os desafios da escola pÚblica paranaense na … · desenvolvido com os alunos do 2º ano do ensino...

24
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II

Upload: vucong

Post on 09-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE

II

Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2014

Título:

A MANIPULAÇÃO FOTOGRÁFICA SURREALISTA: DO MANUAL AO

DIGITAL

Autora: Ana Lúcia Erdmann

Disciplina/Área: Arte

Escola de Implementação do Projeto

e sua localização:

Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira –

Cascavel- PR

Município da escola: Cascavel-PR

Núcleo Regional de Educação: Cascavel-PR

Professora Orientadora: Desirée Paschoal de Melo

Instituição de Ensino Superior: Universidade Centro-Oeste do Paraná

(UNICENTRO) – Guarapuava

Relação Interdisciplinar: (indicar,

caso haja, as diferentes disciplinas

compreendidas no trabalho)

Resumo:

Esta unidade didática tem como objetivo usar a

tecnologia como recurso facilitador e criativo no

processo ensino-aprendizagem em Arte através da

fotomontagem surrealista, com o uso de softwares

de manipulação de imagem. Serão feitas atividades

de aproximação entre o Surrealismo e o artista

contemporâneo André Boto, pois suas obras são

conhecidas pela realização de fotomontagens,

através da manipulação de imagem. Entre as

linguagens artísticas, a pintura dará início ao estudo,

partindo para a fotomontagem e chegando à

fotografia digital, com o uso do software Gimp

Palavras-chave: Arte/ Fotografia/ Tecnologia/ Surrealismo

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público: Alunos do 2º ano do Ensino Médio

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS COORDENAÇÃO

ESTADUAL DO PDE

ANA LUCIA ERDMANN

UNIDADE DIDÁTICA

A MANIPULAÇÃO FOTOGRÁFICA SURREALISTA: DO MANUAL AO

DIGITAL

CASCAVEL

2014

ANA LUCIA ERDMANN

A MANIPULAÇÃO FOTOGRÁFICA SURREALISTA: DO MANUAL AO

DIGITAL

Unidade Didática apresentada ao Programa

de Desenvolvimento Educacional – PDE da

Secretaria de Estado de Educação do

Paraná, vinculado à Universidade Estadual

do Centro-Oeste, sob orientação da

Professora Ms. Desirée Paschoal de Melo,

em cumprimento às atividades inerentes ao

professor PDE.

CASCAVEL

2014

APRESENTAÇÃO

A presente unidade didática compõe o material didático que apresenta os conteúdos e

encaminhamentos teórico-metodológicos necessários para a Implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica na Escola, com a carga horária de 32 horas/aulas do bimestre, a ser

desenvolvido com os alunos do 2º Ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Eleodoro Ébano

Pereira, no município de Cascavel – PR.

O objetivo deste material é proporcionar subsídios teórico-metodológicos para o

desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas na disciplina de Arte, especificamente na

área de Arte e Tecnologia, a partir da apresentação de conceitos, dicas e sugestões de atividades

que visam explorar o uso da tecnologia no ensino de Artes Visuais, tendo como objeto de estudo

as manipulações fotográficas surrealistas, do manual ao digital.

O jovem hoje, com raras exceções, tem acesso à televisão, aos videogames, ao computador

e à internet, exploram com visível facilidade os recursos gráficos e sonoros, a partir de programas

de manipulação da imagem e do som.

Atualmente o número de discentes interessados pelas tecnologias no Ensino Médio vem

crescendo em conjunto com a notória apatia frente aos recursos educativos tradicionais. Diante

deste contexto, esta unidade didática tem o propósito de fomentar a experimentação da tecnologia

como recurso facilitador do processo de ensino-aprendizagem da Arte através da fotomontagem,

utilizando-se dos programas gráficos de manipulação de imagens, onde o aluno possa usar esse

prévio conhecimento na construção de sua própria aprendizagem.

As atividades foram planejadas na intenção de provocar o diálogo e a aproximação entre a

produção fotográfica do movimento do Surrealismo e da atualidade, por meio do artista André

Boto, com o objetivo de oportunizar aos alunos o conhecimento e reconhecimento de influências

da arte moderna em algumas criações artísticas contemporâneas, bem como, ampliar o repertório

de linguagens artísticas dos alunos, com o uso do programa de manipulação de imagem gratuito e

disponível na internet, o Gimp. André Boto criou uma série de trabalhos intitulada Surrealismo e

suas obras são conhecidas pela realização de fotomontagens, através da manipulação da fotografia

digital, com a utilização de softwares como o Photoshop.

