escalas utilizadas para a

recolha de dados relativa aos comportamentos das crianças, no que concerne à autorregulação

e à agressividade entre pares.

No que concerne à recolha de informação relativa aos comportamentos de

autorregulação, optou-se por realizar uma adaptação de uma escala internacional –

Questionário Kashiwagi, com 71 itens (Kashiwagi, 1988; Kashiwagi et al. 1989). Este foi

originalmente desenvolvido no Japão, por Kashiwagi, com o objetivo de compreender a

autorregulação nas crianças japonesas em idade pré-escolar. Posteriormente, foi adaptado por

Olson e Kashiwagi (2000) para uma versão de língua inglesa, sendo validado conjuntamente

nos Estados Unidos da América e no Japão – “Teacher ratings of behavioral self-regulation

in preschool children. No presente estudo tentou-se elaborar uma adaptação da escala para o

Page 62: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

54

contexto português – Escala de Comportamentos de Autorregulação em Jardim-de-Infância

(ECA). Esta é escala multidimensional composta por 37 itens, tipo Likert, com seis opções de

resposta relativas às representações dos educadores de infância quanto à ocorrência de

comportamentos específicos de autorregulação nas crianças (1 = completamente em

desacordo, 2 = bastante em desacordo, 3 = mais em desacordo que de acordo, 4 = mais de

acordo que desacordo, 5 = bastante de acordo, 6 = completamente de acordo).

Validade interna

Para avaliar a validade do constructo, os resultados dos questionários foram sujeitos a

uma análise fatorial de componentes principais com rotação varimax. O valor tomado como

referência foi 0.30. Como nos estudos anteriores, a escala apresentou duas dimensões

específicas: auto inibição e auto assertividade (Tabela 3), com valores de alpha adequados,

respetivamente, 0.97 e 0.92, no total, 0.96. A primeira dimensão engloba itens relacionados

com o cumprimento de regras, e com a capacidade de esperar pela gratificação, de controlar

emoções e comportamentos negativos. A segunda dimensão está relacionada com

comportamentos verbais assertivos, criativos ou auto--expressivos e com relacionamentos

positivos entre pares. Os resultados desta análise indicam que a consistência interna da escala

é elevada.

Tabela 3: Análise fatorial da escala ECA

Componentes I (%)

II (%)

I. Auto inibição 1. Cumpre se lhe é dito para parar de fazer determinada ação. .599 2. Partilha brinquedos com os outros. .658 3. Aprende com os seus próprios erros e corrige-os. .678 4. Aceita fazer tarefas conforme as indicações recebidas. .645 5. Sabe esperar pacientemente pela sua vez. .771 6. Sabe esperar pacientemente pelo lanche (alimento). .685 7. Percebe e cumpre as regras e instruções. .696 8. É paciente, sabendo controlar os seus próprios desejos em situações de grupo. .824 9. Espera pela sua vez nas conversas e discussões em grupo. .739 10. Sabe adequar o seu comportamento às circunstâncias. .772 11. É capaz de partilhar e de se revezar em situações de jogo. .780 12. Quando sabe que algo é proibido, não o faz. .722 14. Sabe controlar sentimentos negativos sem se deixar esmorecer. .566 15. Quando é instruído para fazer determinada tarefa, sabe cumprir. .575 16. Sabe controlar os seus próprios desejos imediatos. .740 17. Se é magoado(a) por uma outra criança, não reage da mesma maneira. .638

Page 63: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

55

18. É paciente sobre sua própria vontade em situações de grupo. .772 19. Devolve os objetos ou brinquedos que os amigos lhe emprestam. .724 20. Sabe esperar pela sua vez, se o professor está a falar com outra criança. .805 21. Sabe esperar pacientemente quando se lhe diz "mais tarde” ou "tu és a seguir''. .806 22. Sabe estar com crianças mais pequenas. .583 23. Sabe assumir um compromisso, se a sua opinião diverge da dos outros. .695 25. Quando se lhe diz que pare de fazer algo, cumpre de forma positiva. .673 26. Sabe escutar os outros sem interromper. .763 II. Auto assertividade 27. Sabe exprimir aquilo que quer fazer. .748 28. Sabe expressar as suas ideias a outras crianças. .791 29. Sabe expor com desembaraço as suas próprias ideias, quando está a fazer as atividades. .817

30. Toma a iniciativa em estabelecer contacto com os outros. .812 31. Se algo de errado ou ruim acontece, é capaz de dizer "isso não está certo''. .718 32. Sabe ir pedir emprestado as coisas que quer usar. .645 33. Se quer juntar-se a outras crianças, sabe dizer "eu também quero jogar''. .788 34. Fica furioso(a) se alguém o(a) insulta. -.600 35. Sabe expressar espontaneamente as suas próprias ideias a outras crianças. .840 36. Interessa-se por efetuar tarefas difíceis e manusear novos materiais. .672 37. Se alguma criança o(a) provoca, sabe dizer-lhe que pare. .748

Apensar das divergências culturais, foi possível confirmar a validade e a

replicabilidade da escala, tanto no contexto norte-americano como no contexto português. Tal

como sucedeu nas duas versões originais, a partir da análise fatorial de componentes

principais com rotação varimax resultaram duas dimensões: a auto inibição e a auto

assertividade (Kashiwagi, 1988; Olson e Kashiwagi, 2000).

Validade externa

Na análise da validade externa, recorreu-se a uma análise correlacional, tendo-se

considerado a relação entre os resultados da “Teacher ratings of behavioral self-regulation in

preschool children” – ECA Escala de Comportamentos de Autorregulação) e os resultados da

escala “Peer Aggression in Preschool” (Domènech-Llaberia et al., 2008) – CTA (Escala de

Conflito entre Pares). Como é possível observar na tabela 4, surgiram correlações entre os

itens de ambas as escalas, no sentido esperado. As correlações apresentam-se negativas e

estatisticamente significativas, embora não muito elevadas, na generalidade dos itens

considerados.

