os desafios da escola pÚblica paranaense na … · 2016-06-10 · para alcançar um êxito maior...
TRANSCRIPT
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PSICOEDUCACIONAL A PARTIR DAS
INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
Maria Solange Vilanova Grizio1 Marcos Maestri2
Resumo
Este artigo é resultado da implementação da Unidade Didática “Avaliação e Intervenção Psicoeducacional a partir das Inteligências Múltiplas”, desenvolvido com quatro alunos matriculados no 7º ano do ensino fundamental, que frequentam a Sala de Recursos da Escola Estadual Padre Anchieta-EF, município de Inajá, núcleo de Paranavaí. Teve como objetivo geral ampliar a compreensão da avaliação psicoeducacional no contexto da sala multifuncional I, a partir da concepção da Teoria Modular da Mente e identificar meios e técnicas para o desenvolvimento das Inteligências Múltiplas. O que motivou o estudo foi a necessidade de oferecer uma educação de qualidade capaz de educar com sucesso a todos, atendendo às necessidades de cada um, considerando-se as diferenças existentes entre os educandos, buscando auxiliar o aluno a desenvolver suas diferentes potencialidades e ter suas habilidades exploradas, assim como a reconhecer suas capacidades e limitações, levando em consideração a diversidade humana que se faz presente dentro de um mesmo ambiente escolar. Para tanto, foram realizadas as seguintes ações: Avaliação psicoeducacional a partir da concepção da Teoria Modular da Mente na sala de recursos multifuncional I; Análise das diferentes inteligências existentes em sala de aula; Elaboração de estratégias de ensino que valorizem o saber individual e que desenvolvam as múltiplas inteligências; Apresentação de situações de estímulos em forma de jogos, para o desenvolvimento das inteligências múltiplas como rotas de acesso no processo de ensino e aprendizagem. Os resultados obtidos após essas ações demonstraram houve uma mudança significativa tanto de comportamento quanto na disposição em realizar as atividades propostas. Conclui-se que é possível avaliar o aluno de forma individualizada respeitando as particularidades e ritmos de aprendizagem.
Palavras-chave: Teoria Modular da Mente. Inteligências Múltiplas. Avaliação Psicoeducacional. . 1. INTRODUÇÃO
O presente artigo se constitui como parte integrante das atividades previstas
no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria de
Educação do Paraná (SEED) e também como resultado do aprofundamento teórico,
da reflexão sobre a prática pedagógica e da implementação da Unidade Didática
intitulada “Avaliação e Intervenção Psicoeducacional a partir das Inteligências
1Professora da rede pública de educação do Estado do Paraná. Licenciatura em Educação Especial na Sala de Recursos Multifuncional Tipo I. Endereço eletrônico: [email protected]
2Prof. Dr. no Departamento de Psicologia da UEM – Universidade Estadual de Maringá. Endereço eletrônico: [email protected]
Múltiplas”, aplicada em quatro alunos matriculados no 7º ano do ensino
fundamental, que frequentam a Sala de Recursos da Escola Estadual Padre
Anchieta-EF, município de Inajá, Núcleo de Paranavaí - PR.
O que motivou essa temática foi a necessidade de aprofundar os
conhecimentos sobre as teorias de inteligência e de funcionamento da mente humana
para que possamos propor práticas pedagógicas capazes de despertar no aluno o
interesse, o prazer da (re)descoberta, aguçar sua curiosidade e interagir com a
realidade que o cerca, utilizando recursos diferentes do comum como o lápis e o
papel, permitindo aos alunos demonstrarem suas capacidades e entendimentos, ou
seja, meios de aprendizagem inerentes a cada um.
Nesse contexto, propomos formas de avaliação psicoeducacional diferentes da
maneira tradicional, permitindo aos alunos do 7º ano, que frequentam a sala de
recursos multifuncional – tipo I, demonstrassem suas capacidades e entendimentos
de uma maneira confortável e, dessa forma, foi possível elaborar um plano de
intervenção que despertou as inteligências menos desenvolvidas.