Desta forma, o movimento artístico a ser estudado nesta unidade didática é o Surrealismo,

e suas obras não resultam de experiências livres do controle da razão, mas sim características

oníricas baseados nos trabalhos de Freud. O movimento tem como uma das principais

características a utilização de mecanismos que criam imagens de duplo sentido, muitas vezes

conflitantes. Segundo Gombrich (1978),” nos sonhos, experimentamos com frequência a estranha

sensação de que pessoas e objetos se fundem e se trocam de lugares. O nosso gato pode ser ao

mesmo tempo a nossa tia, e o nosso jardim ser a África”.

Conseguinte, outro conteúdo abordado, importante para o entendimento da temática

apresentada, é a fotografia, que se utiliza da composição herdada da pintura, representando a

realidade tal qual ela era. A imagem fotográfica tem passado por várias formas de manipulação de

imagem e está ligada ao avanço tecnológico, porém não é algo recente e possui um histórico com

as vanguardas artísticas como o Surrealismo, e pode ser modificada de maneira a transformar a

realidade inicialmente registrada. Para o meio cultural e artístico do século XIX, tanto a pintura

como a fotografia teriam a finalidade de produzir captações do real idealizadas, esteticamente

artísticas e não acidentais.

De acordo com Dubois:

Dadaismo e Surrealismo, em seu gosto da provocação, como em seu culto do

“surreal”, desenvolveram com intensidade a prática do associacionismo (

metáfora, colagem, agrupamento, montagem). E aqui está a terceira grande figura

fundadora das relações entre fotografia e arte contemporânea. Marca física de uma

presença, superfície abstrata e destacada de qualquer referência espacial, a foto é

também um verdadeiro material, um dado icônico bruto, manipulável como

qualquer outra substância concreta (recortável, combinável, etc.), portanto,

integrável em realizações artísticas diversas, em que o jogo de comparações (

insólitas ou não) pode exibir todos os seus efeitos. A fotomontagem é a atualização

mais evidente desse terceiro traço essencial.( DUBOIS, 1993, p.269).

A fotomontagem ou a manipulação de fotografia passou por acidentes de revelação que

fizeram com que várias imagens de negativos aparecessem na mesma fotografia. Essas imagens

foram exploradas para serem manipuladas de modo intencional e formar uma nova composição,

uma nova imagem. De acordo com Rodrigues os surrealistas desenvolviam colagens nas quais uma

imagem supostamente real é transformada em outra realidade, resultante da poesia plástica.

(Rodrigues, 2012)

As fotomontagens surrealistas são trabalhos produzidos onde as imagens escolhidas sofrem

um distanciamento do seu contexto original e são agrupadas de tal maneira que formam uma

composição, inseridos num novo contexto, produzindo um novo significado.

Chegando à contemporaneidade, será abordado o artista André Boto, pois a organização de

trabalhos com fotomontagem é comum na sua obra. Almeida (2014), salienta que a obra de André

Boto é conhecida pela extensa manipulação de imagens na pós-produção das fotografias, com a

realização de fotomontagens e a utilização de técnicas de desenho digital, o que acaba

transformando suas obras em um produto híbrido entre a fotografia, o desenho e a pintura em

computador.

Atualmente com o avanço da tecnologia, os softwares de edição de imagem podem ser

facilmente utilizados e facilitam a manipulação de imagens digitais criando assim possibilidades

em sua produção e manipulação, que podem ser exploradas em seus diversos suportes e

programas de edição de imagens.

O Gimp é um software livre que disponibiliza diversas ferramentas que manipulam

imagens digitais, é um programa de edição e criação de imagens para Windows, Mac e Linux.

Ele é uma boa alternativa gratuita ao Photoshop e conta com uma série de ferramentas e recursos,

como pincéis e efeitos para fotografias.

Para o desenvolvimento destes conteúdos, optou-se pela metodologia de Fernando

Hernandez e Bruno Munari, que irão auxiliar o aluno em sua aprendizagem projetual, conceitual,

atitudinal e procedimental, centrada na criatividade e nas atividades discentes, enfatizando a

construção de conhecimentos pelos alunos. A relação de ensino/aprendizagem se dá na construção

do conhecimento de forma dinâmica, contextualizada, envolvendo aluno e professor num processo

de troca de experiências. Dentro da proposta de trabalho de projetos de Hernandez, a avaliação

passa a fazer parte de todo o processo, possibilitando ao aluno tomar consciência de seu processo

de aprendizagem, ou seja, descobrir o que aprendeu e o que ainda não domina. O acompanhamento

desse processo de ensino/aprendizagem é feito a partir de registros que auxiliam na organização do

trabalho, descobrindo dúvidas, inquietações e esclarecendo o processo vivido.

