olaudah equiano e a dupla consciÊncia no atlÂntico

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1 OLAUDAH EQUIANO E A DUPLA CONSCIÊNCIA NO ATLÂNTICO NEGRO RAFAEL ANTUNES DO CANTO UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Durante o período que compreende os séculos XV à XIX milhares de homens cruzaram o Atlântico trabalhando nas embarcações que transformaram para sempre o mundo como era conhecido. Homens de todas as cores, classes sociais, herdeiros das mais diversas culturas que se possa imaginar, em algum momento tornaram-se “companheiros de bordo” 1 durante esse período que gestou o que nomeamos na história de Modernidade. É claro, nem todos esses sujeitos vieram a bordo das embarcações a trabalho. Grande parte deles apenas subiu e desceu em algum momento das caravelas, naus, bergantins, chalupas e briques apenas como passageiro 2 . Mas, essas máquinas extraordinárias que cruzavam o Atlântico e que durante muitos séculos mantiveram praticamente a mesma forma de navegar a partir das velas e dos ventos tinham de ser orquestradas, e quem o fazia era um grande número de trabalhadores e entre eles, muitos escravos ou ex escravos. O que buscamos encontrar a partir dessa narrativa que utilizamos como fio condutor é o cotidiano desses homens, que além de lutarem diariamente contra as forças da natureza, foram obrigados a lutar também contra a discriminação e o racismo e que apesar disso encontraram nessa faina uma forma de liberdade que ao que parece, apesar de brutal propiciava um campo de possibilidades imenso em se tratando de chances de tornar-se livre ou de sobreviver, em relação à escravidão das Plantations, do novo mundo 3 . Aliado a isso encontramos no convés 1 Companheiros de bordo é um conceito utilizado na história marítima para designar aqueles homens que trabalham juntos nas embarcações, convivem quase que tempo integral e que aos poucos vão fazendo parte um da vida do outro. Tem sido bastante utilizado por Marcus Rediker e é peça chave no entendimento da vida de Olaudah Equiano, autor da fonte principal utilizada nessa pesquisa. 2 Citamos aqui diversos tipos de embarcações que no período em questão eram utilizadas mais ou menos de acordo com a carga a ser transportada e a distância a ser percorrida. 3 A ideia de um Campo de Possibilidades, propiciado pela vida no mar buscamos nos estudos de Alessandro Portelli. O autor que não é historiador mas que trabalha com narrativas de ex escravos e com literatura Afro americana utiliza desse conceito que a nosso ver é uma importante ferramenta para buscar entender o porque de a vida embarcado ser uma válvula de escape para os escravizados. Além disso, dentro dessa perspectiva Portelli nos faz refletir sobre como essa experiência como a de Gustavus Vassa

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1

OLAUDAH EQUIANO E A DUPLA CONSCIÊNCIA NO ATLÂNTICO NEGRO

RAFAEL ANTUNES DO CANTO

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

[email protected]

Durante o período que compreende os séculos XV à XIX milhares de homens

cruzaram o Atlântico trabalhando nas embarcações que transformaram para sempre o

mundo como era conhecido. Homens de todas as cores, classes sociais, herdeiros das

mais diversas culturas que se possa imaginar, em algum momento tornaram-se

“companheiros de bordo” 1 durante esse período que gestou o que nomeamos na história

de Modernidade. É claro, nem todos esses sujeitos vieram a bordo das embarcações a

trabalho. Grande parte deles apenas subiu e desceu em algum momento das caravelas,

naus, bergantins, chalupas e briques apenas como passageiro2. Mas, essas máquinas

extraordinárias que cruzavam o Atlântico e que durante muitos séculos mantiveram

praticamente a mesma forma de navegar – a partir das velas e dos ventos – tinham de

ser orquestradas, e quem o fazia era um grande número de trabalhadores e entre eles,

muitos escravos ou ex escravos. O que buscamos encontrar a partir dessa narrativa que

utilizamos como fio condutor é o cotidiano desses homens, que além de lutarem

diariamente contra as forças da natureza, foram obrigados a lutar também contra a

discriminação e o racismo e que apesar disso encontraram nessa faina uma forma de

