oclusão e enceramento
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PARTE II
OCLUSÃO E ENCERAMENTO
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INTRODUÇÃO
A origem etimológica da palavra oclusão é do Latim occlusione e
que significa o ato de fechar, o fechamento. Porém, a oclusão não se limita
apenas a uma posição estática de fechamento, mas também a dinâmica de
todo o Sistema Mastigatório.
Embora o estudo do Sistema Mastigatório ou Estomatognático esteja
dividido entre as mais variadas disciplinas (Anatomia, Histologia, Bioquímica,
Biologia, Fisiologia, Escultura, Prótese, Dentística e Radiologia), o seu
entendimento mais amplo e integrado se faz necessário para a compreensão
da verdadeira Odontologia.
O enceramento regressivo e progressivo, bem como a escultura,
constituem-se em indispensáveis exercícios para a reconstrução da morfologia
dental, pela remoção ou acréscimo gradativo de cera. O aluno ou profissional
poderá alcançar, segundo Netto e Zanatta, 1998:
maior destreza manual;
visão espacial dos movimentos mandibulares;
sensibilidade frente às pequenas variações de forma do dente;
compreensão da direção de cúspides, sulcos e cristas, altura,
profundidade e relações antagônicas essenciais à reconstrução
da estrutura dental.
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1 MONTAGEM DOS MODELOS EM ARTICULADOR.
Neste exercício iremos realizar a montagem dos modelos de gesso no
articulador semi-ajustável para o estudo da oclusão e treinamento das técnicas
das técnicas de escultura dinâmica empregando o enceramento regressivo e
progressivo.
Para tal, os seguintes materiais são necessários:
Modelos das arcadas superior e inferior em gesso;
Articulador semi-ajustável tipo Wip Mix ARCON com regulagem da distância
intercondilar, guia condilar e ângulo de Bennett;
Manequim simulador de paciente dos laboratórios de pré-clínica com
modelo em resina epóxi devidamente montado;
Arco facial;
3 fragmentos de Cera n° 7 cortados em pedaços de 2 x 2cm,
Espátula 7;
Le Cron;
Lamparina a álcool;
Graal de Borracha;
Espátula para gesso;
Gesso comum;
Elásticos;
Antes de iniciar a montagem dos modelos, suas bases devem ser
sulcadas empregando um instrumento de Le Cron e imersos em água com os
dentes para cima, em um gral de borracha. A água não deve chegar a molhar
os dentes.
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1.1 REGISTRO COM O ARCO FACIAL
Para iniciar a montagem devemos aquecer sobre a chama três
fragmentos de cera n° 7 e cola-los em três pontos na forquilha do arco facial,
conforme se observa na Figura 1.
Figura 1 – Colagem dos fragmentos de cera n ° 7.
A seguir deve-se aquecer a superfície da dos fragmentos de cera para
plastificá-los e levar a forquilha à boca do manequim, sobre os dentes
superiores, exercendo certa pressão para que os mesmos produzam uma
impressão sobre a cera. É importante que a haste da forquilha fique
centralizada com a linha média do paciente (Figura 2).
Figura 2 – Posicionamento da forquilha no arco superior.
A seguir deve-se testar a adaptação do modelo de gesso superior nas
impressões presentes na cera adaptada na forquilha. Realizar os ajustes que
forem necessários para que ocorra um perfeito assentamento.
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A próxima fase da montagem requer que os alunos trabalhem em dupla.
Inicialmente identifique o arco facial Quick-Mount e o bloco de localização do
ponto Nasio (Figura 3).
Figura 3 – A) Arco facial. B) Bloco de localização do ponto Nasio.
Recolocar a forquilha da boca do manequim. Um dos alunos deve
segura-la em posição enquanto outro adapta o arco facial. Para tal, encaixe o
engate articulado do arco facial na haste da forquilha (Figura 4) e, a seguir,
encaixe as perfurações localizadas nas extremidades dos braços nos pinos
localizados nas regiões que simulam os meatos acústicos externos do
manequim. Aperte os três parafusos superiores do arco facial (Figura 5).
Figura 4 – Encaixe do engate articulado na haste da forquilha.
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Figura 5 – Fixação dos parafusos.
A seguir deve-se fixar o indicador do ponto Nasio sobre a barra
transversal do arco, movendo o arco para cima e para baixo e estendendo a
vareta que suporta o bloco de resina, fazendo-o apoiar-se sobre o Nasio, de
modo que fique bem centrado. Aperte o parafuso de fixação (Figura 6).
Figura 6 – Fixação do ponto Nasio.
Empurre a articulação que está encaixada na haste da forquilha para
traz, deslizando-a até que ela se torne mais próxima do lábio, sem tocá-lo.
