pausa cultural edição 1 | ano 1
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Revista de cultura e arte de Joinville desenvolvida por Emanoele Girardi e Francine Ribeiro. Projeto Experimental do Curso de Comunicação Social - Jornalismo, Bom Jesus/Ielusc - 2012.TRANSCRIPT
A cara da criatividadeAs facetas do artista Humberto Soares
VITROLA: Entrevista com a banda Fevereiro da Silva
TRAÇOS E FORMAS: Arte como inclusão social
MEMÓRIA: História da Casa da Cultura de Joinville
Edição I - Ano I
Julho de 2012
Anuncie aqui
4 Pausa Cultural | Julho 2012
Cara a CaraOlhares Urbanos
Na Lente
Por
trás
da
cor
tina
Vitrola
Memória
Tracos eFormas
Sumário
18
38
12
48
As dores e delícias
do teatro: conheça
a Cia Dionisos
Cia Roiter Neves:
a magia do circo
em Joinville
Bate-papo sobre
música autoral com
Fevereiro da Silva
Um retrato do grafite
nas ruas da cidade
Francine Ribeiro
Julho 2012 | Pausa Cultural 5
24
44
32
Seções
Caras Novas 8Flashes 10Crítica 56
Casa da Cultura e o
início da trajetória
artística na cidade
As mil faces de
Humberto Soares
A carreira de Ademar
César e sua “Arte
Eficiente” e acessível
Francine Ribeiro Edição 1 – Ano 1 – Julho de 2012
Projeto gráfico e editoração
Emanoele Girardi e Francine Ribeiro
Fotografia
Emanoele Girardi e Francine Ribeiro
Reportagem
Emanoele Girardi e Francine Ribeiro
Edição de textos
Emanoele Girardi e Francine Ribeiro
Revisão
Emanoele Girardi, Francine Ribeiro e
Lúcio Baggio
Foto Capa
Emanoele Girardi
Colaborador
Rubens Herbst
Logo
Bruno César da Luz
Impressão
Girardi Júnior Editora
Contato, sugestões e críticas
6 Pausa Cultural | Julho 2012
Estamos na cidade com a
maior população de Santa Catari-
na. Para os tradicionais, a cidade
das flores, das bicicletas, dos prín-
cipes. Para os empreendedores, a
cidade industrial. E para nós, a ci-
dade com cultura para valorizar.
Tem o empreendedor, mas
também o artista alternativo. As
flores, mas também os palcos.
Tem os príncipes, mas também
as telas. Tem a arte, a cultura, e
um público sedento por informa-
ções na área.
Vimos que nos bastidores
dos espetáculos, há pessoas que
trabalham para que tudo aconte-
ça. Vimos que a arte é também
inclusão social, é qualidade de
vida, é intensidade. É luta pelos
objetivos e lugar ao sol.
A produção da revista ultra-
passou os limites da execução de
pautas, mostrou-nos a determi-
nação dos que conquistaram seu
espaço. Foi então que destinamos
algumas páginas aos grupos que
batalham pelo reconhecimento: a
seção “Caras Novas” - nesta edi-
ção, com a temática musical.
Também o circo está presente
em Joinville e na revista. Na edi-
toria “Olhares Urbanos” falamos
sobre essa manifestação artística
tão antiga, através da matéria com
a Cia de Circo Roiter Neves.
A bandeira da música autoral
defendida pela banda Fevereiro
da Silva é fonte da nossa “Vitro-
la”. Em entrevista, os integrantes
relatam as dificuldades, motiva-
ções e planos.
Um pouco da história da Casa
da Cultura também é contemplada
nesta edição, na editoria “Memó-
ria”. Também a arte de Ademar
César, o pintor que trabalha com
educação artística como principal
fonte de inclusão social, tem espa-
ço na editoria “Traços e Formas”.
Estaremos “Cara a Cara” com
a criatividade de Humberto Soa-
res. O que acontece “Por Trás da
Cortina” será mostrado pela Dioni-
sos Teatro e as cores dos muros,
paredes e praças estão “Na Lente”
da Pausa Cultural.
Foram meses de trabalho na
produção da revista. Esperamos
que você, leitor, aprecie o trabalho
desenvolvido por esses artistas,
que fazem da cidade dos prínci-
pes, das bicicletas e das flores, a
cidade da arte e da cultura.
A construção do que se vê
Editorial
Emanoele Girardi e
Francine Ribeiro
8 Pausa Cultural | Julho 2012
Caras Novas | Música
Do improviso à boa músicaOs sete anos de trajetória da banda Miopia de
Joinville reservou muitas composições, alguns shows, in-
terrupções na carreira e retomadas. Afinal, fazer música
própria e de qualidade sempre foi o objetivo de Ferns
(contrabaixo e voz principal) Maurício “Morto” (bateria)
e Navi (guitarra, escaleta e vocal de apoio).
O nome do grupo surgiu de uma brincadeira entre
os integrantes. “Conversamos e vimos que todos
tinham um problema de visão. Daí decidimos pelo
nome da banda”, comenta com descontração Navi.
O experimentalismo, segundo o guitarrista,
sempre foi a principal motivação. Foi a partir do perfil
experimental que surgiram as primeiras composições.
“Em cada ensaio, fazíamos algo diferente e víamos
que poderia surgir música dali”, explica Navi.
Conforme o músico, as diferentes influências
contribuíram para o que ele define como o estilo do
grupo: algo próximo do “funk rock” - marcado pela
mistura dos ritmos.
A banda já contabiliza cerca de 30 músicas autorais.
As canções surgem do improviso nos ensaios e nos sho-
ws ou por iniciativa de um dos integrantes. “No começo
e fim dos shows fazemos o groove, que é o improviso,
é uma marca da nossa banda e também é uma forma de
compor novas músicas”, fala o guitarrista. Para Navi, a
música autoral ainda é pouco valorizada na região, pois
não há muitos espaços para a difusão. “Tem público para
isso, mas ainda há muita resistência por parte das casas
de shows que têm medo de arriscar”, afirma.
O grupo percebe que antes as bandas tinham
muita vontade, mas não tinham tanta identidade. Hoje
é desenvolvido um trabalho de consistência e quanto
à música autoral em Joinville.
A Miopia investe na divulgação do seu som,
principalmente pela internet, disponibilizando o novo
single para download, por exemplo. Entre os novos
projetos, estão a gravação de um videoclipe e a pro-
dução de camisetas com a temática da nova música
da banda, denominada “João Bobo”. Conheça o
trabalho da Miopia no site: www.bandamiopia.com.br.
Divulgação
Miopia nasceu em 2004, e hoje, com uma formação um pouco diferente, busca reconhecimento na cidade tocando música própria
De uma conversa na
calçada da rua Ataulfo Alves
em 2010, surgiram os primei-
ro planos de formar a banda.
Jeferson Branquinho (Vocal),
Douglas Renato Leite (Guitar-
ra), Eduardo Schmitz (Baixo)
e Marcelo Bruder (Bateria),
tocaram juntos pela primeira
vez na festa de despedida de
um amigo, e viram que deu
certo. A festa acabou com uma
conversa na calçada e a ideia
de fazerem um som juntos
mais vezes. Desde então, a
banda Calçada Alves se dedica
a tocar covers de rock nacional
anos 80 e 90, um pouco de rock’n’roll clássico,
versões, sons mais pesados e também composições
próprias, como a “Segundo e Minutos”.
Em 2011, um dos integrantes se afastou. Foi
então que Marcus Vinicius Passos (Vocal e gui-
tarra) ingressou na banda. Mais tarde, Branquinho
voltou para o grupo e a nova formação, então com
cinco integrantes, retomou os shows.
Viver da música ainda é um sonho, utopia
para todos. A Calçada Alves enxerga que hoje
em Joinville existe um cenário musical que pode
ser considerado positivo. “As bandas que surgem
estão conseguindo ter oportunidade de aparecer.
Algumas duram. Tem muita gente boa que ainda
está entocada nos quartos e estúdios tocando
sozinho ou com receio de dar a cara a tapa, mas a
cidade ainda pode crescer muito na variedade de
talentos”, afirma Eduardo.
Um diferencial desse grupo que está lutando
por seu espaço é o videoblog que mantém. “A
ideia é alcançar outros públicos. Mostra que além
de tocarmos, temos opinião e conhecimento sobre
outros assuntos tocantes à música”, explica Eduar-
do. Outro objetivo do vlog é converter as visuali-
zações para os vídeos com as músicas da banda.
Segundo eles, a iniciativa tem dado certo. O “Vlog
de uma banda” trata desde como montar um es-
túdio caseiro até como divulgar sua música. Além
de mostrarem que entendem de música é uma bela
dica para quem quer montar seu próprio grupo.
Para conhecer o trabalho da Calçada Alves
você pode acessar www.facebook.com/calcadaal-
ves ou www.youtube.com/calcadaalves.
Julho 2012 | Pausa Cultural 9
Miopia nasceu em 2004, e hoje, com uma formação um pouco diferente, busca reconhecimento na cidade tocando música própria
Rock na calçada que virou bandaDivulgação
Banda Calçada Alves com a formação antiga, Marcelo, Douglas, Eduardo e Marcus (esq. para dir.)
