os desafios da escola pÚblica paranaense na … · seminars, group networking and implementation...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
UMA PROPOSTA DE LEITURA DO GÊNERO CONTO NO 9º ANO A
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Nueli de Souza1
Me. Wilson Rodrigues de Moura2
RESUMO
O trabalho aqui proposto sobre gêneros foi norteado pelos pressupostos teóricos de Bakhtin, Estética da Recepção e pelo Método Recepcional, das autoras Aguiar e Bordini. As narrativas selecionadas pertencem ao gênero Conto. Foram trabalhados, sob a perspectiva Bakhtiniana, o conteúdo temático, a construção composicional e o estilo para compreensão de forma sistematizada, promovendo um aprofundamento sobre as práticas de leitura. O objetivo deste artigo foi relatar as experiências adquiridas de acordo com os estudos, elaboração de projeto, cursos, elaboração do material didático, seminários, grupo de trabalho em rede e a implementação do material didático pedagógico na escola, proporcionados pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. No referido artigo, faz-se uma reflexão sobre a dificuldade de aprendizagem de leitura proficiente dos alunos do 9º ano de uma escola estadual de Campo Mourão, com o objetivo de superação dessas dificuldades, por meio do gênero conto, compreender a práxis do professor e superando práticas tradicionais, num processo de interação e dialogicidade. Por meio da implementação didática pedagógica os estudantes puderam se ater para a construção de significados, elementos essenciais do gênero conto, condições de produção e a ampliação de seus horizontes de expectativas por meio de uma leitura significativa e crítica, além da maioria alcançar proficiência nas leituras feitas, por meio de uma prática pedagógica diferenciada Palavras-chave: Gênero Conto. Interação. Leitura. Estudantes. Práxis pedagógica.
ABSTRACT
The work proposed here about genres will be guided by theoretical assumptions
Bakhtin, and the Aesthetics of Reception and Recepcional method, the authors
Aguiar and Bordini. Selected narratives belong to the genus Tale. Will be worked
under Bakhtin's perspective, the thematic content, a compositional construction and
style for understanding in a systematic way, promoting a greater knowledge of the
practices of reading.The purpose of this article was to report the experiences gained
according to the studies, project design, courses, preparation of teaching materials,
seminars, group networking and implementation of educational courseware in school,
provided by the Educational Development Program - EDP. In that article, it is a
1 Professora PDE/Secretaria de Estado da Educação, Universidade Estadual de Campo Mourão.
2 Professor Me. Orientador, Universidade Estadual de Campo Mourão.
reflection on the learning difficulty of proficient reading students in the 9th grade of a
public school in Campo Mourao, aiming to overcome these difficulties through the
short story genre, understand the praxis of teacher and overcoming traditional
practices, and interact in a dialogical process. Through didactic pedagogical
implementation students were able to stick to the construction of meaning, essential
elements of the short story genre, production conditions and expand their horizons of
expectations by a significant and critical reading, beyond the reach proficiency in
most readings by means of a differential teaching practice.
Key-words: Genre Tale. Interaction. Reading. Students. Pedagogical praxis.
1 INTRODUÇÃO
A preocupação com a leitura esteve sempre muito presente na história. O ato
de ler contribui para a boa formação do educando, assim Gil (2003) argumenta que o
ambiente educacional deve ser um espaço que favoreça o contato do estudante com
diferentes tipos de textos que circulam na sociedade, pois através de textos diversos
há motivo para estudo, análise e investigação.
Faz-se necessário trabalhar a leitura considerando os horizontes de
expectativas do leitor e de forma que possibilite o diálogo e a interação. Na
concepção de Zacur (1999), a leitura tem uma finalidade primária e fundamental,
promover, no educando, o gosto pela beleza da palavra, o prazer perante a criação
de mundos de ficção, pois o processo de ensino e aprendizagem é uma dimensão
social de grande valia onde a escola tem um papel ativo e imprescindível na
sociedade e há uma dinamicidade no caráter da aprendizagem.
