p havrenne tf dez-2008

Upload: renato-tavares

Post on 06-Jul-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    1/148

     

    PIERRE PAUL DRIZUL HAVRENNE

    Análise e Implantação de Modelos de Reposiçãode Estoques em um Complexo Hospitalar 

    Trabalho de Formatura apresentado àEscola Politécnica da Universidade de

    São Paulo para a obtenção doTítulo de Engenheiro de Produção

    São Paulo2008

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    2/148

     

    PIERRE PAUL DRIZUL HAVRENNE

    Análise e Implantação de Modelos de Reposiçãode Estoques em um Complexo Hospitalar 

    Trabalho de Formatura apresentado àEscola Politécnica da Universidade de

    São Paulo para a obtenção doTítulo de Engenheiro de Produção

    Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio de Mesquita

    São Paulo2008

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    3/148

     

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    4/148

     

     À minha família e amigos pelos

    anos de apoio, companhia e

    compreensão.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    5/148

     

    AGRADECIMENTOS

    À minha família, pelos anos de apoio incondicional.

    Aos meus grandes amigos, pelos momentos de descontração e alegrias.

    À Professora Débora Ronconi, pela cobrança inicial e valiosos conselhos.

    Ao Professor Marco Aurélio de Mesquita, pela orientação e horas de dedicação.

    À Poli, pelas oportunidades e o aprendizado que levarei para toda vida.

    À Paula por toda atenção, paciência e carinho.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    6/148

     

    RESUMO

    O trabalho teve seu foco na análise da gestão de estoques de medicamentos e

    materiais de um complexo hospitalar. Numa primeira etapa, foi realizada uma análise

    crítica dos processos, evidenciando a necessidade da criação e implantação de um

    modelo de reposição de estoques. O estudo seguiu com o desenvolvimento de um

    modelo de simulação que fosse capaz de representar o funcionamento do sistema real.

    Com ele, foram testados diversos modelos, destacando-se o que apresentou melhordesempenho. A seguir, realizou-se a validação deste modelo testando-o para um período

    subseqüente e comparando seu desempenho com indicadores reais. Finalmente, é feita

    uma discussão sobre a implantação do modelo e outras propostas de melhoria dos

    processos de gestão de estoques.

    Palavras-chave: Gestão de Estoques, Simulação, Administração Hospitalar.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    7/148

     

    ABSTRACT

    This paper focuses on the analysis of medical materials inventory in a hospital.

    In a preliminary phase of study, the processes of purchase and internal distribution of

    materials are scrutinized, showing the inefficiency of the current procedures. In order to

    implement an efficient stock model to control the hospital’s inventory a simulation

    model was created. Supported by the use simulation model using historic data, a stock

    model was selected following to a validation stage in which it had its results comparedagainst hospital’s performance for the same period. Finally, the implementations of this

    model as well as of the other suggestions made are discussed.

    Keywords: Inventory Management, Simulation, Hospital Management.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    8/148

     

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1.1 REPARTIÇÃO DE FUNCIONÁRIOS POR ATIVIDADE EM 2006................................................................... 14 

    FIGURA 1.2 REPARTIÇÃO DA RECEITA POR ATIVIDADE EM 2006 ........................................................................... . 14 FIGURA 1.3 DIVISÃO DA FUNDAÇÃO BAGATELLE POR ATIVIDADES ....................................................................... 16 

    FIGURA 1.4 DISTRIBUIÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS POR CENTRO DE ATIVIDADE ......................................................... . 16 

    FIGURA 1.5 DISTRIBUIÇÃO DOS RESULTADOS EM 2007 .......................................................................................... 17 

    FIGURA 1.6 PREJUÍZOS ANUAIS DO MSPB ............................................................ .................................................. 18 

    FIGURA 1.7 LUCROS GERADOS PELO HAD ............................................................................................................. 19 

    FIGURA 1.8 CUSTO PARA SUSTENTAR OS SETORES DE APOIO ................................................... ............................... 21 

    FIGURA 1.9 ORGANIZAÇÃO LIGADA AOS ESTOQUES ....................................................... ........................................ 26 

    FIGURA 1.10 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................... ........................................................... . 32 

    FIGURA 2.1 MÉTODOS DE PREVISÃO DE DEMANDA (LUSTOSA ET AL., 2008) .......................................................... 34 

    FIGURA 2.2 ESTOQUES DE ACORDO COM O ESTADO ATUAL E FUNÇÃO SEGUINTE (TERSINE, 1994) ........................ 35 

    FIGURA 2.3 CLASSIFICAÇÃO DE MODELOS DE ESTOQUE (LUSTOSA ET AL., 2008) .................................................. 37 

    FIGURA 2.4 CURVAS PARA DEFINIÇÃO DO NÍVEL DE SERVIÇO (BALLOU, 1998) ..................................................... . 38 

    FIGURA 2.5 DILEMA CUSTO X RECEITA EM FUNÇÃO DO NÍVEL DE SERVIÇO (BALLOU, 1998) ................................. 39 

    FIGURA 2.6 PRINCÍPIO PARA DEFINIÇÃO DO LOTE ECONÔMICO............................................................................... 40 

    FIGURA 2.7 EXEMPLO DE CURVA ABC (LUSTOSA ET AL., 2008) ............................................................................ 42 

    FIGURA 2.8 EXEMPLO DE ESTOQUE GERIDO PELO MODELO DE REVISÃO PERIÓDICA ............................................... 46 

    FIGURA 2.9 EXEMPLO DE ESTOQUE GERIDO PELO MODELO DE REVISÃO CONTÍNUA ............................................... 48 

    FIGURA 2.10 ESTOQUE DENTE-DE-SERRA (ADAPTADO DE LUSTOSA, 2008) ........................................................... 49 

    FIGURA 2.11 EFEITOS DAS INCERTEZAS DE DEMANDA E LEAD-TIME ..................................................................... . 49 

    FIGURA 2.12 DILEMA ENTRE NÍVEL DE SERVIÇO X ESTOQUE DE SEGURANÇA (TERSINE, 1994) .............................. 50 

    FIGURA 2.13 SIMULAÇÃO DE ESTOQUES (ADAPTADO DE DIAS, 2003) ......................................................... ........... 53 

    FIGURA 3.1 FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE REABASTECIMENTO DO ESTOQUE CENTRAL ...................................... 56 

    FIGURA 3.2 FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE DISTRIBUIÇÃO INTERNA DE MATERIAIS ............................................. 58 

    FIGURA 4.1 METODOLOGIA PROPOSTA PARA SIMULAÇÃO (BATEMAN ET AL., 1997) .............................................. 64 

    FIGURA 4.2 REPRESENTAÇÃO DO MODELO SIMULADO ........................................................................................... 69 

    FIGURA 4.3 PROCESSO DE REPOSIÇÃO DO ESTOQUE CENTRAL ........................................................... ..................... 70 FIGURA 4.4 FLUXO DE DISTRIBUIÇÃO INTERNA DE MATERIAIS .......................................................... ..................... 71 

    FIGURA 4.5 ALGORITMO UTILIZADO PARA PARAMETRIZAÇÃO DOS MODELOS DE REPOSIÇÃO ................................ 78 

    FIGURA 5.1 RESULTADOS DA PRIMEIRA FASE ....................................................... .................................................. 94 

    FIGURA 5.2 MELHORES RESULTADOS DE CADA FASE ............................................................................................. 98 

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    9/148

     

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1.1 NÍVEL MÉDIO DE OCUPAÇÃO DO MSPB EM 2007 ........................................................... ..................... 18 

    TABELA 1.2 HOSPITAIS NO BRASIL ........................................................................................................................ 31 TABELA 2.1 TIPOS E FUNÇÕES DE ESTOQUE .......................................................... .................................................. 36 

    TABELA 2.2 MODELOS ESTUDADOS ........................................................... ........................................................... . 43 

    TABELA 2.3 EXEMPLO DA REGRA DO 2K ................................................................................................................. 45 

    TABELA 3.1 DIAGNÓSTICO DOS PROCESSOS ........................................................................................................... 61 

    TABELA 4.1 CONSUMO E ESTOQUE MÉDIO DE MATERIAIS POR CLASSE DE PRODUTO EM 2007 ................................ 66 

    TABELA 4.2 NÍVEIS DE SERVIÇO PARA CADA FAMÍLIA DE PRODUTO .................................................. ..................... 67 

    TABELA 4.3 CONSUMO DE MATERIAIS NOS PRINCIPAIS DEPARTAMENTOS EM 2007 ................................................ 67 

    TABELA 4.4 VOLUME DE COMPRAS POR FORNECEDOR EM 2007 ........................................................ ..................... 68 

    TABELA 4.5 RESUMO DAS CONDIÇÕES DE ENTREGA DOS FORNECEDORES ................................................... ........... 69 

    TABELA 4.6 DADOS DE ENTRADA DO MODELO ..................................................... .................................................. 74 

    TABELA 4.7 DADOS DO PRODUTO ANALISADO ....................................................................................................... 76 

    TABELA 4.8 CÁLCULO DO PARÂMETRO S PELO MÉTODO ADOTADO ...................................................................... . 77 

    TABELA 4.9 VALORES ADMITIDOS PARA O PARÂMETRO DE PERIODICIDADE .......................................................... 79 

    TABELA 4.10 MODELOS DE REPOSIÇÃO ESTUDADOS COM AS RESPECTIVAS NOTAÇÕES .......................................... 79 

    TABELA 4.11 INFORMAÇÕES DISPONÍVEIS NA BASE DE DADOS DO MODELO ........................................................... 84 

    TABELA 4.12 RESUMO DO SIMULADOR INDIVIDUAL ...................................................... ........................................ 86 

    TABELA 4.13 RESUMO DO SIMULADOR GLOBAL ............................................................ ........................................ 88 

    TABELA 4.14 INDICADORES CALCULADOS PELO SIMULADOR GLOBAL ................................................................... 89 

