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III Encontro Internacional de Governança da Água São Paulo – novembro/2011 PEGADA HÍDRICA E A GESTÃO DA ÁGUA: Aplicações e limitações do método Souza Leão, Renata; Tadeu, Natalia D.; Empinotti, Vanessa L.; Sinisgalli, Paulo A. A.; Sousa Júnior, Wilson C.; Jacobi, Pedro R. Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental – PROCAM/ USP- Laboratório de Governança Ambiental (GovAmb) RESUMO A Pegada Hídrica (PH) surge como um indicador que visa avaliar o uso direto e indireto de água. Ela pode ser definida como o volume de água doce utilizadas para produzir os bens e serviços consumidos por todos, de forma individual ou coletiva. O método da PH propõe a divisão da água de acordo com sua fonte e finalidade (água azul, verde e cinza). Este trabalho visa apontar as possíveis aplicações do método e ressaltar suas limitações, apontando possíveis analises complementares que podem ser realizadas de forma a considerar outros fatores relevantes para a Gestão da Água, não inserido no método da PH. PALAVRAS CHAVE: Pegada Hídrica, uso indireto da água, sustentabilidade, gestão da água INTRODUÇÃO A água se apresenta como um fator fundamental para as atividades antrópicas, bem como para os ecossistemas (SALATI et al, 2006). No que concerne às atividades antrópicas, a água é utilizada para consumo e atividade socioeconômicas e pode ser captada de rios, lagos, represas e aquíferos (REBOUÇAS, 2006). Ainda segundo Rebouças (2006), sua qualidade está sob influencia de fatores naturais e antrópicos, bem como seus locais de origem, armazenamento e circulação, formas de uso pelo homem, ocupação do solo e atividades socioeconômicas desenvolvidas. As atividades humanas são responsáveis por grande consumo e poluição da água. A Pegada Hídrica (PH) pode ser utilizada como um indicador de uso de água, que analisa usos diretos e indiretos do consumo em geral. Ela pode ser aplicada a um indivíduo, comunidade ou atividade econômica e é definida como o volume de água doce utilizadas para produzir os bens e serviços consumidos por todos, de forma individual ou coletiva (HOEKSTRA et al, 2011). A utilização deste indicador de consumo de água reflete uma mudança de estratégia na forma de conceber e manejar o recurso água, principalmente pelo setor privado, contribuindo para a promoção da eficiência no uso da água, a garantia do uso sustentável da água e o estímulo ao compartilhamento eqüitativo da limitada disponibilidade hídrica. Uma das inovações da abordagem da Pegada Hídrica é separar a água de acordo com sua fonte e finalidade: água azul, originária de fontes superficiais e subterrâneas; água verde, proveniente da água da chuva e armazenada no solo; e água cinza, água necessária para diluir o

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Encontro Internacional de Governança da Água (PROCAM/USP)

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Page 1: Pegada Hídrica e Gestao da Agua

III Encontro Internacional de Governança da Água São Paulo – novembro/2011

 

 

PEGADA HÍDRICA E A GESTÃO DA ÁGUA: Aplicações e limitações do método

Souza Leão, Renata; Tadeu, Natalia D.; Empinotti, Vanessa L.; Sinisgalli, Paulo A. A.; Sousa

Júnior, Wilson C.; Jacobi, Pedro R.

Programa de Pós Graduação em Ciência Ambiental – PROCAM/ USP- Laboratório de Governança Ambiental (GovAmb)

RESUMO

A Pegada Hídrica (PH) surge como um indicador que visa avaliar o uso direto e indireto de água. Ela pode ser definida como o volume de água doce utilizadas para produzir os bens e serviços consumidos por todos, de forma individual ou coletiva. O método da PH propõe a divisão da água de acordo com sua fonte e finalidade (água azul, verde e cinza). Este trabalho visa apontar as possíveis aplicações do método e ressaltar suas limitações, apontando possíveis analises complementares que podem ser realizadas de forma a considerar outros fatores relevantes para a Gestão da Água, não inserido no método da PH.

