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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 - Pedagogia musical online: o hipertexto como ferramenta da pesquisa qualitativa em um estudo de caso em ambientes virtuais de aprendizagem musical Fernanda de Assis Oliveira Resumo Esta comunicação é um recorte do projeto de pesquisa de doutorado intitulado “Pedagogia musical online: um estudo de caso em ambientes virtuais de aprendizagem musical”. A temática da pesquisa se refere à pedagogia musical online presente em ambientes virtuais de aprendizagem musicais (AVAMs). O estudo visa compreender como a pedagogia musical online se configura nos AVAMs, tomando como caso o ambiente virtual de aprendizagem musical do Curso de Licenciatura em Música da UAB/UnB, modalidade a distância. Aborda o hipertexto como ferramenta de coleta de dados, a partir da realização de entrevistas online, sendo essa uma adaptação da entrevista desenvolvida presencialmente, na visão de Nicolaci-da-Costa (2007), tendo em vista que os dados são coletados virtualmente. A fundamentação teórica engloba o conceito de Inteligência Coletiva (IC) de Lévy (2007) e o conceito de Ciber-socialidade a partir dos estudos e reflexão sobre Simmel e Maffesoli na contemporaneidade de André Lemos (2008). Palavras-chave: pedagogia online, inteligência coletiva, hipertexto, entrevista online. Abstract This communication is a clipping from a doctoral research project entitled “Music Education Online: a case study in virtual environments for learning music”. The theme of this research refers to musical pedagogy in this online virtual leraning environments musicals (AVAMs). The study aims to understand how the online music pedagogy is shaped in AVAMs, taking case the virtual learning environment of Music Degree in Music from the UAB/UnB, the distance mode. Discysses hypertext as a toll to collect data from the interviews online, this being an adaptation of the interview carried in person, in the view of Nicolaci-da-Costa (2007), in order that the data are collected virtually. The theoretical framework includes the concept of Collective Intelligence (CI) of Levy (2207) and the concept of cuber-sociality from study and reflection on the contemporany Maffesoli and Simmel of André Lemos (2008). Keywords: online pedagogy, collective intelligence, hypertext, online interview.

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Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 -

Pedagogia musical online: o hipertexto como ferramenta da pesquisa qualitativa em um estudo de caso em ambientes virtuais

de aprendizagem musical

Fernanda de Assis Oliveira

Resumo Esta comunicação é um recorte do projeto de pesquisa de doutorado intitulado “Pedagogia musical online: um estudo de caso em ambientes virtuais de aprendizagem musical”. A temática da pesquisa se refere à pedagogia musical online presente em ambientes virtuais de aprendizagem musicais (AVAMs). O estudo visa compreender como a pedagogia musical online se configura nos AVAMs, tomando como caso o ambiente virtual de aprendizagem musical do Curso de Licenciatura em Música da UAB/UnB, modalidade a distância. Aborda o hipertexto como ferramenta de coleta de dados, a partir da realização de entrevistas online, sendo essa uma adaptação da entrevista desenvolvida presencialmente, na visão de Nicolaci-da-Costa (2007), tendo em vista que os dados são coletados virtualmente. A fundamentação teórica engloba o conceito de Inteligência Coletiva (IC) de Lévy (2007) e o conceito de Ciber-socialidade a partir dos estudos e reflexão sobre Simmel e Maffesoli na contemporaneidade de André Lemos (2008). Palavras-chave: pedagogia online, inteligência coletiva, hipertexto, entrevista online.

Abstract This communication is a clipping from a doctoral research project entitled “Music Education Online: a case study in virtual environments for learning music”. The theme of this research refers to musical pedagogy in this online virtual leraning environments musicals (AVAMs). The study aims to understand how the online music pedagogy is shaped in AVAMs, taking case the virtual learning environment of Music Degree in Music from the UAB/UnB, the distance mode. Discysses hypertext as a toll to collect data from the interviews online, this being an adaptation of the interview carried in person, in the view of Nicolaci-da-Costa (2007), in order that the data are collected virtually. The theoretical framework includes the concept of Collective Intelligence (CI) of Levy (2207) and the concept of cuber-sociality from study and reflection on the contemporany Maffesoli and Simmel of André Lemos (2008). Keywords: online pedagogy, collective intelligence, hypertext, online interview.

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 2 -

1. Introdução

Esta comunicação apresenta um recorte da pesquisa em doutorado em

andamento, cujo foco central se refere à pedagogia musical online presente nos

ambientes virtuais de aprendizagem musicais. O locus desta pesquisa se refere aos

ambientes virtuais de aprendizagem musicais que hospedam as disciplinas da

subárea de Educação Musical disponíveis no curso de Licenciatura em Música

oferecidos pela Universidade Federal de Brasília vinculados a Universidade Aberta

na modalidade à distância.