    TABELA 5.1 PARÂMETROS UTILIZADOS PARA SIMULAÇÃO ...................................................... ............................... 93 

    TABELA 5.2 RESUMO DE RESULTADOS DA PRIMEIRA FASE ..................................................................................... 95 

    TABELA 5.3 RESUMO DOS RESULTADOS DA SEGUNDA FASE .................................................... ............................... 95 

    TABELA 5.4 MELHORES PARÂMETROS ENCONTRADOS ................................................... ........................................ 96 

    TABELA 5.5 RESULTADOS DA TERCEIRA FASE ...................................................... .................................................. 97 

    TABELA 5.6 RESULTADOS DA QUARTA FASE ........................................................ .................................................. 97 

    TABELA 5.7 DISTRIBUIÇÃO DE SKU’S POR MODELO DE REPOSIÇÃO NO CENÁRIO SELECIONADO ........................... 99 

    TABELA 5.8 RESULTADOS DA ETAPA DE VALIDAÇÃO ..................................................... ...................................... 101 TABELA 6.1 ESTOQUES DEPARTAMENTAIS .......................................................................................................... 103 

    TABELA 6.2 INDICADORES PROPOSTOS ....................................................... .......................................................... 106 

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    10/148

     

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ARH  Agences Régionales de l’Hospitalisation (Agências Regionais Hospitalares)

    B Variável Binária

    CEst  Custo de Estoque

    CT  Custo diário de Transporte

    CBC Centre du Bénévolat et de la Charité  (Centro de caridade)

    CFInc  Custo Fixo de aumento de nível de infra-estrutura

    CFEst  Custo Fixo relativo ao tamanho da estrutura 

    CTarm  Custo Total de Armazenagem

    CTPed  Custo Total de Pedido

    CTTrans  Custo Total de Transporte

    CVPed  Custo Variável por pedido 

    CVT Custo Variável Total

    d Demanda média diária

    D Demanda média esperada no período

    EstDisCP  Estoque Disponível a Curto PrazoEMédio  Estoque Médio

    EOI Economic Order Interval (Período econômico)

    EOQ Economic Order Quantity (Lote econômico)

    EPUSP Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

    ES Estoque de Segurança

    F Forecast  (Previsão de demanda)

    Fr Frete

    Frq Franquia 

    h Custo de Armazenagem (% do valor total)

    HAD  L’Hôpital à Domicile (Hospitalização a Domicílio)

    IFSI  Institut de Formation de Soins Infirmiers (Escola de Enfermaria)

    k Fator de segurança 

    L Custo de pedido por produto

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    11/148

     

    LPed  Limite de pedidos por nível de infra-estrutura

    LT  Lead-time

    MRO  Maintenance, Repair and Operation

    MRP  Material Requirements PlanningMSPB  Maison de Santé Protestante de Bordeaux-Bagatelle (Hospital)

    NPed  Número total de pedidos 

    NS Nível de Serviço

    OC Ordem de Compra 

    P Período Médio de Cobertura 

    Pun  Preço unitário

    POQ Periodic Order Quantity (Lote periódico)

    PPS Prospective payment systems

    PSPH Participant au Service Public Hospitalier   (Participante do Serviço Público

    Hospitalar)

    Q Tamanho do lote

    R Período de Revisão

    RC Revisão Contínua

    RP Revisão Periódica

    s Ponto de Pedido

    S Nível Máximo de Estoque

    sd  Desvio-padrão da demanda 

    slt  Desvio-padrão do lead-time 

    SCT Supply Chain Transformation

    SKU Stock Keeping UnitSSR Soins de Suite – Réadaptation (Centro Terapêutico)

    T2A Tarification à l’Activité  (Tarifação por Atividade)

    TR Tempo de Reação 

    VMI Vendor Managed Inventory

    WIP Work in Progress

    Obs.: São utilizadas as notações k€ e M€ significando milhares e milhões de euros,

    respectivamente.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    12/148

     

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO _____________________________________________________________ 13 

    1.1  A EMPRESA .................................................... ........................................................... ............................... 13 1.2  O ESTÁGIO ............................................................................................................................................... 15 1.3  A FUNDAÇÃO BAGATELLE ........................................................... ........................................................... . 15 1.4  O PROJETO ............................................................................................................................................... 24 1.5  APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................................................................... 25 1.6  OBJETIVOS DO ESTUDO ...................................................... ........................................................... ........... 30 1.7  RELEVÂNCIA DO TRABALHO ........................................................ ........................................................... . 30 1.8  ESTRUTURA.............................................................................................................................................. 31 

    CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA_______________________________________________ 33 

    2.1  CONCEITOS BÁSICOS SOBRE A GESTÃO DE ESTOQUES .......................................................... ..................... 33 2.2  MODELOS DE REPOSIÇÃO DE ESTOQUE ............................................................ ........................................ 43 2.3  SIMULAÇÃO DE MODELOS DE REPOSIÇÃO DE ESTOQUE ...................................................... ..................... 52 

    CAPÍTULO 3 - ANÁLISE DOS PROCESSOS DE ESTOQUE ____________________________________ 55 

    3.1  DESCRIÇÃO DOS PROCESSOS ........................................................ ........................................................... . 55 3.2  DIAGNÓSTICO .......................................................................................................................................... 59 

    CAPÍTULO 4 - DESENVOLVIMENTO DO MODELO DE SIMULAÇÃO __________________________ 63 

    4.1  METODOLOGIA APLICADA AO DESENVOLVIMENTO DO MODELO ............................................................. . 63 4.2  OBJETIVOS DA SIMULAÇÃO ...................................................................................................................... 65 4.3  COLETA DE DADOS ................................................... ........................................................... ..................... 65 4.4  CONSTRUÇÃO CONCEITUAL DO MODELO .......................................................... ........................................ 69 4.5  IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO EM SOFTWARE ........................................................... ............................... 83 

    CAPÍTULO 5 - SIMULAÇÃO DE MODELOS DE ESTOQUE ____________________________________ 91 

    5.1  CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................................................ 91 5.2  EXPERIMENTAÇÃO ................................................................................................................................... 93 5.3  VALIDAÇÃO ........................................................................................................................................... 100 

    CAPÍTULO 6 - PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO ____________________________________________ 103 

    6.1  PROPOSTA DE REORGANIZAÇÃO DOS ESTOQUES ....................................................... ............................. 103 6.2  PROPOSTA DE ALTERAÇÕES EM MÉTODOS E PROCEDIMENTOS .............................................................. 105 

    CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES ____________________________________________________________ 109 

    7.1  SÍNTESE .......................................................... ........................................................... ............................. 109 7.2  ANÁLISE CRÍTICA E DESDOBRAMENTOS ................................................................................................ 110 7.3  DESDOBRAMENTOS DO TRABALHO ........................................................ ................................................ 111 7.4  CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................ 111 

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________________________________ 113 

    ANEXO 1 – MODELO DE SIMULAÇÃO ___________________________________________________ 115 

    ANEXO 2 – CENÁRIOS SIMULADOS E RESULTADOS OBTIDOS _____________________________ 117 

    ANEXO 3 – EXTRATO DO MODELO DE REPOSIÇÃO PROPOSTO ____________________________ 119 

    ANEXO 4 – PROPOSTA PARA REPARTIÇÃO DOS FORNECEDORES POR DIA DA SEMANA _____ 121  

    ANEXO 5 – EXTRATO DA PARAMETRIZAÇÃO PROPOSTA PARA OS DEPARTAMENTOS _______ 123 

    APÊNDICE 1 – CÓDIGO VBA DO MODELO DE SIMULAÇÃO ________________________________ 127 

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    13/148

      13 1

    Capítulo 1 - Introdução

    Nos últimos anos, a forma como as instituições de saúde administram seus

    recursos vem sendo transformada. Um estudo realizado por Roth e Dierdonck (1995,pp.04) aponta como principais catalisadores desta mudança “a proliferação de rígidas

    regulamentações governamentais, uma crescente competição entre estabelecimentos e até

    mesmo ações judiciais de pacientes, que levaram à busca de melhorias na qualidade do

    atendimento e diminuição dos custos”.

    A relativa falta, até então, de estudos sobre gestão de materiais e recursos na área

    de saúde fez com que vários dos conceitos de Engenharia de Produção, aplicados

    classicamente ao setor industrial, fossem transpostos à gestão destes serviços. Aadministração de estoques não é exceção: o pioneirismo e a intensa pesquisa sobre o

    assunto tornaram a indústria uma referência para os demais setores.

    Este estudo tem seu foco na análise e implantação de modelos de gestão de

    estoques em um complexo hospitalar.

    Ao longo deste capítulo introdutório, será apresentado o contexto geral do trabalho

    com a apresentação das empresas envolvidas e descrição do problema.

    1.1 A Empresa

    O grupo Capgemini, criado em 1967, é uma das principais empresas francesas

    com mais de 70.000 funcionários e uma receita bruta em 2006 de mais de 7,7 bilhões de

    euros. O grupo tem suas ações listadas na bolsa Euronext  de Paris e, atualmente, faz parte

    do principal índice de ações daquele país, o CAC-40.

    Presente em 36 países, o grupo tem como foco suas atividades nos países da

    Europa Ocidental e nos Estados Unidos, com quase 85% de seu efetivo nestas regiões.Suas atividades principais são serviços de consultoria, tecnologia da informação e

    outsourcing.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    14/148

     14 1

    A Figura 1.1 apresenta a repartição de seus funcionários por atividade.

    Figura 1.1 Repartição de funcionários por atividade em 2006

    Fonte: Capgemini

    Capgemini Consulting

    A Capgemini Consulting, braço responsável pela atividade de consultoria, é

    composta por cerca de 6.000 funcionários e responde por 15% da receita total do grupo,

    como pode-se observar na Figura 1.2. Apesar de representar uma pequena fatia do

    faturamento em comparação às outras atividades, a consultoria é considerada estratégicagraças às suas altas margens de lucro e seu poder de atrair novos projetos para as outras

    áreas. Desta maneira, tornou-se uma prioridade dentro do grupo.

