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Belém, vol. 1, n. 2, p. 74-84, julho/dezembro 2015
Oriximiná: uma cidade na floresta
Oriximiná: a city in the Forest
Fernanda Lobo dos Santos1
O município de Oriximiná está localizado no estado do Pará, noBaixo
Amazonas, à margem esquerda do rio Trombetas, numa área fronteiriça ao norte, com
os países de Suriname e Guiana Francesa. Sua população de 67.939 habitantes está
distribuída em 107.603,291 km², contudo, o perímetro urbano ocupasomente 10.440.000
m2, ondeestá concentrada a maior parte da população,.2Este ensaio é resultado de uma
pesquisa ,iniciada na graduação e aprofundada durante o mestrado, sobre a presença da
juventude Waiwai estudantil nesta cidade amazônica, e as fotos que compõe este ensaio
foram tiradas no período entre 2009 e 2013.
O surgimento deste meio urbanoresultou da instalação, em 1979.da empresa
MRN - Mineração Rio do Norte, exploradora de bauxita3. Tal processo, resultou
naconcentração da população na cidade, em busca de melhores condições de vida e
oportunidades de emprego, atraindo ribeirinhos do interior e de municípios vizinhos,
trabalhadores qualificados e não qualificados de outras cidades do estado e de outras
regiões do país. Embora em escala menor, esse fenômeno também atingiu a população
quilombola eo grupo indígena Waiwai. Ainda que , a presença destes não se reduza a
determinismos econômicos. Uma vez que,a cidade, ao longo das décadas, tornou-se
palco estratégico para a reivindicação de seus direitos étnicos e territoriais.
Não há ônibus regulares, a moto é o meio de transporte mais utilizado e junto a
lanhouses, ao modismo de um discreto moicano, as músicas tecno-bregas4 e as antenas
parabólicas e celulares conferem à paisagem da cidade, certo aspecto de modernidade.
Em contrapartida, ao lento ritmo das embarcações que entrecortam os rios, com os 1 Mestre em Sociologia ( UFF) e graduada em bacharel e licenciatura em Ciências Sociais ( UFF).
Atualmente leciona a disciplina de sociologia em escolas da rede de ensino pública do estado do Rio de Janeiro. Sua pesquisa de mestrado foi desenvolvida em relação a experiência da juventude indígena Waiwai no meio urbano da cidade amazônica de Oriximiná (PA). Contatos [email protected] 2 IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia, 2014.
3 A bauxita é matéria prima do alumínio.
4Tecno-brega é um gênero musical popular surgido nos anos 2000, fusão da música brega com a
eletrônica.
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estabelecimentos, que de meio dia a três horas da tarde, interrompem suas atividades
para a cesta, produzindo profundo silêncio durante esse período e as mulheres que
atravessam toda a cidade debaixo de um torrencial sol.
Nesse contexto, convido os leitores a se entregarem a minha perspectiva
sobre a intimidade entre o urbano e o rural, a modernidade e a tradição ,na cidade de
Oriximiná , aqui narrada por meio deste ensaio fotográfico. E, principalmente, passar
pelos lugares onde as imagens representam reflexo de meu questionamento sobre uma
realidade tão paradoxal quanto instigante:uma cidade na floresta. Aqui, as fotos,
como a cidade, também são um território, contudo, delineado através de minhas
inquietações. Sejam bem vindos a um breve passeio imagético por Oriximiná!
Referências
ANDRADE, Rosane de.Fotografia e antropologia: olhares fora-dentro. São
Paulo: Estação Liberdade: Educ. 2002.
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“Depois de todas essas horas de voo finalmente nos aproximamos do momento da aterrissagem. Meio ao balanço constante do
grande e velho Hércules e desde a pequena e embaçada janela, noto que a paisagem já denuncia suas especificidades.(...) Enquanto
atravessava a floresta amazônica, era arrebatada pelo tracejado de seus rios e pela imponência de uma imensidão verde de milhares
de quilômetros de mata fechada, apenas interrompida por clareiras. A proximidade da cidade é anunciada pela crescente
regularidade desses vãos, que já bem próximo ao meio urbano, transformam-se em imensos terrenos vazios. Enfim, a cidade de
Oriximiná. ” Trecho de meu Diário de Campo , do dia 11 de fevereiro de 2009.
O meio urbano do município de Oriximiná: ruas paralelas e perpendiculares ao rio Trombetas.Ano: 2009
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O município de Oriximiná está localizado no noroeste do estado brasileiro do Pará, á margem esquerda do rio
Trombetas. Ano: 2013
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1. Embora, sejam os rios as “estradas” por excelência. Através da estrada de terra PA-254, uma vez por dia, parte um ônibus em
direção a cidade vizinha de Óbidos. Durante a viagem, que dura, aproximadamente, seis horas, o motorista também assume o
papel de carteiro e entregador, parando em pontos específicos para deixar encomendas como: óleo diesel, cartas, alimentos
(bolo,bebidas etc.), galinhas etc. Na foto, um menino olha um vaqueiro, que passa na estrada guiando uma pequena manada
. Ano: 2013
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Casas feitas de tábuas de madeira e de pau a pique são comuns no centro da cidade, mas a frequência torna-se ainda maior, na
medida em que se avança em direção aos bairros ocupados e com menos infraestrutura. As casas dessa foto pertencem ao
Bairro do Penta, que conforme os moradores, assim foi nomeado porque sua ocupação _que teve como principais
protagonistas, migrantes de outras regiões do país_se difundiu mais intensamente , no ano de 2002, quando o Brasil
conquistou o prêmio de pentacampeão da Copa do Mundo. Ano: 2009.
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O povo Quilombola é um dos grupos étnicos que compõe a multiplicidade étnica que caracteriza o município. Esta família
Quilombola mora há várias décadas no meio urbano e mantêm uma relação viva e dinâmica de reciprocidade com as
comunidades Quilombolas do interior . Ano: 2013
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O grupo indígena Waiwai que ocupa as terras indígena Trombetas-Mapuera e Nhamundá-Mapuera , é um dos segmentos que
frequenta o meio urbano de Oriximiná, desde meados da década de setenta. Mas, foi a partir do início da década de noventa
que passou a fazer uso do meio urbano como arena política de reinvindicações de seus direitos étnicos diferenciados e
demais direitos em relação a saúde e educação, uma luta patente entre um povo real, histórico e concreto que não se
assemelha em nada , ao imaginário do índio idílico, do bom selvagem rousseauniano. A foto mostra homens adultos Waiwai
assistindo aula durante o curso de Licenciatura Intercultural para Educadores Indígenas, no campus da UEPA-Universidade
Estadual do Pará. Ano: 2013.
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2. Jovens Waiwai estudantes conversando na porta da Casa de Transição :local de estadia indígena na cidade. Ano: 2013