o tratado da parceria transpacífico (tpp) - ccgi.fgv.br · 1. regulação do comércio...
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O Tratado da Parceria
Transpacfico (TPP)
Vera Thorstensen
Thiago Nogueira
(Coordenadores)
Impactos do novo Marco Regulatrio
para o Brasil
So Paulo
2017
O Tratado da Parceria Transpacfico (TPP):
impactos do novo marco regulatrio para o Brasil
VERA THORSTENSEN
THIAGO RODRIGUES SO MARCOS NOGUEIRA
(Coordenadores)
VT So Paulo
2017
T522 Thorstensen, Vera Helena. Nogueira, Thiago Rodrigues So Marcos.
O Tratado da Parceria Transpacfico (TPP): impactos do novo marco
regulatrio para o Brasil / Vera Helena Thorstensen; Thiago Rodrigues So
Marcos Nogueira. / So Paulo: VT Assessoria Consultoria e Treinamento Ltda.,
2017.
527p.
ISBN: 978-85-66977-04-2
1. Regulao do Comrcio Internacional. 2. Acordos Regionais de
Comrcio. 3. Coerncia e Convergncia Regulatrias. 4. Desalinhamentos
cambiais. I. Ttulo
CDD 320
CDU 382.7
desta edio [2017] VT Assessoria Consultoria e Treinamento Ltda.
Tel.: (11) 3799-7926 http://ccgi.fgv.br [email protected]
Os Coordenadores
Vera Thorstensen
Professora da Escola de Economia de So Paulo da Fundao Getlio Vargas
(EESP/FGV) e fundadora do Centro de Estudos do Comrcio Global e
Investimentos da EESP/FGV (CCGI). Coordenadora da Ctedra OMC no Brasil
(2014) e Presidente do Comit Brasileiro de Barreiras Tcnicas ao Comrcio
(CBTC), do INMETRO (2014). Foi Assessora Econmica da Misso do Brasil na
OMC (1995-2010), editora-chefe da Carta de Genebra, e Presidente do Comit
sobre Regras de Origem da OMC (2004-2010).
Thiago Rodrigues So Marcos Nogueira
Doutorando em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de
So Paulo e pela Universidade de Maastricht, na Holanda. Mestre e bacharel pela
Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo. Coordenador Jurdico e
pesquisador no Centro de Estudos do Comrcio Global e Investimentos (CCGI) da
EESP-FGV. Fellow do The Ryoichi Sasakawa Young Leaders Fellowship Fund
da Fundao Tquio (2012). Foi pesquisador visitante na Universidade de
Georgetown e Fellow do Institute of International Economic Law (IIEL) (2015-
2016).
Equipe de Pesquisa Alebe Mesquita
Mestrando em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de
So Paulo. Bacharel em Direito pelo Centro Universitrio Christus, no Cear.
Estagirio no Swiss Federal Institute of Intellectual Property (IPI). Pesquisador
visitante no World Trade Institute (WTI) da Universidade de Berna, Sua.
Fernanda Bertolaccini
Mestre em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de So
Paulo, instituio em que tambm bacharel. Pesquisadora no Centro de Estudos do
Comrcio Global e Investimentos (CCGI) da EESP-FGV. especialista em Meio
Ambiente e Sustentabilidade.
Mauro Arima Jr.
Doutorando em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de
So Paulo. Mestre e bacharel em Direito pela mesma instituio. Pesquisador no
Centro de Estudos do Comrcio Global e Investimentos da EESPFGV.
Tiago Megale
Mestrando em administrao internacional na Escola de Administrao de
Empresas de So Paulo da Fundao Getlio Vargas (EAESP-FGV). Pesquisador
no Centro de Estudos do Comrcio Global e Investimentos (CCGI) da EESP-FGV.
Vivian Gabriel
Doutoranda em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de
So Paulo (2016) e mestre com distino pela mesma instituio (2015).
Pesquisadora no Centro de Estudos do Comrcio Global e Investimentos (CCGI) da
EESP-FGV. Foi advogada-estagiria da CGC do MRE em 2014.
6
NDICE
Apresentao ........................................................................................................................... 9 1. Introduo....................................................................................................................... 11 2. Comrcio de Bens: Tratamento Nacional e Acesso a Mercados ................................... 52 3. Regras de Origem ......................................................................................................... 105 4. Coerncia Regulatria, Barreiras Tcnicas, Sanitrias e Fitossanitrias ..................... 130 5. Comrcio de Servios e Servios Financeiros ............................................................. 197 6. Investimentos ............................................................................................................... 239 7. Propriedade Intelectual ................................................................................................. 268 8. Polticas Macroeconmicas e Cmbio ......................................................................... 296 9. Compras Governamentais ............................................................................................ 322 10. Transparncia e Anticorrupo .................................................................................... 351 11. Defesa Comercial, Facilitao de Comrcio e Administrao Aduaneira ................... 358 12. Meio Ambiente ............................................................................................................. 368 13. Txteis .......................................................................................................................... 393 14. Telecomunicaes e Comrcio Eletrnico ................................................................... 406 15. Padres Trabalhistas ..................................................................................................... 429 16. Novssimos Temas ....................................................................................................... 441 17. Soluo de Controvrsias ............................................................................................. 482 18. Notas sobre as Excees e Flexibilidades no TPP ....................................................... 510 19. Concluses e Consideraes Finais.............................................................................. 542
7
ndice de Tabelas Tabela 1 Perfil comercial e tarifrio (comrcio de bens) (2014) ........................................................................ 15 Tabela 2 Comrcio de Servios e Registro de Patentes e Marcas (2014) ........................................................... 19 Tabela 3 Status de ratificao de tratados multilaterais de meio ambiente por pas do TPP .............................. 36 Tabela 4 Critrios de apreciao dos captulos do TPP ...................................................................................... 41 Tabela 5 Quadro Geral do contedo do TPP ...................................................................................................... 44 Tabela 6 Acordos Preferenciais de Comrcio por pas do TPP (ano de entrada em vigor) ................................ 54 Tabela 7 Mdia tarifria ponderada bilateral anterior ao TPP ............................................................................ 55 Tabela 8 Resumo das tarifas sob a Clusula da Nao Mais Favorecida e sob o TPP ....................................... 56 Tabela 9 Valores de comrcio agrcola e balana comercia do TPP, 2012 ........................................................ 58 Tabela 10 EUA: Alterao de volume de quotas tarifrias para parceiros especficos ....................................... 71 Tabela 11 Lista de Excees contidas nos Anexos do Captulo 2 do TPP ......................................................... 72 Tabela 12 Exportaes Brasil-Austrlia: principais produtos (2015) ................................................................. 77 Tabela 13 Exportaes Brasil-Brunei: principais produtos (2015) ..................................................................... 78 Tabela 14 Exportaes Brasil-Canad: principais produtos (2015) .................................................................... 78 Tabela 15 Exportaes Brasil-Chile: principais produtos (2015) ....................................................................... 80 Tabela 16 Exportaes Brasil-Cingapura: principais produtos (2015) ............................................................... 80 Tabela 17 Exportaes Brasil-EUA: principais produtos (2015) ....................................................................... 81 Tabela 18 Exportaes Brasil-Japo: principais produtos (2015) ...................................................................... 82 Tabela 19 Exportaes Brasil-Malsia: principais produtos (2015) ................................................................... 83 Tabela 20 Exportaes Brasil-Mxico: principais produtos (2015) ................................................................... 84 Tabela 21 Exportaes Brasil-Nova Zelndia: principais produtos (2015) ........................................................ 84 Tabela 22 Exportaes Brasil-Peru: principais produtos (2015) ........................................................................ 85 Tabela 23 Exportaes Brasil-Vietn: principais produtos (2015) ..................................................................... 86 Tabela 24 Perfil tarifrio das Partes do TPP para bens agrcolas ....................................................................... 88 Tabela 25 Exportaes brasileiras de caf: principais destinos .......................................................................... 92 Tabela 26 Exportaes brasileiras de soja in natura de 01/2015 a 01/2016 ........................................................ 94 Tabela 27 Mtodos para determinao de origem ............................................................................................ 108 Tabela 28 Anlise comparativa entre o TPP e o Acordo sobre TBT da OMC ................................................. 152 Tabela 29 Anlise Comparativa entre o TPP e o Acordo sobre SPS da OMC ................................................. 183 Tabela 30 Anlise Comparativa entre o TPP e o GATS ................................................................................... 208 Tabela 31 Compromissos do Brasil em Servios Financeiros no GATS.......................................................... 233 Tabela 32 Acordos de Propriedade Intelectual retomados pelo TPP ................................................................ 269 Tabela 33 Direitos de Propriedade Intelectual regulados pelo TPP .................................................................. 279 Tabela 34 Anlise Comparativa entre o TPP e o Acordo TRIPS/OMC ........................................................... 282 Tabela 35 Critrios do Departamento do Tesouro para Incio de um enhanced bilateral engagement ............. 309 Tabela 36 Parceiros Comerciais dos EUA includos na Monitoring List ......................................................... 310 Tabela 37 Resultado da Balana Comercial Bilateral entre Brasil e EUA ....................................................... 311 Tabela 38 Resultado da Conta Corrente em Relao ao PIB para o Brasil ...................................................... 311 Tabela 39 Lista de atividades no abrangeidas pelo Captulo sobre Compras Governamentais ...................... 330 Tabela 40 Direitos Fundamentais em vigor com base na OIT, por Parte do TPP ............................................ 437 Tabela 41 Comparao entre os Sistemas de Soluo de Controvrsias do TPP e o da OMC ......................... 505
8
