palavra fiandeira - número 4

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Edição especial de Natal. Apresentamos crônicas de cinco distintos autores que, em comum, compactuaram um único tema: o Natal. São visões ímpares e estilos marcantes que temos a honra de partilhar aqui. Do Brasil, recebemos a autora Angela Leite Souza, o escritor Edson Gabriel Garcia e a publicitária Jéssica Lima. De Portugal, apresentamos a escritora Carmen Ezequiel e, da Espanha, a cronista e blogueira Montserrat Llagostera Vilaró, que fotografou ainda um pedacinho da sua Valencia publicado nas páginas 9 e 10. Palavra Fiandeira, bimestral, quarta edição, novembro/dezembro de 2011. A revista é uma criação de Marciano Vasques.

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Page 1: Palavra Fiandeira - Número 4

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número 4bimestral - nov./dez.2011

São Paulo/Brasil

número 3set./out.201128 páginas

número 2jul./ago.201140 páginas

número 1mai./jun.201148 páginas

Edições anteriores

Em http://issuu.com/palavrafiandeira/docs/palavra_fiandeira_terceira_edicao

Em http://issuu.com/palavrafiandeira/docs/palavra_fiandeira_segunda_edicao

Em http://issuu.com/palavrafiandeira/docs/palavra_fiandeira_primeira_edicao

Page 3: Palavra Fiandeira - Número 4

À espera dos guizos

O ano finda.

Nesta edição especial, reproduzimos crônicas de cinco distintos autores que, em comum,

compactuaram um único tema: o Natal.

São visões ímpares e estilos marcantes que temos a honra de partilhar aqui. Do Brasil, recebemos a autora Angela Leite Souza, o

escritor Edson Gabriel Garcia e a publicitária Jéssica Lima. De Portugal, apresentamos a

escritora Carmen Ezequiel e, da Espanha, a cronista e blogueira Montserrat Llagostera

Vilaró, que fotografou ainda um pedacinho da sua Valencia publicado nas páginas 9 e 10.

Aos melhores votos festivos, apresentamos a quarta edição de Palavra Fiandeira. Que as

comemorações natalinas observadas em tantas e diversas nações sejam acalantadas pelas

páginas a seguir.

Os textos foram originalmente publicados no blog na manhã de

24 de dezembro de 2010

Page 4: Palavra Fiandeira - Número 4

pautas e entrevistasenvie sugestões para: [email protected]

recebimento de materialremessa de livros (releases, resenhas, etc.) para:Marciano Vasquescaixa postal 53125 CEP: 08201-970 - S. Paulo/ SP/Brasil

e-books para:[email protected]

conteúdo promocional (fotos, releases, press kit...) para:[email protected]

comercialpara anunciar, fazer uma doação, patrocinar a revista ou parte dela: [email protected]

Palavra Fiandeira não aceita publicidade redacional

reprodução de conteúdoO material presente nesta re-vista não pode ser reproduzi-do sem autorização expressa dos editores. São permitidas citações textuais e apresenta-ções em outros meios, desde que observados os contextos e a autoria dos textos e de quaisquer outros materiais

publicados em Palavra Fiandeira. Deve-se atribuir a fonte (a revista) e nomear diretamente o autor do mate-rial citado. Caso possível, re-comenda-se estabelecer link ou indicação para o conteú-do original, mencionando preferencialmente a data da publicação e os números de página (s) e edição. Pode-se compartilhar em redes sociais. O conteúdo desta re-vista está sob a Lei nº 9.610 que versa sobre os direitos autorais. Não é permitido o uso comercial do conteúdo da revista e qualquer tipo de criação de obra derivada, não podendo o solicitante al-terar, transformar ou criar so-bre o conteúdo requisitado ou citado, sem prévia autori-zação dos responsáveis pela revista. Para reprodução de material em mídias ou veícu-los comerciais, o pedido de-verá ser feito à direção da revista e só poderá ser utili-zado após autorização ex-pressa (preferencialmente em papel). Solicitações para: [email protected]

recebimento de releases, demais informações e contato [email protected]

idealizaçãoMarciano Vasques

coordenação editorialMarciano Vasques

edição e redaçãoDanilo VasquesMarciano Vasques

assessoria de comunicaçãoJéssica Lima

correspondentesRocío L' Amar (Chile)Silvia Luvizio (Uruguai)Carmen Ezequiel (Portugal)Rafael Lascano (Guatemala)

