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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia – Campus I
Salvador - BA
ORIENTAÇÃO SEXUAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL COMO
ESTRATÉGIA DE GESTÃO ESCOLAR: MANIFESTAÇÕES DA
SEXUALIDADE - UM DESAFIO PARA PAIS E EDUCADORES
NAS ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DE JEQUIÉ-BA.
Mac Cleide de Jesus Braga Amaral1
Elane Braga Oliveira2
RESUMO
O presente artigo trata-se de uma pesquisa realizada durante a Pós-graduação Lato
Sensu em Gestão e Supervisão Escolar. A mesma objetivou apresentar a orientação
sexual na educação infantil como estratégia de gestão escolar, além de relatar e analisar
a dificuldade que pais e educadores/as têm em tratar das manifestações da sexualidade,
da criança, especialmente na educação infantil. Para isso fez-se um estudo de como esta
vem sendo trabalhada na família e nas Escolas Municipais de Educação Infantil Maria
Lúcia Jaqueira e Guiomar Pinto no Município de Jequié /BA. Buscou-se compreender,
entre outros fatores, como esta orientação ocorre nesta escola bem como, se pais e
educadores (as) estão preparados (as) para desenvolver tal tarefa. A sexualidade está
ligada à vida e a saúde, portanto não pode ser negada por quem se propõe a educar.
Palavras-chave: Sexualidade infantil; Gestão Escolar; Família; Escola; Formação
INTRODUÇÃO
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), uma questão
bastante atual e presente no cotidiano de todos os profissionais da educação é a postura
a ser adotada, dentro das escolas, em face das manifestações das sexualidades dos
alunos. Daí, a presente proposta de trabalho, que legitima o papel e delimita a atuação
do educador nesse campo.
É necessário reconhecermos que os professores, se deparam com situações em
sala de aula diante das quais não sabem como agir. Nem sempre o professor se sente
1 Graduada em Pedagogia com Habilitação em Educação Infantil e Séries Iniciais pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB/JEQUIÉ, Especialista em Metodologia do Ensino Superior e
Gestão e Supervisão Escolar pelas Faculdades Integradas Euclides Fernandes – FIEF. Especialista em
Educação a Distância pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Professora da Rede Municipal de
Ensino da cidade de Jequié/Bahia. [email protected] 2 Graduanda do curso de Pedagogia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB/JEQUIÉ.
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seguro para falar algo em relação à sexualidade, talvez por medo de como a sua fala
pode influenciar o aluno, que poderá interpretá-lo de maneira incorreta.
Segundo Foucault (1998, p.9) a análise dessa busca da verdade sobre o sexo, da
formação de certo tipo de saber sobre o sexo, deve ser feito sob o viés do poder, não um
poder que funciona pelo direito, mas pela técnica, não pela lei; mas pela normalização;
não pelo castigo, mas pelo controle. O poder é onipresente porque se produz a cada
instante, em todos os pontos, em toda relação: ele esta em toda parte não por que
engloba tudo, mas porque provém de todos os lugares.
Diante das dificuldades percebidas nas relações professor- aluno no que se refere
à educação sexual, esse trabalho buscou promover a percepção da importância e o poder
que a escola pode exercer na formação do ser humano, ainda mais quando diz respeito
às manifestações da sexualidade.
Estando consciente que a abordagem sobre a sexualidade é fundamental para
orientar o individuo no contexto sócio-cultural, faz-se necessário mostrar o quão é
importante saber como é manifestada a sexualidade dos alunos, em especial da
Educação Infantil, e como é trabalhada a Orientação Sexual por parte da escola e dos
profissionais de educação.
Faz-se necessário que os primeiros e principais responsáveis pela educação
sexual sejam os pais. Porém, cabe também aos professores, gestores e demais atores do
contexto escolar essa difícil e imprescindível tarefa.
O temor de falar em sexo revela que a sexualidade é trabalhada no cotidiano
escolar de forma escamoteada, uma vez que muitas escolas afirmam que abordam esta
temática por meio das várias disciplinas, ou seja, da transversalidade.
A educação sexual não surge na escola a partir dos Parâmetros Curriculares
Nacionais. Todavia, há de ser identificar de que maneira este tema é reinscrito na escola
dentro do contexto histórico e demandas atuais. Quando ocorrem intervenções,
resumem-se a ações pontuais como: acompanhamentos, exposições em feiras de
ciências campanhas educativas, palestras, na maioria das vezes, a cargo de médicos/
enfermeiros que não conhecem a realidade da escola.