liberdade que ao que parece, apesar de brutal propiciava um campo de possibilidades

imenso em se tratando de chances de tornar-se livre ou de sobreviver, em relação à

escravidão das Plantations, do novo mundo3. Aliado a isso encontramos no convés

1 Companheiros de bordo é um conceito utilizado na história marítima para designar aqueles homens que

trabalham juntos nas embarcações, convivem quase que tempo integral e que aos poucos vão fazendo

parte um da vida do outro. Tem sido bastante utilizado por Marcus Rediker e é peça chave no

entendimento da vida de Olaudah Equiano, autor da fonte principal utilizada nessa pesquisa. 2 Citamos aqui diversos tipos de embarcações que no período em questão eram utilizadas mais ou menos

de acordo com a carga a ser transportada e a distância a ser percorrida. 3 A ideia de um Campo de Possibilidades, propiciado pela vida no mar buscamos nos estudos de

Alessandro Portelli. O autor que não é historiador mas que trabalha com narrativas de ex escravos e com

literatura Afro americana utiliza desse conceito que a nosso ver é uma importante ferramenta para buscar

entender o porque de a vida embarcado ser uma válvula de escape para os escravizados. Além disso,

dentro dessa perspectiva Portelli nos faz refletir sobre como essa experiência como a de Gustavus Vassa

2

dessas embarcações a em seus porões o espaço onde diversas culturas similares ou

completamente díspares foram obrigadas a conviver e sobreviver juntas, dependendo

muitas vezes do conhecimento de uma, de outra ou mesmo de todas. Nesse contexto

procuramos ampliar o conceito de cultura além dos limites ligados à língua, religião,

formas de relacionamento. Procuramos acrescentar a isso o cotidiano de um espaço

confinado onde homens, em grande medida, eram obrigados a sobreviver conciliando os

seus mais diversos racismos e experiências4.

Se buscarmos enquadrar esse trabalho em uma linha de pesquisa histórica seria

certamente a da História Social. E dentro dessa, a História Social dos trabalhadores do

mar, ou mais ainda, dos escravos ou ex escravos trabalhadores do mar. Sendo assim,

esse trabalho busca de certa maneira contar a partir de uma história, uma

experimentação narrativa, a experiência de vida que poderia ser a de muitos outros

homens do período, mas que foi registrada apenas por um ou dois homens. A fonte

principal que utilizamos nesse trabalho foi à autobiografia de Olaudah Equiano, africano

escravizado aos onze anos de idade, na região que compreende a atual Nigéria e que ao

longo de sua vida, trabalhando como marinheiro comprou sua liberdade, navegou por

diversos lugares trabalhando como marinheiro livre. Equiano ou Gustavus, seu nome

europeu casou em Londres e participou ativamente do movimento abolicionista na

Inglaterra, deixou um texto escrito em inglês relatando sua vida desde o sequestro na

África até a carta que enviou a Rainha pedindo a abolição da escravatura.

A experiência embarcada desse africano pelos diversos portos do Atlântico, do

Mediterrâneo, sua participação na Guerra dos Sete Anos, na primeira expedição ao Polo

Norte, na formação do que se tornaria Serra Leoa poderia facilmente ser incorporada ao

cânone de literaturas de viagens do período, ao lado de Humboldt ou Darwin. Não fosse

por ele ter sido escravo e vivido a narrado as agruras a que um marinheiro ou viajante

escravo e posteriormente ex escravo esteve sujeito nesse período.

Equiano nos apresenta, em grande medida, as Zonas de Contato de que nos fala

Mary Louise Pratt, aonde os diversos sujeitos de uma centena de culturas diferentes

possa ter sido a de diversos outros escravos, mas no entanto como não existem muitos relatos escritos,

sendo assim ela se torna uma experiência social partilhada por imenso grupo. 4 Em se tratando do conceito de cultura, buscamos a conceituação utilizada por Jaime Rodrigues em seu

artigo Cultura Marítima: marinheiros e escravos no tráfico negreiro para o Brasil (secs.XVIII – XIX). O

autor busca ampliar a ideia de cultura adicionando os elementos constitutivos do dia-a-dia, do cotidiano

para demonstrar a particularidade desse grupo de indivíduos em especial.

