ortoclÍnica concepção, linguagem, conforto ambiental e tecnologia antónio manuel corado pombo...
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ORTOCLÍNICAConcepção, linguagem, conforto ambiental e tecnologia
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Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo
2008, março
Seminário
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Seminário Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo
Em “Solar Control & Shading Devices”, publicado em 1957, os irmãos Olgyay mostram e demonstram o “bioclimatic approach” da arquitetura.
Um quarto dos exemplos apresentados como soluções qualificadas quanto à proteção solar são projetos e obras da arquitetura moderna brasileira, anos 30/40.
A admiração dos Olgyay pela arquitetura brasileira fica evidente quando referindo-se à sede do Ministério da Educação e Saúde, abdicam da língua inglesa, “sun-breaker”, e incrustam no texto, em português: quebra sol.
Certamente uma forma sui generis de homenagem à contribuição brasileira.
a introdução
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Planta de situação
O edifício em estudo é uma clínica de serviços de ortodontia com 360 m² de área construída, em dois níveis, térreo e piso superior, situado no setor Bueno (quadra 89) em terreno (lote 8-B) com 425 m2, localizado na Av. T-1 esquina com rua T-53 (fig. 134).O projeto arquitetônico é do arquiteto Marcel Violet, de 1998, e colaboração da arquiteta Luciana B. B. dos Reis.Obra executada em 1999 e 2000.
o projeto
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O acesso principal ocorre pela avenida T-1 e está bem acolhido pela interessante e assimétrica volumetria do avanço do andar superior.
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Plasticamente bem associados proporcionam o delicado apoio ao grande pano de vidro da fachada sul-sudeste. Esta bela composição caracteriza o “core” do projeto.
Na sala de recepção e espera, de pé direito duplo, tem-se a escada principal, logo após a entrada. As estruturas metálicas formadas por colunas em tubos redondos, que nascem do jardim interno, e elementos triangulares horizontais e verticais são o contraventamento do sistema e apoio da esquadria.
Do consultório, no piso superior, vê-se o exterior e toda a composição acima descrita: o espaço da sala de espera no piso térreo.
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O projeto tem uma linguagem diferenciada e atraente. Utiliza a contemporaneidade tecnológica com destaque para a exuberante superfície envidraçada e sua sutil e delicada estrutura de apoio sem cair na padronização da “pele de vidro”.
Observando com cuidado as imagens selecionadas é reconhecível e pode-se afirmar que o projeto tem uma intenção muito própria e que gerou uma linguagem com uma volumetria peculiar baseada num “jogo” interessante, ora de planos “não paralelos” aos limites do lote, ora de planos “não verticais”, ora os dois.
a linguagem
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Aceitando-se aquela afirmativa percebe-se claramente que a concepção volumétrico-espacial é, em última instância, um original e criativo “jogo” de opções, escolhas e montagem.
Ou “p’ra cá” 11 ou “p’ra lá” 22. Ou “p’ra baixo” 33 ou “p’ra cima” 44.
O “jogo” é “fugir” do paralelismo e da ortogonalidade!
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É obvio que a escolha de uma determinada conjugação das alternativas “p’ra cá” ou “p’ra lá” e “p’ra baixo” ou “p’ra cima”, não foi ato arbitrário [1] e as explicações que serão feitas a seguir não são adivinhação [2], palavra às vezes usada, pejorativamente, quando se assume o compromisso de ir um pouco mais além com “uma crítica de caráter didático, deslocando a acepção da crítica como busca do erro (com imediata e inevitável punição...) em favor de uma concepção que aproxima o enunciado crítico da proposição teórica.” (OLIVEIRA, 2003, p. 70)
[1] “Se o projeto está sujeito à intervenção do acaso em seus aspectos inventivos, sua objetivação técnica, caso se deseje didática,
não pode encontrar no inusitado desculpa para a instalação do arbitrário.” (OLIVEIRA, 2003, p.69)
[2] “Adivinhar não implica compreender, mesmo quando o resultado for aceitável como solução para um problema dado: talvez, por acaso,
seja possível ter sucesso isoladamente, mas sem compreensão não haverá transposição desses resultados para um outro problema, em
outras circunstâncias, isto é, não haverá verdadeira aprendizagem diante do novo, mas tão somente treinamento repetitivo e acrítico.”