O crescimento do uso das novas tecnologias e seus recursos nas aulas de

música promove a reconfiguração das novas maneiras de ensinar e aprender

música. O constante avanço tecnológico e seu reflexo no ensino de música, e na

relação que os indivíduos estabelecem com a música, permite identificar o

aumento da velocidade em que ocorre o acesso e o consumo musical, cada vez

mais rápido, mutável, e presente ao mesmo tempo em inúmeros lugares nos dias

atuais. Com isso, não podemos desconsiderar os meios que permitem a

transferência e distribuição dessas informações, que propiciam apreciação,

aprendizagem e produção musical, que proporcionam a portabilidade de aparelhos

e suas respectivas reproduções musicais, além das possibilidades de ouvir e ver

música através do som e da imagem em seus recursos audiovisuais disponíveis.

A educação musical ultrapassou a troca de informações, a aprendizagem

presencial, atingindo lugares, anteriormente, nunca pensados. Indo além da sala de

aula, do giz e do quadro negro, hoje outros espaços, proporcionam o ensino e

aprendizagem musical, como, por exemplo, os ambientes virtuais de aprendizagem

musical (AVAMs1).

A necessidade de compreender essas novas maneiras de ensinar e aprender

música sugere alguns questionamentos: Por que os alunos usam a internet para

1 A palavra AVAM foi adaptada, tendo como ponto de partida a palavra AVA ambientes virtuais de aprendizagem que são tecnologias digitais, onde são disponibilizadas ferramentas, que variam de acordo com cada ambiente, para mediação e gerenciamento desses recursos disponíveis na Internet. Em outras palavras, significa sala de aula no ciberespaço, assim como considera (SILVA, Marco, 2003). A letra “M” acrescentada busca indicar a palavra música.

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aprender música? Por que priorizaram ambientes virtuais ao invés de aula

presencial? De que forma os alunos interagem com os demais colegas? Como ocorre

a interação entre os tutores e os alunos? Como a interatividade se constitui? De que

maneira os alunos compartilham suas dúvidas, seu repertório com os demais

colegas?

O objetivo geral desta pesquisa é compreender como a pedagogia musical

on-line está constituída em ambientes virtuais de aprendizagem musical (AVAMs),

tomando como caso as disciplinas vinculadas a Educação Musical oferecidas no

Curso de Licenciatura em Música da UAB/UnB, modalidade à distância.

Os resultados poderão auxiliar na identificação das maneiras de como alunos

e tutores constroem e direcionam a formação musical através do ensino de música

online. Além de auxiliar a compreensão de como se constituem as sociabilidades

pedagógico-musicais no ambiente virtual.

Castells (2008) ao discorrer sobre sociabilidade aponta a necessidade de

pesquisas que focalizem seus objetivos nas sociabilidades constituídas no

ciberespaço, uma vez que:

Ainda não está claro, porém, o grau de sociabilidade que ocorre nessas redes eletrônicas, e quais são as consequências culturais dessa nova forma de sociabilidades, apesar do empenho de um grupo cada vez maior de pesquisadores (CASTELLS, 2008, p. 443).

Considerando a presença desses recursos tecnológicos no cotidiano de

professores e alunos, no processo de ensino e aprendizagem de música e a ausência

de estudos que focalizem essa realidade e suas respectivas relações, destaco ser

relevante problematizar esta temática em forma de pesquisa, tendo em vista a

necessidade do desenvolvimento de estudos nesse âmbito na sub-área de educação

musical, bem como, de discussões em torno das novas tecnologias e seu uso na

educação musical a distância.

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2 Referencial Teórico

2.1 Interação em ambientes virtuais de aprendizagem: a

concepção de Pierre Lévy

2.1.1 Ciberespaço: um novo espaço de interação social

O ciberespaço, consequencia de uma interconexão mundial de

computadores, permite um novo meio de interação social através da comunicação

entre os indivíduos. Esse novo espaço de interação social, segundo Lévy (1999), não

ultrapassa a infra-estrutura material desta rede, e abrange todo o universo de

informações que ela abriga, e os indivíduos que ali navegam e alimentam todo este

universo. O autor ao se referir à multimídia, esclarece algumas tendências:

Os acontecimentos que deram o que falar nesse domínio são algumas das manifestações especificas de uma grande onda de fundo tecnológico. Dados, textos, imagens, sons, mensagens de todos os tipos são digitalizados e, cada vez mais, diretamente produzidos sob forma digital. Aplicando-se a essas mensagens, os instrumentos de tratamento automático da informação se banalizam no conjunto dos setores da atividade humana. O estabelecimento de conexão telefônica entre terminais e memórias informatizadas e a extensão das redes digitais de transmissão ampliam, a cada dia, um ciberespaço mundial no qual todo elemento de informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada um (LÉVY, 2007, p. 11).