3

iriam se encontrar e trocar seus conhecimentos5. Nos mostra o mundo da dupla

consciência de Paul Gilroy, onde um homem acaba por ter dois nomes, um africano de

batismo, Olaudah Equiano e outro europeu, Gustavus Vassa, vivendo ao mesmo tempo

dois mundos, uma dupla consciência. Olaudah aprende a viver esses dois mundos e se

destaca como marinheiro nas embarcações pela curiosidade em aprender mais e mais

para poder se tornar livre e seguir a vida sendo dono de seu destino6.

Analisando a história de vida de Gustavus Vassa, um dos temas que nos parece

mais importante a ser estudado acerca das discussões historiográficas diz respeito à

questão dos limites impostos pelas estruturas a as limitações dos determinados sujeitos

em certos momentos históricos. O autor que nasce livre em África passa grande parte

da vida escravizado e volta à situação de indivíduo livre sofre as pressões das estruturas

a que está sujeito, a que seu tempo histórico lhe impõe, nos fazendo refletir acerca

desses limites. De acordo com Perry Anderson essas barreiras são maleáveis ou não

dependo mais do que tudo, do momento histórico em que estão sendo pressionadas.

Equiano vive na África com liberdade, o Atlântico, a América e a Europa como escravo

e depois como homem livre em um período histórico onde o tráfico internacional de

escravos nunca deixa de existir7.

5 O trabalho de Mary Louise Pratt busca analisar exatamente os espaços onde diversos sujeitos de culturas

diversas estão expostos no período que pretendemos analisar. A autora utiliza como textos de referência

os diários de viagem de diversos viajantes conhecidos no continente americano e africano. Entre os

viajantes estão Alexander Von Humboldt, Felipe Guaman Poma de Ayala, Mungo Park, David

Livingstone, John Speke e outros. Pratt analisa como se dá o contato entre os europeus e os diversos

povos de uma perspectiva diversa, que consideramos bastante produtiva em comparativa com a visão que

Equiano vai apresentando durante sua narrativa. 6 6 GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. O livro a as reflexões do autor

foram fundamentais na construção e reflexão do que se pretendia nesse trabalho. Pensar o Atlântico e as

embarcações como meios de transmissão de culturas e construção das identidades encaixa perfeitamente

na narrativa de vida de Equiano. Ao mesmo tempo, o autor questiona vigorosamente as ideias de uma

cultura negra seja ela qual for, e problematiza a situação dos Afro Americanos e Anglo Americanos

estejam eles na situação que se encontrem. Gilroy também faz uso de autores africanos, não só para

encontrar um entendimento entre essas culturas e esses saberes, mas para transitar no caminho que leva a

constituições das culturas desde o século XVIII no Atlântico. 7 Dentro das discussões historiográficas a que esse trabalho se propõe essa talvez seja a mais importante.

Sem buscar mitificar os feitos desse sujeito e ao mesmo tempo sem submeter o sujeito completamente

inerte dentro das malhas das forças sociais buscamos encontrar um meio termo onde possa ser possível

refletir sobre o que potencializou a vida de Olaudah e quais foram as estruturas que o limitaram.

Acreditamos que a discussão acerca dos limites entre as estruturas e os sujeitos seja ponto fundamental

para analisar a vida desse homem. Nem os limites podem submeter à vida do sujeito, nem o sujeito é

totalmente capaz de ultrapassar os limites impostos por algumas estruturas em certos momentos

históricos. A partir da vida embarcado de Equiano podemos de alguma forma, enxergar o agente de sua

vida. A estrutura do barco, da vida das gentes do mar permitiu a alguns escravos ascender socialmente e

alguns deles, como Equiano, puderam comprar sua liberdade. Essa mesma estrutura das embarcações,

4

Os principais trabalhos em relação ao estudo da Autobiografia de Equiano estão

focadas nos núcleos de estudos de narrativas de ex escravos tanto na América do Norte,

quanto na Inglaterra. Mais aprofundados nas questões da literatura do que propriamente

a história. Entretanto, em 2009 foi publicada uma obra de fôlego buscando o contexto

histórico a respeito da ligação entre Equiano e as comunidades Igbo da Nígeria. Esse

trabalho foi organizado por um conhecido historiador Chima Korieh e os textos buscam

conectar a obra de Olaudah com a história dessas comunidades. São análises bastante

profundas e atualizadas em relação à forma de analisar o continente africano8.