Sabemos que os professores no papel de gestores de sala de aula têm a
responsabilidade de ouvir e a necessidade de um agir rápido ante alguma situação
inesperada e carregada de tensão envolvendo a sexualidade. Daí, a disponibilidade
pessoal do professor para atender às demandas que recebe em relação ao assunto.
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O professor deve aplicar a formação que recebeu para ser multiplicador de
preciosas informações e atitudes que irão contribuir para com a vida prática das
crianças. Hoffmann (1999) diz que acompanhar a criança em seu desenvolvimento
exige um olhar teórico reflexivo sobre seu contexto sócio-cultural e manifestações
decorrentes do caráter evolutivo do seu pensamento. Significa respeitá-la em sua
individualidade e em suas sucessivas e gradativas conquistas de conhecimento.
Infelizmente, o que percebemos são professores com carência de informações,
formação especializada, conhecimentos na maneira de abordar o assunto com crianças
em cada etapa específica do desenvolvimento. Assim, quando eles se defrontam com
essas situações, compreendem que os alunos precisam de muito mais do que eles podem
oferecer. É importante destacar que quase todos os professores trabalham com a
educação sexual de seus alunos, mesmo quando não se dá conta disso.
O professor não pode ser cúmplice dos alunos nos comentários preconceituosos.
Caso uma criança se masturbe na sala de aula, por exemplo, o professor deve chamá-la,
voltando a sua atenção para outra coisa, outra atividade e mais tarde a sós explicar que
tocar nos órgãos sexuais é bom, gostoso, mais não deve ser feito em público. O
professor deve também, caso o ato se repita depois de várias conversas, investigar as
possíveis causas (micose, que provoca coceira, ou outro problema que a criança possa
estar enfrentando).
A conversa sobre o que pode e o que não pode ser feito em público é sempre
bem vinda; mostrar figuras ou modelos do corpo humano e apresentar o nome correto
dos órgãos sexuais são sempre uma bela escolha.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RECNEI, 1998)
deixa claro que a sexualidade tem grande importância no desenvolvimento e na vida
psíquica das pessoas, pois independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-
se com o prazer, necessidade fundamental dos seres humanos. A marca da cultura faz-se
presente desde cedo no desenvolvimento da sexualidade infantil, por exemplo, na
maneira como os adultos reagem aos primeiros movimentos exploratórios que as
crianças fazem em seu corpo.
Cita também que uma das características que decorre do controle esfincteriano é
o favorecimento da exploração dos órgãos genitais, antes escondidos pelas fraldas.
Aumenta a curiosidade por seus próprios órgãos, podendo entrega-se a manipulação por
meios das quais pesquisam as sensações e o prazer que produzem. Com isso cresce
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também o interesse pelos órgãos das outras crianças que também pode se tornar objeto
de manipulação e de exploração, em interações sociais dos mais diversos tipos: na hora
do banho, em brincadeiras de médicos, imitando os adultos, dentro outros atos
(RECNEI, 1998).
O RECNEI (1998) ressalta também que não é necessário que a criança tenha
presenciado cenas ou a representação de cenas de sexo nos meios de comunicação ou
em casa para que se envolva em exploração ou jogos sexuais. A motivação pode ser
apenas por curiosidade ou desejo, integrantes de um processo normal de
desenvolvimento. Para tanto, a compreensão da sexualidade como um processo amplo,
cultural e inerente ao desenvolvimento das crianças pode auxiliar o professor diante das
ações exploratórias das crianças ou das perguntas que fazem a respeito do tema. Nesse
sentido, “é sempre bom destacar que o programa de orientação sexual devera atender as
necessidades e maturidade dos alunos” (SOUZA, 2003, p. 105).
Assim, por meio de uma pesquisa de cunho descritivo-explicativo e de
instrumentos de coleta de dados como questionários, pesquisas, observação participante,
discussão em grupo, desenvolvimento de ações em estudos de textos durante os ACs3,
em reuniões e em conversas formais e informais com pais e mestres, procuramos
responder ou ao menos problematizar o questionamento a seguir: como é manifestada a
sexualidade dos alunos da Educação Infantil nas Escolas Municipais Maria Lúcia
Jaqueira e Guiomar Pinto, e como é trabalhada a orientação sexual por parte da escola,
do gestor, da família e dos profissionais de educação?