Aperte firmemente esta articulação com a chave hexagonal. Fixe agora a
articulação da barra vertical do arco, tomando o cuidado de não desviar ou
inclinar o arco fora de sua posição correta durante o aperto dos parafusos
(Figura 7). Utilize a mão livre para estabilizar o conjunto durante o apertar dos
parafusos, minimizando desta maneira o efeito de torção.
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Figura 7 – Fixação da articulação da barra vertical do arco, estabilizando o
conjunto com a outra mão.
O arco facial corretamente posicionado no manequim pode ser
observado na Figura 8.
Figura 8 – Arco facial corretamente posicionado.
Tome nota da distância intercondilar aproximada, que se pode ler na
borda anterior do arco facial. Há 3 letras ou números separados por raias, que
correspondem às medidas: pequeno, médio e grande (Figura 9). Esta
informação deve ser anotada.
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Figura 9 – Checagem da distância intercondilar.
Afrouxe o parafuso de fixação e retire o suporte do bloco Nasio. Em
seguida, afrouxe os três parafusos da parte superior do arco dando-lhe um
quarto de volta. Deve-se então soltar o conjunto e retirar da cavidade bucal do
manequim.
1.2 MONTAGEM DO MODELO SUPERIOR
Os elementos condilares do articulador são postes rosqueados com
extremos em forma de bola, que podem ser fixados em três furos rosqueados,
marcados com as siglas P, M e G ou os números 1, 2 e 3. Os elementos
condilares devem ser fixados nos furos cujos números conicidam com o
registro do arco facial. Aperte firmemente os elementos condilares com uma
chave (Figura 10).
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Figura 10 – Fixação dos elementos condilares de acordo com o registro do arco
facial.
Estabeleça a mesma distância intercondilar no corpo superior do
articulador. Em algumas marcas, isso é realizado acrescentando ou tirando
espaçadores dos pinos dos guias condilares (Figura 11 A). Em outras marcas,
esta regulagem é realizada girando-se o parafuso de ajuste localizado na
porção posterior do ramo superior do articulador (Figura 11B).
Figura 11 – A) Colocação de espaçadores. B) Regulagem do parafuso.
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Ajuste as guias condilares com uma angulação de 30º como preparação
para colocação do arco facial (Figura 12).
Figura 12 – Ajuste da guia condilar.
O ângulo de Bennett deve ser ajustado em 15º, através do parafuso e
aleta de movimento lateral, situados na parte superior da guia condilar.
Figura 13 – Ajuste do ângulo de Bennett.
Fixe firmemente as placas de montagem nos ramos superior e inferior do
articulador. Retire o pino guia incisal. Tome o arco facial em uma das mãos e o
ramo superior do articulador em outra. Guie os pequenos pinos situados nas
faces externas das guias condilares, até encaixá-las nos orifícios das peças e
plástico nas extremidades do arco facial. Mantenha durante a operação o arco
apoiado contra o seu corpo, introduzindo primeiro um pino depois o outro
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(Figura 14 A). Deixe a parte frontal do ramo superior do articulador apoiado
sobre a barra transversal do arco. Feche o arco firmemente e aperte o três
parafusos (Figura 14 B).
Figura 14 – A)Conexão do arco facial no ramo superior do articulador.
B)Apertamento dos parafusos.
Coloque o conjunto do arco e ramo superior sobre o corpo inferior do
articulador, apoiando a articulação do arco sobre o bloco de plástico que
constitui a mesa incisal (Figura 15).
Figura 15 – Apoio do conjunto arco facial e ramo superior sobre o ramo inferior
do articulador.
Assente com cuidado o modelo no registro na forquilha de mordida.
Misture gesso com água, nas proporções corretas, de forma que a consistência
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fique cremosa e espessa. Levante o ramo superior do articulador e deposite
uma porção de gesso em cima da base do modelo (Figura 16).
Figura 16 – Fixação do modelo superior.
Feche o articulador até que a haste superior toque a barra transversal do
arco facial, resultando na união da placa de montagem com o gesso ainda
mole. Se necessário acrescente mais gesso para melhorar a retenção (Figura
17).
Figura 17 – Modelo superior adequadamente estabilizado.
1.3 MONTAGEM DO MODELO INFERIOR
Após a presa do gesso, remova o arco facial do articulador. Posicione o
pino guia incisal no ramo superior com a ponta arredondada voltada para baixo,
de forma que ambos ramos estejam paralelos entre si.