Page 64: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

56

Tabela 4: Índices de correlação entre os resultados nos itens da ECA e da CTA

cta1 cta2 cta3 cta4 cta5 cta6 cta7 cta8 cta9 cta10 eca1 -,261** -,289** -,303** -,278** -,286** -,243** -,251** -,271** -,244** -,334** eca2 -,359** -,419** -,352** -,396** -,311** -,321** -,329** -,304** -,276** -,312** eca3 -,337** -,404** -,401** -,225** -,261** -,279** -,302** -,219** -,204** -,308** eca4 -,237** -,358** -,405** -,248** -,244** -,241** -,202** -,185** -,167** -,264** eca5 -,344** -,356** -,351** -,322** -,332** -,281** -,321** -,277** -,275** -,332** eca6 -,346** -,378** -,415** -,240** -,342** -,298** -,293** -,315** -,263** -,288** eca7 -,362** -,414** -,459** -,225** -,312** -,310** -,280** -,267** -,272** -,337** eca8 -,478** -,443** -,436** -,390** -,411** -,425** -,469** -,404** -,376** -,415** eca9 -,377** -,334** -,355** -,212** -,226** -,201** -,252** -,202** -,190** -,228** eca10 -,507** -,499** -,449** -,420** -,441** -,458** -,506** -,445** -,416** -,401** eca11 -,446** -,448** -,415** -,341** -,347** -,353** -,399** -,351** -,309** -,339** eca12 -,476** -,480** -,494** -,363** -,388** -,367** -,366** -,351** -,333** -,426** eca13 -,044 ,083 ,080 -,067 -,039 -,030 -,058 -,038 -,092* -,057 eca14 -,389** -,372** -,303** -,298** -,276** -,313** -,312** -,261** -,237** -,192** eca15 -,253** -,290** -,331** -,123** -,160** -,206** -,215** -,136** -,120** -,181** eca16 -,434** -,420** -,391** -,312** -,335** -,361** -,404** -,330** -,326** -,313** eca17 -,456** -,432** -,374** -,394** -,382** -,422** -,452** -,402** -,373** -,323** eca18 -,455** -,466** -,381** -,376** -,376** -,403** -,443** -,420** -,381** -,334** eca19 -,393** -,436** -,427** -,250** -,241** -,323** -,314** -,270** -,228** -,251** eca20 -,401** -,451** -,396** -,391** -,416** -,438** -,396** -,404** -,399** -,363** eca21 -,380** -,443** -,410** -,338** -,346** -,372** -,314** -,330** -,302** -,297** eca22 -,259** -,376** -,468** -,165** -,196** -,274** -,170** -,159** -,139** -,189** eca23 -,306** -,291** -,332** -,188** -,209** -,183** -,241** -,187** -,167** -,223** eca24 -,032 -,063 -,054 -,161** -,158** -,135** -,083 -,132** -,156** -,196** eca25 -,342** -,403** -,450** -,240** -,277** -,267** -,223** -,230** -,211** -,311** eca26 -,362** -,395** -,424** -,228** -,258** -,291** -,247** -,185** -,206** -,261** eca27 -,148** -,216** -,308** -,030 -,071 -,136** -,061 -,025 -,008 -,062 eca28 -,167** -,248** -,319** -,053 -,081 -,181** -,109** -,061 -,021 -,091* eca29 -,189** -,259** -,306** -,075 -,091* -,181** -,134** -,076 -,059 -,101* eca30 -,056 -,097* -,179** ,068 ,052 -,006 -,004 ,061 ,107* ,036 eca31 -,245** -,327** -,335** -,133** -,109* -,197** -,166** -,115** -,087* -,095* eca32 -,310** -,331** -,318** -,169** -,180** -,211** -,217** -,200** -,106* -,164** eca33 -,202** -,258** -,295** -,069 -,102* -,157** -,118** -,121** -,032 -,078 eca34 ,046 ,034 ,038 -,124** -,110** -,034 -,066 -,107* -,140** -,144** eca35 -,173** -,234** -,296** -,009 -,010 -,118** -,043 -,022 ,035 -,027 eca36 -,187** -,258** -,342** -,088* -,111** -,200** -,149** -,110** -,093* -,099* eca37 -,184** -,240** -,286** -,042 -,050 -,146** -,114** -,066 -,021 -,051 * p<0.05; ** p<0.01 (2-tailed).

Concluindo, a escala apresentou boas qualidades psicométricas, quer a nível de

consistência interna quer a nível de validade externa, o que mostra que a adaptação

portuguesa da escala Kashiwagi aqui apresentada pode ser útil na investigação científica na

área da educação e do desenvolvimento infantil. Esta foi apresentada em forma de poster no

12º Colóquio Internacional de Psicologia e Educação, o qual ocorreu de 21 a 23 de Junho de

2012 no Instituto Superior de Psicologia Aplicada em Lisboa (Veiga & Fernandes, 2012).

5.3.2 Escala de Comportamentos de Agressão entre Pares (CTA)

Com vista à ampliação da validade externa da escala referida, decidiu-se aplicar

também a Escala de Comportamentos de Agressão entre Pares (CTA), uma tradução da escala

“Peer Aggression in Preschool” (Domènech-Llaberia et al., 2008). Esta é composta por 10

Page 65: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

57

itens, tipo Likert, com seis opções de resposta relativas às representações dos educadores de

infância quanto à ocorrência de comportamentos conflito entre as crianças (1 =

completamente em desacordo, 2 = bastante em desacordo, 3 = mais em desacordo que de

acordo, 4 = mais de acordo que desacordo, 5 = bastante de acordo, 6 = completamente de

acordo). A partir da utilização desta escala foi possível averiguar como se relacionam os

comportamentos de autorregulação com os comportamentos de agressividade nas crianças em

idade pré-escolar.

5.4 Procedimento

A primeira fase da investigação propriamente dita assentou na adaptação do

questionário Kashiwagi (Olson & Kashiwagi, 2000) para o contexto português. Após esta

estar concluída, foi solicitada a autorização às direções dos jardins-de-infância/agrupamentos

para a aplicação do mesmo. Em seguimento, os educadores de infância foram contactados

pela autora da dissertação e procedeu-se à distribuição dos inquéritos e aos devidos

esclarecimentos relativos ao seu preenchimento. A aplicação dos questionários decorreu ao

longo do ano de 2011. Os educadores de infância preencheram os questionários de forma

anónima e voluntária, dispondo de dois meses para tal. Após a sua recolha, os dados foram

codificados para posterior tratamento estatístico do programa informático Statistical Package

For Social Sciences (SPSS Statistics, versão 19).

5.5 Variáveis de Estudo

A pergunta de partida do presente estudo foi: “Quais as perceções dos educadores de

infância acerca da autorregulação em crianças em idade pré-escolar?”. Para responder a esta

questão delineou-se como variável dependente os “comportamentos de autorregulação” e

como variáveis independentes a “idade” e o “género” das crianças. Procurou-se ainda

compreender que relação pode haver entre a autorregulação nas crianças de jardim-de-

infância e a agressão entre pares durante esta fase de desenvolvimento. Desta forma analisou-

se a variável central “comportamentos de autorregulação” como uma variável dependente, no

estudo da sua elação com cada uma das variáveis género e idade (variáveis independentes); e

Page 66: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

58

como variável independente no estudo da sua relação com a variável “agressão entre pares”,

(variável dependente).

Após ter sida a apresentada a amostra, os instrumentos e os procedimentos utilizados,

bem como as variáveis delineadas, segue-se a exposição dos resultados da investigação.

Page 67: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

59

CAPÍTULO 6

RESULTADOS

No presente capítulo são apresentados os resultados do estudo acerca da

autorregulação, e a sua relação com outros fatores relativos à amostra, de acordo com as

questões previamente formuladas e apresentadas no primeiro capítulo. A análise dos dados foi

realizada com recurso ao programa informático de tratamento estatístico de dados SPSS

Statistics (versão 19). Analisou-se a distribuição das crianças em função de diferentes

comportamentos de autorregulação (baixa versus alta), através de uma análise de frequências;

analisaram-se médias, em função da idade e do género dos sujeitos, recorrendo ao t-test; e

foram testadas correlações, utilizando a correlação de Pearson.

6.1 Resultados da distribuição das crianças pela frequência de comportamentos de

autorregulação

Para responder à primeira questão de estudo delineada (Q1: Como se distribuem as

crianças pela frequência de comportamentos de autorregulação?) procurou-se verificar a

oscilação dos comportamentos percecionados pelas educadoras nas crianças de jardim-de-

-infância constituintes da amostra através dos itens da escala, em termos de ocorrência de

comportamentos de autorregulação.

Como é possível observar na tabela 5, de acordo com as educadoras de infância, a

maioria das crianças apresenta comportamentos de elevada autorregulação em todos os itens

presentes na escala, sendo que os resultados mais salientes dizem respeito a itens relativos a

relações sociais com os seus pares, à realização de tarefas e manipulação de objetos ou ao

respeito a regras de gestão da sala: item 22 “sabe estar com as crianças mais pequenas”

(87,6%), item 4 “aceita fazer tarefas conforme as indicações recebidas” (85,3%), item 2

“partilha brinquedos com os outros” (83,5%), item 6 “sabe esperar pacientemente pelo lanche

(alimento)” (82%) ou item 36 “interessa-se por efetuar tarefas difíceis e manusear novos

materiais” (81%). Seguem-se itens 19 “devolve os objetos ou brinquedos que os amigos lhe

emprestam” (79,5%), item 33 “se quer juntar-se a outras crianças, sabe dizer «eu também

quero jogar»” (79,3%), item 35 “sabe expressar espontaneamente as suas próprias ideias a

Page 68: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

60

outras crianças” (79,2%), item 30 “toma iniciativa em estabelecer contacto com os outros”

(78,5%), item 7 “percebe e cumpre as regras e instruções” (77,2%), item 32 “sabe pedir

emprestado as coisas que quer usar” (76,7%) ou item 37 “se alguma criança o(a) provoca,

sabe dizer-lhe que pare” (76,5%).

