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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
Ficha para Catálogo Artigo Final
Professor PDE/2013 Título A Prática do Futsal pelo Prazer Autor Claudio Schleder Disciplina da Área Educação Física Núcleo Regional de Educação
Ponta Grossa
Escola de Implementação
Colégio Estadual Regente Feijó – Ensino Médio / Profissionalizante
Localização Ponta Grossa Instituição de Ensino Superior
Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG
Orientador Prof. Espec. Carlos Mauricio Zaremba Formato Unidade Didática Público Alvo Alunos do 1º- ano do Ensino Médio Resumo A Educação Física Escolar é disciplina importantíssima na
formação dos alunos, ela propicia inúmeras transformações sociais e busca estimular uma melhor qualidade de vida aos alunos. Este trabalho é objeto de estudo do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), e tem como objetivo principal verificar se suas intervenções podem tornar a prática do Futsal mais prazerosa. Esta Unidade Didática será aplicada no Colégio Estadual Regente Feijó – Ensino Médio e Profissionalizante da cidade de Ponta Grossa. A metodologia aplicada será com atividades que favoreçam as possibilidades de transformação que a prática do Futsal pode proporcionar ao praticante, desmistificando as atividades da modalidade que favoreçam a competição e exclusão. Os resultados finais foram analisados após a aplicação de questionários, através das respostas pudemos perceber se os objetivos foram alcançados.
Palavras-chave Educação Física Escolar, Futsal, Metodologia de Ensino
A Prática do Futsal pelo Prazer1
Autor:Claudio Schleder1
Orientador:Carlos Mauricio Zaremba2
[F1]
RESUMO A Educação Física Escolar é uma disciplina importante na formação dos alunos, pois propicia inúmeras transformações sociais buscando estimular uma melhor qualidade de vida aos alunos. Este trabalho é objeto de estudo do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e tem como objetivo principal verificar se suas intervenções podem tornar a prática do Futsal mais prazerosa. Esta Unidade Didática será aplicada no Colégio Estadual Regente Feijó – Ensino Médio e Profissionalizante da cidade de Ponta Grossa. A metodologia aplicada será com atividades que favoreçam as possibilidades de transformação que a prática do Futsal pode proporcionar ao praticante, desmistificando as atividades da modalidade que favoreçam a competição e exclusão. Os resultados finais foram analisados após a aplicação de questionários, através das respostas pudemos perceber se os objetivos foram alcançados. Palavras-chave: Educação Física Escolar, Futsal, Metodologia de Ensino.
1. Claudio Schleder: Professor do Colégio Estadual Regente Feijó de Ponta Grossa. Especialista em
Pedagogia do Esporte pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
2. Carlos Mauricio Zaremba: Professor do departamento de Educação Física da Universidade Estadual de
Ponta Grossa, Mestre em Ciências Sociais Aplicadas.
1. INTRODUÇÃO
“ Ganhemo, perdimo, mas igual se divertimo.”
(Galeano, 2004, p.3)
.O professor de Educação Física tem encontrado barreiras para a aplicação de
atividades práticas, as quais, muitas vezes, causadas em função da utilização de
materiais e condições físicas inadequadas, pelo desinteresse do praticante, ou pela
influência do termo “competição” nas aulas práticas, principalmente quando se trata
das aulas no ensino médio, entre tantos outros motivos.
A possibilidade de transformações sociais, que as aulas propiciam aos
alunos, faz com que se busque a valorização da prática de atividades físicas, e,
com isso, estimulam no aluno a sua compreensão e importância social no meio ao
qual ele está inserido.
Deve-se perceber e estar atento que a mudança ocorrida, na transposição
do ensino fundamental para o ensino médio, afeta diretamente o aluno.
A modalidade de Futsal, uma das mais praticadas e utilizadas à nível
escolar, acaba de certa maneira prejudicada em seus objetivos que poderiam vir a
desenvolver, pois infelizmente na maioria dos casos, o histórico participativo dos
alunos em relação a essas atividades em suas escolas anteriores é através de
“atividades práticas livres” ou ”jogos de bola”. Não que essa prática em si já não
seja benéfica, mas poderia ser bem mais explorada com atividades dirigidas de
forma adequada.