O presente trabalho buscou também verificar se os professores estão trabalhando
numa perspectiva de favorecer e proporcionar ao educando uma reflexão sobre a
sexualidade, contribuindo assim para a construção saudável das crianças em seu
processo biofísico-social.
Nesse contexto, trabalhou-se com base no Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), em autores como
Pinto (1999), Polizzi (2002), Souza (1991), Silva (2002), além de vários outros
materiais cujos autores são estudiosos deste tema.
3 Atividades Complementares. Atualmente as escolas estaduais e municipais reservam durante a semana
um horário especial no qual professores e/ou coordenadores se reúnem para discutir textos, atividades
para os alunos, bem como construir projetos ou elaborar os planos de aula semanais.
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O intuito dessa pesquisa foi o de contribuir de forma positiva com as discussões
que vem se construindo sobre o tema orientação sexual, destacando-se a importância da
compreensão por parte dos professores e da família, sobre a fase em que cada criança se
encontra.
ORIENTAÇÃO SEXUAL: O PAPEL DO (A) GESTOR (A) ESCOLAR
O conceito de Gestão Escolar, relativamente recente, é de extrema importância
para que se tenha uma escola que atenda às atuais exigências da vida social: formar
cidadãos e oferecer, ainda, a possibilidade de apreensão de competencias e habilidades
necessárias e facilitadoras da inserção social.
A escola é uma instituição humana e pressupõe a perspectiva de quem nela atua.
Neste sentido, pode-se procurar preservá-la como algo estático ou engajá-la em
movimentos de mudanças que busquem sua atualização, de forma a torná-la condizente
com o seu tempo.
No que diz respeito ao papel do gestor/diretor (a), este deixa de ser alguém que
tem a função de fiscalizar e controlar, que centraliza em si as decisões, para ser...
[...] um gestor da dinâmica social, um mobilizador, um orquestrador de
atores, um articulador da diversidade para dar unidade e consistência, na
construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus
alunos (LUCK, 2000, p. 16).
Ou ainda....
[...] o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega aos membros da
equipe escolar conforme suas atribuições específicas as responsabilidades
decorrentes das decisões, acompanha o desenvolvimento das ações, presta
contas e submete à avaliação da equipe o desenvolvimento das decisões
tomadas coletivamente (LIBÂNIO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2003, p. 335)...
A transformação da escola está acontecendo com maior freqüência em situações
nas quais diretores e comunidade escolar (funcionários, professores, alunos, pais e
comunidade) se envolvem diretamente no trabalho realizado em seu interior.
Sob a perspectiva de Orientação Sexual, cabe ao Gestor Escolar: Sensibilizar os
pais dos alunos através de reuniões e palestras nas escolas, para implantação de projetos
de Orientação Sexual; Estimular a comunidade escolar para elaborar projetos de
pesquisa que avalie os avanços e embates das ações desenvolvidas; Promover a
formação continuada de educadores, para que possam subsidiá-los e favorecê-los na
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discussão sobre sexualidade na comunidade escolar. Sensibilizar aos educadores para
repensar a construção das suas vivências afetivas e sexuais nas diversas etapas da vida;
Realizar atividades que venham libertar educadores das amarras dos preconceitos e da
discriminação sexual; Desenvolver ações para desconstruir os conceitos distorcidos,
mitos e crendices elaboradas pela sociedade conservadora; Desenvolver temática em
foco, em qualquer área do conhecimento, tendo como norte os Paramentos e as
Diretrizes Curriculares Nacionais; Monitorar as ações desenvolvidas referentes aos
trabalhos sobre sexualidade e procurar desenvolver e participar de outras ações e
atividades correlatas a projetos relacionados ao tema.
FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES
Na grande maioria das vezes, o educador não sabe que atitude tomar diante de
uma situação na sala de aula em que o aluno manifesta de alguma maneira, sua
sexualidade. Isso dificulta o trabalho de orientação sexual. Entretanto muitas vezes isso
acontece pelo fato do professor não ter conhecimento sobre as temáticas que envolvem
sexualidade e por não ter feito nenhum curso que falasse sobre este tema. Como salienta
Lima:
Existe, na maioria das vezes, o total silêncio por parte dos
professores, que usualmente, só conseguem dar explicações sobre o corpo
humano e as funções de reprodução; o que na verdade não é o que as crianças
e os adolescentes mais desejam saber (2003, p. 15)
É preciso que o educador tenha acesso à formação específica para tratar de
sexualidade com os alunos, assim possibilitará uma postura profissional e consciente ao
trabalhar como esse tema. O professor deve se conscientizar sobre quais são os valores,
crenças, opiniões e sentimentos que cultiva em relação à sexualidade e que ela é um
elemento importante para que desenvolva uma postura ética na sua atuação junto aos
alunos.
