obá shango o eterno rei - felipe caprini

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Page 1: Obá Shango o Eterno Rei - Felipe Caprini
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O candomblé Ketu cultua dezenas de Deuses de origem Yorubá. Um dos mais famosos é Shangô, o rei do fogo e dos raios.

Na África se conta a trajetória política desse grande governante. Mas preferi abordar o Shangô que nos é contado dentro dos terreiros, o miraculoso Deus Esposo de Oyá, Oshun e Obá. Mesmo sabendo que muito do que se diz é mito, os mitos para o povo de santo são sagrados.

Existem inúmeras historias sobre Shangô e este livro é baseado em algumas lendas deste Orisha.

Que sejam honradas

Yalodê Yemoja Sessú Yalodê Oshun

Yalodê Oyá Ya Mesan L'Orun YaLodê Yá Massê Malê, Torosi

YaLodê Obá Si

Felipe Caprini 25/02/2014

São Paulo

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OBÁ

SHANGÔ

O ETERNO REI

Um dia eu fui convidado a ir a um ilê Asé, um terreiro de candomblé em São Paulo. Ao chegar ao candomblé eu perguntei que festividade ocorreria naquela noite e me

disseram que era o grande "AMALÁ DE SHANGO". Eu não fazia ideia do que era Amalá e muito menos de quem havia sido Shangô.

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Porém eu nunca me esqueci do que vi, Ayrá e Oyá dançando com tachos de fogo na cabeça, Yemoja dançando para o rei, Oshun e Obá lutando pelo amor do Grande Shangô, e Shangô com o Adê Bayani e depois este mesmo Adê ser entregue a Ajaká, ver Oshalá ser saudado por todos os Orishas... Mas eu queria saber o porque da quilo, o motivo da festa. No candomblé não existe "show sem fundamento" , tudo tem um porque. Perguntei então aos mais velhos quem havia sido Shangô e qual a relação de todos estes Orishas que citei com ele. A história que me contaram foi assim...

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Shangô é um Deus. Mas para ser saber quem ele é realmente vou lhes contar

desde início. A Raiz de Shangô.

Oduduwa era um grande guerreiro Funfun, um conquistador, Oriundo do leste do continente Africano, tido como um eterno rival de Obatalá. Oduduwa fundou o grande reino de Ifé, Ilê-Ifé. Tanto na época como hoje em dia ele é saudado como uma divindade. Observe esta reza a Oduduwa:

Odùdúwa ibá

Bàbá mi a dá ìwa

Odúà , a um ìwa gun

Olóotu ife

Jagun Jagun , a fí wò oju ojo

bàbá mi jí lòwúrò kùtùkùtù

O be e , yeri yerí

Lòde Ife

Odúà

A jagun ségun

O gbo gbaa ibon lójú ogun , kó saa

Odùdúwa o furu bi oyé lóke

O Jagun kó erú

Òrìsà eni nwa ire

Alásé , a wi be se be

A ro be rí be

Ológun gbege

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Odùdúwa gbéra nle ko dide

ki o dide owo

Ki o tún dide olá fún mi o!!!!

Tradução

"Oduduwa sadações! Meu pai, que cria o comportamento

Odua, que faz as pessoas terem boa conduta O harmonizador da cidade de Ifé

O guerreiro que, ao acordar pela manhã anda ativamente por toda cidade de Ifé

O benfeitor que não deixa as pessoas passarem fome

O próspero que semeia a prosperidade na vida dos outros

O bom juiz que julga a favor e contra O senhor do Asé da cidade de Ifé

Odua, o vitorioso que guerreia e vence Ele ouviu o som da espingarda na guerra e não

fugiu Oduduwa que aparece no ar com uma nuvem

Ele guerreou e trouxe muitos escravos Òrìsà dos que procuram sorte

Tudo que ele fala acontece. O senhor do Asé Tudo que ele pensa acontece

Aquele que possuiu magia ativa Oduduwa, levante da terra

Que você levante com dinheiro e que também com prosperidade para mim."

Oduduwa passou a governar o reino de Ifé e as aldeias ao redor. Então ele se estabeleceu ali, teve muitas esposas e muitos

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filhos, todos seus filhos homens foram Reis, e seu sétimo filho foi Oranian.

Oduduwa foi o Fundador de Oyó. Oduduwa possuía em sua corte um homem chamado Adimú, um sacerdote de Ifá. Um dia Oduduwa estava com seu exercito marchando para uma batalha, mas no meio do caminho Adimú disse que Oduduwa deveria parar. E Oduduwa parou e fez um acampamento no meio do caminho a leste de Ifé. Este acampamento prosperou e se tornou uma grande cidade chamada Oyó. Quando Oduduwa retornou a Ifé ele passa o trono a Oranian que foi o segundo regente e o primeiro a receber o título de Alafin de Oyó.

Dizem que Oduduwa veio do Céu, o Orum. Por este fato toda a sua descendência foi sagrada, e muitos familiares seus se tornaram divindades ou Orishas.

Oranian se casou com Torosi, filha de Elempê Rei dos Nupês, também chamados de Tapas. Torosi também era chamada de Yá Massê Malê. Yá Massê e todo povo de Tapa eram adoradores de Yemoja, a qual era considerada a grande Mãe da nação. Alguns Sacerdotes afirmavam que a Princesa Yá Massê era a reencarnação da própria Deusa das Águas Yemoja, e dai surgiu o costume de dizer que Shangô é filho de Yemoja.