PALAVRAS CHAVE: Pegada Hídrica, uso indireto da água, sustentabilidade, gestão da água

INTRODUÇÃO

A água se apresenta como um fator fundamental para as atividades antrópicas, bem como para os ecossistemas (SALATI et al, 2006). No que concerne às atividades antrópicas, a água é utilizada para consumo e atividade socioeconômicas e pode ser captada de rios, lagos, represas e aquíferos (REBOUÇAS, 2006). Ainda segundo Rebouças (2006), sua qualidade está sob influencia de fatores naturais e antrópicos, bem como seus locais de origem, armazenamento e circulação, formas de uso pelo homem, ocupação do solo e atividades socioeconômicas desenvolvidas.

As atividades humanas são responsáveis por grande consumo e poluição da água. A Pegada Hídrica (PH) pode ser utilizada como um indicador de uso de água, que analisa usos diretos e indiretos do consumo em geral. Ela pode ser aplicada a um indivíduo, comunidade ou atividade econômica e é definida como o volume de água doce utilizadas para produzir os bens e serviços consumidos por todos, de forma individual ou coletiva (HOEKSTRA et al, 2011).

A utilização deste indicador de consumo de água reflete uma mudança de estratégia na forma de conceber e manejar o recurso água, principalmente pelo setor privado, contribuindo para a promoção da eficiência no uso da água, a garantia do uso sustentável da água e o estímulo ao compartilhamento eqüitativo da limitada disponibilidade hídrica.

Uma das inovações da abordagem da Pegada Hídrica é separar a água de acordo com sua fonte e finalidade: água azul, originária de fontes superficiais e subterrâneas; água verde, proveniente da água da chuva e armazenada no solo; e água cinza, água necessária para diluir o

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efluente lançado no corpo hídrico (HOEKSTRA et al, 2008).

Faz-se necessário, além da quantificação da PH, uma análise mais aprofundada do contexto no qual o uso do recurso ocorre. O método de PH apenas quantifica o volume de água requerido para determinado uso, no entanto não avalia questões como contexto no qual este uso ocorre em escala temporal e local. Neste sentido, torna-se relevante uma análise que considere outros fatores além do volume de água consumido (direta e indiretamente) para determinada atividade socioeconômica.

OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo analisar a utilização da metodologia de cálculo da pegada hídrica para os diversos setores econômicos e refletir sobre as possibilidades de sua aplicação.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização da análise, foi realizado um levantamento de artigos científicos, relatórios publicados pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) e relatórios publicados por algumas empresas disponíveis no site da rede mundial Water Footprint Network (WFN). Ainda, foram utilizado os manuais de aplicação do método da Pegada Hídrica, editados por Hoekstra et al. (2009; 2011).

ANÁLISE

O conceito da Pegada Hídrica (PH), introduzido por Hoekstra e Hung (2002) e melhor elaborado posteriormente por Hoekstra e Chapagain (2008), permite uma análise da apropriação da água para consumo humano por meio de diversos usos (MEKONNEN & HOEKSTRA, 2010) e vem sendo proposto para ser utilizado como um indicador do uso da água, de forma a considerar o uso direto ou indireto deste recurso (HOEKSTRA, 2003).

A PH de um produto pode ser definida como o total de água utilizada em sua produção, mensurado no local onde o produto é atualmente produzido (HOEKSTRA & CHAPAGAIN, 2008). Ela pode ser calculada para qualquer tipo de uso da água, tais como a utilização por grupos de consumidores (indivíduos, famílias, bairros, cidades, estados, nações) ou para produtores (organizações publicas, indústrias, setores econômicos) (ALDAYA & HOEKSTRA, 2010). Para sua mensuração, é realizada uma divisão da água utilizada em três categorias: água azul, água verde e água cinza.

Segundo Hoekstra et al (2011), a água azul pode ser definida como um indicador do volume de água superficial ou subterrânea consumida. Para sua contabilização, de uma forma geral, é levado em conta o volume de água evaporado, o volume de água que não retorna ao corpo hídrico de origem e o volume de água que não retorna ao corpo hídrico de origem no mesmo período do qual foi captado (ex: represas, armazenamentos de água, etc).