Hoje, no Brasil, diferentes grupos estão construindo sua metodologia de trabalho
nesta área, nem sempre utilizando o termo orientação sexual para designar sua ação
educativa. A formação do educador no que se refere às temáticas relacionadas a
sexualidade é básica no sentido de preparar as pessoas em nível de conhecimento,
metodologia e postura para trabalharem na escola com um tema que é ainda polêmico
na nossa sociedade. As diversas instituições públicas e particulares, incluindo ONGs e
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fundações que vêm desenvolvendo processos de educação sexual, estão propondo
interessantes e diferenciados programas de formação de educadores.
Diz Castro e Silva:
Esperamos que, em pouco tempo, tenhamos o inicio de um cabedal sólido de
conhecimento a partir do qual novos questionamentos surgirão, criando-se
uma forma dinâmica e consistente de subsidiar esta área educacional (2002,
p. 26).
Na escola, os professores e as professoras são as pessoas que têm maior
proximidade com os alunos, pois os acompanham durante anos, sabendo melhor que
ninguém, como são, como pensam, agem e reagem. Eles chegam a ter acesso à história
do aluno, de alguma maneira, descobrem canais de comunicação e aproximação com
grande parte deles. Os professores, muitas vezes, já são vistos como referência de
aprendizagem da sexualidade pelos seus alunos.
O que se espera do professor já não se resume ao formato expositivo
das aulas, a fluência vernácula, à aparência externa. Precisa centralizar-se na
competência estimuladora da pesquisa, incentivando com engenho e este a
gestação de sujeitos críticos e auto-críticos a participantes e construtivos
(DEMO,1993, p.103)
Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998), a
compreensão da sexualidade como um processo amplo, cultural e inerente ao
desenvolvimento das crianças pode auxiliar o professor diante das ações exploratórias
das crianças ou das perguntas que fazem a respeito do tema. Como ilustra Camargo e
Ribeiro e Suplicy et al:
Além de livros, cursos sobre este tema têm sido ministrados em diferentes
espaços, no segundo semestre de 2000 três cursos surgiram abordando estes
temas: “orientações sexual na educação básica”, “A educação multi e
interdisciplinar e os temas transversais e foi ministrado o mini-curso
“PCNs”, os temas transversais e a escola publica à luz da analise da
filosofia e da historia da educação, o qual tinha o intuito de fornecer
subsídios para o trabalho com estes temas nas escolas (1999, p. 48).
É necessário reforçar que no tecer ações de orientação sexual, são as
necessidades da sala de aula e da escola os aspectos motivadores e orientadores do
estudo e organização dos temas de sexualidade.
É preciso desenvolver no educador um olhar para a sala de aula, de modo a
perceber nela o que ocorre de forma clara e o de forma não tão clara, porque
a sexualidade está presente em nossas vidas, muitas vezes, de forma não
explícita (SILVA, 2002, p. 34).
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O professor deve conhecer os próprios limites, reconhecer a cumplicidade do
tema e exercer seu papel com dignidade para que seus alunos possam saber que sexo e
sexualidade são normais e naturais, que pode dar prazer, mas que, para que isso
aconteça, é preciso maturidade e responsabilidade. Como nos diz Moscovice (apud
SILVA, 2000) temos que aprender para mudar e mudar para aprender conhecimentos,
sentimentos, atitudes e comportamentos.
ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
A pesquisa realizada nas Escolas Municipais Maria Lúcia Jaqueira e Guiomar
Pinto (Educação Infantil Pré-Escolar), foi de caráter descritivo – explicativo. De acordo
com Gil (1994): Caracteriza-se como aquela que identifica e/ou descreve a existência de
um fato ou fenômeno, descobrindo relações ainda de caráter, tendência e probabilístico
de natureza causal, funcional ou estrutural.
