obra de arte e emancipação

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA CAMPUS DE MARÍLIA PROJETO DE MONOGRAFIA WALTER BENJAMIN: OBRA DE ARTE E EMANCIPAÇÃO

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA UNESP

FACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

CAMPUS DE MARLIA

PROJETO DE MONOGRAFIAWALTER BENJAMIN: OBRA DE ARTE E EMANCIPAO MARLIA2013WALTER BENJAMIN: OBRA DE ARTE E EMANCIPAO Projeto de Pesquisa a ser apresentado no Programa de Graduao em Cincias Sociais da Universidade Estadual Paulista, como requisito para elaborao da monografia de concluso de curso.

MARLIA2013RESUMO:

Este estudo pretende elucidar a tentativa de Walter Benjamin em transformar o conceito de critica de arte em um projeto tanto esttico quanto poltico. Em sua trajetria intelectual a obra de arte foi um tema recorrente de seu estudo. O plano de fundo para recriar a critica como gnero foi analisar a literatura alem em seus ensaios O conceito de crtica de arte no romantismo alemo (1919), Origem do drama barroco alemo (1928) e, em sua obra de maturidade, o ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade tcnica (1936). O autor aborda tambm a questo da arte com vis politico como um meio de difundir uma ideia de transformao da sociedade de maneira crtica, instigando novas questes e rompendo paradigmas. Como um dos caminhos para a sada da crise da crtica, ele cobrava dos crticos uma aproximao entre a abordagem filolgica e uma autntica reflexo crtica. Este termo indicava para ele uma reflexo tanto no sentido de uma teoria das formas, como de uma teoria da histria.PALAVRAS-CHAVE: Walter Benjamin, Obra de Arte, Arte Politizada, Emancipao.INTRODUO:A interpretao do pensamento benjaminiano sempre gerou duvidas entre seus comentadores, pois, em se tratando de Benjamin, no existe clich filosfico que o identifique a uma s corrente de pensamento. A imagem que mais se adequa ao seu arcabouo terico o da constelao, ele rene os fragmentos de uma realidade contraditria e procura dar-lhe um sentido que est sempre aberto, uma gama de possibilidades. Para o comentador Michel Lowy:

Walter Benjamin escapa as essas classificaes. Ele um critico revolucionrio da filosofia do progresso, uma adversrio marxista do progressismo, um nostlgico do passado que sonha com o futuro, um romntico partidrio do materialismo. Ele , em todas as acepes da palavra, inclassificvel. Adorno o definia, com razo, como um pensador distanciado de todas as correntes. Sua obra se apresenta, realmente, como uma espcie de bloco errtico a margem das grandes tendncias da filosofia contempornea. (2005, p. 14).As obras de juventude de Walter Benjamin propem uma nova abordagem acerca do conceito de critica de arte em sua totalidade, ele usa a literatura alem para propor um novo projeto de crtica de arte. Ele no apenas publicara dois ensaios de peso sobre a literatura alem, O Conceito de Crtica de Arte no Romantismo Alemo (1919) e a Origem do Drama Barroco Alemo (1928), alm de uma infinidade de artigos de crtica, sobretudo sobre literatura alem e francesa.Benjamin diagnosticava que uma das causas que havia levado a crtica alem crise naquela poca, era a ditadura da resenha como forma de pesquisa crtica. Ele cobrava dos crticos uma aproximao entre a abordagem filolgica e uma autntica reflexo crtica. Este termo indicava para ele uma reflexo tanto no sentido de uma teoria das formas, como de uma teoria da histria. Assim como os romnticos viam na romantizao do mundo um projeto de superao das barreiras entre o universo criativo e penetrado de fantasia das artes, e, por outro lado, a vida prosaica cotidiana, Benjamin, do mesmo modo, prope para a crtica um projeto tanto esttico quanto poltico. O ato da crtica era visto por ele como um meio de crtica de todo o sistema cultural e de sua base econmica. A partir de seu encontro com o marxismo, isto se tornou cada vez mais patente em seus ensaios e textos de crtica de arte. Alis, se ele se identificou to rapidamente com o marxismo de Lukcs, foi tambm porque ambos, este e Benjamin, vinham de uma profunda relao com o Romantismo Alemo. Analisando estas obras encontramos uma reflexo sobre a Histria da Arte e da Literatura, na qual Benjamin, dentro de uma forte tradio alem, desenvolveu muitas vezes o tema da teoria dos Gneros Literrios. A partir de seu contato com o Materialismo Histrico, nota-se sempre uma reflexo crtica sobre a sociedade, ou seja, a crtica foi praticada em Benjamin a partir do seu presente e voltada para ele, sem a iluso positivista de se poder penetrar no passado tal como ele aconteceu. Devemos destacar na teoria da Histria de Benjamin uma crtica aos modelos da evoluo histrica, seja os de vertente liberal com um modelo de constante avano e de devir positivo da Histria, seja o marxismo mecanicista, no qual o momento fundamental histrico justamente o processo evolutivo segundo etapas revolucionrias. O ensaio de Benjamin intitulado A obra de arte na era da sua reprodutibilidade enaltece o potencial cognitivo e, portanto, poltico da experincia cultural mediada pela tecnologia. Com o intuito de construir uma teoria materialista da arte, ou seja, um trabalho de teoria esttica, que reconhece a relao entre a obra de arte que se transforma em mercadoria por causa das exigncias de certa sociedade massificada advinda da nova Modernidade Capitalista. Realiza-se um inventrio histrico da Arte na Modernidade, defendendo, assim, a tese de que as formas de exposio como a fotografia e o cinema modificaram a anterior relao aurtica do artista com o seu contemplador por meio da reprodutibilidade tcnica. Essas modificaes se deram, no caso da fotografia, pela reproduo ampla das obras existentes, e, no caso do cinema, pela acelerao da sequncia de imagens (montagem), bem como das formas de apresentao dessas imagens (tomadas em diversos planos). A recepo da Arte com o despertar de uma sociedade massificada deixou de ser uma percepo contemplativa da obra de arte autntica, para se transformar em uma percepo distrada de cpias amplamente reproduzidas. Essa reprodutibilidade tcnica, ento, um modo instrumental de reproduo em massa das obras de arte enquanto mercadorias, tal processo gera ao mesmo tempo de sua produo degradao da caracterstica intrnseca, ou autntica, das obras artsticas.