10 Pausa Cultural | Julho 2012
Flashes
Blog Cidade Cultural: Central de informações para Joinville
Divulgação
Democratizar a cultura, tor-
ná-la acessível a todos e mais
que isso: usar de uma ferramen-
ta eficiente para concretizar esse
objetivo. Após seis anos no ar, o
blog Cidade Cultural pode ser
considerado um sucesso. Afinal,
centraliza informações e serve
como um dos principais canais
de divulgação dos eventos. São
lançamentos de livros, iniciati-
vas culturais, divulgação de ban-
das e grupos musicais, peças de
teatro, cinema e até mesmo ma-
nifestações urbanas, como a cul-
tura Hip Hop. Para tudo tem es-
paço no Cidade.
“Pode-se se dizer que o
blog foi o precursor em desta-
car a cultura da cidade”, pon-
tua o idealizador do Blog, o
publicitário Pierre Porto. A
ideia surgiu como para valori-
zar a diversidade cultural de
Joinville, assessorar ações indi-
viduais e coletivas da produção
artística e, principalmente, para
colaborar na divulgação dos
assuntos culturais da cidade.
Sendo assim, as primeiras
postagens, segundo Pierre,
surgiram graças à divulgação
feita pelo próprio blog, junto
à classe cultural e artística.
“Rotineiramente, a agenda
das produções chegavam por
e-mail”, recorda. Conforme o
publicitário, o uso das ferra-
mentas de comunicação e as
redes sociais contribuíram
para que o blog ganhasse ain-
da mais visibilidade. Com a in-
serção no Twitter e no Face-
book, entusiastas da cultura
joinvilense, profissionais da
comunicação e artistas passa-
ram a ter contato direto com
os conteúdos do blog – além
de informações extras posta-
das nessas redes.
No twitter, são quase 1,8
mil seguidores que também
estão presentes no Facebook.
O Cidade Cultural já teve sua
versão impressa por cinco ve-
zes durante os seis anos de
existência, e não há data defi-
nida para que a distribuição
seja feita. “Fazemos isso quan-
do julgamos necessário”, pon-
tua Pierre.
O perfil democrático do “Ci-
dade Cultural” é evidente. To-
das as manifestações culturais
podem ser encontradas a qual-
quer momento. Para conhecer
o blog, basta acessar www.ci-
dadecutural.blogspot.com
Julho 2012 | Pausa Cultural 11
Alunos de escolas municipais mostram o talento para a dança
Apresentação em 2008, no 26o Festival de Dança.
Primeira vitória do grupo na categoria danças populares.
Divulgação
Joinville é uma cidade com
ritmo nos pés, seja qual for o
estilo, a dança está presente
em espaços públicos ou priva-
dos. Mais que uma expressão
artística, dançar é uma forma
de aprendizado de muitos va-
lores como organização e tra-
balho em equipe. Pensando
nisso, em 1999, a Secretaria
da Educação de Joinville pôs
em prática um projeto piloto:
Dançando na Escola.
No início, dez escolas pú-
blicas municipais receberam
aulas de dança no contraturno.
O projeto evoluiu e hoje aten-
de mais de 30 instituições de
ensino, com aulas para crian-
ças e adolescentes entre o 2º e
o 9º ano escolar. Os grupos do
programa participam de apre-
sentações em Joinville e fora
da cidade, além de participa-
rem do Festival de Dança nas
mostras competitivas.
A Escola Municipal Gover-
nador Pedro Ivo Campos é
destaque do projeto. O grupo
de dança existe desde 2002, e
recebeu o primeiro lugar na ca-
tegoria Danças Populares do
Festival de Dança em 2008,
2009 e 2010 – sendo que em
2011 não houve primeiro colo-
cado e a equipe ficou com o
segundo lugar. Este ano, sobe
aos palcos da mostra competi-
tiva pela sexta vez e o ritmo es-
colhido foi o Maracatu.
Orientados pela professora
Elisiane Wiggers, 27 alunos
entre 13 e 14 anos se dedicam
a arte da dança. Segundo Eli-
siane que leciona em outras
quatro instituições, o princi-
pal diferencial dos alunos da
escola campeã é o empenho e
o envolvimento de todos. “Os
pais, a comunidade e a dire-
ção da escola apoiam o grupo
e isso é um grande diferen-
cial”, completa.
Divulgação
Vitrola
Amor à música Autoral
A banda no show de lançamento do CD “Posso ser o seu autor?” que reuniu mais de 500 pessoas
12 Pausa Cultural | Julho 2012
Julho 2012 | Pausa Cultural 13
Banda joinvilense, Fevereiro da Silva, gosta de fazer o próprio som. Sem estilo definido segue apenas a sonoridade que agrade aos ouvidos
Giu Vicente
14 Pausa Cultural | Julho 2012
Eles não fazem isso
por dinheiro. Não
fazem por fama.
Tocam apenas
porque gostam de fazer música
pra eles mesmos. Agradar os
outros com o som autoral? É
pura consequência.
A banda Fevereiro da Silva,
brasileira como
ela, não pode ser
definida em ape-
nas um estilo mu-
sical, são tantos.
É diferente: “um
som com origi-
nalidade”, expli-
cam. Demoraram
alguns anos, mas
o nome surgiu
quando a banda
estava concretizada com a forma-
ção que permanece igual: André
Steuernagel no trombone, Daniel
Moura no baixo, Guto Ginjo na
guitarra e nos vocais, Hélio de
Sousa no trompete, Lucas Ma-
chado na bateria e nos vocais e
Ricardo Borges no vocal.
Nos últimos meses a ban-
da joinvilense tem realizado
sonhos de vários artistas. Co-
meçou em 11 de novembro
(11.11.11) com o show de lan-
çamento do CD que trabalha-
ram desde 2009 para compor.
O show do álbum “Posso ser
o seu ator” com 14 faixas au-
torais rendeu-lhes casa cheia
naquela noite.
Depois disso, a banda e os
fãs correram com campanhas
nas redes sociais para partici-
parem do Planeta Atlântida.
Ganharam. Joinville foi repre-
sentada e de lá
surgiram novos
convites, como
o de março de
2012, no aniver-
sário da cidade.
Em 8 de
março, milhares
de pessoas lota-
ram o Parque da
Cidade aguar-
dando a apre-
sentação da Nenhum de Nós,
mas antes, foram presenteados
com o show da banda joinvi-
lense que agradou o público
do Planeta Atlântida. O frio na
barriga foi só um sintoma de
que estão no caminho certo.
A gente compõem
músicas que soem bem
para nós - Ricardo
Emanoele [email protected]
Francine [email protected]
Confira a entrevista com essa banda de talento e com o pé no chão:
Pausa Cultural: Como se formou o grupo Fevereiro da Silva?
Ricardo Borges (Vocal): Alguns de nós já tocávamos em outras
bandas. Eu participei de uma. Quando ela acabou, sempre pen-
sei em formar outra. Aí me reuni com o Lucas (Machado, bate-
rista da Fevereiro), que também é compositor, e começamos.
Depois chamamos outras pessoas para compor a banda. Para
chegarmos à formação atual, demorou aproximadamente quatro
anos. Em 2007, realizamos nosso primeiro show no Bar Funil e
a votação do nome foi em uma lanchonete.
PC: Por que o nome Fevereiro da Silva?
Ricardo: Fevereiro foi o mês de fundação da banda e da Silva,
porque queríamos que o nome representasse algo do Brasil e “da
Silva” é um dos sobrenomes mais populares do país. O fevereiro
também tem outros significados. É o mês do carnaval e se dife-
rencia de todos os outros. Isso vem ao encontro da nossa ideia
de fazer música própria, de fazer algo diferente do que os outros
estão fazendo.
PC: E que história é essa de votação para o nome?
Ricardo: Somos em seis integrantes e cada um tem uma ideia,
e tivemos que realizar a votação porque estávamos indeci-
sos. Tinham várias opções, mas lembramos que “da Silva”
foi unanimidade.
PC: Quais as principais influências musicais da banda?
Augusto (Guitarra): Tim Maia, Jorge Ben e Nação Zumbi são as
principais. Sendo música boa, não temos preconceito.
PC: Qual a definição do estilo da Fevereiro da Silva?
Hélio (Trompete): Eu costumo dizer que é rock com metais, por-
que nossa essência é rock, mas estamos abertos a outros gêneros.
Augusto: Essa pergunta é complexa. Muita gente vê a Fevereiro e
Julho 2012 | Pausa Cultural 15
Fotos: Emanoele G
irardi e Francine Ribeiro
16 Pausa Cultural | Julho 2012
não consegue identificar realmente é. Mas eu acho
que é o que a gente gosta de fazer. Não temos a
intenção de ter um rótulo. Conseguimos trazer de
tudo um pouco. Nós temos um repertório que vai
juntar tanto o samba como o rock mais pesado.
Ricardo: É, a gente criou uma identidade que é só
de entender, não é de dizer. É Fevereiro. Não é
rock, não é jazz, não... é tudo. Mas a gente sabe o
que tá fazendo porque a gente faz o que gosta.
Compomos músicas que soem bem para nós.
PC: Quando vocês viram que a banda deu certo?
Todos: Até agora a gente não viu, deu certo? (risos).
André (Trombone): Algumas conquistas a gente já
teve. Alguns shows que a gente pôde fazer para
divulgar a banda que teve mais público. Mas a nos-
sa rotina é sempre correr atrás. Corremos atrás
para conseguir mostrar nosso trabalho em Joinville
ou pra fora... Isso aí é sempre uma batalha.