Na visão tradicional, a inteligência é conceituada como a capacidade de
responder a testes de inteligência, ou seja, capacidade de resolver problemas,
mensurado pelo Q.I. (Quociente Intelectual). De modo geral, é vista como inata do ser
humano, não se modifica com o tempo e com as experiências. Com os avanços dos
estudos acerca do funcionamento da mente humana e da inteligência, constata-se
que, de acordo com as contribuições da Teoria Modular da Mente (VEIGA & GARCIA,
2006), o modo tradicional de avaliarmos acaba rotulando os alunos por apresentarem
determinada dificuldade em algum contexto da vida.
Para Gardner (1995), alguns talentos só se desenvolvem porque são
valorizados e estimulados pelo ambiente. Ele afirma que cada cultura valoriza certos
talentos, que devem ser dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois,
passados de geração em geração. A partir dos resultados destes estudos, foram
selecionados oito tipos de inteligências em particular: linguística, lógico-matemática,
musical, corporal-cinestésica, espacial, interpessoal, intrapessoal e naturalista, e
Gardner não as considera como as únicas inteligências pertencentes ao ser humano.
Enfim, a problemática que se buscou responder foi: como a escola pode avaliar o
indivíduo numa perspectiva holística, de forma a superar suas dificuldades e aprender
de forma prazerosa, desenvolvendo todas as suas habilidades de maneira completa.
Em resposta, estipulamos como objetivo geral ampliar a compreensão da
avaliação psicoeducacional no contexto da sala multifuncional tipo I, a partir da
concepção da Teoria Modular da Mente e identificar meios e técnicas para o
desenvolvimento das Inteligências Múltiplas. Para atingir esse objetivo maior,
estipulamos os objetivos específicos, dentre eles: realizar uma avaliação
psicoeducacional a partir da concepção da Teoria Modular da Mente na sala de
recursos Multifuncional - tipo I; identificar e analisar as diferentes inteligências
existentes em sala de aula; identificar estratégias de ensino que valorizem o saber
individual e que desenvolvam as múltiplas inteligências e proporcionar situações de
estímulos (jogos) para o desenvolvimento das inteligências múltiplas como rotas de
acesso no processo de ensino e aprendizagem.
Para atingir tais objetivos, buscamos, como referencial teórico, Vygotsky
(1984), Gardner (1995), Veiga e Garcia (2006), Veiga e Oliveira (2012) que falam do
desenvolvimento da inteligência, da Teoria das Inteligências Múltiplas e suas
contribuições para a educação e, ainda, da Teoria Modular da Mente.
Para alcançar um êxito maior com os alunos, utilizamos um modelo
dinâmico de avaliação, entendido como um processo interativo, flexível e
individualizado em que nos colocamos entre o sujeito e a tarefa, modificando, para
que o aluno, diante das dificuldades, pudesse superá-las e conhecer o seu
verdadeiro potencial. Por meio de diferentes instrumentos, tais como: entrevistas
individuais e familiares, provas cognitivas modulares entre outras foi possível
permitir o trânsito pelos sistemas inteligentes do aluno, avaliando e intervindo de
maneira a maximizar as capacidades do sujeito e desenvolver estratégias que
pudessem favorecer sua aprendizagem.
1.1. A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE HOWARD GARDNER
A Teoria de Howard Gardner, psicólogo e pesquisador da Universidade de
Harvard, “revolucionou” o campo da psicologia cognitiva, com a Teoria das
Inteligências Múltiplas (1995), ao questionar a proposta uniforme e unidimensional
dos testes de inteligência, assim como as limitações quanto as definições sobre o
conceito de inteligência.
A Teoria das Inteligências Múltiplas amplia o alcance do potencial humano,
apresentando um enfoque mais amplo do que o preconizado nos testes de
inteligência. Gardner (1995, p. 13) define inteligência como "a capacidade de
resolver problemas ou criar produtos que sejam valorizados dentro de um ou mais
cenários culturais”. De acordo com ele, “a inteligência é pluralista". E amplia sua
visão:
[...] existe uma visão alternativa que eu gostaria de apresentar- baseada numa visão de mente radicalmente diferente, que produz um tipo de escola muito diferente. É uma visão pluralista da mente, reconhecendo muitas facetas diferentes e separadas da cognição, reconhecendo que as pessoas têm forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos contrastantes (GARDNER, 1995, p.13).