Existem em torno de setenta relatos similares ao de Equiano já catalogados e

muitos outros que ainda necessitam estudos. Nesses dois espaços acadêmicos o da

história e o da literatura afro americana as pesquisas acerca desse modelo de narrativa já

possuem um tipo de análise bastante aprimorada em se tratando de alguns temas

recorrentes nesses textos. Desde a construção da identidade do narrador até os

acontecimentos durante suas jornadas são formas bastante similares e seguem, em

grande maioria, um objetivo a que se propunham no período em que foram produzidas,

a abolição da escravidão. Além disso, outro ponto crucial que tem sido analisado diz

respeito à religiosidade desses sujeitos. Grande parte deles desconhecia a religião cristã

e aos poucos foram se evangelizando a ponto de, como no caso de Gustavus, querer

tornar-se pregador9.

Utilizar esse tipo de narrativa como fonte para o foco que nos propomos nesse

trabalho enriquece em muito o mesmo, pois a busca pelo cotidiano dos homens do mar

não era um dos objetivos da escrita quando as narrativas afro-americanas foram

produzidas. Mas é interessante notar que como as embarcações eram os grandes meios

rígida e brutal, de certa maneira foi uma brecha encontrada por alguns sujeitos para se tornarem donos de

sua vida em um mundo onde isso lhes era negado. Contudo, através dos textos dos autores citados,

podemos refletir o quanto esses limites podiam ser estendidos e a quanto algumas estruturas aprisionavam

mais ainda determinados indivíduos. 8 Essa tem sido umas das grandes questões em relação aos estudos africanos atuais. O continente africano

é imenso, tem mais de cinquenta países, uma centena de etnias e diversas línguas. Não há como estudar

profundamente a “África”. O que se pode marginalmente é estudar uma parte da África, ou um grupo,

uma região. Os livros que tratam do assunto no Brasil, acabam por sintetizar, muitas vezes, aquilo que

não pode ser sintetizado. É preciso que se busque essas distinção entre as diversas Áfricas. Dentro dessa

perspectiva procuramos utilizar pesquisadores que tem se sobressaído nessa questão, principalmente em

relação ao estudo das comunidades Igbo, de onde Equiano foi sequestrado. Além de Chima Korieh outro

pesquisador utilizado foi Victor Uchendu. 9 O campo de estudos das literaturas afro americanas ou narrativas escravas é bastante profícuo. Duas são

as obras que pudemos analisar e que apresentam de forma bem importante o tema: African, American,

autobiography e The Slave’s Narrative.

5

de locomoção daquele período, alguns desses autores não fogem a regra e acabam por

vincular-se a essas “zonas de contato” seja trabalhando nelas ou mesmo utilizando-as

como veículo, de comercio ou mesmo de fuga. Como nos casos de Frederick Douglas,

Olaudah Equiano, Mahommad Baquaqua ou Rufino.

Dos dez capítulos da obra, os dois primeiros são destinados a descrever sua vida

e sua comunidade na África antes de ser sequestrado. A importância desse relato em

relação à história da África é incontestável. Primeiro, pois diversos africanistas, como

John Thornton consideram o relato de Equiano a descrição primeira das comunidades

Igbo antes do contato com os europeus. Além disso, seu texto relata diversos elementos

da cultura da sua região que de certa forma podem compor, junto a outros relatos a

realidade de uma África, que apesar de já ter contato com os europeus a mais de

duzentos anos ainda continuava quase intocada, visto que o autor nunca tinha visto um

homem branco. Nessa linha de pensamento é que hoje caminham os estudos acerca do

continente africano. Desmistificando a ideia de que os povos africanos foram simples

vitimas dos estrangeiros. As sociedades africanas foram agentes fundamentais na

história de seu continente e devem aos olhos da história, participar da agência de seu

passado10

.