PC: Como conciliam a banda à rotina de cada um? E
dá para viver de música em Joinville?
Augusto: Para a proposta da Fevereiro da Silva não
tem como viver, Porque a gente se propõe a fazer
música própria e é difícil achar espaço para isso.
Até porque, às vezes, para nós não seria viável
também. Imagina tocar Fevereiro toda semana, fa-
zendo o mesmo show, o mesmo repertório... A
gente ia ter que ter muitas músicas. A gente se di-
verte, às vezes a gente faz shows, consegue ga-
nhar um cachê, mas a gente sempre guarda pra
conseguir fazer o nosso próximo disco, um clipe,
ou viajar para fazer um show fora... Talvez se a
gente conseguir ser reconhecido no Estado, ou no
Os ensaios fazem parte da agenda dos integrantes da Fevereiro da Silva que só
faltam por motivos maiores. Neste dia, o baterista, Lucas, estava doente.
Francine Ribeiro
Julho 2012 | Pausa Cultural 17
sul, em regiões assim, aí seria mais viável, eu acre-
dito. E sobre a primeira pergunta de conciliar, cada
um tem um jeito, no meu caso, Fevereiro faz parte
do meu calendário. Então eu vou me programar.
PC: Como foram as experiências de apresentações
que vocês tiveram mais visibilidade e depois disso,
abriram-se portas?
André: Acho que um grande marco foi o lançamento
do CD. Mesmo que não foi um número
enorme de pessoas mas a gente perce-
beu que quem foi era a galera que gos-
tava da banda. A gente lançou o CD, o
pessoal escutou e depois de ter escuta-
do, foi no lançamento do CD.
Ricardo: Quase 500 pessoas, para
nós é um público grande, interes-
sante... pra quem faz música própria
em Joinville...
Augusto: Sobre o que ajudou... Eu
acho que o lançamento do CD foi o
mais importante.
Hélio: Acho que foi um processo, desde 2007 a
gente fazia shows, aí fomos aparecendo, se a gente
não organizava, alguém chamava. Acho que abriu
portas em Joinville e região.
Daniel (Baixo): Até apareceu o Cidral que hoje
toca na banda Radio Gump, ele convidou a
gente pra gravar o EP (um disco com apenas 4
músicas). O EP foi uma porta que se abriu por-
que foi chegando nos ouvidos das pessoas e
elas foram conhecendo.
André: Shows que o nosso público foi bom: o
lançamento. Aí por causa do público no lança-
mento do nosso cd a gente conseguiu se inscre-
ver no Planeta Atlântida, e fizemos uma campa-
nha para o pessoal votar em nós, conseguimos
entrar no Planeta Atlântida e daí lá no Planeta a
gente apareceu, muita gente viu o Fevereiro da
Silva. E depois disso chamaram a gente pra tocar
no aniversário de Joinville.
Ricardo: Isso foi uma porta que se abriu com o
Planeta Atlântida, com certeza. Porque a gente foi
a primeira banda a tocar lá, única banda que teve
chance, digamos... de conhecer, já que eles abri-
ram esse concurso este ano e a
gente acabou ganhando.
André: Eu sei que nesses 5, 6
anos que a gente toca juntos, as
únicas vezes que deram aquele
friozinho na barriga foram... O
Lançamento do CD, porque fa-
zia um tempo que não tocáva-
mos, chegamos lá e a casa tava
cheia, a galera com os braços
levantados gritando “Feverei-
ro!”. E aí o Planeta Atlântida foi
normal porque a gente já tava naquela empolga-
ção, aí abrimos o palco do Pretinho, fizemos show
legal, o pessoal gostou. Agora, quando nós subi-
mos no palco ali no aniversário de Joinville e vi-
mos aquela galera, todos joinvilenses, olhando e
esperando a banda de Joinville que tocou no Pla-
neta Atlântida, toda aquela expectativa... Aí tam-
bém deu um friozinho na barriga. Mas isso aí faz
parte, isso que é o bom de tocar. Porque se não
dá o friozinho, perde a emoção.
Na Fevereiro não há um
destaque. Todo mundo é igual -
Ricardo
O cd da banda com 14 faixas autorais
está disponível para download no site
www.fevereirodasilva.com.br.
Teatro: Mais que arte e cultura, é educação!
Cia de Teatro Dionisos fala sobre as dificuldades e as alegrias da profissão e reforça a importância dos ensinamentos culturais
Amor por Anexins foi a primeira peça produzida pelo elenco fixo da Dionisos e é
representada até hoje
Divulgação
18 Pausa Cultural | Julho 2012
Julho 2012 | Pausa Cultural 19
A ideia não era criar
uma companhia
de teatro. Mais
do que um grupo
teatral, por baixo dos adereços e
por trás das peças, eles são uma
família. Eduardo, Clarice, An-
dréia, Vinícius e Manoella dão
cores, música e vida para as pro-
duções teatrais da cidade.
Quando surgiu, em 1997,
a Dionisos Teatro era para ser
uma produtora que prestaria
serviços a entidades ligadas à
cultura da cidade. Mal podiam
imaginar que 15 anos depois
seriam uma companhia teatral
consolidada, com mais de dez
peças no repertório e público de
mais de 500 mil pessoas, den-
tro e fora da cidade e do país.
Quando fundada, a sede ficava
no bairro América e era como
um centro cultural, com profes-
sores de artes plásticas, música e
outras artes, e o grupo de teatro
tinha um elenco variável.
Aos poucos a estrutura se
modificou. Dois anos depois,
os cursos não existiam mais e
a própria sede mudou de lu-
gar, foi então que o idealiza-
dor da companhia, Silvestre
Ferreira, resolveu montar um
elenco fixo. A formação atu-
al ficou completa em 2007.
E hoje, a Dionisos é uma das
únicas companhias joinvilenses
que se dedica ao trabalho tea-
tral profissional, isto é, o grupo
tem o teatro não só como pai-
xão, mas como profissão.
Trabalhar com teatro não
é tarefa fácil. As dificuldades
começam com o processo de
formação, seja por experiência
de vida ou acadêmica, até o es-
petáculo em si. “Para ser artista
tem que batalhar, correr atrás e
se envolver. A maioria do nos-
so público nos
conhece porque
estamos apresen-
tando num gal-
pão de teatro, ou
no Juarez Macha-
do... e aquela é a
parte mais boni-
ta, mais glamou-
rosa, mas nós
fazemos muitas
outras coisas nos
bastidores que precisam ser fei-
tas”, declara Eduardo.
Clarice completa ressaltan-
do a ideia de que teatro não
se faz apenas nos palcos. Ela
lembra que antes das apresen-
tações cenários precisam ser
montados, figurinos pensados
além da questão de roteiro
e administração. “Tem que sa-
ber que vai dedicar sua vida
para isso.”
Da formação aos palcos
Em Joinville não há cursos
de graduação em artes cênicas.
A formação da maioria dos ato-
res acontece, basicamente, de
forma experimental. Além das
situações que vivem, os grupos
buscam formação por si pró-
prios ou com a associação, tra-
zendo professores de São Paulo
e outros centros
em que o teatro
é mais desen-
volvido, para
ministrar cursos
de interpretação,
dramatização ou
até roteiros.
Para fazer tea-
tro tem que que-
rer. Uma prova
disso é a própria
formação dos artistas da com-
panhia: economista, designer,
bacharel em história e psicólo-
Ser ator não é só atuar e ir
embora. Tem que dedicar a vida a
isso - Clarice
Por trás da cortina
Emanoele [email protected]
Francine [email protected]
20 Pausa Cultural | Julho 2012
ga, mas foi o teatro que falou
mais alto. “A gente começou
nos inscrevendo em festivais,
fazendo workshops, oficinas...
quando vinha alguém de fora
dar curso, a gente participava.
Foram horas e horas que a gen-
te se especializou com pessoas
do teatro”, fala Andréia.
Até o ano passado, a Dio-
nisos oferecia aulas para inte-
ressados. Mesmo com ensina-
mentos informais da profissão,
descobriram vários talentos que
hoje se dedicam ao teatro. “É
instigar nas pessoas o ‘desejo
de’. E depois eles vão atrás...”.
A carreira de ator e atriz
não é tão simples. “Tem seu
ônus e bônus. Você fica feliz
porque está fazendo algo que
gosta, mas ao mesmo tempo,
tem que desbravar, tem que ser
empreendedor”, reforça Clari-
ce. Apesar de incentivarem, os
atores ressaltam que não é uma
carreira estruturada, nem sem-
pre você tem salário certo, mas
“dá pra viver”.
O conselho é único: vai lá
e faz! “Experimente. Veja se
é isso mesmo que você quer,
veja se dá certo, se não der,
tente outra coisa. Às vezes
você não precisa fazer teatro
profissionalmente para ser fe-
liz. Então vai, experimenta...
O único jeito de fazer teatro, é
fazendo!”, declara Eduardo.
Para sair do papel
Não basta ser ator. Tem que
produzir, criar cenário, montar,
desmontar e cuidar da “pape-
lada”. Uma companhia de tea-
tro não faz só peças, tem que
cuidar da parte administrativa.
“É uma gestão. Temos que ser
empresários do nosso próprio
negócio”, conta Andréia.