Para selecionar quais as inteligências que seriam trabalhadas em sua teoria,
utilizamos diversas fontes: as informações disponíveis sobre o desenvolvimento
normal e o desenvolvimento do indivíduo talentoso; estudos sobre populações
prodígios, idiotas sábios, crianças autistas, crianças com dificuldade de
aprendizagem; dados sobre a evolução da cognição; considerações culturais
comparadas sobre a cognição; estudos psicométricos; estudos de treinamento
psicológico e, principalmente, análise da perda das capacidades cognitivas nas
condições de lesão cerebral. Foram consideradas inteligências genuínas apenas as
inteligências candidatas, que satisfazem todos ou, pelo menos, a maioria dos
critérios acima. Além disso, cada inteligência deveria ter uma operação nuclear ou
um conjunto de operações identificáveis e deveria também ser capaz de ser
codificada em um sistema de símbolos (GARDNER, 1995).
Gardner (1995) acredita que todos os indivíduos, em princípio, possuem a
habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos
os indivíduos possuem, em sua bagagem genética, algumas habilidades básicas em
todas as inteligências. O desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será
determinado tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por condições
ambientais. O autor, ainda, acrescenta que alguns talentos só se desenvolvem
porque são valorizados e estimulados pelo ambiente.
A partir de seus estudos, Gardner selecionou oito inteligências, em particular:
linguística, lógico-matemática, musical, corporal-cinestésica, espacial, interpessoal,
intrapessoal e naturalista, Estas oito inteligências embasaram o desenvolvimento de
nosso estudo na escola. Abaixo, fazemos uma breve descrição de cada uma delas:
I) Inteligência linguística ou verbal: Esta inteligência é voltada à capacidade
elevada do indivíduo utilizar as palavras para comunicação e expressão, oralmente
ou na escrita. Os indivíduos que possuem esta inteligência são ótimos oradores,
políticos, poetas, dramaturgos, jornalistas, advogados, escritores, além de
possuírem forte capacidade de aprenderem diferentes idiomas.
II) Inteligência lógico-matemática: Tal inteligência se volta para conclusões
baseadas em números e na razão. Trata-se do denominado raciocínio científico,
indutivo e dedutivo; pessoas com essa inteligência possuem facilidade em se
expressar através de números e fórmulas. Exemplos de detentores desta
inteligência são; engenheiros, projetistas, matemáticos, programadores de
computador, contabilistas, bancários, advogados, economistas e cientistas.
III) Inteligência musical ou sonora: Inteligência associada à capacidade de
perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais ou dos sons de um
modo geral. Possuidores desta inteligência são os famosos: Mozart, Schubert,
Chopin, porém também se manifesta nos compositores, violinistas e maestros.
IV) Inteligência corporal-cinestésica: Esta inteligência se refere à habilidade
para usar a coordenação motora grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou
plásticas, no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com
destreza. São exemplos desta inteligência: esportistas, bailarinos, escultores,
mecânicos, mímicos entre outros.
V) Inteligência espacial: É a inteligência relacionada à capacidade de
perceber o mundo visual e espacial de forma precisa, de possuir facilidade para
manipular formas ou objetos mentalmente. Esta inteligência está presente nos
arquitetos, decoradores, artistas, escultores, jogadores de xadrez etc.
VI) Inteligência intrapessoal: Esta inteligência refere-se ao autoconhecimento
e a facilidade em acessar seus próprios sentimentos e emoções, levando o indivíduo
a resolver facilmente seus problemas pessoais, estando mais desenvolvida em
escritores, psicoterapeutas e conselheiros. Também conhecida como inteligência
emocional.
VII) Inteligência interpessoal: Inteligência esta expressa pela habilidade de
entender as intenções, motivações e desejos dos outros (empatia). Esta inteligência
baseia-se no relacionamento interpessoal e na comunicação. É notória em
professores, psicólogos, assistentes sociais, médicos, enfermeiros etc.