Será questionada a inadequação, ou não, da prática aplicada pelos
Profissionais de Educação Física, pois há um dilema: as realidades e características
de cada escola são únicas e, sem dúvida, esse fator é essencial na elaboração dos
trabalhos propostos pela Educação Física Escolar. A modalidade esportiva Futsal e
sua aplicação em nível escolar acabam restrita somente a treinamentos específicos,
mesmo durante as aulas de Educação Física.
A observação empírica começa nas aulas práticas de educação física,
especificamente da modalidade de Futsal, na qual muitos alunos preferem ficar
assistindo ao invés de participar. As desculpas são as mais diferentes possíveis:
falta de vontade, vergonha, preguiça, entre tantas outras. Tal fato se repete em
outras modalidades, mas, o que nos chamou a atenção, é o fato de o Futebol/Futsal
ser a modalidade mais praticada no Brasil e consequentemente dentro das escolas.
O aluno traz um histórico de vida e, muitas vezes, da prática do Futsal, e essa
prática, em muitos casos, nem sempre é adequada ao contexto escolar. Sua prática,
em muitas ocasiões, é oriunda do Futsal/Futebol de rua, das colônias de férias,
clubes, entre outras. E esse conhecimento acaba se confrontando com algumas
possibilidades educativas que a modalidade Futsal, enquanto matéria do currículo
escolar, pode favorecer. Freire (2003, p.7) ressalta esta situação:
[...] Há na pedagogia de rua, diversas coisas que eu não gostaria de ver repetidas na escola. Por exemplo, os grupos infantis, quando jogam futebol, costumam excluir os mais fracos. A pedagogia da rua é suscetível tantos às coisas boas como às coisas ruins. [...]
Sabedores que somos do amor dos brasileiros em relação ao Futebol, difícil
entender uma não aceitação da modalidade de Futsal enquanto matéria do currículo
escolar. Diante disso é que se traçou o ponto de partida do presente trabalho: a
negativa de participação de vários alunos nas aulas práticas da modalidade em
questão.
O trabalho foi elaborado tendo em vista a problemática levantada, a não
participação dos alunos nas aulas práticas de Educação Física no que diz respeito à
modalidade de Futsal. Tal fato foi verificado em aulas práticas, aonde grande parte
dos alunos preferia ficar assistindo ao contrário de participar.
Em um primeiro momento, para que pudéssemos entender esse
comportamento utilizamos de uma pesquisa exploratória, tendo como ferramenta
um questionário que foi aplicado em sala de aula de maneira voluntária. Gil (2006,
p.27) classifica dessa forma:
[...] As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. De todos os tipos de pesquisas, estas são as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamentos bibliográficos e documentais, entrevistas não padronizadas e estudos de casos. Procedimentos de amostragem e técnicas quantitativas de coletas de dados não são costumeiramente aplicados nestas pesquisas. [...]
O projeto de intervenção foi aplicado a aproximadamente setenta alunos,
sendo uma turma do ensino médio regular, com quatro aulas semanais de Educação
Física, em função de o ensino ser em blocos e não seriado, e outra turma do 3º- ano
de Secretariado – Curso Profissionalizante, com duas aulas semanais da disciplina
de Educação Física. Em função da distribuição de aulas não houve possibilidades
de ser aplicado em turmas de mesmo período, esse fato acabou ocasionando
algumas alterações em relação ao projeto inicial.
A escolha das turmas foi realizada junto à Direção Escolar e Equipe
Pedagógica. Optamos por essas turmas em função da disponibilidade de horários e
o autor do projeto ser o responsável discente pelas turmas.
Para a execução do projeto foi elaborado uma sequência de atividades que
foram aplicadas com objetivo de obter resultados para uma análise e diagnóstico
final do problema levantado no projeto; a falta de interesse no aluno na prática do
Futsal enquanto atividades prática no Colégio Estadual Regente Feijó, em Ponta
Grossa.
A primeira atividade realizada foi uma pesquisa exploratória com perguntas
investigativas qualitativas sobre a experiência e conhecimentos anteriores sobre a
modalidade do Futsal, tanto em nível prático como teórico.
Esse questionário busca saber a que ponto esse aluno tem conhecimento da
história e origem do Futsal. O resultado está apresentado a seguir:
- Você gosta de participar das aulas de Educação Física Práticas?