São essas tendências que irão constituir o que Lévy (2007) chama de planeta

nômade em seu livro A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço.

O autor observa que a “Internet tornou-se hoje o símbolo do grande meio

heterogêneo e transfronteiriço”, o que ele denomina de ciberespaço.

De acordo com Lévy (2007) nos deparamos com uma nova forma de

comunicação, a qual tem início a partir dessa revolução tecnológica. Os aspectos

dessa nova comunicação constituem um novo espaço sociológico, com uma nova

cultura. Os sujeitos desse espaço “do saber”, que Lévy chama de Ciberespaço,

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formam, também, uma inteligência coletiva, que se manifesta na chamada

Cibercultura.

As estimativas sinalizam que o número de pessoas em interconexão cresça a

cada ano. Esse crescimento de conexão entre as pessoas aproxima e permite uma

interação entre indivíduos localizados em lugares extremos, não mais separados por

oceanos, o que na visão de Lévy (2007) ocorre:

Graças às redes digitais, as pessoas trocam todo tipo de mensagens entre indivíduos ou no interior de grupos, participam de conferências eletrônicas sobre milhares de temas diferentes, têm acesso às informações públicas contidas nos computadores que participam da rede, dispõem da força de cálculo de máquinas situadas a milhares de quilômetros, constrõem juntos mundos virtuais puramente lúdicos – ou mais sérios -, constituem uns para os outros uma imensa enciclopédia viva, desenvolvem projetos políticos, amizades, cooperações..., mas dedicam-se também ao ódio e à enganação (LÉVY, 2007, p. 12).

Percorrendo o pensamento de Lévy (1999), é possível compreender que

através da interconexão estabelecida nas comunidades virtuais, os grupos ali

constituídos buscam a inteligência coletiva. Sendo a inteligência coletiva o terceiro

princípio da cibercultura, verificamos que os indivíduos já estabeleceram uma

interconexão, eixo número um, fazem parte de uma comunidade virtual, tomando

como princípio as afinidades, eixo número dois, e nesse momento buscam,

enquanto grupo, a constituição de um potencial inteligente, virtual, mas capaz de

aprender e de inventar.

Para que a inteligência coletiva ocorra como ultimo estágio no processo de

crescimento do ciberespaço, é necessário que haja uma virtualização, uma

desterritorialização das comunidades virtuais no ciberespaço, uma hospitalidade

seguida de uma reciprocidade, só assim, haverá uma inteligência coletiva mais

ampla.

Os três eixos apontados pelo autor: interconexão, comunidades virtuais e

inteligência coletiva são oriundos a partir do estabelecimento de um contato, de

uma comunicação entre pares, grupos, indivíduos.

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A seguir será apresentado com mais detalhes o conceito de inteligência

coletiva proposto por Lévy (2007).

2.1.2 Inteligência Coletiva

A Inteligência Coletiva (IC) defendida por Lévy (2007) tem como base “o

reconhecimento e o enriquecimento mútuos das pessoas, e não o culto de

comunidades fetichizadas ou hipostasiadas” (p. 29). Nesse sentido, o autor aponta que

a Inteligência Coletiva é “uma inteligência distribuída por toda parte,

incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma

mobilização efetiva das competências” (LÉVY, 2007, p. 28). Além disso, “a inteligência

coletiva só tem início com a cultura e cresce com ela” (p. 31). Assim, Lévy (2007)

propõe que

Os novos sistemas de comunicação deveriam oferecer aos membros de uma comunidade os meios de coordenar suas interações no mesmo universo virtual de conhecimentos. Não seria tanto o caso de modelar o mundo físico comum, mas de permitir aos membros de coletivos mal-situados interagir em uma paisagem móvel de significações. Acontecimentos, decisões, ações e pessoas estariam situados nos mapas dinâmicos de um contexto comum e transformariam continuamente o universo virtual em que adquirem sentidos. Nessa perspectiva, o ciberespaço tornar-se-ia o espaço móvel das interações entre conhecimentos e conhecedores de coletivos inteligentes desterritorializados (LÉVY, 2007, p. 29).

Ao se referir à inteligência coletiva, Lévy (2007) chama atenção para a

valorização e compreensão da inteligência coletiva individual, mesmo, a partir do

compartilhamento de ideias e da interação promovida entre os pares, onde afirma que

não podemos unificar as devidas inteligências em uma esfera apenas, mas sim

considerar seu ponto de partida e compreendê-la no todo. Com isso, Lévy (2007)

acrescenta que:

Longe de fundir as inteligências individuais em uma espécie de magma indistinto, a inteligência coletiva é um processo de crescimento, de diferenciação e de retomada recíproca das singularidades (LÉVY, 2007, p. 32).