no Brasil:Maria José Amaral (PR)Marília Chartune (RS)Efigênia Coutinho (SC)

projeto gráfico e diagramaçãoDanilo Vasques

editoria de arteDaniela Vasques

jornalista responsávelDanilo Vasques

direção-geralMarciano Vasques

Palavra Fiandeira é essencialmente um espaço democrático. Primamos pela liber-dade de expressão e observamos dentro de suas margens transitarem diversas lingua-gens e diversos olhares, múltiplos olhares: um plural de opiniões e de dizeres. Aqui a palavra é um pássaro sem fronteiras. Buscamos a difusão da literatura e de outras artes. Propomos a exposição do pensamento contemporâneo em variadas manifesta-ções, seja ele ficcional ou científico. Embora não concorde necessariamente com to-das as opiniões emitidas em suas páginas, a revista afirma-se como um meio em que a palavra é privilegiada. A troca de ideias aqui é bem-vinda.

Marciano Vasques

EXPEDIENTE

Palavra Fiandeira é uma criação de Marciano Vasques

Page 5: Palavra Fiandeira - Número 4

PPaaiinneell66--77

JJaanneellaa

88--99

CCrrôônniiccaass NNaattaalliinnaass::EEddssoonn GGaabbrriieell GGaarrcciiaa

1122--1144

AAnnggeellaa LLeeiittee SSoouuzzaa1155--1166

CCaarrmmeenn EEzzeeqquuiieell1177--2200

MMoonnttsseerrrraatt LLllaaggoosstteerraa VViillaarróó2211

JJééssssiiccaa LLiimmaa2222--2233

LLeennttee2244--2255

QQuuaaddrriinnhhooss2266--2277

ÍNDICE

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Page 6: Palavra Fiandeira - Número 4

Gigliola Cinqueti em cena de Dio, como ti amo!(dir.: Miguel Iglesias, Espanha-Itália, 1966)reprodução/divulgação

Painel

| Palavra Fiandeira | novembro/dezembro 2011 | número 46

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Janela

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Valencia, Espanha 10/11/2011por Montserrat Llagostera Vilaró

autora da crônica Una niña detrás de una ventanita leia na página 21

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Que fique bem claro: eu não sou jornalista. Gosto muito, é verda-de, de escrever, mas daí a me considerar um jornalista vai uma distância imensa. Apesar disso, todas as vezes que o Fer-nando do jornal "A Voz da Comarca" me chama para rabis-car algumas ideias e publicá-las, eu atendo imediatamente.

Não foi diferente dessa vez, quan-do ele me pediu que fizesse uma entrevista com o Zé do Bucho, o sujeito que mais vezes se vestiu de Papai Noel na cidade. O Zé preparava sua aposentadoria e este seria seu último natal noeli-no. Além da homenagem, a entrevista poderia registrar as memórias de muitos de nós.

Encantado com o convite, aceitei na hora. Acertamos a data de en-trega do material, marquei o dia da entrevista com o Zé do Bucho, preparei o roteiro das perguntas... e lá fui eu conversar com ele.

Conversamos durante umas du-as horas e o roteiro de pergun-

tas que eu havia preparado serviu muito pouco. Eu até já sa-bia disso. Uma vez tinha lido num desses manuais de reda-ção, que uma boa entrevista acontece mesmo sem roteiro. Se a conversa é boa, se o assun-to é interessante, a própria en-trevista dita o rumo e o roteiro. Gravei toda a conversa e anotei muita coisa. O relato a seguir é apenas uma parte muito peque-na do que conversamos e ano-tei. É apenas o que cabe no jornal. O resto, guardei comigo, nas fitas, nas anotações, na lem-brança. Mantive o relato em pri-meira pessoa, como se o próprio Papai Noel estivesse con-versando com o leitor. Talvez as-sim pudesse passar um pouco mais de emoção.