Tabela 5. Distribuição dos comportamentos de autorregulação, em termos de ocorrência baixa

versus alta.

Autorregulação 1 (%) 2 (%) 1. Cumpre se lhe é dito para parar de fazer determinada ação. 28.7 71.3 2. Partilha brinquedos com os outros. 16.5 83.5 3. Aprende com os seus próprios erros e corrige-os. 30.9 69.1 4. Aceita fazer tarefas conforme as indicações recebidas. 14.7 85.3 5. Sabe esperar pacientemente pela sua vez. 30.5 69.5 6. Sabe esperar pacientemente pelo lanche (alimento). 18.0 82.0 7. Percebe e cumpre as regras e instruções. 22.8 77.2 8. É paciente, sabendo controlar os seus próprios desejos em situações de grupo. 30.9 69. 9. Espera pela sua vez nas conversas e discussões em grupo. 31.2 68.8 10. Sabe adequar o seu comportamento às circunstâncias. 31.1 68.9 11. É capaz de partilhar e de se revezar em situações de jogo. 28.4 71.6 12. Quando sabe que algo é proibido, não o faz. 29.3 70.7 13. Quando se lhe pede que faça algo um pouco difícil, diz “eu não consigo”. 52.8 48.2 14. Sabe controlar sentimentos negativos sem se deixar esmorecer. 45.6 54.4 15. Quando é instruído para fazer determinada tarefa, sabe cumprir. 24.4 75.6 16. Sabe controlar os seus próprios desejos imediatos. 36.3 63.7 17. Se é magoado(a) por uma outra criança, não reage da mesma maneira. 44.5 55.5 18. É paciente sobre sua própria vontade em situações de grupo. 33.9 66.1 19. Devolve os objetos ou brinquedos que os amigos lhe emprestam. 20.5 79.5 10. Sabe esperar pela sua vez, se o professor está a falar com outra criança. 37.5 62.5 21. Sabe esperar pacientemente quando se lhe diz "mais tarde” ou "tu és a seguir''. 26.8 73.2 22. Sabe estar com crianças mais pequenas. 12.4 87.6 23. Sabe assumir um compromisso, se a sua opinião diverge da dos outros. 33.0 67.0 24. Amua ou fica retraído quando perde num jogo competitivo. 51.5 48.5 25. Quando se lhe diz que pare de fazer algo, cumpre de forma positiva. 25.5 74.5 26. Sabe escutar os outros sem interromper. 31.4 68.6 27. Sabe exprimir aquilo que quer fazer. 25.1 74.9 28. Sabe expressar as suas ideias a outras crianças. 23.2 76.8 29. Sabe expor com desembaraço as suas próprias ideias, quando está a fazer as atividades.

28.1 71.9

30. Toma a iniciativa em estabelecer contacto com os outros. 21.5 78.5 31. Se algo de errado ou ruim acontece, é capaz de dizer "isso não está certo''. 27.6 72.4 32. Sabe ir pedir emprestado as coisas que quer usar. 23.3 76.7 33. Se quer juntar-se a outras crianças, sabe dizer "eu também quero jogar''. 20.3 79.3 34. Fica furioso(a) se alguém o(a) insulta. 66.6 33.4 35. Sabe expressar espontaneamente as suas próprias ideias a outras crianças. 20.8 79.2 36. Interessa-se por efetuar tarefas difíceis e manusear novos materiais. 19.0 81.0 37. Se alguma criança o(a) provoca, sabe dizer-lhe que pare. 23.5 76.5 Nota. 1: autorregulação baixa; 2: autorregulação alta. Nos tens inversos - 13, 24 e 34 – a pontuação foi invertida.

Page 69: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

61

Como é possível verificar na tabela 5, surgem três situações que podem levar a pensar

que dizem respeito a baixos níveis de autorregulação: item 34 “fica furioso(a) se alguém o(a)

insulta” (66,6%), item 13 “quando se lhe pede que faça algo um pouco difícil diz «eu não

consigo»” (52,8%) e item 24 “amua ou fica retraído(a) quando perde num jogo competitivo”

(51,1%). Contudo, não é este o caso. Estes três itens coincidem com os três itens inversos

presentes na escala, mais precisamente, com itens que dizem respeito a comportamentos

negativos e desregulados. Ou seja, nestas três situações, as educadoras discordaram com a

ocorrência dos comportamentos negativos, apresentados nesses mesmos itens.

6.2 Resultados da análise diferencial

Nas análises diferenciais apresentadas de seguida foram analisados os valores de

média e desvio padrão dos dados relativos à autorregulação, em função das variáveis

consideradas: género e idade.

A primeira variável dependente dizia respeito às perceções das educadoras em função

do género das crianças. De forma a dar resposta à segunda questão de estudo (Q2: Será que a

autorregulação varia consoante o género da criança?), procedeu-se à realização de um t-test,

cujos resultados estão presentes na tabela 6. A partir dos níveis de significância é possível

observar que as diferenças de autorregulação entre géneros, no geral, não são significativas.

Surgem como exceções os itens: item 1 “cumpre se lhe é dito para parar de fazer determinada

ação”, item 3 “aprende com os seus próprios erros e corrige-os”, item 10 “sabe adequar o seu

comportamento às circunstâncias”, item 13 “quando se lhe pede que faça algo um pouco

difícil, diz «eu não consigo»”, item 18 “é paciente sobre sua própria vontade em situações de

grupo”, item 24 “amua ou fica retraído quando perde num jogo competitivo”, no limiar da

significância estatística (p<0.05); o item 5 (sabe esperar pacientemente pela sua vez) –

(p<0.01); e o item 17 (se é magoado(a) por uma outra criança, não reage da mesma maneira)

– (p<0.001), sendo este o item com a diferença mais significativa. De registar que, nas

diferenças encontradas, as raparigas são sempre percecionadas pelas educadoras como mais

autorreguladas do que os rapazes, pois a média no item é sempre superior no grupo feminino.

Isto mesmo ocorreu nos itens inversos, dado o conteúdo do item.

Page 70: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

62

Tabela 6. Distribuição das crianças em função do género

Género Número Média DP t. Sig.

1. Cumpre se lhe é dito para parar de fazer determinada ação.

M 269 4,23 1,481 -2,376 *

F 288 4,53 1,505

2. Partilha brinquedos com os outros. M 269 4,62 1,292

-1,725 n.s. F 288 4,81 1,185

3. Aprende com os seus próprios erros e corrige-os.

M 269 3,93 1,264 -2,331 *

F 288 4,18 1,280

4. Aceita fazer tarefas conforme as indicações recebidas.

M 269 4,71 1,224 -1,350 n.s.

F 288 4,84 1,114

5. Sabe esperar pacientemente pela sua vez.

M 269 4,01 1,283 -2,675 **

F 288 4,30 1,253

6. Sabe esperar pacientemente pelo lanche (alimento).

M 269 4,69 1,381 -,886 n.s.

F 288 4,79 1,192

7. Percebe e cumpre as regras e instruções.

M 269 4,43 1,333 -1,785 n.s.

F 288 4,63 1,226

8. É paciente, sabendo controlar os seus próprios desejos em situações de grupo.

M 269 4,07 1,241 -1,761 n.s.

F 288 4,25 1,213

9. Espera pela sua vez nas conversas e discussões em grupo.

M 269 4,20 1,327 -,964 n.s.

F 288 4,31 1,317

10. Sabe adequar o seu comportamento às circunstâncias.

M 269 3,91 1,231 -2,278 *

F 288 4,15 1,204

11. É capaz de partilhar e de se revezar em situações de jogo.

M 269 4,12 1,260 -,615 n.s.

F 288 4,18 1,245

12. Quando sabe que algo é proibido, não o faz.

M 269 4,02 1,321 -1,816 n.s.