Oranian teve muitos filhos, entre eles os mais famosos são o primogênito Ajaká, e os Irmãos Eweká e Shangô.

Shangô foi criado na terra natal de sua mãe, o Reino dos Tapas.

Ele não era herdeiro do trono, então Ajaká foi criado junto ao rei, mas Shangô foi enviado para ser criado em Tapa com sua Família Materna. Shangô desde jovem já era

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voluntarioso e valente. Quando se tornou adulto passou a percorrer todo território africano em busca de viver intensas aventuras. Shangô era muito alto, com braços grossos Músculos. Era um tanto parrudo, se vestia com saiotes vermelhos por ser da realeza. Carregava sempre a Insígnia de seu pai Oranian, O Machado de dois Gumes "Oshê".

Ilê Asé Omó Ayrá

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Shangô era Jovem e belo, e possuía dons. Era guerreiro e feiticeiro pois havia sido iniciado ao culto do Deus Jakutá, o Atirador de pedras, o senhor da justiça e cumpridor das sentenças de Olorum. Dizem que Shangô era a encarnação deste Deus.

Mesmo estando na casa de seus familiares em Tapa, ele se sentia só.

Em uma jornada ele conheceu Obá, uma mulher mais velha que Shangô, mas ainda bela, e resolveu se casar com ela. Obá o tratava como rei, tudo fazia por ele, e o mimava como uma criança. Porem Obá é extremamente ciumenta, e Shangô é livre. Por um bom tempo eles viveram em paz, mas pelo ciúme de Obá ele se aborreceu e foi embora. Mas Obá por ter sido a primeira esposa tinha seus direitos, ela passou a perseguir Shangô por toda parte. Obá também provinha de uma Família ligada ao Orum, era uma mulher valente que não temia nada.

Shangô então continuava sua jornada, mas sempre recebia noticias que Obá estava em seu encalço.

Shangô nesta época começou ser famoso, pois nunca perdia suas batalhas e por ser um negro lindo, viril.

Um dia ele esteve em nas margens de um largo rio, próximo à cidade de Iponda. Ao fazer seu acampamento ali ele foi convidado a conhecer a Rainha. A rainha de Iponda era uma feiticeira tão poderosa quanto as Ajés, está mulher também provinha do Orum, era uma Deusa chamada Oshun.

Oshun já havia tido muitos homens, mas sempre se aborrecida deles e os abandonava. Mas a fama de Shangô era grande, e ela quis saber quem era o homem.

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Ao chegar ao palácio Shangô se admirou. Oshun morava em uma caverna cujo a entrada era encoberta por uma densa Cachoeira. Ele ouviu a voz suave de Oshun dizer "Bem Vindo Shangô", e a cachoeira se dividiu em duas como uma cortina que se abre. Shangô temeu por sua vida, já que nunca havia visto tamanha força em uma mulher. Mesmo assim ele entrou. A casa de Oshun era toda dourada, havia ouro incrustado nas paredes, e espelhos de metal polido por todo lado. Muitas cortinas D'água escondiam algo no centro do palácio. As cortinas se abriram e ele viu Oshun deitada um uma cama coberta com peles de Animais, muito perfumada e enfeitada. Ela era magra mas com curvas acentuadas, tinha fios dourados trançados nos cabelos, usava muitas pulseiras. Ela estava coberta por um lençol dourado transparente e fora isso estava nua. Quando ela viu Shangô lhe disse:

- Shangô... Que belo homem. Shangô tu és forte e valente e por isso gosto de ti. Venha, minha cama é larga...

Shangô estava com medo de Oshun, ela era muito poderosa. Disse então:

- Rainha Oshun eu vejo que não me queres mal, mas peço que abra uma saída, uma porta nos fundos da tua casa.

Oshun estendeu o braço para a parede de pedra e um tufão de água arrebentou a rocha. Shangô vendo a porta aberta ficou aliviado, foi e se deitou com Oshun.

No tempo em que Shangô viveu na casa de Oshun ele foi informado da morte de Oranian seu pai. Oranian havia se tornado um Orisha, e no local onde ele deixou o mundo dos humanos surgiu o Opá Oranian, um altíssimo poste de pedra maciça onde os segredos do Ashé de Oranian foram

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escondidos. Está noticia animou Shangô. Ajaká foi coroado Rei de Oyó. Mas Ajaká poderia contra Shangô?

Shangô de imediato pediu Oshun em casamento e lhe prometeu fazer Rainha de Oyó. Shangô tinha um plano em mente.

No casamento de Shangô houve uma grande confusão. Oshun era Rainha, devido a sua posição foram chamados Babalawos para realizarem a cerimônia e oferecer um precioso Ebó a Olorum. No meio da cerimônia havia o ato em que os noivos comiam uma parte do Ebó, porem neste momento alguém entrou no palácio. Era Obá, em estado de fúria! Gritando ela disse:

- Somente a primeira esposa pode comer do Ebó!

Mas Obá realmente se enfureceu quando olhou para a noiva. Era sua parente Oshun! Obá odiou Oshun por ela mesmo sendo sua parente estar tentado lhe roubar o marido.