ndice de Figuras Figura 1 PIB nominal (2014) e renda per capita (2015) dos pases do TPP ....................................................... 12 Figura 2 Populao dos pases do TPP (2015) .................................................................................................... 13 Figura 3 rea territorial e rea agricultvel dos pases do TPP (2011) .............................................................. 13 Figura 4 Comrcio de bens dos pases do TPP (2014) ....................................................................................... 14 Figura 5 Participao dos principais destinos de exportaes (2014) ................................................................. 16 Figura 6 Principais origens de importaes (2014) ............................................................................................ 17 Figura 7 Mdia das Tarifas aplicadas e consolidadas na OMC (2014) ............................................................... 18 Figura 8 Fluxo do Comrcio de Servios (2014) ................................................................................................ 19 Figura 9 Exportao de Servios por setor e pas do TPP (2014) ....................................................................... 22 Figura 10 Importao de Servios por setor e pas do TPP (2014) ..................................................................... 23 Figura 11 Nmero de registros de patentes e marcas (2014) .............................................................................. 24 Figura 12 Ingresso* de IED nos pases do TPP (2015) ...................................................................................... 25 Figura 13 Estoque de IED nos pases do TPP (2015) ......................................................................................... 26 Figura 14 TPP v. Resto do Mundo: PIB, fluxo de IED, exportaes e populao (2015) .................................. 27 Figura 15 TPP v. UE: PIB, IED, populao e territrio (2015) .......................................................................... 28 Figura 16 Desenvolvimento humano e desigualdade de renda (2015) ............................................................... 29 Figura 17 Fora de trabalho e taxa de sindicalizao (2015) .............................................................................. 30 Figura 18 Fora de Trabalho: anos de estudo e ensino superior (2015) ............................................................. 31 Figura 19 Convenes da OIT ratificadas por pas do TPP (2015) .................................................................... 32 Figura 20 Convenes fundamentais da OIT ratificadas por pas do TPP (2015) .............................................. 33 Figura 21 Produo e consumo de energia e emisso de CO2 (2014) ................................................................. 34 Figura 22 rea florestal preservada (2014) e o ndice de biodiversidade* (2008) por pas do TPP ................... 35 Figura 23 Critrios de Classificao dos Captulos do TPP ............................................................................... 40 Figura 24 Nveis de inovao temtica no TPP .................................................................................................. 42 Figura 25 Condies de vigncia do TPP ........................................................................................................... 48 Figura 26 Reduo tarifria de produtos especficos .......................................................................................... 53 Figura 27 Balana comercial agrcola dos pases do TPP (US$ bilhes) ........................................................... 58 Figura 28 Japo: Exportaes de automveis (US$ bilhes) .............................................................................. 59 Figura 29 EUA: exportaes de automveis (US$ bilhes) ............................................................................... 59 Figura 30 Ganho real de renda das Partes e de outros pases (spillovers), em US$ bilhes ............................... 74 Figura 31 Composio dos efeitos do TPP sobre a renda, em US$ bilhes ....................................................... 76 Figura 32 Exportaes brasileiras para os pases do TPP, em US$ bilhes ........................................................ 77 Figura 33 Crescimento da produo de leite no Brasil, em milhes de litros ..................................................... 90 Figura 34 Produo de soja no Brasil e nos EUA (milhes de toneladas) .......................................................... 93 Figura 35 Produo mundial de soja em 2020 (em milhes de toneladas) ......................................................... 94 Figura 36 Exportaes brasileiras de manufaturados ....................................................................................... 101 Figura 37 Rito de Soluo de Controvrsias do TPP ........................................................................................ 495 Figura 38 Competncia Temtica dos Sistemas de Soluo de Controvrsias previstos pelo TPP .................. 501
9
Apresentao
O governo dos EUA acaba de anunciar nova estratgia para sua poltica de
comrcio internacional. A fase dos megas-acordos foi substituda por negociaes
bilaterais, incluindo renegociaes com os antigos parceiros (ex. NAFTA) e negociaes
bilaterais para novos acordos (ex. com Japo). Os EUA se retiraram do TPP
Transpacific Partnership, mega-acordo arquitetado pelo anterior governo dos EUA, com
mais 11 parceiros da sia e das Amricas, desmontando aquele que seria o novo modelo
para o comrcio internacional de bens agrcolas e industriais, servios, e mais uma srie
de temas de comrcio no cobertos pela OMC.
Esse acordo, que foi liderado pelos EUA, tinha como principal propsito a
redefinio das regras de comrcio internacional. A meta seria redefinir a posio dos
EUA na rea do Pacfico e criar novas regras para o comrcio da sia com a China
ainda que esse pas no fosse parte do TPP e se concentrasse na criao da sua prpria
zona de influncia com a RECEP Regional Economic Cooperaton Partnership, que
inclui ndia, Japo e Coria, em um total de 16 pases da regio.
No se sabe, ainda, o futuro do TPP. No entanto, apesar da posio dos EUA, o
modelo do TPP no foi destrudo. Muito pelo contrrio, com o impasse de negociaes na
OMC, seu texto passou a ser considerado como marco regulatrio para novos acordos
preferenciais de comrcio.
Sendo assim, a anlise dos temas que fazem parte do TPP so de interesse para o
Brasil, no s para examinar os pontos considerados OMC plus, mas principalmente, os
que esto fora da estrutura da OMC, os chamados temas OMC extra, que o Brasil
certamente ter que enfrentar quando negociar novos acordos preferenciais.
O Brasil, por sua vez, atravessa uma de suas mais profundas crises poltica e
econmica e, na agenda de comrcio internacional, surge mais um grande desafio. Na
ltima dcada, o Brasil priorizou alianas apenas com pases emergentes, negociando
preferncias comerciais com pases do eixo sul-sul, como Amrica do Sul e frica, alm
de concentrar seus esforos nos foros multilaterais, enquanto crescia o movimento de
acordos preferenciais, que acabaria por reforar o isolamento do pas. Com escassos
resultados a demonstrar, o Brasil, com um novo governo instalado desde agosto de 2016,
apresenta nova postura e discurso com relao a sua Poltica Externa e de Comrcio
Internacional.
10
A mudana de discurso dever ser pautada por aes em um momento de
profundas transformaes no comrcio internacional. A opo de aproximar o Mercosul
da Unio Europeia, em negociao, ter que enfrentar as incertezas geradas pelo
referendo realizado no Reino Unido que resultou na sua sada da Unio Europeia. Uma
eventual aproximao com os EUA poder ser pensada a partir de parcerias temticas,
agora sob um novo quadro regulatrio.
Por seu potencial de impacto no apenas econmico, mas principalmente
regulatrio, o Centro de Estudos do Comrcio Global e Investimentos (CCGI) da Escola
de Economia de So Paulo da FGV tomou a deciso de realizar uma anlise profunda
desse novo regime regulatrio, bem como de seus impactos sobre o quadro de regras de
comrcio do Brasil. A equipe do CCGI-EESP/FGV, formada por jovens advogados e
economistas se debruou sobre as muitas pginas do TPP buscando elementos que
pudessem ser de interesse para os formuladores e operadores da Poltica de Comrcio
Exterior do Brasil, tanto no setor pblico quanto no privado.
As pginas que se seguem apresentam o esforo de anlise empreendido e
detalham as regras do TPP como o novo marco do comrcio internacional.
So Paulo, fevereiro de 2017.
Vera Thorstensen
11
1. Introduo
Vera Helena Thorstensen, Thiago Nogueira, Mauro Arima Jr.
O reconhecido impasse das negociaes na Organizao Mundial do Comrcio
(OMC), especialmente pelas incertezas sobre o encerramento ou no da Rodada Doha,
contribuiu para a emergncia de uma nova gerao de acordos preferenciais de comrcio.
As negociaes bilaterais e regionais se tornaram instrumento prioritrio de dinamizao
do comrcio internacional. Esses acordos passaram a reger aspectos comerciais e
econmicos que no se limitam mais s barreiras tarifrias e ao acesso a mercados de
bens e servios, ampliando os seus temas, incluindo reas tanto direta quanto
indiretamente relacionadas ao comrcio.
O Trans-Pacific Strategic Economic Partnership, cujas partes, em 2006, eram
Brunei, Chile, Cingapura e Nova Zelndia, foi a primeira fase da negociao que resultou
no TPP, que se tornou o exemplo mais sofisticado de uma nova tendncia de acordos
comerciais (Fergusson, MacMinimy, Williams 2015). O TPP seria a mais importante
iniciativa comercial do Sculo XXI. A aplicao das regras do TPP iria afetar as relaes
de comrcio e de investimento entre suas Partes e entre os demais pases do mundo,
possibilitando ganhos a uns e significativas perdas a outros.
O TPP, na fase final, era constitudo por doze pases bastante diversos entre si.
Austrlia, Brunei Darussalam, Canad, Chile, Cingapura, EUA, Japo, Malsia, Mxico,
Nova Zelndia, Peru e Vietn que apresentam caratersticas econmicas, sociais,
geogrficas e polticas bastante distintas (USTR, 2015). A diversidade de suas Partes
tornava a iniciativa do TPP mais complexa e impactante na forma de organizao do
mundo contemporneo.
Os doze pases somados, em 2014, tinham um Produto Interno Bruto (PIB) de
US$ 28,14 trilhes, sendo que o PIB dos EUA, isoladamente, de aproximadamente US$
17,5 trilhes, segundo os dados da OMC e do Banco Mundial. O Japo, segunda maior
economia do bloco, tinha PIB de US$ 4,6 trilhes, superando Austrlia, Canad e
Mxico, que ficavam entre US$ 1 e US$ 2 trilhes.
Brunei, por sua vez, tinha o menor PIB entre as Partes do TPP, US$ 20 bilhes.
Chile, Cingapura, Malsia, Nova Zelndia e Peru so economias mdias, com PIB que
variava entre US$ 200 e US$ 350 bilhes.
12
Figura 1 PIB nominal (2014) e renda per capita (2015) dos pases do TPP
Fonte: WTO, 2016; WB, 2015. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Em 2014, embora tivesse o maior PIB, os EUA apresentavam apenas a segunda
maior renda, como mostra o grfico acima. A Austrlia apresentava a maior renda per
capita do grupo, enquanto Cingapura vinha em terceiro. Contudo, j em 2015, os trs
possuam renda per capita anual superior a US$ 55 mil, segundo o Banco Mundial.
Canad, Brunei, Japo e Nova Zelndia tambm tinham renda per capita relativamente
elevada, variando de US$ 37 mil a 43 mil. Brunei, apesar de ser uma economia menor em
relao aos demais pases do TPP, apresentava a quinta maior renda per capita. Os pases
latino-americanos tinham rendas per capita inferiores: Chile, Mxico e Peru produzem,
respectivamente, US$ 13.383, US$ 9.009 e US$ 6.121, por pessoa. Por fim, o Vietn,
com apenas US$ 2.111 anuais, tinha a pior renda per capita do bloco.