Entretanto, ao analisar-se a realidade da educação no país, tem-se
percebido um cenário diferente, em que a leitura está sendo pouco significativa para
o aluno. Rojo (2004, p.10) critica que, “no Brasil, tem se visto bastante preocupação
e discussão a respeito do fato de que as práticas escolares tendem a formar leitores,
ao final do ensino médio, com apenas as capacidades mais básicas de leitura,
ligadas à extração simples de informação relativamente simples”; sendo
imprescindível ir além dessa realidade, como Aguiar (1996) diz que é preciso que o
leitor saiba que seu horizonte individual, moldado à luz da sociedade de seu tempo,
mede-se com o horizonte de sua obra e que, desse encontro, lhe advém maior
conhecimento de mundo e de si próprio.
Tem sido muito frequente a constatação da dificuldade de se trabalhar a
leitura nas aulas de língua portuguesa no Colégio Estadual do Município de Campo
Mourão, foco do presente estudo, e essas dificuldades existentes estão presentes
tanto no processo de ensino quanto no da aprendizagem. Muitos problemas são
relatados pelos professores, como por exemplo: dificuldades de compreensão do
assunto lido, leitura mecânica, estrutura da biblioteca defasada, exemplares de
obras de forma insuficiente, muitas edições antigas e danificadas, ainda segundo
alguns estudantes, muitos não gostam de ler porque o assunto não é agradável ou
então não entendem o que lêem, possuem muitas dificuldades para entender o que
está escrito.
Rubem Alves (2004, p. 49) afirma que:
Ler requer uma educação da sensibilidade, uma arte de discriminar os gostos. O Chef prova os pratos que prepara antes de servi-los. O leitor cuidadoso, de forma semelhante “prova” um pequeno canapé do livro, antes de se entregar à leitura.
Nesse contexto, a prática de leitura compreende o contato do estudante com
uma ampla variedade de textos- discursos produzidos em uma ampla variedade de
práticas sociais, o desenvolvimento de uma atitude crítica de leitura que leve o
estudante a perceber o sujeito presente nos textos.
Em decorrência dos problemas apresentados, referente à aprendizagem e
ensino de leitura em sala de aula é necessário buscar alternativas para amenizar as
dificuldades enfrentadas sobre esse conteúdo básico para a formação do indivíduo e
que propicie “reflexão e discussão, tendo em vista o gênero a ser lido: do conteúdo
temático, da finalidade, dos possíveis interlocutores, das vozes presentes no
discurso e o papel social que elas representam”. (Diretrizes Curriculares do Estado
do Paraná, 2008, p.14, doravante denominada de DCEs).
Diante do exposto, o presente estudo objetiva em termos gerais realizar uma
proposta de leitura do Gênero Conto, de alguns autores da literatura brasileira
contemporânea, como Moacir Sclyar, Dalton Trevisan, Clarice Lispector e Marina
Colasanti, no 9º ano A do Ensino Fundamental do Colégio pesquisado.
Os gêneros discursivos proporcionam trabalhar a língua em diferentes usos
do cotidiano e nessa concepção interacionista, segundo Bakhtin (1999) , o individuo
atua, age, realiza ações por meio da linguagem que não é apenas elemento de
exteriorização do pensamento, mas agente de interação comunicativa pela produção
de efeitos de sentido entre os interlocutores em uma dada situação comunicativa e
em um contexto sócio-histórico e ideológico.
Dentre os gêneros discursivos, optou-se por trabalhar o conto devido o
mesmo ser um gênero literário ficcional de pequena extensão, cria um universo de
seres e acontecimentos da fantasia. Como em todo gênero discursivo, por meio do
conto o leitor também é capaz de fazer uma análise crítica do mesmo, já que tem
contato com as estruturas da obra, com sua composição e organização interna, da
elaboração de significados, além de aprimorar a capacidade de pensamento crítico,
constituindo um espaço dialógico de interação verbal e do uso da linguagem como
prática social. Jauss (1994, p.50) evidencia que “(...) a função social somente se
manifesta na plenitude de suas possibilidades quando a experiência literária do leitor
adentra o horizonte de expectativas de sua vida prática”.