Já quanto aos fins esta pesquisa foi intervencionista porque teve como objetivo
interpor-se; interferir na realidade estudada, para modificá-lo. Quanto aos meios este
trabalho foi bibliográfico, por ter sido um estudo sistematizado com base em teóricos
como Pinto (1999), Polizzi (2002), Souza (1991), Silva (2002) etc. Foi possível incluir
entrevistas, aplicação de questionários, observação participante, discussão em grupo,
estudos de textos com os professores, e reuniões e conversas informais com pais e
professores, além de palestras etc.
Inicialmente fora realizada a caracterização das Escolas pesquisadas e, em
seguida ocorreu a descrição do que foi observado sobre o processo de Orientação
Sexual desenvolvido nas referidas Escolas, buscando resgatar algumas falas dos
professores, dos pais e cenas do cotidiano observado. Posteriormente, foi feita uma
analise do que foi possível compreender sobre o processo de Orientação Sexual na
Educação Infantil. É importante destacar que durante a realização do trabalho alguns
professores não colaboraram com a pesquisa, o que dificultou seu desenvolvimento,
fazendo com que a participação da família fosse mais que necessária.
CARACTERÍSTICAS DO ESPAÇO
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As Escolas “Municipais” Maria Lúcia Jaqueira e Guiomar Pinto - Educação
Infantil 4 e 5 anos, estão localizadas no Bairro do Jequiezinho, Jequié - BA. A
primeira à Rua Professora Virgínia Ribeiro s/n e a segunda à Rua Drº João Braga s/n.
As referidas são escolas que já funcionam há mais de 25 anos. A Escola Maria Lúcia
Jaqueira está localizada em uma área periférica que facilita o acesso do seu alunado,
entretanto a Escola Guiomar Pinto está situada em uma região distante e por não ser
assistida pelo transporte escolar possui um número reduzido de crianças em comparação
à quantidade de vagas que são oferecidas.
As crianças da Educação Infantil possuem idades de 4 a 6 anos. São distribuídas
em salas de acordo com a faixa-etária. Totalizando 6 turmas, 3 no turno matutino e 3 no
vespertino na Escola Maria Lúcia Jaqueira, e apenas 4 turmas , 2 no turno matutino e 2
no turno vespertino na Escola Guiomar Pinto. Por se tratar de um núcleo, ambas
possuem a mesma direção composta por uma diretora, uma vice, uma coordenadora e
uma secretária. Todas as professoras são graduadas e pós-graduadas e algumas
monitoras já cursaram/cursam o Ensino Superior, alguns funcionários já concluíram o
ensino médio, entretanto alguns possuem apenas o ensino fundamental incompleto.
Todas essas pessoas atuam para o bom andamento da escola. Têm-se um total de cento e
quarenta e quatro alunos na Escola M. Maria Lúcia Jaqueira e devido a evasão apenas
cinqüenta e quatro alunos na Escola M. Guiomar Pinto.
Em relação ao espaço físico, as referidas Escolas contam com: A primeira possui
uma sala de direção, coordenação e professores, uma cozinha, dois banheiros, três salas
de aula e um pátio. Já a segunda possui 1 sala de direção, coordenação e professores,
uma cozinha, três banheiros, duas salas de aula e um área externa. Ambas funcionam
nos turnos matutino e vespertino.
O ambiente para a criança deve transmitir segurança e organização. Todos os
elementos do ambiente devem ser estudados e controlados, para que a criança os
observe inteligentemente, compreenda-os, utilize-os, adquirindo uma movimentação
coordenada, coerente, espelho do seu interior. O ambiente interno e externo é um espaço
que, se estruturado, serve como alicerce para conquista da independência da criança.
No geral a escola possui um bom espaço físico, porém, não muito adequado para
atender alunos da Educação Infantil.
DISCUSSÕES E RESUTADOS
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No primeiro contato, ao conversar com alguns professores, esses deixaram clara
a dificuldade que tinham em trabalhar com esse tema. Mas como lidar com isso? A
orientação Sexual deve passar por um processo de observações diárias, partindo de uma
construção do domínio de conteúdos para uma concepção de Sexualidade por
competências e habilidades dentro das mais diversas áreas do conhecimento.
O cotidiano escolar, em especial a rotina de trabalho, foi foco também desta
pesquisa, pois sabemos que encontramos elementos indicativos da relação entre a teoria
e a prática na sala de aula.