7% Não 8% Às vezes 13% Sim 72% Gosto muito
- Em relação a História do Futsal o que eles aprenderem em suas aulas anteriores
de Educação Física?
11% Nada 10% Quase nada 42% Pouco 37% Muito
- Sobre Regras do Futsal que eles aprenderam em suas aulas anteriores de
Educação Física?
15% Nada 13% Quase nada 39% Pouco 33% Muito
- Em relação a fundamentos (passe de bola, condução de bola, chute, etc.) você
aprendeu em suas aulas anteriores de Educação Física.
15% Nada 20% Quase nada 38% Pouco 27% Muito
- Enquanto atividade física, suas aulas de Educação Física em relação ao Futsal te
deixavam satisfeito?
8% Nada 10% Quase nada 18% Pouco 64% Muito
- Em suas aulas de Educação Física quando a modalidade era futsal, tinha jogo?
11% Quase sempre 83% Sempre
Pode-se observar através de analise das respostas que os alunos apesar da
grande diferença de origens de suas escolas anteriores, possuem prazer pela
prática da atividade Física (72% responderam que sim), inclusive o Futsal, mas
também observamos que muito pouco eles conhecem de regras (39%),
fundamentos (38%) e história da origem do Futsal (42%).
A metodologia de ensino da modalidade não deveria ser a formação de
atletas e sim de cidadãos conscientes de sua importância na sociedade. Santana
(2008, p.5) cita: “Penso que, em esporte, conhece-se o que se vive”. Neste caso se
ensinamos aos alunos o Futsal como forma de se praticar somente como jogo em si,
sem ensinarmos regras, fundamentos e história deixarmos uma lacuna em nosso
trabalho.
2. APLICAÇÃO DO PROJETO
O Futsal é uma modalidade esportiva que conquistou, gradativamente, seu
espaço dentro do contexto social e esportivo. Transformando-se em conteúdo
contemplado nas propostas curriculares em todo país, necessitando de abordagens
didático-pedagógicas, para a construção de conhecimento científico específico,
desenvolvendo também o gosto pela sua prática e reconhecendo os benefícios de
sua execução. O esporte, apesar de ser entendido por muitas pessoas, como prática
simples desvinculada de qualquer aspecto educacional deve ser principalmente na
fase inicial do aprendizado, orientado, procurando-se com isso desenvolver no
aprendiz, simultaneamente, a técnica e o gosto pela prática adequada. Santana
(2008, p.7) afirma que:
[...] grande parte dos professores preocupa-se (acertadamente) em ensinar conteúdos universais, como a história, as regras, alguns métodos de ensino e alguns aspectos técnicos e táticos, mas esquece-se de fomentar uma discussão pedagógica mais
abrangente e comprometida com a complexidade de ensinar futsal. [...]
O projeto teve inicio com a apresentação de um filme: A História do Futebol –
Um Jogo Mágico- produzido pela FremantleMedia. Aqui se faz necessário realizar
uma abordagem da história do Futebol em função de que a própria origem do Futsal
está diretamente ligada ao Futebol. A origem do Futsal ainda é motivo de discussão
e de estudos, pois alguns autores descrevem que os pais do Futsal são os
brasileiros e outros que são os uruguaios. Zaremba (2010, p.22) apresenta a
hipótese:
[...] Existem muitas divergências com relação ao local de surgimento do futsal, mas uma coisa, todos concordam, o futsal surgiu na década de 30. Uma vertente histórica defende a ideia de que o Futebol de Salão (era assim que o futsal se chamava até pouco tempo atrás) surgiu em Montevidéu na ACM (Associação Cristã de Moços) e que o professor Juan Carlos Ceriani, foi o primeiro a criar regras para esta nova modalidade. [...]
Como também há relatos de uma iniciação a prática do Futsal na Europa.
Segundo Lopes (2004, p.4) são de origem inglesa as primeiras informações sobre a
origem do futsal:
[...] Em 1885 introduzia-se o futebol profissional quando, ao mesmo tempo, também na Inglaterra, em lugares com espaço reduzido, e muitas vezes com cobertura, desenvolveu-se um jogo de drible chamado Drible Game, que ao poucos foi tomando forma e espalhando-se até que, na década de 1930, surgiram oficialmente os primeiros relatos do Futebol de Salão. [...]