A água verde seria o indicador da água de chuva consumida no processo agrícola ou de silviculturas. Refere-se ao volume de água precipitado que é estocado no solo devido à cultura cultivada, à agua contida no próprio vegetal e à água transferida para a atmosfera através a evapotranspiração, ou seja, toda a água que não percola o solo e recarrega o aquífero (HOEKSTRA

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et al, 2011).

Por fim, a água cinza refere-se ao indicador do volume de água requerido para que a poluição de um processo possa ser assimilada. Ela é definida como o volume de água utilizado para a assimilação dos poluentes baseado no limite máximo estabelecido por legislação (ou qualquer outro limite adotado) e da qualidade natural do corpo hídrico em questão (HOEKSTRA et al, 2009).

De modo geral, por considerar a quantidade de água utilizada para a diluição de um efluente, visando sua neutralização, o conceito de PH Cinza insere uma analise do consumo de água indireto, que dependendo do padrão de qualidade de água adotado (standard) pode permitir a adoção de práticas de gestão que possibilitem a redução da poluição de recursos hídricos.

Como já citado, a PH pode ser calculada para um grupo de consumidores ou para produtores, em geral. Neste sentido, a PH de um único processo, estimada passo a passo, pode ser obtida através da quantificação das pegadas hídricas de todos os insumos deste processo. A PH de um produto final ou intermediário seria a água agregada a todos os processos realizados até a finalização da produção. A PH de um individuo seria calculada em função das PHs de todos os produtos consumidos por este. A PH de uma comunidade seria a soma dos consumos de todos os indivíduos que a compõe. A PH de um produtor ou qualquer outra variedade de negócio seria a soma das PHs de todos os produtos utilizados por este. A PH de uma área geograficamente delimitada (ex: bacia hidrográfica, cidade, estado, nação, etc) seria a soma das PHs de todos os processos realizados na determinada área. No caso da PH da humanidade, esta seria obtida através da soma de todas as PHs individuais de todos os consumidores do mundo (HOEKSTRA et al, 2011).

Dentre as diversas possibilidades de aplicação do método de cálculo de PH, foram destacados alguns dos principais trabalhos desenvolvidos para o setor agrícola, industrial e gestão pública.

SETOR AGRÍCOLA

O setor agrícola é dependente da disponibilidade de terras e recursos hídricos. A PH de diversos produtos agrícolas, por exemplo, tomate, algodão, café, grãos diversos, entre outros, tem sido calculada para diversos países e analisada por diversos autores com o propósito de quantificar toda a água, incluindo a água da chuva em culturas não irrigadas, utilizada no cultivo (HOEKSTRA & HUNG, 2005; CHAPAGAIN et al, 2006; CHAPAGAIN et al, 2006b; HOEKSTRA & CHAPAGAIN, 2007; MEKONNEN & HOEKSTRA, 2010; ALDAYA et al, 2010a; BULSINK et al, 2010; MEKONNEN & HOEKSTRA, 2011).

De modo geral, a metodologia de cálculo da Pegada Hídrica para o setor agrícola tem como objetivo quantificar a água, verde, azul e cinza, utilizada na produção dos principais produtos de cada país ou região.

Nesse sentido, é possível encontrar alguns trabalhos que avaliam a PH da produção agrícola no local onde são cultivados. Podemos citar, por exemplo, o estudo de Chapagain et al (2006), que avaliaram a PH dos principais países consumidores de algodão, observando os impactos sobre os recursos hídricos (consumo de água, poluição), além do estudo realizado por Bulsink et al (2010)

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que quantificaram a PH da Indonésia e também o fluxo de água virtual1 entre as províncias deste país.

Outros estudos se propõem ainda em analisar a relação importação/exportação de produtos agrícolas, por meio do comércio de “água virtual”, com o objetivo de identificar os principais países exportadores e importadores de água (Hoekstra & Hung, 2005). Além disso, visam também discutir a relação pressão versus preservação de recursos hídricos entre países exportadores e importadores de produtos agrícolas (Chapagain et al., 2006b; Mekonnen & Hoekstra, 2010), refletindo sobre a necessidade do desenvolvimento de políticas com relação ao comércio de água virtual.