VIII) Inteligência naturalista: atração pelo mundo natural. É a habilidade para
reconhecer e classificar elementos da flora e da fauna, de interagir e cuidar de
várias criaturas vivas. Por exemplo: naturalistas, botânicos, geógrafos e paisagistas
entre outros (GARDNER, 1995).
Para ele, todas as inteligências são definidas pela capacidade de fazer algo e
são, portanto, avaliadas quanto ao desempenho dessas tarefas. Sua teoria oferece
alternativas ao ambiente escolar dando ênfase a individualização do ensino, ou seja,
enfatiza que cada pessoa deve receber uma educação que maximize seu potencial
intelectual. A escola deve ter a criança como centro das atividades e estimular a
todas as inteligências de maneira adequada. Percebe-se que a educação prioriza a
inteligência acadêmica, deixando de lado as demais inteligências, dando pouco
enfoque a elas ou até mesmo as excluindo (VEIGA e GARCIA, 2006).
No cenário atual, uma questão muito discutida é sobre a mente humana. Será
que ela se constitui de um sistema unitário através do qual podemos operar e
resolver qualquer tipo de problema, de qualquer caráter, seja ele, ligado aos
conhecimentos lógico-matemático, linguístico, físico-técnico, psicológico, ou se, pelo
contrário, a mente é composta por um conjunto de sistemas e processos
especializados em resolver diferentes tipos de problema?
A avaliação dinâmica tem como, principal objetivo, diagnosticar o que o aluno
é capaz de fazer em situações de mediação, buscando evitar a utilização de
procedimentos que rotulem e classifiquem o sujeito. Dentro do que se refere à
avaliação dinâmica, pode-se afirmar que acontece dentro da zona de
desenvolvimento proximal de desenvolvimento, ou seja, enfatiza o que o aluno é
capaz de fazer mediado por outra pessoa, neste caso, o professor (VYGOTSKY,
1984).
Neste processo de mediação, o aluno, ao ser avaliado, pode reconhecer de
onde se origina o seu sucesso ou o seu fracasso. Ampliando a lista de avaliações
possíveis de superar as medidas tradicionais, a avaliação modular tem, por objetivo,
conhecer o perfil cognitivo do aluno com suas capacidades e limitações e quais as
competências precisa para aprender. Na avaliação modular, o sujeito é imerso
durante certo tempo, em um ambiente rico em recursos e estímulos, baseado nas
oito inteligências descritas por Gardner (1995), para assim avaliar o seu
desempenho. Foi nesse contexto que desenvolvemos nosso material didático.
2. MÉTODO
Conforme já dito anteriormente, após a elaboração do material didático, no
segundo semestre de 2013, o projeto de implementação foi aplicado a quatro alunos
do 7º ano Ensino Fundamental que frequentam a Sala de Recursos Multifuncional –
Tipo I, da Escola Estadual Padre Anchieta-EF, município de Inajá, no primeiro
semestre de 2014. O desenvolvimento do projeto apoiou-se no resultado da
“Avaliação Psicoeducacional” realizada em forma de entrevista individual com os
pais dos alunos supracitados. Para melhor entendimento, dividiremos o
desenvolvimento da Avaliação Psicoeducacional de acordo com as ações realizadas
e a duração das mesmas.
Primeira Ação: Entrevista com os Pais. Duração: 10 horas/aulas
O primeiro momento foi dedicado aos pais/responsáveis pelo aluno e teve
como objetivo levantar dados sobre seu nascimento, desenvolvimento e suas
inteligências múltiplas (anamnese). A coleta de dados se deu na forma de entrevista
aberta, para que o entrevistado se sentisse a vontade em falar a respeito de
situações que pudessem ser conflitantes e ou constrangedoras. No entanto, foi
relevante para definirmos o perfil do aluno em relação às suas inteligências (mais e
menos desenvolvidas).