    Figura 1.2 Repartição da receita por atividade em 2006

    Fonte: Capgemini

    59%

    7%

    34%

    Serviços de Consultoria

    Outsourcing

    Tecnologia

    da

    Informação

    Repartição dos funcionários por atividade

    100% = 18 652 funcionários

    46%

    15%

    39%

    Serviços de Consultoria

    Outsourcing

    Tecnologia

    da

    Informação

    Repartição da receita bruta por atividade

    100% = 7 700 M€

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    15/148

      15 1

    Entre seus principais clientes estão: Danone, Air France, SNCF (Société Nationale

    des Chemins de Fer ), EDF (Electricité de France), Louis Vuitton, L’Oréal, PSA Peugeot

    Citroën, Renault e Airbus.

    1.2 O Estágio

    O estágio foi realizado na Capgemini Consulting  de Paris durante os meses de

    março a agosto de 2008, na área de Supply Chain Transformation (SCT).

    A missão do SCT é analisar a cadeia de suprimentos de seu cliente e buscar

    soluções para melhorá-la, tornando-a, dessa maneira, mais competitiva. Entre os

    principais temas abordados nos projetos do grupo estão:

    −  Gestão logística da manutenção e de estoques de peças de reposição;

    −  Planejamento e gerenciamento de centros de distribuição e pontos de venda;

    −  Previsão;

    −  Gestão de estoques;

    −  Estratégia logística;

    −  Seleção de fornecedores;

    −  Processos de produção.

    O papel como estagiário era atuar diretamente nas equipes dos projetos dando

    apoio aos consultores.

    Este trabalho relata a experiência vivida no projeto realizado na Fundação

    Bagatelle focando na parte de gestão dos estoques de medicamentos e materiais

    hospitalares.

    1.3 A Fundação BagatelleA fundação, localizada no sudoeste da França, foi criada em 1863 e hoje tem uma

    importante atuação no setor de saúde. Seu foco principal é a gestão de seu hospital, o

     Maison de Santé Protestante de Bordeaux-Bagatelle  (MSPB). Atualmente, suas

    atividades estão divididas entre sete centros, como ilustrado pela Figura 1.3.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    16/148

     16 1

    Figura 1.3 Divisão da Fundação Bagatelle por atividades

    A fundação conta com um total de 790 funcionários regulares, além de um

    pequeno número de voluntários que auxiliam nas atividades de alguns centros

    gratuitamente. A Figura 1.4 ilustra a divisão dos funcionários.

    Figura 1.4 Distribuição dos funcionários por centro de atividade

    Fonte: Fundação Bagatelle

    Atividades da Fundação Bagatelle

    (MSPB)

    15%

    14%

    9%

    62% MSPB

    HAD

    Gallevant

    Hamilton

    Outros

    Distribuição dos funcionários por Atividade

    100% = 790 funcionários

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    17/148

      17 1

    1.3.1 Centros

    Como ilustrado na Figura 1.3, a Fundação é dividida num total de sete centros,

    todos localizados em seu complexo hospitalar de Talence, na região metropolitana de

    Bordeaux, sendo a gestão de seu hospital o foco central de suas operações.Nos últimos anos, o centro de hospitalização a domicilio (HAD) vem ganhando

    importância. Com altas margens de lucro, teve um crescimento exponencial em sua

    rentabilidade. Saltando de um lucro de pouco mais de 250 k€ em 2004 para mais de três

    milhões de euros em 2007.

    Além do MSPB e do HAD, destacam-se na organização as casas de repouso

    Gallevant e Hamilton e o centro terapêutico (SSR). Os demais setores possuem

    participação e importância restritas dentro da Fundação.No ano de 2007, à exceção do HAD (lucro de 3,4 M€) e do SSR (lucro de 74 k€),

    todas as demais atividades da Fundação acumularam perdas significativas conforme

    mostra a

    Figura 1.5.

    Figura 1.5 Distribuição dos resultados em 2007

    Fonte: Fundação Bagatelle

    Hospital

    O hospital  Maison de Santé Protestante de Bagatelle-Bordeaux  (MSPB) é um

    hospital de grande porte para a região, com um total de 250 leitos. Criado junto com a

    Distribuição dos Resultados no ano de 2007 (k€)

    Hospital-6.143

    OutrosSetores

    -113

    HAD3.385

    Total-2.898

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    18/148

     18 1

    Fundação, conta atualmente com um total de 482 funcionários. Dentre os quais, 80

    médicos de 12 especialidades diferentes, repartidos entre três departamentos principais:

    −  Maternidade

    −  Cirurgia

    −  Medicina geral

    Responsável direto pelo alto déficit da Fundação, o MSPB ainda não conseguiu

    adaptar-se a T2A, nova regulamentação francesa que está em vigor no país desde 2004.

    Desde então, seus prejuízos vêm se acumulando numa verdadeira bola-de-neve como

    ilustra a Figura 1.6.

    Figura 1.6 Prejuízos anuais do MSPB

    Fonte: Fundação Bagatelle

    Um dos principais indicadores na administração hospitalar é o nível de ocupação

    de seus leitos. A Tabela 1.1 indica os níveis de ocupação médios em 2007 para o MSPB.

    Tabela 1.1 Nível médio de ocupação do MSPB em 2007

    D (2007)

    56%

    C 65%

    G 65%

    G 63%

    Fonte: Fundação Bagatelle

    Prejuizos do MSPB (k€)

    1071

    1877

    4006

    6143

    2004 2005 2006 2007

    114 %

    53 %

    1071

    1877

    4006

    6143

    2004 2005 2006 2007

    114 %114 %

    53 %53 %

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    19/148

      19 1

    O nível médio de ocupação geral do hospital é de apenas 62,9%, resultado

    considerado relativamente baixo. A termo de comparação, a média para clínicas e

    hospitais da região em 2006 era de 73,2% de acordo com o ministério da saúde francês.

    Hospitalização a Domicílio (HAD)

    Verdadeiro gerador de lucro para a Fundação, o HAD destaca-se pelas altas

    margens em suas atividades.

    O serviço de hospitalização a domicílio consiste basicamente nos atendimentos

    pós-operatórios e consultas relativamente simples onde o médico se desloca até a

    residência do paciente.

    Com poucos equipamentos sofisticados, o HAD tem como custo principal o

    salário de seus médicos e, assim, sem grandes custos indiretos, consegue manter uma

    excelente margem de lucro. A aposta que, nos últimos anos, a Fundação vem fazendo

    neste tipo de serviço vem rendendo excelentes resultados.

    Responsável no ano de 2007 por mais de 3 M€ de lucro, o HAD e seus lucros

    crescentes vêm ajudando a Fundação. A Figura 1.7 mostra a escalada de seus lucros.

    Figura 1.7 Lucros gerados pelo HAD

    Fonte: Fundação Bagatelle

    252

    1638

    2448

    3385

    2004 2005 2006 2007

    550 %

    38 %

    252

    1638

    2448

    3385

    2004 2005 2006 2007

    550 %

    38 %

    Lucros do HAD (k€)

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    20/148

     20 1

    Outros Setores

    Com menor importância que o MSPB e o HAD, a Fundação Bagatelle possui

    ainda cinco outros setores:

    −  Centro Terapêutico (SSR)

    −  Creche, centro sócio-cultural e pronto-socorro (CS)

    −  Casas de repouso Gallevant e Anna Hamilton

    −  Centro da Benevolência e caridade (CBC)

    −  Escola de enfermaria (IFSI)

    O SSR ocupa-se do tratamento fisioterápico, oferecendo aos pacientes uma

    oportunidade de fazer um tratamento pós-operatório. Trata-se de um centro pequeno ealtamente especializado em tratamentos ortopédicos com pacientes que realizam

    tratamentos de longo prazo e normalmente marcados com antecedência. Por estas razões

    o SSR tem um bom nível de ocupação durante o ano. Contudo, as suas baixas margens de

    lucro e o alto custo dos equipamentos impedem um melhor desempenho do centro. Ainda

    sim, ao lado do HAD, são os únicos geradores estáveis de lucro da Fundação.

    O CS e o CBC possuem um caráter social. A creche e o pronto-socorro beneficiam

    principalmente as famílias de baixa renda da região. Por sua vez, o centro sócio-cultural eo centro de caridade são utilizados, sobretudo, para divulgar o protestantismo.

    As casas de repouso para idosos Gallevant e Anna Hamilton eram propriedade de

    outra fundação que, sem condições de gerenciá-las, as cedeu para a Fundação Bagatelle.

    A má-gerência destes estabelecimentos acaba gerando um resultado negativo de

    aproximadamente 150 k€ por ano.

    Finalmente, a IFSI é uma escola que forma aproximadamente 80 enfermeiras

    todos os anos. Destas, mais de 50% saem para trabalhar no MSPB. Atualmente suasúnicas fontes de receita vêm da Fundação e de doações, em sua maioria dos próprios

    fornecedores do MSPB, que podem abater este valor de seus impostos, utilizando-as

    como diferencial nas negociações com o hospital. Seus estudantes são atualmente isentos

    de taxas escolares e têm à sua disposição uma moradia estudantil subsidiada pela

    Fundação.

    Em resumo, esses são setores de apoio da Fundação com importância limitada e

    um objetivo, sobretudo, social. A Figura 1.8 ilustra os gastos da Fundação com estas

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    21/148

      21 1

    entidades nos últimos anos. Destaca-se que com a crise financeira vivida pela Fundação

    estes setores vêm sofrendo cortes significativos de verba.

    Figura 1.8 Custo para sustentar os setores de apoio

    Fonte: Fundação Bagatelle

    1.3.2 Sistema Hospitalar Francês

    Compreender a situação vivida pelo MSPB exige um entendimento do

    funcionamento do sistema hospitalar francês e o recente contexto turbulento que este vemvivendo.