Ainda nesta mesma linha, o uso da metodologia permite observar também relações de dependência entre países onde a água é escassa e onde este recurso é abundante, por meio do comércio de commodities agrícolas (Hoekstra & Chapagain, 2007).

A partir da abordagem da PH, que caracteriza os tipos de água de acordo com sua fonte (azul e verde), é possível identificar as regiões onde há menor pressão e disputa pelo uso do recurso hídrico doméstico, quando a utilização de água de chuva na agricultura é superior às culturas irrigadas. Segundo Aldaya et al (2010a), o uso de água verde para a produção agrícola tem um baixo custo de oportunidade além de possuir menos externalidades negativas, quando comparado com o uso de água azul para o mesmo fim. Assim, os autores ressaltam a importância da utilização de água de chuva na produção agrícola, em locais cujas condições climáticas são mais favoráveis (ALDAYA et al, 2010a). Cabe, no entanto, apontar que se deve levar em consideração a disponibilidade hídrica da água pluvial para o sistema, através de uma análise de balanço hídrico. Desta forma, visa-se evitar que o sistema agrícola apresente impacto significativo sobre a realimentação hídrica do sistema (água subterrânea, cursos d’agua próximos ao local da produção, entre outos).

Mekonnen & Hoekstra (2010a), abordam a PH relacionada ao setor da pecuária em escala global. Neste sentido Menkonnen & Hoelstra (2010a) chamam a atenção para o aumento da pressão sobre os recursos hídricos do planeta em decorrência do aumento do consumo de produtos de origem animal. Eles alertam ainda, que de acordo com os tipos de animais e sistemas de produção empregados, a PH total irá variar.

Ao comparar a PH total da pecuária global a produtos de origem vegetal, Mekonnen & Hoekstra (2010a) concluem que seria mais eficiente em termos hídricos obter calorias (o estudo analisou a PH por caloria produzida) através de produtos vegetais do que de origem animal. O maior consumo de água na atividade pecuária está associado à produção de alimentos para os animais. O consumo associado à agua para dessedentação e outros usos diretos da água são irrelevantes quando comparados, pois soma cerca de 2% da água consumida.

O processo de produção pecuária foi classificado neste estudo em três grupos: pastagem, industrial e sistema misto. A conclusão que os autores chegaram foi que a PH da produção de animais proveniente da classe industrial, grosso modo, possuem menor consumo de água por unidade, apesar de maior PH azul e cinza (associada à produção de dejetos). A menor PH total da produção industrial está relacionada a menor PH verde do processo.

Mekonnen & Hoekstra (2010b), através de um estudo das culturas vegetais globais, conclui                                                             1 Definida como sendo o volume de água utilizada na produção de uma mercadoria (commodity), bem ou serviço a ser 

exportado (ALDAYA & LLAMAS, 2008). 

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que a maior parte dos países, em teoria, possuem autossuficiência potencial pluviométrica. Neste sentido, assim como para Aldaya et al (2010a), a valorização da exploração da PH verde na produção agrícola em detrimento da PH azul pode ser mais eficiente em termos hídricos.

Pode-se perceber que a utilização da metodologia da PH pode chamar atenção para olharmos a alocação e o uso da água por diferentes prismas. Esses novos olhares vão além do resultado da PH calculada, disponibilizando informações capazes de oferecer uma melhor compreensão da presença da água em toda a cadeia de produção, que geralmente não é percebida.

Apesar das novas perspectivas de discussões colocadas a partir dos cálculos de PH, principalmente os de escala global, Mekonnen & Hoekstra (2011) levantam alguns pontos sobre as incertezas relacionadas às estimativas dos diferentes tipos de água considerada pelo método da PH, em seu estudo, e alertam para uma interpretação cuidadosa quando a metodologia for aplicada para escalas espaciais menores. De modo geral, os autores apontam para a necessidade de generalização de dados e, muitas vezes pela falta dos mesmos, se faz necessária uma série de suposições e simplificações.