F 288 4,22 1,231

13. Quando se lhe pede que faça algo um pouco difícil, diz “eu não consigo”.

M 269 3,19 1,377 -2,316 *

F 288 3,46 1,358

14. Sabe controlar sentimentos negativos sem se deixar esmorecer.

M 269 3,64 1,347 ,596 n.s.

F 288 3,57 1,278

15. Quando é instruído para fazer determinada tarefa, sabe cumprir.

M 269 4,37 1,220 -,265 n.s.

F 288 4,40 1,234

16. Sabe controlar os seus próprios desejos imediatos.

M 269 3,88 1,225 -,684 n.s.

F 288 3,95 1,203

17. Se é magoado(a) por uma outra criança, não reage da mesma maneira.

M 269 3,53 1,317 -3,308 ***

F 288 3,89 1,258

18. É paciente sobre sua própria vontade em situações de grupo.

M 269 3,79 1,322 -2,148 *

F 288 4,03 1,308

19. Devolve os objetos ou brinquedos que os amigos lhe emprestam.

M 269 4,39 1,260 -1,177 n.s.

F 288 4,51 1,221 20. Sabe esperar pela sua vez, se o M 269 3,91 1,441 -,898 n.s.

Page 71: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

63

professor está a falar com outra criança. F 288 4,01 1,367 21. Sabe esperar pacientemente quando se lhe diz "mais tarde” ou "tu és a seguir''.

M 269 4,16 1,306 -1,037 n.s.

F 288 4,28 1,293

22. Sabe estar com crianças mais pequenas.

M 269 4,69 1,281 -1,288 n.s.

F 288 4,82 1,149

23. Sabe assumir um compromisso, se a sua opinião diverge da dos outros.

M 269 3,94 1,306 -,948 n.s.

F 288 4,04 1,232

24. Amua ou fica retraído quando perde num jogo competitivo.

M 269 3,25 1,347 -2,211 *

F 288 3,51 1,402

25. Quando se lhe diz que pare de fazer algo, cumpre de forma positiva.

M 269 4,24 1,274 -,048 n.s.

F 288 4,24 1,248

26. Sabe escutar os outros sem interromper.

M 269 4,03 1,257 -1,066 n.s.

F 288 4,14 1,234

27. Sabe exprimir aquilo que quer fazer. M 269 4,40 1,308

-,268 n.s. F 288 4,43 1,256

28. Sabe expressar as suas ideias a outras crianças.

M 269 4,38 1,309 -,118 n.s.

F 288 4,40 1,286 29. Sabe expor com desembaraço as suas próprias ideias, quando está a fazer as atividades.

M 269 4,21 1,273 -,459 n.s. F 288 4,26 1,334

30. Toma a iniciativa em estabelecer contacto com os outros.

M 269 4,54 1,208 1,291 n.s. F 288 4,40 1,279

31. Se algo de errado ou ruim acontece, é capaz de dizer "isso não está certo''.

M 269 4,22 1,338 ,094 n.s. F 288 4,21 1,404

32. Sabe ir pedir emprestado as coisas que quer usar.

M 269 4,36 1,267 ,911 n.s. F 288 4,26 1,330

33. Se quer juntar-se a outras crianças, sabe dizer "eu também quero jogar''.

M 269 4,59 1,286 1,060 n.s. F 288 4,47 1,424

34. Fica furioso(a) se alguém o(a) insulta.

M 269 2,97 1,229 -,694 n.s. F 288 3,05 1,303

35. Sabe expressar espontaneamente as suas próprias ideias a outras crianças.

M 269 4,51 1,260 1,308 n.s. F 288 4,36 1,341

36. Interessa-se por efetuar tarefas difíceis e manusear novos materiais.

M 269 4,51 1,271 -,426 n.s. F 288 4,56 1,276

37. Se alguma criança o(a) provoca, sabe dizer-lhe que pare.

M 269 4,37 1,356 ,180 n.s. F 288 4,35 1,404

* p<0.05; ** p<0.01; *** p<0.001 (2-tailed); n.s. = não significativo.

A segunda variável independente, considerado no presente estudo, diz respeito às

perceções das educadoras relativamente à idade das crianças. Para facilitar a análise, as idades

foram divididas em dois grupos: um referente à idade compreendida entre os três e os quatro

Page 72: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

64

anos e outro referente às idades compreendidas entre os cinco e os sete anos. Para responder à

terceira questão (Q3: Será que a autorregulação varia consoante a idade da criança?), realizou-

se novamente um t-test, cujos resultados estão apresentados na tabela 7. É possível observar

que as diferenças na auto-regulação dos dois grupos de idades são muito significativos em

quase todos os itens (p<0.001). Não aparecem diferenças estatisticamente significativas nos

itens 1 “cumpre se lhe é dito para parar de fazer determinada ação” e 24 “amua ou fica

retraído quando perde num jogo competitivo”.

Tabela 7. Distribuição das crianças em função da idade

Idade Número Média DP t. Sig.

1. Cumpre se lhe é dito para parar de fazer determinada ação.

3-4 242 4,28 1,450 -1,450 n.s.

5-7 315 4,47 1,533

2. Partilha brinquedos com os outros. 3-4 242 4,34 1,355

-6,486 *** 5-7 315 5,01 1,059

3. Aprende com os seus próprios erros e corrige-os.

3-4 242 3,76 1,267 -4,951 ***

5-7 315 4,29 1,239

4. Aceita fazer tarefas conforme as indicações recebidas.

3-4 242 4,53 1,195 -4,427 ***

5-7 315 4,97 1,114

5. Sabe esperar pacientemente pela sua vez.

3-4 242 3,92 1,226 -3,988 ***

5-7 315 4,35 1,281

6. Sabe esperar pacientemente pelo lanche (alimento).

3-4 242 4,33 1,341 -6,874 ***

5-7 315 5,06 1,150

7. Percebe e cumpre as regras e instruções.

3-4 242 4,18 1,359 -5,945 ***

5-7 315 4,81 1,146

8. É paciente, sabendo controlar os seus próprios desejos em situações de grupo.

3-4 242 3,74 1,145 -7,362 ***

5-7 315 4,48 1,195

9. Espera pela sua vez nas conversas e discussões em grupo.

3-4 242 3,95 1,376 -4,883 ***

5-7 315 4,50 1,230

10. Sabe adequar o seu comportamento às circunstâncias.

3-4 242 3,61 1,152 -7,550 ***

5-7 315 4,36 1,174

11. É capaz de partilhar e de se revezar em situações de jogo.

3-4 242 3,58 1,214 -10,281 ***

5-7 315 4,59 1,095

12. Quando sabe que algo é proibido, não o faz.

3-4 242 3,86 1,349 -4,277 ***

5-7 315 4,32 1,185

13. Quando se lhe pede que faça algo um pouco difícil, diz “eu não consigo”.

3-4 242 3,52 1,370 2,859 ***

5-7 315 3,19 1,359 14. Sabe controlar sentimentos negativos 3-4 242 3,10 1,275 -8,408 ***

Page 73: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

65

sem se deixar esmorecer. 5-7 315 3,99 1,205

15. Quando é instruído para fazer determinada tarefa, sabe cumprir.

3-4 242 3,91 1,191 -8,551 ***

5-7 315 4,75 1,124

16. Sabe controlar os seus próprios desejos imediatos.

3-4 242 3,50 1,189 -7,378 ***

5-7 315 4,23 1,135

17. Se é magoado(a) por uma outra criança, não reage da mesma maneira.

3-4 242 3,46 1,266 -4,066 ***

5-7 315 3,91 1,292

18. É paciente sobre sua própria vontade em situações de grupo.

3-4 242 3,45 1,317 -7,667 ***

5-7 315 4,27 1,206

19. Devolve os objetos ou brinquedos que os amigos lhe emprestam.

3-4 242 3,95 1,356 -8,908 ***

5-7 315 4,83 ,986

20. Sabe esperar pela sua vez, se o professor está a falar com outra criança.

3-4 242 3,43 1,383 -8,393 ***

5-7 315 4,37 1,274 21. Sabe esperar pacientemente quando se lhe diz "mais tarde” ou "tu és a seguir''.

