oficina de lingüística aplicada

Upload: francis-botelho

Post on 05-Apr-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/2/2019 Oficina de Lingstica Aplicada

    1/5

    I. APINAL,0 QUEELlNOOtSTICA APLlCADA?

    Para citar este texto:MOITA LOPES1 L. P.aplicada. Campinas,1996.

    da, Oficina de HngGisticaSP: Mercado de Letras,

    Nos "ltimos anos, as encontros de Lingutstica Aplicada(LA) no Brasil em incluido em suas prograrnacoes sessoes quetratam especif icamente da natureza da LA. Parece , portanto, queba ainda 0 q ue s e f ala r s ab re e st e t ema , embo ra a lg un s p es qu is a-dores 110 Brasil ja ten h am apontado esta quesrao como esteril esugerido que IImelhor manei ra de se identi fica r a LA (no sentidode estabelece-Ia como area de invest igacao) e atraves do deseu-volvirnento de pesquisa,

    Quem, no entnnto, defender IIposicao de que esra discus-sao par1ece ser ainda necessaria nao para dernarcar os limitese ntre a L in gu fstic a e a L A. c om o are as d e in vesiiga cao . qu e j.ipa recem claros, pe lo menos para aqueles que se ident ificam comolinguistas apllcados, mas para eselarecer os paradigmas sob osquais aluam .Defendo, na verdade, a v isao de que esta quesiao enatural a produ~1io cienufica. Ou seja, esta discpssao eutil para aLA, isto e, interessa aos lingtlistas aplicados, na rnedida em querepresenta um confrontoou nio de pereursos de investlgacao

    17

  • 8/2/2019 Oficina de Lingstica Aplicada

    2/5

    A p rim eira v ez q ue o uv i e sta questao traiada no B r as il f oiem 1978, quando Mary Kate, ao fazer uma palestra sobre LA noE nco ntro d e L in gu fstica d a P UC -Rio , argu rn en to u q ue u ma rn a-neira de se entender 0 que e a LA seria airaves do exarne doprograma do ultimo Congresso da Associacao Internacional deLA CAlLA), ao qual ela havia comparecido, Embora concorde queesia perspecriva de coma da ahrangencia da pesqulsa em LA. el ae poueo esclarecedora dos paradigmas a par tir dO B quais se operaem LA. Esta discussao comeca a se Iazer necessa ria princ ipal -

    mente agora no Brasi l quando 0 mimero daqueles que se int itu-lam pesquisadores em LA e bastante consideravel, ao contrar inde decadas passadas, em que a pesquisa nesta area era, normal-mente, realizada por l ingnis tas que, muitas vezes, identif icavameste tipo de pesq uisa co mo secu nd ario em _re]acao a s u a p e squ is ap rin cip al e eq ua cio nav am a L A co m aplica!fao de t eo r ia lingula-tica para resolver problemas de ensino de lfnguas au para levar aefeito deser icoes de Hnguas especlf icas , E hora, entao, de n6sruesmos n os pe rg un tarm os : afinaJ, 0qu e eLA?

    Vou t en ta r r es po n de r a e st a q u es ta o a tr av es d a c ar ac te ri za ca odeurn paradigma de jnvestiga~o qu e me parece ser cada ves . maisdefendido na Iit eratura da a r e a de LA (cf. Widdowson, 1979 e1990; e S irevens, 1980; POI'exern plo), e que constitu i 0meu modod e reallzar pesqu isa e, na v erdade, d e form at pesqu isado res emLA , jfi que considero que " os p ar ad igm as f om e cem a os c ie nt is ta sn ao s or ne n te urn .mapa ma 'S" tambe-m d ir e es e ss en c ia is par a f az ermapas" ( Kuhn, 1970: 94). Note-se que este paradigma, em se uaspecto geral, e tambem defendido por var ies p es qn is ad ore s n oBrasil (cf Cavalcanti, 1986; Celani, t992; Kleiman, 1992; entre ou-t ros) e pode se r dep reendido de varjru; dissertacoes e teses apresen-t ad as a os p ro gr ar na s d e p ri s- gr ad ua ca o nos ultimos anos.