Após a primeira etapa, passou-se para atividades práticas com materiais
alternativos: bolas de tênis de campo, bolas de borrachas de diversos tamanhos,
escadas de agilidades entre outros. Procurou-se estimular no aluno a execução de
exercícios dos fundamentos do futsal, não como forma do rendimento técnico, mas
sim, principalmente, para que venham vivenciar tais fundamentos e com sua prática
melhorar suas condições de execução de maneira prazerosa, não criando em sua
participação o motivo se buscar um vencedor e um perdedor.
A primeira atividade prática do projeto aplicada foi com escadas de agilidade.
Essa atividade tem como objetivo principal, o estimulo a prática de atividades físicas,
desenvolvimento da coordenação motora. Por ser um material pouco conhecido em
nível escolar acaba chamando a atenção dos alunos, e os movimentos iniciais das
atividades se assemelham muito a brincadeira popular chamada de “pular
amarelinha”. Essa atividade, em primeiro plano, causou certa inibição em sua
execução, fato que foi logo esquecido em função de sua simplicidade nos primeiros
movimentos. Freire (2003, p.7) explana bem a situação, dando ênfase à cultura
popular do futebol:
[...] Apesar disso, ela será o principal referencial dos procedimentos aqui sugeridos, principalmente porque, para ensinar crianças e adolescentes, sempre deveremos levar em consideração, acima de tudo, a cultura popular relacionada ao futebol. O modo de trazer essa cultura para a escola será preservar o espaço lúdico, esse espaço de brincadeiras tão produtivo para a aprendizagem. [...]
Sequencialmente após o início dos trabalhos, com escadas de agilidade,
adaptaram-se junto a essas atividades alguns fundamentos da modalidade em
estudo, como: passes, condução de bola, sendo que, em primeiro momento, não
houve uma preocupação com a execução adequada dos fundamentos. Na próxima
aula foram realizados novos exercícios estimulando um pouco de qualidade na
execução dos fundamentos, principalmente quando se tratava de passes. É
importante deixar claro que, em momento algum, realizou-se um trabalho em busca
de rendimento técnico, mas sim no interesse de execução. As características e
qualidades técnicas de execução de todos os fundamentos (passes, domínio,
condução...) foram trabalhadas em aulas teóricas antes de começar as atividades
práticas.
Após essa etapa foram realizadas as atividades com jogos de tabuleiros
confeccionados para o futsal. Essas atividades eram conhecidas por todos os alunos
do sexo masculino, mas como modalidade de Futebol de Campo. As alunas tinham
um conhecimento pequeno, mas como Futsal ninguém tinha praticado ainda. É
importante salientar que quando se fala em Futsal é quase impossível não se falar
em Futebol, a semelhança na sua prática e regras básicas é inquestionável e
principalmente, os conceitos educacionais que eles oferecem. Freire (2006, p.03)
diz:
[...] Conseguir ensinar futebol no Brasil é, no mínimo, aproximar-se do nível de competência pedagógica de rua. Tarefa que exige, entre outras coisas, trazer a cultura futebolística do brasileiro para dentro da escola. Como a escola
não é rua é claro que isso pode ser feito com diversas adaptações. [...]
Sem dúvida essas atividades foram facilitadoras para o ensino das regras e
dos sistemas de jogo. As atividades foram iniciadas de forma recreativa, com
joguinhos em si. Depois foram adaptadas regras e discutidos sistemas de jogos
ofensivos e defensivos. Para o desenvolvimento dos jogos de tabuleiros, muitas
regras precisaram ser modificadas, mas todas com a participação dos alunos. É
necessário salientar que as atividades foram bem aceitas e os objetivos da proposta
de conhecermos regras e sistemas, ofensivos e defensivos, foram atingidos,
enquanto matéria do currículo escolar. Essas atividades propiciaram a participação
de todos os alunos. Enquanto uns atuavam como jogadores, outros participavam
como técnicos e outros como árbitros. É importante ressaltar que todos os alunos
experimentaram todas as funções.
Terminada essa etapa, dos jogos de tabuleiros, começou a aplicação de
atividades práticas baseadas em grandes jogo e jogos cooperativistas.
Acredita-se que ensinar futsal está muito além de uma prática esportiva com
regras estabelecidas e com objetivos definidos enquanto vencedores e perdedores.