Na intenção de tornar o texto mais claro para o leitor, a estrutura dessa unidade está

organizada em três partes. A primeira parte apresenta a fundamentação teórica, consiste na revisão

de textos, artigos e livros sobre os conteúdos abordados nas atividades: fotografia, fotomontagem

surrealista, manipulação digital, portfólio. A segunda parte descreve de modo objetivo e sintético

os encaminhamentos metodológicos, trata de orientações sobre as possibilidades de uso desse

material didático. A terceira parte apresenta a produção didático-pedagógica.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

“O sonho não pode ser também aplicado à solução das questões fundamentais da vida?

A fotografia surgiu no século XIX e provocou uma grande comoção no meio artístico, pois

deixava em segundo plano qualquer tipo de pintura e libertou a arte da necessidade de ser uma

cópia fiel do real, dando um novo rumo à criatividade. Ao longo dos anos, a fotografia foi utilizada

para finalidade documental e artística.

De acordo com Ronaldo Entler (2007, p.5) a fotografia, quando surgiu no século XIX,

conquistou rapidamente as atenções do público, mas teve de enfrentar críticas de artistas que não

reconheciam sua importância estética.

Segundo Elena O’Neill, nos anos de 1920, os surrealistas se apropriaram da ideia da

fotografia como documento, como um fragmento da realidade. “Para Breton, as imagens fabricadas

eram a representação do mais que o sonho mesmo”. (2007, p.183)

A fotomontagem fazia parte da reação de um grupo de artistas dadaístas, contra a pintura a

óleo, no final da Primeira Guerra Mundial. Foi um elemento de contestação contra o caos do

período entre as duas grandes guerras. Tadeu Chirelli afirma que

[...] a fotomontagem foi um método de criação e uma nova modalidade de

expressão que, ao mesmo tempo, incorporava decididamente os elementos da

nova realidade tecnológica que tomava conta do cotidiano – e a fotografia era o

ícone máximo dessa realidade nova. (2003, p. 71).

As fotomontagens surrealistas, por meio de justaposições de imagens, desafiam o lógico e

instituem o irracional ao retirarem os objetos de seus cotidianos e mudando-os para situações sem

coerência. A manipulação da realidade é própria da fotomontagem surrealista, uma vez que a

justaposição de imagens une-se em um mesmo espaço e criam uma realidade além daquela que

estamos acostumados a ver.

O termo collage foi criado em 1918 por Max Ernst. Segundo Aline Fonseca (2009), a

collage é um processo que não acontece pelo simples fato de colar, mas pela relação com a imagem

e o distanciamento que se faz de seu cenário normal, dando outro significado na composição

recriando a realidade com justaposição (2009, p.54).

Vários artistas do início do século XX pesquisaram e experimentaram manifestações do

inconsciente como forma de estimular a criatividade. O auge dessas experiências de fenômenos

psíquicos foi durante o movimento artístico e literário chamado Surrealismo, criado por André

Breton, em Paris, em 1924.

O surrealismo surgiu durante a primeira metade do século XX, foi um movimento que teve

suas origens ideológicas especificamente nos métodos de Sigmund Freud, revelando um mundo de

ideias fantásticas do subconsciente. Os surrealistas, alguns deles influenciados pela psicologia,

participavam de experiências e métodos para estimular a mente subconsciente para liberar imagens

da sua imaginação e oníricas, e assim as imagens do subconsciente podiam chegar à superfície.

Os surrealistas propunham a realização da criação estética sem a intervenção da lógica

convencional, apoiando-se, sobretudo, em três técnicas: automatismo psíquico, sonhos e

experiências de hipnose. Esses artistas acreditavam na libertação da consciência dos recalques ou

sublimações do inconsciente, porém com propósitos diferentes aos métodos de Freud, que fazia

seus estudos com a intenção de curar. Queriam a libertação da mente, pela qual até o ser mais

inculto, quando abandonado ao turbilhão do inconsciente, pode ser gênio, apresentando uma

reserva inesgotável de obras autênticas, que não são motivadas pela preocupação de agradar ou

pelo interesse material, nem pela ambição artística, mas pela necessidade de deixar brotar uma

mensagem vindas das profundezas do ser. (FONSECA. 2009, p.58).