Segundo Benjamin, o processo de difuso de sons, pinturas e imagens (fotografia e cinema) atravs dos meios de comunicao de massa sofreu uma ruptura e nosso contato com o mundo se desenvolveu a partir de uma nova forma de sensibilidade. Essas tcnicas edificaram no s os meios de comunicao e a percepo sensvel, mas tambm a Arte enquanto Arte. Exemplo disso a xilogravura (tcnica de gravuras sobre madeiras) a litografia (tcnica de criao de gravuras sobre matriz calcria), a fotografia e o cinema foram acelerando e tornando mais intensos os processos de reproduo tcnica da arte, assim como da vida cotidiana, alterando assim a nossa recepo esttica. Com isso se introduz o conceito de aura para estabelecer uma distino entre a reproduo tradicional da obra de arte e sua reproduo tcnica. A aura uma caracterstica fundada nas qualidades de inacessibilidade, originalidade e autenticidade dos objetos, essas caractersticas intrnsecas no podem ser reproduzidas e comercializadas segundo Benjamin. A reprodutibilidade tcnica conduz a massificao e o desaparecimento do contedo aurtico da obra de arte. O autor nos diz que o fenmeno intitulado de aura se define do seguinte modo: a apario nica de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. Observar em repouso, numa tarde de vero, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um galho, que projete sua sombra sobre ns, significa respirar a aura dessas montanhas, desse galho. (BENJAMIN, 1994, p.170).A discusso principal do ensaio ocorre na perda do contedo aurtico da obra de arte atravs da reprodutibilidade tcnica, ela atingida em sua aura, por sua vez, o sintoma que esse processo ocasiona ultrapassa o domnio da Arte. Assim, a reprodutibilidade contribui diretamente para a destruio do carter nico da autenticidade e da tradio. No sistema capitalista, a existncia nica substituda por uma existncia em srie. Portanto, desde que o critrio de autenticidade no mais se aplica produo artstica, toda funo da Arte subvertida, ela se funda agora no apenas no ritual, mas noutra forma da prxis: a Poltica.Benjamin tenta adaptar em seu pensamento a Arte como movimento dialtico que antes buscara em sua crtica da Literatura Alem. medida que descobre as Artes de Vanguarda da poca Surrealismo ou o prprio Cinema Comunista - ele subverte todo sua concepo de Arte inacessvel para volt-la para o homem; isto quer dizer que existe uma ponte entre o plano ideal da concepo artstica com o plano material, uma Arte antes utilizada como instrumento de manipulao ideolgica para uma obra que promova um senso emancipatrio. Desse encontro com vanguardistas e a leitura de Historia e conscincia de classe, de Lukcs, vai surgir uma nova percepo esttica da obra de arte, a principio ele pretende conciliar a Arte com a prxis revolucionria do Materialismo Histrico. Este movimento dialtico da obra de arte prope que a literatura assuma a eficcia da publicidade para adentrar nas comunidades, como formadora de opinio no meio social. Benjamin argumenta:A eficcia literria, para ser notvel, s pode nascer de uma alternncia rigorosa entre ao e a escritura, ela deve desenvolver nos panfletos, nas brochuras, artigos de jornais e cartazes, as formas modestas que melhor correspondem a sua influncia nas comunidades ativas que o gesto universal e pretencioso do livro. Apenas essa linguagem imediata revela-se eficaz e apta a enfrentar o momento presente (BENJAMIN, 1993, p. 139).A Arte, a Linguagem e a Literatura devem responder as novas funes e necessidades da sociedade contempornea. Esta a nova ordem que deve sobressair entre aqueles que so formadores de opinio: intelectuais, artistas e produtores. Em um tempo no qual o uso de imagens predominante, prope-se utiliz-la como ferramenta para a transformao social, reunir os aspectos cognitivos, prticos e estticos da atividade artstica em favor de uma ao poltica revolucionria. Benjamin encontrar no Surrealismo um modelo desta pretenso:O surrealismo mostrara de que maneira a imagem poderia preencher uma funo revolucionaria: apresentando o envelhecimento acelerado das formas modernas como a produo incessante do arcaico que chama o verdadeiro sentido da contemporaneidade. Por intermdio das ruinas da modernizao, ele faz aparecer urgncia de um retorno revolucionrio. (ROCHLITZ, 2003, p. 182).Portanto, pretendemos destacar como a arte enviesada politicamente, de carter emancipador, amplamente disseminada, como portadora de senso crtico, em sua individualidade, representa um meio de difuso dos interesses individuais emancipatrios frente s instituies politicas hegemnicas, uma maneira de transmitir uma ideia de transformao da sociedade como resposta a politica voltada para a manipulao das massas. Contra o positivismo daqueles que pregavam - talvez inocentemente - uma crtica apoltica, Benjamin demonstrou que no existe um campo fora do poltico. A Arte e sua crtica no se atm apenas ao sistema esttico, mas a toda sociedade. Neste sentido, ele extrapolou programaticamente o mbito da crtica da Literatura e da Arte. JUSTIFICATIVA:Em uma sociedade notadamente pautada pela manipulao ideolgica, s vezes, at em sua concepo do que seja a obra de Arte, encontramos no pensamento de Walter Benjamin uma explicao do processo de massificao da Arte autntica, daquilo que nos proporciona contemplao e um entorpecimento. O autor demonstra uma possibilidade de concebermos as obras artsticas no apenas como uma mercadoria, mas uma forma de enviesa-la em uma prxis poltica o pensamento emancipatrio, que possa despertar a conscincia revolucionria do indivduo.

OBJETIVOS (GERAL E ESPECFICO):Objetivo Geral:

Compreender o modo como Walter Benjamin em sua trajetria de pensamento aborda a questo da obra da Arte genuna em seus ensaios, estabelecendo um paralelo de como um projeto esttico permita uma possvel ao politica do individuo, de modo que tal projeto artstico Literatura, Cinema, Fotografia atuem como diretriz para despertar novas questes e paradigmas que promovam uma transformao social autntica, uma nova interpretao da Histria.