Outro aspecto relevante do TPP, a populao abrangida, que superava as 800
milhes de pessoas (USITC, 2016:53). Dos doze Estados, apenas EUA, Mxico e Japo
tinham populaes superiores a 100 milhes, sendo que a populao norte-americana
(321 milhes de habitantes) era maior do que a soma das populaes mexicana e
japonesa. O nmero de habitantes de Mxico e Japo era bastante similar (127 milhes de
habitantes), mas o movimento demogrfico japons decrescente h dcadas, enquanto
que o do Mxico continua a crescer, apesar de evoluir em ritmo de desacelerao
contnua (WB, 2016). A populao vietnamita, por sua vez, a despeito da pequena
extenso territorial do pas, aproximava-se rapidamente do marco de 100 milhes de
pessoas (WB, 2016). Nova Zelndia, Cingapura e Brunei tinham populaes inferiores a
seis milhes, sendo que, em Brunei, ela no ultrapassava os 500 mil habitantes, similar
populao de Roraima, o estado menos populoso do Brasil (IBGE, 2015).
1,340,01
1,550,24 0,29
17,9
4,12
0,3 1,1 0,17 0,19 0,190
10
20
30
40
50
60
02468
101214161820
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em
100
0 d
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PIB
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tril
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dl
ares PIB PIB per capita
13
Figura 2 Populao dos pases do TPP (2015)
Fonte: WB, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Essa populao de mais de 800 milhes de pessoas distribuda por um territrio
descontnuo de aproximadamente 32 milhes de quilmetros quadrados, rea superior a
todo o continente africano (30,2 milhes de quilmetros quadrados). Canad, EUA e
Austrlia so dotados de territrios continentais. Os dois primeiros tm territrio superior
a nove milhes de quilmetros quadrados, correspondendo a mais da metade da rea
somada dos pases do TPP. No extremo oposto, Cingapura considerada uma cidade-
estado, pois sua populao de mais de 5 milhes de habitantes (WB, 2016) aglomera-se
em territrio com rea de apenas 618 quilmetros quadrados, inferior rea ocupada pelo
municpio paulista de Ribeiro Preto (IBGE, 2015).
Figura 3 rea territorial e rea agricultvel dos pases do TPP (2011)
Fonte: WB, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
23,80,42
35,88 17,95 5,56
321,1
126,8
30,33
127
4,5431,38
91,71
0
50
100
150
200
250
300
350M
ilhe
s de
hab
itant
es (
2015
)
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
Em
milh
ares
de
km2
Terras agricultveis Terras no agricultveis
14
Esse territrio descontnuo no completamente utilizvel para fins agrcolas.
Aproximadamente dois teros dessa grande rea no adequado ao cultivo vegetal. O
exemplo mais emblemtico de imensas extenses de terreno estril encontrado na
poro setentrional do territrio canadense, caracterizado pelo frio rigoroso do clima
subrtico. EUA e Austrlia so os dois pases como maiores extenses de rea
agricultveis. Os dois juntos representam a maior parte dos terrenos cultivveis do bloco,
com rea somada superior a 8 milhes de quilmetros quadrados.
O perfil exportador das Partes do TPP tambm diferente entre si. Em conjunto,
os doze pases do TPP exportaram quase US$ 5 trilhes em bens em 2014, considerado o
comrcio no intra-bloco (WTO, 2016). Os EUA exportaram em torno de US$ 2 trilhes.
Japo, Canad e Cingapura exportaram, respectivamente, US$ 683, US$ 474 e US$ 409
bilhes em 2014. No lado oposto do espectro, as pequenas economias do Chile, Nova
Zelndia, Peru e Brunei exportaram menos de US$ 80 bilhes, sendo que o sultanado de
Brunei, que apresenta o menor PIB dos doze pases, exportou apenas US$ 10 bilhes
naquele ano.
Figura 4 Comrcio de bens dos pases do TPP (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
EUA e Japo so os dois maiores importadores do grupo. As importaes norte-
americanas ultrapassaram os US$ 2 trilhes em 2014. O dficit na balana comercial
norte-americana superou os US$ 400 bilhes naquele ano. O Japo importou mais de US$
800 bilhes em bens em 2014. Seu dficit foi de aproximadamente US$ 140 bilhes em
2014. Naquele ano, foram tambm deficitrios em suas balanas comerciais o Canad
(US$ 3 bilhes), o Mxico (US$14 bilhes), a Nova Zelndia (US$ 1,5 bilho), Peru
5 6,4 -1 3 43
-445
-139
26-14 -1,5 -3 -17,2
-500
-400
-300
-200
-100
0
100
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Bilh
es
de d
lar
es (
bala
na
com
erci
al)
Bilh
es
de d
lar
es
Exportaes Importaes Balana Comercial
15
(US$ 3,8 bilhes) e Vietn (US$ 17,2 bilhes). Apenas Austrlia (US$ 5 bilhes), Brunei
(US$ 6,4 bilhes), Chile (US$ 3 bilhes) e Malsia (US$ 26 bilhes) tiveram supervit.
Brunei apresentou o melhor desempenho, uma vez que importava menos da metade (em
valor) do que exporta.
Tabela 1 Perfil comercial e tarifrio (comrcio de bens) (2014)
Pases Principais destinos de exportao
Principais origens de importao
Perfil dos produtos exportados
Mdia tarifria
Consolidada Aplicada
No agr.
Agr. No agr.
Agr.
Austrlia
China (34%), Japo (18%), Coreia Sul (7,5%), UE (4,4 %), EUA (4,1 %)
China (20,6 %), UE (17,6 %), EUA (10,6%), Japo (US$ 6,8%), Cingapura (5,0%)
Produtos agrcolas (16%), combustveis e minrios (63,4%) e manufaturados (11,9%)
11 3,5 3 1,2
Brunei
Japo (37,2%), Coreia Sul (11%), ndia (9,1%), Austrlia (7,6%), Indonsia (6,1%)
Malsia (20,6%), Cingapura(20,4%), UE (11,5%), China (9,9%) EUA (9,0)
Produtos agrcolas (0,4%), combustveis e minerais (92,6%), manufaturados (6,8%)
24,4 32 1,3 0,1
Canad
EUA (76,7%), UE (7,4%), China (3,7%), Japo (2,1%), Mxico (1,0%).
EUA (54,3%), China (11,5%), UE (11,3%), Mxico (5,6%), Japo (2,6%)
Produtos agrcolas (14,3%), combustveis e minerais (33,8%) e manufaturas (44,7%)
5,3 15,8 2,2 15,9
Chile
China (24,6%), UE (14,5%), EUA (12,2%), Japo (10%), Coreia Sul (6,2%)
China (20,9%), EUA (19,8%), UE (14,4%), Brasil (7,8%) Argentina (4,0%)
Produtos agrcolas (29,2%), combustveis e produtos minerais (57,1%) e manufaturas (13,6%)
25 26,1 6,0 6,0
Cingapura
China (12,6%), Malsia (12%), Hong Kong (11%), Indonsia (9,4%), UE (8%)
China (12,1%), UE (12%), Malsia (10,7%), EUA (10,4%), Taiwan (8,2%)
Produtos agrcolas (2,9%), combustveis e produtos minerais (17,9%) e manufaturas (70,9%)
6,5 23,5 0,0 1,1
EUA
Canad (19,3%), UE 17,1%), Mxico (14,8%), China (7,7%), Japo (4,1%)
China (19,9%), UE (17,8%), Canad (14,8%), Mxico (12,5%) Japo (5,7%)
Produtos agrcolas (11,2%), combustveis e produtos minerais (12,4%) e manufaturas (71,8%)
3,3 4,8 3,2 5,1
Japo
EUA (19%), China (18,3%), UE (10,4%), Coreia Sul (7,4%), Taiwan (5,7%)
China (22,1%), UE (9,6%), EUA (9,0%), Austrlia (5,9%), ArbiaSaudita (5,8%)
Produtos agrcolas (11,2%), combustveis e produtos minerais (12,4%) e manufaturas (71,8%)
2,5 18,2 2,5 14,3
Malsia
Cingapura (14,2%), China (12,1%), Japo (10,8%), UE (9,5%), EUA (8,4%)
China (16,9%), Cingapura (12,5%), EU (10,4%), Japo (8,0%), EUA (7,7%)
Produtos agrcolas (12,9%), combustveis e produtos minerais (25%) e manufaturas (61,6%)
14,9 61,8 9,3 5,5
Mxico
EUA (80,2%), UE (5,1%), Canad (2,7%), China (1,5%), Brasil (1,2%)
EUA (49%), China (16,6%), UE (11.1%), Japo (4,4%), Coreia Sul (3,4%)
Produtos agrcolas (6,6%), combustveis e produtos minerais (13,4%) e manufaturas (77,8%)
34,8 44,5 5,9 17,6
Nova China (19,9%), UE (17,5%), Produtos agrcolas 10,9 6,1 1,4 2,0
16
Zelndia Austrlia (17,5%), UE (9,6%), EUA (9,4%), Japo (5,9%)
China (16,9%), Austrlia (12,2%), EUA (11,6%), Japo (6,7%)
(69,6%), combustveis e produtos minerais (6,1%) e manufaturas (19,9%)
Peru
China (18,3%), UE (16,6%), EUA (16,2%), Sua (6,9%), Canad (6,6%)
China (21,2%), EUA (20,9%), UE (11,7%), Brasil (4,7%), Mxico (4,6%)
Produtos agrcolas (20,9%), combustveis e produtos minerais (50,3%) e manufaturas (12,2%)
29,3 30,9 3,3 4,1
Vietn
EU (18,4%), EUA (18,1%), Japo (10,3%), China (10%), Coreia Sul (5,1%)
China (27,9%), CoreiaSul (15,7%), Japo (8,8%), UE (7,1%), Taiwan (7,1%)
Produtos agrcolas (17,6%), combustveis e produtos minerais (8,0%) e manufaturas (73,9%)
10,4 19,1 8,4 16,3
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
China, EUA, UE e Japo so os principais destinos das exportaes dos pases do
TPP1. A China, por exemplo, que no Parte do TPP, absorveu 34% das exportaes
australianas e quase 25% das exportaes chilenas. Os EUA, por sua vez, foram o destino
de quase 80% das exportaes canadenses e mexicanas. Brunei, por sua vez, envia 40%
de suas exportaes para o Japo. A UE foi a principal importadora de bens produzidos
no Vietn e parceira importante de quase todos os pases do TPP.