(OLIVEIRA, 2003, p. 70)
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A fachada nordeste (para a Av. T-1) é constituída por um plano principal, vertical e não paralelo à avenida (8°) onde temos uma abertura com formato irregular e que contorna o volume que se projeta “p’ra fora” desse plano: neste volume temos pequenas aberturas que estão num plano inclinado (8° “p’ra baixo”), e não paralelo à avenida (7°, no sentido contrário ao do plano principal), isto é, tendo entre eles 15° de variação de orientação: no plano principal Az = 61°, no outro Az = 46°.
O volume do 1° andar consegue dar alguma proteção nos equinócios e principalmente no solstício de inverno, no entanto, quase nada protege no verão.
Solstício de inverno: 09:00 h
Solstício de verão: 09:00 h
as fachadas
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Na carta solar vê-se como o brise seria eficaz, permitindo sol apenas
no início da manhã, mais no inverno (até 9:00) e menos nos
equinócios (até as 8:00) e no verão (só até as 7:00), preservando a
área de sombra necessária.
O projeto propunha, no envidraçado do plano principal, uma proteção de placas horizontais (V = 60°) que, infelizmente não chegou a ser executada.
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A fachada sudeste, tendo “fugido” da paralela à testada do lote em 8°, “p’ra lá”, para o sul, obteve a orientação Az = 151°. Com esta opção somada ao da quebra da verticalidade, 8° debruçada “p’ra baixo”, foi possível reduzir bastante a insolação do grande envidraçado (76 m²): a fotografia registra o máximo de insolação que esta abertura sofre, ou seja, no solstício de verão (a foto é das 9:20 da manhã).
A insolação que atinge a sala de espera, apesar do pé direito duplo, é predominantemente vertical e amenizada pelo pequeno e estratégico jardim interno e pela silhueta das espécies vegetais escolhidas. Com o transcorrer da manhã a insolação será cada vez menor e haverá sombra completa a partir das 11:15.
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A fotografia mostra que o vidro, ligeiramente espelhado (repare-se nas faixas de sol refletido na parede externa), sofre esta insolação com certa dignidade. Embora não seja desejável (ver a carta e a área de sombra), as circunstâncias são bastante atenuadoras desse “pecadilho”. Há uma forte coerência formal na solução geral da proteção.
A beleza delicada do sistema de sustentação do grande pano inclinado de vidro, com elementos triangulares na vertical e na horizontal, é uma solução indissociável do conjunto do projeto e de sua qualidade final, tanto tecnógica como estética.
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Declinando 8° “p’ra lá”, isto é, “fugindo” do sul, o “ataque“ da
radiação solar, visto em planta, é bem mais agressivo – fica bem perto da ortogonal
à fachada (23°)!!
Declinando 8° “p’ra cá”, isto é, “procurando” o sul, o “ataque“ da radiação solar, em especial no solstício de verão, visto em planta, é bem menos agressivo – foge bastante da ortogonal à fachada (39°)!!
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Na hipótese decorrente da conjugação “p’ra lá” e “p’ra cima”, isto é, “fugindo” do
paralelismo (8°), em sentido anti-horário, e inclinando-se “p’ra cima” com 98°, a fachada assumiria uma orientação com azimute 135°, distanciando-se da orientação sul, e teria os
seguintes horários de insolação:
Na solução adotada, conjugação “p’ra cá” e “p’ra baixo”, isto é, “fugindo” do paralelismo (8°), em sentido horário e inclinando-se “p’ra baixo” com 82°, a fachada assume uma orientação com azimute 151°, aproximando-se do sul e, comparando-se com a solução hipotética, “vendo” 16° a menos da abóbada, e com os seguintes horários de insolação.
a comparaçã
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Quanto ao brise na fachada nordeste (da Av. T-1) que não foi executado, muito mais do que a sua ausência como proteção solar, que não chegou a sacrificar a questão térmica, segundo o testemunho dos usuários...
epílogo
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... comprometeu, no entanto, e significativamente, a integridade da proposta plástico-formal subtraindo um elemento da composição que realçaria por contraste a exuberância da grande superfície envidraçada!!
Foto com a simulação virtual do brise
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FERNANDES, A. M. C. P. Arquitetura e sombreamento: parâmetros para a região climática de Goiânia. Goiânia: dissertação de mestrado, 2007.
OLGYAY, Aladar; OLGYAY, Victor. Solar control and shading devices. New Jersey: Princeton University Press, 1957.
OLIVEIRA, Rogério de Castro. Crítica e teoria do projeto. Porto Alegre: ArqTexto, n. 3 - 4, 2003.
Referências bibliográficas