    Cons id er o q u e 0 p erc urso d a p es qu is ae rn L A que utilizopo de se r c ara cteriza do p elo s pe nto s d isc utid os a se gu ir, T ra ta -sede pesquisa: a) de natureza aplicada em Ciencias Sneiais; b) quefocal iza a linguagem do porno de vi sta processual; c ) de naturezainterdlsciplinar e mediadora; d) ,que envolve formulacao teorica;e ) que util iza metodos de investigaeao de base posi tivist e inter-pretativista.

    (ism e , paradigmas) ao se defender u rn OU OU IL TO . Alias, este t ipode discussao e , na verdade, comum nas comunidades olentfficas,quando um grupo d e pesqu isado res fo rm ula e d efen de u m n ov op ar ad ig rn a , f az en d o com que pesquisadores que se recusem aace ita -Io tenham se ll t rabaJbo ignorado par este grupo ale que 0paradigma seja ahracado Ja rgamente pe la comunidade, eo t raba -Iho destes posqnisadores rebeldes, por assim dizer , passe L' I sertornado como padrao. Isto pode chegar a te 0 ponto de determinerquem e lim pesquisador em um a certa a r e a (cf. Kuhn, 1970: 19) .Portanto, 0 que parece estar ocorrendo em nosso campo e urninteresse pelo estabelecirneruo de regras e pad roes para a jnvesti-ga~1io cientffica em LA. On seja, nada de rnuito extraordinariodo ponto de vista da operacao cien tftica. E rnuito do que estaenvolvido na aceiLnr;ao de um novo paradigma deriva de argu-menracao persuas ive dentro da comunidade cientff ica (cf . Kuhn,1970: 94), ou seja , 0que ternos fe ito nos ulnmos anos neste pai s.Assim, defendo a visao de que esta questao interessa it LA. naosimplesrnente com o uma demarcaeao de areas de i nve s ti g ac a o( is to e , l in gt if st ic a X L A), m as cum o [1m B m an eira de refinarmodos de se realizar pesquisa em LA. Esta questao, portanto, einerente a LAcOIDO campo de jnvestig~ao. Estaterna tica te rnque se r d isc utid a por n6 s m esrnos, isto e , I in gt li st as ap li cado s, ep are ce c ol ab ora r p ara 0 Io rt al ec im en to e 0 desenvolvimento daarea.

    a) Pesquisa de natureza apl icada em Ciencias Social s:Trata-se de pesquisa aplicada no sentido de que se centra

    primordialmente na resolucao de problemas de uso da linguagem

    18 19

  • 8/2/2019 Oficina de Lingstica Aplicada

    3/5

    d) Pesquisa que envolve fc rmulacao teorica:

    tanto no contexte da escola quanto fora de le, embora possa lam-bern contr ibuir pam a formutacao le6rica como a chamada pesqui-sa basica (cf a item d) abaixo). A LA e uma ciencia social. jn queseu foco e em problemas de lIS0 da Iinguagern enfrentados pelospart icipl lntes do discurso no contexte soc ial , isto e , usuar ies dalinguagem (leitores , escri tores, fnlantcs, ouvintes) dentro do rnelode ensino/aprendizagem e fora dele (por exemplo, em ernpresas,no consultorio medico etc.), Um problema de lIS0 da Iinguagemque poder ia interessar a urn lingtlista aplicado, por exemplo, seriadificuldades na cornpreensao OI