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Por isso que, na visão do autor, a inteligência coletiva é a soma de cada

inteligência individual, a qual se torna possível através dos meios de comunicação,

como, por exemplo, a internet. Tendo em vista que esse meio de comunicação

possibilita o compartilhamento e pode ser acessado por indivíduos de vários lugares

do mundo, a interação e a troca de informações resultam em uma inteligência

coletiva.

No caso da internet, informações, pensamentos, dúvidas e reflexões são

postadas e armazenadas, possibilitando aos demais usuários o acesso. Esse

compartilhamento é enumerado pelo autor como cooperação intelectual, as quais

contribuem para o desenvolvimento de uma determinada cultura e também da

sociedade em geral. O autor ainda destaca que diante de tanta diversidade em que

o sujeito se encontra imerso nos dias atuais, ele deve selecionar e organizar essas

informações, para assim poder compartilhar e interagir com os outros sujeitos,

tendo como produto desse processo novamente a inteligência coletiva. Desta

forma, o sujeito se torna um ser ativo, onde executa vários papeis, como receptor,

emissor, transmissor de informações e não um mero receptor como ocorre com os

meios de comunicação: o jornal, o rádio e a televisão.

2.1.3 Ciber-socialidade

Ao abordar a ciber-socialidade contemporânea, Lemos (2008) considera

como ponto de partida as concepções de Maffesoli, de que os micro-rituais se

desviam da técnica e da função que ela possui de maneira utilitária, no que se

refere ao agrupamento de indivíduos em uma atividade em comum, ou seja, “de

uma paixão comunitária”. Nesse sentido, o autor desenvolve suas ideias a partir

das visões de socialidades contemporâneas apontadas por Maffesoli, dentre elas:

efervescência social da internet; as comunidades virtuais; as festas raves e a

música eletrônica, o underground high-tech com os cyberpunks: o misticismo dos

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zippies, esses encontros demonstram a junção das tecnologias digitais com a

socialidade contemporânea exposta por Maffesoli.

Lemos (2008) entende por ciber-socialidade “a sinergia entre a socialidade

contemporânea e as novas tecnologias do ciberespaço” (p. 81). Parte do princípio

das definições de socialidade contemporânea, dentre elas: o tribalismo, o

presenteísmo, o vitalismo, a ética da estética e o formismo apresentados por

Maffesoli. Lemos (2008) afirma que esses aspectos podem “explicar o fenômeno da

cibercultura e nos ajudar a compreender o que proponho chamar de ciber-

socialidade” (p. 81). O autor nos chama atenção a partir de uma visão simmeliana

e também de uma proposta de Michel Maffesoli que:

Para compreendermos os impactos das novas tecnologias na cultura e na comunicação contemporâneas, devemos dirigir nosso olhar para a sociedade enquanto um processo (que se cria) entre as formas e os conteúdos (LEMOS, 2008, p. 81).

Lemos (2008) considera que “a sociedade contemporânea está imersa num

culto da técnica e seus objetos” (LEMOS, 2008, p. 80). Nesse sentido, o autor

aponta que a cibercultura coloca “a tecnologia digital contemporânea como um

instrumento de novas formas de sociabilidade e de vínculos associativos e

comunitários” (LEMOS, 2008, p. 80-81). O autor acrescenta que a partir desse

olhar, é necessário “mostrar a dinâmica sociotécnica que se instaura nesse final de

século misturando, de forma inusitada, as tecnologias digitais e a socialidade pós-

moderna, formando a cibercultura” (LEMOS, 2008, p. 81).

Nessa etapa de trabalho acredito que os conceitos de Ciberespaço e

Inteligência Coletiva (IC) de Lévy (1999; 2007) e o conceito de ciber-socialidade de

Lemos (2008) e as concepções de Maçada e Tijiboy (1998), serão adequados para

fundamentos teóricos da pesquisa, e, no momento para a análise e leitura dos

dados empíricos.

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3 Metodologia

Esta pesquisa pretende investigar como alunos e tutores inseridos em um

ambiente virtual de aprendizagem musical constituem suas sociabilidades

pedagógico-musicais através da interação. Alunos e tutores com formação e

profissão diferentes se agrupam com a finalidade de aprender e ensinar música

através de um ambiente virtual de aprendizagem à distância.

O fenômeno atual de constituição de cibersocialidade e sociabilidades

pedagógico-musicais entre os indivíduos inseridos em ambientes virtuais de

aprendizagem musical, para aprender e ensinar música, poder ser estudado a partir

de um estudo de caso. Segundo Yin (2005), o estudo de caso é um fenômeno

contemporâneo o qual contempla a compreensão de aspectos da vida atual.