A fim de exemplificar algumas das simplificações e suposições citadas, no caso do estudo desenvolvido por Mekonnen & Hoekstra (2010b), os autores ressaltam que foram feitas algumas suposições quanto aos dados utilizados, que acabam por envolver uma série de incertezas para a estimativa da PH verde. Dentre as principais suposições apontadas, cabe destacar: foi considerado um número limitado de culturas para a análise; foi feita uma suposição geral acerca das datas de plantio de colheitas com base em dados disponíveis na literatura, pois estas seriam informações a nível nacional; a profundidade de raiz adotada para a utilizada está associada à característica da cultura, ignorando o tipo de solo; a capacidade de armazenamento de água no solo é estimada com base no tipo de solo dominante (em pequena escala), que ignoram as escolhas de melhores tipos de solos para plantios; é assumido que a quantidade de irrigação empregada é suficiente para a produção; entre outros.

SETOR INDUSTRIAL

O setor industrial foi analisado por alguns autores com o intuito de obter a quantidade de água usada, considerando também a água utilizada na produção de todos os insumos que fazem parte do processo produtivo. Dentre eles cabe destacar Ercin et al (2011); Van Oel e Hoekstra (2010); Ercin et al (2009); Gerbens- Leenes e Hoekstra (2009). IFC, LimnoTech, Jain Irrigation Systems and TNC (2010); TCCC and TNC (2010) e Chapagain e Orr (2010).

Ercin et al (2009, 2011a), discutem o calculo da pegada hídrica realizado para o setor de produtos alimentícios e de bebidas (ERCIN et al, 2011b). Ercin et al (2011a) aponta que os resultados de PH azul, verde e cinza calculados para os produtos finais são fortemente influenciados pelas condições climáticas no local onde a matéria prima (agrícola, etc) é produzida, bem como pelas praticas agrícolas locais.

Em ambos os casos, indústria de alimentos e bebidas, os autores chamam a atenção para a necessidade de uma análise da cadeia produtiva (“supply chain water footprint”), considerando todos os suprimentos necessários para a análise da PH de um produto, tendo em vista que a pegada hídrica do processo produtivo relacionado diretamente ao produto em análise (“operational water footprint”) é insignificante quando comparada ao total que considera todo o consumo indireto da cadeia.

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Cabe também ressaltar, que tanto a indústria de bebidas quanto a de alimentos estão diretamente relacionadas ao setor agrícola e/ou agropecuário (ERCIN et al, 2011a; 2011b). Neste sentido, Ercin et al (2011b) aponta a importância do envolvimento com os fornecedores dos produtos desta natureza para o processo industrial, uma vez que nesta fase são contabilizadas as maiores PH, para incentivar e apoiar a adoção de melhores práticas, visando um consumo de água mais racional se o intuito é a sustentabilidade do produto final.

Van Oel & Hoekstra (2010) apresentam um estudo sobre a análise da PH do papel. Assim como os autores anteriormente citados, estes autores apontam que o maior consumo está relacionado à fase de silvicultura, necessária para a obtenção da madeira da qual se extrai a celulose. Neste sentido, os autores realizam uma análise para alguns tipos de papéis, dentre eles o papel para impressão (“print paper”) e comparam sua produção em diversos países no mundo. Além da comparação, simplesmente feita a partir dos resultados dos cálculos de PH verde e azul, entre os diversos países que produzem papel, os autores ressaltam a importância da utilização do papel reciclado, como forma de diminuir a PH e desta forma reduzir o consumo de água. Neste sentido, os autores (VAN OEL & HOEKSTRA, 2010) destacam que sem a utilização do papel reciclado a PH do produto final é muito maior. Segundo este trabalho, alguns países como Holanda, Alemanha e Espanha já vem utilizando grandes montantes de papel reciclado.

O estudo realizado por Van Oel & Hoekstra (2010) aponta ainda que, a PH global de papel pode ser reduzida se forem selecionados os locais de maior eficiência de produção de madeira em termos de água. Com isso, os países apontados como “mais eficientes” na produção de papel seriam a Espanha, França e Brasil.