  • 8/2/2019 Oficina de Lingstica Aplicada

    4/5

    Referencius bibliograficos

    Todavia, nota-se llITI interesse cada vez maior por pesquisade base interpretativista, nao s6 por represeruar urn foco de in-vest iga-; :ao d iIeren te, revclador , por taruo, de novas descober tasqu e nfio estau au alcance de pesquisa positivista, mas tambernpor avancar urn tipo de metodo de pesquisa que pode ser maisadequado a natureza subjet iva do objeio das Ciencias Socials (cr.Moira Lopes, 1994}. Estus caractertst icas da pesquisa de baseluterpretutivista podem, portanto, impulsionar 0 desenvolvirnen-to da LA. 0 foco neste tipo de p e squ is a 6 no processo de usa daIinguagern. H a em LA duas tendencias prin cipals d e pesq uisa d ecunho nuerpretat ivista: pesquisa etnografica e pesquisa intros-peetiva, Em poucas palavras, pode-se dizer qu e a pesquisa etno-grafica IS caracterizadu por colocar 0 foco na percepcao que asparticipantes lem da intcracao l ingu fs tica e do contexte social emque eslao envolvidos, atraves da ulilizaqao de instrurnentos taiscomo notus de c ampo, diaries, e nt re vi st as e tc , M o it a L op es ( 19 89 )exempli fica este ripo de pesquisa nq Brasil, A pesquisa intros-pectiva centra-se 110 estudo dos processus e estraiegias subjacen-tes ao usa da I inguagern atrave~ da uti lizacao da tecnica charnadade protocolo, cujo objetivo e Lamar acessivei s estes processos eestrategias ao tazer 0 usuario pensar alto . isto e , rela tar passo apasso Q queestn fazendo ao desernpeuhar uma tarefa especfficade usa da linguagem, par exemplo, ler um texto,produzir umtexto etc. 0 trabalho de Cavalcanti (1989) e um exempJo des tamerodologia depesquisa no pafs.

    Em resume, a LA e entendida aqui como urna area de in-ves tigacdo apllcada .mediadora, iruerdisciplinar, centrada na re-

    soluciio de problemas de usn da linguagem, que tern urn foco rn alinguagem de natureza processual, que colabora com 0 avancodo conhecimento te6rico, e que uti liza metodos de investigaeaode natureza pos.ilivi st a e interpretal ivista. Deve-se ac resc en tar,porem, que nem todos aqueles que se dedicam a pesquisa em I .: .A, com base no paradigms apresentado aqui, necessariamenle per-correm este percurso no seu todo, Uns se dedicam a medlar sub-s ldios teoricos de outras discrpl lnas, outros tratam da elaboracaode modelos te6ricos at raves de especulacae, e outros util izam osmodelos teoricos para explicar os problemas d a pratica do usa daIinguagem com que se def-rontam e real izam investigayao de na-tureza eruprrica para apresentar soluyOes para a pratica e colabo-far com o avanco teorico e dos metodos de pesquisa em LA (cf.Widdowson, 1990: 6). COlltUCO,. este pamdigma parece estar subja-cente a grande parte da pesquisa feita em LA hoje em dia.

    cornpreensao escrit a e oral). Esta tendencin pode-se dizer que ca-ra ete ri za a maier parte da pesquisa pro du zid a e m L A, co nfo rrn epode ser observado 11 3 maior ia LIas trabalhosupresentados nosCongresses Internaciona is de LA. No Brasil , sao exernplos destet ipo de invest igacao os trabathos de Almeida Filho (1984). . Meu-r e r ( ) 985), M O i L a Lopes (l9S6) e Kleiman (J 989);

    ALMEiDA p i: :! , J.c.P. Tile InteTf,fay of Cohesion and Coherence in theAcademic Writing ofArglllllt:TIfative Discourse. Tese de doutora-do. U niversidade de G eorgetown. 19&4. .

    CAv ALCANTJ. M. "A Pmp6sit.o de Lingufstica Aplicada", Trabulhosem UnguisticaAplicada. n"7,1986, pp. 5-12.

    __ . Jmemfoa Le l tor Tex so. Camp inas , Edi tor a da UNICAMl', 1989 .CELANI ,M.A.A. "Afinal, 0 qu e e LingiiisticaAplicada?"ln: PASCHOAL,

    M.SZ. &CELANl. MAA- (orgs.), 1992.COLLINS. H. Compreensao Oral: um.E.!I/udoem Lingua Estrangeira.