Os Babalawos usaram o jogo de Ifá e confirmaram que Obá era realmente a primeira esposa, mas que não poderia comer do Ebó principal, mas sim ter um Ebó somente seu.

O maior medo de Shangô era morrer. Ele em momento algum teve medo dos mortos, dos Eguns. Shangô era sacerdote do Culto a Egungun. Ele não temia os mortos e sim a Morte. Oba olhou para Oshun e lhe perguntou:

- Oshun você sabia que Shangô é meu marido?

Oshun lhe respondeu: - Sim, sabia. Por isso me compadeci de Shangô e aceitei me

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casar com ele. Afinal ele é foi desafortunado no primeiro casamento.

Oshun zombava de Obá, e Obá lhe disse:

- Tu Rainha Oshun, tu traiu seu próprio sangue. Maldita sejas tu.

Na verdade Oshun não se importou em nada com a ira de Oba.

Por um acordo feito, Obá e Oshun continuariam a viver cada uma em sua casa, até que Shangô fosse Rei e as levasse para o palácio de Oyó.

Shangô então voltou a viajar pelo mundo, e então conheceu Onirê Ogun, Rei da cidade de Irê. Ogun conquistara sete aldeias e as unificou as transformando em um único reino, por isso recebeu os títulos "Ogun mejejê" (Ogun dos sete portões de Irê) e "Ogun Onirê" (Ogun Dono de Irê). Ogun saudou Shangô como neto de Oduduwa, que também era familiar de Ogun e por isso Shangô foi bem recebido no palácio de Irê.

Shangô então se hospedou na casa de Ogun, e logo conheceu seis das sete esposas do Rei. Todas esnobes. Ogun fizera acordos políticos e isso incluiu alguns casamentos que eram usados com alianças, porém ele não nutria sentimentos por estas mulheres, ele amava apenas a sétima esposa.

Ogun tinha conhecido uma Feiticeira que se transformava em Búfalo, era Oyá das terras de Irá. Ela podia comandar os espíritos dos mortos e andar no mundo dos Eguns, uma mulher que fazia o vento soprar na direção que quisesse. Ela se tornou a sétima esposa de Ogun. Era uma imortal, não se sabia que idade ela tinha.

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Shangô pernoitou ali, e na manha seguinte partiu rumo a Tapa. Na saída ele conheceu Oyá que estava reunida com seus nove filhos no jardim do palácio. Oyá foi mãe nove vezes, por isso era chamada de Yá Mesan ou Yansã. Os filhos de Oyá eram divindades, todos cheios de dons.

O primogênito se chamava Imalegã, ele que nasceu no primeiro dia da tempestade, Eboykó, arrancado do ventre de Oyá pelas Yá Mí Ajé, e foi envolvido por abanos. Este filho representa o Afèfé (vento).

O segundo era chamado Iorugã, ele que foi envolvido com palha seca e alimentado com talos de bananeira. Este filho representa a vaidade de Oyá, e era o seu preferido.

O terceiro se chamava Akugã, havia nascido no terceiro dia da tempestade e foi criado nas touceiras do bambuzal. Representa a própria rebeldia de Oyá.

O quarto era Urugã, este se alimentava das folhas de bananeira e sempre desaparecia, sempre se escondia na floresta. Representa a determinação e a capacidade de concentração de Oyá.

O quinto era Omorugã, este se Alimentava do pó de bambu que caí no chão. Gostava de viver no milharal. Representa a capacidade de observação e raciocínio de Oyá.

O sexto filho era chamado de Demó, foi ele que Oyá cobriu de lama para saber os segredos de seus inimigos. Representa a agilidade de Oyá.

O sétimo filho era Reigá, ele acompanhava os mortos. Reigá vivia e rondava os cemitérios. Vive escondido nas

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velhas árvores que rodeiam as as sepulturas. Representa o lado vingativo de Oyá.

O oitavo filho foi nomeado Heigá, este era violento e vivia perseguindo o Orí dos Humanos. Representa o lado devastador de Oyá.

O nono filho de Oyá nasceu morto, porém seu corpo se movia como o de um vivo. Era chamado Egun Gun, ele tinha o poder de se apossar do corpo dos seres humanos, lhes propiciando desatinos e desgraças. Representa o lado guerreiro de Oyá, o combate contra os inimigos.

Shangô se espantou com a beleza de Oyá, era maravilhosa. A pele era negra avermelhada, tranças negras até a cintura, era magra e alta e usava um pano da costa longo até os joelhos de um tecido vermelho com desenhos cor de rosa. Ele aguardou até que os filhos de Oyá voltassem para a floresta, e então foi cumprimenta-la. Ele se aproximou dizendo:

- Meus Respeitos a ti Yá Mesan, bela Rainha Oyá!

Oyá se virou, o encarou e respondeu: - Axé. Quem és tu que me interrompe na minha solidão?

Shangô disse: Emi Shangô Olú Iná! ( sou Shangô o senhor do fogo!)

Oyá o encarou, suspirou e disse: - MoJubá Shangô Olú Iná. Ela se caminhou até a varanda do palácio e sentou na escada de pedra.

Shangô ficou intrigado, afinal todas as mulheres o desejavam, já Oyá o tratou com frieza. Este comportamento despertou o interesse de Shangô, ele

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então se sentou ao lado de Oyá na escada de pedra e lhe disse:

- Sou Shangô, da terra dos Tapas. Sou filho da princesa Torosi, Yá Massê. Sou filho de Obá Oranian e irmão de Alafin Ajaká.