O futsal pode desenvolver na criança/aluno muito mais, do que de certa maneira,
conseguimos assimilar. Deve-se lembrar das inúmeras formas de integração que se
pode conseguir com essa prática. Estas atividades tinham por finalidade estimular a
participação, integração, cooperação, entre tantas outras atitudes nos alunos.
Santana (2004, p.11) levanta alguns fatores que são essências no desenvolvimento
desta prática: “Nesta perspectiva, quais seriam os fins do esporte? Proporcionar:
prazer; a evolução da consciência; a introdução de uma cultura de lazer; a
construção da cidadania; a valorização da autoestima”.
As atividades práticas em primeiro momento deixaram alguns alunos um tanto
quanto apreensivos, já que para muitos a ideia e vontade era partir para o jogo em
si, outros tinham um receio em função do item “competição”. Freire (2003, p.3)
alerta;
[...] Não basta ensinar; é preciso ensinar bem. A tarefa de quem ensina futebol não é ensinar qualquer coisa. Temos que ensinar cada aluno, não importa o nível de habilidade com que inicie, com as melhores técnicas, com o maior cuidado, de modo que possa, ao longo do tempo, expressar habilidades para jogar futebol de boa qualidade. Tenho motivos para
acreditar que todos podem jogar futebol de boa qualidade, alguns em menor tempo, outros com maior demora. Não importa; todo processo pedagógico exige paciência. [...]
Foi importante a interferência direta do professor, para ajustar os objetivos da
atividade, desmistificando o futsal que eles conheceram de outras experiências. Os
alunos com potencial técnico para a prática, adquirido de experiências anteriores,
insistiam na situação de jogar o Futsal propriamente dito, ou seja, “vai ter joguinho?”.
De acordo com Apolo (2004, p,16):
[...] As influências não-intencionais referem-se àquelas influências do meio social sobre o indivíduos. No caso do Futsal, para sem mais exato, a criança ou o adolescente pode chegar à escolinha da modalidade, ou às mãos do professor de Educação Física, trazendo consigo tudo o que aprendeu em seu contexto social, de acordo com suas experiências de vida. [...]
Algumas particularidades em atividades práticas devem ser ressaltadas, tais
como no “jogo do Coringa”, (atividade prática que consiste em dividir o grupo em três
equipes, sendo que duas disputam a partida e a terceira aguarda sinal do professor
para intervir junto na partida. Essa terceira equipe é chamada de “coringa” e cabe a
seus componentes escolher qual equipe irão auxiliar). As necessidades de explorar
situações enraizadas em nossa sociedade como preconceito, exclusão, entre outras,
podem e devem ser combatidas pelo professor. É muito comum em atividades
práticas ligadas ao Futsal essas particularidades virem à tona. Freire (2006, pg.8)
explora bem essa situação:
[...] Antes de começar o racha era preciso escolher os times. Geralmente os dois goleiros faziam a escolha no par ou ímpar. Um de cada vez ia chamando os nomes. O primeiro escolhido mal escondia a vaidade. A ordem da escolha revelava o status de cada um no grupo. Ser o escolhido entre os seis ou oito primeiros indicava uma condição de respeito. A partir daí era a sobra, era jogar só para formar os times. Mas o último...Ah! O último era denunciado no seu estado de miséria moral dentro do grupo. Era vergonhoso. [...]
Terminada a etapa de execução do projeto de intervenção, foi aplicado
novamente o mesmo questionário para um comparativo de respostas em relação ao
questionário inicial, com a finalidade de observar se os objetivos propostos foram
alcançados, tal questionário foi aplicado a 70 alunos na primeira ocasião e após 65
alunos, a diferença está relacionado a transferências de turnos e turmas.
Novo resultado:
- Você gosta de participar das aulas de Educação Física Práticas?
4% Não 9% As vezes 15% Sim 72% Gosto muito
- Em relação à História do Futsal o que eles aprenderem em suas aulas de
Educação Física?
3% Nada 5% Quase nada 25% Pouco 67% Muito
- Sobre Regras do Futsal que eles aprenderam em suas aulas de Educação Física?
8% Nada 3% Quase nada 27% Pouco 62% Muito
- Em relação a fundamentos (passe de bola, condução de bola, chute, etc.) você
aprendeu em suas aulas anteriores de Educação Física.