3-4 242 3,76 1,285 -7,741 ***

5-7 315 4,58 1,196

22. Sabe estar com crianças mais pequenas.

3-4 234 4,33 1,287 -7,355 ***

5-7 315 5,07 1,056

23. Sabe assumir um compromisso, se a sua opinião diverge da dos outros.

3-4 235 3,57 1,313 -6,901 ***

5-7 314 4,30 1,142

24. Amua ou fica retraído quando perde num jogo competitivo.

3-4 242 3,42 1,404 ,585 n.s.

5-7 315 3,35 1,364

25. Quando se lhe diz que pare de fazer algo, cumpre de forma positiva.

3-4 242 3,91 1,279 -5,591 ***

5-7 315 4,50 1,185

26. Sabe escutar os outros sem interromper.

3-4 242 3,70 1,227 -6,646 ***

5-7 315 4,38 1,179

27. Sabe exprimir aquilo que quer fazer. 3-4 242 4,07 1,291

-5,754 *** 5-7 315 4,68 1,208

28. Sabe expressar as suas ideias a outras crianças.

3-4 242 3,90 1,321 -8,335 ***

5-7 315 4,77 1,143 29. Sabe expor com desembaraço as suas próprias ideias, quando está a fazer as atividades.

3-4 234 3,77 1,273 -7,541 *** 5-7 315 4,58 1,219

30. Toma a iniciativa em estabelecer contacto com os outros.

3-4 242 4,04 1,352 -7,513 *** 5-7 315 4,80 1,044

31. Se algo de errado ou ruim acontece, é capaz de dizer "isso não está certo''.

3-4 242 3,65 1,386 -9,131 *** 5-7 315 4,65 1,192

32. Sabe ir pedir emprestado as coisas que quer usar.

3-4 242 3,87 1,357 -7,410 *** 5-7 315 4,65 1,144

33. Se quer juntar-se a outras crianças, sabe dizer "eu também quero jogar''.

3-4 242 4,04 1,481 -7,802 *** 5-7 315 4,90 1,124

34. Fica furioso(a) se alguém o(a) insulta.

3-4 242 3,32 1,296 5,100 *** 5-7 315 2,78 1,195

Page 74: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

66

35. Sabe expressar espontaneamente as suas próprias ideias a outras crianças.

3-4 242 3,96 1,375 -7,897 *** 5-7 315 4,79 1,120

36. Interessa-se por efetuar tarefas difíceis e manusear novos materiais.

3-4 242 4,20 1,325 -5,580 *** 5-7 315 4,79 1,170

37. Se alguma criança o(a) provoca, sabe dizer-lhe que pare.

3-4 242 3,82 1,378 -8,586 *** 5-7 315 4,77 1,233

* p<0.05; ** p<0.01; *** p<0.001 (2-tailed).

A partir dos níveis de significância presentes da tabela é possível averiguar que as

diferenças de autorregulação entre idades são muito significativas (p<0.001) em quase todos

os itens de autorregulação avaliados nesta escala, sendo superiores no grupo dos cinco aos

sete anos. Nas diferenças encontradas, as crianças mais velhas são sempre percecionadas

pelas educadoras como mais autorreguladas do que as mais novas, pois a média no item é

sempre superior no grupo das crianças mais velhas. O mesmo aconteceu nos itens inversos,

dado o seu conteúdo.

6.3 Resultados da análise correlacional

De forma a responder à questão 4 (Q4: Há relação entre os comportamentos de

autorregulação e a agressão entre pares?), considerou-se a relação entre os resultados da

“Teacher ratings of behavioral self-regulation in preschool children” – ECA Escala de

Comportamentos de Autorregulação) e os resultados da escala “Peer Aggression in

Preschool” (Domènech-Llaberia et al., 2008) – CTA (Escala de Conflito entre Pares), tendo

surgido correlações, no sentido esperado, entre os itens de ambas as escalas. Como é possível

observar na tabela 8, existem uma correlação negativa e estatisticamente significativa entre a

grande maioria das dimensões da autorregulação e das dimensões da agressividade entre pares

(p<0.01). Existem exceções em algumas situações, como na correlação entre o item eca13 e o

item cta9; entre o item eca38 e o item cta10; entre o item eca29 e os itens cta5 e cta10; entre o

item eca30 e os itens cta2 e cta9; entre o item eca31 e os itens cta5 cta9 e cta10; entre o item

eca33 e o item cta5; entre o item eca34 e o item cta8; entre o item eca36 e os itens cta4 cta5

cta9 e cta10. Nestes casos as correlações apresentaram um nível de significância mais

reduzido (p<0.05). Existem ainda alguns casos em que não aparece correlação significativa:

eca13 e cta1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 10; eca24 e cta1, 2 e 3; eca27 e cta4, 5, 7, 8, 9 e 10; eca28 e

Page 75: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

67

cta4, 5, 8 e 9; eca29 e cta4, 8 e 9; eca30 e cta1, 4, 5, 6, 7, 8 e 10; eca33 e cta4, 9 e 10; eca34 e

cta1, 2, 3, 6 e 7; eca35 e cta4, 5, 7, 8, 9 e 10; e eca37 e cta4, 5, 8, 9 e 10.

Tabela 8: Índices de correlação entre os resultados nos itens da ECA e da CTA

cta1 cta2 cta3 cta4 cta5 cta6 cta7 cta8 cta9 cta10 eca1 -,261** -,289** -,303** -,278** -,286** -,243** -,251** -,271** -,244** -,334** eca2 -,359** -,419** -,352** -,396** -,311** -,321** -,329** -,304** -,276** -,312** eca3 -,337** -,404** -,401** -,225** -,261** -,279** -,302** -,219** -,204** -,308** eca4 -,237** -,358** -,405** -,248** -,244** -,241** -,202** -,185** -,167** -,264** eca5 -,344** -,356** -,351** -,322** -,332** -,281** -,321** -,277** -,275** -,332** eca6 -,346** -,378** -,415** -,240** -,342** -,298** -,293** -,315** -,263** -,288** eca7 -,362** -,414** -,459** -,225** -,312** -,310** -,280** -,267** -,272** -,337** eca8 -,478** -,443** -,436** -,390** -,411** -,425** -,469** -,404** -,376** -,415** eca9 -,377** -,334** -,355** -,212** -,226** -,201** -,252** -,202** -,190** -,228** eca10 -,507** -,499** -,449** -,420** -,441** -,458** -,506** -,445** -,416** -,401** eca11 -,446** -,448** -,415** -,341** -,347** -,353** -,399** -,351** -,309** -,339** eca12 -,476** -,480** -,494** -,363** -,388** -,367** -,366** -,351** -,333** -,426** eca13 -,044 ,083 ,080 -,067 -,039 -,030 -,058 -,038 -,092* -,057 eca14 -,389** -,372** -,303** -,298** -,276** -,313** -,312** -,261** -,237** -,192** eca15 -,253** -,290** -,331** -,123** -,160** -,206** -,215** -,136** -,120** -,181** eca16 -,434** -,420** -,391** -,312** -,335** -,361** -,404** -,330** -,326** -,313** eca17 -,456** -,432** -,374** -,394** -,382** -,422** -,452** -,402** -,373** -,323** eca18 -,455** -,466** -,381** -,376** -,376** -,403** -,443** -,420** -,381** -,334** eca19 -,393** -,436** -,427** -,250** -,241** -,323** -,314** -,270** -,228** -,251** eca20 -,401** -,451** -,396** -,391** -,416** -,438** -,396** -,404** -,399** -,363** eca21 -,380** -,443** -,410** -,338** -,346** -,372** -,314** -,330** -,302** -,297** eca22 -,259** -,376** -,468** -,165** -,196** -,274** -,170** -,159** -,139** -,189** eca23 -,306** -,291** -,332** -,188** -,209** -,183** -,241** -,187** -,167** -,223** eca24 -,032 -,063 -,054 -,161** -,158** -,135** -,083 -,132** -,156** -,196** eca25 -,342** -,403** -,450** -,240** -,277** -,267** -,223** -,230** -,211** -,311** eca26 -,362** -,395** -,424** -,228** -,258** -,291** -,247** -,185** -,206** -,261** eca27 -,148** -,216** -,308** -,030 -,071 -,136** -,061 -,025 -,008 -,062 eca28 -,167** -,248** -,319** -,053 -,081 -,181** -,109** -,061 -,021 -,091* eca29 -,189** -,259** -,306** -,075 -,091* -,181** -,134** -,076 -,059 -,101* eca30 -,056 -,097* -,179** ,068 ,052 -,006 -,004 ,061 ,107* ,036 eca31 -,245** -,327** -,335** -,133** -,109* -,197** -,166** -,115** -,087* -,095* eca32 -,310** -,331** -,318** -,169** -,180** -,211** -,217** -,200** -,106* -,164** eca33 -,202** -,258** -,295** -,069 -,102* -,157** -,118** -,121** -,032 -,078 eca34 ,046 ,034 ,038 -,124** -,110** -,034 -,066 -,107* -,140** -,144** eca35 -,173** -,234** -,296** -,009 -,010 -,118** -,043 -,022 ,035 -,027 eca36 -,187** -,258** -,342** -,088* -,111** -,200** -,149** -,110** -,093* -,099* eca37 -,184** -,240** -,286** -,042 -,050 -,146** -,114** -,066 -,021 -,051 * p<0.05; ** p<0.01 (2-tailed).