Oyá olhou para Shangô e lhe disse: - Alafin Ajaká? O rei Dadá? É um rei muito bondoso o Rei Dadá, Dadá dos cabelos encaracolados... Então conheces Ayrá das terras de Savé?

Shangô respondeu: - Sim de vista apenas. Meu pai o convidou a ser General do exército de Oyó, e desde então ele serve o reino. Mas eu não sou de Oyó, sou de Tapa. Por isso não tenho contato com a corte de Oyó. Mas em breve isto mudará. Responda-me Oyá, tu és mesmo uma mulher que pode se transformar em Búfalo?

Oyá riu e respondeu: Eu nasci em irá e fui criada em Ketu por Baba Odulecê, meu pai adotivo. A floresta tem muitos segredos. E lhe respondendo a pergunta, não sou a mulher que se transforma em búfalo. Sou o Búfalo que se transforma em mulher.

Shangô tocou o ombro de Oyá e lhe indagou: - Oyá de irá, tu tens fama de Guerreira invicta! Ajudaria-me a conquistar o Reino de Oyó?

Oyá lhe disse: Se tens coragem prove, e então lhe ajudarei.

Shangô partiu para tapa, mas antes jurou voltar para Buscar Oyá e torna-la Rainha.

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Shangô então viajou até Tapa, e de tapa ele foi até a terra dos feiticeiros Baribas, famosos por suas poções miraculosas. Shangô encomendou um feitiço que o permitiria cuspir fogo pela boca. Pela complexidade do encanto os feiticeiros disseram que demoraria um ano para se preparar a fórmula.

Shangô então foi ver Oshun em Iponda e Obá em sua casa no litoral. Depois de muito pensar, Shangô mandou um mensageiro a Irê. O mensageiro voltou relatando que Oyá estava só, pois Ogun estava viajando rumo a uma batalha. Shangô então foi buscar Oyá. Ela decidiu não levar seus filhos, eles eram fortes e deveriam agora viver de maneira independente. Porem deixou os seus chifres de Búfalo para que eles usassem como trombeta, chamando por Oyá caso corressem perigo. Oyá fugiu com Shangô e se tornou sua esposa. Shangô e Oyá eram muito parecidos, mas Oyá era mais esperta, ela possuía agilidade de raciocínio. Eles dois planejaram como Shangô tomaria o Trono de Oyó.

Alafin Dadá Ajaká era um homem emotivo, sem tendência a violência. Não gostava de guerras. O povo amava Dadá por ser um rei gentil, mas ao mesmo tempo os cidadãos de Oyó se sentiam desprotegidos já que Dadá era frágil.

O símbolo se Oyó era a coroa do rei, o Adê Oyó, e o plano de Shangô era desmoralizar Dadá Ajaká roubando a coroa e sentando no trono. A coroa do Oyó era feita de cobre e ouro e possuía franjas (filá) de pedras preciosas. Seria um golpe de estado na família Real.

Então o dia chegou, Shangô e Oyá foram para Oyó como quem faz uma visita a um parente. Foram recebidos por Ya

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Massê e a eles foi oferecido um Jantar. No salão real havia uma longa mesa de madeira diante do trono de cobre, a sala era toda branca e o chão coberto por peles de jaguar. No meio do jantar Shangô se pôs de pé e bateu seu Machado Oshê contra a mesa a despedaçando. Dadá Ajaká se assustou com o barulho e em um momento de distração Oyá lhe rouba a coroa e desaparece como um relâmpago. Shangô avança contra Dadá, e então Ya Massê se põe na frente machado, impedindo Shangô de Agredir o Rei. Dadá foge apavorado temendo por sua vida, monta em um cavalo e parte rumo à cidade de Igboho que era tributária de Oyó. Quando Ayrá e os soldados entram na sala do Rei para ver o que acontecera, são surpreendidos por Shangô sentado no trono com a coroa de Oyó na cabeça. Ya Massê chorava inconformada com a traição de Shangô. Como o golpe se deu entre os membros da Família Real, Shangô foi confirmado como rei e então passou a ser chamado de o Quarto Alafin de Oyó.

Shangô agora era Rei.

Dadá se exilou em Igboho, mas ainda assim foi colocado na posição de governador. Em um profundo estado de depressão ele confeccionou para si uma coroa feita inteiramente de Búzios, com longas franjas que lhe cobriam todo o rosto, esta coroa é o famoso "Adê Bayani". Dadá Ajaká só retiraria o Bayani da cabeça no dia em que voltasse a reinar em Oyó.

Em Oyó Shangô foi bem recebido pelo povo, ele tinha fama de conquistador e ainda trouxe consigo três esposas que eram também famosas, legendárias. Por ser tão majestoso ele também passou a ser chamado Obá Irú (Barú) O grande Rei. Mas Ayrá não confiava em Shangô, sabia que um homem que roubou o próprio irmão não era digno de confiança.