Para atingir os objetivos iniciais deste projeto e responder às questões de

pesquisas propostas, é necessário contextualizar, descrever e narrar o caminho

percorrido para a construção e definição do campo empírico. Muitas vezes, o

campo pode estar mais próximo do que o pesquisador imagina, mas, são

necessários trajetos não previstos e experiências não planejadas para assim

delinear o lócus de pesquisa.

Para trabalhar esse olhar do pesquisador, principalmente no período de

definição do campo empírico, é necessário apoiar-se na teoria que a metodologia

escolhida fornece e com isso selecionar alguns autores. Sobre pesquisa qualitativa

utilizarei os autores Poupart et al. (2008), Deslauriers e Kérisit (2008), Godoi,

Banedeira-de-Mello, Silva (2007), sobre estudo de caso utilizarei os autores Yin

(2005), Bogdan e Biklen (1994). Assim, descrevo e dialogo nesse capítulo o caminho

que percorri para chegar ao tema de pesquisa e a relação estabelecida com os

autores que auxiliaram a ampliar meu olhar enquanto pesquisadora, nos aspectos

da pesquisa qualitativa e na compreensão do caso a ser estudado.

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3.1 O Estudo de Caso como método de pesquisa

Yin (2005) considera o estudo de caso um meio que permite ao pesquisador

alcançar seus objetivos, por isso, destaca que

Como estratégia de pesquisa, utiliza-se o estudo de caso em muitas situações, para contribuir com o conhecimento que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupo, além de outros fenômenos relacionados (YIN, 2005, p. 20).

Para o autor, o estudo de caso é uma investigação empírica que:

investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 2005, p. 32).

Yin (2005) ao mencionar que o estudo de caso “investiga um fenômeno

contemporâneo”, sugere pesquisar fenômenos que ocorrem em entorno da nossa

vida real, incluindo um meio virtual, desde que os limites estejam definidos.

Vivendo em um mundo da era tecnológica, onde o tempo e o espaço se expandem

em momentos síncronos e assíncronos, ou seja, podemos ou não estar online,

porém, temos o acesso, mesmo não estando presente, uma vez que as informações,

as discussões, as expressões são congeladas e posteriormente podem ser acessadas,

lidas, refletidas e discutidas. Por isso, essa concepção do autor em possibilitar o

estudo de fenômenos contemporâneos ampliou meu olhar sobre o objeto de estudo

a ser investigado.

Godoy (2008) ao explicar o que é um estudo de caso, como método de

pesquisa que possibilite investigar os fenômenos humanos e sociais com abordagem

qualitativa, defende que o estudo de caso “deve estar centrado em uma situação

ou evento particular cuja importância vem do que ele revela sobre o fenômeno

objeto da investigação” (GODOY, 2008, p. 121, grifo no original). Nesse contexto, o

autor declara que:

Essa especificidade torna o estudo de caso um tipo de pesquisa especialmente adequado quando se quer focar problemas práticos,

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decorrentes das intrincadas situações individuais e sociais presentes nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas (GODOY, 2008, p. 121)

Diante disso, o autor adverte que o pesquisador deve estar atento aos “novos

significados - insights – que levem a repensar o fenômeno sobre a investigação”

(GODOY, 2008, p. 121, grifo no original).

3.2 A Entrevista como técnica de coletas de dados

As entrevistas possibilitam descrever realidades cotidianas; valorizar o que

essas pessoas, muitas vezes anônimas podem dizer, relatar, contar; além de

permitirem “uma exploração em profundidade das condições de vida dos atores”

(POUPART, 2008, p.220).

Para alcançar os objetivos deste projeto, utilizei como técnica de coleta de

dados a Entrevista online, visualizada por alguns autores como uma adaptação da

entrevista desenvolvida presencialmente (NICOLACI-DA-COSTA, 2009).

Na modalidade síncrona a troca de informações ocorre online de forma

instantânea, ou seja, em tempo real no mundo virtual, como por exemplo, no MSN

(Live Messenger), nos chats, entre outros. Na modalidade assíncrona a troca de

informações ocorre em tempos indeterminados, online ou off-line, como por

exemplo, através de emails, dos fóruns de discussão, dos blogs, das redes sociais de

relacionamentos. Com essa realidade é possível inferir que ocorreu uma migração

de conversas anteriormente realizadas por telefone e presencialmente para a

conversa online, cada vez mais, presente e comum na vida dos sujeitos.

Tendo em vista o processo de realização das entrevistas online realizadas

neste estudo, destaco ser importante descrever e apontar os caminhos para o

desenvolvimento dessas entrevistas, uma vez que, ainda faltam ferramentas de

interpretação e de soluções dos desafios e problemas ocorridos nesse aspecto.

Assim, poderemos contribuir para a área de educação musical e também para a

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reflexão do uso dessas ferramentas a serem utilizadas no desenvolvimento de

pesquisa na modalidade online.