Gerbens-Leenes & Hoekstra (2009) realizaram um estudo sobre a PH da produção de adoçantes e de etanol a partir da beterraba, cana de açúcar e milho. Assim como os demais autores, o maior impacto no consumo de água refere-se a fase agrícola e as diferenças nos resultados devem-se principalmente devido as condições climáticas do local e das praticas agrícolas adotadas. Eles concluem que a cultura da beterraba para a produção de etanol e adoçantes apresentaram menores valores de PH para diversos países analisados e que os locais que apresentam condições climáticas mais favoráveis, a fim de evitar o uso de irrigação, apresentam maior eficiência hídrica.

Tendo em vista que os trabalhos citados acima realizaram um calculo de PH para diversos produtos e setores industriais, discutindo principalmente a questão tocante à “água virtual, Ercin et al (2011b) ressaltam que para se realizar uma analise mais profunda sobre os impactos ambientais e sociais locais das PHs, seria necessária uma analise que considerasse um contexto geográfico na qual está sendo realizada, de forma a considerar, por exemplo, a escassez de água, o nível de poluição, os efeitos sobre os ecossistemas locais e a geração de conflitos sociais.

Gerbens-Leenes & Hoekstra (2009) apresentam uma breve revisão sobre publicações que abordam a utilização de indicadores para a interpretação da PH. Van Oel et al (2009, apud GERBENS-LEENES & HOEKSTRA, 2009) propuseram o uso de três indicadores para a avaliação do impacto ambiental das PHs. O primeiro indicador seria o nível de competição da água, o segundo seria a relação entre disponibilidade e uso, e o terceiro refere-se à relação de disponibilidade e uso, incluindo requisitos ambientais.

O primeiro indicador citado geralmente é avaliado através do uso do dado de ‘tamanho da população’ de uma área, dividida pelo escoamento total desta área. Desta forma obtém-se o nível de competição pelo recurso hídrico. O segundo indicador pode ser analisado através da retirada da água de um local para utilização de outra região. Desta forma, estima-se o nível de utilização da água, taxa de retirada e disponibilidade. Já o terceiro indicador, segundo Gerbens-Leenes &

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Hoekstra (2009), foi proposto por Smakhtin et al (2004) e refere-se mais ao estresse hídrico.

Os trabalhos citados, de uma forma geral, buscaram apontar a PH de produtos variados (industriais e agrícolas, quando relacionados à produção industrial) em diversos países, no entanto utilizaram variações metodológicas. Desta forma, ressalta-se a impossibilidade de comparação entre um resultado referente a um método produtivo e outro, quando calculados por autores diferentes. No entanto, é possível observar a quantidade de água alocada para suas produções e desta forma realizar analises complementares que permitam conclusões acerca de sua sustentabilidade.

GESTÃO PÚBLICA

Em relação à gestão pública é possível destacar alguns trabalhos que tratam do tema governança da água e realizam calculo de PH que podem ser utilizadas como uma das ferramentas para a base da tomada de decisão pelos órgãos gestores, colaborando com a implementação de políticas públicas relacionadas à água. Dentre os principais autores, estão: Hoekstra (2011); Aldaya et al (2010b); Aldaya e Llamas (2008) e Hoekstra (2006).

A metodologia da PH pode ser aplicada com a finalidade de identificação de hotspots de uma bacia hidrográfica ou represa, ou seja, permite a identificação do período ou local nos quais a captação e consumo de água se torna insustentável, por ser considerada abusiva ou economicamente ineficiente (HOEKSTRA et al, 2011). Neste sentido, seria possível ainda apontar ou prever a ocorrência de conflitos pelo uso da água, subsidiando assim a tomada de decisão para a gestão da água.

A PH, como instrumento de gestão da água, pode ser utilizada como forma de conciliar os diversos setores usuários da água (ambiente, indústrias, agricultura, geração de energia, entre outros), promovendo uma melhor alocação do recurso.