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Ilê Asé Ojú Omín

Os anos foram se passando e o Reino de Oyó prosperava financeiramente, mas a preço muito alto. Shangô estava sempre em guerra com as aldeias vizinhas, as conquistando

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ou as obrigando a pagar impostos ao grande Alafin. Oyó tinha riquezas mas não tinha paz, sempre estava em guerra, e sempre se viam viúvas chorando por seus maridos mortos nas batalhas. Na época de Dada isso não acontecia. Dada pensava no povo, ele chorava quando algo ruim acontecia na cidade. Já Shangô queria mais e mais poder e não se importava com as consequências de seus atos.

Um mensageiro foi a Oyó avisar que a fórmula mágica estava pronta, e Shangô era aguardado pelos Feiticeiros Baribas. Mas a terra dos Baribas era longe e Shangô não queria se ausentar por muito tempo, afinal ele tinha medo que roubassem o trono de Oyó tal como ele mesmo havia feito. Ele então pediu que a Rainha Oyá fosse em seu lugar, e ela foi. Era uma viagem de três dias.

Shangô então se pôs a fazer sua tradicional ronda nos arredores de Oyó. Por ser um homem forte ele confiava em si próprio e não andava escoltado. Ao se aproximar de uma ponte de pedra no norte da cidade Shangô foi surpreendido por Ogun, que queria se vingar por Shangô ter roubado sua esposa Oyá. Ali se deu uma intensa batalha, Ogun com sua espada e escudo e Shangô com seu machado e suas pedras Odun Ará se de gladiavam com extrema violência. Lutaram até seus corpos não aguentarem mais, a luta nunca teve fim. Eles empataram. Não se deve nunca dizer o nome de Shangô dentro da casa de Ogun, eles são eternos rivais. A luta se estendeu em várias ocasiões, mas nunca obteve um vencedor, sempre empatados pois possuem poder equivalente um ao outro.

Neste meio tempo Oyá chegou à cidade dos Baribas e então o velho feiticeiro lhe instruiu que somente o rei devia comer do pó vermelho que continha o feitiço. Oyá

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concordou com tudo, porem no meio do caminho não resistiu e comeu metade do pó preparado, porém ela não sentiu diferença alguma. Depois longa viagem Oyá retornou ao palácio de Oyó e entregou a Shangô o pote cujo pó estava armazenado, porem quando ele abriu a embalagem viu que o pó era pouco. Shangô pergunto a Oyá onde estava o restante da magia e quando ela abriu a boca para falar ao invés de palavras o que saiu de sua garganta foi uma densa labareda de fogo vermelho! Shangô entendeu tudo, havia sido traído por Oyá! Ele comeu o pó Bariba e avançou em Oyá, ele cheio de Ódio queria mata-la! Oyá fugiu de Shangô e se escondeu abaixada no meio de um Rebanho de carneiros próximos ao palácio. Shangô estava irado, ele saiu às ruas de Oyó procurando por Oyá, e toda vez que ele gritava saiam chamas de sua boca. As chamas atingiram os telhados de palha das casas na cidade, e logo um incêndio se formou. Shangô continuava a expelir fogo pela boca, e então ele ouviu seus súditos gritando:

"Má inã Inã má Inã Inã uá" (Não mande fogo sobre nós)

A cidade estava em Chamas, e muitos inocentes morreram queimados. O povo de Oyó chorava pela grande calamidade. Metade da cidade foi destruída, porem Shangô conseguiu reconstruir o reino. Ainda assim o povo passou e detestar Shangô, ele era chamado de Rei inconsequente. Obá Shangô passou de honrado a Tirano. Ayrá amava o povo de Oyó e vendo aquele desastre resolve arranjar uma maneira de ajudar Dadá a recuperar e trono.

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A partir dai Shangô e Oyá compartilharam do poder sobre o Fogo. O fogo Vermelho não os queimava, e eles podiam cuspir labaredas pela boca. O fogo Azul do Orum (Raios) eram manipulados por eles.

Porem nem depois do incêndio ele desistiu das Guerras. Havia um povo que não se rendia a Shangô de maneira alguma, era a cidade dos Malês, os muçulmanos. As tropas de Oyó nunca tinham sucesso ao tentar subjugar a cidade. Então o próprio Shangô resolveu invadir a cidade. Com o auxílio de Oyá eles foram até os portões dos malês e exigiram entrar, mas não foram recebidos. Avisaram então que no dia seguinte pelejariam contra a cidade, e assim foi. Ao anoitecer os Males ouviram um terrível estrondo, e os atalaias soaram o alarme. Quando olharam para o horizonte viram uma cena assustadora, Oyá estava em chamas marchando em direção à cidade e Shangô vinha atrás atirando suas pedras Raio (Odun Ará). Não houve confronto, Os Males se renderam e se curvaram a Shangô. O rei foi tão bem tratado que em honra a este povo ele abandonou o habito de se alimentar de suínos. Por decreto de Obá Shangô, ele e seus filhos não podem mais comer carne de porcos.

Shangô continuava cada vez mais rico, e Oyó era a maior cidade de toda África ocidental.

O grande Oshalá soube da Fama que Shangô havia alcançado e resolveu enviar um presente a ele, um Cavalo Branco de porte marchador, e Shangô amou o cavalo. Era realmente um presente digno de um Rei.