Alguns pontos merecem destaque: a quebra de tempo e espaço, a

possibilidade de interação sem a necessidade de presença física, compreender que

a internet é um espaço para o estabelecimento de um relacionamento específico, a

internet também é um meio de aprendizagem e vem se tornando cada vez mais

presente nas instituições brasileiras.

4 Uma primeira conexão com os dados

A análise preliminar trata-se de um ensaio analítico tendo como propósito

estabelecer um exercício sobre como a sociabilidade pedagógico-musical se

constitui nos ambientes virtuais de aprendizagem musical (AVAMs). Assim,

apresento algumas categorias de análise, elaboradas até o momento. Essas

categorias durante o processo contínuo de análise serão desenvolvidas e ampliadas

a partir da interpretação dos hipertextos oriundos dos diálogos online realizados

nas entrevistas.

Esse exercício provisório se refere à sistematização de seis entrevistas

realizadas online, sendo quatro realizadas com tutores das disciplinas de

Introdução à Pesquisa em Música e Estágio Supervisionado em Música 1 e duas

realizadas com alunos dessas disciplinas como mencionei.

4.1 Primeiros contatos com o campo empírico

Os alunos dos ambientes virtuais ofertados pela UAB/UnB, como

mencionados, estão inseridos em dois pólos: Acre e Goiás. Esses pólos atendem as

seguintes cidades:

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• Polos do Curso

O curso de Licenciatura em Música é oferecido em 11 Polos:

Cidade Estado Cidade Estado Cidade Estado

Tarauacá

Brasiléia

Sena Madureira

Rio Branco

AC

AC

AC

AC

Cruzeiro do Sul

Xapuri

Feijó

Acrelândia

AC

AC

AC

AC

Anápolis

Posse

Porto Nacional

GO

GO

TO

http://www.uab.unb.br/index.php/cursos-todos/graduacao/24-musica

Dos dois alunos entrevistados um exerce outra função e busca com o curso

de Música modalidade a distância a possibilidade de atuar em uma área que possui

interesse. O outro aluno se dedica exclusivamente ao curso de Música modalidade

EaD.

Em relação à formação em Música na modalidade EaD, os alunos

entrevistados consideram que as leituras são importantes para a formação, e

sentem necessidade de dialogar mais com os tutores e com os outros colegas no

ambiente virtual de aprendizagem musical. Os alunos destacam que sentem mais

facilidade no ensino e na aprendizagem da parte pedagógico-musical do que na

parte prática musical. Salientam que a demanda de atividades propostas nos

ambientes, impedem uma formação mais focada e direcionada, além da uma

interação maior nesse ambiente online, utilizando as ferramentas que o mesmo

proporciona.

Destacam que as relações ocorrem entre alunos-alunos, alunos-tutores,

tutores-alunos, via fórum, chat, webconferência e no encontro presencial que eles

realizam nos pólos uma vez por semana.

Os tutores revelaram que os diálogos ocorrem em encontros semanais e

fóruns exclusivos de tutores, onde discutem sobre problemas em comum,

particularidades, dificuldades, compartilham idéias e soluções de problemas. Na

visão dos tutores, os alunos interagem através dos fóruns e dos contatos realizados

via MSN (Live Messenger).

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 14 -

O acesso às informações, a possibilidade em utilizar recursos disponibilizados

na internet geram um atrativo para os alunos inseridos no ambiente online. Os

tutores acreditam que a troca de experiência a partir dessas ferramentas é um dos

principais motivos que mantêm os alunos matriculados no curso.

4.2 A internet como um meio de ensino e aprendizagem

musical

Motivos para a inserção em um curso online

Dos dois alunos entrevistados, ambos salientaram que a procura pelo curso

de Música modalidade EaD, ocorre por ser um possibilidade significativa e única na

região em que estão inseridos. Para eles, o curso realizado pela internet atende

uma necessidade de aperfeiçoamento profissional e permite a conciliação com

outras atividades que os mesmos exercem.

Esses alunos destacam como aspectos relevantes em aprender música pela

internet o fato de poder compartilhar seus conhecimentos que serão adquiridos

com os colegas do espaço em que atuam e também dos colegas que estão inseridos

no curso de Música. Outro ponto significativo consiste na mobilidade e facilidade

em conciliar o curso de Música com as demais funções profissionais. Um dos alunos

relatou que para melhorar sua qualidade no desempenho do curso, optou por

dedicar-se apenas aos estudos, deixando sua outra função para tanto.

Os alunos enfatizaram que a possibilidade de acessar o curso de Música em

vários horários, no trabalho, em casa, à noite, de madrugada, foram fatores

relevantes para optarem por essa modalidade de ensino. Porém, reforçam que essa

praticidade não desconsidera a importância em organizar o tempo de estudo, em

administrar a ação de realizar várias coisas ao mesmo tempo, o que, na visão deles

não seria possível no ensino presencial.