Para desenvolver o estudo sobre o gênero conto foi utilizada a concepção
interacionista da linguagem que, conforme Bakhtin/Volochinov (1999, p.109)
compreende que o indivíduo interage por meio dos gêneros discursivos e que o
mesmo é agente de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido
entre os interlocutores em um contexto social, histórico e ideológico, bem como o
contexto de produção do enunciado, no qual o sujeito está inserido. Essa concepção
está norteada pela teoria do mesmo e de seus círculos teóricos, que propõem uma
concepção enunciativa e dialógica da linguagem evidenciada em “Marxismo e
Filosofia da Linguagem”, “Estética da Criação Verbal” e na “Estética da Recepção”.
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 IMPORTÂNCIA DA LEITURA
A leitura é um processo pessoal e intransferível. O trajeto de uma leitura é
sempre uma viagem maravilhosa. A leitura é um dos aspectos fundamentais para
que o homem se desenvolva e transforme a sociedade em que vive. No ato da
leitura, o leitor aciona o seu conhecimento prévio observando conhecimento
linguístico, o vocabulário, além disso, o leitor utiliza o que já está internalizado, e o
que é construído no decorrer de sua vida.
Entretanto, Bakhtin (1999) argumenta que somente há compreensão da
língua dentro de sua qualidade contextual. Só no contexto real de enunciação, torna-
se possível à concretização da palavra. O sentido é determinado pelo contexto,
havendo tantas significações possíveis quantos forem os contextos possíveis.
“O essencial na tarefa de decodificação não consiste em reconhecer a forma
utilizada, mas compreendê-la num contexto concreto preciso, compreender sua
significação numa enunciação particular.” (Bakhtin, 1999, p.85). A leitura não é
apenas a decodificação para o domínio dos aspectos de fluência e dicção, mas
principalmente como um processo interacional entre o leitor e o autor. A leitura deve
ser vista como um processo dinâmico entre sujeitos que instituem trocas de
experiências por meio do texto escrito. Para que a leitura ocorra em sua totalidade é
necessário expor o estudante a todo tipo de texto, sejam narrativos, informativos,
dissertativos, entre outros, de acordo com a série cursada pelo estudante. Outras
formas de trabalhar a leitura são por meio de momentos de interação entre professor
e estudantes e entre os próprios estudantes, ou seja, valorizando a leitura do outro
sujeito. Para Soares, “leitura não é (...) ato solitário; é interação verbal entre
indivíduos e indivíduos socialmente determinados”. A autora diz também que a
leitura:
[...] do ponto de vista da dimensão individual de letramento (a leitura como uma „tecnologia‟), é um conjunto de habilidades linguísticas e psicológicas, que se estendem desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de compreender textos escritos. [...] refletir sobre o significado do que foi lido, tirando conclusões e fazendo julgamentos sobre o conteúdo. (SOARES, 2002, pg. 68-69)
Cosson (2006, p.120) aborda que o letramento literário, o aprendizado crítico
da leitura literária, o qual não se faz sem o encontro pessoal com o texto enquanto
princípio de toda experiência estética. Para ele, ser leitor de literatura é “posicionar-
se diante da obra literária, identificando e questionando protocolos de leitura,
afirmando ou retificando valores culturais, elaborando e expandindo sentidos”.
Segundo Jauss (1994), a experiência estética torna-se emancipadora na
medida em que abarcam as três atividades primordiais (Poíesis, Aíthesis e
Katharsis) que se relacionam. A primeira compreende o prazer do leitor ao sentir-se
coautor da obra literária, a segunda o prazer estético advindo de uma nova
percepção da realidade proporcionada pelo conhecimento adquirido por meio da
criação literária e a terceira, o prazer proveniente da recepção e que ocasiona, tanto
a liberação, quanto a transformação das convicções do leitor, mobilizando-o para
novas maneiras de pensar e agir sobre o mundo.
Candido (1989, p. 113) aborda sobre a importância da literatura na sociedade,
evidenciando que:
A literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que consideram prejudiciais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apóia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas.
Portanto, a literatura se torna indispensável na formação de personalidade,
emoções, expressões, reflexão, aquisição do saber, percepção da complexidade do
mundo, criatividade e criticidade de um indivíduo.
Objetivando possibilitar maior qualidade no processo de aprendizagem, Jauss
(1994) analisa a importância de haver diversidade de obras e autores apresentados
aos alunos, sendo muito importante na leitura e na formação do leitor, tanto para as
bases de uma nova ciência, quanto para a ampliação de experiências de vida.