Nesta entrevista, coletamos informações importantes, tais como; os dados
pessoais do aluno, seu histórico familiar e escolar, o desenvolvimento modular (que
se refere a perguntas ligadas às inteligências: linguística, lógico-matemática,
corporal-cinestésica, musical, espacial, naturalista e intra e interpessoal). A
entrevista foi adaptada do livro: Psicopedagogia Modular: Uma modalidade de
avaliação interventiva (VEIGA e OLIVEIRA, 2012).
Segunda Ação: Entrevista Modular Centrada na Aprendizagem (EMCA) dos
alunos. Duração: 12 horas/aulas
Essa entrevista foi composta por 11 atividades práticas selecionadas por nos
permitir analisar as múltiplas inteligências dos quatro alunos entrevistados. Elas
foram desenvolvidas com os quatro alunos ao mesmo tempo, possibilitando
identificar qual atividade cada aluno saiu-se melhor. As observações individuais do
desenvolvimento de cada aluno foram anotadas em uma folha de registro que nos
permitiu ter uma visão geral de quais inteligências o aluno conhece e não utilizou e,
ainda, quais inteligências apresentam facilidades ou dificuldades para o aluno. Como
instrumentos metodológicos, utilizamos vídeos (YOUNG, 2012), músicas, produção
de textos, leitura de imagens, simulações de compras em mercados, dramatização,
pesquisas no laboratório de informática, simulações de jogos, entre outros. Todas as
atividades foram intermediadas com questões investigadoras que nos levasse a
verificar quais inteligências eram mais ou menos desenvolvidas. Na sequência,
serão apresentados os resultados das entrevistas e das atividades aplicadas.
3. RESULTADOS
Analisando os resultados das entrevistas abertas, feitas com os pais e ou
responsáveis dos alunos, e das atividades aplicadas aos alunos na Entrevista
Modular Centrada na Aprendizagem (EMCA), desenvolvidas na primeira e segunda
etapas da implementação na escola, foi possível identificar quais foram as
inteligências individuais menos desenvolvidas e quais necessitariam de serem
trabalhadas. Podemos observar os quadros 1, 2, 3 e 4.
Quadro 1 - Resultado da Entrevista Modular Centrada na Aprendizagem do aluno 1.
Aluno - 1 Facilidade Dificuldade Conhece, mas não se interessa
Linguística X
Lógico-Matemática
X
Corporal- Cinestésica
X
Espacial X
Musical X
Naturalista X
Intrapessoal X
Interpessoal X
Fonte: GRIZIO, 2014
Demonstrou dificuldade nas inteligências linguística e matemática. Nas
demais inteligências, o seu desempenho está diretamente ligado ao interesse
pessoal. Seu pensamento, na escrita, apresenta-se de forma objetiva, o que nem
sempre favorece o desenvolvimento das ideias. Ao analisarmos o contexto geral das
inteligências desse aluno, observamos que possui dificuldade nas inteligências
linguística e lógico-matemática e, ainda, que pode desenvolver melhor as
inteligências musical e interpessoal.
Quadro 2 - Resultado da Entrevista Modular Centrada na Aprendizagem do aluno 2.
Aluno - 2 Facilidade Dificuldade Conhece, mas não se interessa
Linguística X
Lógico-Matemática
X
Corporal- Cinestésica
X
Espacial X
Musical X
Naturalista X
Intrapessoal X
Interpessoal X
Fonte: GRIZIO, 2014
Esse aluno apresenta, nos sistemas de inteligência, dificuldade na inteligência
acadêmica, ou seja, linguística e lógico-matemática. Nos demais, o seu desempenho
é fruto da oscilação entre interesse e motivação. O aluno demonstrou perseverança
na resolução das atividades propostas com habilidades para escolher as melhores
estratégias de resolução, já que usa os recursos que domina para solucionar as
tarefas. Enfim, após análise, podemos dizer que o aluno precisa desenvolver as
inteligências linguística e lógico-matemática.
Quadro 3 - Resultado da Entrevista Modular Centrada na Aprendizagem do aluno 3.