    O sistema hospitalar francês é gerido nacionalmente pelo Ministério da Saúde que,

    em 1996, percebeu que uma administração centralizada tornara-se inviável. As enormes

    diferenças, principalmente de custos, existentes entre a região da  Île de France, onde se

    encontra Paris, e as demais regiões levaram o governo a criar as Agências Regionais

    Hospitalares (ARH), com o intuito de melhor atender as necessidades de cada região. As

    ARH’s impõem suas próprias legislações sobre os organismos públicos e privados de

    saúde que são divididos da seguinte forma:

    −  Instituições Públicas;

    −  Instituições Privadas sem fins lucrativos:

    −  Participantes do Serviço Público Hospitalar (PSPH);

    −  Independentes.

    −  Instituições Particulares.

    263

    543

    620

    113

    2004 2005 2006 2007

    106 % - 81 %

    Custo para sustentar as outras unidades (k€)

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    22/148

     22 1

    O MSPB se encaixa na categoria de PSPH, que teve suas regras de repasse de

    fundos governamentais modificadas ao final de 2003 de acordo com a regulamentação

    T2A (Tarifação por Atividade).

    Regulamentação T2A

    Inspirada em leis norte-americanas criadas a partir do final da década de 80

    (conhecidas por Prospective Payment Systems, PPS), a T2A entrou em vigor na França no

    início de 2004. De acordo com a nova norma, os subsídios do governo às instituições de

    saúde passaram a ser baseados nos diagnósticos realizados. Ou seja, cada grupo de

    diagnóstico teve seus parâmetros uniformizados (procedimentos, salários dos médicos,

    tempo de estadia do paciente, etc...), garantindo à clínica um reembolso fixo por atividade

    e independente de seus custos.

    Antes da nova lei, o repasse de verbas governamentais aos hospitais era efetuado

    diretamente baseado no custo das atividades realizadas. No entanto, tendo sido observado

    que certos hospitais eram capazes de realizar o mesmo procedimento por um custo bem

    inferior ao de outros, o governo decidiu mudar sua regulamentação.

    A T2A tem por objetivo principal promover uma melhoria na eficiência dos

    hospitais, reduzindo desta maneira os gastos do governo.

    Enquanto os hospitais que possuíam um custo acima do subsídio fixado pelo

    Estado começaram a operar no prejuízo, os que tinham bom desempenho passaram a

    obter lucros.

    Se, por um lado a T2A tornou o sistema de repasse de verbas aos hospitais PSPH

    mais justo, vale ressaltar que, por outro, esta trouxe consigo algumas mazelas ao sistema.

    Siounath (2008) faz as seguintes críticas a esta nova regulamentação:

    −  Concorrência entre estabelecimentos de saúde: a realização de um

    procedimento se traduz em um subsídio fixo por parte do governo, que, por

    muitas vezes pode significar um lucro à instituição. Tal fato vem provocando

    disputas por pacientes entre os estabelecimentos ao invés de favorecer um

    ambiente cooperativo.

    −  Seleção de pacientes: o custo de um tratamento específico não é

    completamente determinado pela doença. Certas características do paciente

    também influenciam neste custo, incentivando os hospitais privados a

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    23/148

      23 1

    selecionarem seus pacientes, recusando tratamento aos que se encontram numa

    pior condição e repassando-os às instituições públicas que, por sua vez, são

    obrigadas a aceitá-los.

    −  Qualidade do tratamento: quando a qualidade de um tratamento não é

    facilmente mensurável, dificilmente os hospitais estarão dispostos a melhorá-

    los. Em certas ocasiões podendo até deixar certas prestações de serviço

    essenciais de lado por questões de economia.

    −  Aumento de classe de tratamento no diagnóstico: a definição das atividades

    ligadas a um tratamento é regulada pela T2A. No entanto, o tratamento a ser

    indicado cabe ao médico responsável. Em certos casos, a fronteira entre um

    tipo de tratamento e outro não é clara e um hospital pode recomendar a seus

    médicos que optem pelo que seja mais rentável para a instituição.

    −  Preferência por médicos menos experientes: um dos maiores custos de uma

    instituição de saúde acaba sendo a mão-de-obra, ou seja, o salário de seus

    médicos. Enquanto médicos experientes estão mais preparados para possíveis

    complicações durante os procedimentos, eles podem custar mais que o dobro

    de um recém-formado. Com a remuneração fixa, este se tornou um dos

    primeiros custos a serem cortados.

    A fim de evitar que tais situações ocorram, os hospitais são vistoriados a cada três

    anos por um órgão do governo e, caso algum abuso seja constatado, o hospital é obrigado

    a reembolsar o Estado. No entanto, até o presente momento nenhum caso foi registrado

    oficialmente.

    1.3.3 Contexto Atual

    Desde a recente mudança no sistema de remuneração do governo francês aoshospitais, em 2004, o MSPB vem acumulando prejuízos. A Fundação, que até então vivia

    um período de prosperidade econômica, chegou a uma situação insustentável ao final de

    2007. Acumulando prejuízos recordes, foi salva por um aporte de capital realizado pela

    Fundação pelo Protestantismo de um montante total de 1,5 M€, com a possibilidade de

    chegar a até 9 M€ até o fim de 2013, condicionado a um saneamento de dívidas e

    melhoria imediata de seus resultados.

    Foi neste contexto turbulento que a Fundação Bagatelle contratou a Capgemini

    para reestruturar seus principais processos.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    24/148

     24 1

    1.4 O Projeto

    O projeto foi realizado na Fundação entre janeiro e julho de 2008 tendo sido

    dividido em duas fases.

    A primeira, de janeiro a março, foi executada por uma equipe reduzida de apenastrês consultores. O produto desta etapa foi um diagnóstico completo da situação

    enfrentada pela Fundação, apontando as principais falhas e estimando o prejuízo causado

    por cada uma destas.

    A segunda, de abril a julho, teve como objetivo a realização de propostas para

    resolver as falhas apontadas na fase anterior. A equipe cresceu para um total de sete, que

    foram divididos em três grupos de atuação distinta, liderados pelos três consultores

    presentes na primeira fase. A interação entre estes grupos era pontual e apenas paraassuntos gerais. Cada equipe tinha autonomia para realizar seu trabalho e propor soluções.

    A tarefa de supervisioná-las e apresentar os resultados globais à diretoria executiva da

    Fundação cabia a um sócio da consultoria que fora apontado para o projeto.

    Gestão financeira

    Equipe constituída por três consultores concentrados na criação de indicadores de

    desempenho financeiro. Dentre as principais atividades estavam:

    −  Criação de indicadores financeiros;

    −  Formação de funcionários para análise e coleta dos dados;

    −  Cálculo retroativo de indicadores.

    Gestão do fluxo de pacientes

    Formada por dois consultores, teve por objetivo redesenhar o circuito a ser

    realizado pelos pacientes. Dentre as atividades da equipe destacam-se:

    −  Criação de novos procedimentos de recepção e encaminhamento de pacientes

    aos setores;

    −  Estudo de localização física dos departamentos, recepção, caixa, etc... .

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    25/148

      25 1

    Gestão logística

    Dupla de consultores, incluindo o autor, empenhada na reestruturação da

    organização e dos processos ligados às compras, estoques e movimentação de materiais

    pelo hospital.Dentre suas principais atividades estavam:

    −  Organização de uma oferta pública para terceirização dos serviços de limpeza,

    manutenção e refeitório;

    −  Definição de uma nova organização para o setor de compras da Fundação;

    −  Planejamento dos estoques e movimentação de materiais hospitalares pelo

    hospital.

    1.5 Apresentação do Problema

    Um dos problemas encontrados na 1a fase do projeto foi a gestão de estoques de

    medicamentos e materiais hospitalares tida como improvisada e precária. A ausência de

    regras bem definidas havia gerado um estoque desregulado. Enquanto certos produtos

    tinham faltas freqüentes, outros possuíam quantidade suficiente para abastecer o hospital

    durante um ano inteiro.

    Organização e métodos

    A organização atual conta com estoques na farmácia central e nos mais de 60

    departamentos do hospital, todos localizados no complexo hospitalar da Fundação em

    Talence. A Figura 1.9 ilustra de uma maneira global seu funcionamento.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    26/148

     26 1

    Figura 1.9 Organização ligada aos estoques

    A farmácia central conta com uma gestora e quatro auxiliares que atuam de forma

    independente do setor de compras da Fundação devido à necessidade de um grande

    conhecimento técnico para negociação de medicamentos. Ela responde diretamente à

    diretoria da Fundação, que através de um orçamento para compras destes materiais cobra

    um controle rígido do consumo de medicamentos e materiais.

    Suas responsabilidades são:

    −  Encomendar e receber os medicamentos e materiais hospitalares junto aos

    fornecedores;

    −  Garantir a disponibilidade de materiais;

    −  Controlar e racionalizar o consumo de cada departamento;

    −  Reportar o total de compras de medicamentos e materiais hospitalares à

    diretoria.

    A principal falha encontrada refere-se à geração das ordens de compra. Os

    supervisores dos departamentos checam regularmente os níveis do estoque central e,

    baseados nesta observação, sugerem a compra de material na quantidade que julgam

    necessária para seu departamento sem levar em conta o material em trânsito ou outros

    fatores econômicos relevantes. Estas sugestões, conhecidas por ordens indiretas de

    compra, são então inseridas no sistema. Tais ordens incluem de uma maneira implícita

    uma margem de segurança que, no caso de medicamentos utilizados por vários

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    27/148

      27 1

    departamentos, acaba sendo cumulativa ao invés de compartilhada, gerando enormes

    excessos.