Essa condição de ruptura dada pela arte por meio das possibilidades de inovação de horizontes e pela verificação da experiência estética entre obra e leitor é essencial para que se estabeleça o exercício da função comunicativa da produção artística. Assim a experiência estética não se inicia pela compreensão e interpretação do significado de uma obra; menos ainda, pela reconstrução da intenção de seu autor. A experiência primária de uma obra de arte realiza-se na sintonia com seu efeito estético, isto é, na compreensão fruidora e na fruição compreensiva. (JAUSS, 1994, p. 69)
Ampliando a abordagem do estudo, faz-se necessária também a adoção de
uma concepção interacionista da linguagem que, conforme Bakhtin (1999)
compreende que o indivíduo interage por meio dos gêneros discursivos e que o
mesmo é agente de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido
entre os interlocutores em um contexto social, histórico e ideológico, bem como o
contexto de produção do enunciado, no qual o sujeito está inserido.
A palavra alheia introduzida no contexto do discurso estabelece com o discurso que a enquadra não um contexto mecânico, mas uma amálgama química (no plano do sentido e da expressão); o grau de influência mútua do diálogo pode ser imenso. Por isso, ao se estudar as diversas formas de transmissão do discurso de outrem, não se pode separar os procedimentos de elaboração deste discurso dos procedimentos de que enquadramento
contextual (dialógico): um se relaciona indissoluvelmente ao outro. (BAKHTIN, 1999, p.141)
A leitura permite necessariamente acesso ao discurso do Outro, como ocorre
com os momentos de produção discursiva, também quando se realiza a leitura, está
se estabelecendo um diálogo com o autor, com os personagens, com os demais
discursos dos quais os nossos são compostos. Ao ler a palavra do outro, se constrói
outras palavras, outras formas de pensar, outros discursos, contrapondo ao que se
lê. No processo de refutação ou aceitação do que se lê vai se construindo novos
sentido e novos discursos, em que a palavra reflete e refrata outras palavras.
Nessa mesma linha teórica, o estudo também tem como base o Método
Recepcional, que tem “(...) como objetivo desenvolver a formação de leitores
proficientes e críticos, permitindo um diálogo com o texto literário dando significação
à literatura e suas relações dialógicas entre texto, leitor e as esferas de circulação
social.” (BORDINI e AGUIAR, 1993).
Segundo Aguiar e Bordini (1993), o Método Recepcional atribui ao leitor o
papel de sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu contexto,
proporcionando também momentos de debates, reflexões sobre a obra lida,
possibilitando ao estudante a ampliação dos seus horizontes de expectativas.
Nesse contexto, a prática da leitura compreende o contato do estudante com
uma ampla variedade de textos – discursos produzidos numa igualmente ampla
variedade de práticas sociais, o desenvolvimento de uma atitude crítica de leitura
que leve o estudante a perceber o sujeito presente nos textos, o desenvolvimento de
uma atitude responsiva diante dos mesmos.
2.2 GÊNERO CONTO
O conto é um gênero literário ficcional de pequena extensão. Cria um
universo de seres e acontecimentos da fantasia. Como em todo gênero discursivo,
através do conto o leitor também é capaz de fazer uma análise crítica do mesmo, já
que tem contato com as estruturas da obra, com sua composição e organização
interna, da elaboração de significados.
O tamanho, portanto, representa um dos sinais característicos de sua diferenciação. Podemos mesmo dizer que o elemento quantitativo é o mais objetivo dos seus caracteres. O romance é uma narrativa longa. A novela é uma narrativa média. O conto é uma narrativa curta. O critério pode ser muito empírico, mas é muito verdadeiro. É o único realmente positivo (GOTLIB, 2003, p. 64).
Em relação à conceituação dos elementos de um conto, de acordo com Gotlib
(2003), consiste em uma narrativa breve, desenrolando somente um incidente
predominante e uma só personagem principal, contém um assunto cujos detalhes
são tão comprimidos e o conjunto do tratamento tão organizado, que produzem uma
só impressão. A autora complementa que para um conto ser considerado uma
história boa, precisa de força, clareza e compactação.