Os professores admitem não saber que atitude tomar diante das manifestações
sexuais dos alunos, ainda dizem que, por mais simples que possam parecer, é muito
difícil. Falam ainda, que isto é uma responsabilidade dos pais e que necessitam
conversar com eles sempre que possível e necessário. Contudo, sabemos que o educador
pode mostrar à criança o caminho para a valorização de sua integridade, diferente dos
modelos tradicionais que a conduzem a simular uma perfeição assexuada.
Dados referentes aos entrevistados - foram entrevistadas 7 professoras, todas as
entrevistadas pertenciam ao sexo feminino, deste total (3) professoras estão entre a
idade de 31 a 40 anos, (3) estão entre 40 – 50 anos e o restante acima dos 50 anos. No
que se refere à formação a maioria das professoras totalizando 6 eram graduadas e pós -
graduadas e 01 possuía apenas a graduação.
Sobre a visão que os professores entrevistados têm de orientação sexual -
Todas as entrevistadas conceituaram Orientação Sexual como um processo muito
importante e indispensável para o trabalho com os alunos. Disseram também, ser um
processo individual e coletivo, onde o professor acompanha e observa a ocorrência de
manifestações e a partir daí deve haver uma comunicação entre professor – direção –
coordenação e pais.
Quanto a opinião dos professores sobre a importância do processo de
orientação sexual na construção do desenvolvimento e da vida psíquica das pessoas -
As entrevistadas entendem a importância do trabalho de Orientação Sexual como algo
inerente, que está presente desde quando a criança nasce, apresentando diferentes
formas de manifestações segundo as fases da vida. Isso nos leva a perceber a
importância do conhecimento que o (a) professor (a) deve ter a respeito das concepções
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de educação infantil, das teorias de desenvolvimento e das abordagens sobre o processo
de Orientação Sexual na busca de um real significado para tais manifestações.
Analisando as respostas dos questionários percebemos que os professores não
hesitam em dizer que estão completamente despreparados para trabalhar com
Orientação Sexual. Como podemos observar a seguir:
A formação do educador sexual é básica no sentido de preparar as pessoas
em nível de conhecimento, metodológico e postura para trabalharem na
escola com um tema que é ainda polêmica na nossa sociedade (SILVA, 2002.
p. 26).
Indagou–se aos professores quais os fatores que dificultam a concretização de
um trabalho de Orientação Sexual.
Fatores que dificultam a concretização de um trabalho de Orientação Sexual -
Foram apontados fatores como: Falta de preparo por não ter feito nenhum curso de
capacitação; Falta de diálogo entre pais e filhos, e material adequado para ser usado em
sala de aula; Acompanhamento familiar. Todos os professores encontram dificuldades
em trabalhar com o tema, seja por um motivo ou por outro. Podemos observar que os
entrevistados em sua maioria fazem referência a falta de cursos para capacitação nesta
área.
Sobre a importância de se trabalhar a Orientação Sexual - Foram considerados
- A falta de informações corretas; O fato de estar sempre presente em nossas vidas; O
não acompanhamento da família e a forma como vivemos hoje. Constata-se a partir dos
dados que a maioria das professoras reconheceram a importância e a necessidade de se
trabalhar a Orientação Sexual.
Quanto à definição do professor com relação ao papel da família no processo
de orientação sexual do aluno na pré- escola - De acordo com as professoras
entrevistadas é de fundamental importância a escola na construção do conhecimento. A
maioria acredita que um lar equilibrado influencia e favorece a aprendizagem, quer de
forma positiva, quer negativa. Segundo Souza:
A atitude dos pais frente à sexualidade e a sua principal
influência na educação sexual dos filhos (...). A casa onde a criança vive,
deveria ser o lugar onde as dúvidas são esclarecidas, as curiosidades
resolvidas e o diálogo uma constante (...). Os pais são os primeiros
responsáveis pela educação sexual sendo seu papel insubstituível (2003.
p.35).
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As concepções dos pais - Para Souza, “os pais não devem abrir mão do
privilegio de serem os primeiros a falar da sexualidade com seus filhos” (2003. p. 37).
O correto é que os pais não venham transferir a responsabilidade da educação apenas
para a escola. Eles devem compreender que a escola é uma aliada e que a família é a
entidade educativa mais importante da sociedade.