Podemos dividir em dois pontos distintos a vida de Equiano a que nos propomos

estudar. Um primeiro ponto é a etapa de vida que consideramos ser a mais rica da vida

desse africano, sua vida como marinheiro. Desde os primeiros momentos, quando foi

embarcado a força na costa ocidental do continente africano e imaginava que seria

engolido por aquele imenso barco de madeira que possuía entranhas, onde foi

apresentado aos instrumentos de navegação, que mais pareciam “mágicos”, ainda como

escravo. Vivendo, depois disso, as diversas relações com seus companheiros de bordo

como grumete ou ajudante nas embarcações onde esteve sempre acompanhando seus

donos, fossem eles capitães, tenentes de embarcações de comercio ou buques de guerra.

Nesse período vivencia batalhas navais e transita por embarcações que acabaram

tornando-se famosas por suas participações na Guerra dos Sete anos, entre França e

Inglaterra. Conhece de perto a morte e comandantes que iriam definir o curso do

conflito. Olaudah pertence a um Tenente e dessa forma pode viver a bordo com o

10

Para pensar essa questão o trabalho que mais consideramos pertinenente é MBEMBE, Archille. As

formas africanas de Auto inscrição. Revista de estudos Afro-asiáticos, ano 23, nº1,2001, p.171-209.

6

mesmo. É provável que grande parte dos oficiais tivesse permissão para possuir um ou

mais escravos e que esses os acompanhassem a bordo. Posteriormente, Gustavus passa a

entender como funcionam as embarcações e fazer seus pequenos comércios angariando

fundos para comprar sua liberdade. Ao longo desse período vai aprendendo a conhecer

as diferentes faces da escravidão ao longo do Atlântico, onde um negro escravo tem

mais proteção diante da lei do que um negro livre. Aqui, Gustavus já navegou da África

para a América, foi a Europa, conheceu Londres, cidade por que se apaixona, vai ao

Canadá11

e transita por diversas ilhas das Índias Ocidentais. Mas é em 1765 quando

compra sua liberdade por volta de seus 20 anos que se pode dizer que inicia sua jornada

como marinheiro agora livre. Depois de um período inicial trabalhando para seu antigo

dono o Sr. King, onde passa por um naufrágio, Equiano decide retornar a Inglaterra e

passa a trabalhar como Camareiro, embarcando para onde desejar. Nessa altura da vida

Olaudah já conta com uns vinte e cinco anos e desses, mais de dez, embarcado. Conhece

como poucos as rotas que levam as ilhas das índias, sabe falar inglês perfeitamente,

escreve, e sabe rudimentos de aritmética. Em certo momento de doença do capitão e dos

outros responsáveis pela navegação da embarcação onde trabalhava é Equiano quem

leva o barco a salvo para seu destino, passando a ser conhecido como o Capitão Negro.

Em sua vida como marinheiro, diversas foram às vezes que Equiano trabalhou em

embarcações que levavam cativos de um porto a outro, detalhe que, ao ler a obra é

possível identificar seu constrangimento. Contudo, Olaudah foi homem de sua época

viveu o mundo que estava a sua disposição. Ser marinheiro era uma porta, um imenso

“campo de possibilidades” que se abrir para sujeitos sem possibilidade alguma, como

eram os escravos. Sempre que se refere a outros escravos, ou seu povo, ou mesmo seus

compatriotas, Olaudah procura mostrar o quanto pôde ser prestativo a essas almas que

não tiveram a mesma sorte que ele. Cabe aqui uma reflexão. Em se tratando do

continente africano no período descrito, não existia qualquer sentimento de unidade,

seja de estados ou mesmo pais. O máximo que existia era uma identificação com o

11

Na realidade o Canadá não existe nesse momento histórico. A região onde Equiano navega é a região

disputada entre Ingleses e Franceses e que posteriormente iria se tornar o país que conhecemos por

Canadá. Região essa, que ainda hoje possui as duas línguas como línguas oficiais, pois em algumas

províncias, como são chamados os estados do país a língua francesa se impôs, apesar da dominação

inglesa.

7

grupo, ou mesmo a tribo a que o sujeito pertencia. Equiano é um dos primeiros homens

a escrever, definindo-se como “Africano” 12

.