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Coloque o ramo superior do articulador com o modelo superior montado
de cabeça para baixo, sobre a mesa do laboratório, com o pino guia incisal
para fora da borda da mesa. Oclua o modelo inferior no superior na posição de
máxima intercuspidação. Fixe os modelos com dois elásticos de borracha para
que se mantenham em posição até a completa cristalização do gesso.
Figura 18 – Oclusão e estabilização dos modelos com elásticos.
Coloque um pouco de gesso recém manipulado sobre a base do modelo
inferior e feche o articulador (Figura 19). Verifique se os elementos condilares
estão em sua posição mais retraída. Aplique mais um pouco de gesso para
melhorar a retenção. Se for necessário, as placas de montagem podem ser
removidas dos ramos do articulador para que as possíveis falhas entre os
modelos e as placas de montagem possam ser preenchidas.
Figura 19 – Modelo inferior fixado.
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Na Figura 20 temos o resultado final após o término da montagem dos
modelos no articulador.
Figura 20 – Resultado final.
Com os modelos montados no articulador poderemos estudar a
dinâmica dos movimentos mandibulares e a influência das variações de alguns
determinantes da oclusão, tais como: inclinação da vertente articular da
cavidade glenóide (fossa mandibular), altura de cúspide, ângulo de Bennett,
guia incisal, guia canina, distância intercondilar, etc.
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2. ENCERAMENTO PROGRESSIVO
2.1. Instrumental necessário
Lápis de cor (verde, vermelho, azul e preto)
Modelos montados no articulador
Le cron e Hollenback
PKT + discóidelcleóide
Hollenback 35
Lamparina - Espátula 7
Talco
Ceras coloridas
Pincel e escova macia
2.2. Demarcação dos modelos
Utilizaremos para a demarcação destes modelos, lápis nas cores
verde, vermelho, azul e preto.
Nos modelos: inferior e superior, com lápis verde, marcaremos nas
cúspides guias e de suporte, as arestas longitudinais mesio-distais do primeiro
pré-molar até o segundo molar.
Com lápis vermelho, marcaremos as arestas transversais
vestibulares, partindo do ápice de cada cúspide até o rebordo gengival
marginal livre (Figura 4). Estas linhas deverão ser paralelas ao longo eixo dos
dentes. Ainda em vermelho, determina-se o sentido das arestas das cúspides
que partem do ápice das cúspides e se dirigem em sentido lingual até o sulco
principal mésio-distal determinando o sentido de inclinação das vertentes
triturantes da face oclusal.
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Figura 3- Marcação das arestas longitudinais.
OBS.: Realizar a demarcação no esquema acima.
Ainda em vermelho delimitaremos as arestas transversais
ocluso-linguais que partem do ápice das cúspides linguais e se dirigem
vestibularmente até o sulco principal mésio-distal. Também em lápis vermelho,
marcaremos as arestas transversais linguais partindo do ápice das cúspides
até o rebordo gengival (Fig. 5 e 6). Atenção especial deverá ser dada à união
entre a aresta transversal oclusal das cúspides mesiopalatinas nos molares
superiores, formando a ponte de esmalte.
Com o lápis azul, delimita-se por vestibular e lingual,
aproximadamente a metade da altura da coroa, que será a referência para o
desgaste do modelo. (Marcar nas Fig. 3, 7 e 8).
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Figura 4- Marcação das arestas transversais nas face vestibular e lingual
Figura 5- Marcação das arestas transversais na face oclusal
Figura 6- Arestas transversais demarcadas em vermelho
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Desenho esquemático dos arcos dentários, para serem demarcados
conforme os modelos.
Figura 7- Esquema dos arcos dentários – vista vestibular
Figura 8- Esquema dos arcos dentários – vista oclusal
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Tomando-se a seguir os modelos articulados na mão, observa-se o
interrelacionamento entre os arcos, com uma oclusão onde cada dente do arco
oclui com dois outros. Observa-se durante a abertura e fechamento lentos dos
modelos, as cúspides de suporte (cúspides vestibulares inferiores e palatinas
superiores - VIPS), que sustentam o movimento de fechamento, mantém a
Dimensão Vertical de Oclusão e estabilizam a Oclusão.
As cúspides linguais inferiores e as vestibulares superiores são
denominadas cúspides guias e permitem o deslizamento das cúspides de
suporte durante os movimentos de lateralidade e protrusão.
2.3. DEMARCAÇÃO NOS MODELOS DOS CONTATOS EM OCLUSÃO
CENTRAL (OC).
Tomando-se os modelos articulados na mão, observa-se o
interrelacionamento oclusal destes e com o lápis preto, demarcamos os
contatos oclusais entre as cúspides de suporte (vestibulares inferiores e
palatinas superiores): no lado direito do modelo demarcamos as cúspides
cêntricas inferiores e seus contatos nos superiores e no lado esquerdo, as
cúspides cêntricas superiores e seus contatos nos inferiores.