Aldaya & Llamas (2008) apontam que em grande parte dos países áridos e semiáridos os conflitos associados aos recursos hídricos são causados mais pela má gestão, ou seja, mais relacionados a questões de governança, do que à escassez do recurso em si. Neste sentido, eles destacam que os conceitos de água virtual e PH podem ser utilizados para encontrar possíveis soluções e contribuir para uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos.

Aldaya et al. (2010), analisam a relação entre PH, água virtual e política pública, ao estudar o caso da Espanha, cujo Ministério de Meio Ambiente recentemente propôs um regulamento que solicita que a PH seja utilizada como ferramenta para a implementação do Plano de Gestão de Bacia Hidrográfica, prescrita nas Diretivas da Água da União Européia. Nesse sentido, eles sugerem que a avaliação da PH e de água virtual pode fornecer informações sobre a produção de bens, permitindo, assim, a tomada de decisão convergindo condições ambientais favoráveis e desenvolvimento e adoção de mecanismos que melhorem a eficiência do uso da água. Consideram também que a utilização da PH e água virtual como ferramentas de informação às políticas sobre água, possível onde os bens são consumidos em cada bacia ou sub-bacia hidrográfica, torna mais fácil de examinar o impacto nos recursos hídricos provocado nesses locais (ALDAYA et al, 2010).

Entretanto, dados sobre fluxo de bens de consumo fazem sentido quando falamos em países e suas relações comerciais (importações e exportações). Coletar informações sobre produção e fluxo comercial entre bacias hidrográficas ainda não é factível, uma vez que existem bacias que não possuem comitês, não possuem os instrumentos de gestão aplicados, etc.

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Hoekstra (2006) a partir de uma analise dos conceitos de PH e água virtual aplicados globalmente discute sobre a dimensão global da governança da água. O autor inicia a discussão apontando 9 razões para a necessidade de uma governança que ultrapasse os limites de bacias hidrograficas ou fronteiras entre nações.

Primeiramente ele aponta sobre as questões relacionadas às mudanças climáticas, que acabam por alterar a distribuição da água (regime de chuvas, etc) e podendo gerar escassez. O segundo argumento, relaciona-se ao mercado internacional da água liderado por multinacionais que “transformam” a água em um commodity. A terceira razão seria a relação entre as atividades econômicas de um local (ex: país importador) e a poluição da água gerada em outros locais (ex: países exportadores). Os planos e projetos de transposição de águas entre bacias hidrográficas seria o quarto argumento. A quinta razão decorre da escassez de água em alguns países ou locais com déficit hídrico que importam água virtual de outros países de maior disponibilidade. Em seguida, o autor aponta a necessidade da maior eficiência no uso da água em nível local, global e dentro da própria bacia hidrográfica em decorrência da maior demanda. Os autores apontam, como sétimo argumento, a externalização de PH devido à importação de água virtual de outros países para consumo. O oitavo argumento refere-se a equidade da PH dos indivíduos, tendo em vista que em determinados locais do mundo têm-se indivíduos com PH extremamente altas em comparação a indivíduos de outros locais. Por fim, o autor discute que a água vem se tornando um recurso geopolítico, que acaba por influenciar o poder das nações ao passo que um país pode ser dependente da água de outro país de duas maneiras distintas: 1- dependência da água que “flui” de outros países; 2- dependente da água virtual (HOEKSTRA, 2006).

Tendo em vista os argumentos que Hoekstra (2006) apresenta para justificar sua proposta de transpor os limites de bacias ou nações quando se tratar de governança da água, ele aponta possíveis mecanismos ou ferramentas que poderiam ser utilizadas para este fim.

O autor propõe que seria importante uma tarifação sobre a água, de forma que ao “importar” água de outro local o preço cobrado seja suficiente para cobrir os custos de investimento, operacionais e de manutenção relacionados à exploração do recurso para a produção, bem como os custos de externalidades negativas (HOEKSTRA, 2006). Hoekstra (2006) aponta a criação de um selo de “uso da água” para os processos produtivos. A ideia seria semelhante aos selos já existentes para consumo de madeira, carbono, entre outros.