Quando se trata da peça
em si, o grupo tem uma forma
particular de pensar: as peças
surgem de desejos dos pró-
prios atores. “Essa coisa de fa-
zer acordos: Eu tenho um de-
sejo, todo mundo topa? “sim”.
Então vamos embarcar nessa
história” explica. Antigamen-
te, trabalhavam mais com tex-
tos, hoje partem dos desejos e
criam em cena.
Depois do desejo, buscam a
viabilização do projeto, por meio
de editais ou mesmo a partir dos
próprios bolsos. Sobre a divisão
dos personagens, é como um
consenso. Depende das necessi-
dades da peça, do personagem e
o que é melhor para o grupo.
O tempo para nascer uma es-
petáculo é variado. Isso porque,
depende da verba, dos ensaios,
ou se a peça foi encomendada.
Geralmente o tempo é mais cur-
to, e aí eles têm que trabalhar
dentro do prazo. Varia confor-
me as necessidades. Mas hoje,
por conta do repertório, o grupo
consegue pensar sobre um es-
petáculo por mais tempo. “Nós
podemos deixar para fazer uma
peça nova quando conseguirmos
o dinheiro de algum edital ou pa-
trocínio, e enquanto ela amadu-
rece, apresentamos nossas outras
peças”, disse Eduardo.
“Mas tem que ter pé no
chão [quando se cria uma
peça]. Pensamos numa peça
que possa ficar no repertório,
que possa ser viabilizada em
qualquer lugar. Não adianta
fazer um cenário de 15 metros
e não poder levar pra lugar ne-
nhum”, conta Clarice.
Incentivos financeiros
Antigamente, fazer teatro
em Joinville era muito mais “na
raça”, na avaliação do grupo. As
primeiras peças montadas pela
companhia eram feitas com di-
nheiro tirado dos próprios bol-
sos e sem receber nada. Hoje,
há incentivos municipais como
Julho 2012 | Pausa Cultural 21
O poder privado tem que investir mais em cultura, isso sempre dá retorno - Andréia
Emanoele Girardi
O grupo tenta manter uma rotina de ensaios, mas a parte administrativa acaba consumindo a maior parte do tempo
o Simdec (Sistema Municipal de
Desenvolvimento pela Cultura),
uma forma de captação de ver-
ba. “Além disso, há mais políticas
públicas de incentivo. Enquanto
o incentivo privado ainda está
muito aquém. Falta aquela coisa
de ‘vamos patrocinar um projeto
cultural por responsabilidade so-
cial’”, comenta Clarice.
Ainda sobre o incentivo pri-
vado, o grupo vê que falta tam-
bém uma certa comunicação
entre o trabalho e as empresas.
“Falta também a gente saber
como abordar. É um trabalho de
educação para alcançarmos as
pessoas lá dentro das empresas,
para começarmos a discutir a
questão, fomentar, plantar uma
semente”, afirma Eduardo.
A Lei Rouanet é uma al-
ternativa em que as empresas
podem investir em cultura e
deduzir impostos, ou seja, as
empresas podem optar por
destinar o dinheiro dos im-
postos em cultura. “O poder
privado tem que entender que
vale a pena fomentar a arte e a
cultura incentivando esses pro-
jetos. Tudo isso é educação e
cria pensamento mais crítico
na sociedade. Investir em cul-
tura sempre dará retorno”, res-
salta Andréia.
A Dionisos tem sede própria e é uma das únicas de Joinville que faz teatro profissionalmente
Emanoele Girardi
22 Pausa Cultural | Julho 2012
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24 Pausa Cultural | Julho 2012
De desenhista a professor, Humberto Soares passeia por muitos caminhos da arte
O contador que desenha, o autor que encena
Julho 2012 | Pausa Cultural 25
O contador que desenha, o autor que encena
Cara a Cara
Desenhar como for-
ma de expressão.
Ter nos traços
e nas cores um
companheiro e no registro das
formas uma maneira de recordar
seu passado. Os desenhos da in-
fância guardam com carinho as
lembranças da época: “É como
se fosse fotografia”.
O artista multifacetado
Humberto Soares tem uma vi-
são simples da arte que produz,
embora os resultados de suas
obras apresentem aspectos so-
fisticados que encantam.
Nascido e criado em Curiti-
ba, desde criança já demonstra-
va suas habilidades com os lá-
pis de cor, pincéis e tintas. Nas
visitas a casa da avó, em Fran-
cisco Beltrão, interior do estado
do Paraná, sua relação com a
natureza ficou evidente. Lá, as
plantas e flores compunham a
paisagem e serviam de inspira-
ção para o artista. “A casa dela
parecia de bonecas”, recorda.
Ele sempre foi uma criança
moleca, daquelas de subir em
árvores e sua ligação com os
elementos da natureza partiu
para os desenhos. Nas folhas
de papel, além dos desenhos
de cascas de árvores havia os
retratos da família no cotidia-
no. “Era difícil eles pararem
para eu conseguir desenhá-
los”, fala. O filho caçula de
uma família de cinco irmãos
sempre foi fascinado pelas
coisas que ele define como
pequenas. “Imaginava o co-
gumelo como guarda-chuva e
adorava os Smurfs”, relembra.
Aos 15 anos, o artista mu-
dou-se para a casa da avó. Na
cidade, começou a produzir
fanzines e vendia os espaços
publicitários para pagar a im-
pressão e divulgar seu trabalho.
Nessa época, ainda não pinta-
va os desenhos que fazia, usa-
va somente o lápis e nanquim,
mas já possuía muitas histórias
para contar.
A irmã morava em Joinville
há algum tempo e certo dia, ele
veio visitá-la. Resultado: a cida-
de foi adotada por Humberto e
há 13 anos é seu lar.
Ao chegar em terras joinvi-
lenses, procurou a direção de
O sonho de menino virou
profissão: hoje Humberto se
define como um artista realizado
Francine Ribeiro
Emanoele [email protected]
Francine [email protected]
26 Pausa Cultural | Julho 2012
um shopping center da cidade
para realizar sua primeira expo-
sição. Eles toparam. A mostra
levava o nome de Perfeição.
Ele buscou patrocínio para
fazer folders de divulgação e os
entregava durante o evento.
Foi a partir dessa iniciativa
que Humberto obteve reco-
nhecimento e visibilidade. Al-
gumas matérias foram publica-
das na imprensa estadual e o
artista finalmente foi ganhan-
do seu espaço.
Com o sucesso da exposi-
ção, Humberto começou a dar
aulas de histórias em quadri-
nhos na Casa da Cultura. Seu
pioneirismo na cidade foi fator
d e t e rm inan t e
para fortalecer
sua carreira e na
mesma época,
ministrou aulas
também no Cír-
culo Operário
de Joinville.
Mas apenas
ilustrar as his-
tórias não sa-
tisfazia comple-
tamente o artista. “Queria que
minha arte saísse pelo meu cor-
po”, revela. Foi quando Hum-
berto começou a percorrer as
ruas da cidade caracterizado
de duende. “Saía com uma
caixinha e fazia minha própria
divulgação”. Tirar os persona-
gens das páginas dos quadri-
nhos também fez com que ele
fosse lembrado pelo público.
Artista não se faz sozinho
Humberto tem no resultado
de seu trabalho o reflexo das
boas parcerias que realizou. Do
roteiro à trilha sonora, o artista
encontrou pessoas importantes
no caminho.
Das aulas na Casa da Cul-
tura, por exemplo, ele conhe-
ceu a publicitária e escritora
Luciane Nascimento - que
foi sua aluna.
Com ela, reali-
zou uma parce-
ria que perdura
até hoje. Lucia-
ne foi roteirista
e diagramadora
de seu livro.
Apesar de não
ter participado
de nenhum gru-
po de teatro, nos
tempos que saía caracterizado
de duende, Humberto conheceu
alguns atores e diretores. Nesse
período, fez cenários e maquia-
gens para alguns espetáculos.
Mais tarde, o duende que
andava pelas ruas da cidade
ganhou um nome: Aquarelo.
Depois, novos personagens fo-
ram criados, e posteriormente,
contações e quadrinhos surgi-
ram a partir deles.
Uma parceria que iniciou
nesta época e dura até hoje foi
com um sebo da cidade, onde
ele também promoveu cursos
de histórias em quadrinhos e
realizou exposições. Após o
personagem Aquarelo, Hum-
berto produziu outras obras,
entre elas Sorocopo, Taiona-
rá e Cidade da Chuva, Iraê e
Cabeça de Sol. Suas contações
passaram a encantar as crian-
ças e para ser seu interlocutor,
Humberto criou o Mago Hum.
Outra famosa criação do artis-
ta foi o personagem Tatuí, que
ganhou visibilidade nas tiri-
nhas publicadas em um jornal
de abrangência estadual. Des-
de essa época, Luciane Nasci-
mento já atuava no roteiro e
na diagramação dos materiais.
Tatuí saiu das tirinhas do
jornal para os palcos graças à
interpretação de uma atriz de
teatro, que inspirou Humberto.
Vera Seco era quem interpreta-
va um menino de rua, e deu a
ideia ao artista de transformar
Como se fosse um mantra, segui meu
sonho: Viver da minha arte
Julho 2012 | Pausa Cultural 27
Francine Ribeiro
Os quadrinhos sempre foram uma
das grandes paixões do artista,
que já foi também professor
Tatuí em um personagem pas-
sível de ser encenado.
