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PARTITURAS DO SILÊNCIO poéticas do movente

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PARTITURAS DO SILÊNCIOpoéticas do movente

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Conselho Editorial

Alex Primo – UFRGSÁlvaro Nunes Larangeira – UTP

André Parente – UFRJCarla Rodrigues – PUC-Rio

Ciro Marcondes Filho – USPCristiane Freitas Gutfreind – PUCRSEdgard de Assis Carvalho – PUC-SP

Erick Felinto – UERJFrancisco Rüdiger – PUCRS

Giovana Scareli – UFSJJ. Roberto Whitaker Penteado – ESPM

João Freire Filho – UFRJJuremir Machado da Silva – PUCRSMarcelo Rubin de Lima – UFRGS

Maria Immacolata Vassallo de Lopes – USPMichel Maffesoli – Paris V

Muniz Sodré – UFRJPhilippe Joron – Montpellier III

Pierre le Quéau – GrenobleRenato Janine Ribeiro – USPRose de Melo Rocha – ESPM

Sandra Mara Corazza – UFRGSSara Viola Rodrigues – UFRGS

Tania Mara Galli Fonseca – UFRGSVicente Molina Neto – UFRGS

Apoio:

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PARTITURAS DO SILÊNCIOpoéticas do movente

Luciano Bedin da CostaEduardo Guedes Pacheco

Organizadores

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Copyright © Autores, 2017

Capa: Humberto Nunes (sobre ilustração de Titi Bertol)Projeto gráfico e editoração: Niura Fernanda SouzaRevisão: Simone CeréRevisão gráfica: Miriam GressEditor: Luis Antônio Paim Gomes

Editora Meridional Ltda.Av. Osvaldo Aranha, 440, cj. 101 – Bom Fim Cep: 90035-190 – Porto Alegre/RSFone: (0xx51) 3311.4082www.editorasulina.com.bre-mail: [email protected]

Dezembro/2017

Todos os direitos desta edição são reservados para: EDITORA MERIDIONAL LTDA.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Bibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza – CRB 10/960

P273 Partituras do silêncio: poéticas do movente / organizadores: Lu- ciano Bedin da Costa e Eduardo Guedes Pacheco. -- Porto Alegre: Sulina, 2017. 206 p.

ISBN: 978-85-205-0805-3

1. Educação. 2. Ensino de Educação. 3. Sociologia da Educação. I. Costa, Luciano Bedin da. II. Pacheco, Eduardo Guedes.

CDD: 370.19 CDU: 37

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À comunidade de amigos e amigas que fazem deste livro um testemunho vivo do silêncio.

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Ir ao silêncio, medir-se pelo desconhecido, pelo incognoscí-vel. Não absolutamente para aprender o que ignoramos, mas, ao contrário, para desaprender a fim de não sermos mais que escuta do infinito onde soçobramos, escuta do naufrágio.

Edmond Jabès, O livro das margens

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Sumário

Para que não sejamos estelionatários sonoros de nós mesmos .............. 11 Luciano Bedin da Costa & Eduardo Guedes Pacheco

MODO 1: DAS fABRICAçõES ...........................................................17 Riscos e ritmos .................................................................................... 19 Paola Zordan

MODO 2: DOS CORPOS ....................................................................29 Gesto. ...................................................................................................31 Anna Leticia Ventre & Elisandro Rodrigues [Er]ótica .............................................................................................. 41 Paula Mastroberti A língua do vivo: ressonâncias entre a arte e a clínica ...................... 55 Hélia Borges

MODO 3: DAS IMAGENS ...................................................................67 Ar ....................................................................................................... 69 Cristiano Bedin da Costa Fantasmagoria ....................................................................................79 Silas Borges Monteiro

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MODO 4: DO DANçAR ......................................................................95 Movimentos ........................................................................................97 Angélica Vier Munhoz Entrecorpo: o corpo como poesia cotidiana e a dança como caminho para esta experiência.....................................107 Anne Plein da Silva