Figura 5 Participao dos principais destinos de exportaes (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
1 De maneira coerente com a teoria gravitacional do comrcio (Souza & Burnquist 2011), o fluxo comercial dos pases na pauta exportadora dos pases do TPP varia conforme a proximidade geogrfica e o tamanho das economias dos parceiros. Assim, China e Japo, por exemplo, tm maior importncia como destino de exportaes dos pases asiticos e da Oceania. Os EUA, por sua vez, so fundamentais para as exportaes dos pases do continente americano, especialmente para os dois parceiros da Amrica do Norte, com os quais os EUA possuem acordo de livre comrcio.
0102030405060708090
100
em %
do
tota
l
China EUA UE Japo Outros
17
Esse padro de comrcio tambm observado para a distribuio das importaes.
Nesse caso, China, EUA, UE e Japo figuraram como principais origens de importaes.
Destaca-se a elevada participao dos EUA nas importaes canadenses e mexicanas:
metade dos bens importados por ambos originam-se dos EUA. A China era a principal
origem das importaes de Austrlia (20,6%), Chile (20,9%), Cingapura 12,1%), EUA
(19,9%), Japo (22,1%), Malsia (16,9%), Peru (21,2%) e Vietn (27,9%). Apesar das
facilidades comerciais proporcionadas pelo North American Free Trade Agreement
(NAFTA), a principal origem das importaes dos EUA foi a China, reforando a tese j
mencionada de que o TPP tambm seria um movimento dos norte-americanos visando a
melhorar o desempenho comercial tambm em relao China, abrindo mais os
mercados asiticos e, ao mesmo tempo, tomando a liderana na formulao de novas
regras para o comrcio internacional na regio.
Figura 6 Principais origens de importaes (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
Muito embora haja alguma concentrao das exportaes e das importaes das
Partes do TPP em mercados como China, UE, Japo e EUA, h tambm grande variedade
no perfil tarifrio dos pases do TPP. Enquanto os pases desenvolvidos tendem a ter
tarifas consolidadas e aplicadas mais baixas com pouca gua entre as duas ou policy
space , os pases em desenvolvimento tm mdias consolidadas mais elevadas, ainda que
apliquem tarifas baixas. Pases como Brunei, Chile, Cingapura, Malsia, Mxico e Peru
apresentam grande diferena entre as mdias tarifrias consolidadas e aplicadas. Essa
gua entre as tarifas consolidadas e aplicadas possibilita ampla margem de aumento
tarifrio por parte desses pases, sem que isso viole os compromissos assumidos no
0102030405060708090
100
Em
% d
o to
tal
China EUA UE Japo Outros
18
sistema multilateral de comrcio. O caso mexicano bastante emblemtico, pois, para
bens no agrcolas (NAMA), sua mdia de tarifa aplicada de 5,9%, mesmo tendo mdia
consolidada de quase 35%. Dessa forma, o Mxico poderia quintuplicar sua tarifa de
importao sobre bens manufaturados, por exemplo, sem que esse aumento implicasse
violao de seus compromissos multilaterais.
No aspecto tarifrio, destacam-se tambm as diferenas entre as mdias
consolidadas de bens agrcolas e no agrcolas. A maior parte dos pases apresenta mdias
consolidadas e aplicadas maiores para os produtos agrcolas. No caso da Malsia essa
diferena considervel, sendo a mdia consolidada para bens agrcolas (61,8%) quatro
vezes maior do que a para bens no agrcolas (14,9%).
Figura 7 Mdia das Tarifas aplicadas e consolidadas na OMC (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Austrlia, Brunei, Malsia e Nova Zelndia tm tarifas consolidadas mais
elevadas para os bens manufaturados do que para os bens agrcolas. Nos dois pases da
Oceania, as tarifas incidentes sobre bens agrcolas so prximas a zero, ainda que estejam
consolidadas em torno de 10%. Contudo, a menor mdia de tarifas aplicadas para bens
agrcolas de Brunei, cuja a tarifa de apenas 0,1%. Mxico e Malsia tm as maiores
mdias de tarifas consolidadas para produtos agrcolas, apresentando, respectivamente,
44,5% e 61,8%. A Malsia, entretanto, tm mdia aplicada para produtos agrcolas de
apenas 5,5%. Quatro pases tm mdia aplicada de tarifas para produtos agrcolas
superiores a 10%: Canad (15,9%), Japo (14,3%), Mxico (17,6%) e Vietn (16,3%).
Desses quatro, apenas o Mxico no aplica tarifa de importao prxima ao valor tarifrio
consolidado na OMC.
0
5
10
15
20
010203040506070
Md
ia T
arifa
s ap
licad
as. e
m %
Md
ia T
arifa
s co
nsol
idad
es, e
m
%
Mdia consolidada prdutos no agrclas Mdia consolidada produtos agrcolas
Mdia aplicada produtos no agrcolas Mdia aplicada produtos agrcolas
19
-9,0 -1,5 -21,1 -3,3 -1,2
235,9
-31,9 -5,3 -10,7 1,5 -1,8 -3,5
-50050100150200250
0100200300400500600700800
bilh
es
de d
lar
es (
bala
na
de s
ervi
os)
bilh
es
de d
lar
es
Exp. Serv. Imp. Serv. Balana de Servios
O comrcio de servios, apesar de sua importncia crescente, apresenta valores
absolutos inferiores ao comrcio de bens. Considerando os pases individualizados,
predominam os dficits nas balanas de servios na maioria dos pases do TPP. Apenas
EUA e Nova Zelndia apresentaram supervit na balana de servios em 2014. O
expressivo supervit dos EUA foi responsvel pela balana positiva resultante do
somatrio dos saldos individuais dos pases.
Figura 8 Fluxo do Comrcio de Servios (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Em valores absolutos, o dficit japons na balana de servios foi o mais
relevante, somando quase US$ 32 bilhes em 2014. Foram tambm deficitrios Austrlia
(US$ 9 bilhes), Brunei (US$ 1,5 bilhes), Canad (US$ 21 bilhes), Chile (US$ 3,3
bilhes), Cingapura (US$ 1,2 bilho), Malsia (US$ 5,3 bilhes), Mxico (US$ 10,6
bilhes), Peru (US$ 1,8 bilho) e Vietn (US$ 3,4 bilhes). Apenas EUA e Nova Zelndia
tinham supervit na balana de servios, sendo que o dos EUA foi de US$ 235,9 bilhes
em 2014.
Tabela 2 Comrcio de Servios e Registro de Patentes e Marcas (2014)
Pases Principais servios
exportados
Principais servios
importados
Propriedade industrial
Patentes Registro de marcas
Res. N Res. Total Res N Res Madri Total
Austrlia Servios relacionados a bens (0,1%), transporte (11,1%), viagem (60%), outros servios comerciais
Servios relacionados a bens (0,8), transporte (24,2%), viagem (42,1%), outros servios
1110 16002 17112 24935 10130 10130 45340
20
(28,7%) comerciais (32,9%)
Brunei Transporte (49,4%), viagem (27,8%), outros servios comerciais (22,8%)
Transporte (36,6%), viagem (39,3%), outros servios comerciais (24,2%)
0 42 42 26 0 0 26
Canad Servios relacionados a bens (1,8%), transporte (15,6%), viagem (20,6%), outros servios comerciais (62%)
Servios relacionados a bens (0,7%), transporte (21,1%), viagem (31,9%), outros servios comerciais (46,3%)
2756 21077 23833 12466 16489 0 28955
Chile Transporte (44,8%), viagem (20,4%), outros servios comerciais (34,8%)
Transporte (44,2%), viagem (15%), outros servios comerciais (40,8%)
119 779 898
14221 7947 22168
Cing. Servios relacionados a bens (5,7%), transporte (32%), viagem (13,7%), outros servios comerciais (48,6%)
Servios relacionados a bens (0,5%), transporte (27,8%), viagem (16,9%), outros servios comerciais (54,8%)
393 5182 5575 2830 5444 7162 15436
EUA Servios relacionados a bens (2,8%), transporte (13,1%), viagem (25,8%), outros servios comerciais (58,3%)
Servios relacionados a bens (1,7%), transporte (20,9%), viagem (24,7%), outros servios comerciais (52,8%)
133593 144242 277835 156287 37648 5791 199726
Japo Servios relacionados a bens (1,5%), transporte (25%), viagem (11,6%), outros servios
Servios relacionados a bens (6,3%), transporte (24,1%), viagem (10,2%), outros
225571 51508 277079 82693 10961 7872 101526
21
comerciais (62%)
servios comerciais (59,3%)
Malsia Servios relacionados a bens (0,9%), transporte (11,8%), viagem (56,1%), outros servios comerciais (31,2%)
Servios relacionados a bens (0,5%), transporte (33%), viagem (27%), outros servios comerciais (39,4%)
288 2372 2660 9777 17202 26979
Mxico Transporte (4,1%), viagem (77,3%), outros servios comerciais (18,6%)
Servios relacionados a bens (0,5%), transporte (46,3%), viagem (30,5%), outros servios comerciais (22,7%)
312 10056 10368 55086 22700 81985
N. Zelndia
Transporte (14,5%), viagem (58,3%), outros servios comerciais (24%)
Transporte (25,4%), viagem (31,8%), outros servios comerciais (41,9%)
298 4454 4752 7069 7119 4007 18195
Peru Transporte (24,1%), viagem (52,5%), outros servios comerciais (23,4%)
Transporte (37,5%), viagem (21,1%), outros servios comerciais (41,3%)
2 285 287 11308 7223 18531
Vietn Transporte (21,4%), viagem (67,7%) outros servios comerciais (10,9%)
Transporte (54,1%), viagem 15%), outros servios comerciais (30,9)
59 1123 1182 14502 4728 24360
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Considerando a diviso em quatro categorias, os servios podem ser: a)
relacionados a bens; b) de transporte; c) viagem; e d) outros servios comerciais. Em
todos os pases, os servios relacionados aos bens tiveram menor participao no
montante total de servios comercializados. Nos dois pases em que esses servios tinham
22
maior importncia na pauta exportadora, EUA e Cingapura, eles no ocuparam mais do
que 6% do total das exportaes. Em Cingapura, por exemplo, esses servios
representaram 5,7% do total exportado de servios.