A autenticidade dos trabalhos surrealistas pode ser alcançada através de recursos técnicos

acessíveis por todas as pessoas, incluindo nossos alunos, que é a proposta de nosso trabalho. Nessa

acepção, segundo Renata Peixoto Rodrigues:

Atualmente existem equipamentos profissionais e semiprofissionais sofisticados,

com muitos recursos facilmente utilizáveis a preços acessíveis; tornando popular

a técnica da fotografia, do vídeo, da arte feita por computador, e faz com que esses

recursos sejam amplamente utilizados por profissionais, por amadores e crianças

( 2012, p.26)

O jovem hoje, com raras exceções, tem acesso à televisão, aos videogames, ao computador

e à internet, exploram com visível facilidade os recursos gráficos e sonoros, a partir de programas

de manipulação da imagem e do som. Faz-se então, necessária a criação de projetos e trabalhos

onde ele possa usar esse prévio conhecimento na construção de sua própria aprendizagem.

Dentro da linguagem digital, a arte assume um papel expressivo onde trabalhos artísticos

podem ser desenvolvidos com o uso de softwares de edição de imagens em que as ferramentas e

os procedimentos são fáceis, acessíveis e muitas vezes intuitivos. A arte digital possibilita a criação

de trabalhos que muitas vezes não tem relação com o mundo real, originando-se assim universos

subjetivos, imaginários e fantásticos.

As tecnologias digitais no ensino de arte ampliam o conhecimento no campo de pesquisa

em arte, aumentam a produção de imagens, a fruição e a interação com manifestações artísticas

contemporâneas e tecnológicas. A associação das tecnologias digitais com a arte transforma-se em

um instrumento de mediação no processo de ensino/aprendizagem e possibilita o contato com a

produção em vários momentos da história. Andréa Bertoletti (2010) destaca o avanço tecnológico

no desenvolvimento de softwares de criação e produção de imagens estáticas ou em movimento.

Os softwares livres são uma interessante ferramenta para utilização na prática educacional em arte,

como por exemplo, o Photoscape e o Gimp, que possuem recursos para serem utilizados na criação

ou manipulação de imagens e fotografias. (BERTOLETTI. 2010, p.11)

Nesse entendimento, o aluno passa de mero reprodutor de cópias feitas a inserir suas

próprias ideias e vivências na criação poética e estética do trabalho solicitado. Reforçando essa

assertiva Rosemary Cândido (2011) assinala

A fotografia modela a percepção e age sobra a imaginação impondo uma lógica

do real, como forma de comunicação. A fotografia faz com que tenhamos um

olhar mágico. É um modo de facilitar na investigação e síntese de fatos. Declarada

como linguagem de criatividade visual em vários jeitos de expressão artísticas, a

fotografia e seus processamentos de imagens, ainda se definem como uma

maneira de ver, descobrir e questionar o passado e o presente. (CÂNDIDO. 2011,

p. 14).

A organização de trabalhos com fotomontagem é comum na obra do fotógrafo André

Boto1. Almeida (2014) salienta que a obra de André Boto é conhecida pela extensa manipulação

de imagens na pós-produção das fotografias, com a realização de fotomontagens e a utilização de

técnicas de desenho digital, o que acaba transformando suas obras em um produto híbrido entre a

fotografia, o desenho e a pintura em computador.

1 André Boto, um fotógrafo português contemporâneo, pouco conhecido no Brasil, mas que vem chamando

a atenção da mídia e do público na Europa, principalmente após receber o prêmio de fotógrafo europeu do ano de

2010.

Atualmente reconhecido como fotógrafo, André Pina Moreira Boto, desenvolve trabalhos

de fotografia autoral e artística. A maior parte de suas obras é trabalhada com softwares de

manipulação de imagens, como o Photoshop. André Boto auto intitula-se “construtor de imagens”,

em vez de fotógrafo. Termo usado porque além de tirar suas próprias fotografias, produz imagens

com o uso do computador.

Após a conclusão de sua formação acadêmica em Artes Decorativas no Instituto Politécnico

de Beja (Portugal), fez cursos de Fotografia Avançada e Fotografia Conceitual na mesma época

em que começou a criar a série de obras intitulada Surrealismo.

O artista obteve fama ao ser nomeado o Fotógrafo Europeu do Ano, pela Federation of

European Photographers, em 2010.

Almeida fala que Boto ao ser perguntado sobre suas influências, não cita nenhum fotógrafo

em especial, somente artistas. Suas principais influências são o holandês M. C. Escher (1898-1972),

o belga René Magritte (1898-1967) e o espanhol Salvador Dalí (1904-1989), artistas que, cada um

a sua maneira, trabalharam a questão do fantástico e do surreal em suas obras.