A demarcação das áreas de contato inicia-se na crista marginal
transversal mesial do primeiro premolar superior (Fig. 9, Seta A).
A seguir, marcar o contato correspondente no pré-molar inferior. Há
apenas um contato localizado ligeiramente para distal da aresta transversal da
cúspide vestibular (Fïgura 10). Observar o modelo ocluído numa vista
póstero-anterior.
A cúspide vestibular do segundo pré-molar inferior estabelece duas
areas de contato, uma na crista marginal distal do primeiro pré-molar superior e
outra na crista marginal mesial do segundo pré-molar superior. As duas áreas
de contato do segundo premolar inferior estão localizadas na aresta
longitudinal, sendo uma para mesial (A) e outra para distal (B) em relação ao
vértice da cúspide (Fig. 11).
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Figura 9- Demarcação dos pontos de contato nas cristas marginais dos pré-
molares superiores
Figura 10- Marcação dos contatos correspondentes no pré-molar inferior
Figura 11- Marcação das áreas de contato na aresta longitudinal do segundo
pré-molar inferior
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Prossegue-se desta forma a localização dos contatos para os
demais dentes e no contato efetuado pelas cúspides mésio-vestibulares dos 1º
e 2º molares inferiores, verifica-se que ocorrem duas áreas de contato nas
cristas marginais dos molares superiores.
Encontramos também o contato em tripoidismo na fossa central dos
molares superiores, devido à oclusão nesta região das cúspides mediana e
disto vestibular dos 1º e 2º molares inferiores, respectivamente. Este contato
em três pontos ou tripoidismo é estabelecido devido a convergências para a
fossa central de três vertentes: vertente triturante distal da cúspide mésio-
vestibular, vertente triturante mesial da cúspide disto-vestibular e vertente
triturante mediana da cúspide mésio-palatina (Figura 12).
Figura 12- Áreas envolvidas no tripoidismo no primeiro molar superior
Demarcamos os contatos oclusais nos modelos superior e inferior,
podemos verificar a disposição das áreas de contato em Oclusão Central,
próximo ao sulco principal de direção mésio distal.
Vertente triturante distal (cúspide M-V) Vertente triturante mesial (cúspide D-V) Vertente triturante mediana (cúspide M-P)
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Figura 13 - Cúspides cêntricas superiores e seus contatos nos inferiores.
Figura 14 - Cúspides cêntricas inferiores e seus contatos nos superiores.
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2.4. ENCERAMENTO PROGRESSIVO - PASSOS (36, 12, 21, 23 e 27)
2.4.1. DESGASTE DO 36
Com o Le Cron desgasta-se o 36 até a metade da coroa.
Sobre a superfície oclusal desgastada do modelo, complementa-se o
traçado, localizando as arestas longitudinal e transversal de cada cúspide, para
situar seus vértices, orientando-se pelos dentes vizinhos (Figura 15).
Figura 15 - Desgaste do dente para realização do enceramento.
Através de uma espátula, passa-se uma fina camada de cera
pegajosa sobre a superfície recortada para melhorar a fixação do futuro
enceramento.
2.4.2. LEVANTAMENTO DOS CONES
A seguir, utilizando o instrumental de Peter K. Thomas (PKT),
iniciamos o levantamento dos cones vestibulares através do gotejador duplo
aquecido na chama da lamparina, colhendo uma pequena porção de cera
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amarela, levando no ponto de cruzamento do traçado da cúspide vestibular do
36 (Figura 16).
Continua-se este procedimento até obter a altura da cúspide, que
será determinada no movimento látero-protrusivo, executado pelo articulador.
Quanto à direção dos cones, existem dois fatores a serem
observados: o primeiro é quanto à orientação vestíbulo-lingual, de modo que os
cones se dirijam para o sulco principal do modelo superior. O segundo é quanto
à orientação mésio-distal, que seguirá a demarcação dos contatos no modelo
superior.
Figura 16 - Levantamento dos cones vestibulares.
Se a orientação dos cones não estiver correta, poderá ser corrigida
com um instrumento aquecido, procurando reorientá-to para a posição
adequada.
Para a obtenção do cone da cúspide mediana, os passos anteriores
serão repetidos, sempre realizando a oclusão dos modelos, para observar a
posição de intercuspidação, a lateroprotrusão e a protrusão. Também serão
observadas as orientações vestíbulo lingual e mésio distal do cone mediano.