Por se tratar de uma narrativa curta, os estudantes podem ter contato com
textos de diversos autores, além de escrever seus próprios textos no gênero
estudado, visando ainda a interação com outros colegas da turma, além de
aprimorar a capacidade de pensamento crítico, constituindo um espaço dialógico de
interação verbal e do uso da linguagem como prática social. Jauss (1994, p.50) diz
que “A função social somente se manifesta na plenitude de suas possibilidades
quando a experiência literária do leitor adentra o horizonte de expectativas de sua
vida prática”.
Para que a obra literária possa capturar o leitor, é necessário que este seja
apresentado a ela de forma adequada. Os contos, por serem mais curtos e
propiciarem uma leitura mais rápida, viabilizam sua leitura integral em uma só aula,
permitindo ao professor realizar uma leitura compartilhada com os alunos. O acesso
a contos pode constituir uma alternativa viável para formar leitores apaixonados se o
professor investir nos aspectos que estabelecem uma crítica da realidade e na
exposição dos recursos da linguagem.
2.3 METODOLOGIA
Para atender os objetivos propostos, realiza-se metodologia específica. O
presente trabalho caracteriza-se, quanto aos fins, como uma pesquisa investigativa,
na qual se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da
prática e investigar a respeito dela (pesquisa – ação). Planeja-se, implementa-se,
descreve-se e avalia-se uma mudança para a melhora de sua prática, aprendendo
mais, no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria
investigação.
A pesquisa-ação é principalmente, uma modalidade de intervenção coletiva,
inspirada nas técnicas de tomada de decisão, que associa atores e pesquisadores
em procedimentos conjuntos de ação com vista a melhorar uma situação precisa,
avaliada com base em conhecimentos sistemáticos de seu estado inicial e apreciada
com base em uma formulação compartilhada de objetivos de mudança. É importante
registrar que a investigação com o uso do Gênero Conto deu-se dentro de um
contexto real no qual pôde-se contar com diversas fontes de evidências, colhidas
pela pesquisadora para validar os resultados.
Quanto à abordagem do problema, a pesquisa é qualitativa. Beuren explica:
Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais. (...) podem contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (BEUREN, 2004, p. 91).
De acordo com Beuren (2004, p. 128), os instrumentos de pesquisa a serem
utilizados dependem “dos objetivos que o investigador pretende alcançar e do
universo a ser pesquisado”. Dentre as inúmeras formas de obtenção de dados para
subsidiar os propósitos da pesquisa e levando-se em consideração seu objetivo e
universo, optou-se pelos métodos de pesquisa documental de fontes secundárias.
Beuren (2004) salienta a importância do método de coleta de dados: a
pesquisa em documentos escritos. A autora explica que há dois tipos de fontes de
pesquisa documental: as primárias e as secundárias. No caso da pesquisa
realizada, foram utilizadas as fontes secundárias, ou seja, as contribuições já
publicadas sobre o tema estudado foram colhidos os dados necessários em livros,
revistas, e artigos relacionados ao tema.
2.4 RESULTADO DAS AÇÕES IMPLEMENTADAS
Objetivando realizar a proposta de leitura através do gênero conto, seguiu-se
o método recepcional e o estudo esteve centrado nas cinco etapas descritas nas
Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008), sendo:
1. Determinação do horizonte de expectativa: O professor precisa tomar
conhecimento da realidade sociocultural dos educandos, observando o dia
a dia da sala de aula;
2. Atendimento do horizonte de expectativa: O professor apresenta textos que
sejam próximos ao conhecimento de mundo e as expectativas de mundo e
ás experiências de leitura dos estudantes;
3. Ruptura do horizonte de expectativa: É o momento de mostrar ao leitor que
nem sempre determinada leitura é o que ele espera, suas certezas podem
ser abaladas. Para que haja o rompimento, é importante o professor
trabalhar com obras que partindo das experiências de leitura dos
estudantes, aprofundem seus conhecimentos, fazendo com que eles se
distanciem do senso comum em que se encontravam e tenha seu horizonte
de expectativa ampliado, consequentemente, o entendimento do evento
estético. Neste momento, o leitor tenta encaixar o texto literário dentro de
seu horizonte de valores, porém a obra pode “confirmar ou perturbar esse
horizonte, em termos de expectativas do leitor, que o percebe, o julga por
tudo que já conhece e aceita” (BORDINI e AGUIAR, 1993, p.87);
4. Questionamento do horizonte de expectativa: O professor orienta o
estudante/leitor a um questionamento e a uma auto-avaliação a partir dos
textos oferecidos;
5. Ampliação do horizonte de expectativa: As leituras oferecidas ao estudante
e o trabalho efetuado a partir delas possibilitam uma reflexão e uma
tomada de consciência das mudanças e das aquisições, levando-o a uma
ampliação de seus conhecimentos.