    Em seguida, as ordens finais aos fornecedores são emitidas pela gestora. Porém,

    ela normalmente adota os valores estimados pelos supervisores, raramente modificando-

    os. Após esta etapa, o material é recepcionado, organizado, registrado no sistema e

    armazenado no estoque central pelos auxiliares.

    Tal processo acaba sendo incoerente já que a responsável pelos estoques é a

    gestora e, por tal razão, cabe a ela decidir quanto e quando reabastecer seu estoque. Indo

    além, a supervisão da farmácia, realizada pela diretoria, é feita pelo valor das compras

    enquanto a sobre os departamentos, realizada pela farmácia central, leva em conta apenas

    o que estes encomendaram internamente à farmácia. Ou seja, os supervisores não

    possuem responsabilidade formal sobre suas ordens indiretas de compra.

    É importante destacar a troca de interesses implícita neste processo. A gestora, ao

    acatar as sugestões dos departamentos isenta-se de culpa numa eventual falta e, em

    contrapartida, arca com os efeitos negativos que uma compra excessiva de materiais pode

    ter sobre sua avaliação junto à diretoria. Os supervisores, por sua vez, realizam ordens de

    compra sem o conhecimento de todas as informações necessárias, baseando-se somente

    no que os interessa, ou seja, que os produtos estejam sempre disponíveis.

    Voltando à descrição dos processos, os departamentos possuem seus próprios

    estoques, que servem para evitar um deslocamento freqüente à farmácia central,

    agilizando a busca por medicamentos e aliviando o trabalho dos auxiliares. Cada um

    possui uma lista com o nível máximo de estoque que podem ter para cada produto que

    utilizam. Ao longo do tempo, eventuais faltas fizeram com que tais níveis fossem revistos

    para cima pelos supervisores, superestimando-os. Semanalmente, os departamentos

    realizam uma verificação dos níveis de seus estoques e geram uma ordem interna à

    farmácia com a quantidade necessária para reabastecê-los aos níveis estipulados.A partir de tais ordens, os auxiliares fazem o  picking  dos produtos no estoque

    central e os enviam em um pacote. Cada entrega é registrada no sistema com data de

    saída, quantidade e departamento de destino. Em caso de falta de medicamento nos

    departamentos, uma ordem interna de urgência é emitida e o mesmo procedimento é

    realizado imediatamente.

    No caso de falta no estoque central, a gestora é informada e toma as medidas

    necessárias dependendo da criticidade do produto. Normalmente, procura-se o

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    28/148

     28 1

    medicamento em outros departamentos ou até em outras clínicas. Em último caso, é

    realizada uma ordem de compra emergencial.

    Concluindo, os estoques, central e departamental, funcionam com uma política de

    estoques de reposição periódica (ver item 2.2). No entanto, a falta de definição dos

    parâmetros dos modelos de reposição prejudica seu desempenho.

    Processamento de pedidos

    Os pedidos aos fornecedores são realizados através de contato telefônico seguido

    do envio de um fax ou e-mail com o detalhamento das quantidades. Os preços, custo de

    frete e condições de entrega são pré-determinados por meio de contratos firmados entre a

    Fundação e os laboratórios e são revistos anualmente. Em situações onde não exista um

    contrato com o fornecedor, a negociação é realizada via telefone pela gestora com o

    responsável de vendas do laboratório. No entanto, tais casos são bastante raros. Vale

    ressaltar que é bastante comum que tais contratos possuam valores financeiros mínimos

    de pedido e valores a partir dos quais o frete é oferecido pelo fornecedor, estes últimos

    são conhecidos como “franquias”.

    Os mínimos de pedido são atingidos com facilidade devido ao porte do hospital e

    nunca foram um problema. As franquias, no entanto, variam bastante de fornecedor para

    fornecedor e a falta de uma periodicidade pré-estabelecida no reabastecimento do estoque

    central impede o total aproveitamento desta vantagem comercial, devido à conseqüente

    elevada quantidade de pedidos com valor médio relativamente baixo.

    As ordens são normalmente efetuadas no período da manhã. Durante a tarde os

    pedidos dos supervisores dos departamentos são analisados, somados aos da farmácia e

    agrupados por fornecedor. Pôde-se observar que grandes laboratórios são contatados

    quase diariamente, muitas vezes com pedidos de valor bastante reduzido.

    O número excessivo de ordens de compra também acaba sobrecarregando osauxiliares que são acionados tanto na sua realização como na sua recepção.

    Atualmente, inexiste a divisão entre o processo de controle de estoque e o de

    compra, dois processos independentes e de extrema importância. Enquanto o primeiro

    define o tamanho e a periodicidade dos pedidos, o segundo consiste na realização destes

     junto aos laboratórios. A informalidade dos processos acaba dificultando a separação dos

    dois e gera o risco de torná-los dependentes.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    29/148

      29 1

    Sistema de Informações

    O sistema de informações de controle utilizado pela farmácia central é o HODIS.

    Ultrapassado e com um foco muito mais contábil que operacional, não fornece

    diretamente importantes informações, como por exemplo, o status das ordens abertas.É utilizado somente para controle do estoque central e sempre que um produto sai

    dali, é considerado como consumido. Os departamentos controlam os seus estoques cada

    um à sua maneira. A disparidade de tais procedimentos é tanta que enquanto alguns

    poucos possuem dados diários de consumo e posição atual de seus estoques, outros não

    possuem informação alguma.

    A falta de controle dos estoques departamentais gera uma série de ineficiências. A

    começar pela própria perda de informações relativas à demanda real e seu comportamentoestatístico. Além disso, também impossibilita a identificação de possíveis perdas de

    materiais nos departamentos. Tal controle também daria maior visibilidade dos níveis dos

    estoques departamentais à gestora que, com tal informação, poderia melhor gerenciá-los.

    Finalmente, o balanço dos níveis de estoque nos departamentos que é realizado

    semanalmente poderia em teoria deixar de existir, deixando inclusive o próprio sistema

    gerar automaticamente as ordens internas.

    Atualmente existe o plano de implantação de um novo sistema para gestão dos

    estoques, chamado PHARMA. Este sistema já foi comprado há algum tempo pelo MSPB,

    mas ainda não foi atualizado com as bases de dados necessárias ao seu funcionamento.

    Com ele, espera-se finalmente que seja possível um controle direto dos estoques

    departamentais. O sistema é bem simples e permite a rápida exportação de dados, grandes

    diferenciais em relação ao atual.

    Dimensionamento e localização dos estoques

    As listas com os níveis máximos para os estoques departamentais foram

    planejadas prevendo uma margem de segurança por departamento e não geral. Isto gera

    um visível excesso, especialmente para os itens utilizados por vários departamentos.

    Além disso, muitos ainda insistem na existência de uma margem extra no estoque central.

    O compartilhamento por todos os departamentos de uma única margem de

    segurança, localizada na farmácia central, possibilitaria uma importante redução de

    estoque. Como todos os departamentos possuem fácil acesso ao local, a questão de

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    30/148

     30 1

    disponibilidade de um produto deveria recair unicamente sobre o nível de atendimento do

    estoque central.

    Por último, não existe diferenciação de nível de serviço ou freqüência de entrega

    entre os produtos mais vitais ou mais consumidos e os demais.

    Indicadores

    A falta de importância dada à gestão de estoques se traduz na falta de indicadores

    de desempenho ou metas. A diretoria cobra apenas que o orçamento de compras seja

    respeitado, no entanto, não avalia nível de serviço ou prontidão de atendimento.

    Analogamente, os departamentos respondem à farmácia somente pelo seu

    consumo. O que é ainda mais grave, já que eles possuem grande interferência nos níveis

    do estoque central.

    1.6 Objetivos do Estudo

    Os propósitos deste trabalho são:

    −  Estudar os modelos de gestão de estoques comumente utilizados;

    −  Examinar e solucionar incoerências nos processos atuais ligados à gestão de

    estoques;−  Analisar a relação entre os custos de pedido e de armazenagem;

    −  Realizar através de simulação uma análise dos modelos estudados;

    −  Propor a implantação de um novo modelo de gestão de estoques para

    Fundação;

    −  Sugerir novos indicadores de desempenho para a atividade.

    1.7 Relevância do TrabalhoA transposição de conceitos de gestão de estoques amplamente estudados e

    difundidos na indústria para instituições de saúde pode resultar em um grande aumento de

    eficiência, tanto financeira quanto operacional.

    A mudança no sistema de remuneração do governo francês aos hospitais

    economizou milhões de euros aos cofres públicos. Ao mesmo tempo, levou centenas de

    clínicas à quase falência. O aumento da concorrência e a busca pela melhoria de

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    31/148

      31 1

    desempenho causaram uma verdadeira “bolha” no mercado de consultorias de

    administração hospitalar no país, que devem ter demanda garantida para próxima década.

    No Brasil, onde os recursos para a saúde são sempre escassos e os custos de

    imobilização de capital estão entre os mais altos do mundo, a gestão de estoques em

    hospitais também é um assunto que possui grande abrangência e importância. Para se ter

    uma idéia, no Brasil são mais de 7.500 hospitais, com um total de cerca de 200.000 leitos.

    Tabela 1.2 Hospitais no Brasil

    C

    H

    F 55

    2812E 544

    2213

    H F 1728

    4687 2959

    H E 186

    A 7685

    Fonte: DataSUS 2008

    Trata-se de um nicho ainda pouco explorado e com enorme potencial, tanto paraconsultorias de administração hospitalar como para o próprio governo. Em especial

    levando-se em conta o potencial crescimento dos serviços de saúde por todo o país

    durante as próximas décadas, decorrente do esperado desenvolvimento da nação.

    Então, o presente trabalho pretende contribuir para o estudo de modelos de

    estoque no setor hospitalar.

    1.8 Estrutura

    Este trabalho está estruturado num total de sete capítulos e foi elaborado de acordo

    com o roteiro proposto nas “Normas Gerais sobre o Trabalho de Formatura” (v. 4.2 de

    31/10/2007).