Muito contente Shangô decidiu fazer uma grande festa em Oyó, e convidou todas as personalidades importantes da África que foram recepcionados por ele e suas belas esposas. Estavam presentes Oshóci AlaKetu, Oti de Okerê, Osayn de Yraô, Os irmãos de Karê, Ologun de Edé

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(acompanhado por sua mãe Oshun), Yewá e Oshumarê de Dahomé, Oshoguian Elegibô, Eshú de Ketu e muitos outros nomes importantes, até mesmo o Onirê compareceu. No meio da festa Oyá perguntou a Shangô onde estava seu amigo Obaluaye Rei dos Jejes, e Shangô lhe revelou que não o havia convidado, justificou-se dizendo que ele era Leproso, que tinha varíola e que suas palhas não eram atraentes e que por isso seu lugar não era ali. Todos os convidados deram as costas a Shangô e abandonaram a festa, incluindo suas esposas que foram junto com os demais pedir perdão a Omulú. Obaluaye estava sozinho em sua casa, e ficou muito triste em saber que havia sido desprezado por ter uma aparência diferente. A partir deste dia todo ano Obaluaye da uma grande festa chamada Olubajé. Oyá é quem retira o "carrego" e limpa a casa de tudo o que é ruim, e Oyá e Obaluaye são muito amigos. Porém Shangô é proibido de adentrar a casa de Omulú. No Banquete do Rei da terra todos são bem vindos, exceto Shangô.

No Palácio de Shangô Oshun é quem cozinhava, pois Oyá e Obá eram Guerreiras e só Oshun ficava no palácio. Shangô adorava estar com Oshun, ela preparava o seu prato preferido, o Amalá feito de quiabo, cebola, pó de camarão, sal e azeite de dendê. Shangô comia até se fartar, e sempre elogiava o talento e dedicação de Oshun para com ele. Obá se encheu de Inveja e perguntou a Oshun o que ela colocava no Amalá para que Shangô gostasse tanto. Oshun era uma mulher muito esperta, e então decidiu enganar Obá. Oshun disse que Shangô era adepto de canibalismo, que isso era um rito religioso dele e que se obá cortasse um orelha e colocasse sobre o Amalá de Shangô ele a amaria e seria grato. Isso tudo era mentira, Shangô tinha abominação pelos canibais. Isso tudo era na verdade uma armadilha de Oshun.

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Ilê Asé Edún Ará Okun

Obá pensou e repensou, e por muitos dias ficou calculando o tamanho do seu amor por Shangô. Ela então decidiu: Amputaria sim as Duas Orelhas em Amor ao Rei. Sozinha na beira do Rio ela se mutilou e lavou sua carne. No jantar Obá preparou um Amalá e sobre ele colocou as Orelhas. Shangô se sentou e Viu a gamela coberta com um tecido, e o cheiro de Quiabo o agradava muito, mas ao retirar o pano ele arregalou os olhos e não acreditou no que viu, eram Orelhas Humanas em sua comida! Ele arremessou a gamela no meio da casa e disse:

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- Quem foi o ser amaldiçoado que fez isto no meu Amalá?!

Oshun prontamente gritou: - Foi Obá! Obá é invejosa e enfeitiçou sua Comida Shangô!

Obá estava estática, ela acabara de perceber que havia sido enganada. Obá disse: - Shangô! Não me amaldiçoe! Foi Oshun que me disse que tu comia carne humana e que me amaria se eu lhe desse as minhas orelhas!

Oshun falou - Que Absurdo! Como alguém pode comparar o Grande Alafin a um Canibal? Obá tentou malejar sua comida Shangô! Obá e uma mulher terrível!

Obá Começou a chorar e suas feridas sangraram. Shangô ficou confuso, não sabia em quem acreditar, então furioso bateu seu Oshê no chão e um raio invadiu a sala. Apavoradas Oshun e Obá se transformaram em Água, estás aguas tomaram diferentes cursos e se tornaram rios. A partir daquele dia Oyá se tornou a única rainha.

Oshun não voltou ao palácio de Oyó, ela foi para Oshobô e Ijeshá e por favorecer o Rei Ibadan ela foi feita Deusa protetora de Muitas Cidades.

Obá ainda amava Shangô mas pela humilhação que passou ela nunca mais voltou a Oyó. Ela foi para Ketu e foi companheira de Oshoci AlaKetu, Depois foi para Okó e fundou a Sociedade feminina de Okó, Obá era agora Elekó (senhora de Okó).

Shangô e Oyá fizeram muitas coisas juntos, Fundaram o Culto a Egungun em Oyó, conseguiram conhecer as folhas de Osayn, Conquistaram inúmeras aldeias e venceram muitas batalhas.

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Shangô teve um relacionamento extraconjugal com Yewá da casa dos Voduns. Ele a iludiu, a prometeu casamento, mas depois de se deitar com ela ele a abandonou. Oyá se enfureceu e passou a caçar Yewá por toda a parte pois elas eram amigas e isso para Oyá era uma extrema traiçao.Yewa fugiu, e o motivo de Yewá ter fugido é que ela ficou grávida de Shangô, ela deu a luz a meninos Gêmeos. Se conta que um dia Yewá e seus filhos se perderam na floresta, era uma época de seca e os bebês padeciam de sede. Yewá usou seu Ashé e se transformou em uma nascente de Água, esta nascente foi tão farta que se transformou em um rio, "Odô Ewá". Yewá agora raramente é vista em forma humana, ela durante o dia assume a aparência de serpente, que é sua herança dos Deuses Jejes, e durante a noite ela é a névoa do Rio, nevoa mortífera que engole os Homens.