“Eu não nasci Papai Noel. Eu me tornei Papai Noel, por acaso, e depois por vontade própria e prazer. A primeira vez que me chamaram para ser Papai Noel eu achei estranho, mas topei. Embora fossebarrigaem volta da cintura já ia grande e a bar-ba, que sempre usei para escon-der uma cicatriz no rosto, ameaçava a presença de fios brancos. O convite veio do pro-vedor da Santa Casa, o único hospital da região, recém inau-gurado, parecendo um jeito no-

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Memórias de um Papai Noel

por Edson Gabriel Garciaescritor (Brasil)

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vo de tornar menos penoso o dia de natal das crianças hospita-lizadas. Um tanto desengonça-do na roupa larga feita de cetim vermelho e com a barba de algo-dão branco, vivi minha primeira experiência como Papai Noel. Os olhos enfraquecidos das crian-ças adoentadas encheram-se de brilho e vivacidade com a mi-nha presença. Elas deram pou-ca atenção aos brinquedos recebidos. Não porque fossem coisinhas mixurucas, que eram mesmo, mas talvez porque o pre-sente que quisessem ganhar, ver-dadeiramente, era a sua saúde de volta. E me pediam isso com os olhos, com a mão estendida, com o sorriso. Naquele dia apren-di, para sempre, que o maior pre-sente de natal que uma pessoa pode receber é a sua saúde.....................................................

Também me lembro de uma vez, uns dois ou três anos de-pois, de uma véspera de natal, eu vestido com a mesma roupa-gem, na Casa da Criança. Mora-vam nessa creche umas dez ou doze crianças sem família, acolhi-das pelo Padre Miguel, o religioso mais dinâmico e empre-endedor que passou por nós. Uma semana antes do natal eu passei por lá, devidamente para-mentado de Papai Noel, e recebi

das mãos das crianças uma car-tinha com o seu pedido. O pre-sente mais pedido foi “uma família”. Eu li carta por carta, mesmo sabendo que não pode-ria atender o seu pedido. Quan-do voltei, acho que sofri mais do que as crianças. Sabia do seu se-gredo, do seu pedido e sabia que não podia atendê-las. Inven-tava uma alegria para distribuir os presentes doados e tentava dar a minha cota para a felicida-de delas. Hoje, muitas dessas cri-anças são adultos e tentam construir uma família que nunca tiveram. Quando nos encontra-mos, trocamos um sorriso ligei-ro, cúmplices desses segredos dos tempos da infância triste. ....................................................

Eu me acostumei tanto à perso-nagem do bom velhinho que passei a aceitar qualquer convi-te, qualquer proposta e oferta. Não podia mais viver sem a fan-tasia do Papai Noel. Queria por-que queria viver a alegria da felicidade passageira do natal com crianças. Durante um bom tempo da minha vida, tive a sensação de que o único tempo que importava era os dias de dezembro, quando eu saía da personagem Zé do Bucho e vi-via a verdade do Papai Noel. Os outros trezentos e tantos dias

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do ano eram apenas figurantes, preparação para viver o Papai No-el. Eu contava dia por dia a espera do natal, o reinado breve de Papai Noel e a alegria das crianças. ....................................................

Aos poucos, no entanto, esse Pa-pai Noel senhor dos olhares cari-nhosos, dono da alegria pura e conhecedor de todos os segre-dos e desejos íntimos das crian-ças foi desaparecendo. Foi sendo substituído por um Papai Noel profissional, de sorriso fal-so, de paciência curta. Gente que entrava na roupa vermelha sem brilho por poucas horas, em troca de pagamento mingua-do. Pior ainda: seu comportamen-to era movido pelo interesse de quem o contratava, do dono da loja, do patrão, do político. E em vez de lidar com a alegria das cri-anças, sua tarefa principal pas-sou a ser outra, chamar a atenção dos pais, potenciais con-sumidores das mercadorias anun-ciadas. Aceitei alguns desses trabalhos. Tentava sobreviver, buscava resgatar o prazer de vi-ver o Papai Noel e encontrar, mesmo que disfarçado de vende-dor, crianças alegres, olhares cu-riosos, emoções soltas.

Precisava trocar essa energia com as crianças, pois pensava

que só nós sabíamos da impor-tância do Papai Noel em sua vida.....................................................

Os tempos mudaram muito. Uns dizem que para melhor; outros dizem que tudo piorou. O Papai Noel invadiu a televisão e o computador, trocou o silêncio da noite pelo barulho da porta da loja. As cartas das crianças foram substituídas por recados mais práticos e diretos. O sonho com o presente desejado foi tro-cado pelo brinquedo antecipado e anunciado na tevê.

Não há mais espaço para um velho e autêntico Papai Noel como eu.”