Aluno -3 Facilidade Dificuldade Conhece, mas não se interessa
Linguística X
Lógico-Matemática
X
Corporal- Cinestésica
X
Espacial X
Musical X
Naturalista X
Intrapessoal X
Interpessoal X
Fonte: GRIZIO, 2014
Demonstrou dificuldades muito acentuadas na inteligência acadêmica
(inteligências linguística e lógico-matemática). Nas demais, o seu desempenho é
semelhante ao aluno 2, oscilando entre interesse e motivação. Demonstra timidez
nos contatos sociais, possuindo um círculo reduzido de amigos. É extremamente
dependente, não tem autonomia, tem medo de fracassos e autopiedade excessiva.
Os resultados nos mostram que o aluno precisa melhorar suas inteligências
linguística, lógico-matemática, interpessoal e intrapessoal.
Quadro 4 - Resultado da Entrevista Modular Centrada na Aprendizagem do aluno 4.
Aluno - 4 Facilidade Dificuldade Conhece, mas não se interessa
Linguística X
Lógico-Matemática
X
Corporal- Cinestésica
X
Espacial X
Musical X
Naturalista X
Intrapessoal X
Interpessoal X
Fonte: GRIZIO, 2014
Esse aluno apresentou dificuldade apenas na inteligência linguística. Nas
demais inteligências, o seu desempenho vai de acordo com a sua motivação.
4. DISCUSSÃO
Todas as atividades foram desenvolvidas de forma a observar as
capacidades individuais dos alunos avaliados, tratando cada um como um indivíduo
único e capaz de produzir conhecimento. Foram analisados os processos de
aprendizagem de acordo com as potencialidades, respeitando seu ritmo de
aprendizagem.
A entrevista evolutiva modular, realizada primeiramente com os pais, nos
forneceu informações importantes como o histórico familiar e escolar dos quatro
alunos, seus talentos, seus gostos, suas habilidades entre outras.
As informações, obtidas pela coleta de dados, foram relevantes para
definirmos o perfil do aluno em relação às suas inteligências (mais e menos
desenvolvidas). Já sabíamos qual era o laudo psicoeducacional, necessário para o
ingresso na Sala de Recursos. No entanto, a entrevista de anamnese apresentou
detalhes importantes que um laudo ou parecer psicoeducacional não consegue
captar, como, por exemplo, os primeiros passos, as primeiras palavras
pronunciadas, seu comportamento antes da alfabetização. Enfim, detalhe que só
quem acompanhou o desenvolvimento da criança pode fornecer. De posse dessas
informações, ficou mais fácil aplicar a Entrevista Modular Centrada na
Aprendizagem (EMCA) do aluno.
Apropriando-se dos conceitos de Veiga e Oliveira (2012), utilizamos a
própria sala de recursos multifuncional - tipo I, local familiar, rico em recursos e
estímulos, para desenvolver as atividades relacionadas às oito inteligências. Para
Veiga e Oliveira (2012, p. 55),
Na fase das Provas Modulares, busca-se relacionar a inteligência do indivíduo com o ambiente que o cerca, analisando a sua conduta levando em consideração o contexto em que acontece, considerando três tipos de atividades que caracterizam uma conduta dita inteligente: a adaptação ao ambiente, a transformação do ambiente e a seleção do ambiente. Este instrumento informal, denominado Provas Modulares, está sustentado na capacidade do sujeito, diante de uma situação-problema, articular os oito sistemas inteligentes para resolver as tarefas cognitivas que, integradas, levam-no a solução.
Já com base na Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner (1995),
optamos por organizar os alunos em grupos de trabalhos, sendo o professor, o
mediador entre o conhecimento e as potencialidades individuais, e ainda, mediador
da interação e integração do grupo (VYGOTSKY, 1984). As atividades desenvolvidas
utilizaram diferentes instrumentos metodológicos, seguindo dessa forma as
orientações de Veiga e Oliveira (2012, p. 51): “A Teoria das Inteligências Múltiplas
possibilita uma avaliação em que o sujeito mostra as múltiplas opções para
compartilhar o que aprendeu, sejam por meio de gráficos, canções, desenhos e
linguagem”.