Tal como é possível observar, as correlações apresentam-se negativas e

estatisticamente significativas, embora não muito elevadas, na generalidade dos itens

considerados.

Page 76: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

68

Page 77: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

69

CAPÍTULO 7

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES

Ao longo do presente capítulo pretende-se efetuar uma explicação dos resultados

obtidos no estudo, tendo como base de referência as questões formuladas, os resultados

obtidos e a revisão de literatura sobre o tema analisado. As conclusões relativas às questões de

estudo constam do início deste capítulo, passando-se às conclusões em termos gerais e

finalizando com algumas limitações ao estudo realizado e sugestões para novas investigações

relacionadas com a temática da autorregulação.

7.1 Discussão dos resultados

De seguida, discute-se a distribuição dos alunos pelos itens de autorregulação de

acordo com a escala “Teacher ratings of behavioral self-regulation in preschool children”

(ECA), em função da frequência dos comportamentos e do género e da idade das crianças.

Discute-se ainda a validade externa e interna da adaptação portuguesa da referida escala.

7.1.1 Distribuição das crianças pela frequência de comportamentos de autorregulação

Para dar responda à primeira questão de estudo (Q1: Como se distribuem as crianças

pela frequência de comportamentos de autorregulação?) de acordo com as perceções dos

educadores de infância, concluiu-se que a grande maioria das crianças pertencentes à amostra

já apresenta elevados níveis de autorregulação. A análise indicou que, em todos os itens

presentes na escala, a frequência de crianças é sempre superior em comportamentos de

autorregulação alta. A frequência de crianças é maior nos itens relativos às relações sociais

com os pares, à realização de tarefas e manipulação de objetos e ao respeito e cumprimento

das regras da sala. Tal situação poderá ser explicada pelas aprendizagens que as crianças

fazem no jardim-de-infância. É objetivo da educação pré-escolar a promoção do

“desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências da vida democrática

numa perspetiva de educação para a cidadania […da] inserção da criança em grupos sociais

Page 78: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

70

diversos […do] desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas características

individuais, incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens significativas e

diferenciadas (…)” (Silva, 1997, p.15). Neste contexto, as interações com os pares tornam-se

gradualmente mais complexas, devido a uma comunicação e coordenação cada vez maiores, à

partilha de afetos cada vez mais forte e ao desenvolvimento de brincadeiras cada vez mais

complexas (Ramani, Brownell & Campbell, 2010). Relativamente à realização de tarefas,

estas devem assentar numa pedagogia estruturada, que se baseia numa planificação

intencional e sistemática das atividades significativas e diversificadas, por parte do educador.

Esta pedagogia deve articular diferentes conteúdos, promover o desenvolvimento da

curiosidade e do espírito crítico das crianças e respeitar os seus interesses e necessidades

(Silva, 1997). Desta forma, as crianças têm a oportunidade de explorar o contexto educativo,

ou seja, espaços e materiais, criando interações diversificadas que dão origem às suas

aprendizagens, pelo que se envolvem cada vez mais nas experiências e atividades de forma

positiva e ativa. No que toca às regras da vida em grupo, estas devem ser claramente

explicadas às crianças, para que estas as compreendam e para que as possam respeitar. Para

terem mais sentido, é importante que o educador defina, não apenas as regras como as tarefas

necessárias à vida coletiva em conjunto com as crianças (Silva, 1997). Estes objetivos

principais da educação pré-escolar podem explicar os resultados verificados na distribuição da

frequência das crianças pelos itens da escala utilizada na presente investigação.

Surgiram, porém, três itens que indicaram uma maior frequência de crianças com

autorregulação baixa. Contudo, assumiu-se que não fosse esta a situação, visto que estes três

itens coincidem com os três itens inversos presentes na escala, mais precisamente, com itens

que dizem respeito a comportamentos desregulados. Ao apresentarem valores elevados de

“autorregulação baixa”, indicam que, de acordo com as perceções dos educadores, a maioria

das crianças não costuma ter este tipo de comportamentos. Portanto, não se pode observar

nenhuma situação real de baixa autorregulação.

Estes resultados estão de acordo com o que a investigação científica tem vindo a

mostrar, ou seja, que a criança em idade pré-escolar já apresenta comportamentos com um

elevado nível de autorregulação (Boyer, 2009; Brazelton & Sparrow, 2009; Kannass, Oakes &

Shaddy, 2006; Bronson, 2000; Kopp & Neufeld, 2003; Kopp, 1982). Os resultados também

são semelhantes aos das investigações que estiveram na base da presente investigação (Olson

& Kashiwagi, 2000; Kashiwagi, 1988), visto que as crianças de idade pré-escolar dos três

contextos – Japão, Estados Unidos da América e Portugal – apresentaram elevados níveis de

autorregulação.

Page 79: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

71

7.1.2 Análise diferencial

Género

Para responder à segunda questão de estudo (Q2: Será que a autorregulação varia

consoante o género da criança?) foi possível concluir que, segundo as perceções dos

educadores, as diferenças entre rapazes e raparigas não são significativas na maioria nos

comportamentos de autorregulação. As exceções surgem apenas em oito dos itens da escala,

sendo que, nestes casos, são as raparigas que apresentam os valores médios de autorregulação

mais elevados.

Porém, estes resultados não foram de encontro ao que era esperado, e da mesma

forma, não estão de acordo com o que tem sido observado em investigações anteriores, as

quais têm concluído que a autorregulação é superior em crianças do género feminino do que

em crianças do género masculino (Best, 2010; Broidy et al., 2003; Fabes et al., 1999; Zahn-

Waxler, Schmitz, Fulker, Robinson & Emde, 1996). No que concerne às investigações de

Olson e Kashiwagi (Olson & Kashiwagi, 2000; Kashiwagi, 1988), as quais estiveram na base

deste estudo, os resultados também não foram semelhantes. Estes investigadores observaram

que, tanto no Japão como nos Estados Unidos da América, as raparigas entre os três e os seis

anos manifestam níveis de autorregulação significativamente mais elevados do que crianças

do género masculino. Estas diferenças poderão ser justificadas pela forma como os pais ou os

educadores vêm, lidam e educam as crianças dos dois géneros. A explicação poderá assentar

nas diferenças culturais que influenciam os estilos parentais e educativos nos diferentes

países, ou possivelmente devido ao facto de as diferenças entre géneros e os estereótipos

associados estarem a diluir-se, visto que estas diferenças resultam dos contextos culturais

envolventes, mais propriamente, das experiências pelas quais as crianças passam e pelas

expectativas criadas pela sociedade (Papalia, Olds & Feldman, 2006).