A cantora joinvilense Ana
Paula da Silva, amiga e parceira
de Humberto, produziu diver-
sas músicas para seus persona-
gens. Ao fim de cada contação,
Ana Paula cantava uma canção
enquanto Humberto desenha-
va. Para ele, dar vida às formas
ao vivo valoriza o processo de
construção do personagem. Da
parceria com Ana Paula, em
2008, foi lançado o livro-CD
Contos em Cantos.
A relação com o público
proporcionada pelas conta-
ções e encenações teatrais é
fundamental para o artista. É
justamente dessa troca que
Humberto tira o momento
inesquecível de sua carreira.
“Em uma das minhas pri-
meiras contações lembro que
uma criança começou a cho-
rar muito. No mesmo momen-
to pensei o que deveria fazer:
continuar e ir até o fim. Naque-
le momento descobri um novo
artista dentro de mim”. E com-
pleta: “Esse foi sem dúvida, o
momento mais marcante da
minha carreira”.
Conforme Humberto, a si-
tuação na qual se viu foi desa-
fiadora, e ele optou em prosse-
guir a contação, mesmo diante
as possíveis adversidades que
surgiriam. E para ele, ser ar-
tista é justamente isso: seguir
em frente mesmo que surjam
dificuldades.
“Eu mesmo já pensei em
desistir, mas daí algo aconte-
cia e não deixava com que eu
fizesse isso”, relata.
Ao resgatar suas memórias
de infância, Humberto afirma
que repetia em sua mente uma
espécie de mantra: “Vou viver
da minha arte”. Hoje, ele pode
dizer que o sonho foi concre-
tizado. Contador de histórias,
desenhista, professor e ator...
Ele explica que para conseguir
se manter da arte há obstácu-
los, mas que podem ser supe-
rados se houver persistência
e determinação. Causar estra-
nhamento e inovar. O trabalho
do artista, segundo ele pró-
prio, “é para as crianças que
moram dentro dos adultos”.
Reflexo do próprio Humber-
to: sonhador, colorido e com
a criatividade a mil.
Ser artista é seguir em
frente mesmo que surjam
dificuldades
28 Pausa Cultural | Julho 2012
Julho 2012 | Pausa Cultural 29
O tão esperado livro chegou
Emanoele Girardi
Orguhoso, Humberto mostra sua obra, lançada oficialmente na cidade onde construiu sua carreira: Joinville
No fim de 2009, o artista
foi premiado com a verba do
Mecenato da Fundação Cultu-
ral de Joinville (FCJ). Mas foi
em 2012 que seu tão esperado
livro foi impresso. O lançamen-
to feito durante Feira do Livro
de Joinville em abril deste ano
deu início a uma nova etapa
na vida de Humberto. “Muitos
desenhos já estavam prontos,
mas o processo de lapidação
demorou mais de um ano”, es-
tima. O livro de histórias em
quadrinhos tem 144 páginas e
encanta o leitor. A edição está
dividida em duas partes: a pri-
meira, colorida, onde a história
de Tatuí é narrada. A segunda,
em preto e branco, guardam os
quadrinhos com as aventuras
do personagem e sua amiga
Rana - uma aranha que mora
em seu boné. Conforme Hum-
berto, o retorno do público em
relação ao livro tem sido extre-
mamente positivo. O sucesso
já rendeu a presença do artista
em feiras de livro de diferentes
lugares do país.
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32 Pausa Cultural | Julho 2012
Fotos: Francine Ribeiro
Arte como motivaçãoArte como profissão
Ademar durante uma das aulas do projeto Arte Eficiente. Ao fundo, a esposa e assessora, Jane dos Santos
Julho 2012 | Pausa Cultural 33
Os riscos nas pare-
des e os esboços
dos desenhos,
quando criança, já
demonstravam as habilidades.
O amor pela arte foi por mui-
to tempo tratado como hobbie,
para anos depois, finalmente, vi-
rar profissão. O percurso traçado
por Ademar César não foi dos
mais fáceis, mas o artista sempre
imprimiu paixão em tudo que
fez e isso fez toda a diferença.
As aptidões existiam des-
de a infância. Nesse período, o
incentivo dos pais era pouco.
Vindo de uma família tradicional
– que resistiu em aceitar o filho
como artista – as primeiras difi-
culdades para mostrar seu talen-
to foram sentidas nessa época e
deixaram em Ademar recorda-
ções não muito boas. “Houve
um dia em que fiz um desenho
em uma tela, e tive que pintá-la
novamente para provar que era
mesmo uma obra minha. Foi um
momento difícil”, relembra.
Nem mesmo situações como
essas tiraram o sonho e a von-
tade de ser artista plástico. Para
seguir em busca de seus obje-
tivos, a maior motivação foi a
família que constitui juntamente
com Jane dos Santos, sua espo-
sa e assessora. “Minha mulher e
minha filha sempre me incenti-
varam a continuar”.
O entrosamento entre os
dois é evidente: Jane é tratada
com muito carinho pelos alunos
de Ademar e pode ser definido
como o seu “porto seguro”. En-
tre uma dúvida e outra, é para
ela que o artista recorre.
Família
Foi a segurança transmitida
pela família que deu a Ademar
coragem em encerrar suas ati-
vidades como empresário e
ingressar de vez no ramo ar-
tístico. Mas isso demorou para
acontecer: somente em 2008
ele tomou a decisão de traçar
um novo caminho. Segundo
ele, o ponto fundamental para
que a atitude fosse tomada
foi sua participação em uma
palestra. “Nela, lembro que
se falava sobre a atuação das
profissões na sociedade. Olhei
para mim e vi que o que estava
construindo com minha atual
profissão não era suficiente.
Decidi fazer a diferença com
Francine [email protected]
Tracos e Formas
Arte como motivaçãoArte como profissão
Ademar César busca com seu trabalho promover a inclusão social
34 Pausa Cultural | Julho 2012
meu trabalho e me dedicar à
arte”, recorda.
Definindo-se como auto-
didata, aperfeiçoou suas téc-
nicas com o auxílio de cursos
e oficinas e reconhece a im-
portância da crítica para forta-
lecer a imagem de um artista.
Mas alerta que ninguém deve
ser refém dela. “Todo mundo
entende arte”. De acordo com
ele, por possuírem extrema
preocupação com a postura
dos críticos, muitos artistas
se detêm em fazer uma arte
“compreensível” somente para
esse público, o que ele con-
sidera extremamente equivo-
cado. Para Ademar, “a arte é
para todos”.
Visibilidade
O reconhecimento da críti-
ca surgiu em 2010, quando a
Bienal do Sesc selecionou uma
obra de Ademar para compor
a mostra, realizada em Piraci-
caba (SP). Ele foi o único ar-
tista joinvilense selecionado.
“Até aquele momento, tinha o
reconhecimento do público e
da imprensa. Finalmente tive o
da crítica e isso foi importante
para minha autoestima”, conta.
O artista também obteve
visibilidade quando suas obras
foram escolhidas (através de
um concurso) para estampar
capas de listas telefônicas em
Santa Catarina. Essa foi uma
parceria estabelecida com a
iniciativa privada que perma-
nece até hoje – assim como
todas as demais que viabilizam
os projetos de Ademar. Segun-
do Ademar, é essencial que se
tenha foco e profissionalismo,
que o restante é consequência.
“O artista tem que respeitar o
público, senão está condenado
ao fracasso”, pontua.
O artista mais humano
A preocupação com próxi-
mo, segundo ele, deve ser algo
presente em qualquer profissio-
nal. Essa preocupação fez com
que ele passasse a enxergar o
aspecto social e usasse seu tra-
balho em favor desses ideais.
Ademar César percebeu que
a cada exposição ou oficina
que produzia, os portadores de
necessidades especiais aparen-
tavam sentir-se impossibilita-
dos de realizar trabalhos como
os expostos nas mostras. Para
incentivá-los e demonstrar que
era possível produzi-los, ele
criou o projeto “Arte Eficien-
te”. Nele, Ademar fornece aos
portadores de deficiência física
ou neurológica a oportunidade
de praticarem a pintura artís-
tica através de aulas gratuitas
O artista “professor”: auxílio para melhorar na qualidade de vida e autoestima dos alunos
Julho 2012 | Pausa Cultural 35
semanais. O resultado dessas
aulas pode ser conferido em
diversas exposições que são
promovidas. Muito mais que
quadros e telas, o resultado das
oficinas superam o aspecto vi-
sual: trabalha a autoestima e a
confiança dos alunos e auxilia
nos tratamentos realizados, em
conjunto com a Terapia Ocu-
pacional e a Fisioterapia.
Fomentar a consciência
ecológica e artística é também
reflexo de outro projeto desen-
volvido por Ademar: o “Vida
Ambiente”. Nele, o artista su-
gere a conscientização e a ne-
cessidade de preservação do
meio ambiente, através do de-
senvolvimento
de técnicas sim-
ples de pintura e
desenhos. A ini-
ciativa é desen-
volvida em esco-
las e Centros de
Educação Infantil
(CEI’s) da cidade.
“Muitos podem
não enxergar re-
sultados agora.
Mas eu enxergo os frutos no fu-
turo”, salienta. Nenhum trabalho
e ação social desenvolvida por
Ademar são cobrados. De acor-
do com ele, o retorno obtido su-
pera qualquer valor material.