O segundo ponto de imensa importância a ser analisado diz respeito ao momento

onde o autor recorda sua vida na África antes de ser sequestrado. Sua comunidade, sua

família, sua cultura, suas tradições. Equiano foi raptado quando tinha onze anos. Idade

suficiente para recordar-se de grande parte do mundo onde vivia. Suas lembranças são

fundamentais para historiadores entenderem as relações entre os europeus e os africanos

no período. Além disso, o relato de Olaudah, como já dissemos aqui é ponto

constitutivo das heranças dos povos Igbo da atual Nigéria. Seu texto, aliado ao romance

de Chinua Achebe, O mundo se despedaça, são pedras fundamentais das comunidades

dessa região. Equiano tem recordações ricas em relação à alimentação, aos rituais de

casamento, a estrutura familiar e social da comunidade, a forma de agricultura de

comercio. Dentre os elementos de que o autor se recorda, um dos mais importantes diz

respeito à escravidão no continente africano. As formas de escravidão existentes em sua

comunidade (seu pai possuía escravos) e a grande diferença dessas formas e do tráfico

internacional de escravos a que o próprio autor vai tornar-se vítima. Essa análise é

muito importante em se tratando de estudos africanos, pois distingue as formas de

submissão a que os estavam sujeitos os africanos dentro de seu continente e o imenso

comercio de seres humanos que se montou entre os séculos XIV e XIX no Atlântico,

fomentado e gerido pelas elites dos três continentes, África, América e Europa. O

estudo da escravidão na áfrica conta com importantes obras e vem sendo cada vez mais

aprofundada. Entre elas estão os trabalhos de Paul Lovejoy e John Thornton, que já foi

citado anteriormente e no caso especifico dos Igbo Victor Uchendu. Esses trabalhos

apontam para um tipo de escravidão onde o sujeito nunca é despido de sua identidade,

fica submetido ao longo da vida toda ou por um tempo determinado ao jugo de um

dono. Essa diferenciação torna-se essencial como já foi dito em relação à coisificação a

que os africanos foram sujeitos quando arrancados de seus espaços embarcados em

navios e enviados a outro continente.

12

De acordo com Elikia M´bokolo a África passa a existir na modernidade a partir do momento em que

alguns homens passam a se identificar como Africanos. Elikia M´bokolo é talvez hoje um dos maiores

pesquisadores do continente africano com a visão de um conhecimento africano partindo da própria

África, que buscamos nesse trabalho. Entre suas principais obras estão o livro África Negra, traduzido

recentemente para o português pela Universidade Federal da Bahia.

8

Como já citamos aqui, a vida embarcada de Equiano, foi a ponto principal onde

buscamos fazer análises voltadas aos estudos conhecidos por pós coloniais, tentando, da

melhor forma possível, não aprisionar a vida tão rica desse sujeito, a seu período como

escravizado. É claro que é impensável aos olhos de um historiador analisar a obra de

Olaudah sem refletir sobre a escravidão. Contudo, queremos mostrar, como outros

trabalhos veem buscando, que existia uma vida dentro da própria escravidão, que alguns

sujeitos puderam, apesar da brutalidade desse sistema superar algumas estruturas, e que

o mundo das Gentes do mar, com suas distintas regras, e uma imensa mobilidade tanto

geográfica quanto estrutural possibilitou um espaço de ascensão aos homens que

buscavam uma melhor vida, nesse caso os escravos.

Dentre os conceitos operados por pesquisadores da área da história marítima,

como Marcus Rediker, um dos que mais chama a atenção é o de “companheiros de

bordo”. Homens privados de uma casa, distantes da família por longos períodos

labutando incessantemente contra as forças da natureza e contra a brutalidade dos

capitães, acuados por doenças muitas vezes desconhecidas acabavam por tornarem-se

amigos, irmãos, onde muitas vezes sua vida dependia dos outros13

.