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Segundo Lundeen, uma linha imaginária ântero-posterior, que passe
sobre as pontas dos cones vestibulares dos dentes inferiores, quando
sobreposta ao arco superior antagônico, passará pelos pontos de contato
centrico das cristas marginais e no centro da fossa central, sem fazer nenhum
contato.
Figura 17
Os cones não fazem contato em nenhum dos movimentos
excursivos.
2.4.3. CRISTAS OU ARESTAS TRANSVERSAIS VESTIBULARES
Inicia-se pelo cone mésio vestibular depositando-se cera vermelha
vestibularmente ao cone.
Obtém-se uma forma triangular preenchendo o espaço vestibular,
sem ampliar a base do cone. Avalia-se a altura do conjunto cone-vertente em
látero-protrusão.
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Deve-se tomar cuidado durante todo o enceramento, para não fundir
a cera anterior.
Durante o enceramento deve-se proceder a avaliação de cada
etapa, assim como a limpeza e polimento através do pincel.
2.4.4. VERTENTES LONGITUDINAIS DAS CÚSPIDES
VESTIBULARES
Agora com cera verde, realizamos a confecção dessas vertentes. A
cera é colocada, sem invadir a área da futura crista marginal, desde o ápice do
conjunto cone-vertente-vestibular.
Testa-se o relacionamento entre o vertente longitudinal e o modelo
antagonista através de um movimento de lateralidade.
Observa-se então, que as cúspides inferiores passam através dos
sulcos intermediários ou intercuspídeos dos dentes superiores. Os detalhes de
um arco auxiliam os do arco antagônico, através de movimentos executados
em articulador. Para tanto, a técnica de escultura a ser executada pelo aluno,
deve seguir os registros obtidos e transferidos para o articulador. Convém
esclarecer que não se pode imprimir à escultura, o nosso próprio conceito de
morfologia oclusal, cujos detalhes anatômicos não representam a realidade
oclusal.
Para a confecção da cúspide disto-vestibular do primeiro molar
inferior, cujo cone não foi levantado no modelo, procede-se assim: coloca-se
cera verde com o gotejador, desde a vertente distal da cúspide mediana até a
mesial do 2° molar inferior, sem invadir a área da crista marginal.
A seguir, com a cera ainda plástica, fecha-se o articulador em
Oclusão Central e executa-se o movimento de trabalho. Nota-se que o vértice
da cúspide disto vestibular do 1 ° molar superior demarca a altura e a situação
do sulco intercuspídeo que separa a cúspide mediana da disto-vestibular.
Após a confecção de todas as vertentes, passa-se ao acabamento e
limpeza do trabalho realizado.
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2.4.5. CRISTAS TRIANGULARES OCLUSAIS DAS CÚSPIDES
VESTIBULARES
São elevações que se estendem desde os vértices das cúspides até
a região do sulco principal mésio-distal, realizadas com cera vermelha e
constituem parte das denominadas vertentes oclusais.
Com o auxílio do gotejador verte-se a cera vermelha acompanhando
o formato triangular do cone.
A crista triangular da cúspide mésio-vestibular do molar inferior, é
esculpida arbitrariamente porque não apresenta contato devido a direção para
distal dos vértices das cúspides mésio-palatinas dos molares superiores.
É importante verificar uma correta localização dessas cristas
triangulares oclusais a fim de se reproduzir os contatos estabelecidos nos
modelos. (Figura 18).
Para verificarmos a localização dos pontos de oclusão, passa-se pó
de estearina, talco ou Branco de Espanha, sobre a cera antes do fechamento
do articulador em OC e em lateralidade, observando-se o lado de balanceio. A
cúspide mésio-lingual do 26 passa pela distal da crista triangular da cúspide
mediana do molar inferior, dessa forma observam-se as possíveis
interferências no lado de balanceio. Caso ocorram devem ser eliminadas,
mantendo-se as áreas de contato.
2.4.6. LEVANTAMENTO DOS CONES LINGUAIS
Estas são cúspides guias e apresentam as mesmas características
das cúspides vestibulares inferiores. São posicionadas mais próximas à face
lingual dos dentes de modo a estabelecer o trespasse horizontal e a
conseqüente proteção da língua.
As cúspides linguais do molar inferior são localizadas com maior
afastamento no sentido mésio-distal, para se evitar a interferência das
volumosas cúspides mésio-palatinas dos molares superiores na posição de
trabalho. São também, mais baixas que as vestibulares, quando medidas no
arco por meio de um instrumento reto.
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Características anatômicas que devem ser lembradas:
As cúspides linguais dos molares apresentam-se menores que as
vestibulares cerca de 1 mm.
Simulando um movimento de lateralidade, no lado de trabalho as
cúspides superiores palatinas e inferiores linguais não devem
fazer contato.