7% Nada 8% Quase nada 11% Pouco 74% Muito
- Enquanto atividade física, suas aulas de Educação Física em relação ao Futsal te
deixou satisfeito?
4% Nada 4% Quase nada 8% Pouco 84% Muito
- Em suas aulas de Educação Física quando a modalidade era futsal, tinha jogo?
41% Quase sempre 59% Sempre
Houve uma melhora nos resultados em relação ao prazer e conhecimento na
modalidade de Futsal enquanto aula de Educação Física. Mas há de se salientar a
grande mudança em relação ao conhecimento de regras, fundamentos e história do
Futsal, o que pode ser uma mostra da evidência do predomínio do jogo em si em
aulas de Educação Física, sem a preocupação de explorar as diferentes formas de
levar o conhecimento ao aluno.
Observou-se um melhor conhecimento em relação à história do Futsal: um
resultado expressivo de 37% para 67%, fato que aceitamos como relevante,
entendemos essencial para o desenvolvimento integral conhecer a cultura e
sociedade onde vive.
Merece destaque o conhecimento das regras: 33% praticam a atividade com
conhecimento de regras, esse número passou para 62%, o que consideramos
essencial para uma prática esportiva adequada, reconhecer normas e regras da
modalidade. Também podemos relacionar a importância do aluno em aceitar e
cumprir regras e leis que lhes são apresentadas durante sua vida.
Fator que merece destaque esta relacionado aos fundamentos técnicos do
Futsal: de 27% que possuíam algum conhecimento passou para 74%.
Todos esses itens ocasionaram uma melhor aceitação do Futsal enquanto
matéria do currículo escolar; de 64% passamos para 84% de aprovação da
modalidade Futsal. É importante buscar ensinar ao aluno o Futsal em sua essência
como forma de atividade física e também como meio de transformação e adaptação
a sociedade. Entendemos que principalmente neste apontamento, a aprovação da
modalidade por 84% dos alunos, nos da à possibilidade de realizarmos a analise de
que a satisfação em praticar a modalidade nos encaminha para a confirmação dos
objetivos do projeto como efetivados, pois entendemos que o fator aceitação e
prazer estão de certa forma ligados.[F2]
A metodologia aplicada buscou despertar nos alunos o conhecimento do Futsal
estimulando um desenvolvimento físico, social e cultural no praticante, diferente do
que geralmente o jogo propriamente enquanto competição estimula. Santana (2008,
p.7) aborda a questão:
[...] Ao se praticar esse tipo de educação, deixa-se de contribuir para
que o estudante se capacite para enfrentar o maior desafio de se
trabalhar com a iniciação esportiva: o de aprender e pensar
complexamente. Ao se fazer isso, perpetua-se a infeliz idéia entre
outras, da especialização precoce. [...]
A metodologia aplicada buscou despertar nos alunos o conhecimento do Futsal
estimulando um desenvolvimento físico, social e cultural no praticante, diferente do
que geralmente o jogo propriamente enquanto competição estimula. Santana (2008,
p.7) aborda a questão:
[...] Ao se praticar esse tipo de educação, deixa-se de contribuir para que o estudante se capacite para enfrentar o maior desafio de se trabalhar com a iniciação esportiva: o de aprender e pensar complexamente. Ao se fazer isso, perpetua-se a infeliz idéia entre outras, da especialização precoce. [...]
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ensinar a jogar Futsal é muito mais complexo, pois exige uma abordagem
pedagógica e acadêmica, visto que, a inadequação da prática pode estimular a
especialização precoce e a competitividade. Não procuramos esconder a
competitividade da vida do aluno, mas devemos estar alertas para a cultura histórica
do Futebol que acaba enraizada no Futsal. Voser (2002, p.92) alerta:
[...] Para Frare (1994, citado por Giusti, 1995), os jogadores, e por extensão os torcedores, trabalham numa disputa com praticamente todas as emoções humanas, tais como a agressividade, a competição, a inveja, a depressão, o orgulho, a vaidade, a humilhação, a amizade, a rivalidade, o fingimento, a traição, a solidariedade. [...]