MODO 5: DO MONOLINGUISMO EDUCACIONAL ................ 115 Cleberiar ............................................................................................. 117 Rafaela da Rocha Leite Metoditar ........................................................................................... 121 Adriele Rezende Formação de professores. .................................................................. 123 Morgana Kremer

MODO 6: DO INExPRIMívEL .......................................................125 Impossível ..........................................................................................127 Janniny G. Kierniew & Simone Moschen Poemanifestante ................................................................................ 137 Bruna Johann Nery

MODO 7: DA ESCUTA AO SILÊNCIO ........................................... 141 Devir-escuta .......................................................................................143 Glauber Resende Domingues Cacofonia ...........................................................................................157 Géssica Carneiro da Rosa Arqueologias do silêncio: música, filosofia e poesia .......................163 Simone Rasslan Repensar o ensino musical: proposta para uma escola de música ................................................................ 181 Silvio Ferraz

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Para que não sejamos estelionatários sonoros de nós mesmos

Luciano Bedin da Costa1 Eduardo Guedes Pacheco2

Nenhum som teme o silêncio que o aborta,e não há silêncio que não esteja grávido de som.

John Cage, Silence

Devemos, talvez, a John Cage a nossa curiosidade por desejar-mos o silêncio como substância de manipulação, silêncio que não se confunde com a simples ausência de sons, com a castradora ex-periência de uma falta. Com Cage o silêncio torna-se provocativo, impertinente, não respondendo a nenhum domínio disciplinar exclusivo, dado que se insurge no murmúrio incessante da vida,

1 Docente da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).2 Professor Adjunto da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) nos cursos de Licenciatura em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro; Professor do Programa de Pós- Graduação em Educação Profissional da UERGS.

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tornando íntimos corpos díspares e até então intocáveis. Mas o silêncio de Cage é, antes, uma atualização do que a própria física já havia anunciado, do fato de som & silêncio serem termos sia-meses indescritivelmente dobrados entre si, levando-nos a pensar que tudo é som e ao mesmo tempo silêncio. Colocar-se a escutar passa a ser uma experiência com esse duplo-siamês que a assedia, visto que o objeto a que supostamente se escuta [escuta-se um ob-jeto sempre por suposição] comporta uma reserva incondicional de sonoridades virtuais que o extrapola e o faz insistentemente derivar. Trata-se de uma experiência que, para Pascal Quignard, é sempre outra que pessoal, experiência ao mesmo tempo pré- interna e pré-externa, experiência transportante, pânica e sines-tésica, invadindo os membros do corpo, apoderando-se do pulso cardíaco e do ritmo involuntário da respiração. Muito antes de nos tornarmos emissores sonoros voluntários, obedecemos a uma so-nata materna, preexistente soprano, em surdina, quente, envol-vente. Uma polirritmia física, cardíaca, depois gritante e respira-tória, depois esfaimada e chorosa, depois matriz e balbuciante e somente após linguística. A conquista ou aquisição da linguagem é, antes, um acontecimento paleontofônico que expõe à superfície da fala as destinerrâncias das línguas que a precedem. O falante- em-nós é isto que fala e que também escreve em um território agenciado por sonoridades que respondem a ordens diversas, impondo-lhes também uma série de interpelações. A escuta de outrem [deste outro que, como nós, fala sempre de um lugar in-domesticável] exige que sejamos um tanto compositores, que, no encontro com o outro, possamos nos inventar em partituras que

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nos tornam com-possíveis uns aos outros. No entanto, a exigên-cia por composição é também uma exigência por resistência, por uma recusa ou estagnação ativa diante de determinados regimes de obediência que insistem em pautar não somente as claves dos nossos encontros, como seus compassos, articulações, durações, acentos, pausas e interrupções.