De acordo com Almeida (2014)

as fotografias de André Boto, apesar de serem oriundas de imagens técnicas, são

também uma forma de expressão artística. Suas imagens da série Surrealismo são

construídas do início ao fim, desde a tirada das diversas fotografias que formarão

a fotomontagem final, até a construção da fotomontagem propriamente dita. Ao

tirar as fotos, ele exerce sua inventividade nas escolhas de composição e ajustes

da câmera, às vezes mesmo sem perceber. E, ao manipular e juntar as imagens em

computador, montando cuidadosamente cada elemento da imagem, ele cria uma

espécie de pintura digital, que corresponde a suas intenções plásticas e conceituais

(ALMEIDA, 2014, p.8).

Para realizar esse trabalho como atividade em sala de aula foi escolhida as propostas de

projetos de trabalho de Fernando Hernandez e Bruno Munari, como metodologias que irão auxiliar

o aluno em sua aprendizagem projetual, conceitual, atitudinal e procedimental, centrada na

criatividade e nas atividades discentes, enfatizando a construção de conhecimentos pelos alunos.

A relação de ensino/aprendizagem se dá na construção do conhecimento de forma dinâmica,

contextualizada, envolvendo aluno e professor num processo de troca de experiências. Dentro da

proposta de trabalho de projetos de Hernandez, a avaliação passa a fazer parte de todo o processo,

possibilitando ao aluno tomar consciência de seu processo de aprendizagem, ou seja, descobrir o

que aprendeu e o que ainda não domina. O acompanhamento desse processo de

ensino/aprendizagem é feito a partir de registros que auxiliam na organização do trabalho,

descobrindo dúvidas, inquietações e esclarecendo o processo vivido.

O instrumento mais indicado para esse tipo de avaliação é o Portfólio, pois demonstra a

construção do processo de aprendizagem do aluno.

Hernandez afirma que

O que caracteriza o portfólio como modalidade de avaliação não é tanto seu

formato físico ( pasta, caixa, CD-ROM, etc.) como a concepção do ensino e

aprendizagem que veicula. O que particulariza o portfólio é o processo constante

de reflexão, de contraste entre as finalidades educativas e as atividades realizadas

para sua consecução, para explicar o próprio processo de aprendizagem e os

momentos- chaves nos quais o estudante superou ou localizou um problema.

(HERNANDEZ. 1998, p. 100).

O trabalho de projetos é uma forma de educação escolar mais flexível e aberta que

possibilita uma formação integral do indivíduo, mais democrática com respeito às diferenças

culturais e cognitivas do aluno tirando-o de uma condição de submissão, com a mediação

necessária, para uma condição de opinar, questionar, participar, construir, o seu processo de

aprendizagem.

Portanto esse projeto intensifica a proposta do uso da linguagem tecnológica em Arte que

se perpetua ao longo da história da humanidade e não se esgota, apenas aprimora-se, recria-se e

permite várias releituras e formas a serem apresentadas aos alunos podendo descobrir novos

talentos sempre acompanhados da criatividade maravilhosa do ser humano. Por isso a escolha desse

recurso em Arte que virá ao encontro da exploração das habilidades artísticas para assim,

acrescentar no currículo escolar trazendo tanto aulas prazerosas com também de qualidade.

ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS

Esta Unidade Didática apresenta sete tópicos com atividades que se relacionam entre si,

possibilitando situar os alunos no uso da tecnologia como ferramenta pedagógica em Artes Visuais,

visando ampliar seu conhecimento artístico, tecnológico e cultural.

O primeiro tópico propõe a apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica aos alunos

para que eles se tornem cientes dos assuntos que serão abordados nas 32 horas/aulas do bimestre.

O segundo tópico tem como objetivo estudar o Movimento Surrealista e seus principais

artistas.

O terceiro tópico apresenta cinco atividades de fotografia, pois esta linguagem será a base

para a produção das fotomontagens manual e digital nesta unidade didática. As atividades 1 e 2

foram retiradas do Blog Aulas de Artes – Professor Douglas. A atividade 1 é assistir ao vídeo

História da Fotografia disponível também no youtube, que fala sobre como foi criada a fotografia

e sua evolução tecnológica. A atividade número 2 é a apreciação de fotografias de grandes nomes

da fotografia nacional e internacional, possibilitando ao aluno um maior repertório visual sobre

fotografia. A atividade 3 pede que os alunos andem pela escola e a fotografem em ângulos

diferentes do convencional. A atividade 4 traz como proposta uma sequencia de fotos feitas pelo

aluno no percurso de sua casa até a escola. A atividade 5 propõe experimentar o light painting que

é uma técnica fotográfica onde o longo tempo de exposição registra o movimento de uma origem

luminosa, permitindo assim a composição espacial de desenhos com os pincéis de luz.