Fica claro que a metodologia adequada na aplicação da modalidade de Futsal
enquanto atividade física é essencial para que todas as possibilidades e
características positivas não deixem de ser explorada. Para isso é necessário que
enquanto educadores não nos deixarmos desestimular pelos obstáculos que
enfrentaremos e da necessidade de levar a nossos alunos todo conhecimento
necessário e possível. Freire (2006, p.3) afirma que:
[...] Ensinar – e todos os que ensinam sabem disso – é trabalho pesado, é ciência e arte; uma das mais difíceis e estafantes tarefas humanas, não importa se se trata de futebol ou de matemática. Conseguir ensinar futebol no Brasil é, no mínimo, aproximar-se do nível de competência pedagógica da rua. Tarefa que exige, entre outras coisas, trazer a cultura futebolística do brasileiro para dentro da escola. [...]
Desse estudo pode-se de maneira simples observar que a prática do Futsal
enquanto modalidade esportiva é essencial aos alunos. A participação efetiva de
todos de maneira espontânea e prazerosa está diretamente ligada à maneira como
abordamos a atividade. É muito comum, em relação ao brasileiro, pensar que somos
profundos conhecedores das artes do Futsal. Esquecemos que a modalidade é tão
importante quanto qualquer conteúdo e matéria no contexto escolar e por esse
motivo merece todo nosso cuidado em sua aplicação.
A participação do PDE 2013 foi importante e relevante, pois o convívio com
Professores de outras regiões, a troca de informações, a leitura de novos autores, a
possibilidade de conhecer realidades diferentes e únicas nos fazem crescer
profissionalmente.
Temos todos em comum à busca por uma qualidade no ensino, a qual, com
esforços e dedicação de todos, no âmbito escolar, sem dúvida será alcançada.
15
REFERÊNCIAS ANDRADE JÚNIOR, J.R. de. O jogo de futsal técnico e tático, na teoria e na prática. Curitiba: Editora Gráfica Expoente, 1999. CALLADO, Carlos V. Educação para a paz: promovendo valores humanos na escola através de educação física e dos jogos cooperativos. [tradução Maria Rocio Bustios de Veiga]. – Santos SP: Projeto Cooperação, 2004. DAOLIO, Jocimar; MARQUES, Renato F.R.. Relato de uma experiência com o ensino de futsal para crianças de 9 a 12 anos. Revista Motriz, Rio Claro, v.9, n.3, p.169-174, set./dez. 2005 ESTIGARRIBIA, Rodrigo C.. Aspectos relevantes na iniciação do futsal. Porto Alegre. Dissertação de Mestrado em Educação Física – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. FREIRE, João Batista. Pedagogia do Futebol. 2ª.ed. Campinas: Autores Associados, 2006. GALEANO, Eduardo, 1940 – Futebol ao sol e a sombra. Tradução de Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito. – 3. Ed. – Porto Alegre: L&PM, 2004. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social – 6º- Ed. – São Paulo: Atlas 2008. GIUSTI, J. G. M. O desporto e a escola: uma proposta pedagógica para o ensino de futsal. Pelotas: UFPEL, 1995. KUNZ, Elenor (org). Didática da educação física 3: futebol. 2. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. LOPES, Alexandre Apolo da Silva Menezes. Futsal: metodologia e didática na aprendizagem. São Paulo : Phorte, 2004. LUCENA, R. F. Futsal e a iniciação. Rio de Janeiro: Sprint, 1998. MARÇAL, Luciano. SCHLEDER, Claudio. Fundamentos do futebol. Ponta Grossa: UEPG/NUTEAD, 2012. MUTTI, Daniel. Futebol de Salão: Arte e Segredo, Futsal Base. São Paulo: Hemus,1994. PAES, Roberto Rodrigues. Balbino, Hermes Ferreira. Pedagogia do esporte: contextos e perspectivas. Rio de Janeiro: Koogan, 2005. RUBIO, Katia (Org). Psicologia de esporte aplicada. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
16
SANTANA, Wilton Carlos de. Futsal: Apontamentos pedagógicos na iniciação e na especialização. Campinas – SP: Autores Associados, 2004. ROSE JR, Dante Jr. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. VOSER, Rogerio da Cunha. GIUSTI, João Gilberto. O futsal e a escola: uma perspectiva pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002. ZAREMBA, Carlos Mauricio. Fundamentos do futsal. Ponta Grossa: UEPG/NUTEAD, 2012.