Figura 9 Exportao de Servios por setor e pas do TPP (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
A importncia relativa dos servios de transporte varivel conforme o pas. No
Chile e em Brunei, as exportaes de servios de transporte corresponderam a quase
metade do total exportado de servios. No Mxico, entretanto, esses tipos de servios
tiveram uma participao reduzida, pois representaram pouco mais de 4% das vendas
internacionais de servios.
Os servios de viagem so fundamentalmente importantes nas exportaes de
Austrlia, Malsia, Mxico, Nova Zelndia, Peru e Vietn. No Mxico a exportao desse
tipo de servio representava quase 80% da pauta exportadora de servios do pas. Em
Cingapura, por sua vez, esses servios tiveram importncia relativa inferior,
representando menos de 14% do total exportado de servios.
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%
Par
ticip
ao
dos
tipo
s de
ser
vio
s
Sevios relacionados a bens Transportes Viagem Outros servios
23
Figura 10 Importao de Servios por setor e pas do TPP (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Os pases latino-americanos so grandes importadores de servios de transporte.
Esses servios ocuparam parcela relevante da pauta de importao no Chile (44,2%), no
Mxico (46,3%) e no Peru (37,5%), contribuindo para o dficit de suas respectivas
balanas de servios. A importao de servios relacionados a bens pouco expressiva
entre os pases do TPP, diferentemente dos servios de viagens, os quais representaram
parcela expressiva das importaes de servios do Vietn (67,7%), da Austrlia (42, 1%)
e de Brunei (39,3%).
A disparidade entre os pases do TPP bastante evidente nos nmeros relativos
propriedade intelectual. EUA e Japo apresentam nmero de patentes e de marcas
registradas bastante superiores aos dos outros pases do TPP. O nmero total de registro
de patentes foi bastante similar nos dois pases, somando mais de 270.000 em cada um
deles em 2014. Em patamar inferior encontram-se Austrlia, Canad e Mxico, cada um
registrando, respectivamente, 17.112, 23.833 e 10.368 patentes em 2014. No Mxico, a
despeito do nmero modesto de patentes, destacam-se os registros de marcas, que
atingiram quase 82.000 em 2014.
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%P
artic
ipa
o d
os ti
pos
de s
ervi
o
Sevios relacionados a bens Transportes Viagens Outros servios
24
Figura 11 Nmero de registros de patentes e marcas (2014)
Fonte: WTO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
O volume de investimentos nos pases do TPP expressivo, assim como a
diversidade no perfil das Partes. Os pases do TPP receberam, em conjunto, US$ 581,5
bilhes em investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2015 (UNCTAD, 2016), dos
quais US$ 380 bilhes foram para os EUA. Cingapura registrou um distante segundo
lugar, com US$ 65 bilhes. Em 2015, Japo e Nova Zelndia tiveram desempenho
negativo, registrando pequena diminuio em seus estoques de IED. Canad e Mxico,
dois parceiros dos EUA no NAFTA, tambm receberam aportes importantes, nos valores
de US$ 48 bilhes e US$ 30 bilhes, respectivamente. Assim como observado no caso
dos PIBs, a disparidade entre os EUA e o resto dos pases do TPP bastante evidente em
se tratando de recepo de investimentos diretos.
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000N
mer
o de
reg
istr
os
Patentes Marcas
25
Figura 12 Ingresso* de IED nos pases do TPP (2015)
Fonte: UNCTAD, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV. *Ingresso significa a diferena entre o volume de investimentos realizados em
um determinado pas e o volume de investimentos que foi retirado, no mesmo perodo.
Quanto aos estoques de capitais estrangeiros, os pases do TPP apresentaram
volumes superiores a US$ 9 trilhes (UNCTAD, 2016). Com valores muito maiores do
que dos outros pases, os EUA detinham estoques de aproximadamente US$ 5,5 trilhes
em investimentos estrangeiros diretos. Com volumes mais baixos, encontravam-se
Cingapura (US$ 978 bilhes), Canad (US$ 756 bilhes), Austrlia (US$ 537 bilhes) e
Mxico (US$ 419 bilhes).
O Japo, segunda maior economia do bloco, apresentava estoques de IEDs
bastante baixos (pouco mais de US$ 170 bilhes), inferiores aos do Chile (US$ 207
bilhes), ainda que a economia japonesa seja quase vinte vezes maior do que a chilena,
indicativo do fechamento da economia japonesa para aportes estrangeiros em seu setor
produtivo, e coerente com as elevadas taxas de poupana da economia nipnica.
22264173
4864320176
65262
379894
-2250
11121 30285
-986
6861 43
-500000
50000100000150000200000250000300000350000400000
Mil
dla
res
(201
5)
26
Figura 13 Estoque de IED nos pases do TPP (2015)
Fonte: UNCTAD, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
Em relao aos totais mundiais, os pases do TPP, somados, representavam 37%
do Produto Interno Bruto (PIB), 23% das exportaes, 34% dos fluxos de IED e 11,4 %
da populao global, considerando os dados de 2014. O TPP possuia representantes de
quatro grandes regies do mundo (sia, Amrica do Sul, Amrica do Norte e Oceania) e
congregava, em uma rea de livre comrcio correspondente a 20% das terras emersas do
globo, a primeira e a terceira maiores economias do planeta (EUA e Japo). Esses dados
indicavam a dimenso do possvel impacto que a vigncia do TPP poderia causar na
economia internacional.
5376
756207
978
5588
170 117 420 66 86 0,30
1000
2000
3000
4000
5000
6000B
ilhe
s de
dl
ares
(20
15)
27
Figura 14 TPP v. Resto do Mundo: PIB, fluxo de IED, exportaes e populao (2015)
Fonte: UNCTAD, WB, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Como exerccio comparativo, verifica-se que, apesar das diferenas internas ao
bloco, as dimenses do TPP eram comparveis ou superiores s da Unio Europeia (UE),
incluindo o Reino Unido. O PIB dos doze pases era 36% superior aos dos vinte e oito
membros da UE (US$ 28 trilhes e US$ 18 trilhes)2, diferena similar observada entre
as populaes dos dois blocos: 800 milhes de habitantes nas Partes do TPP ante 507
milhes de residentes na UE.
2 Conforme dados do Banco Mundial, referentes a 2014.
TPP37%
Resto do
mundo63%
Participao do TPP no PIB mundial
TPP34%
Resto do
mundo66%
Participao do TPP no fluxo de IED
TPP23%
Resto do
mundo77%
Participao das exportaes dos pases do TPP nas exportaes
mundiais
TPP11%
Resto do
mundo89%
Participao da populao dos pases do TPP na populao mundial
28
Figura 15 TPP v. UE: PIB, IED, populao e territrio (2015)
Fonte: UNCTAD, WB, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
Como destino de IED, as Partes do TPP superavam os membros da UE em mais
de US$ 150 bilhes de fluxo anual (UNCTAD, 2015). A massa territorial descontnua do
TPP quase seis vezes mais extensa do que a rea da UE, que ocupa pouco mais de 4
milhes de quilmetros quadrados. O TPP, portanto, em vrios sentidos, formaria a maior
rea de livre comrcio do mundo, abrangendo pases bastante distintos e corroborando a
importncia econmica da regio banhada pelo Oceano Pacfico.
Na dimenso social e ambiental, os nmeros agregados dos pases do TPP tambm
impressionam. No entanto, nessas dimenses, que possibilitam anlise mais qualitativa
das sociedades representadas pelas Partes do TPP, a heterogeneidade entre os pases do
TPP o aspecto mais marcante. O ndice de Desenvolvimento Humano (IDH)3 da
Austrlia, por exemplo, muito superior ao do Vietn, indicando duas realidades
socioeconmicas contrastantes. A concentrao de renda tambm difere 3 Indicador complexo que mensura o desenvolvimento com base na expectativa de vida, na taxa de alfabetizao e na renda per capita.
581
430
0
100
200
300
400
500
600
700
TPP Unio Europeia
Bilh
es
US
$IED: TPP x UE
28
18
0
5
10
15
20
25
30
TPP Unio Europeia
Tril
hes
US
$
PIB: TPP x UE
800
507
0100200300400500600700800900
TPP Unio Europeia
Milh
es
de p
esso
as
Populao: TPP x UE
32
4
0
5
10
15
20
25
30
35
TPP Unio Europeia
Milh
es
de q
uil
met
ros
quad
rado
s
Territrio: TPP x UE
29
consideravelmente entre as Partes TPP, como se verifica na comparao entre os valores
do Coeficiente de Gini4 atribudos a cada um dos pases constituintes do bloco.
Figura 16 Desenvolvimento humano e desigualdade de renda (2015)
Fonte: WB, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV. *Brunei: No h informaes para o ndice de Gini de Brunei na base de dados do
Banco Mundial.
Austrlia, Canad, Cingapura, EUA e Nova Zelndia so os pases do TPP que
apresentam IDH mais elevado. Esses pases, portanto, tendem a apresentar populao
mais educada, afluente e longeva do que as outras Partes do TPP. Alm desses cinco
pases, outros trs apresentam IDH muito elevado (acima de 0,8): Brunei, Chile, Japo.
Por outro lado, Malsia, Mxico e Peru situam-se em um segundo grupo, apresentando
IDH apenas elevado (entre 0,7 e 0,8). O Vietn o pas com piores ndices
socioeconmicos, apresentando IDH de 0,6.
Se analisada em termos proporcionais, a fora de trabalho dos pases do TPP, que
representa a parcela ativa da populao em idade de trabalho, no difere muito entre os
pases do bloco. No Vietn, pas com piores indicadores socioeconmicos entre as Partes
do TPP, a fora de trabalho prxima a 80% da populao na idade de trabalho (maiores
de 15 anos), o que indica que os componentes do topo e da base da pirmide populacional
do pas participam ativamente do mercado de trabalho, exercendo precocemente
atividades remuneradas e postergando a aposentadoria (Jones 2011). Seja por adiamento
do ingresso no mercado de trabalho ou por concesso de aposentadorias a trabalhadores
com menor mdia de idade, o inverso desse fenmeno pode ser observado no Chile, no
4 Coeficiente usado na mensurao da desigualdade de renda. Ele varia de 0 (distribuio perfeita de renda) a 1 (concentrao perfeita de renda).