O artista também leciona
em uma fundação que atende
pessoas carentes na cidade, e
ministra em seu
ateliê aulas para
alunos que não
fazem parte dos
projetos sociais.
Com pouco
tempo – reflexo
de uma agen-
da “apertada”
– Ademar sem-
pre procura um
momento para
atender a todos que solicitam
seus trabalhos.
A sua relação com questões
que envolvem responsabilidade
social instigou o artista a fun-
dar o “Instituto Ademar César”.
Nele, o artista tem como obje-
tivo difundir a arte em todas as
suas formas e utilizá-la como
meio de conscientização de di-
versas carências no meio social.
O Instituto foi fundado na cida-
de de Joinville em 19 de julho
de 2011, a fim de democratizar
a cultura e promover a assistên-
cia social e a cidadania. Ademar
afirma que a iniciativa atenderá
artistas que dificilmente teriam
espaço em outros cenários.
Tantos projetos rendem a
Ademar o carinho dos alunos
e lotação máxima a cada aber-
tura de exposição. “É o mo-
mento que você olha pra trás
e vê o quanto vale a pena tudo
o que foi feito”.
Somente em 2008 ele tomou
a decisão de tracar um novo
caminho
Técnicas de pintura com tinta e lápis de cor servem como terapia para todas as idades
36 Pausa Cultural | Julho 2012
As obras feitas possuem li-
nhas firmes. Quem vê uma
tela colorida por José Souza dos
Santos, 43 anos, não imagina que
toda a arte produzida por ele é
fruto de uma pintura feita apenas
com a boca e o pincel. Há dez
anos, José mergulhou em um rio
e se acidentou gravemente. A fra-
tura na coluna fez com que ele
se tornasse paraplégico. Com as
mãos, é praticamente inviável re-
alizar movimentos precisos. Mas
isso não foi motivo para impos-
sibilitá-lo de fazer qualquer coisa
em sua vida. A habilidade que
José tem com a boca e o pincel
surpreende. Ele afirma que antes
do acidente, nunca havia se dedi-
cado à arte. “Antes de conhecê-la,
parecia que faltava algo dentro de
mim”. Em agosto de 2011, in-
gressou no projeto Arte Eficiente,
de Ademar César, e viu a possibi-
lidade de aprender cada vez mais.
Conforme José, as pinturas com
tinta óleo (desenvolvidas nas au-
las) possuem “uma sofisticação a
mais”. Sofisticação essa que pode
ser facilmente percebida nos qua-
dros feitos por ele.
Anos após o acidente, José
relata que a dedicação à arte co-
laborou para a melhora na sua
qualidade de vida. “Ganhei mais
independência nas minhas ativi-
dades diárias”, comenta. Ele leva
uma vida normal: escreve, acessa
a internet e é claro, faz suas pin-
turas. Em casa, José pratica as
técnicas que aprende nas aulas de
Ademar e comemora: “Já consigo
dominar o pincel”. O ambiente
proporcionado pelas oficinas do
projeto é, segundo ele, de acolhi-
da e amizade. “Lá somos felizes.
O coração da Jane e do Ademar é
muito grande”.
Um artista com superação
no olhar e cada vez mais von-
tade de seguir em frente. Para
José, a arte é muito mais que
um passatempo. “É a parte mais
feliz da minha vida”.
Superação no olhar, na boca e no pincel
José e suas obras em exposição: orgulho e vontade de fazer cada dia mais
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Olhares Urbanos
Para as pequenas aprendizes da arte circense a aula é uma atividade de lazer, além de uma oportunidade de fazer novos amigos
38 Pausa Cultural | Julho 2012
Julho 2012 | Pausa Cultural 39
Respeitável
Público!Cia Roiter Neves traz a magia do circo para Joinville e encanta crianças e adultos
Francine Ribeiro
40 Pausa Cultural | Julho 2012
Elas brincam, se
aquecem, vestem
suas roupas e já
estão prontas para
fazer as acrobacias. Apesar de
muito jovens, sabem que a aca-
demia de circo é uma oportuni-
dade de encontro com as amigas
e também de muita diversão.
Sofia Ramos, Renata Maia,
Luiza Moreira e Isabela Fer-
reira são algumas das crianças
que frequentam a Academia
de Circo da Cia Roiter Neves.
Com idades entre 6 e 7 anos,
a turma – predominantemente
feminina – esbanja graciosida-
de e simpatia. A cama elástica
e a lira (aro circular de metal,
utilizado como trapézio) são
seus objetos preferidos. Nas
suas famílias, não há nenhum
artista circense, o que não as
impediu de demonstrar sua
admiração pelo trabalho des-
ses profissionais.
A turma surgiu em 2011,
Sofia foi uma das primeiras a
ingressar nas aulas. “Depois
que ela falou com a gente, nós
viemos também”, afirma a me-
nina Renata, que estuda no
mesmo colégio de Sofia.
Os sonhos para o futuro das
jovens “artistas”
são muitos. Ape-
sar de nenhuma
delas demons-
trar interesse em
seguir a carreira
artística, não ne-
gam a vontade de
transmitir o que
aprendem nas au-
las semanais.
Entre uma acrobacia e outra,
o elemento fundamental do cir-
co fica nítido nos olhos das alu-
nas: a magia e o encantamento
de estar sobre o palco.
O sonho de ser palhaço
“Todo mundo tem um pa-
lhaço dentro de si”. É assim,
com apenas uma frase, que
André João Mira, de 12 anos,
explica o sonho de se tornar o
palhaço Rapadura. Ele, seu ir-
mão gêmeo Vinícius, e o ami-
go Henrique Bianchetti, mais
conhecido como Rapamole,
formam o trio de palhaços da
Cia Roiter Neves.
A paixão relacionada a tudo
que envolve o circo é eviden-
te. André lembra com carinho
de todas as apresentações e
companhias que assistiu, des-
de as locais até as internacio-
nais. Recorda
dos seus nove
anos, quando
viu um espe-
táculo que lhe
marcou e fez a
vontade de ser
artista ser des-
pertada. “Eu
amo o circo, e
desde que veio
para a cidade um circo que me
marcou muito eu sonho em
ser artista. Aí comecei a fazer
e ele [o irmão] quis fazer tam-
bém e veio junto, mas eu sem-
pre quis ser de circo e ainda
quero!”, conta André.
A principal motivação para
ingressar na academia foi jus-
tamente o encanto pela magia
que até então, era vista somen-
te no picadeiro. Em um dos
circos que visitaram Joinville, o
menino conta que foi convida-
do para ajudar nos espetáculos
e pôde fazer grandes amigos. A
internet é outra ferramenta im-
portante para que ele estabele-
ça contato com artistas e passe
a investir em seu conhecimen-
O brilho nos olhos das alunas revela a magia e o encatamento
do circo
Emanoele [email protected]
Francine [email protected]
Julho 2012 | Pausa Cultural 41
to sobre a cultura circense.
Quando entraram na acade-
mia, os gêmeos dedicaram-se
a aprender a arte do trapézio
e do malabares, mas a habili-
dade para o humor falou mais
alto: eles queriam ser palha-
ços. Foi então que lembraram
de Henrique e convidaram-no
para participar do grupo. “Cha-
mamos o Henrique porque ele
era muito engraçado e já parti-
cipava dos teatros no colégio”,
explica Vinícius.
Com fala de adulto, André
conta que conhece as dificul-
dades em se tornar um artista
circense, mesmo assim, não de-
sanima. “Amo circo e desde pe-
queno gostaria de trabalhar em
um, é o meu sonho”, completa.
Arquivo pessoal
Palhaço mestre, Roiter Neves, orienta os aprendizes Vinícius (no colo), André e Henrique em apresentação no Parque da Cidade
Mães e admiradoras
O objetivo principal era en-
contrar um lugar onde fossem
oferecidas aulas de patinação,
mas a Cia Roiter Neves acabou
cruzando o caminho de Sofia.
Segundo a mãe, Mari Ramos,
o estímulo pela atividade físi-
ca aliado à cultura, foi o que
mais motivou o início das ativi-
dades da filha. Além das aulas
de circo, a menina faz equita-
ção. “Sempre procuro ocupar o
tempo dela”, conta.
Mari percebe o desenvol-
vimento de Sofia durante cada
apresentação e se enche de or-
gulho. “O trabalho feito por esse
grupo é muito sério e merece
42 Pausa Cultural | Julho 2012
Emanoele Girardi
As mães observam enquanto as pequenas se divertem arriscando novas acrobacias
Família circense trouxe a arte para a cidade
destaque”, reforça.
Assim como Mari, Silvia Sou-
za também acompanha os filhos
André e Vinícius nos ensaios.
Conforme ela, desde o início das
aulas já conseguiu perceber uma
melhora no condicionamento fí-
sico e na qualidade de vida dos
meninos. Apesar do esforço se-
manal para conciliar a rotina e
as eventuais apresentações, o
gosto de André e Vinícius pela
cultura circense supera as difi-
culdades. Ela conta que tudo re-
lacionado ao circo desperta nos
garotos grande interesse. Quan-
do se trata do assunto, livros e
filmes são rapidamente “devora-
dos” por eles.
Nas apresentações, a Cia
de Circo Roiter Neves atrai pú-
blico de todas as idades. Mas
com certeza, os aplausos des-
sas mulheres se destacam entre
tantos outros.