É importante salientar que os pais não se recusaram a responder os
questionários. Indagou-se aos pais se eles já perceberam alguma manifestação sexual
em seus filhos de 0 a 5/6 anos, dos pais que responderam os questionários, 10 disseram
que sim, já perceberam alguma manifestação sexual em seus filhos e apenas 3 disseram
que não, em um total de 13 questionários. Ao perguntar como foi a manifestação,
obteve- se diversas respostas, vê-se então que a maioria dos pais já observaram algum
tipo de manifestação por parte dos seus filhos. Perguntou- se aos pais qual foi a atitude
deles diante das observações de Manifestação Sexuais. Foram as mais variadas
respostas como, por exemplo: Foi um susto / Chamei, e conversei em um lugar
reservado / Dei um tapa na mão / Respondi com calma e tentei fazer com que a criança
entendesse / Não respondi.
Percebe-se com isso que os pais, apesar de não serem tão informados, de uma
forma ou de outra já estão aprendendo a lidar com tais manifestações. Exemplo: quando
chama e conversa em um lugar reservado ou procura responder com calma adequando a
sua fala as necessidades da criança.
Procuramos saber Sobre o que os pais fazem para resolver as curiosidades e
perguntas das crianças e se eles se sentem à vontade para conversar sobre sexualidade
com seus filhos. Os mesmo demonstraram diferentes opiniões em relação ao
questionamento e nem sempre estão agindo de maneira correta. Responder usando a
fantasia, por exemplo, pode interferir no desenvolvimento da criança em vários
aspectos, tais como psíquico, social etc. Por fim indagou-se aos pais se eles
concordavam que a melhor forma das crianças receberem alguma educação para a
sexualidade hoje, é através da escola e que pudessem justificar. Obtivemos respostas
como: Sim, pois a escola conhece a melhor forma de passar esses assuntos para as
crianças; Não, pois isso cabe em primeiro lugar aos pais; Sim, pois será um
complemento, a escola dará continuidade ao que está sendo feito em casa; Sim,
inclusive acredito ser a melhor forma; Sim, pois na maioria das vezes em casa não
sabemos lidar com situações como estas.
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Procurou-se com a pesquisa melhor compreender a postura dos pais perante as
questões da sexualidade, principalmente no que se refere à escola.
O mais importante é o desenvolvimento do indivíduo no
respeito por si, falar mais em “educação para afetos”- onde, a partir daí com
aspectos de ordem prática, se dê particular ênfase às relações interpessoais-
do que reduzir conceito a “educação sexual”. (COSTA, 2002 p.20)
Não importam idade, cor, profissão, crença religiosa, partido político ou time de
futebol: falar sobre sexo é sempre delicado. Porém, o sexo está por toda parte, falo de
“sexualidade”. Ela vai sendo construída durante toda nossa vida, com o que
aprendemos, com nossos hábitos e experiências.
Por isso é tão importante, que tanto escola quanto a família possam caminhar
juntos na busca da melhor forma de lhe dar com este tema, que é difícil, complexo,
interessante, confuso, intrigante e ao mesmo tempo tão maravilhoso. Afinal, haveria
“vida” humana se não existisse sexualidade?
CONSIDERAÇÕES
A sexualidade é uma questão da própria sociedade, neste sentido, a escola deve
proporcionar uma reflexão voltada para as múltiplas formas de suas manifestações.
Sabemos que a sexualidade faz parte das nossas vidas desde que nascemos, por isso, a
orientação sexual nos dias atuais não pode, nem deve ser ignorada pelas escolas.
O professor deve estar apto a responder qualquer indagação com a maior
naturalidade. O cotidiano em sala de aula vai muito além do ensino propriamente dito.
Portanto, agregar os esforços na escola e em casa, para dar uma educação sexual que
passe segurança para os alunos é de extrema importância. Segundo Sayão (apud
AQUINO, 1997, p.101), “a parceria da escola com os pais é fundamental para que os
esclarecimentos possam fluir tranquilamente, sem provocar grandes terremotos”.
A sexualidade por ser um tema tão abrangente, não se pode chegar à conclusão,
mas a caminhos que levam a novas análises. Aos educadores cabe repensar as
possibilidades do trabalho feito na escola, tendo como visão dar continuidade ao
trabalho iniciado em família, pois educar para a sexualidade faz parte da educação.
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia – Campus I
Salvador - BA
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15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia – Campus I
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