As cúspides vestibulares inferiores devem tocar o centro
vestíbulo-palatino dos dentes superiores em O. C.
Na confecção destes cones linguais dos dentes inferiores, deve-se
verificar a liberdade de movimentos pelos sulcos intercuspídeos e
intermediários nos movimentos lateral e protrusivo.
2.4.7. CRISTAS OU ARESTAS TRANSVERSAIS DAS CÚSPIDES
LINGUAIS
Deposita-se cera vermelha no lado lingual do cone, obedecendo-se
o formato de um triângulo de base semelhante a do cone e que converge para
o ápice de futura cúspide.
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2.4.8. CRISTAS TRIANGULARES OCLUSAIS DOS CONES
LINGUAIS
Também são executadas com cera vermelha, seguindo o formato do
cone inicial, convergindo em direção ao centro do dente, formando áreas de
contato para as cúspides mésio-palatinas do molar oposto.
Figura 18 - Cristas triangulares oclusais
Estes contatos nas cristas triangulares oclusais, serão verificados
colocando-se pó de estearina sobre a cera e fechando-se o articulador para
que haja o contato entre os modelos superior e inferior na posição de máxima
inter-cuspidação.
2.4.9. VERTENTES LONGITUDINAIS MESIAL E DISTAL DAS
CÚSPIDES LINGUAIS
São esculpidas em cera verde, deixando livre os espaços que
corresponderão às cristas marginais. Estas vertentes serão esculpidas
arbitrariamente, dando-Ihes a correta forma do dente. O sulco lingual é formado
na junção das vertentes de cera verde mesial e distal, lembrando-se que este
sulco é a trajetória do movimento de trabalho da cúspide palatina do molar
superior.
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2.4.10. CRISTAS MARGINAIS MESIAL E DISTAL
Confeccionadas com cera azul, com um gotejador, unindo as
vertentes longitudinais por mesial e por distal. (Figura 19).
Observando o modelo, verificamos que o contato nesta região para o
primeiro molar estará apenas na crista marginal distal, sendo que a mesial será
esculpida arbitrariamente devido à ausência de contato.
Figura 19 - Vista Oclusal Vista lateral
Terminada a execução das cristas marginais passa-se pó de
estearina sobre o enceramento e observa-se novamente todos os pontos de
contato e executam-se os movimentos de lateralidade e protrusão. Caso exista
alguma interferência esta deverá ser corrigida.
2.4.11. PREENCHIMENTO
Verificamos ainda, que existe uma série de vazios no modelo que
deverá ser preenchido com cera azul, procedendo-se o fechamento do
articulador a cada acréscimo para que não ocorram interferências.
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DETALHES FINAIS DO ENCERAMENTO
Com o auxílio de um Hollenback 3S, demarca-se os sulcos principal
e secundários, a crista marginal e os sulcos intercuspídeos. Com o instrumento
n° 3 PKT executa-se o alisamento dos sulcos.
Para a execução destes detalhes anatômicos, pode-se observar o
dente simétrico e procurar copiá-lo.
Terminada a escultura, passa-se novamente pó de estearina sobre o
enceramento, fecha-se o articulador em Oclusão Central, para que todos os
pontos de contato sejam demarcados e analisados. Em seguida executam-se
os movimentos de lateralidade direita e esquerda e protrusão, observando-se
as possíveis interferências, que deverão ser removidas, ou ausências que
deverão receber acréscimo de cera, reescultura e reacabamento.
2.4.12. RESUMO DOS PASSOS DO ENCERAMENTO
PROGRESSIVO
Desgaste do 36 até o terço médio.
Levantamento dos cones vestibulares (cera amarela).
Cristas ou arestas transversais vestibulares (cera vermelha).
Vertentes longitudinais das cúspides vestibulares (cera verde).
Cristas triangulares oclusais das cúspides vestibulares (cera
vermelha).
Levantamento dos cones linguais (cera amarela).
Cristas ou arestas transversais das cúspides linguais (cera
vermelha).
Cristas triangulares oclusais das cúspides linguais (cera
vermelha).
Vertentes longitudinais mesial e distal das cúspides linguais (cera
verde).
Cristas marginais mesial e distal (cera azul).
Preenchimento (cera azul).