Entreguei a matéria para o Fer-nando. Foi publicada como eu es-crevi. Logo chegou o tempo do natal e fiquei sabendo que o Zé do Bucho vestiu-se de Papai Noel, por conta própria, pela última vez. Gastou toda sua economia da caderneta de poupança com-prando presentes para crianças. Visitou as duas creches e o bairro mais pobre da cidade distribuin-do os presentes. Gastou toda sua poupança, mas deve ter acumula-do energia para tocar adiante sua vida, pensei comigo.

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Era dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Perto de cinco horas da tarde. Papai lia uma revista, sentado na poltrona de sempre. Mamãe, no cabeleireiro, com minhas irmãs. Da cozinha chegava o perfume delicioso de peru assando e eu, sem nada para fazer, comecei a saborear aquela ceia em pensamento. Ficava sempre assim, ansioso para que a noite viesse depressa, com as gostosuras e as surpresas de todos os anos.

A campainha tocou. Fui atender.

- Pai, tem uma mulher aí na porta, com um barrigão de todo tamanho. Está pedindo um auxílio, diz que qualquer coisa serve. Vamos dar ou não?

Papai fez uma cara de aborrecimento, tirou os óculos devagar, levantou-se com mais preguiça ainda. Mas falou:

- Acho que devemos, né, Henrique? Afinal, hoje é um dia próprio pra essas coisas...

Foi até a sala, já com a carteira na mão. Eu ia rente a ele.

Acho que quando viu a moça - tão magrinha, no final da gravidez, mal vestida, olhar triste - tudo isso mexeu com o coração dele. O meu também tinha ficado pequenininho ao pensar na situação dela comparada com a nossa.

A dona falou sem jeito:

- O doutor me desculpa, eu num queria aperrear o senhor não. É que eu tô com tanta fome...e assim desse jeito (apontou para a grande saliência no vestido) a gente num arruma serviço.

Papai olhou pra mim, como se não soubesse o quê fazer. Henrique, disse ele afinal, vê o quê que temos de comida pra dar a ela.

Nós dois sabíamos que havia o suficiente para alimentar umas trinta pessoas ã vontade. O cheiro que vinha lá de dentro confirmava isso. Entra, falei, vamos preparar um prato pra você.

Maria comeu por dois, ou até mais. Quando estava acabando,

Presente de Natal

por Angela Leite de Souzaescritora (Brasil )

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chegaram minhas irmãs e mamãe, tiveram pena dela, arranjaram uma roupa larga, tomou banho, ficou com outra cara. Dorme aqui hoje, disseram. Ela ficou. E também ganhou um presente que inventaram na última hora - um vidro de perfume, ou um talco, não me lembro direito.

Deitamos tarde e só fui acordar ao meio-dia. Estranhei o som que vinha do fundo da casa. Corri até lá e dei com mamãe e Fernanda curvadas sobre a cama, no quarto de despejo, que já foi de empregada. Maria estava lá, com um menino deitado ao seu lado, começando a mamar.

Então era o choro dele que tinha escutado!

Hoje faz um ano que Jesus Henrique nasceu. Maria continua morando com a gente. Ela ajuda mamãe em tudo e nós costumamos dizer que foi um presente que caiu do céu no último Natal. Mas ela acha que não, que foi o contrário:

- Se ocês num fosse tão bons, onde é que estaria agora com o meu menino?

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uma reflexão

Muitos são os símbolos (o presépio, a árvore, o pai natal, os presentes no sapatinho, as luzes, a missa do galo, a ceia e o bacalhau, …), que fazem do Natal aquilo que é, e a simbologia; quer seja vista por uns como fazendo parte desse espírito, quer seja desacreditada por outros; existe, entendendo-a, cada um, à sua maneira.

O NATAL? A própria palavra é carregada de significado (como todas as outras), designa nascimento, sendo isso que se celebra: o nascimento do menino (Jesus ou não, porque quem não acredita em Jesus Cristo ou é agnóstico (não religioso ou não católico), certamente não celebrará esta data. Mas, é certo que quem celebra acredita? Ou, não? Nesta nota, evito recorrer à crença o que inevitavelmente lhe está subjacente e que é motivo pelo qual se enaltece o mesmo.)

Ainda assim, tenta-se fazer uma abordagem meramente conscienciosa em que SER é motivo bastante para a data em si.

Evidenciando o nascimento de uma qualquer criança, o que é natural e comum em quase todo o lugar, é a celebração desse dia. Os pais, as famílias e os amigos comemoram, ficam felizes e são ofertados presentes pela nova vida. Desse ajuntamento vive-se na alegria, no entusiasmo, em união e na paz. Esta é uma analogia eficaz, mesmo se o dia celebrado seja ou não esse, mesmo se os ícones sejam cultos excessivamente valorizados, mesmo que somente nessa data se lembre que o dar ou doar é um milagre do amor entre os homens.