O quarto Alafin era muito poderoso. Shangô se era temido em toda África.

"Bi E Tu Bá Wó Ile Jejene Ni Mú Ewure Bi Sango Bá Wó Ile

Jejene Ni Mú Osa Gbogbo"

(Se um antílope entrar na casa A cabra sentirá medo.

Se Sango entra na casa Todos os Orisa sentirão medo.)

O tempo passou e um dia o velho Oshalá Olufon resolveu deixar a cidade de Ijeshá e ir para Igibô visitar Oshoguian o

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Rei Elegibô. Como Oyó era próxima a Igibô Oshalá foi ver o Grande Alafin. Oshalá era bendito por toda África. Os servos de Shangô deixavam o cavalo branco de o rei pastar na porta da cidade. Oshalá viu o cavalo e o reconheceu, notou que estava muito bem tratado, então o tomou pela rédea e foi adentrando em Oyó. Os guardas viram aquele velho com o cavalo do rei e o acusaram de ser um ladrão, disseram a Shangô que um velho tentou roubar o cavalo e Shangô disse: - Como alguém ousa tocar no cavalo que ganhei de Babá Oshalá? Que este velho seja jogado na prisão, e que lá fique até a sua morte.

Oshalá foi injustamente atirado em uma cela suja no subsolo do palácio, as masmorras de Oyó. Oshalá não disse nada, mas se vingou da injustiça. Com seu poder ele fez a terra secar e Oyó cair em pestilência e miséria. Shangô então procurou o Babalawo da Cidade, o Oni. Ele lhe respondeu que havia uma injustiça na cidade, que um prisioneiro que há sete anos sofria uma pena injusta, e que ele havia amaldiçoado Oyó. Na mesma hora Shangô Correu para as masmorras e procurou em todas as celas o homem inocente. Na cela mais suja e Úmida Shangô ouviu uma voz rouca que era familiar a Shangô, mas ao entrar na cela o rei não creu no que viu, pois era Oshalá o prisioneiro. Para se redimir Shangô usou Branco e faz muitas festas em homenagem ao Obá Funfun. Quando Shangô esta perante Oshalá ele recebe o nome de "Shangô Alufan". Oshalá o perdoou mas jamais esqueceu esta injustiça. P povo de Oyó mais uma vez sofreu por culpa de Shangô, além da seca que afligia a cidade, agora todos os reinos maldiziam Oyó, pois em Oyó o grande Oshalá foi tratado como um criminoso. As coisas iam de mal a pior, Shangô temia que o povo lhe rejeitasse. Oyó padecia pela inconsequência do quarto Alafin.

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Ayrá foi até Igboho ver Dadá. Ele gostava muito de Ajaká e queria velo de volta a Oyó, e então fizeram uma aliança, se dada recuperasse a coroa de Oyó ele lutaria pelo título de Alafin e Ayrá se comprometeu a ajudar Dadá a seria rei novamente. Ayrá viajou até a casa de Orunmilá e pediu que ele jogasse seu opelê, e perguntou onde estava a Coroa de Oyó. O os Odús de Ifá lhe revelaram que a coroa estava escondida no mundo dos Eguns e era protegida por Oyá. Ayrá também era feiticeiro e por isso sabia onde ficava o mundo dos mortos, e então foi buscar a coroa.

Ayrá desceu ao Orum Àpáàdì, o Orum dos Espíritos maus, e adentrou a casa dos mortos. Para não ser ferido, Ayrá se vestiu com roupas parecidas com as de Oyá e levou um Tacho de fogo aceso na cabeça. Os espíritos deram passagem, pois pensaram que Ayrá era Oyá a rainha dos Eguns. Ayrá encontro a coroa de Oyó e então partiu a Igboho para entrega-la a Ajaká. Dadá ao ver a coroa se encheu de Coragem e mandou avisar a todo povo do Oyó que o Verdadeiro Rei estava voltando. Ajaká, o terceiro Alafin iria em breve atacar o palácio.

Shangô ordenou que o povo e os soldados lutassem por ele, mas não foi atendido. O povo queria a paz de Dadá novamente, e então desprezaram Shangô. Shangô se viu só, mas por Conselho de Torossi ele com muita dor abandonou o palácio e fugiu para Tapa onde se esconderia. Por um decreto de Oranian Oyó jamais poderia atacar Tapa. Oyá não estava em Oyó, ela estava viajando em batalha e por isso Shangô estava realmente sozinho. Dadá quebrou o decreto e marchou rumo à Tapa para se vingar de Shangô.

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Ao chegar a Tapa Shangô não foi para a casa do rei, ele foi para a floresta. Ele levava uma corda consigo. Shangô estava se sentindo perdido e desesperado. Ele não era mais o Alafin e por isso a sua vida não tinha mais sentido. Muitos cidadãos de Tapa viram Shangô entrando na floresta e o seguiram para ver oque ele faria. Shangô foi até a maior arvore da floresta, a grande arvore Ayòn. Subiu em um galho, amarrou a corda na arvore e ficou ali a pensar em sua vida. Shangô Neto de Oduduwa, filho de Oranian, marido de Oyá, Oshun e Obá, filho da grande Rainha Torosi, ele era o rei deposto e amaldiçoado por seus súditos. Shangô não suportou a dor de ser expulso de Oyó. Enlaçou a corda no pescoço e pulou do galho. O rei se suicidou.