A criação de um imposto sobre a poluição gerada (água cinza). Desta forma o autor defende que se preveniria a geração de problemas e conflitos associados a fase de geração de resíduos e poluição dos recursos hídricos. Com o imposto, mais poderia ser investido em controle e despoluição (HOEKSTRA, 2006). Hoekstra (2006) aponta ainda a necessidade do estabelecimento de limites mínimos de direito a água e, sugere, a adoção de um limite máximo. Neste mesmo sentido, propõe que seja estabelecida uma PH máxima para cada nação. Com isso, ele argumenta que seria possível estabelecer um mercado semelhante ao mercado de carbono.

Acreditamos que muito ainda deve ser discutido sobre essas possíveis alternativas, uma vez que resultados perversos poderiam ser obtidos com a aplicação de uma destas alternativas sem as cautelas e medidas necessárias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso da Pegada Hídrica como indicador de uso da água é relativamente recente. Por esta

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razão é ainda uma metodologia que deve ser experimentada em diversas situações e locais, e com o tempo, aperfeiçoada e adaptada às diferentes realidades e contextos. Como qualquer método, apresenta limitações, mas ao mesmo tempo, é capaz de contribuir para uma melhor gestão da água em diferentes escalas. Sua inovação diz respeito à contabilização do uso indireto da água para a produção de bens e serviços, favorecendo a possibilidade de usar as águas de modo mais responsável e sustentável.

É interessante observar que a PH é uma ferramenta de gestão, que possibilita ao usuário e ao consumidor identificar como a água esta sendo alocada desde o processo produtivo até o consumo de um bem. Com isso, dependendo do escopo em que o cálculo é realizado, é possível identificar as áreas em que a água esta sendo mais utilizada e assim definir estratégias que possam reduzir o seu uso. Por seu resultado ser em litros de água por quilo de produto produzido, a PH é de fácil entendimento e pode servir como ferramenta de diálogo entre os vários setores de uma empresa ou na discussão com outros setores do processo produtivo.

Entretanto, cabe ressaltar que o resultado fornecido pelo cálculo da PH deve ser analisado à luz de seu contexto socioeconômico e escala temporal e espacial, uma vez que o este resultado sozinho não é capaz de apontar qual o impacto da utilização do recurso. De forma a exemplificar, em uma situação hipotética, o consumo de água na produção de determinado produto pode fornecer uma grande PH quando comparada a outra indústria do mesmo setor econômico. No entanto, o local onde está operando a segunda indústria poderia apresentar maior escassez de água, por diversas razões, e, desta forma, seu impacto seria maior do que o impacto da primeira.

Sua utilização para fins de gestão pública necessita de mais estudos e ampla discussão. Pode-se adotar como referencia e comparação o caso da Espanha, onde a PH já esta sendo utilizada para fins de gestão publica do recurso hídrico, no entanto, muito ainda deve ser avançado em termos de informações necessárias para a gestão interbacias, uma vez que nem todas as bacias hidrográficas do Brasil possuem comitês, nem aplicam os instrumentos de gestão que já vêm sendo utilizados em outras partes do país.

No que tange a governança global, é necessário analisar amplamente os possíveis aspectos e desfechos quando da adoção de instrumentos que visem estabelecer ou controlar as “trocas” ou impor limites de consumo, uma vez que estas decisões poderiam implicar em prejuízos para algumas partes envolvidas (inter ou intra nações).

Por fim, mesmo com as questões e considerações levantadas acima, é importante reconhecer que o desenvolvimento da metodologia da PH e sua utilização contribuiu para que a questão dos recursos hídricos fosse trazida para o primeiro plano na discussão sobre a produção de bens de consumo. Antes considerada apenas como mais um insumo de produção, a água assume um papel estratégico e começa a ser reconhecida como um indicador de uso e impacto sobre o ambiente. A questão da água se populariza e assume uma posição de destaque nas discussões referentes às questões ambientais e práticas a serem desenvolvidas que fomentem o seu uso eficiente a sua conservação. Antes a discussão sobre questões ambientais focava na devastação das florestas, diminuição da biodiversidade ou em emissão de carbono e agora começa a considerar a quantidade de água alocada na produção de bens de consumo e em muito graças a contribuição da PH nessa discussão.

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