Toda a pessoa tem, dentro de si, a capacidade de amar e de dar, quer seja com um carinho, um abraço, um gesto ou um sorriso, um agasalho ou um alimento. Cada um deles pode fazer a diferença, mesmo que ínfima, em alguém… alimentando o corpo, aquecendo a mente e dando alegria. É isto que representa o Natal.

Ainda se lembra do conto de Charles Dickens, “A Christmas

Sombras Comuns e o Nãtãlis

por Carmen Ezequielescritora (Portugal)

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Carol” (O fantasma do Natal passado)? Se no século XIX a sociedade de consumo já era criticada, parece-me que continua a existir esta ganância do ter com uma intensidade e fervor cada vez maiores.

Será que neste Natal nos recordaremos deste conto? Será que agradeceremos pelo que temos e mais importante, pelo que somos?

uma entrevista

Qual é o sentido de se celebrar o Natal?

Natal – Quando era criança o Natal representava muito para mim. Era o momento em que a família se reunia para celebrar o nascimento do Menino Jesus. Nos tempos que correm… cada vez mais se constata que essa razão deixou de ser importante na nossa sociedade e a festa da família perdeu o sentido festivo que tinha, dando lugar a inúmeras preocupações e acções pouco ou nada festivas: o consumismo desenfreado, a preocupação e o sentimento de obrigação em comprar presentes porque “parece mal” não dar… Faz todo o sentido em celebrar o Natal se o

adequássemos aos tempos e às necessidades de hoje, sentindo a vontade de ajudar quem precisa, de modo a que todos os indivíduos possam ter um Natal digno: comida, roupa, carinho… é tão importante que todos contribuam…

(há sempre uma estrela que brilha mais forte e que te ilumina o caminho… é

necessário acreditar sempre)

Por que se oferecem presentes?

N – Na sociedade actual, os presentes representam algo de palpável e são o reflexo da mesma. Algo representativo seria uma mão cheia de beijinhos e abraços, o primeiro passo para um mundo melhor.

(um beijinho e um abraço para ti também)

O que é cantar ao Menino? E, que Menino é esse?

N – Referimo-nos ao Menino Jesus e “Cantar ao Menino” é dar graças do seu nascimento, trazendo desse modo muita alegria a todos os crentes.

(Curiosidade do Natal de Elvas [Alto Alentejo, Portugal]: Ainda hoje em

noites de Natal, é frequente escutar no silêncio das ruas, o som das

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roncas, como memória dos tempos, ressoando cavas e roucas, a

acompanhar o compasso lento, dos cantares dos homens, que

embuçados nos seus capotes, arrostam o frio da invernia para

reverenciar o Menino Deus. Solenes, vão cuspindo na mão, para lubrificar

a pele, como também fazem para empunhar a enxada e cantam coisas

belas e ingénuas que o coração lhes dita.)

Quem é o Pai Natal? E porque não há uma Mãe Natal?

N – Sem rodeios nem teorias, respondo a esta pergunta da forma mais sincera possível. A meu ver, o pai natal é retratado como um senhor com ar envelhecido, com grandes barbas brancas e que usa umas vestimentas vermelhas e brancas e um barrete das mesmas cores. Pelos visto, este senhor é tão imortal ou intemporal como Deus. Nasceu para passar um ano inteiro a trabalhar, para no dia 25 de Dezembro de todos os anos entregar prendas a todas as pessoas do mundo especialmente às criancinhas. Partilha ainda com Deus o poder da omnipresença, pois agora consegue estar em todos os centros comerciais do nosso país (e do mundo inteiro), a tirar

fotos com as criancinhas e, como estamos em tempos de crise ainda se faz pagar bem por isso! Não querendo ser demasiado reducionista nesta resposta, a minha forma de ver a imagem do pai natal é meramente consumista e comercial. O fato de não existir mãe natal, não sei se existe ou não, mas duvido que um senhor com esta idade e com tanto trabalho, consiga organizar a sua vida sem uma mulher, eu penso que ela existe, encontra-se é nos bastidores a fazer com que o pai natal consiga continuar a existir.