Utilizaram-se oito estratégias de ação, as quais seguiam um roteiro de análise
de um texto narrativo e atividades de interpretação e produção de sentidos. As
ações foram realizadas em sua totalidade:
1. A ação 1 - Estrutura do gênero conto: se fez necessária para que os
estudantes compreendessem o que é o Gênero Conto, sua estrutura e as
suas principais funções, além de proporcionar o contato com o gênero
conforme suas esferas sociais de circulação, propiciando a vivência da
obra literária, a compreensão e interpretação social.
2. A ação 2 - Estudo dos elementos da narrativa, baseado nas orientações da
Gancho (2006): se fez necessário para que o estudante conhecesse a
estrutura do gênero em estudo, as partes que o compõem e sua natureza
ficcional, sua verossimilhança. Conforme cita a autora a verossimilhança é
a lógica interna do enredo, que o torna verdadeiro para o leitor e que é a
essência do texto de ficção. Ainda segundo a autora, os fatos não precisam
ser verdadeiros, no sentido de corresponderem exatamente a fatos
ocorridos no universo exterior ao texto, mas devem ser verossímeis; isto
quer dizer que, mesmo sendo inventado, o leitor deve acreditar no que lê.
Esta credibilidade advém da organização dos fatos dentro do enredo.
3. A ação 3 - Leitura e debate - Tecnologia: tratou da tecnologia e da
alienação de muitos diante da mídia, cujo objetivo específico foi promover o
debate sobre os meios de comunicação de massa, a sua influência na vida
das pessoas e a falta de diálogo, principalmente na família.
4. A ação 4 - Estudo de conto sobre a temática (Tempo: Infância – dialogismo
entre conto e poema): foi o início do estudo da temática Tempo, cujo foco
foi a infância. Um dos objetivos, a partir dessa temática foi discutir a
objetividade do tempo, amadurecer as relações entre os fenômenos e
nossos estados subjetivos bem como discutir as relações e interações
entre os sujeitos, considerando o seu processo sócio-histórico. Cada conto
estudado retratou a fase do tempo em questão. Nesse caso, o conto
retratou a fase da infância, além de outro texto complementar sobre o
mesmo assunto.
5. A ação 5 - Leitura e análise de conto sobre a temática (Tempo:
Adolescência – dialogismo entre conto e mito): abordou a fase da
adolescência, dentro da temática Tempo e o objetivo principal foi o mesmo
da ação 4: discutir a objetividade do tempo, amadurecer as relações entre
os fenômenos e nossos estados subjetivos bem como discutir as relações
e interações entre os sujeitos, considerando o seu processo sócio-histórico.
Cada conto estudado retrata a fase do tempo em questão. Nesse caso, o
conto retratou a fase da adolescência, além de outro texto complementar
sobre o mesmo assunto.
6. A ação 6 - Leitura e análise de conto sobre a temática (Tempo: Juventude):
abordou a fase da juventude e o objetivo principal foi discutir a objetividade
do tempo, amadurecer as relações entre os fenômenos e nossos estados
subjetivos bem como discutir as relações e interações entre os sujeitos,
considerando o seu processo sócio-histórico. Cada conto estudado retratou
a fase do tempo em questão. Nesse caso, o conto retratou a fase da
Juventude.
7. A ação 7 - Leitura e análise de contos sobre a temática (Tempo: Velhice –
dialogismo com poema, Estatuto do Idoso e pintura de artistas que retratam
a temática da passagem do tempo): abordou a fase da velhice, dentro da
temática Tempo e o objetivo principal foi discutir a objetividade do tempo,
amadurecer as relações entre os fenômenos e nossos estados subjetivos
bem como discutir as relações e interações entre os sujeitos, considerando
o seu processo sócio-histórico. Cada conto estudado retratou a fase do
tempo em questão. Nesse caso, os contos retrataram a fase da velhice,
além de outro texto complementar sobre o mesmo assunto (Estatuto do
Idoso).