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
00,10,20,30,40,50,60,70,80,9
1
Coe
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nte
GIN
I
IDH
IDH GINI
30
Japo e no Mxico, pases em que a fora de trabalho representa apenas 60% da
populao em idade de trabalho.
Figura 17 Fora de trabalho e taxa de sindicalizao (2015)
Fonte: ILO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
A taxa de sindicalizao tende a ser inversamente proporcional flexibilidade do
mercado de trabalho (Porto & Carvalho Neto 2011). Essa taxa difere bastante nos pases
do TPP, indicando a existncia de caractersticas distintas em seus mercados de trabalho.
Quanto ao grau de sindicalizao de trabalhadores, Canad e Peru esto localizados nos
extremos opostos do espectro. Enquanto o primeiro apresenta taxa de sindicalizao
superior a 25% da fora de trabalho, o segundo apresenta taxas prximas a 4%.
Juntamente com Peru, EUA e Malsia so dos pases que tm menor taxa de
sindicalizao entre os trabalhadores ativos. Austrlia, Chile e Vietn tm taxas prximas
a 15%, um pouco inferior s taxas observadas em Cingapura e na Nova Zelndia.
051015202530
0102030405060708090
100
Tax
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ade
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abal
ho
Fora de trabalho Taxa de sindicalizao
31
Figura 18 Fora de Trabalho: anos de estudo e ensino superior (2015)
Fonte: ILO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Quanto educao da populao em idade de trabalho, verifica-se que o Canad
se destaca positivamente. Quase metade de sua populao em idade de trabalho tem
educao superior. EUA (41%) e Cingapura (41%) tambm tm fora de trabalho com
elevados ndices de educao, assim como Austrlia (37%), Japo (37%) e Nova Zelndia
(36%), situados em patamar um pouco mais baixo. Mxico e Vietn so os dois pases do
TPP com os piores ndices de educao da fora de trabalho: 15% e 13%,
respectivamente.
O grau de comprometimento dos pases do TPP com as Convenes da
Organizao Internacional do Trabalho tambm heterogneo. Isso refora a existncia
de diferenas importantes no funcionamento dos mercados de trabalho dos Estados
Partes. Ao lado da Austrlia, que ratificou cinquenta e oito Convenes da OIT, os pases
latino-americanos destacam-se por assumirem o maior nmero de compromissos
internacionais na rea trabalhista. O Chile ratificou sessenta e duas Convenes, sendo o
pas do TPP com maior nmero de compromissos convencionais no mbito da OIT. O
Mxico e o Peru so, respectivamente, partes de sessenta e cinquenta e cinco das
Convenes da OIT.
3749
2941 41 37
20 15
36 30
13
02468101214
0
20
40
60
80
100
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alho
com
edu
ca
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perio
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Fora de trabalho com educao superior Mdia de anos de estudo
32
Figura 19 Convenes da OIT ratificadas por pas do TPP (2015)
Fonte: ILO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
No extremo oposto, Brunei, EUA e Malsia so os trs pases que ratificaram
menor nmero de Convenes da OIT. O sultanato ratificou apenas duas Convenes e
Malsia e os EUA so parte de apenas nove Convenes. Cingapura e Vietn tambm
participam de nmero relativamente pequeno de Convenes em matria trabalhista. Os
dois pases asiticos ratificaram, respectivamente, treze e doze dos tratados elaborados no
mbito da OIT.
So tambm dois pases latino-americanos os nicos que ratificaram todas as
Convenes fundamentais da OIT5. Peru e Chile so partes das oito convenes
fundamentais em matria trabalhista. Novamente Brunei e os EUA destacam-se pelo
pequeno comprometimento com as normas trabalhistas internacionais. Ambos ratificaram
apenas 20% das Convenes fundamentais da OIT.
5 Segundo a OIT, suas Convenes fundamentais so as seguintes: Conveno sobre o trabalho forado, 1930 (n 29); Conveno sobre a liberdade sindical e a proteo do direito de sindicalizao, 1948 (n 87); Conveno sobre o direito de sindicalizao e de negociao coletiva, 1949 (n 98); Conveno sobre igualdade de remunerao, 1951 (n 100); Conveno sobre a abolio do trabalho forado, 1957 (n 105); Conveno sobre a discriminao (emprego e ocupao), 1958 (n 111); Conveno sobre a idade mnima, 1973 (n 138); Conveno sobre as piores formas de trabalho infantil, 1999 (n 182).
58
2
34
62
13 929
9
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100120140160180
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IT r
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cada
s
33
Figura 20 Convenes fundamentais da OIT ratificadas por pas do TPP (2015)
Fonte: ILO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
Entre as Partes do TPP, h importantes produtores e consumidores de energia. No
entanto, o aspecto mais relevante que o TPP rene dois dos pases com maior dficit
energtico do mundo - EUA e Japo -, ambos importadores lquidos de energia. Na
qualidade de grandes demandantes de energia, EUA e Japo constituem mercados
consumidores importantes para pases dotados de saldo energtico positivo, como, por
exemplo, Austrlia, Canad e, em menor proporo, Mxico, Vietn e Malsia.
Como efeito colateral desse elevado consumo energtico, EUA e Japo so
tambm grandes emissores de gases de efeito estufa, especialmente de dixido de carbono
(CO2), resultante da queima de combustveis fsseis. Os EUA so responsveis por quase
15% das emisses totais do globo. O Japo, por sua vez, embora responda por pouco mais
de 3% da produo de gases de efeito estufa, situa-se entre os dez maiores emissores do
planeta (AIE, 2015).
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100%%
de
Con
ven
es
fund
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tais
da
OIT
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das
Convenes fundamentais ratificadas Convenes fundamentais no ratificadas
34
Figura 21 Produo e consumo de energia e emisso de CO2 (2014)
Fonte: IEA, 2015. Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
Austrlia, Canad e Mxico tambm tm nveis importantes de emisso de CO2,
sendo os trs pases juntos responsveis por quase 5% das emisses totais do mundo. As
outras Partes apresentam nveis de emisso inexpressivos (inferiores a 1%), compatveis
com o tamanho relativamente pequeno de suas economias.
As Partes tambm apresentam grau distinto de preservao de suas florestas e na
biodiversidade de seus ecossistemas. Brunei, com sua pequena extenso territorial,
caracterizado pela manuteno de suas formaes florestais. O Japo, tambm com
extenso territorial menor, adota polticas exitosas de conservao de sua vegetao. Os
pases dotados de territrios mais extensos, no entanto, apresentam menor preservao
das formaes vegetais autctones. Esse aspecto bastante evidente para os casos de
Austrlia e EUA, que mantm apenas 19% e 33% de suas formaes vegetais originais.
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
-1000
-500
0
500
1000
1500
2000
2500
% e
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CO 2
Pro
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Produo Consumo Saldo energtico Emisses CO2
35
Figura 22 rea florestal preservada (2014) e o ndice de biodiversidade* (2008) por pas do TPP
Fonte: CBD, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV. * ndice de Biodiversidade: O clculo feito por meio de ndice complexo desenvolvido pelo Banco Mundial, considerando a diversidade de espcies vegetais e animais, bem como as possibilidades de sua preservao (risco de extino).
A biodiversidade dos pases do TPP tambm apresenta grandes disparidades. EUA
e Austrlia so os dois pases que apresentam o maior ndice de biodiversidade, indicando
que os territrios de ambos os pases abrigam grande variedades de espcies e que estas
so adequadamente protegidas por polticas pblicas. Cingapura e Brunei, por sua vez,
apresentam ndices inexpressivos de biodiversidade.
Verifica-se tambm grande variedade de posies em relao aceitao dos
tratados internacionais de meio ambiente. Enquanto o Protocolo de Montreal (sobre a
Camada de Oznio), o Marpol6 (acerca da poluio por navios) e o CITES7 (sobre
espcies ameaadas de extino) foram ratificados pela integralidade das Partes do TPP, o
IWC8 (sobre a proteo de baleias) e o CCAMLR9 (sobre recursos marinhos da Antrtica)
foram ratificados apenas pela metade dos Estados Partes do TPP, conforme tabela abaixo.
Sob a perspectiva da natureza dos compromissos assumidos pelos Estados,
destaca-se a ausncia dos EUA no Protocolo de Quioto e do Chile na IATTC10. Os dois
pases, embora sejam diretamente relacionados aos objetos dos tratados (respectivamente
gases de efeito estufa e pesca do atum), no so parte nesses dois instrumentos
internacionais.
6 MARPOL: International Convention for the Prevention of Pollution from Ships 7 CITES: Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora 8 IWC: International Whaling Convention 9 CCAMLR: Convention on the Conservation of Antarctic Marine Living Resources 10 IATTC: Inter-American Tropical Tuna Commission
0102030405060708090100
01020304050607080
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rea florestal preservada ndice de biodiversidade
36
Tabela 3 Status de ratificao de tratados multilaterais de meio ambiente por pas do TPP
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ura
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Protocolo de Montreal
X X X X X X X X X X X X
UNFCCC X X X X X X X X X X X X UNCCD X X X X X X X X X X X
Protocolo de Quioto
X X X X X X X X X X X
Conveno de Roterd
X X X X X X X X X
Conveno Estocolmo
X X X X X X X X X X
CITES X X X X X X X X X X X X MARPOL X X X X X X X X X X X X
IATTC X X X X X IWC X X X X X X
CCAMLR X X X X X
Legenda: UNFCCC: United Nations Framework Convention on
Climate Change UNCCD: United Nations Convention to Combat
Desertification CITES: Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora
IATTC: Inter-American Tropical Tuna Commission IWC: International Whaling Convention
CCAMLR: Convention on the Conservation of Antarctic Marine Living Resources
MARPOL: International Convention for the Prevention of Pollution from Ships
Fonte: ILO, 2016. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Pontos de interesse do TPP
Alm de envolver grandes nmeros da economia internacional e de agregar pases
bastante diversos entre si, o TPP diferia de outros acordos comerciais por apresentar
algumas particularidades. Essas particularidades referem-se a quatro dimenses do TPP:
seu processo de formao, seu contedo, suas condies de vigncia e seus impactos
geoestratgicos, sejam estes deliberados pelas Partes ou no intencionais.