De acordo com João Jose Reis em O Alufá Rufino, onde a pesquisa se foca na

vida desse indivíduo que labuta como cozinheiro em um barco negreiro, Rediker diz que

os cozinheiros não faziam parte da tripulação, pois sua faina diária era solitária e

distinta dos outros homens do mar. Contudo, concordamos aqui com os autores do

Alufá, que sim, o cozinheiro era peça chave em um mundo onde a comida e água de

qualidade eram pontos determinantes na sobrevivência do sujeito e como nesse caso em

especial, da carga da embarcação. Ao longo da narrativa de Olaudah diversas são as

experiências que esse marinheiro esteve sujeito em relação ao companheirismo de

bordo. Nem sempre existia, ou mesmo, nem sempre era positivo. Muitas vezes

marinheiros mais experientes aproveitavam-se de sua situação como novato ou como

negro para trapacear, roubar ou mesmo coisas piores. Como quando Olaudah paga a um

marinheiro para conseguir um bote para sua fuga e esse desaparece com seu dinheiro.

13

Dentre os pesquisadores que utilizamos para refletir sobre história marítima e as gentes do mar estão:

Marcus Rediker, Peter Linebaught, Jaime Rodrigue, Luis Geraldo da Silva. É importante pensar que

alguns desses pesquisadores transitam entre a história da escravidão e o que denominamos história das

Gentes do mar ou marítima. Contudo é importante ver o quanto esses dois temas que aparentemente não

são normalmente conectados estão quase que indissociáveis no contexto do que Paul Gilroy vai nomear

de Atlântico Negro.

9

Entretanto, após esse incidente Equiano relata que os outros marinheiros ficaram com

raiva desse homem que o havia trapaceado. Na grande maioria das vezes essa

camaradagem foi à “tábua de salvação” do autor. Ou muitas vezes foi o que fez o

mesmo expor-se a situações de risco por outros companheiros, o que não seria

necessário.

Desde pesquisas históricas acerca da vida no mar no período da idade média ou

mesmo dos descobrimentos que a questão dos marinheiros como um grupo social coeso

e com fortes tendências anárquicas vem sendo estudado. Peter Linebaught em seu

famoso ensaio, Todas as montanhas atlânticas estremeceram, apresentou a importância

desses homens traçando seu desenvolvimento social desde a Revolução Inglesa até o

período em questão.

A condição de escravos dentro da embarcação submeteu esses sujeitos a dois

tipos de violência. Primeiro, mesmo como marinheiros por mais que fossem ótimos no

que faziam, eram sempre os que menos ganhavam, além disso, podiam sofrer penas

mais pesadas que os marinheiros livres, como nos diz Jaime Rodrigues. Em segundo

lugar, muitos foram obrigados, como no caso de Equiano, e Rufino, a trabalharem em

embarcações que traficavam escravos, os tumbeiros, ou navios negreiros. Não temos o

relato de Rufino quanto a sua posição sobre o assunto, mas Equiano foi categórico, em

diversas passagens de sua obra. Falando da brutalidade com que os escravos eram

sujeitos nas embarcações. Sua descrição dos primeiros momentos aprisionado no navio

negreiro, junto à descrição de Mahommed Baquaqua é de pavor, medo e desejo de

morrer.

As embarcações eram grandes centros cosmopolitas, onde sujeitos de todas as

nações se mesclavam. No período estudado algumas nações ainda tinham sua condição

bastante questionada ou posta à prova. Conforme Jaime Rodrigues, os marinheiros se

comunicavam por duas línguas principais, o inglês Pidgin e o Português Criollo. Ambas

eram línguas híbridas faladas nas embarcações e nos portos de todo Atlântico. Ao que

se sabe, poucas semanas embarcadas como trabalhador permitiam ao sujeito entender

um pouco do que os marinheiros falavam. O que para os outros passageiros era

completamente ininteligível. Além do mais os dialetos falados na costa africana das

diversas culturas que foram embarcadas como escravos incorporaram-se a essas línguas

10

fazendo com que fosse bastante interessante ter escravos ou ex escravos no staff de

marinheiros.

Uma das questões que mais nos chamou a atenção em relação ao texto de

Olaudah e de sua trajetória de vida, diz respeito ao campo de possibilidades que a vida

como marinheiro podia proporcionar ao escravo ou ex escravo. Em se tratando de

estudos no Brasil o trabalho do professor Luis Geraldo da Silva apresenta muito bem a

situação desses homens em relação à faina marítima no nordeste brasileiro. Em Recife,

onde as pequenas embarcações eram uma grande fonte de renda, os negros eram usados

como escravos de ganho. Além disso, muitos deles, posteriormente foram incorporando-

se a essa tradição marítima, mesclando suas culturas com a dos índios e dos europeus

dando inicio a uma linhagem de pescadores, construtores de barco, taifeiros e todas as

diversas profissões que são mescladas a as “Gentes do Mar” 14

.