Foram quatro gerações que
se dedicaram integralmen-
te a esta cultura milenar. Com
o conhecimento herdado dos
familiares, Roiter Neves de-
cidiu há sete anos, iniciar as
atividades do que chama de
academia: “Aqui não é uma
escola, é importante destacar”.
O objetivo inicial era transmi-
tir os conhecimentos sobre a
cultura circense e contribuir
para a saúde de quem deci-
disse fazer as aulas. “Estamos
com uma geração sedentária e
temos que ajudar essas pesso-
as”, explica Roiter.
A preocupação pontual
acabou despertando o interes-
se do público. A cidade, que
não possuía nenhuma mani-
festação artística na área, pas-
Julho 2012 | Pausa Cultural 43
Emanoele Girardi
A Cia de Circo, formada por artistas convidados, ensina os jovens e também treina para apresentações
As pessoas procuram o circo como forma de se
exercitar
sou a conhecer, aos poucos, o
trabalho do circo, e a compa-
nhia ganhou espaço. Confor-
me Roiter, no início houve di-
ficuldades. “Não tínhamos um
lugar para os ensaios, nem di-
vulgação nem uma boa quan-
tidade de alunos”, lembra.
Com o passar do
tempo, o grupo
se estabilizou e
mais pessoas se
interessaram pe-
las aulas.
Hoje, três
turmas ensaiam
todas as terças
e quintas, por
uma hora: crian-
ças (entre seis e
sete anos); adolescentes (até 14
anos) e o grupo de profissionais
que integram a Cia de Circo.
Griselda Arce Neves, es-
posa de Roiter, explica que o
perfil das aulas na academia
se diferencia se comparados
a uma escola. “Sabemos que
aqui, cada um tem seu tempo”.
Ela observa que alguns alunos
apresentam maior flexibilidade
e aptidão para exercícios físi-
cos, já outros necessitam de um
tempo maior para se habituar à
rotina. Há também grande di-
versidade no que diz respeito às
características dos alunos. Mui-
tos procuram a companhia para
realizarem uma atividade física,
já outros possuem o desejo de
seguir a carreira de artista. “Para
se dedicar ao circo, a pessoa
tem que ter facilidade em se
exercitar, possuir elasticidade,
mas acima de
tudo, amar o
que faz”, salien-
ta Griselda.
Incentivos
Agora, ela
consegue perce-
ber mudanças no
que diz respeito à
aceitação da arte
circense na cidade. Através dos
projetos de incentivo a Cultura
(Mecenato Municipal), a Cia de
Circo Roiter Neves passou a se
apresentar em diversos eventos e
com isso, oportunizar aos alunos e
profissionais ampliarem suas per-
formances. Os anos de atuação
da família Roiter Neves já trazem
reflexos extremamente positivos
e colaboram para uma mudança
na percepção do que realmente é
o circo. Crianças, jovens e adultos
já conseguem enxergá-lo como
um espaço de interação, aprendi-
zagem e cultura.
Um local para fazer e apreciar Arte
A Casa da Cultura é um espaço dedicado à educação artística de jovens e adultos de Joinville e região que existe desde 1967
Fachada da Casa da Cultura antes do início das reformas
Juli Rossi/Divulgação
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A cultura e a arte
sempre foram pre-
ceitos cultivados
pela tradição ale-
mã e, consequentemente, sempre
fizeram parte de Joinville. Entre-
tanto, antes de surgir um espaço
de democratização e dissemina-
ção de cultura na cidade, a arte
concentrava-se como atividade
para mulheres, com aulas particu-
lares em casa de pintura em tela
ou em porcelanas. A delicada arte
era dedicada aos mais ricos.
Foi então que, pensando em
uma forma de reunir pessoas in-
teressadas no assunto, em 1967,
por iniciativa de uma professora,
surgiu a Escola de Artes Fritz Alt.
A escola se mudou duas vezes até
se juntar à Escola Municipal de
Ballet e à Escola de Música Villa-
Lobos e conquistar a sede própria
como Casa da Cultura Fausto
Rocha Júnior, na década de 80.
Tudo isso foi conquistado com
o desenvolvimento profissional e
acadêmico dos professores que
começaram a Casa da Cultura.
Além das grandes escolas uni-
das desde o início, o local também
possui a Galeria Municipal de Arte
Victor Kursancew, programas de
extensão comunitária, arte na es-
cola e, ainda este ano oficialmen-
te, contará com a Escola Livre de
Artes Cênicas de Joinville. A Casa
da Cultura faz parte da história dos
joinvilenses como um local de reu-
nião de vários tipos de arte. Em-
bora hoje as atividades artísticas te-
nham se disseminado pela cidade,
o espaço continua marcando pre-
sença na memória dos moradores.
“Se você perguntar pra qualquer
um em Joinville, é difícil quem não
tenha passado por aqui, ou que te-
nha um parente ou um amigo que
já fez atividades aqui, isso pra mim
é história viva”,
comenta a coor-
denadora da Casa
da Cultura, Silvia
Pillotto.
Os próprios
coordenadores
têm histórias
com a Casa. Ro-
bson Benta, pro-
fessor e coorde-
nador de teatro
da Casa, veio de Cachoeira do
Sul, no Rio Grande do Sul, para
Joinville com o desejo de fazer
teatro. Correu por toda a cida-
de, no mês das férias em julho,
todas as escolas estavam fecha-
das e descobriu a Casa da Cul-
tura. “Fiquei em Joinville porque
conheci a Casa da Cultura, foi
quem me abrigou”, lembra.
A professora e coordenadora
da Escola de Artes Fritz Alt, San-
dra Almeida começou como aluna
e não tinha a intenção de lecionar.
Mas foi convidada e há 25 anos
trabalha na Casa. Já a coordena-
dora geral, Silvia, veio de outra
cidade na época em que Joinville
era uma cidade mais tradicional.
Formada em Artes Visuais, traba-
lhava no INSS e quando conheceu
a Casa da Cultura a impressão não
poderia ser outra: “me apaixonei”,
conta. Começou como aluna e
evoluiu, uniu sua
história à história
da Casa.
Segundo Sil-
via, a Casa da
Cultura continua
contribuindo para
o desenvolvimen-
to da arte na cida-
de porque é um
patrimônio mate-
rial e imaterial. A
arquitetura e a história têm tanto
valor quanto o conhecimento que
repassa. É um reduto de arte. “A
nossa Casa da Cultura é reconhe-
cida em nível de Brasil e a estrutu-
ra, mesmo que agora esteja num
Emanoele [email protected]
A ideia era criar um local para reunir pessoas interessadas
em arte
Memória
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período de reformas, é uma das
melhores, tanto física quanto das
Escolas”, salienta.
Para ingressar nos cursos
da instituição não é preciso um
currículo artístico ou portifólio,
basta querer. Alunos a partir dos
cinco anos e sem limite de idade
são aceitos. O professor Robson
Benta lembra que teve um alu-
no de 85 anos estudando teatro.
As inscrições são feitas todos
os anos – alguns cursos, há ins-
crições semestrais – na própria
sede da Casa da Cultura e o va-
lor da mensalidade é simbólico,
R$ 45 reais. Ainda assim, alunos
que não tenham condições de
pagar, passam por uma avaliação
para conseguir bolsa de estudos.
“Uma verdade é que a Casa não
comporta a quantidade de pes-
soas que gostaria de fazer um
curso de artes e então os progra-
mas de extensão tentam acolher
outra parcela da comunidade”,
destaca Robson.
Arte de fora
Mesmo pensado como um es-
paço centralizador da arte em Join-
ville, a Casa da Cultura difunde e
multiplica a arte que transcende
as paredes da instituição. Isso não
só porque manifestações artísticas
se formaram por toda a cidade ao
longo dos anos, mas também por-
que a própria entidade possui dois
projetos fora da classe: Programa
de Extensão Comunitária e Pro-
grama Arte na Escola, este pratica-
do em todo o país.
Os programas de extensão são
realizados dentro e fora da Casa e
comportam todas as modalidades
artísticas das escolas: dança, tea-
tro, música e artes plásticas. Arte
na Escola é voltado, principalmen-
te, para professores de escolas pú-
blicas. Já o Programa de Extensão
é ministrado em parceria com a
prefeitura e faculdades, por isso é
realizado com grupos de institui-
ções como o do Serviços Orga-
nizados de Inclusão Social (Sois),
do Centro de Atenção Psicossocial
Dê Lírios, ou do Núcleo de Assis-
tência Integral ao Paciente Espe-
cial (Naipe).
“No Naipe temos um trabalho
bastante forte, dentro do Progra-
ma Joinville Cidade Acessível,
temos oficinas de teatro com os
deficientes intelectuais e em Par-
ceria com o Instituto Ímpar, de-
senvolvemos também atividades
para os pais e os profissionais do
local”, relata Robson.
Novidade na cidade
“Estamos na fase final de
implantação da Escola Livre
de Artes Cênicas, é um marco
para Joinville”, ressalta a coor-
denadora da Casa da Cultura,
Silvia Pillotto. A novidade já
foi encaminhada para se tornar
projeto de lei. O processo é de-
morado, mas as atividades es-
tão programadas para começar
Aula da Escola Municipal de Ballet de Joinville aberta aos pais que ocorreu na Estação da Memória
Divulgação
no segundo semestre de 2012.