Chegamos então ao ponto que anima a irrupção deste livro em sua tentativa de pensar a vida enquanto fabricação contínua de partituras que se lançam para além e aquém de nós mesmos, par-tituras com as quais partilhamos a estranha sensação de sermos fabricantes e também fabricados. Partituras que aprendemos a ler e a também compor à medida que habitamos e desertamos de-terminados territórios, partituras que ensi(g)nam modos de vida possíveis, que se inscrevem em uma miríade de signos mundanos que pluralizam a experiência cotidiana de produção e reprodução de sentido na relação com o outro. No entanto, essa vida a tempo rubato que levamos por vezes rouba o que nos parece essencial. Sequestrados de nossas partituras infraleves e das semínimas que agenciam a cadência dos corpos, gestos e ânimos, acabamos por nos tornar estelionatários sonoros de nós mesmos. Neste jogo de forças entre partituras diversas, nos vemos inexoravelmente mergulhados em uma experiência ético-política, algo com o qual concordamos. No entanto, o que neste livro buscamos evocar é a dimensão poiética que alimenta esta relação, de poéticas conecta-das a uma escuta em tonalidade menor, a escutas microtonais que possam acolher a insurgência do silêncio e a abertura a devires extraberrantes.

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Os ensaios que compõem este livro soam para nós enquan-to partituras do movente, partituras de pensamento-escrita que se inscrevem à revelia das palavras e do monolinguismo da vida, de um silêncio que nunca se emancipa totalmente do movimento dos corpos que o produzem e que por ele são também produzidos. Partituras de um silêncio que não se dissocia da performance que as anima, inscrito sob signo latente e latejante de gestos quase in-tangíveis, dispersando-se sob as rochas do cotidiano onde nossos corpos ricocheteiam de partitura em partitura.

Organizamos este volume aspirando a uma espécie de co-munidade do silêncio. Os autores e autoras do livro são pesqui-sadores, docentes, artistas e estudantes que, sob sinetes diversos, gentilmente aceitaram o desafio de pensar-escrever a partir deste silêncio em tonalidade menor, deste estar à escuta tão bem enun-ciado por Jean-Luc Nancy. Embora o livro possa ser lido de qual-quer maneira, organizamos os ensaios em pequenos conjuntos a partir de sete modos que nos parecem comuns: Da fabricação (modo 1); Dos corpos (modo 2); Das imagens (modo 3); Do dan-çar (modo 4); Do monolinguismo educacional (modo 5); Do inex-primível (modo 6); Da escuta ao silêncio (modo 7). Uma primeira leitura já será suficiente para perceber que as fronteiras entre os modos são desguarnecidas, que seus limites, mais do que impre-cisos, são meramente ficcionais.

Partituras do Silêncio: poéticas do movente é fruto do en-contro entre Pedagogia do Silêncio3 e Dicionário Raciocinado das

3 Pesquisa coordenada por Eduardo Guedes Pacheco (Universidade Estadual do Rio Gran-de do Sul – UERGS) junto ao grupo de pesquisa ARTDIFE – Arte, Diferença e Educação,

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Licenciaturas4, pesquisas que compartilham uma vontade de re-sistência à monofonia de determinados discursos educacionais. Faz-se necessário grifar que este livro foi concebido em 2017 sob surdina de um inverno pós-Golpe. Enquanto organizadores do li-vro gostaríamos que os leitores também o lessem enquanto livro de combate, de combates poéticos em prol do movente, do que nas ruas, nos corpos, nos gestos, nas palavras e nos tímpanos aca-ba sempre por se movimentar. Uma educação pelo silêncio exige- nos corpos, ouvidos, línguas e nervos afiados.

ReferênciasCAGE, John. Silence. 50th ed. Middletown: Wesleyan University Press,

2011.

CAMPOS, Augusto de. Música de invenção. São Paulo: Perspectiva, 1998.

NANCY, Jean-Luc. À escuta. Belo Horizonte: Edições Chão da Feira, 2014.

QUIGNARD, Pascal. Ódio à música. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul – FAPERGS. Esta pesquisa parte das provocações feitas pelo compositor John Cage para problematizar a atuação docente de professores de Arte, tendo o silêncio como conceito provocador para invenções sobre aulas em Artes Visuais, Dança, Música e Teatro. 4 Pesquisa coordenada por Luciano Bedin da Costa (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS) e financiada pelo CNPq, recurso que possibilitou a organização deste livro.