Se comparado a outros acordos comerciais complexos, o TPP foi negociado de
forma dinmica e inclusiva. Em um mesmo ano, ocorreram diversas rodadas de
negociao com nmero crescente de Estados interessados em participar das negociaes
(Fergusson, MacMinimy, Williams 2015). Cronologicamente, o conjunto de partes
negociadoras passou por quatro fases sucessivas de expanso. Ao quarteto inicial de
pases da Trans-Pacific Strategic Economic Partnership (Brunei, Chile, Cingapura e
Nova Zelndia), juntaram-se, em 2008, EUA, Austrlia, Peru e Vietn. Em seguida, em
2010, a Malsia passou a participar das negociaes. Mxico e Canad, emulando a
37
conduta de seu principal parceiro comercial (os EUA), juntaram-se ao grupo negociador
em 2012 (Petri & Plummer 2012). No ano seguinte, aps intensas controvrsias
domsticas e internacionais, o Japo ingressava nas negociaes, as quais foram
finalizadas em 5 de outubro de 2015.
Essa caracterstica inclusiva das rodadas, ao repercutir sobre as expectativas de
ganhos relativos de cada Estado, tornou as negociaes mais complexas e exigentes
(Fergusson, MacMinimy, Williams 2015). Os pases que entraram durante o processo de
negociao, por vezes, direcionaram o debate a temas superados em momentos anteriores,
demandando constantes ajustes nas listas de concesses nacionais. A abertura do processo
de negociao a grandes economias demandou, especialmente, ajustes especficos
substanciais, resultando em acordos bilaterais dentro da moldura mais ampla do Acordo
do TPP. Os exemplos mais emblemticos so os ajustes bilaterais entre EUA e Japo.
Como estabelecido em suas disposies finais, o TPP era um tratado aberto
adeso de novas partes. Em razo das circunstncias geogrficas, a participao seria
facilitada aos pases da Asia-Pacific Economic Cooperation (APEC), o que seria
corroborado por seu texto preambular11, cujo intuito era o de constituir uma grande rea
de livre comrcio na poro asitica do Pacfico.
Segundo disposio do art. 30.4. do TPP, os pases que no so membros da
APEC seriam submetidos a procedimento de acesso um pouco mais rigoroso. Esse maior
rigor ocorreria especificamente na formao dos grupos de trabalho de negociao dos
termos da acesso, aps a notificao do Depositrio acerca do interesse em participar do
acordo, e mediante determinao da Comisso do TPP12.
Article 30.4: Accession 1. This Agreement is open to accession by: (a) any State or separate customs territory that is a member of APEC; and (b) any other State or separate customs territory as the Parties may agree, that is prepared to comply with the obligations in this Agreement, subject to such terms and conditions as may be agreed between the State or separate customs territory and the Parties, and following approval in accordance with the applicable legal procedures of each Party and acceding State or separate customs territory (accession candidate). 2. A State or separate customs territory may seek to accede to this Agreement by submitting a request in writing to the Depositary. 3. (a) Following receipt of a request under paragraph 2, the Commission shall, provided in the case of paragraph 1(b) that the Parties so agree, establish a working group to negotiate
11 PREAMBLE The Parties to this Agreement, resolving to: Expand their partnership by encouraging the accession of other States or separate customs territories in order to further enhance regional economic integration and create the foundation of a Free Trade Area of the Asia Pacific 12 Sobre as funes da Comisso do TPP, ver Cap. 27 do Acordo.
38
the terms and conditions for the accession. Membership in the working group shall be open to all interested Parties.
O estabelecimento do grupo de trabalho para o Estado acedente que no membro
da APEC requeria a concordncia explcita de todas as Partes. Apenas os membros da
APEC, por sua vez, poderiam ser beneficiados pelo silncio de alguma das Partes quando
da criao do grupo de trabalho. Nesse caso, a no objeo da Parte contra o relatrio da
Comisso que determinava a criao do grupo de trabalho possibilitaria o estabelecimento
automtico do grupo (Hamanaka 2016), conforme disposio da alnea (a) do item (ii) do
Pargrafo 4 do art. 30.4 do TPP.
Article 30.4: Accession 4. For the purposes of paragraph 3: (a) A decision of the Commission to establish a working group under paragraph 3(a) shall be deemed to have been taken only if: i) all Parties have agreed to the establishment of a working group; or (ii) in the event that a Party does not indicate agreement when the Commission makes a decision to establish a working group under paragraph 3(a), that Party has not objected in writing within seven days of the date on which the Commission so decides.
Considerando que o funcionamento do grupo de trabalho era requisito para
completar o processo de acesso, a necessidade de consenso explcito para constituio
do grupo tornava mais exigente a entrada de pases no pertencentes APEC. Nota-se,
contudo, que essa maior exigncia deveria ter poucos efeitos na expanso do TPP, pois,
na prtica, os procedimentos eram bastante similares para membros e no membros da
APEC.
Filipinas, Tailndia, Taiwan, Coreia do Sul, Indonsia e Colmbia, em algum
momento, manifestaram interesse em participar do TPP13. Os cinco primeiros, na
qualidade de membros da APEC, seriam candidatos naturais condio de Parte. A
Colmbia, em razo de sua poltica de aproximao de pases asiticos da orla do
Pacfico, inclusive por meio da celebrao de tratados bilaterais de comrcio, estaria
habilitada a integrar o TPP conforme os procedimentos mais rigorosos previstos em seu
art. 30.4 (USTR, 2015).
Uma segunda particularidade do TPP referia-se ao amplo e detalhado contedo de
seu texto. Se outros acordos de livre comrcio abordaram temas comerciais no tarifrios,
nenhum tratou desses temas com a mesma profundidade e abrangncia do TPP. Os
13 EUA, Japo e mais 10 pases fecham acordo comercial regional histrico (Folha de So Paulo, publicada em 5 de outubro de 2015).
39
aspectos tradicionais dos acordos de livre comrcio, que incluem disposies sobre acesso
a mercados e tratamento nacional, esto contidos em seu captulo 2 (USTR, 2015). Os
cronogramas nacionais de liberalizao tarifria, que se referem velocidade especfica
de eliminao e de reduo de tarifas, esto tambm inseridos no segundo captulo, na
forma de anexos.
Ao lado desses aspectos clssicos, entretanto, o TPP abrangia outros itens
importantes para o comrcio contemporneo de bens e servios: regras de origem, txteis,
facilitao de comrcio, administrao aduaneira, medidas sanitrias e fitossanitrias,
barreiras tcnicas, comrcio transfronteirio em servios e entrada temporria de
empresrios (USTR, 2015). H ainda captulos especficos sobre temas contemporneos
relacionados inovao, economia digital, sustentabilidade e eficincia do setor
pblico. Assim, o TPP contm captulos exclusivos sobre telecomunicaes, comrcio
eletrnico, compras governamentais, concorrncia, propriedade intelectual, padres
trabalhistas, meio ambiente, cooperao e construo de competitividade,
desenvolvimento, pequenas e mdias empresas, alm de uma Declarao Conjunta sobre
polticas macroeconmicas, que insere novos elementos para as relaes entre cmbio e
comrcio.
Em uma avaliao preliminar, o presente estudo considera o contedo do TPP em
trs perspectivas distintas: inovao temtica, imperatividade de suas normas e relao de
seus dispositivos com outras normas de direito internacional. Essas perspectivas, por sua
vez, podem ser graduadas em at trs nveis (significativo, moderado e reduzido),
conforme trs critrios distintos: frequncia do tema em outros acordos, possibilidade de
criao direta de direitos e obrigaes e importncia de normas de outros acordos
internacionais na aplicao do TPP.
40
Figura 23 Critrios de Classificao dos Captulos do TPP
Fonte: Elaborao CCGI-EESP/FGV.
Dessa forma, a intensidade da inovao temtica foi avaliada conforme a
frequncia do tema em outros acordos internacionais. O grau de imperatividade, por sua
vez, foi apreciado segundo a obrigatoriedade das normas contidas no captulo. Por fim, a
escala da interpenetrao entre os captulos do TPP e outros acordos internacionais foi
estimada com base na importncia estes assumem nos captulos especficos.
Temasdo TPP
Frequncia em outros acordos internacionais
Inovao temtica
Reduzida
Moderada
Significativa
Grau de vinculao de suas normas
Imperatividade
Reduzida
Significativa
Autossuficiencia de suas
disposies
Interao com outras normas internacionais
Reduzida
Moderada
Significativa
41
Tabela 4 Critrios de apreciao dos captulos do TPP
Dimenso Critrio
Gradao
Significativa Moderada Reduzida Sem alterao
Inovao temtica
Frequncia em outros acordos internacionais
Dispe sobre matria ausente de acordos multilaterais, plurilaterais e preferenciais
Dispe sobre temas tratados em acordos preferenciais de comrcio, mas ausentes de acordos plurilaterais e multilaterais (OMC-extra)
Dispe sobre temas que foram objeto de acordos plurilaterais firmados no mbito da OMC, mas que esto ausentes dos acordos multilaterais
Dispe sobre tema previsto em acordos multilaterais da OMC
Imperatividade
Possibilidade de criao direta de direitos e obrigaes uma vez internalizados
Cria diretamente direitos e obrigaes para as Partes
N.A.
Exorta s Partes a criarem polticas pblicas que podem resultar em normas jurdicas que dispem sobre direitos e deveres
Sem imperatividade
Interao com outras normas internacionais
Importncia de outros acordos internacionais na aplicao do TPP
Incorporam-se dispositivos de outros acordos ou reproduzem-se suas disposies
A aplicao dos dispositivos do TPP depende da observncia estreita de outro acordo
Outro acordo meramente referenciado no Captulo
Nenhum outro acordo mencionado
Elaborao: CCGI-EESP/FGV
Assim, o captulo do TPP caracterizado por inovao temtica significativa seria
aquele referente a tema ausente nos acordos multilaterais, plurilaterais e preferenciais de
comrcio. Esse o exemplo do Captulo 25, sobre coerncia regulatria, tema que ganha
relevncia ao ocupar um captulo especfico no acordo (USTR, 2015). Temas recorrentes
em acordos preferenciais, porm ausentes dos acordos plurilaterais e multilaterais, so
caracterizados por grau moderado de inovao temtica. Esse o caso, por exemplo, dos
servios financeiros (Captulo 11) e do meio ambiente (Captulo 20). As compras
governamentais (Captulo 15), reguladas, no mbito da OMC, por um acordo plurilateral
especfico, apresentam grau de inovao reduzido, pois trata de tema relativamente
consolidado no comrcio internacional.