Alguns aldeões viram o corpo de Shangô Balançando, inerte na corda. Logo todos gritaram: Obá Sô (o Rei se enforcou), mas em seguida um som trovão invadiu a floresta, e o corpo se Shangô desapareceu. O céu ficou vermelho, e viram Shangô lançando raios nas nuvens. Shangô agora era um espírito, e todos disseram, Obá Kô Sô (o Rei não se enforcou).

O povo viu que Shangô mesmo morto era forte. Todos renderam homenagem ao Rei Shangô, e a partir deste dia ele foi chamado de SHANGO OBÁ KO SO.

Oyá então retornou a Oyó e viu Ajaká no trono. Ayrá lhe contou do suicídio de Shangô. Oyá se desesperou, ela amava o Rei, queria velo novamente. Ela procurou por Shangô no mundo dos mortos mas não o encontrou. Oyá foi até Orunmilá querendo saber onde andava o espírito de Shangô. O Ifá lhe revelou que. Shangô não era um Egun, mas que era uma deidade do Orum, só com a permissão de Olorum ela poderia ver Shangô novamente.

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Então Orunmilá recomendou que Oyá fizesse o Ebó a Olorum, que ao grande Deus ela desse uma boa Oferenda. Oyá então foi ao monte mais alto da região e no cume ela depositou todas as suas riquezas e muitas iguarias para oferecer a Olorum. Mas o mais importante é que Oyá deu Akarajé a Olorum. Como Olorum tem aversão a dendê ela fritou o Akará em óleo Branco, e então fez o Akará Funfun.

No topo do monte com o coração partido e lagrimas escorrendo dos olhos ela entregou seu Ebó e cantou a Olorum:

"Oyá ba Mishorô Mishorô ê... Akará Funfun Ebó ami Arê... Oyá ba Mishorô Mishorô ê... Akará Funfun Ebó ami Arê...

ToKan... ToKan... Elenuê... Ajê Malá Ajê Arê...

ToKan... Tokan... Obá Kô Sô nítà Weshê Arê..."

Olorum se comoveu com o tamanho do amor de Oya, que só desejava ver seu marido mais uma vez. Olorum então elevou Oya e Shango a espíritos "Imolé", ou seja, o casal do Dendê agora eram Orishas. Shango e Oya desde então vivem juntos, e dançam nas nuvens de tempestade.

Depois da Morte e elevação do Shango a nivel divino, um culto foi dedicado a ele na cidade de Oyó. O culto era organizado por doze Obás, Obá Aré, Obá Kankanfô, Obá Odofim, Obá Arolú, Obá Telá, Obá Abiodun, Obá Onikoyi,

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Obá Olugbom, Obá Onanshokum, Obá Eleryim, Obá Aressá e Obá Shórum. Estes Obás até os dias de hoje zelam pelo culto a Orisha Shango.

Shangô se tornou um Deus tão poderoso que ganhou de Ifá a honra de ser representado por dois Odús (obará Meji e Ejilasheborá Meji) e principalmente por se tornar o próprio Odú Obará Meji.

Shangô é um Orisha! Sua saudação é : Kawó-Kabiesilé

Aqui contei uma das inúmeras versões existentes da vida de Obá Shangô.

No Brasil Shangô é adorado em três nações do candomblé, Ketu, Nagô e Efon. Muitos são iniciados a este Orisha. Por ser uma divindade milenar ele acabou por ter seu culto estabelecido em diversos locais e por isso recebeu nomes diferentes dependendo da região ou período. Os nomes de Shangô são Alufan, Afonjá, Aganju, Agodo, Barú, Obain, Oranfé, Obalubé, Oroinã, Jakutá, entre outros.

A Família real de Oyó foi toda elevada ao Orum. Oduduwa, Oranian, Ya Massê Malê, Dadá e Shangô são todos Orishas. A rusga dos irmãos foi intensa na terra, mas no Orum eles fizeram as pazes, e por desejo de Shangô em suas festividades se homenageia Primero a Dadá e depois Shangô, como uma forma de dizer que o respeito à hierarquia foi reestabelecido na casa de Oyó.

Quem ler e entender a história vai perceber que Shangô cometeu muitos erros durante a sua vida. O lema do

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candomblé é que só se pode dar aquilo que recebeu, aquilo que viveu, ou seja, a vida de Shangô foi um Aprendizado. Ele passou por tudo e muito aprendeu, por isso é que pode julgar e separar o justo do injusto, agora sim ele pode governar, e hoje ele reina na vida de muitos de seus filhos. Salve Shangô.

Babalorishá Balbino Daniel De Paula (Obarayi)

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KA’WO KA’BIYESILE ETALA MO JUBA GADAGBA MI JUBA

OLUOYO ETALA MO JUBA GADAGBA MOJUBA

OBA KO SO ETALA MO JUBA GADAGBA MOJUBA

ÀSÉ

Tradução:

Eu cumprimento o Rei 13 vezes eu o cumprimento a ti

Chefe do vulcão 13 vezes eu o cumprimento a ti

Rei que não se enforcou 13 vezes eu o cumprimento a ti

Ashé

Mô jubá

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Autor Felipe Caprini, criador e ilustrador da

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