(é esta a ironia do Natal: personificar a sua magia e dar-lhe um nome)

Um símbolo natalício para cada uma das palavras seguintes.

Nascimento = alegriaAmor = nascimentoUnião = pazPaz = bondadeAlegria = amorBondade = amor

N – Porque tudo está em si mesmo, e só depois, o menino Jesus, a sagrada família, a vaca, a ovelha, a pinha, os reis magos, as oferendas, a mirra, a estrela, a empada, as fatias

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| Palavra Fiandeira | novembro/dezembro 2011 | número 4

douradas, o peru, a árvore, etc.Que mensagem deveria ser sinónimo de Natal?

N – “Há mais felicidade em dar do que há em receber” (Actos dos Apóstolos, 20:35). Cliché ou não, esta é a mais significativa mensagem de Natal, dar sem esperar receber em troca. Todos nós já experimentamos a sensação, mas se fosse assim tão fácil, o mundo seria muito diferente.

(é fácil dar, o difícil é não receber)

No fundo o que permanece é a família, o amor, o carinho e a amizade… o bem que provocamos no outro. Porque o que é sorrir sem que ninguém olhe; o que é rir sem que ninguém oiça; o que é olhar sem nada para ver; o que é sentir sem vida para abraçar? O que importa é sermos o outro com os nossos olhos e dizermos o que se sente no momento.

É aqui que agradeço aos meus colegas e amigos, pela reflexão e partilha sobre o tema, quer tenha sido fácil ou difícil para uns, estranho ou irónico para outros, mas que pela importância que cada um deles representa para mim relevo. À Isabel, ao Rúben, à Mónica; ao Luís, à Sónia e ao Duarte e a todos os outros que nos acompanham.

Um FELIZ NATAL com carinho.

um pedido

Pedido… a um Natal verdadeiro… Este ano pelo Natal não quero receber nenhuma prenda especial. Não quero ser dona de um materialismo ao acaso e forçado, para se trocar pela consoada.

Não quero ser mais uma a reencaminhar postais e ou imagens de Natal, acumuladas nas caixas de correio, frias e perdidas num mundo virtual.

Quero antes tolerância!

Para poder chegar ao fim de cada dia e agradecer vivamente a minha vida!

Para ter a capacidade de saber perdoar aqueles que, diariamente, me julgam pela diferença.

Para não mais ser dona de um pessimismo louco, tresloucado e contagiante que irradia das pessoas que tudo têm.

Para poder desfrutar dos outros e do amor deles, enquanto coexistirmos e não depois…

Para poder ser melhor e dormir feliz.

Aqui, fala-se de tudo e de nada.De tudo o que somos.De nada que ninguém é.

Bem-haja e um SANTO e FELIZ NATAL!

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número 4 | novembro/dezembro 2011 | Palavra Fiandeira |

Tranquilita respiro y aspiro y voy paseando por mi pensamiento retrocediendo en el tiempo, hasta que llego a una calle del Barrio de Gracia, situada en Barcelona.

Detrás de una ventanita de cristal trasparente está una niña de unos siete años.

Yo la saludo, ¿Como te llamas?ella- Montserrat yo- Te llamas como yo, que casualidad.ella- ¿Quieres entrar en mi casa?yo- l Claro que si!.

A medida que voy entrando a través de la planta baja, voy reconociendo todos los muebles y todas las estancias de la casa que vivi hasta los 21 años, cuando me casé.

Luego va buscar a una señora, a un señor y a un niño de unos 14 años.

ella- Amiga te presento a mis padres y a mi hermanoyo- ¡Carmaba, pero si también son los míos!. Déjame que los abrace.

ella- Ahora te voy a enseñar el Pesebre que con cuanto amor a construido papá.yo- ¡Oh que bonito!ella- Sabes he visto como lo construia en el taller, moldeando las montañas con sacos y yeso y luego las ha pintado.yo- Y no le falta detalle, ¡que manos que tiene.!ella- Mira, mira, si hasta se puede pasa del día a la noche con este interruptor.yo- ¡Oh y tiene luna y estrellas!ella- Y los pastorcitos alrededor de una olla y el angel anuncándoles la buenanueva; los tres reyes magos, la mujer que lava en el rio.yo- ¿Pero sabes lo que más me gusta amiguita?.ella- No.yo- Pues lo que más me gusta es el Nacimiento.La cueva. San José y la Virgen, al lado del Niño mirándolo con amor. y detrás el buey y la mula dándoles calor.yo (mirando al padre)- Gracias papá por estas ilusiones y amor con que construias el Pesebre.ella (abrazándome y dandome un beso)- Gracias por venir en mi busca, ya ves¡que manos tenía papá!.