Utilizando essa ideia, foi possível analisar o aluno em sua dimensão afetiva e
em sua relação com a aprendizagem. Pois, a cada atividade realizada, nessa
etapa, o aluno teve a chance de analisar fatores que o atrapalham no seu processo
de aprendizagem, como exemplo, seus sentimentos, suas preferências, seu
comprometimento com as atividades realizadas e seu comportamento diante de
uma situação que não consegue resolver. A esse respeito, Veiga e Oliveira (2012,
p.161) nos dizem que “essa modalidade de avaliação tem seu foco na metacognição, a
qual pode proporcionar ao sujeito um insight a respeito das atividades que facilitam ou
dificultam sua aprendizagem”.
Nesse sentido, ao realizar a avaliação dessa forma, os alunos foram
avaliados com qualidade e suas necessidades e aptidões foram levadas em
consideração. Tendo em vista que a Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner
(1995) enfatiza que cada pessoa deve receber uma educação que maximize seu
potencial intelectual.
Ao utilizar a Entrevista Modular Centrada na Aprendizagem do aluno
(EMCA), com foco nas oito inteligências sugeridas por Gardner (1995), percebemos
que se faz necessário aprofundar os conhecimentos sobre a Teoria das
Inteligências Múltiplas e do conhecimento da mente humana, para conseguirmos
propor práticas pedagógicas capazes de despertar no aluno o interesse, o prazer da
(re)descoberta, o aguçamento da sua curiosidade e de sua interação com a
realidade que o cerca (VYGOTSKY, 1984), utilizando recursos diferentes do comum
como o lápis e o papel. Com isso, permitindo aos alunos demonstrarem suas
capacidades e entendimentos, ou seja, meios de aprendizagem inerentes a cada
um, como se pode confirmar no trecho abaixo de Gardner (1995, p. 36):
[...] há razões importantes para considerar a teoria das inteligências múltiplas e suas implicações para a educação. Em primeiro lugar, está claro que muitos talentos, se não inteligências, são ignorados hoje em dia; os indivíduos com esses talentos são as principais vítimas de uma abordagem da mente de visão única, limitada. Existem inúmeras posições não preenchidas ou mal preenchidas em nossa sociedade, e seria oportuno orientar os indivíduos com o conjunto certo de capacidades para essas colocações. Finalmente, nosso mundo está cheio de problemas; para termos a chance de resolvê-los, precisamos utilizar da melhor forma possível as inteligências que possuímos.
Em busca de possibilitar a mediação dos alunos, no que tange às defasagens
acadêmicas, baixa autoestima, atenção, concentração, problemas de socialização e
aprendizagem, destacamos que, as situações de estímulos, utilizando-se de jogos,
brincadeiras, músicas, imagens, computador e internet, entre outros, facilitam o
desenvolvimento das inteligências múltiplas como rotas de acesso ao processo de
ensino e aprendizagem. Pois, de acordo com Gardner (1995), a avaliação deve fazer
jus à inteligência, dar segurança ao conteúdo da inteligência em teste. Para tanto,
necessita de certo número de processos específicos e esses processos devem ser
medidos com instrumento que permitam ver a inteligência em questão e em
funcionamento.
Vale destacar que entre os alunos avaliados, as inteligências que
necessitaram maior atenção são relacionadas às inteligências: linguística, lógico-
matemática, musical e as de relacionamentos, inter e intrapessoal. Ao analisar a
entrevista de anamnese, realizada pelo psicopedagogo para a elaboração do
Parecer Psicoeducacional, verificamos que os mesmos apresentam uma hipótese de
diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH – somando
à dificuldade específica da leitura e escrita. Apresentam, ainda, segundo esse
Laudo, déficit acentuado em todas as habilidades cognitivas, tendo dificuldade para
compreender a maioria das atividades de avaliação. O que nos remete novamente
ao Gardner (1995), quando questiona também o método de avaliação,
tradicionalmente, utilizado nas escolas. Para ele, a avaliação formal se refere a
métodos de levantamento de informações de atividades que acontecem diariamente
nas atividades realizadas. Fora disso, é, simplesmente, uma testagem que, na maior
parte das vezes, ocorre fora do ambiente conhecido e sem que o indivíduo testado
perceba que está sendo testado.
