os leitores

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A teoria da literatura teve importante contribuição por parte dos estudos da Estética da recepção, em especial através de estudiosos como Gadamer, Rans R. Jass e Iser. Mas o maior reconhecimento deu-se a partir de Jass que propõe uma nova cara para pesquisas que tenham como centro de interesse a obra literária e suas respectivas relações com os públicos leitores de diferentes épocas, partindo de suas teses, é possível observar a historicidade e a reatualização que um determinado livro sofre no decorrer das eras. Portanto é perceptível que Iser “bebeu” nas fontes de Jauss, porém com ressalvas pois ele não voltou-se diretamente para o lado histórico da obra literária, mas passou a analisa-la observando mais o processo do ato criacionista do escritor enquanto autor implícito e consequentemente a construção do leitor implícito e seus relacionamentos com o leitor real. Os leitores, na maioria das vezes, só eram levados em consideração, quando se tornavam outros autores, através da noção de “destino de um escritor”, um destino essencialmente literário. (COMPAGNOM, 2001, p. 147). Nessa época os leitores só eram levado a sério se e somente se fossem escritores, ou seja, A conversão literária de escrituras românticas em realistas Os estudos da recepção se proclamaram filhos de Roman Ingarden, fundador da estética fenomenológica no entreguerras, que via no texto uma estrutura potencial concretizada pelo leitor, na leitura, um processo que põe o texto em relação com normas e valores extraliterários, por intermédio dos quais o leitor dá sentido à sua experiência do texto. P.148. Os estudos que tinha como objeto de análise a recepção de obras literárias

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Estética da recepção

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A teoria da literatura teve importante contribuio por parte dos estudos da Esttica da recepo, em especial atravs de estudiosos como Gadamer, Rans R. Jass e Iser. Mas o maior reconhecimento deu-se a partir de Jass que prope uma nova cara para pesquisas que tenham como centro de interesse a obra literria e suas respectivas relaes com os pblicos leitores de diferentes pocas, partindo de suas teses, possvel observar a historicidade e a reatualizao que um determinado livro sofre no decorrer das eras. Portanto perceptvel que Iser bebeu nas fontes de Jauss, porm com ressalvas pois ele no voltou-se diretamente para o lado histrico da obra literria, mas passou a analisa-la observando mais o processo do ato criacionista do escritor enquanto autor implcito e consequentemente a construo do leitor implcito e seus relacionamentos com o leitor real.Os leitores, na maioria das vezes, s eram levados em considerao, quando se tornavam outros autores, atravs da noo de destino de um escritor, um destino essencialmente literrio. (COMPAGNOM, 2001, p. 147).Nessa poca os leitores s eram levado a srio se e somente se fossem escritores, ou seja, A converso literria de escrituras romnticas em realistas Os estudos da recepo se proclamaram filhos de Roman Ingarden, fundador da esttica fenomenolgica no entreguerras, que via no texto uma estrutura potencial concretizada pelo leitor, na leitura, um processo que pe o texto em relao com normas e valores extraliterrios, por intermdio dos quais o leitor d sentido sua experincia do texto. P.148.Os estudos que tinha como objeto de anlise a recepo de obras literrias [...] pr-compreenso como condio preliminar, indispensvel a toda compreenso[...] no h leitura inocente: o leitor vai para o texto com suas prprias normas e valores.

[...] as normas e os valores do leitor so modificados pela experincia da leitura. Quando lemos, nossa expectativa funo do que ns j lemos no somente no texto que lemos, mas em outros textos -, e os acontecimentos imprevistos que encontramos no decorrer de nossa leitura obrigam-nos a reformulas nossas expectativas e a reinterpretar o que j lemos, tudo que j lemos at aqui neste texto e em outros. P. 148-149

Iser, em Le Lecteur Implicite [O leitor implcito] (1972) e em LActe de Lecture [O Ato de leitura] (1976) [...] Efeitos e respostas, escreve ele, no so propriedades nem do texto nem do leitor; o texto representa um efeito potencial que realizado no processo da leitura. Pode-se dizer que o texto um dispositivo potencial baseado no qual o leitor, por sua interao, constri um objeto coerente, um todo. [...] 149

[...] o texto literrio caracterizado por sua incompletude e a literatura se realiza na leitura. [...] O objeto literrio autntico a prpria interao do texto com o leitor. (p.149).