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Curso online X Curso presencial na visão do tutor:

Para os tutores o fator principal que levam aos alunos optarem pelo curso

online, ocorre, uma vez que em suas cidades de origem não há a possibilidade de

realização do curso de Música presencial. Os tutores não consideram o curso na

modalidade a distância mais fácil do que o curso na modalidade presencial, mesmo

que seja desenvolvido apenas um encontro presencial por semana. Em alguns

momentos dos diálogos, os tutores ressaltam que o curso na modalidade a distância

é mais complexo do que o curso na modalidade presencial.

Um dos fatores determinantes na visão dos tutores é a maneira como os

alunos organizam o tempo para cumprir as tarefas semanais. Os tutores destacaram

ainda que essa mobilidade do curso gera outras dificuldades, tais como: trabalhar

em casa, junto da família, no sentido de que a família não compreende que é

necessário concentração para realização das atividades propostas. Ou seja, estar

em casa no computador, não significa estar livre, apenas navegando na internet.

Os tutores reforçaram que, a demanda de leitura necessária para

fundamentar e orientar as discussões e reflexões dos alunos, exige tempo de

dedicação, por isso, o fato de estar em casa, requer autodisciplina e organização.

Os tutores revelam que no ambiente online não é possível controlar quando

alguém vai postar uma contribuição, ou dialogar nas discussões, o que no curso

presencial ocorre no tempo da aula propriamente dita. Assim, acreditam que se o

ambiente online for bem utilizado, esse recurso proporciona uma discussão mais

ampla e contínua do que o curso presencial.

Outra necessidade significativa no ambiente online, se refere à demanda de

um tempo mais amplo, para ler e refletir sobre as mensagens postadas nos fóruns,

ferramenta importante para o ensino e a aprendizagem no ensino de música pela

internet. O acesso às informações e as concepções dos demais colegas, até mesmo

de outras localidades, são importantes na formação, segundo os alunos que

participaram da entrevista online.

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No ambiente virtual, muita coisa depende do próprio aluno, ou seja, o aluno

constrói um perfil autônomo e visa sanar suas dúvidas e vencer obstáculos.

Assim, o aluno tem que ter iniciativa e autonomia, organizar o seu tempo

para estudo para consegui desenvolver todas as atividades propostas, ser

colaborativo, participativo, utilizar o fórum como uma ferramenta de

aprendizagem, procurar participar dos fóruns, postando suas reflexões a partir das

leituras realizadas, acreditar que as discussões precisam ser mais aprofundadas,

considerar que alguns alunos só entram no fórum para registrar suas participações;

depois não entram mais, e, que esses, precisam ser estimulados a fazer parte dos

diálogos.

No encontro presencial nos pólos, os alunos sentem mais liberdade para

dialogar, expor suas dificuldades, discutir suas reflexões, trocar experiências

musicais e pedagógico-musicais.

Como os alunos aprendem música uns com os outros?

O colega é tido como referência, como apoio, como estímulo para continuar.

Os alunos entrevistados destacaram que a contribuição do outro, possibilita a

compreensão de alguns aspectos não apreendidos. Isso reforça a importância que

os demais colegas fazem no seu processo de ensino e aprendizagem e que a

interação está focada, entre outros aspectos, com a troca de experiência no

ambiente virtual de aprendizagem. Essa troca de experiência ocorre a partir das

mensagens postadas nos fóruns, ferramenta de interação disponível no ambiente

online e também de diálogos realizados fora do ambiente virtual de aprendizagem.

Para Lévy (2007) as estimativas sinalizam que o número de pessoas em

interconexão cresça a cada ano. Esse crescimento de conexão entre as pessoas

aproxima e permite uma interação entre indivíduos localizados em lugares

extremos, não mais separados por oceanos. Lévy (2007) considera que isso

acontece “graças às redes digitais, as pessoas trocam todo tipo de mensagens entre

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indivíduos ou no interior de grupos, participam de conferências eletrônicas sobre

milhares de temas diferentes” (LÉVY, 2007, p. 12). Essa capacidade de interagir,

pensar junto, trocar conhecimento e dialogar, é o que o autor denomina de

Inteligência Coletiva (IC), conforme discutido no capítulo 5.

Lévy (2007) ao se referir ao conceito de inteligência coletiva, afirma que

esse “(...) não é um conceito exclusivamente cognitivo. Para o autor, a inteligência

deve ser compreendida como expressão ‘trabalhar em comum acordo’, ou no

sentido de ‘entendimento com o inimigo’ (p. 26). A inteligência coletiva para Lévy

(2007) “é um projeto global cujas dimensões éticas e estéticas são tão importantes

quanto os aspectos tecnológicos ou organizacionais” (LÉVY, 2007, p. 26).