Poco a poco vuelvo al presente, sentada en mi ordenador he ido escribiendo este encuentro con mi niña interior.

Una niña detrás de una ventanita

por Montserrat Llagostera Vilarócronista (Espanha)

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Page 22: Palavra Fiandeira - Número 4

Manoel, menino do interior. Seus oito anos o desenhavam com uma estatura menor àquela que deveria ter. Canelas finas, Manoel adora mascar chiclete. Seu pai é sapateiro, e sua mãe lava e passa roupas para fora.

A época que o menino mais gosta acabara de chegar: O Natal. Todo ano, Manoel escrevia, com ajuda de sua mãe, uma carta ao Papai Noel. Manoel é menino esforçado, gosta de ir à escola.

*

O ano decorreu com dificuldades para família de Manoel. O dinheiro suado garantia a comida e as contas. Com muito esforço, fizeram uma festinha de aniversário para celebrar o oitavo ano do filho único, em março.

*

Dezembro nascia com as luzes da cidadela a piscar. O garoto

ficava encantado com a beleza do Natal. Sem dúvidas, era a época que mais gostava.

Como era de costume, após terminar a carta com o pedido natalino, a mãe a levaria aos correios. O Pólo Norte encontrava-se perto dali. O menino Manoel queria pedalar uma bicicleta.

A ceia na casa de Manoel costumava reunir toda a família - tios, primos, avós... Jantavam após a missa do galo, celebrada na igreja da pracinha. Família religiosa a de Manoel.

“Talvez o Papai Noel não traga sua bicicleta, querido”, disse a mãe em meio aos protestos do filho de que foi um bom menino e não haveria motivos para isso acontecer.

A verdade é que os pais de Manoel não podiam comprar a bicicleta naquele momento. “Final de ano é sempre mais apertado”, lamentava o pai que já havia comprado um carrinho de brinquedo. A mãe explicou que nem sempre o Papai Noel pode presentear com aquilo que as crianças pedem. Com os olhos cheios d’água, o menino disse que seus amigos já haviam recebido aquilo que pediram. E que o Papai Noel deu mais de um presente a cada um deles.

Luzes

por Jéssica Limapublicitária (Brasil)

| Palavra Fiandeira | novembro/dezembro 2011 | número 422

Page 23: Palavra Fiandeira - Número 4

Era sabido que os amigos do menino Manoel não passavam as dificuldades do garoto. Manoel era de família simples do interior do Nordeste. Manoel era amigo do filho do prefeito e do filho do dono do hotel. Manoel não podia ter os mesmos brinquedos que eles, não podia tomar sorvete todos os dias, nem comprar uma roupa nova a cada aniversário da cidade.

*

Na noite da véspera, Manoel não foi à missa. Seus pais estavam preocupados. Manoel não podia estar com seus amigos. O filho do prefeito foi passar as festas com a mãe na capital, e o filho do hoteleiro ajudava os pais com a festa do hotel.

“Ele deve estar chateado por causa da bicicleta”, deduziu o pai. “Deixe-o sozinho. Logo ele aparece”.

Manoel andava sem rumo pelas ruas, pensando que não ganharia a bicicleta do bom velhinho. “Mas eu fui um bom menino!”.

A mãe, no caminho de volta da missa, encontrou seu garoto sentado na guia duma calçada, perto de casa. Preferiu deixá-lo com seus pensamentos.

O relógio apontou 00h00. Todos se abraçavam na casa de Manoel. Cinco minutos depois, o menino adentrou a sala, observando em sua família a união e o companheirismo.

Abaixo do pinheiro iluminado estava o carrinho que o Papai Noel, assim compreendido por Manoel, deixara para ele. E o pai prometeu presenteá-lo com uma bicicleta em seu aniversário logo breve. O menino chorou e disse que não precisava se preocupar com isso. E que Papai Noel lembrou-se dele, e isso era o que mais importava.

Todos confraternizaram numa celebração de alegria e amor. Ali, naquele momento, o menino Manoel entendeu o verdadeiro significado do Natal.

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adolescente visita decoração de Natal em centro de compras em São Paulo

fotos: Danilo Vasques/2008

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fotografia de Danilo Vasques