Gardner (1995) defende a ideia de que a testagem no sentido de aprendizado
é mais eficaz que a avaliação tradicional, pois considera necessário auxiliar os
alunos a desenvolverem suas capacidades e habilidades individuais, e não apenas
avaliar como intuito de aprovar ou reprovar, avaliar de acordo com o teórico se faz
necessário para informar ao aluno sobre suas capacidades e ao professor o quanto
o aluno está aprendendo. Como discorre Gardner (1995, p. 208): “Em vez de
construir testes que não medem a inteligência, mas tendem a selecionar os
indivíduos e, potencialmente, limitar seu crescimento, nós preferimos planejar
veículos que simultaneamente ajudem a descobrir e estimular as competências
individuais”.
Pensando assim, propomos, para finalizar a implementação, inúmeras
atividades que possibilitassem desenvolver as inteligências diagnosticadas menos
desenvolvidas, pois cada aluno é único em suas características e seu
desenvolvimento processa, de maneira diferente, no que se refere à apropriação e à
elaboração de conceitos mais elaborados.
O que observamos, como resultado, após a intervenção pedagógica desse
projeto, foi uma mudança significativa tanto de comportamento quanto na disposição
em realizar as atividades propostas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE
proporcionou a oportunidade de reflexão sobre as formas de avaliação diferentes da
maneira tradicional, permitindo aos alunos demonstrarem suas capacidades e
entendimentos de uma maneira confortável aos mesmos, mas sujeitos à avaliação
pública, ou seja, meios de avaliação que se adaptassem às potencialidades
individuais de cada aluno. Dessa maneira, foi possível avaliar o aluno numa
perspectiva holística, trabalhar para que ele encontrasse em si mesmo a superação
de suas dificuldades e aprendesse de maneira prazerosa, desenvolvendo todas as
suas habilidades de maneira completa.
O nosso objetivo foi oferecer uma educação de qualidade, capaz de educar
com sucesso a todos, atendendo às necessidades de cada um, considerando-se as
diferenças existentes entre os educandos. Além disso, buscamos auxiliar o aluno a
desenvolver suas diferentes potencialidades e ter suas habilidades exploradas,
assim como a de reconhecer suas capacidades e limitações, levando em
consideração a diversidade humana que se faz presente dentro de um mesmo
ambiente escolar.
Ao finalizar as atividades, compreendemos que a ação pedagógica da sala
de recursos deve respeitar todas as particularidades possíveis, levando em
consideração o ritmo e as necessidades do aluno. E cabe ao professor da Sala de
Recursos Multifuncional – tipo I, desenvolver uma metodologia e avaliação centrada
na aprendizagem dos alunos.
A Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner (1995), psicólogo e
pesquisador da Universidade de Harvard, ampliam o alcance do potencial humano,
apresentando um enfoque mais amplo do que o preconizado nos testes de
inteligência. A Teoria oferece alternativas ao ambiente escolar, dando ênfase a
individualização do ensino, ou seja, enfatizando que cada pessoa deve receber uma
educação que maximize seu potencial intelectual. O professor deve ter o aluno
como centro das atividades e estimular a todas as inteligências de maneira
adequada.
Enfim, percebemos que nosso objetivo foi alcançado, pois utilizar uma
avaliação baseada na perspectiva da Teoria Modular da Mente, buscando avaliar as
habilidades (inteligências) mais e menos desenvolvidas em cada aluno,
democratizou as relações de aprendizagem a partir de características de
desenvolvimento de conhecimento de cada aluno, para a formação de sujeitos
autônomos.
REFERÊNCIAS
GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. VEIGA, E. C.& GARCIA, E. G. Psicopedagogia e a teoria modular da mente. São Paulo: Pulso, 2006. VEIGA, E. C. & OLIVEIRA, A. Psicopedagogia modular: uma modalidade de avaliação interventiva. São Paulo: Vozes, 2012. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. YOUNG, E. Vídeo: Gato de Botas e os Três Diablos, 2012. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=dEk5F5Hd6Vs. Acesso em out. 2013.