A obra literria tem dois plos, [...] o artstico e o esttico: o plo artstico o texto do autor e o plo esttico a realizao efetuada pelo leitor. Considerando esta polaridade, claro que a prpria obra no pode ser idntica ao texto nem sua concretizao, mas deve situar-se em algum lugar entre os dois. Ela deve inevitavelmente ser de carter virtual, pois ela no pode reduzir-se nem realidade do texto nem subjetividade do leitor, e dessa virtualidade que ela deriva seu dinamismo. Como o leitor passa por diversos pontos de vista oferecidos pelo texto e relaciona suas diferentes vises e esquemas, ele pe a obra em movimento, e se pe ele prprio igualmente em movimento. (p.149)O sentido deve ser produto de uma interao entre os sinais textuais e os atos de compreenso do leitor. E o leitor no pode desprender-se dessa interao; ao contrrio, a atividade estimula nele o ligar necessariamente ao texto e o induzir a criar as condies necessrias eficcia desse texto. Como o texto e o leitor se fundem assim numa nica situao, a diviso entre sujeito e objeto no funciona mais; segue-se que o sentido no mais um objeto a ser definido, mas um efeito a ser experimentado. (p.150)Wayne Booth The Rhetoric of Fiction. [...] Booth defendia a tese segundo a qual um autor nunca se retirava totalmente de sua obra, mas deixava nela sempre um substituto que a controlava em sua ausncia, o autor implcito. P. 150A voz narradora no algo pertencente ao escritor de carne e osso, antes de tudo so relatos de algum autor implcito que utilizando-se de sua linguagem literria cria dilogos que mais parecem monlogos para assim pr-configurar seu leitor ideal. Por isso, durante as leituras de livros literrios o cuidado algo extremamente necessrio! Pois no plano ficcional a mo que nos guia para o final da histria a mesma que nos leva para o lugar mais obscuro, exmio de sentidos. [...] o autor implcito tinha um correspondente no texto, Booth afirmava que o autor constri seu leitor, da mesma forma que ele constri seu segundo eu, e[que] a leitura mais bem sucedida aquela para a qual os eus construdos, autor e leitor, podem entrar em acordo. P. 150