A ideia surgiu para suprir uma
carência da cidade. “O teatro é
uma atividade bastante procura-
da e faltava na cidade uma escola
pública para isso, não só de tea-
tro de artes cênicas, a Escola vai
abordar dança, circo e também
ópera”, explica Robson.
Uma das ideias do projeto é
oferecer capacitação diferencia-
da para os professores que tra-
balham com alunos especiais,
contribuindo também para os
projetos de extensão.
Visão crítica do cenário
Sobre o cenário cultural em
Joinville, os professores e coor-
denadores veem grande poten-
cial, concordam que cresceu e
se desenvolveu, mas ainda há
o que melhorar quanto a in-
centivos públicos e até quanto
à comunidade.
Para Robson, a cidade demo-
rou para assumir que é uma cidade
grande e apesar do potencial, fal-
tam espaços para a disseminação
da cultura. “Há uma carência de
público, mas isso também se deve
ao fato de não haver teatro públi-
co de verdade em Joinville. Nós
temos um potencial gigante e ar-
tistas excelentes em todas as áreas
que acabamos “exportando” por
não enxergarem oportunidades
aqui”, afirma.
Segundo Silvia, a comu-
nidade cobra investimentos,
mas ainda deixa a cultura em
segundo plano, pois prioriza
sempre educação e saúde. Ain-
da assim, a área avançou nas
políticas públicas nos últimos
anos com a criação do Conse-
lho Municipal de Cultura, em
que os assuntos começaram a
ser mais debatidos.
Silvia acredita que o que falta
não só em Joinville, mas em todo
o Brasil é o sentimento de perten-
cimento. “As pessoas querem que
as coisas aconteçam, mas não
querem se envolver, não querem
lutar para isso. Acho que é papel
da Casa da Cultura, como espa-
ço público, levantar discussões
como essas”, enfatiza.
A reforma
Em agosto de 2011 o prédio
da Casa da Cultura foi interditado
pela Vigilância Sanitária e as ativi-
dades tiveram que mudar de lugar.
O prédio provisório localizado no
Centro da cidade, comporta quase
todos os alunos, apenas a Escola
de Ballet passou a ter aulas na Es-
tação da Memória.
As reformas na insfraestrutu-
ra da Casa da Cultura já começa-
ram e tem prazo legal de térmi-
no de seis meses. As atividades
continuam normalmente no pré-
dio provisório.
Oficinas durante a Semana do Ceramista, atividade promovida pela Escola de Artes Fritz Alt
Divulgação
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Flãen observa o desenho antigo e faz os primeiros traços para melhorá-lo, inspirado pelas caveiras mexicanas
As cores dacidade
Na Lente
A street arte – arte das ruas – sofre muito preconceito. Mesmo em
espaços liberados pelo Estado, ver alguém grafitando num muro ou numa
praça ainda atrai olhares de reprovação. O grafite é logo confundido com
a pichação e a arte, com vandalismo.
O pichador é aquele que marca território, geralmente em locais
proibidos deixa a sua assinatura. Já o grafiteiro é quem colore a cidade.
Para fazer o grafite, é preciso saber, ter a técnica dos traços e respeitar o
espaço público. O grafiteiro faz arte e seus desenhos, sejam bombs, tags,
trow-up ou stencil, têm significados. “É como se colocasse os sonhos em
rascunhos no papel”, conta o designer e grafiteiro Fabio Tadaieski, o Flãen.
O grafite é uma das extensões da cultura hip hop e, em Joinville,
começou a ser descriminalizado com o “Encontro das ruas”, segmento do
festival de dança que existe desde 2006. Com a Casa do Hip Hop e Arte
Inclusiva (CHHAI), e o apoio da Companhia de Desenvolvimento e
Urbanização de Joinville (Conurb) na liberação de alguns espaços públicos
para a arte de rua, ficou mais fácil colorir a cidade. Confira o olhar da
Pausa Cultural sobre a arte urbana em Joinville.
Texto e Fotos:
Emanoele Girardi e Francine Ribeiro
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Para finalizar um trabalho de grafitti art é preciso tempo e habilidade, mas os primeiros traços de quem entende o que faz, já revelam uma obra de arte
Hoje, grafiteiros são chamados por interessados, mas antes “garimpavam” locais para a arte
Enquanto trabalha em sua grafitti art, Flãen conta sobre os lugares onde o grafite é liberado.
Acho o máximo poder abrir meu material aqui no meio da praca e fazer minha arte, sem ter que me esconder - Flãen
No grafite em locais públicos todos respeitam o seu espaço. Desde as obras mais realistas até os Bombs (letras em formato diferenciado), para invadir o pedaço do outro artista é preciso permissão
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Em uma das ruas mais movimentadas da cidade, entre carros, ônibus e prédios,
o grafite. Os desenhos que iluminam a calçada, mesmo à sombra.
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Traços e feições são retratadas nas paredes e muros da cidade.
Ajudam a compor o cenário entre placas e plantas, portões e janelas.
Em uma das praças centrais da cidade, uma pergunta instigante aos
pedestres que por ali passam. É a arte fazendo pensar
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Mensagens religiosas ou desenhos
rico em cores e detalhes. Diferenças
e semelhanças: eles chamam a
atenção e colorem a cidade
Locais: Praça Lauro Müller (Centro)
Praça Tiradentes (bairro Floresta)
Muros da Cidadela Cultural Antártica (Centro)
Muros do Centreventos Cau Hansen (bairro América)
Agradecimentos: Fábio Tadaieski (Flãen)
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A alma negra do Radio Gump
Junte o vocal de Carolina Luz (Os Impublicáveis), a guitarra de
Marcelo Rizzatti, (Os Depira), o baixo de Jean Reeck (Carbonaran-
tes), os teclados de Diego Tartaglia (Nhanduti) e a bateria de André
Cidral, (ex-Coice de Mula) e você terá uma fusão de rock setentista,
indie, soul e blues que, diante das primeiras provas, dará um caldo e
tanto num futuro muito, muito próximo. Por hora, a Radio Gump -
formada há poucos meses, sem que nenhum integrante tenha deixa-
do suas bandas e funções originais - jogou na rede duas amostras,
“KM” e “Intenso”, que o supergrupo joinvilense enviou pra masteri-
zação nos estúdios Abbey Road, em Londres.
“A Radio Gump é a realização de um sonho. Sempre quis cantar
blues e soul com músicos talentosos e com vontade. Conseguimos
uma química muito boa, pois criamos com facilidade, as músicas vão
aparecendo”, celebra Carolina, sem citar que o rock setentista e o
funk fornecem base segura pra obra em andamento do grupo. Obra
essa que foi fantasticamente acolhida pelo público que lotou o Tea-
tro Juarez Machado no primeiro show (completo) da Radio Gump,
no dia 26 de maio. Ali, se viu uma banda segura, com alguns hits a
caminho, sacolejante e cenicamente sedutora, graças aos dotes dra-
máticos da cantora de voz poderosa.
“Depois deste show, os planos são terminar de gravar dez músicas
(seis delas já em processo final de gravação) pra poder lançar o primei-
ro disco muito até o final do ano ou início do ano que vem”, conta
Rizzatti. As sessões acontecem no estúdio Mojo, do baterista André
Cidral, e a ideia é repetir o que foi feito com as duas faixas citadas
acima: masterizar o material no mítico Abbey Road. Uma prova adi-
cional de que há seriedade e investimento num projeto que, além da
música de qualidade, quer prezar pelo profissionalismo.
Rubens HerbstJornalista e Colunista
Crítica | Música
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58 Pausa Cultural | Julho 2012
Nunca subestime o traba-
lho de um jornalista. Menos
ainda se esse jornalista acumu-
lar duas, três, CINCO funções,
como as de entrevistar, redi-
gir, editar, fotografar, diagra-
mar... e por aí vai.
Planejar (e executar) uma
revista não é tarefa fácil, mas é
gratificante. Depois de meses
pensando em um projeto para
apresentar à faculdade, reali-
zamos mais. Executamos o
início de um projeto maior, de
um sonho, talvez. Um projeto
de vida.
Foram noites mal dormidas
escrevendo e diagramando.
Foram telefonemas, e-mails,
busca de ruas em mapas, ôni-
bus apertados, chuva, sol, e
muita vontade de fazer o me-
lhor para chegar a este resulta-
do. Conhecemos pessoas di-
postas que acreditam e
valorizam toda ação destinada
a disseminação de arte e cultu-
ra em Joinville. E, depois de
tudo isso, podemos dizer que
valeu a pena.
Descobrimos o que é fazer
um publicação séria e com con-
teúdo relevante. Aprendemos a
pensar no público e até a sermos
um pouco empreendedoras -
além de experimentar a faceta
do jornalista multifunções.
Ver um projeto tomar for-
ma, e divulgar os projetos for-
mados por diferentes artistas
da cidade foi uma experiência
enriquecedora. Dos estúdios
de gravações às camas elásti-
cas e trapézios. Dos galpões
de teatro às praças da cidade.
Cada momento nos fez acredi-
tar cada dia mais que o cami-
nho a seguir era realmente o
certo. Sentimos prazer em
apurar, fotografar, escrever e
produzir todos os detalhes das
pautas executadas. Nos desco-
brimos um pouco artistas. En-
tão, eis aqui nossa obra!
Um projeto para a vida
Emanoele Girardi e
Francine Ribeiro
!
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