Objetivos Especficos:

1 Compreender uma nova forma de crtica de Arte nos ensaios O conceito de crtica de arte no romantismo alemo e Origem do drama barroco alemo.2 Esclarecer o conceito de Aura e a consequente perda deste contedo aurtico por meio da reprodutibilidade tcnica.3 Indicar como a arte politizada pode se transformar em um meio de emancipao do individuo, caso seja amplamente disseminada.PROCEDIMENTOS METODOLGICOS:

Metodologia:

Este estudo pretende realizar uma interpretao da obra de Walter Benjamin, baseando-se principalmente na leitura de seus comentadores. Nossa estratgia tambm se segue por meio de um levantamento bibliogrfico da crtica especializada; da participao efetiva do orientador no processo de elaborao da monografia; da participao em eventos e em publicaes, a fim de que se promova constante discusso e apresentao dos termos investigados.ATIVIDADE E CRONOGRAMA DE EXECUO:

Descrio dos passos metodolgicos e cronograma de execuo:Divide-se a execuo do projeto em cinco etapas:

1 etapa Levantamento bibliogrfico: pretende-se obter fontes bibliogrficas das principais obras de Walter Benjamin que trabalham a temtica da obra de arte como seus ensaios O conceito de crtica de arte no romantismo alemo (1919), Origem do drama barroco alemo (1928) e a A obra de arte na era da sua reprodutibilidade tcnica (1936), assim como artigos e livros de comentadores e da crtica especializada sobre o tema.2 etapa Leitura e interpretao das fontes coletadas: nesta etapa, procura-se atravs da leitura e fichamento das fontes bibliogrficas a identificao dos termos propostos nos ensaios O conceito de crtica de arte no romantismo alemo (1919), Origem do drama barroco alemo (1928) e a A obra de arte na era da sua reprodutibilidade tcnica (1936). Alm disso, inicia-se um panorama geral dos conceitos e argumentos tratados no projeto.

3 etapa Anlise dos conceitos e argumentos fundamentais extradas da literatura: nesta etapa, as leituras e fichamentos efetuados se tornaram o suporte para a discusso terica e a estruturao da monografia.

4 etapa Formulao e redao do projeto de monografia: estrutura-se, ento, a redao parcial referente s etapas anteriores.

5 etapa Formulao e redao do projeto final de monografia: organiza-se, enfim, o discurso cientfico a partir dos apontamentos da prpria dissertao e da continuidade da pesquisa em resultados definitivos, ou seja, da elaborao da monografia. 1 SEMESTRE2 SEMESTRE

MESES123456789101112

1 ETAPAXXXXXX

2 ETAPAXXXXXX

3 ETAPAXXXXX

4 ETAPAXXXX

5 ETAPAXXXXX

APRESENTAOX

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:

BENJAMIN, W. A obra de arte na poca de sua reprodutibilidade tcnica. In:

Obras escolhidas. Magia e tcnica, arte e poltica. So Paulo: Brasiliense, 1985._________. Obras Escolhidas, v. II, Rua de mo nica, trad. de R.R. Torres F. e J.C.M. Barbosa, So Paulo: Brasiliense, 1987._________. Obras Escolhidas, v. III, Charles Baudelaire, um lrico no auge do capitalismo, trad. de J.C.M. Barbosa e H.A. Baptista, So Paulo: Brasiliense, 1989._________. O Conceito de Crtica de Arte no Romantismo Alemo. So Paulo: Iluminuras, 1999. _________. Origem do Drama Barroco Alemo. So Paulo: Brasiliense, 1984. _________. Sobre Arte, Tcnica, Linguagem e Poltica. Lisboa: Relgio Dgua 1992. 235p. BENJAMIN, W.; SCHOTTKER, D.; BUCK-MOSS, S.; HANSEN, M.. Benjamin e a obra de arte: tcnica, imagem, percepo. Trad. Marijane Lisboa,Vera Ribeiro. Rio de Janeiro. Contraponto, 2012. ROCHLITZ, R.; O Desencantamento da arte: a filosofia de Walter Benjamin. Trad. Maria Elena Ortiz Assumpo. Bauru, SP: EDUSC, 2003. (Col. Cincias Sociais).