Idade

Ao responder à questão de estudo número três (Q3: Será que a autorregulação varia

consoante a idade da criança?) concluiu-se, com base nas perceções dos educadores, que os

dois grupos de idades apresentam diferenças muito significativas para a maioria dos

comportamentos de autorregulação avaliados na escala. A média de valores de autorregulação

Page 80: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

72

é mais elevada entre os cinco e os sete anos do que entre os três e os quatro anos de idade, o

que revela que os comportamentos de autorregulação são superiores entre os cinco e os sete

anos de idade. Estes resultados foram visíveis em quase todos os itens da escala, exceto em

três, os quais correspondem aos três itens invertidos presentes nesta escala e dizem respeito a

comportamentos negativos e desregulados. A partir dos níveis de significância presentes da

tabela foi possível averiguar que as diferenças de autorregulação entre idades foram muito

significativas em quase todos os casos, sendo superiores nas crianças mais velhas.

Estes resultados vão ao encontro do que tem sido observado pela investigação (Kagan,

2010; Eisenberg, Spinrad & Eggrum, 2010; Boekaerts, 1997; Kannass, Oakes & Shaddy,

2006; Posner & Rothbart, 1998; Jones, Rothbart & Posner, 2003; Kochanska, Murray &

Harlan, 2000; Diamond & Taylor, 1996; Diamond, Prevor, Callender & Druin, 1997;

Gerstadt, Hong & Diamond, 1994; Carlson, 2005; Boyer, 2009). Os resultados da presente

investigação também estão de acordo com os resultados dos estudos que estiveram na base da

presente investigação (Olson & Kashiwagi, 2000; Kashiwagi, 1988). Tal como sucedeu

anteriormente no Japão e nos Estados Unidos da América, foi possível observar que

autorregulação nas crianças portuguesas também aumenta significativamente entre os três e os

seis/sete anos, sendo que nesta última fase, as crianças manifestam melhores capacidades de

auto assertividade e de participação. Estas diferenças justificam-se pelo facto de o

desenvolvimento da autorregulação ser um processo progressivo, que acompanha o

desenvolvimento global do sujeito ao longo da sua vida.

7.1.3 Análise correlacional

Ao procurar dar resposta à questão número quatro (Q4: Há relação entre os

comportamentos de autorregulação e a agressão entre pares?), foi possível observar

correlações entre a autorregulação e a agressividade entre pares, no sentido esperado. As

correlações apresentam-se negativas e estatisticamente significativas, embora não muito

elevadas, na maioria dos itens. Desta forma, foi possível observar que quanto maior é o nível

de autorregulação das crianças, menos são os casos de agressividade entre pares. Estas

conclusões estão de acordo com o que tem sido verificado pela investigação nesta área

(Olson, Lopez-Duran, Lunkenheimer, Chang, & Sameroff, 2011; Eisenberg, Spinrad &

Eggrum, 2010; Olson, Sameroff, Kerr, Lopez, & Wellman, 2005; Olson, Sameroff,

Page 81: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

73

Lunkenheimer, & Kerr, 2009; Rothbart & Bates, 2006; Ramani, Brownell & Campbell,

2010).

7.2 Conclusões

A presente investigação estudou as perceções dos educadores de infância

relativamente aos comportamentos de autorregulação de crianças portuguesas em idade pré-

escolar. A partir daí pretendia-se averiguar a relação destes comportamentos com a idade e o

género das crianças, bem como a existência de possíveis correlações com comportamentos de

agressão entre pares. Foi possível concluir que a maioria das crianças entre os três e os sete

anos já manifestam elevados níveis de regulação, sobretudo em situações relativas as relações

sociais com os pares, à realização de tarefas e manipulação de objetos e ao respeito e

cumprimento das regras da sala. No que diz respeito à influência do género das crianças na

frequência dos comportamentos de autorregulação, os resultados foram relativamente mais

elevados nas raparigas. Contudo, essas diferenças não se revelaram significativas. Quanto à

influência da idade no desenvolvimento dos comportamentos de autorregulação, concluiu-se

que a sua frequência é mais elevada nas crianças entre os cinco e os sete anos do que entre os

três e os quatro anos de idade. Estas diferenças revelaram-se muito significativas. Em relação

ao estudo de correlações entre a frequência dos comportamentos de autorregulação e a

frequência de situações de agressividade entre pares, observou-se que estas correlações são

negativas e estatisticamente significativas, embora não muito elevadas. Foi então possível

concluir que quanto maior é o nível de autorregulação das crianças, menor é a frequência da

agressividade entre pares.

Outro objetivo deste estudo assentava na tentativa de adaptar a escala “Teacher ratings

of behavioral self-regulation in preschool children” (ECA) (Kashiwagi, 1988; Olson e

Kashiwagi, 2000), criada originalmente no Japão e já adaptada para o contexto norte-

americano, para o contexto português. Tal como nos dois casos anteriores, verificou-se que as

duas dimensões centrais do questionário – auto inibição e auto assertividade – foram bem

replicadas. A escala apresentou boas qualidades psicométricas, quer a nível de consistência

interna quer a nível de validade externa, verificando-se desta forma a confiabilidade e

validade do Questionário Kashiwagi na sua aplicação numa população pré-escolar em

contexto português. A partir destes resultados foi possível comparar as competências de

autorregulação de crianças provenientes de três países diferentes, o que mostrou claras

Page 82: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

74

evidências de transversalidade cultural e provou que é possível avaliar estas competências

tanto em contextos orientais como em contextos ocidentais, mais ou menos desenvolvidos, a

partir do mesmo instrumento de recolha de dados.

A nível da aplicabilidade da escala, a verificação da consistência externa e interna da

versão da escala apresentada mostrou que esta pode ser útil na investigação científica na área

da educação e do desenvolvimento infantil. Tendo em conta estas duas dimensões que

derivaram da análise fatorial realizada, será também possível realizar avaliações destas

dimensões isoladamente. A versão portuguesa da escala poderá ser importante não apenas a

nível da investigação científica na área da educação e da psicologia do desenvolvimento, mas

também pode ser um recurso muito útil para os educadores avaliarem os comportamentos de

autorregulação das crianças nas suas salas, ou como forma de despiste de possíveis problemas

de comportamento ou de desenvolvimento pessoal e social.

Estas competências pessoais e sociais desenvolvidas nesta fase têm uma grande

importância para o desenvolvimento equilibrado do sujeito (Eckerman & Peterman, 2001) e

por este motivo, é importante que se compreenda como estas se desenvolvem, para que se

possa desenvolver uma prática pedagógica mais adequada, quer a nível familiar, quer a nível

do jardim-de-infância. Desta forma, tanto os pais como os educadores poderão ter mais

consciência da importância da promoção das competências de autorregulação, como da

necessidade de criar estratégias para resolver as questões da agressividade entre pares. Esta

seria também uma forma de diminuir a incidência dos casos de violência e bullying em idades

mais avançadas, situação esta que se tem vindo a agravar não só em Portugal como em todo o

contexto ocidental.

7.3. Limitações do estudo e sugestões de novas investigações

A elaboração deste estudo apresentou algumas limitações, situação esta que afetou o

desenvolvimento de todo o processo de investigação. No que diz respeito à revisão de

literatura, esta foi baseada na investigação a nível internacional, visto que esta temática não

está muito desenvolvida em Portugal. Espera-se que esta dissertação constitua uma base para

o desenvolvimento da investigação no nosso país, quer sobre a autorregulação, quer como

sobre a agressividade entre pares. Para além desta situação, o período para a recolha de dados

foi relativamente reduzido, limitando assim a escolha o método utilizado para este efeito.

Realizou-se um estudo de uma amostra de forma transversal, perdendo-se a hipótese de se

Page 83: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

75

avaliar a evolução do desenvolvimento das competências de autorregulação nas mesmas

crianças ao longo do tempo. Seria importante que surgissem estudos mais longitudinais nesta

área, para que fosse possível tiver conclusões mais fidedignas.