    No Capítulo 2, Fundamentação Teórica, são apresentados os conceitos teóricos da

    área de gestão de estoques.

    O Capítulo 3, Análise dos Processos de Estoque, aborda a questão dos processos

    ligados à gestão dos estoques central e departamentais na Fundação Bagatelle. Com base

    neste estudo preliminar, é então realizado um diagnóstico da situação atual.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    32/148

     32 1

    O Capítulo 4, Desenvolvimento do Modelo de Simulação, apresenta o

    desenvolvimento do modelo de análise e simulação utilizado no trabalho. Este modelo

    será utilizado para calibrar os parâmetros dos modelos de estoque em estudo.

    O Capítulo 5, Simulação de Modelos de Estoque, apresenta a simulação dos

    modelos de reposição de estoque. A partir da análise dos resultados será proposto um

    modelo, que em seguida passará por uma fase de validação, comparando-o com

    indicadores reais da Fundação.

    No Capítulo 6, Proposta de Implantação, as propostas elaboradas a partir do

    diagnóstico realizado são discutidas e detalhadas de forma a permitir sua implantação.

    O Capítulo 7, Conclusões, apresenta uma síntese do estudo, analisando-o

    criticamente e propondo possíveis desdobramentos.

    A Figura 1.11, baseada no roteiro proposto para elaboração de Trabalhos de

    Formatura, resume a estrutura deste estudo.

    Figura 1.10 Estrutura do Trabalho

    F

    C 1

    C 2

    C

    C 3

    C 4

    C 5 6

    C

    C 7

    1

    2

    3

    4

    5

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    33/148

      33 2

    Capítulo 2 - Fundamentação Teórica

    Neste capítulo são apresentados alguns fundamentos da gestão de estoques,

    essenciais para o desenvolvimento deste trabalho. O capítulo é dividido nos seguintestópicos:

    −  Conceitos básicos sobre a gestão de estoques

    −  Modelos de Reposição de Estoque

    −  Simulação de Modelos de Reposição de Estoque

    2.1 Conceitos básicos sobre a gestão de estoques

    2.1.1 Demanda

    Para a gestão de estoques, a análise da demanda é imprescindível, pois é ela que

    vai determinar a escolha dos modelos a serem adotados e seus parâmetros.

    Pode-se classificar a demanda como dependente ou independente. A primeira se

    dá quando a demanda de um item é facilmente associada à de um outro, podendo ser

    calculada. Já a demanda independente não está associada diretamente à de nenhum outro

    produto e não pode ser calculada, apenas prevista. Como exemplo, cita-se o caso dademanda de pneus em uma indústria automotiva. Ao mesmo tempo em que ela está

    associada ao número de carros produzidos, demanda dependente, também há uma parcela

    destinada à reposição de pneus antigos, que por sua vez é independente.

    O caso estudado é composto por medicamentos e materiais cujas demandas são

    consideradas independentes, ou seja, não podem ser calculadas, apenas estimadas. A

    rigor, para os procedimentos marcados com antecedência é possível calcular a demanda.

    No entanto, atualmente, o ganho obtido com essa prática não justificaria o custo deimplementação de um sistema capaz de realizar tal análise.

    Nos estudos de gestão de estoques, a demanda é normalmente de duas maneiras:

    através de sua associação a uma distribuição estatística ou através de previsão. Para o

    primeiro caso, geralmente são utilizados dois principais tipos de distribuições:

    −  Distribuição Normal: a mais utilizada, adequando-se principalmente para

    produtos de alto giro e demanda estável;

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    34/148

     34 2

    −  Distribuição de Poisson: utilizada para modelar produtos de baixo giro e

    demanda estável.

    Já para a previsão de demanda, a literatura conta com diversos modelos, uns

    puramente quantitativos e outros qualitativos. Enquanto o primeiro grupo trabalha com

    dados históricos e técnicas estatísticas, o segundo se baseia em uma análise mais

    subjetiva, por meio de opiniões ou julgamentos pessoais. Esta divisão, assim como seus

    principais métodos são apresentados na Figura 2.1.

    Figura 2.1 Métodos de previsão de demanda (Lustosa et al., 2008)

    Modelos de

    Previsão

    Projeção Correlação

    Qualitativos

    Método Delfi

    Quantitativos

    Regressão

    simplesMédias móveis

    Pesquisa de

    Mercado

    Simulação de

    CenáriosRegressão

    múltipla

    Métodos

    Econométricos

    Suavizamento

    Exponencial

    Projeções de

    tendências

    Decomposição

    Box Jenkins

    (ARIMA)

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    35/148

      35 2

    2.1.2 Estoques

    Ao longo dos anos o termo estoque recebeu inúmeras definições semelhantes de

    diversos autores. Love (1979) define-o como “a quantidade de bens ou materiais, sob

    controle da empresa, em um estado relativamente ocioso, aguardando por seu uso ouvenda”.

    De uma forma geral, os estoques são necessários em praticamente todas as

    empresas, independente do setor de atuação.

    Tipos e funções de um estoque

    Tersine (1994) apresenta os diferentes tipos de estoque através de uma ilustração,

    conforme mostra a Figura 2.2.

    Figura 2.2 Estoques de acordo com o estado atual e função seguinte (Tersine, 1994)

    Pode-se dividir os tipos básicos de estoque em:

    −  Produtos Acabados (Finished goods)

    −  Materiais necessários às operações do processo (Supplies  ou também

    conhecido por Maintenance, Repair and Operation – MRO)

    −  Matéria-prima e componentes ( Raw material)

    −  Produtos semi-acabados (Work in process – WIP)

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    36/148

     36 2

    Outra maneira clássica de se dividir os estoques é de acordo com a sua utilidade.

    A Tabela 2.1 mostra essa divisão:

    Tabela 2.1 Tipos e funções de estoque

    E F

    E C

    E I

    E

    E

    E I

    E E

    Fonte: Dias, 2003

    É interessante classificar os estoques para poder tratá-los separamente de uma

    maneira mais adequada.

    Custos:

    O objetivo de se manter um estoque é ter a quantidade apropriada de material no

    lugar certo, na hora certa, tudo a um custo satisfatório. Os custos são fundamentais na

    hora de analisar o desempenho de um modelo de gestão e são normalmente divididos em

    quatro componentes principais:

    −  Custo de armazenagem: engloba os custos decorrentes da manutenção física

    dos produtos e do capital imobilizado, quer este seja um custo de oportunidade

    ou real (na forma de juros);

    −  Custo de pedido: engloba os custos decorrentes do ato da compra junto aos

    fornecedores, incluindo os de emissão, execução e recepção das ordens;

    −  Custo de falta: é o custo causado pela ausência do produto em estoque quando

    este é requisitado. Muitas vezes este custo pode ultrapassar a simples perda de

    uma venda passando a ter conseqüências negativas na imagem da empresa e,

    por essa razão, é difícil de estimá-lo;

    −  Custo de aquisição: representa o preço pago pelos itens estocados.

    Apesar de por vezes existirem outros custos referentes aos estoques, os

    apresentados acima são os únicos incrementais e pertinentes a uma análise comparativa.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    37/148

      37 2

    Modelos de Estoque:

    Tersine (1994) chama a atenção para certas propriedades importantes intrínsecas

    aos estoques, entre elas, a demanda, o reabastecimento e as restrições do sistema.

    Conforme dito anteriormente, a primeira destas, a demanda, é fundamental para aescolha de um modelo de gestão de estoques apropriado.

    O modo de reabastecimento, por sua vez, é o elemento-chave na diferenciação dos

    modelos. Freire (2007, pp. 17) reforça esta afirmação, dizendo que “o caráter dinâmico

    das quantidades no tempo torna as decisões de quanto e quando abastecer os estoques de

    cada item as mais importantes dos modelos de gestão na busca dos objetivos de custos e

    atendimento da demanda”.

    As restrições, finalmente, são limitações para o sistema e exigem certasmodificações nos modelos clássicos. As mais comuns se referem ao espaço de

    armazenagem, desembolso de capital por período, níveis exigidos de atendimento, entre

    outros.

    A Figura 2.3 apresenta uma classificação para os modelos de estoque:

    Figura 2.3 Classificação de modelos de estoque (Lustosa et al., 2008)

    Os modelos de reposição de estoque serão retomados para uma análise mais

    detalhada no Tópico 2.2.

    Modelos de

    Estoques

    Reativos

     Ativos ou

    Baseados em

    Previsão

    Demanda

    Dependente

    MRP

    Demanda

    Independente

    Revisão

    Periódica

    Revisão

    Contínua

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    38/148

     38 2

    2.1.3 Nível de serviço

    O nível de serviço, também conhecido por nível de atendimento, pode ser definido

    como o desempenho que os estoques têm no atendimento das demandas.

    Segundo Tersine (1994), muitas empresas desconhecem seu custo de falta ousentem-se inseguras em determiná-lo. Para estes casos, o nível de serviço é uma das

    principais alternativas para ponderar a importância de se ter determinado produto em

    estoque.

    A definição do nível de serviço é uma decisão subjetiva e cabe ao gestor dos

    estoques defini-los de acordo com os objetivos da organização. Pesam nesta decisão

    diversos fatores como, por exemplo, custos de armazenagem, riscos de faltas e a própria

    imagem da empresa.Normalmente o nível de atendimento é definido em termos de quantidade ou

    pedidos. O primeiro estabelece a porcentagem da quantidade demandada que é atendida a

    tempo. Já o segundo se baseia no número de ordens atendidas com sucesso. Este último

    indicador é mais rigoroso, já que nele a incapacidade de se atender inteiramente ao pedido

    resulta em falta, enquanto no primeiro as ordens podem ser parcialmente satisfeitas.

    A decisão dos níveis de atendimento reflete diretamente no custo de

    armazenagem, sendo esta relação exponencial (BALLOU, 1998). Ou seja, à medida que o

    nível de serviço se aproxima de 100%, o custo de armazenagem tende ao infinito,

    conforme ilustrado pela Figura 2.4.