8. Ação 8 - Leitura e análise de conto sobre a temática (Tempo: Epílogo –
dialogismo entre conto e música sobre a temática estudada): esta foi a
última etapa, chamada de Epílogo. Nesse momento, após o estudo do
conto sobre o assunto e do texto complementar sobre o mesmo e as
demais realizações das leituras anteriores, as análises e atividades
propostas sobre a temática tempo foi o momento de propor reflexões e
debates, fazendo retomadas sobre os assuntos abordados, proporcionando
aos alunos um questionamento dos seus horizontes de expectativas e
contribuir no seu posicionamento crítico relacionando ao seu contexto
social.
Durante a realização das atividades na fase de implementação muitas alunos
opinaram, falaram das suas expectativas e afirmaram o quanto foi importante um
trabalho diferenciado sobre leitura, sem imposição, muito mais interessante e que
despertou o gosto por essa atividade tão essencial para o processo de
aprendizagem dos mesmos, segundo relatos da turma 9º A, era um trabalho que não
poderia acabar, pois eles se sentiam inseridos no processo e isso trouxe muito
aprendizado, inclusive para aqueles que não gostavam de ler ou não entendiam o
que liam.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura é uma prática essencial para uma educação que vê o educando
como sujeito capaz de interagir e se posicionar frente aos problemas da sociedade,
com capacidade de informação e reflexão crítica. Não pode ser uma leitura que não
tenha significado ou que a aprendizagem não leve em conta o processo histórico e
social do indivíduo. A leitura deve fazer com que o estudante seja capaz de fazer
inferências e construir significados, não pode ser apenas algo sem sentido ou uma
mera decodificação e sobre esse aspecto vale ressaltar e enfatizar o que cita as
DCEs, que a leitura não é apenas a decodificação para o domínio dos aspectos de
fluência e dicção, mas principalmente como um processo interacional entre o leitor e
o autor. A leitura deve ser vista como um processo dinâmico entre sujeitos que
instituem trocas de experiências por meio do texto escrito. Para que a leitura ocorra
em sua totalidade é necessário expor o estudante a todo tipo de texto, textos
narrativos, informativos, dissertativos, etc., de acordo com a série cursada pelo
estudante. Outras formas de trabalhar a leitura são por meio de momentos de
interação entre professor e estudantes e entre os próprios estudantes, ou seja,
valorizando a leitura do outro sujeito.
O trabalho com a leitura vem para amenizar as dificuldades enfrentadas pelos
estudantes sobre esse conteúdo básico para a formação do indivíduo e que propicie
reflexão e discussão tendo em vista o gênero a ser lido, do conteúdo temático, da
finalidade, dos possíveis interlocutores, das vozes presentes no discurso e o papel
social que elas representam.
Com o objetivo de amenizar as dificuldades enfrentadas sobre leitura em sala
de aula, desenvolver o gosto pela leitura significativa e fazer com que estudantes se
tornem leitores críticos e proficientes, a implementação da produção didático
pedagógica, privilegiou o gosto pela leitura do texto literário, “a leitura
humanizadora”, a seguir conheceram os elementos composicionais do gênero em
estudo, bem como seus aspectos discursivos. Também foi muito importante o
estímulo à capacidade de reflexão crítica, os debates, valorizando argumentos
consistentes, as inferências feitas e, sobretudo as formas de estabelecerem relações
dialógicas entre os textos, considerando o momento histórico, de produção e a
comparação com a realidade na sociedade atual.
Ao término das atividades de implementação é possível afirmar com muita
certeza que, para a maioria dos estudantes envolvidos no processo, a leitura foi
significativa e capaz de torna-los capazes de fazer reflexão crítica a cerca de uma
situação-problema, relacionada ao mundo em que vivem. Assim foi possível
perceber que a intervenção alcançou seu objetivo de formar estudantes críticos,
capazes de desvelar o texto e proficientes em leitura, não apenas no contexto
escolar, mas como já citado em todos os campos do conhecimento, inclusive no
conhecimento de mundo.
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