O quarto tópico tem como objetivo conhecer o processo criativo da fotomontagem manual

usado pelos surrealistas através do fazer artístico, isto é fazer uma fotomontagem surrealista

utilizando fotografias feitas no tópico 3.

O quinto tópico tem como proposta conhecer o processo criativo da fotomontagem usado

pelo artista contemporâneo André Boto e apresentar sua vida e obra .

O sexto tópico visa experimentar o programa Gimp e manipular as fotografias feitas, na

intenção de produzir uma fotomontagem digital inspirada nas fotomontagens surrealistas de André

Boto.

O sétimo tópico aborda a construção de um portfólio digital pelo aluno que deverá ser

apresentado à turma no prazo de cinco minutos cada um.

O tempo necessário para realização das atividades propostas nesta unidade poderá variar de

acordo com o perfil de cada turma e o professor tem liberdade para adequá-las ao contexto de sua

sala e à realidade de cada turma.

Espera-se que ao final desta unidade didática, o aluno tenha ampliado seu repertório de

linguagens artísticas, como o Surrealismo, a fotografia, a fotomontagem manual e digital, o

programa de manipulação de imagens Gimp e o artista contemporâneo André Boto. Pretende-se

que este material dê liberdade ao professor de olhar com olhos novos conceitos que permeiam a

história da arte ativando a subjetividade e gerando novos trabalhos. Fica aqui um convite para usar

este material, revisitando obras, conceitos e entendo a arte como um espaço de liberdade e área de

conhecimento desafiando-os a novas perguntas.

UNIDADE DIDÁTICA

Plano de Trabalho Docente

Carga Horária Prevista: 32 horas/aula

TÓPICO 1 – APRESENTAÇÃO DO PROJETO

Objetivo: Oportunizar ao aluno colocar-se como sujeito ativo e transformador do seu

próprio processo de ensino/aprendizagem, tornando-se ciente do que será abordado e do que

espera-se dele ao final da aplicação do projeto sendo o registro uma prática fundamental e

necessária durante todo esse processo.

Recursos necessários: TV Pen Drive ou projetor multimídia

Conteúdos abordados: Fotomontagem, Fotografia, Surrealismo, Gimp

Desenvolvimento: Por meio da exposição oral e dialogada o professor deverá apresentar a

proposta do projeto de intervenção aos alunos ressaltando os tópicos a serem trabalhados no

decorrer da implementação: Surrealismo, Fotografia, Fotomontagem, André Boto e Manipulação

Digital de Imagens através do Gimp.

Propor as atividades de maneira que liguem entre si. Mediar os conteúdos por imagens,

vídeos e apresentação de slides utilizando o Prezi2, dialogando constantemente com os interesses

e conhecimentos existentes dos alunos.

2 O Prezi é um software na modalidade computação em nuvem feito em HTML5 utilizado para a criação de

apresentações não lineares, e poderá substituir o comumente utilizado Power Point. A plataforma disponibiliza uma

versão gratuita que roda a partir do navegador. Devido a sua portabilidade, pode ser utilizado em palestras,

conferências, apresentações de projetos e simples mostras de trabalhos escolares ou acadêmicos. Ele criará

apresentações mais dinâmicas e visualmente mais atrativas do que um Power Point. https://pt.wikipedia.org/wiki/Prezi

TÓPICO 2 – SURREALISMO

Objetivo: Estudar o Movimento Surrealista e seus principais artistas. Fazer a leitura de

imagem de várias obras surrealistas. Pesquisar a fotomontagem realizada pelos surrealistas e o

movimento do Surrealismo.

Recursos Necessários: Projetor multimídia ou TV Pen Drive, pen drive com aula feita no

Power Point ou Prezi sobre o Surrealismo.

Conteúdos abordados: Surrealismo

Desenvolvimento:

1. Expor apresentações sobre o Surrealismo utilizando o Prezi (um ou mais) , comentando,

analisando as obras de arte, músicas e vídeos surrealistas.

https://prezi.com/b-tx7lp2ig7m/surrealismo/

https://prezi.com/g84rxo29ybfk/surrealismo/

https://prezi.com/niz1almrraal/surrealismo/

2. Assistir a análise do filme “Um Cão Andaluz , disponível no Youtube.

3. Passar o trecho do filme surrealista “ Um Cão Andaluz” – parte I disponível no Youtube

https://www.youtube.com/watch?v=020Z8rONCIc

4. Comentar o filme com os alunos.

5. Propor as seguintes questões para reflexão: Nos sonhos, somente imaginamos fatos

possíveis de acontecer na realidade? Se o impossível é possível nos sonhos, pode ser

possível também na arte?