Outra limitação assentou no facto de não terem sido incluídos os dados referentes às

famílias das crianças como variáveis associadas ao desenvolvimento destas competências.

Neste estudo apenas foram recolhidos dados relativos ao nível socioeconómico (habilitações

literárias dos pais), mas também seria importante averiguar e avaliar os estilos parentais. A

investigação tem mostrado que estes têm uma grande influência no desenvolvimento da

criança (Papalia, Olds & Feldman, 2001, 2006), e como tal, supõe-se que estes influenciem

também o desenvolvimento das suas competências pessoais e sociais. Na mesma linha, seria

interessante que a investigação nesta área avaliasse também alguns dados relativos aos

educadores de infância, não apenas em relação a dados pessoais, mas sobretudo no que

concerne às suas práticas pedagógicas, à forma como se promovem estas competências nos

jardins-de-infância.

Relativamente aos resultados deste estudo, a relação da autorregulação com o género

das crianças revelou-se diferente do que a investigação internacional tem mostrado até então.

Seria importante compreender o porquê desta situação, se de facto, a razão assentará no facto

das diferenças entre géneros se estarem a diluir atualmente. Seria então importante realizar

mais estudos para averiguar se o mesmo aconteceria com uma amostra mais alargada. Na

análise correlacional, alguns itens não mostraram associações significativas entre a

autorregulação e a agressividade entre pares. Posteriores estudos poderão clarificar esta

situação.

A adaptação da escala “Teacher ratings of behavioral self-regulation in preschool

children” (ECA) (Kashiwagi, 1988; Olson e Kashiwagi, 2000), no presente estudo (Veiga &

Fernandes, 2012) poderá dar origem a novas investigações em Portugal. A nível do jardim-de-

infância, os educadores poderão utilizá-la como instrumento para avaliar os efeitos da sua

prática nas aprendizagens e comportamentos das crianças, mas também como forma de

identificar possíveis problemas de desenvolvimento ou de aquisição das competências de

autorregulação e de interação entre pares.

Page 84: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

76

Page 85: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

77

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Page 96: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

88

ANEXO

Page 97: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

89

Ane

xo 1: Q

uestioná

rio

DADOS BIO

GRÁFIC

OS

Género: Masculino � Feminino �

Idade: _________

Nacionalidade ____________________

Anos de serviço_______________

Hab

ilitações académicas/ P

rofissiona

is

� Bacharelato

� Licenciatura

� Pós-Graduação

� Mestrado

� Doutoramento

Instituição de

ensino:

� Público

� Particular de solidariedade social

� Particular e cooperativo

Instruções de preenc

himento

Em cada questão, deve assinalar com

uma cruz (×) o quadrado (�) que traduz a sua opinião ou situação. Nas outras questões deverá preencher o espaço em

branco (__).

Instruções de preenc

himento

Por favor, especifique o seu grau de concordância com

as afirmações relativas aos COMPO

RTAMENTOS de cada um

dos ALUNOS da turma, neste período letivo. Escreva o núm

ero que

representa as suas opiniões em

cada célula do QUADRO, para cada um

dos alunos, previamente codificados na 1ª linha, segundo a data de nascimento. Acrescente-se que se trata de um

questionário para investigação, pelo que alguns dos itens, mesmo que parecendo repetidos, requerem uma resposta sua.

Com

pletam

ente em desacordo

Bastante em

desacordo

Mais em

desacordo

que de acordo

Mais de

acord

o qu

e de

sacord

o Bastante de

acord

o Com

pletam

ente de acordo

1 2

3 4

5 6

Este questionário tem com

o objetivo analisar os

com

portamentos de auto-regulação e de transgressão em crianças no pré-escolar, percecionados pelas suas

educadoras. A pesquisa insere-se num trabalho de investigação no âmbito do Mestrado em Educação, área de especialização de Formação Pessoal e Social,

estando garantidos o anonimato e a confidencialidade dos dados recolhidos.

A sua cooperação é muito im

portante, pelo que solicitamos que responda de forma cuidada e sincera a todas as questões.

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90

ESC

ALA DE CONFLIT

O ENTRE PARES (C

TA)

ESC

ALA DE COMPORTAMENTOS DE AUTO-R

EGULAÇÃO (E

CA)

CARACTERÍSTIC

AS – COMPORTAMENTO / DATA DE NASC

IMENTO

Gén

ero: Masculino=

1; Feminino=

2.

Hab

ilitações Lite

rárias dos Pais

<12º=1; 12º=2; Bacharelato=3; Licenciatura=4; Pós-graduação=5; M

estrado=

6; Doutoramento=7.

Pai

Mãe

1. Tira coisas a outras crianças.

2. Atira objetos contra outras crianças.

3. Esmaga ou destrói objetos.

4. Faz caretas ou gestos ameaçadores aos outros.

5. Ameaça ou provoca outras crianças de forma a desencadear conflitos.

6. Danifica as coisas das outras crianças.

7. Magoa, empurra ou faz rasteiras às outras crianças.

8. Ameaça bater noutras crianças.

9. Envolve-se em lutas físicas com outras crianças.

10. Irrita outras crianças com

a intenção de as provocar.

1. Cum

pre se lhe é dito para parar de fazer determinada ação.

2. Partilha brinquedos com

os outros.

3. Aprende com

os seus próprios erros e corrige-os.

4. Aceita fazer tarefas conforme as indicações recebidas.

5. Sabe esperar pacientemente pela sua vez.

6. Sabe esperar pacientemente pelo lanche (alim

ento).

7. Percebe e cum

pre as regras e instruções.

8. É paciente, sabendo controlar os seus próprios desejos em situações de grupo.

Page 99: Perceções dos educadores de infância acerca dos comportamentos

91

Para qu

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inte ou o verso da

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_ Obr

igad

o pe

la sua

colab

oração

9. Espera pela sua vez nas conversas e discussões em grupo.

10. Sabe adequar o seu com

portamento às circunstâncias.

11. É capaz de partilhar e de se revezar em situações de jogo.

12. Quando sabe que algo é proibido, não o faz.

13. Quando se lhe pede que faça algo um

pouco difícil, diz “eu não consigo”.

14. Sabe controlar sentim

entos negativos sem se deixar esmorecer.

15. Quando é instruído para fazer determinada tarefa, sabe cumprir.

16. Sabe controlar os seus próprios desejos imediatos.

17. Se é magoado(a) por uma outra criança, não reage da mesma maneira.

18. É paciente sobre sua própria vontade em situações de grupo.

19 Devolve os objetos ou brinquedos que os am

igos lhe emprestam.

20. Sabe esperar pela sua vez, se o professor está a falar com

outra criança.

21. Sabe esperar pacientemente quando se lhe diz "mais tarde” ou "tu és a seguir''.

22. Sabe estar com

crianças mais pequenas.

23. Sabe assumir um com

prom

isso, se a sua opinião diverge da dos outros.

24. Amua ou fica retraído quando perde num jogo com

petitivo.

25. Quando se lhe diz que pare de fazer algo, cum

pre de forma positiva.

26. Sabe escutar os outros sem interrom

per.

27. Sabe exprimir aquilo que quer fazer.

28. Sabe expressar as suas ideias a outras crianças.

29. Sabe expor com

desembaraço as suas próprias ideias, quando está a fazer as atividades.

30. Tom

a a iniciativa em estabelecer contacto com os outros.

31. Se algo de errado ou ruim acontece, é capaz de dizer "isso não está certo''.

32. Sabe ir pedir emprestado as coisas que quer usar.

33. Se quer juntar-se a outras crianças, sabe dizer "eu também quero jogar''.

34. Fica furioso(a) se alguém o(a) insulta.

35. Sabe expressar espontaneam

ente as suas próprias ideias a outras crianças.

36. Interessa-se por efetuar tarefas difíceis e manusear novos materiais.

37. Se alguma criança o(a) provoca, sabe dizer-lhe que pare.