    Figura 2.4 Curvas para definição do nível de serviço (Ballou, 1998)

    Dias (2003) ressalta a importância de se estabelecer os níveis de serviço

    individualmente de acordo com produto ou cliente, já que suas necessidades e exigências

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    39/148

      39 2

    variam. O próprio caso estudado destaca a relevância dessa afirmação. Enquanto a falta

    de antibióticos pode produzir sério risco de morte, a falta de materiais de ultra-sonografia

    dificilmente trará graves conseqüências.

    Ao determinar o nível de serviço, deve-se ter em mente que faltas podem resultar

    não só na perda de vendas, mas também na piora da reputação da empresa. Aprofundando

    esta idéia, Ballou (1998) sugere a existência de um nível de serviço ótimo que otimize a

    relação entre receita e custo logístico total, conforme mostrado pela Figura 2.5.

    Entretanto, a dificuldade de se estimar esta curva de receita dá um caráter muito mais

    conceitual que prático a esta abordagem.

    Figura 2.5 Dilema custo x receita em função do nível de serviço (Ballou, 1998)

    2.1.4 Lote econômico

    Baseia-se na minimização do custo total de operação levando em consideração às

    seguintes hipóteses:

    −  Item único

    −  Demanda constante

    −  Custo de pedido linear em função do número de pedidos

    −  Custo de armazenagem linear em função da quantidade de itens estocados

    −  Custo de aquisição independente da quantidade

    −   Lead-time nulo

    −  Capacidade de suprimento ilimitada

    A partir destas considerações chegou-se a Fórmula de Harris, utilizada para

    calcular a quantidade ótima por pedido de forma a minimizar os custos. Esta quantidade

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    40/148

     40 2

    passou a ser conhecida como lote econômico ou adotando o termo em inglês, Economic

    Order Quantity (EOQ).

    Figura 2.6 Princípio para definição do lote econômico

    Da Figura 2.6 pode-se chegar a seguinte expressão:

    hPQ

     LQ

     DCVT  un   ⋅⋅+⋅= 2   (2.1)

    Onde:

    CVT – Custo Variável Total

    D – Demanda média esperada no período

    Q – Tamanho do lote

    L – Custo de pedido

    Pun  – Preço unitário do produto

    h – Custo de armazenagem (% do valor total)

    C

    $

    C

    C*

    :

    D

      : C

     

    2  . : C

    C

    C

    C

    C

    = +

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    41/148

      41 2

    Igualando a derivada da Equação 2.1 a zero, para se obter seu ótimo, chega-se à

    Formula de Harris, apresentada na Equação 2.2:

    hP

     L DEOQQ un ⋅

    ⋅⋅

    ==

    2

      (2.2)

    No entanto, as premissas de demanda constante e lead-time nulo raramente

    ocorrem na prática, limitando a aplicação do modelo. Outras hipóteses bastante

    simplificadoras são as considerações sobre custos de armazenagem lineares e

    independência do custo de aquisição do tamanho do lote.

    Um ponto interessante a se ressaltar sobre este modelo é que erros na estimativa

    dos custos de pedido ou de armazenagem, comumente difíceis de serem avaliados, têmsuas conseqüências suavizadas pela presença da raiz quadrada na Fórmula de Harris. Em

    função disto, Tersine (1994) defende sua utilização mesmo em casos onde os parâmetros

    não são exatos. O EOQ foi o predecessor de boa parte dos modelos de gestão de estoques

    e é um elemento chave na determinação de seus parâmetros.

    Uma variação interessante do EOQ é a noção de período econômico (Economic

    Order Interval – EOI), uma adaptação da idéia inicial do lote econômico. Nela, deseja-se

    encontrar um período ótimo para reabastecer os estoques. O EOI pode ser determinado deacordo com a Equação 2.3:

    hPd 

     LEOI 

    un ⋅⋅=

    2

      (2.3)

    Onde:

    L – Custo de pedido

    d – Demanda média diária

    Pun – Preço unitário do produto

    h – Custo de armazenagem (% do valor total)

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    42/148

     42 2

    2.1.5 Distribuição de estoques por valor : Classificação ABC

    Os Stock Keeping Units  (SKU’s) que formam um estoque têm valores bastante

    distintos. Um critério bastante comum para classificá-los é a curva ABC, que corresponde

    a uma adaptação da Lei de Pareto para gestão de estoques.O sistema de classificação ABC sugere que 20% dos SKU’s correspondem a 80%

    do inventário e por essa razão surge o interesse em tratá-los de forma diferente. O método

    sugere classificar os produtos em três classes, “A”, “B” e “C”, de acordo com sua

    importância para o valor total do estoque.

    Na literatura diversas porcentagens são utilizadas para dividir as classes, não

    existindo uniformidade. Contudo, chama-se atenção para o conceito em si, dividir os

    produtos de acordo com o valor de seus estoques, que pode ser adaptado conforme o casoestudado.

    A Figura 2.7 ilustra um exemplo da curva ABC.

    Figura 2.7 Exemplo de curva ABC (Lustosa et al., 2008)

    A divisão em classes permite que cada produto tenha um tratamento diferenciado,

    priorizando a redução dos níveis de estoques e o controle dos produtos A. “Devendo-se

    optar por uma política ótima que minimize o investimento nos itens A como, por

    exemplo, realizando pedidos mais freqüentes e menores” (NARASIMHAM,

    MCLEAVEY e BILLINGTON, 1995, pp.96).

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    0 20 40 60 80 100

                             E                      (   %

                                    )

    ' E (% )

    A     C

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    43/148

      43 2

    2.2 Modelos de Reposição de Estoque

    Os modelos de reposição definem regras de como reabastecer os estoques e podem

    ser classificados de acordo com o número de camadas do sistema, o uso ou não de

    previsões de demanda e a freqüência de revisão.A primeira classificação divide-os em de local único ou multi-locais (ou multi-

    camadas ou multi-echelon). Para os de local único, as regras de reposição definem quanto

    e quando reabastecer, enquanto que para os multi-echelon adiciona-se a questão de onde

    estocar. Durante este trabalho, serão apenas utilizados modelos de local único.

    A segunda classificação diz respeito ao uso de previsões de demanda. Santoro

    (2006) divide os modelos de gestão de estoque em ativos, com necessidade de uma

    previsão de demanda, e reativos. Segundo Freire (2007), a simplicidade dos modelosreativos vem tornando-os cada vez mais populares. Isso é resultado de que, uma vez

    definidos os parâmetros do modelo, este atua reagindo à demanda, sem a necessidade de

    ajustes. Por outro lado, os modelos ativos, mais recentes, utilizam em seu cálculo

    previsões de demanda que são feitas periodicamente. Enquanto para os reativos a

    eficiência do modelo está ligada à estabilidade da demanda, para os ativos esta depende

    do quão precisa é a previsão.

    Finalmente, a última classificação, separa os modelos de estoque em contínuos e

    periódicos. Os primeiros possuem um controle mais rígido dos níveis de estoque e

    normalmente usam estes como base para a decisão de quando reabastecer. Os periódicos,

    ao contrário, possuem uma freqüência pré-estabelecida de revisão e reabastecimento de

    estoques. A rigor, os modelos contínuos são capazes de realizar ordens a todo instante, no

    entanto, na prática é normal considerar que estes modelos tenham uma freqüência de

    revisão diária devido a limitações de horário por parte dos fornecedores e da própria

    organização. Esta simplificação será utilizada durante este estudo.

    Os modelos estudados são apresentados na Tabela 2.3. Além destes modelos,

    serão também vistos a seguir: o estoque de segurança e os modelos que utilizam previsão

    de demanda.

    Tabela 2.2 Modelos Estudados

    F

    C

    C C

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    44/148

     44 2

    2.2.1 Modelo de Revisão Periódica

    Também conhecido por modelo de reposição periódica ou política , este

    modelo consiste na revisão periódica dos estoques. Ao final cada de período, R, uma

    ordem para completar o nível máximo do estoque, S, é gerada. Certos autores sugeremuma variável dessa política utilizando um nível mínimo para coloção do pedido (política

    ).

    No modelo de revisão periódica são definidos o período de revisão, R, e o nível

    máximo de estoque, S. Este período está normalmente associado com a idéia do período

    econômico (ver equação 2.3). No entanto, em certos casos esta escolha acaba sendo

    definida pelo responsável do setor devido a restrições do sistema.

    Determinado o período de revisão, o estoque máximo, S, pode ser calculadoatravés da Equação 2.4:

    ES  R LT d S    ++⋅= )(  (2.4)

    Onde:

    d – Demanda média diária

    LT – Lead-time médio do fornecedor

    R – Período de revisão

    ES – Estoque de segurança

    É conveniente utilizar a regra do 2k  para estipular os períodos de revisão dos

    SKU’s. De acordo com Lustosa et al. (2008), “é interessante que itens de um mesmo

    fornecedor tenham o mesmo período de revisão, para facilitar processos de compra,

    transporte e pagamentos”.

    Segundo ela, as freqüências dos produtos A, B e C devem estar relacionados deforma que a razão entre estes seja de 2k (onde k assume um valor inteiro qualquer).

    A Tabela 2.3 exemplifica esta regra, apresentando opções de períodos para itens

    classificados de acordo com a curva ABC e com a regra do 2k.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    45/148

      45 2

    Tabela 2.3 Exemplo da regra do 2k 

    C 1 2 3

    1 1 1

    2 4 2

    C 4 8 8

    Finalmente, a regra de decisão para este modelo ao final de cada período é:

    )(  DisCPEst S OC    −=  (2.5)

    Ou, no caso da existência de um nível mínimo para colocação do pedido (política

    ):

    contráriocasoOC 

    sEst seEst S OC   DisCP DisCP0

    )(

    =

    ≤−=

      (2.6)

    Onde:

    OC – Ordem de Compra

    S – Estoque Máximo

    EstDisCP  – Estoque disponível a curto prazo (disponível + em trânsito)

    s – Ponto de pedido

    Um exemplo de um estoque gerido pelo modelo de revisão periódico é ilustrado

    pela Figura 2.8. Note que enquanto a quantidade encomendada pode variar, o período de

    revisão é fixo. Observe também que a demanda e o lead-time podem variar, o que leva à

    necessidade de um estoque de segurança, assunto que será abordado no item 2.2.3.