42
Figura 24 Nveis de inovao temtica no TPP
Elaborao: CCGI-EESP/FGV.
A imperatividade refere-se fora do contedo mandamental da norma jurdica
(Ferraz Jr 1978)14. A maior parte dos captulos do TPP contm disposies de
imperatividade significativa15, pois estabelecem direitos e deveres imediatamente
aplicveis aps sua entrada em vigor. No Captulo 10 (Comrcio Transfronteirio de
Servios), por exemplo, as Partes adotam, na sua integralidade, o princpio do tratamento
nacional (art. 10.3) e a clusula da nao mais favorecida (art. 10.4) para o fornecimento
de servios. O Captulo 23 (sobre desenvolvimento), por sua vez, caracteriza-se por
imperatividade reduzida16, predominando em seu texto linguagem exortatria e de mero
estmulo ao comportamento das Partes, a fim de que estas adotem determinadas polticas
pblicas favorveis ao desenvolvimento17.
14 O conceito de imperatividade da forma como expresso na teoria geral do direito no se confunde com a ideia de imperatividade (jus cogens) contida nos art. 53 e 64 da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados (1969). 15 Para os fins desse estudo, imperatividade significativa decorre de normas que criam diretamente direitos e obrigaes para as Partes. Uma vez internalizadas, elas so aplicadas diretamente pelos Estado. Nesses casos, a margem de apreciao menor para a Partes. Exemplo: Captulo 10. Comrcio Transfronteirio de servios. 16 Para os fins desse estudo, imperatividade reduzida decorre de normas programticas que exortam as Partes a se comportarem de determinada forma. Em regra, essas normas esto sujeitas ampla apreciao pelas Partes, existindo maior dicricionariedade na sua aplicao. Exemplo: Cap. 23. Desenvolvimento. 17 Article 23.2: Promotion of Development 1. The Parties acknowledge the importance of each Partys leadership in implementing development policies, including policies that are designed for its nationals to maximize the use of the opportunities created by this Agreement.
Inovao temtica reduzida
Inovao temtica moderada
Inovao temtica significativa
Tema regulado por tratado plurilateral firmado no mbito da OMC, ainda que carente de acordos multilaterais.
Tema frequente em acordos preferenciais de comrcio, porm ausente de acordos multilaterais e plurilaterais da OMC (similar ao conceito de OMC-extra).
Tema que no consta de acordos multilaterais e plurilaterais de comrcio, alm de ser pouco frequente nos acordos preferencias de comrcio. Seria inovao inclusive em relao aos temas tradicionalmente considerados.
43
Com frequncia, o TPP requer a leitura cruzada de captulos e faz remisses a
outros tratados e regimes internacionais. Essa caracterstica do TPP exige mtodos de
interpretao sistemtica e integrativa de seus dispositivos, bem como um exerccio
hermenutico no restrito apenas ao seu texto. No captulo de defesa comercial (Captulo
6), por exemplo, o TPP incorpora as disposies dos acordos multilaterais especficos da
OMC (Acordo Antidumping e Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias). O
Captulo de coerncia regulatria (Captulo 25) deve ser lido com os captulos de TBT
(Captulo 8) e SPS (Captulo 7), que incorporam de maneiras distintas diversos pargrafos
dos acordos da OMC. Esses so casos de interao forte entre TPP e outros acordos
internacionais.
Como exemplo de interao moderada, cita-se a matria de meio ambiente
(Captulo 20). Essa matria regulamentada em sintonia estreita com convenes
internacionais de meio ambiente, como, por exemplo, a Conveno sobre o Comrcio
Internacional de Espcies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extino, conhecida
pela sigla CITES. Conforme o Pargrafo 3 do art. 20.17, as Partes do TPP devem-se
esforar para observar as resolues do CITES sobre espcies ameaadas de extino. No
caso do nvel mdio de interao, portanto, o tratado internacional referido no texto do
TPP exerce funo positiva de regulao, prescrevendo indiretamente normas de conduta
s Partes.
A interao reduzida est presente, por exemplo, no captulo de acesso a mercados
(Captulo 2), no qual algumas das excees circulao de bens decorrem da observncia
mandatria dos regimes e dos tratados internacionais de segurana, principalmente os
relacionados s armas de destruio em massa (por exemplo: Tratado de No Proliferao
de Armas Nucleares, conhecido pela sigla TNP; e Conveno sobre Armas Qumicas).
A diferena entre interao moderada e reduzida, para esse estudo, o grau de
importncia do tratado internacional na aplicao das disposies do TPP.
Diferentemente do nvel moderado de interao, a sua verso reduzida nos tratados
internacionais decorre simplesmente da referenciao do texto do TPP, ainda que de
forma a justificar alguma exceo aplicao de alguma disposio do TPP.
44
Tabela 5 Quadro Geral do contedo do TPP18
Inovao temtica Imperatividade Interao com outras normas internacionais
Prembulo
Reduzida
Captulo 1: Provises iniciais e definies gerais Significativa Reduzida
Captulo 2: Tratamento nacional e acesso a mercados Significativa Reduzida
Captulo 3: Regras e procedimentos de origem Significativa Moderada
Captulo 4: Txteis
Significativa Moderada
Captulo 5: Administrao aduaneira e facilitao Reduzida Significativa
Captulo 6: Defesa comercial Significativa Significativa
Captulo 7: Medidas sanitrias e fitossanitrias Moderada Significativa
Captulo 8: Barreiras tcnicas Moderada Significativa
Captulo 9: Investimento
Significativa Moderada
18 As especificidades de cada captulo sero tratadas nas pginas seguintes deste trabalho. O objetivo da tabela proporcionar uma primeira aproximao qualitativa com o contedo de cada captulo.
45
Captulo 10: Comrcio transfronteirio de servios Significativa Reduzida
Captulo 11: Servios financeiros Moderada Significativa Reduzida
Captulo 12: Entrada temporria de empresrios Significativa Significativa Reduzida
Captulo 13: Telecomunicaes Moderada Moderada
Captulo 14: Comrcio Eletrnico Moderada Significativa
Captulo 15: Compras governamentais Reduzida Significativa
Captulo 16: Poltica de concorrncia Moderada Moderada
Captulo 17: Empresas estatais Significativa Significativa
Captulo 18: Propriedade intelectual Significativa
Moderada
Captulo 19: Padres trabalhistas Moderada Significativa Significativa
Captulo 20: Meio ambiente Moderada Significativa Significativa
Captulo 21: Cooperao e capacitao Moderada Reduzida
Captulo 22: Competio e facilitao de negcios Significativa Reduzida
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Captulo 23: Desenvolvimento Significativa Reduzida
Captulo 24: Pequenas e mdias empresas Moderada Reduzida
Captulo 25: Coerncia regulatria Significativa Reduzida
Captulo 26: Transparncia e anticorrupo Moderada Moderada Moderada
Captulo 27: Disposies administrativas e institucionais
Significativa
Captulo 28: Soluo de disputas Significativa Moderada
Captulo 29: Excees Significativa Reduzida
Captulo 30: Disposies finais Significativa Fonte: USTR, 2015. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
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A terceira particularidade do TPP refere-se s condies para sua entrada em
vigor, as quais esto contidas em suas disposies finais19. So previstas duas situaes
distintas: uma na qual as Partes so tratadas de forma igualitria e outra em que elas so
estrategicamente ponderadas conforme o valor de suas economias. No primeiro caso, o
TPP entra em vigor aps todas as Partes notificarem ao depositrio (Nova Zelndia) o
cumprimento dos trmites domsticos referendrios de atos internacionais. Entretanto, no
segundo caso, decorrente do transcurso do prazo de dois anos da assinatura do TPP, a
vigncia deste depende apenas da ratificao de seis Partes, desde que elas representem
pelo menos 85% do PIB somado dos Estados signatrios originais do TPP, considerados
os valores oficiais de suas economias em 2013.
A escolha do valor de 85% do PIB dos Estados signatrios originais do TPP no
parece ser aleatria. Tendo em vista os valores fixos de 2013 para os PIBs dos pases, o
TPP no poderia entrar em vigor caso no fosse ratificado, conjuntamente, pelas duas
maiores economias do bloco: EUA e Japo. Em 2013, a economia dos EUA equivalia a
quase 63% do PIB somado dos Estados signatrios do Acordo (USITC, 2016:53).
Naquele mesmo ano, a economia japonesa representou 17% do PIB das Partes, indicando
que, sem o Japo, a soma das economias pode alcanar no mximo 83% do PIB dos
signatrios, condio insuficiente para vigncia do TPP. Os dois pases, portanto, mesmo
isoladamente, poderiam impedir a entrada em vigor do TPP, ainda que haja ratificao de
todas as outras Partes, evidenciando que o TPP formalizou tratamento diferenciado s
duas maiores economias.
19 Art. 30.5. do TPP.
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Figura 25 Condies de vigncia do TPP Situao 1: Ratificao por todos os signatrios no prazo de 2 anos, contados da data de assinatura
Situao 2: Aps decorrncia do prazo de 2 anos
Fonte: USTR, 2015. Elaborao: CCGI-EESP/FGV
No Japo e nos EUA, a vinculao definitiva aos tratados internacionais ato
jurdico complexo que depende da concordncia do Poder Executivo e do Poder
Legislativo. Nos dois casos, portanto, a simples assinatura constitui aceite precrio do
contedo convencional negociado, demandando posterior ato de ratificao, o qual s
seria possvel aps aprovao legislativa. Grandes compromissos internacionais, como
aqueles que decorrem da vigncia do TPP, geralmente implicam debates mais demorados
na sociedade e no mbito congressual, dificuldade que poderia postergar a entrada em
vigor do TPP, ainda que parcela relevante de suas regras j condicionesse o
comportamento dos agentes eco