    Tese de doutorado. PUC-SP , 1 9 90 .KLEIMAN, A. Leitura: Ensino e Pesqulsu, Carnpinas, Pontes, 1989 .

    2322

  • 8/2/2019 Oficina de Lingstica Aplicada

    5/5

    24 2.5

    __ . "0 Ensino de Linguas no Brasil;". In: PASCHOAL. M.SZ. &CELANI, M.A.A. (orgs.), J992.

    KUHN, T. The Structure {dScienliji:c Revolutions. Chicago.Tlie U. o fChicago Press , 1970.

    MEUR ER , 1 .L . Reading ;11 LI and U: Exploring Tex: Structure, Schem.la, lind Advanced ,organizer.s. Tese de doutorado, Universldaded e G eo rg et ow n , ] 98 5.

    MOITA fl..OPES, l..P. Discourse Allul,vsis asd SJ i ll a bus De s i gn : an Ap-proacl: totiie Teaching ofReadilig. Tese de deutorado, Univer-. sidade de Londres, 1986.

    __ . "Ensino de Leitura em Ingl&; em Escolas Publicas de J 0 OHm:Analise de Alguns DadosEtnograficos", Anais da WANPOLL.1989, pp. 603-610.

    _._.' "Pesquisa Interpretarivista em Lingutstica Aplicada: a Lingua-gem como Condi lJ iio e S O l ll y .a O " . D . E. L. T .A . . vol. 10, n" 2, 1994,pp. 329~338.

    PASCHOAL, M.S.Z. &. CELANI. M.A.A. (orgs.). LiJIgiii.,/iea Aplicodn.:da ApliclIrlio da Lingl'U~tica iI Llngitistica Transdiseiplinar.S ao Paulo, E DU C, 1 99 2.VAN UER. L The Classroom and tlte Language Leamer . Londres,Longman, 1988.

    WlDDOWSON, A.O. Explorations ill Applied Linguissics. Oxford, Ox-ford U. Press, 1979.

    _~ ~_ .Aspects ofumguage Teaching, Ox fo rd ,O x fo rd U . P re ss , 1 99 0.STREVENS, P. "What are Applied Linguists andWhat Do They Do?"

    In : KAPLAN, R.B. (ed), all, the Scope of Apr/ie,d Lillglli.rticsRowley, MA, N. House, 1980.

    Tare/as

    1. Na abordagem audiolingual de ensino de lfnguas es-trangelras, 0 professor se concentra na aquisi~ao deestruturas lingilisticas por parte dos alunos atraves "dememori~ao. Isso e uma i nl lu enc ia d ir et a, no ensinode llnguas, da visio estruturalista da linguagem comourn conjunto de hibjtos lingiifsticos. Discuta a visao'd e LA impl fci ta nessa relaeao entr e lingiiistica e ensi-no de lfnguas,

    2. Discuta a visao de LA impllcita na cita~iio abaixo:Embora 0 campo Ida teoria transformaclonal] desencoraiequa lque r i n lr avi s ao para 0e ns in o d e I in gu as , a s ideias' atuahnenteaeeuas reins uansfcnnacloaalistaa devern ser considerades pe-los professores de lfnguas. As implicaeoes mais importantess iio a s s eg uin te s: ... 3. A compe t .enci a l ing ll fs ti c a precede 0desempenho lingiiis[ ico. Anles: de solicitar que as alanos uSemIiI fngua, n s p rof e sso re s devemes tabe le cer 0 fundamento basi-CO au es f u nd . 'U l len l os qu e tomam 0 desempenho possiVel . (Chas-tain, K. T b D e v e. [o p m e n1 of M o de rn u ln glf og e S k.i ll s. Chicago,Rand McNalJy & CO. , 1 97 1 , p p. 8 9- 90 ).

    3 . Examine dais l ivros-textos deensino de Hngua mater-na e de lingua estrangeira e tente depreender a visaode LA que orientou aelaberacso decada urn. Justi fi -que suas respos tas ,

    4. Q ua is s.i i.oo s p on te s q ue caracterizam um a visaocon-te rn po rsn ea d e L A? '