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    46/148

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    47/148

      47 2

    Pd POQ   ⋅=  (2.7)

    Onde:

    d - Demanda média diáriaP - Período médio de cobertura

    Normalmente o intervalo utilizado para este cálculo é o período econômico, EOI

    (ver item 2.1.4). Com isso, o EOQ é convertido para demanda média de um número

    inteiro de períodos.

    No modelo de revisão contínua são definidos o ponto de pedido, s, e o tamanho do

    lote, Q. Sendo este normalmente definido pelo EOQ ou POQ e o ponto de pedido, s,

    através da Equação 2.8:

    ES  LT d s   +⋅=  (2.8)

    Onde:

    d - Demanda média diária

    LT - Lead-time médio do fornecedor

    ES - Estoque de segurança

    Finalmente, a regra de decisão para o modelo de revisão contínua é:

    contráriocasoOC 

    sEst seQOC   DisCP0=

    ≤=

      (2.9)

    Onde:Q – Tamanho do Lote

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    48/148

     48 2

    Um exemplo de um estoque gerido pelo modelo de revisão contínua é ilustrado

    pela Figura 2.9. Note que, enquanto a quantidade encomendada é sempre constante, o

    período de reabastecimento varia. Observe também que, assim como no modelo anterior,

    a demanda e o lead-time variam, levando também à necessidade de um estoque de

    segurança para este modelo, tema que será abordado no item seguinte.

    Figura 2.9 Exemplo de estoque gerido pelo modelo de revisão contínua

    O estudo irá abordar apenas estes dois modelos clássicos, no entanto, existem

    várias variantes para cada um deles. Para uma pesquisa mais profunda, recomenda-se ao

    leitor a consulta de Silver et al. (1998).

    2.2.3 Estoque de segurança

    Para que os modelos reativos apresentados anteriormente estejam completos, é

    necessária a elaboração do conceito de estoque de segurança.

    Em uma situação ideal, conforme ilustrado na Figura 2.10, a demanda é constante

    e o lead-time do fornecedor é sempre exato. Para este caso, os modelos de revisão

    periódica e contínua seriam equivalentes e, o estoque de segurança necessário nulo.

    Tempo

    Estoque

    s

     LT 

    Q

     LT 

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    49/148

      49 2

    Figura 2.10 Estoque dente-de-serra (Adaptado de Lustosa, 2008)

    Na realidade, porém, as incertezas intrínsecas existentes na gestão de estoques

    principalmente advindas da demanda e do lead-time dos fornecedores, ilustradas na

    Figura 2.11, obrigam a criação de um estoque suplementar para diminuir seus efeitos,

    denominado estoque de segurança.

    Figura 2.11 Efeitos das incertezas de demanda e lead-time

                                        

    E

    0

     

     

       

    E

    I

    I

    E

    D

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    50/148

     50 2

    Tersine (1994, pp. 207) diz então que “estoques de segurança são necessários

    porque previsões e estimativas não são exatas e deve existir alguma proteção contra as

    seguintes contingências: demanda superior ao previsto e atraso na entrega dos materiais”.

    Devido a sua necessidade, os estoques de segurança podem ser considerados como

    um investimento permanente e, apesar de aumentarem os custos de armazenagem

    garantem um maior nível de atendimento. O estoque de segurança será maior para:

    −  Um custo de falta ou nível de serviço maior

    −  Um custo de armazenagem menor

    −  Maiores incertezas na demanda e no lead-time

    A Figura 2.12 explora a relação entre o estoque de segurança e o nível de serviço.Note que a curva ilustrada não fornece diretamente um ótimo. Cabendo, assim, ao analista

    decidir o nível de serviço para cada SKU.

    Figura 2.12 Dilema entre nível de serviço x estoque de segurança (Tersine, 1994)

    Existem inúmeros métodos para definir o estoque de segurança. Estes

    normalmente são divididos em dois grandes grupos dependendo do conhecimento ou não

    do custo de falta. Neste estudo será tratado apenas o último caso.

    O método do percentual de risco associado a uma distribuição de probabilidade

    conhecida é uma destas técnicas. Segundo ele, o estoque de segurança, ES, deve ser

    0,00 0,50 1,00

       E                       

           

       

                         

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    51/148

      51 2

    calculado pela diferença entre a demanda máxima esperada com um dado nível de

    segurança e a demanda média durante o período. Assim, se obtém:

     D DES   Máx   −= α  ;   (2.10)

    Onde:

    DMáx;α  – Demanda máxima esperada no período com um nível de segurança α 

    D – Demanda média esperada no período

    Considerando o caso mais comum, onde a demanda diária e o lead-time do

    fornecedor são aproximados por distribuições normais independentes, a Equação 2.10

    pode ser escrita de forma direta através de:

    σ  ⋅= k ES    (2.11)

    222lt d  sd sTR   +⋅=σ  

      (2.12)

    Onde:

    k – Fator de segurança (obtido através do nível de serviço na tabela z-

    normal)

    σ  – Desvio padrão devido às incertezas

    TR - Tempo de reação (R+LT)

    sd  - Desvio-padrão da demanda

    d - Demanda média diária

    slt  - Desvio-padrão do lead-time

    2.2.4 Modelo com Previsão de DemandaEste modelo pode ser considerado como um modelo de revisão periódica mais

    completo, pois nele a hipótese de demanda estável não é necessária. Seus lotes de

    reposição dependem da demanda prevista até o final do próximo período e podem ser

    calculados da seguinte maneira:

     DisCPEst ES  LT  RF Q   −++= )(  (2.13)

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    52/148

     52 2

    Onde:

    F – Forecast  ou previsão de demanda

    Um exemplo deste modelo é o cálculo de necessidades, proposto por Santoro

    (2006). Ele formaliza esta analogia com o modelo de revisão periódica, utilizando o lote

    de reposição dado pela Equação 2.13.

    Contudo, chama-se a atenção ao fato de que a incerteza destes modelos não

    depende mais da variação da demanda e sim da variação entre a previsão e a demanda

    real, modificando, conseqüentemente, o cálculo de estoque de segurança.

    Observe também que o lote de reposição do modelo reativo de revisão periódica é

    equivalente ao da Equação 2.13 para uma previsão de demanda constante igual a sua

    média.

    2.3 Simulação de Modelos de Reposição de Estoque

    Os métodos de suporte à decisão podem ser divididos em dois grandes grupos, os

    analíticos e os baseados em simulação. Estes últimos estão associados à idéia clássica de

    experimentação e constatação empírica. Ou seja, tem por intuito analisar uma situação

    através da suposição de parâmetros pré-estabelecidos.

    Os modelos analíticos, por sua vez, têm por princípio determinar parâmetrosideais ao sistema estudado através da análise matemática.

    As simulações são normalmente adotadas em situações onde a complexidade do

    caso estudado dificulta uma abordagem analítica. Um ponto forte desta técnica é que ela

    permite uma análise dos efeitos de uma mudança de parâmetros sem a necessidade de

    implementá-los. Nas palavras de Tersine (1994, pp. 508), com este método, “’tentativa e

    erro’ não precisam se tornar ‘experimentação e catástrofe’”.

    Enquanto técnicas analíticas têm a capacidade de determinar parâmetros ótimos(ou bastante próximos a estes), são limitadas em relação às premissas que assumem para

    representar a realidade através de uma forma analítica.

    Quando aplicada a estudos logísticos, Bowerson e Closs (1996) citam como

    principal benefício das simulações a capacidade de modelar uma grande variedade de

    sistemas sem utilizar tantas hipóteses simplificadoras. Por outro lado, os autores também

    ressaltam a limitação na busca e identificação de parâmetros ótimos como grande

    desvantagem deste tipo de análise. O estudo também destaca a crescente popularidade da

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    53/148

      53 2

    técnica, principalmente devido à forte redução de seus custos, conseqüência da crescente

    evolução dos recursos computacionais.

    As simulações podem ser divididas em probabilísticas ou determinísticas. Estas

    últimas têm os valores de suas variáveis de entrada pré-definidos e podem ser utilizadas,

    por exemplo, em testes com dados históricos. As probabilísticas, por sua vez, têm como

    característica fundamental a associação de distribuições estatísticas para certas variáveis e

    podem ser utilizadas, por exemplo, para simular filas. Nesta última categoria destaca-se a

    famosa simulação de Monte Carlo.

    Tersine (1994) sugere que o desenvolvimento de uma análise de simulação siga os

    seguintes passos:

    1)  Formulação do problema2)  Construção conceitual do modelo

    3)  Coleta de dados

    4)  Programação em linguagem computacional apropriada

    5)  Verificação e validação do modelo

    6)  Experimentação

    7)  Análise dos resultados

    Dias (2003) aplica em seu estudo simulações ao campo de gestão de estoques.

    Segundo o autor (pp. 45), tal tipo de técnica permite que “os parâmetros de estoque como

    ponto de reposição ou tamanho de lote sejam dados de entrada para a gestão da cadeia

    logística e o teste de políticas de estoque. Nesses casos, os resultados mais importantes

    são o nível de serviço e os níveis de estoque” (vide Figura 2.13)

    Figura 2.13 Simulação de estoques (Adaptado de Dias, 2003)

  • 8/17/2019 p Havrenne Tf Dez-2008

    54/148

     54 2

    Finalmente, é necessário enfatizar