6. Questionar as impressões e sensações dos alunos, valorizando suas opiniões acerca do

que foi visto.

7. Sugerir que façam uma História em Quadrinhos, como uma forma de registro do

conteúdo visto.

TÓPICO 3 : FOTOGRAFIA

Objetivos: Utilizar a linguagem fotográfica sensibilizando os alunos e aprimorando seu

olhar, levando-os a um olhar mais crítico e sensível no mundo em que vivem.

Mostrar que a fotografia é uma linguagem visual que comunica de forma elaborada por

meio de uma imagem, um documento e que testemunha o tempo passado.

Sugestão de Atividades :

1. Assistir ao vídeo História da Fotografia : http://youtu.be/Oj2gU13A3qc

2. Apreciar fotografias de Sebastião Salgado, Vik Muniz, Annie Leibovitz, Chema Madoz,

disponível no Blog Aulas de Artes – Professor Douglas:

http://douglasdim.blogspot.com.br/2012/08/fotografia.html

3. Propor aos alunos que andem pela escola retratando-a em ângulos inusitados.

4. Sugerir ao aluno que faça uma sequência de fotos tirada por ele durante o percurso da sua

casa até a escola ou vice versa.

5. Experimentar o light painting: Como o nome já diz, Light Painting significa "Pintar com a

Luz". Em um ambiente totalmente escuro ou com pouca iluminação use uma câmera que

possua o modo de longa exposição fixa em um tripé, o fotógrafo usa diferentes fontes de

luz como se fossem pincéis. Podem-se usar lâmpadas ou lanternas comuns para pintar a

cena.

Materiais necessários:

Camêra fotográfica

Lanterna ou outra fonte luminosa como vela, chaveiro de led, etc.

Ambiente escuro

Tripé ou outro tipo de apoio ( banquinho, mesa, etc.)

. A câmera deve ser regulada com o mínimo ISO possível (50 ou 100) e o diafragma deve

ficar de f/11. Porém, o diafragma pode ser mudado dependendo do resultado esperado. Tudo isso

para melhorar a nitidez e ter uma boa profundidade de campo. Depois de fixada a câmera, faça o

foco manual, regule o obturador e faça o enquadramento da cena.

Sugestão: Uma outra opção é fazer essa técnica com o uso do celular. Os sites a seguir

explicam como fazer.

http://www.fotocultura.net/index.php/artigos-e-dicas/108-como-fazer-um-light-painting-com-

o-celular

http://meubarco.wordpress.com/2013/12/30/lightpaint-e-longa-exposicao.

TÓPICO 4 – A FOTOMONTAGEM MANUAL

Objetivos: Conhecer o processo criativo da fotomontagem usado pelos surrealistas através

do fazer artístico.

Recursos Necessários: Papel canson, fotos impressas, cola, tesoura.

Sugestão de Atividade:

Fazer uma fotomontagem surrealista manual:

Escolher algumas fotografias tiradas pelo aluno no tópico 3 e imprimi-las.

Recorte cada figura.

Re-significar os elementos presentes nas fotografias tiradas, unindo-as de modo que

percam seu significado original. A ideia é que cada aluno construa uma nova imagem relacionada

à sua personalidade, aos seus desejos e medos, de modo surreal. O estudante poderá fazer a colagem

dos elementos em um novo suporte ( papel canson ) ou em um fundo com outra imagem.

TÓPICO 5 : ANDRÉ BOTO

Objetivo: Comparar os processos criativos da fotomontagem usados pelos surrealistas e o

processo usado pelo artista contemporâneo André Boto através do fazer artístico, isto é, os alunos

deverão produzir trabalhos artísticos utilizando os dois processos citados.

Conhecer vida e obra de André Boto.

Recursos necessários: Projetor multimídia ou TV Pen Drive, pen drive, e, se possível

internet.

Desenvolvimento: Por meio da exposição oral e dialogada o professor deverá apresentar

vida e obra do artista contemporâneo André Boto.

1. Se tiver internet disponível, acessar o site do artista através do endereço

http://www.andreboto.com/, e navegar, mostrando sua vida, fotografias e manipulação

de imagens.

2. Clique em Galerias-Surrealismo e comente sobre a manipulação de imagens digitais

com características surrealistas.

3. Mostre também os vídeos, onde mostram como ele fez as fotomontagens.

TÓPICO 6 : GIMP

Objetivos: Experimentar o programa Gimp e manipular as fotografias feitas. Produzir uma

fotomontagem digital inspirada nas fotomontagens surrealistas de André Boto.