Outro aspecto importante é a conscientização da autonomia que cada aluno

deve desenvolver durante a sua formação através da proposta online.

Lévy (1997), em seu livro Cibercultura aborda diferentes tipos de

interatividade, as quais abrangem desde a mensagem linear à mensagem

participativa. A mensagem linear ocorre por intermédio dos meios de comunicação,

como por exemplo, a imprensa, o rádio, a TV, o cinema, as conferencias

eletrônicas, entre outras. Já a mensagem participativa engloba os dispositivos

como os videogames, o qual possui apenas um participante ou envolve a

comunicação entre mundos virtuais, através de redes de computadores, nesse caso

a troca de informações é contínua e ocorre simultaneamente. Nesse sentido, a

interatividade se caracteriza a partir da possibilidade de transformar, ao mesmo

tempo, os envolvidos na comunicação em emissores e receptores, produtores e

consumidores de mensagens.

Interação entre tutores e alunos

Os dados coletados revelam que a interação precisa ser mais estimulada

tanto entre alunos, quanto entre tutores. Para um dos entrevistados, tendo em

vista a demanda de atividades semanais a serem cumpridas, seria importante a

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criação de uma estratégia para que alunos e tutores pudessem compartilhar mais

seus processos de ensino e aprendizagem. No ambiente virtual de aprendizagem

musical, uma das ferramentas mais utilizadas para essa interação são os fóruns

semanais e também os fóruns de dúvidas. Além disso, o MSN (Live Menssenger)

também é uma ferramenta importante para realizar discussões com os colegas fora

do ambiente virtual.

Os entrevistados destacam que um dos pontos de partida para o diálogo é a

dificuldade que cada aluno encontra: Nesse contexto, os indivíduos utilizam como

forma de comunicação a linguagem escrita e visual. A partir desse contato, fatos,

ideias, sentimentos, atitudes, opiniões, afetos, gostos são transmitidos

instantaneamente para milhões de pessoas e em toda a parte do mundo. A internet

possibilitou um novo espaço em que os seres humanos possam pensar, compartilhar

o conhecimento e se comunicar.

Nesse sentido, a interação social se destaca como um aspecto que modifica o

comportamento dos indivíduos envolvidos, sendo esta mudança resultado do

contato social e da comunicação que os indivíduos estabelecem entre si. Mas, deve

se levar em conta que apenas a presença física entre os seres humanos, não

promove a interação social entre elas. Ou seja, se o ser humano não se comunica,

não ocorre interação social.

Nos diálogos entre tutores e alunos no fórum do ambiente virtual de

aprendizagem, podemos constatar que a interação ocorre da seguinte forma: a)

Aluno – aluno; b) Tutor – aluno; c) Aluno - tutor

A partir dessa interação social, pode-se inferir a existência de uma

reciprocidade nas ações entre os indivíduos. No caso da internet, considera-se a

interação social como interatividade, ou seja, a troca simultânea de informações e

o acesso imediato a qualquer parte do mundo.

Essa etapa foi um primeiro ensaio de análise, no que tange as maneiras como

pedagogia musical online vinculada à interatividade e as sociabilidades

constituídas, entre tutores e alunos inseridos no ambientes virtuais de

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aprendizagem musical, e ao processo formativo musical dos alunos do curso de

licenciatura, tenho um caminho a percorrer nas próximas etapas da pesquisa.

5 Algumas Considerações

Este estudo visa enfocar a pedagogia musical online vinculada à

interatividade e as sociabilidades constituídas, entre tutores e alunos inseridos no

ambiente virtual de aprendizagem musical, e ao processo formativo musical dos

alunos do curso de licenciatura. A pesquisa não visa portanto avaliar, nem verificar

a qualidade do ensino de música online.

Na educação a distância, o processo de ensino e aprendizagem musical,

ocorre de forma síncrona e assíncrona, as pessoas se comunicam através de textos,

em alguns momentos a partir dos recursos audiovisuais.

As entrevistas online realizadas e as observações no ambiente virtual de

aprendizagem musical indicam que as sociabilidades constituídas no ambiente

virtual ocorrem através de inúmeras possibilidades de interação, colaboração e

socialização a partir dos diálogos entre os sujeitos inseridos no ambiente online.

As sociabilidades constituídas nos ambientes virtuais de aprendizagem

musical são oriundas também dos vínculos sociais que os sujeitos constroem nesse

contexto, assim como reforça Lévy (2007), o trabalho coletivo e o trabalho com o

‘inimigo’ geram movimentos de aproximação e afastamento, ao passo que os

interesses e as trocas são efetuados no grupo coletivamente. Tais aspectos, ainda

precisam ser observados, compreendidos, analisados e interpretados. Os dados

podem auxiliar na compreensão das novas maneiras de ensinar e aprender música

on-line e seu processo formativo.

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