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NOMENCLATURA
Anatômica Protética
Aresta longitudirais Vertentes transversais M e D
Rebordo gengival Rebordo marginal livre
Arestas transversais Cristas triangulares (face oclusal)
Aresta transversal oblíqua Crista oblíqua
Cúspides de suporte Contenção cêntrica
Cúspide de apoio
Cúspide cêntricas
Cêntricas de parada
Cúspides de toque
Cúspides de manutenção
Cúspides guias Cúspides não cêntricas
Cúspides de corte
Cúspides de proteção
Cúspides de ataque
Oclusão central (OC) Oclusão cêntrica (OC)
Máxima intercuspidação (MIC)
Posição de intercuspidação
Máxima (PIM)
Relação Central Relação Cêntrica
Posição de Eixo terminal
CÓDIGO DAS CERAS
AMARELA Cones.
VERMELHA Cristas ou arestas transversals a cristas
triangulares oclusais.
VERDE Vertentes longitudinais M e D.
AZUL Cristas marginais M e D
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2.4.13. ENCERAMENTO PROGRESSIVO PARA DENTES
ANTERIORES
Incisivo Central Superior
Lápis verde: demarcação da aresta longitudinal (borda incisal)
Lápis vermelho: demarcação das arestas transversais (referente
ao centro de cada um dos 3 lóbulos de desenvolvimento) por
vestibular e por lingual. (Figura 20)
Lápis azul: demarcação do meio da coroa (V e L)
Incisivo Lateral Superior
Lápis verde: demarcação da aresta longitudinal
Lápis vermelho: demarcação das arestas tranversais (apenas 2
p/ o incisivo lateral, nos lóbulos M e D) por vestibular e por
lingual. (Figura 20)
Lápis azul: demarcação do meio da coroa
Canino Superior
Lápis verde: aresta longitudinal
Lápis vermelho: demarcação da aresta transversal (apenas uma
referente ao centro do lóbulo central de desenvolvimento) por
vestibular e por lingual. (Figura 20)
Lápis azul: meio da coroa.
Figura 20- Representação das arestas tranversais p/ os dentes
anteriores
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Antes de procedermos ao desgaste ao meio para dar
continuidade ao enceramento progressivo, faremos uma análise
morfológica da oclusão anterior. Para tanto, primeiramente
demarcaremos em preto o centro eixo longitudinal dos dentes
inferiores e do lateral superior. O incisivo central superior será
dividido longitudinalmente em mais 2 porções entres os lóbulos
(Figura 21)
Figura 21- Demarcação longitudinal dos dentes anteriores com os
modelos articulados
Observando-se a Figura 21 e os modelos articulados,
procederemos à avaliação morfológica da oclusão anterior:
O traço correspondente ao longo eixo do incisivo central inferior
deverá coincidir com o tracejado entre os lóbulos mesial e
mediano do incisivo central superior.
O espaço interdental entre o incisivo central e lateral inferior,
deverá coincidir com o tracejado entre os lóbulos mediano e
distal do incisivo central superior.
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O traço correspondente ao centro eixo longitudinal do incisivo
lateral inferior deverá coincidir com o espaço interdental entre os
incisivos central e lateral superior.
O traço correspondente ao centro eixo longitudinal do incisivo
lateral superior deverá coincidir com o espaço interdental entre
os incisivos central e lateral inferior.
O traço correspondente ao centro eixo longitudinal do canino
inferior, deverá coincidir com o espaço interdental entre lateral e
canino superior.
Avaliação funcional dos modelos de estudo
Com os modelos em protrusão verifica-se o seguinte
relacionamento:
O traço correspondente ao longo eixo do incisio central inferior,
será coincidente com o traço do centro do lóbulo mesial do
incisivo central superior.
O traço correspondente ao longo eixo do incisivo central superior
será coincidente com o sulco interdental entre os incisivos central
e lateral inferior.
O traço correspondente ao longo eixo do incisivo lateral inferior
deverá ser coincidente com o traço do centro do lóbulo distal do
incisivo central superior.
O traço central do lóbulo mesial do incisivo lateral superior
coincidiu com o sulco interdental entre incisivo lateral e canino
inferior
O traço correspondente ao longo eixo do canino inferior
corresponderá ao traço central do lóbulo distal do incisivo lateral
superior.
97
Figura 22- Esquema do relacionamento interdental em protrusão
Preparo dos dentes anteriores p/ o enceramento
Desgaste da metade das coroas
Figura 23- Esquema do desgaste da metade incisal das coroas
Figura 24- Esquema do desgaste da metade incisal da coroa do incisivo central superior
98
Reprodução das arestas transversal e longitudinal na porção
incisal (Figura 25)
Aplicação da cera pegajosa
Levantamento dos cones – amarelo
levantar os cones nos locais correspondentes às intersecções
das arestas transversais e a aresta longitudinal. (Figura 26)
Arestas transversais – vermelho
Aplicar a cera sobre a porção V e L dos cones. (Figura 27)
Figura 25- Reprodução das arestas transversal e longitudinal na porção incisal da coroa
Figura 26- Levantamento dos cones amarelos
Figura 27- Aplicação da cera vermelha correspondente às arestas transversais
99
Aresta longitudinal – verde
Aplicar a cera verde na metade vestibular dos dentes. (Figura
28 V)
Preenchimento e cristas marginais – azul
Aplicar a cera azul na metade lingual dos dentes. (Figura 28L)
2.4.14. INCISIVO LATERAL
Apenas dois cones (amarelo) (lóbulo mesial e distal);
Apenas duas arestas transversais (vermelho).