Conceito: Gimp

Sugestão de Atividades:

1) Instalar o programa Gimp no seu computador ou nos computadores da escola. Para isso

acesse o site oficial do programa: http://www.gimpbrasil.org/ . Nesse site você encontra

vários vídeos aulas que auxiliam na instalação para sistema Windows, Linux e Mac. E

também vídeos aulas que ajudam na utilização das ferramentas disponíveis no

programa.

2) Escolher uma fotografia feita no Tópico 3 e abrí-la no Gimp. Experimentar algumas

ferramentas do Gimp, tais como: ferramentas de seleção, de rotacionar, de

redimensionar, de espelhar, de preenchimento, de degradê, de lápis e de pincel.

Foto Original:

Manipulação 1:

3) Fazer uma fotomontagem surrealista digital.

Manipulação 2:

Como Fazer:

1. Abrir a foto a ser trabalhada no Gimp.

2. Abrir também as imagens que deseja colar nessa foto.

3. Usar a ferramenta de seleção com tesoura para selecionar as imagens que deseja

recortar e colar.

4. Para colar a imagens pode usar Ctrl C + Ctrl V

5. Para fazer os cílios no olho maior usar a ferramenta pincel e a cor preta.

6. Para deixar as imagens no tamanho desejado usar a ferramenta de redimensionar.

7. Usar a ferramenta de seleção de cor, depois a ferramenta dégradée e o dégradée

desejado para preencher a área selecionada.

TÓPICO 7 : Portfólio

Objetivos: Oportunizar ao aluno colocar-se como sujeito ativo e transformador do seu

próprio processo de ensino/aprendizagem, sendo o registro uma prática fundamental e necessária

durante todo esse processo, para que alunos e professora possam se apropriar do que planejaram e

construíram, percebendo acertos e erros, identificando o que seria ou não repetido num próximo

projeto.

Sugestão de Atividade:

1. Propor aos alunos que organizem o material produzido nesse período da realização da

unidade didática, utilizando um recurso digital de sua preferência: Power Point, Prezi

ou Movie Maker e apresenta-lo à turma com um tempo de no máximo 5 minutos.

2. Realizar propostas de finalização: Como unir o que foi aprendido durante o projeto?

Como mostrar para o colégio o que foi realizado, as descobertas, as produções?

3. Recursos Necessários: TV Pen Drive ou Multimídia.

O material didático apresentado pretende contribuir para que os professores possam usá-lo

em sua prática docente e fazer com que os alunos explorem o uso da tecnologia no ensino de Artes

Visuais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Souza Carolina. A construção de imagens na fotografia contemporânea: uma

análise da obra de André Boto. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da

Comunicação XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Vila Velha - ES

– 22 a 24/05/2014 .Disponível em:<

http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2014/resumos/R43-0278-1.pdf > .Acesso em 12

de jul.2014.

BERTOLETTI, Andréa. Tecnologias digitais e o ensino da arte: algumas reflexões. V Ciclo de

investigações PPGAV-UDESC. Florianópolis: UDESC, 2010.

CÂNDIDO, Rosemary. A fotografia digital como meio exploratório de arte no processo

ensino/aprendizagem entre arte e tecnologia no ensino fundamental. Criciuma: UNESC,

2012.

CHIRELLI, Tadeu. A fotomontagem como introdução à arte moderna: visões modernistas

sobre a fotografia e o surrealismo. São Paulo: ARS, 2003.

DOMINGUES, Diana. A Arte No Século XXI: A Humanização das Tecnologias. São Paulo:

UNESP, 1997.

DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Papirus Editora, 1994.

FONSECA, A.. COLLAGE: A COLAGEM SURREALISTA. Revista Educação - UnG,

América do Norte, 4, nov. 2009. Disponível

em: http://www.revistas.ung.br/index.php/educacao/article/view/462/569. Acesso em: 28 Aug.

2014.

GOMBRICH, Ernst Hans; TORROELLA, Rafael Santos; SETÓ, Javier. Historia del arte.

Debate, 1997.

HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação. Porto Alegre: Artmed,

1998.

ONEILl, Elena. "Eugène Atget Ea Fotografia Como Ação." Florianópolis: ANPAP/ UDESC,

2007.

PARANÁ. Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. 2014.

RODRIGUES, Peixoto Renata. Arte/Educação: A Fotomontagem e Manipulação

Fotográfica Digital como Ferramenta Pedagógica. Instituto de Artes da Universidade de

Brasília. Monografia. Brasília: UNB, 2012.

SCHENKEL, Camila Monteiro. Fotomontagem: um processo de subversão da

realidade. Salão de Iniciação Científica (17.: 2005: Porto Alegre). Livro de resumos. Porto

Alegre: UFRGS, 2005.