Encarna todas as predisposies necessrias para que a obra literria exera seu efeito predisposies fornecidas, no por uma realidade emprica exterior, mas pelo prprio texto. Consequentemente, as razes do leitor implcito como conceito so implantadas firmemente na estrutura do texto, trata-se de uma construo e no em absoluto identificvel com nenhum leitor real. (p.151)O conceito de leitor implcito [...] uma estrutura textual, prefigurando a presena de um receptor, sem necessariamente defini-lo: esse conceito pr-estrutura o papel a ser assumido pelo receptor, e isso permanece verdadeiro mesmo quando os textos parecem ignorar seu receptor potencial ou exclu-lo como elemento ativo. Assim, o conceito de leitor implcito designa uma rede de estruturas que pedem uma resposta, que obrigam o leitor a captar o texto. (p.151)O leitor implcito prope um modelo ao leitor real; define um ponto de vista que permite ao leitor real compor o sentido do texto. Guiado pelo leitor implcito, o papel do leitor real ao mesmo tempo ativo e passivo. Assim, o leitor percebido simultaneamente como estrutura textual (o leitor implcito) e como ato estruturado (a leitura real). (p.151)Enfim, Iser insiste naquilo que ele chama de repertrio, isto , o conjunto de normas sociais, histricas, culturais trazidas pelo leitor como bagagem necessria sua leitura. Mas tambm o texto apela para o repertrio, pe em jogo um conjunto de normas. Para que a leitura se realize, um mnimo de interseo entre o repertrio do leitor real e o repertrio do texto, isto , o leitor implcito, indispensvel. (p.152)O leitor de Iser um esprito aberto, liberal, generoso, disposto a fazer o jogo do texto. No fundo, ainda um leitor ideal [...] A experincia descrita por Iser essencialmente a de um leitor culto, colocado diante dos textos narrativos pertencentes tradio realista e principalmente ao modernismo. (p.154)[Essa teoria] confere ao leitor um papel (j que se aceitou desempenh-lo) ao mesmo tempo livre e imposto, [...] A liberdade concedida ao leitor est na verdade restrita aos pontos de indeterminao do texto, entre os lugares plenos que o autor determinou. Assim, o autor continua, apesar da aparncia, dono efetivo do jogo: ele continua a determinar o que determinado e o que no o . (p.155)Escritores so, antes de tudo, leitores, e como tais, buscam-se uns nos outros, no espao constelar da literatura e se leem e se escrevem. Duplicam-se. Escrevem com suas leituras, que so tambm seus fantasmas; por isso a escrita guarda, mesmo sem saber, a memria do Outro, nunca coincidindo exatamente com o que l, que so releituras, recriaes. O texto nunca transparente, pois tm uma famlia, um DNA, dissemina-se por vrios escritos e os recolhe em suas pginas. (BRANDO, 2011, p. 17)[...] tornar visvel ou perceptvel aquilo que est fora da linguagem, ou que esteja num limite, numa borda fina, nem dentro, nem fora, mas num lugar em que se pode saber do insabido, daquilo que est exterior linguagem. (p.19)A leitura nunca fcil, no havendo simetria entre o escritor e o leitor, e aquele que escreve no mximo supe um leitor ideal, com quem se relaciona de vrias maneiras: enganando-o, fazendo-o de confidente ou cmplice, ou, simplesmente, ignorando-o. (p.19)Continuando a desenvolver aquesto entre escritor/leitor, pode-se observar que geralmente este ltimo tende a acreditar que o escritor se dirige a ele em particular, o que faz parte da estratgia de leitura, aquela que busca captar aquele que l, captura-lo, mesmo quando se diz que o texto intransitivo e que no se dirige a algum em particular, bastando ao escritor o ato de escrever, seguindo o empuxo da escrita, pode-se dizer psicanaliticamente. De tudo isso, vlido concluir que a leitura no um processo totalizante, em que se supe que se l tudo, com clareza, sem equvocos, pois a linguagem o lugar do mal-entendito. (p.21)[...] A escrita especular constri-se l onde o sujeito julga estar, julga se ver, rejubilando-se consigo mesmo em sua festa narcsica. (p.21)Se o leitor quer construir um saber de outra ordem sobre o que l, necessrio um distanciamento. preciso que se descole do escrito em que se fixa, criando um dispositivo de leitura que o afaste do excesso de imaginrio, mas preciso tambm que no se esforce muito nessa tarefa, pois o livro sedutor, e se no , o leitor o fecha, entediado, no querendo saber do que lhe pode desagradar ou desestabiliz-lo de suas certezas. Da, a retrica, as estratgias, o uso das palavras, os torneios, os ornamentos, de que nem sempre o escritor tem conscincia de que est usando, pois os enganos ou as iluses perpassam muitas vezes o ato de escrever, com a fora da letra. (p.22)Um dos traos da escrita de Machado de Assis a desconstruo que ele faz das armadilhas da retrica, e o faz de forma muito peculiar, fingindo-se de retrico, dando voz ao engano, de tal forma que o leitor hesita em relao ao que l, pois est imerso nas representaes sociais, que so, muitas vezes, inconscientes, com o senso comum que rege os comportamentos, as crenas, as ideologias presentes nos provrbios, nas frases feitas, nos esteretipos que modelam e modulam a persona social. O sujeito que se sente muito confortvel em sua vida nem sempre se presta a colocar seus valores em questo e provavelmente no sero leitores do Bruxo, que lhes puxa o tapete do bem-estar no pensante. Impossvel esquecer a figura daquele leitor que parece ser o preferido do escritor, o que tem quatro estmagos no crebro: O leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estmagos no crebro, e por eles faz passar e repassar os atos e fatos, at que dedus a verdade, que estava, ou parecia estar escondida. (p. 22)Sabe-se h muito tempo que uma das funes da escrita a tentativa de dar contorno ao que chamamos de realidade, e aquilo que a psicanlise chama de fracasso da escrita a impossibilidade de descrever totalmente o mundo, de se fazer um mapa que coincida com ele, um livro-mundo[...]O exterior o que no se acha dentro da representao e seus modos de dizer, o que est fora da subjetividade, que escapa a ela, porque nem tudo se diz pela representao e seus modos de dizer dentro das normas gramaticais, as quais supe um tempo cronolgico, tempo das causalidades e do contnuo. A representao nunca apreende totalmente a coisa, algo sempre escapa, fracassa, pois no se pode tocar, pintar, escrever o objeto em sua totalidade. (p.23)O exterior no campo literrio se ope escrita da representao, verossimilhana, ao senso comum presente nas expectativas dos leitores de determinada poca, de certo contexto cultural. (p.24)Para ns, o que interessa a versatilidade do escritor brasileiro, que faz fico de fico, numa mistura hbrida de livros e autores de tempos diversos, livre de um tempo cronolgico e linear, para criar um tempo constelar, em que a criao literria se faz, ao sabor de leis diversas da pretendida verdade filosfica ou documental. (p.34)

Foi o Romantismo que manifestou em versos a hipertrofia do autor: a primeira pessoa apossou-se do discurso lrico, que seguidamente preferiu afastar-se da arena poltica[...] (ZILBERMAN, 2012, p.96).