2.4.15. CANINO
Apenas um cone - amarelo;
Apenas uma aresta transversal central - vermelho;
Aresta longitudinal - verde;
Preenchimento - azul.
V L
Figura 28- Aplicação da cera verde na face vestibular e preenchimento da região das cristas marginais com cera azul na face lingual
100
Figura 29- Representação esquemática do enceramento progressivo
dos dentes anteriores superiores
3. ENCERAMENTO REGRESSIVO: 45, 47, 14 a 16
3.1. PREPARO DO DENTE
Os dentes envolvidos deverão ser desgastados às metades de suas
coroas, conforme Figura 15.
3.2. ENCERAMENTO
3.2.1. Aplicação da cera pegajosa sobre a superfície.
3.2.2. Aplicação da cera azul fundida sobre toda a superfície do
dente, com rápidos movimentos da espátula n° 7 aquecida.
3.2.3. Correção dos limites do dente com a espátula aquecida, para
evitar falhas a irregularidades nas superfícies interna do padrão
de cera.
101
3.2.4. Preenchido todo o dente com cera azul, em excesso,
lubrifica-se o dente antagonista e oclui-se os modelos entre si,
determinando-se a oclusão.
3.2.5. Contornos axiais - Os contornos proximais, contornos vestibular
e lingual são esculpidos com Hollenback 3S e instrumental de
PKT (brunidor de Hollenback modificado). A localização dos
contatos proximais dos dentes posteriores situa-se no terço
oclusal da coroa, exceto o contato entre o 1 ° e 2° molar
superior, que situam-se no terço médio e para vestibular,
determinando a ameia lingual mais ampla. O contato deve ser
mais extenso que um mero ponto, sem invadir a ameia.
A orientação para estabelecimento dos contornos no padrão de cera
é determinada pelo contorno dos dentes vizinhos.
Figura 30- Contorno das ameias vestibular e lingual
102
O ponto mais proeminente das faces vestibular está localizado no
terço cervical, e da face lingual no terço oclusal (Figura 31).
Figura 31- Bossa vestibular e lingual
As curvaturas V e L estendem-se aproximadamente 0,5 mm aquém
do contorno da raiz.
Deverá haver uma continuidade das paredes axiais entre si, sem
que permaneçam ângulos vivos.
3.2.6. Morfologia Oclusal - terminado o enceramento dos contornos
axiais (vestibular, lingual, mesial a distal) inicia-se a escultura
da face oclusal.
3.2.6.1. Observação da impressão na cera da morfologia
oclusal do dente antagonista.
3.2.6.2. Estabelecimento das cristas marginais e dos sulcos
mésio distal e vestíbulo lingual, com Hollenback 3S.
103
3.2.6.3. Respeitando a localização dos vértices das cúspides,
cristas marginais e ponte de esmalte, procede-se a
escultura das vertentes lisas e triturantes.
3.2.6.4. Verificar através dos movimentos funcionais a altura
das cúspides a os sulcos de escape. Neste momento
com um pincel de pêlo de camelo aplica-se sobre a
superfície de cera, pó de estearina e testa-se a
oclusão.
3.2.6.5. Características anatómicas finais:
1. Contornos axiais:
a) face vestibular e lingual - convexidade com
bossa localizada no terço cervical.
b) faces proximais - Mesial - superfície de contato
no terço oclusal e vestibular. Distal -superfície de
contato no terço médio e vestibular. A meias
espaço suficiente para alojar a papila.
2. Contornos oclusais:
a) Crista marginal (espessura e altura).
b) Vertentes (inclinação, direção, forma).
c) Ponte de esmalte (direção, largura e inclinação).
d) Sulcos de escape (direção, localização e
profundidade).
e) Cúspides (volume, altura, forma, direção).
f) Fossas (localização a profundidade).
3. Contatos Oclusais:
a) Crista marginal mesial.
b) Fóssula central (cúspide MV-DV-MP).
c) Crista marginal distal.
Figura 25- Reproduç
ão das arestas
transversal e
longitudinal na
porção incisal da
coroa