Além de Luis Geraldo, Jaime Rodrigues também contribui com uma série de

pesquisas e artigos, além de sua tese de doutoramento mostrando o quanto a cultura

marítima do atlântico foi permeada por escravos, ex escravos, negros forros ou livres15

.

Aparentemente a história da navegação no atlântico acaba por apresentar apenas

os europeus como seus sujeitos constitutivos desse mundo. Entretanto, o convés das

embarcações foi vivenciado pelas mais diversas culturas, entre elas as africanas.

O período que nos propomos analisar nessa dissertação gira em torno diz do

período de vida de Equiano, mais ou menos entre 1745 e 1790. Entretanto, como a vida

das Gentes do mar sendo analisada por diversos pesquisadores em épocas distintas,

muitas vezes vamos nos referir a períodos que ficam fora desse escopo. Contudo,

acreditamos que entre 1600 e 1850 por mais longo que pareça esse período, a vida

daqueles que tinham como faina a lide no mar, seja de longo curso ou mesmo de

cabotagem não se modificou tanto. Principalmente em virtude de dois pontos

fundamentais. Primeiro, diz respeito às embarcações. Essas se moviam da mesma forma

durante todo período, por meio da força dos ventos e da labuta dos braços humanos.

14

São dois os trabalhos do professor Luiz Geraldo que utilizamos como base para o entendimento dessa

questão em relação ao Brasil. A faina, a festa e o rito: uma etnografia histórica das gentes do mar. Secs.

(XVII ao XIX), e Os pescadores na história do Brasil. 15

Do professor Jaime Rodrigues são inúmeros os trabalhos utilizados, citamos aqui apenas alguns: De

costa a costa: escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro

(1780-1860), Cultura marítima: marinheiros e escravos no tráfico negreiro para o Brasil

(sécs. XVIII E XIX), Para uma história da experiência africana no mundo do trabalho atlântico (séculos

XVIII e XIX) e Marinheiros forros e escravos em Portugal e na América portuguesa (C.1760- c.1825).

11

Além disso, eram fabricadas de madeira, o que permitia uma certa modificação com as

questões de velocidade e tonelagem, mas que não modificava em nada a qualidade de

vida de seus tripulantes. O segundo ponto diz respeito às condições de vida dos

embarcados, a questão das doenças, da má alimentação, da violência nos castigos.

Praticamente, todos esses elementos adentraram o século XX juntos com as tripulações,

mesmo essa afirmação parecendo exagero. Basta lembrar a Revolta da Armada no

Brasil e da Revolta do Encouraçado Potenkim no Império Russo. Castigos brutais e

péssimas condições de alimentação e higiene como ponto de tensão entre as tripulações

e os comandantes. Sendo assim, nos permitimos transitar por um espaço maior em

relação às bibliografias, visto que a vida dos homens do mar não se modificou muito ao

longo de um grande período.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro da proposta do encontro, seu tema principal, e o simpósio em questão

História das sociedades africanas: fontes, temas e perspectivas de estudo, acreditamos

ser de imensa importância, no mínimo, o fato de apresentar a fonte com a qual estamos

trabalhando, Narracion de la vida de Olaudah Equiano, el Africano visto que essa não

possui tradução para o português, e ao que sabemos não existe nenhum trabalho

utilizando diretamente o texto de Equiano no Brasil. Somente isso, acreditamos, já seria

de grande importância para que futuros pesquisadores pudessem adentrar ao mundo dos

Igbos, através do texto do autor. Quanto a nossa perspectiva de buscar ver o autor como

um marinheiro do período e “navegar” pelo mundo das Gentes do mar por meio de um

ex escravo pensamos ser uma forma distinta de enxergar a África e os africanos, um dos

objetivos a que nos propomos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Fontes

EQUIANO, Olaudah. Narracion de la vida de Olaudah Equiano, El Africano. Madrid;

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