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Na situação em questão, relatada no livro de uma forma coberta de emoção, pelo Cabo Amante – Militar do Exército Brasileiro e integrante da Força de Paz da ONU, no Haiti –, temos a impressão que toda a ordem natural foi subvertida e numa questão de dias a caminhada de toda uma existência ocorreu naquele pequeno espaço de tempo. O relato dos fatos ocorridos, sob a visão do Cabo Amante, de uma forma simples e objetiva e ao mesmo tempo emocionante, como é inerente à atividade militar, nos dá uma mostra do turbilhão vivido por aquelas pessoas...

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  • O Que Vi O Que ViVi

    HAITI

  • So Paulo 2011

    O Que Vi O Que ViVi

    HAITIRogRio AmAnte

  • Copyright 2011 by Editora Barana SE Ltda

    Capa e Projeto GrficoAline Benitez

    Reviso Daniel Souza e Carlos Roberto Cordeiro

    CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    ________________________________________________________________A51q Amante, Rogrio O que vi o que vivi: Haiti / Rogrio Amante. - So Paulo: Barana, 2011. Inclui ndice ISBN 978-7923-409-5 1. Foras de paz brasileiras. 2. Foras de paz - Haiti. 3. Soldados - Brasil 4. Haiti - Histria. I. Ttulo. 11-6121. CDD: 972.94 CDU: 94(729.4) 16.09.11 26.09.11 029848

    ________________________________________________________________

    Impresso no BrasilPrinted in Brazil

    DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIO EDITORA BARANA www.EditoraBarauna.com.br

    Rua Janurio Miraglia, 88CEP 04547-020 Vila Nova Conceio So Paulo SP

    Tel.: 11 3167.4261

    www.editorabarauna.com.brwww.livrariabarauna.com.br

  • PREFCIO

    Assim que recebi o convite para escrever esse pref-cio fiquei surpreso e muito feliz, pois o livro O que vi... o que vivi Haiti relata tudo o que vivi, direta ou indi-retamente. Confesso que essa ideia de escrever um livro passou pela minha cabea, assim que soube que estaria indo para o Haiti, mas no haveria muito contedo, pois toda tormenta eu no vivi de perto.

    Com certeza o livro vem para marcar ainda mais nossas vidas aps essa grande tragdia. Marca no s a todos os militares que presenciaram de perto a perda de grandes amigos, como tambm a ns que de longe es-pervamos aflitos notcias de familiares e amigos. Mar-ca sim, pois foram seis meses em que sentimos saudade e esperamos ansiosamente a volta de todos. Marca pela vitria de militares que deixaram seus lares e suas fam-lias para cumprirem sua misso. Um livro que no relata somente o que se passou durante a misso com a perda de grandes amigos, mas a conquista de dois novos heris que estaro sempre gravados nos nossos coraes.

  • 6Rogrio Amante

    Tenho certeza que esse livro tem as mos de Deus, que proporcionou nesses momentos, bons ou ruins, coi-sas maravilhosas na vida dele e o inspirando a construo dessa obra. O mesmo Deus que o livrou de todo o perigo e guardou sua vida.

    Espero que todos possam apreciar e se identificar re-almente com tudo o que foi vivido e relatado nessa gran-de obra. Que Deus continue te abenoando e iluminan-do, meu Querido Irmo. Te amo.

    Cb Danilo dos Santos Amante

  • 7O QUE VI O QUE VIVI HAITI

    Introduo

    Eu, Rogrio dos Santos Amante, incorporei nas For-as Armadas no incio de 2005 quando tinha ainda de-zoito anos de idade e no perodo obrigatrio de servio militar, fui designado ao 2 Batalho de Caadores, Ba-talho Martim Afonso situado na cidade de So Vicente SP, que estava em transio nesse mesmo ano para 2 Batalho de Infantaria Leve. Um batalho com grandes tradies, hoje aos seus 58 anos, exibe uma tropa total-mente adestrada na defesa da garantia da lei e da ordem G.L.O. Desde o primeiro ano de Exrcito pude ver e sen-tir realmente a grandeza da vida militar no Exrcito, um lugar onde aprendemos coisas que no aprenderamos em lugar algum, e, nesse mesmo ano conclui com xito o curso de formao de cabos o CFC e em novembro do decorrente ano recebi minha promoo a graduao de cabo.

    Desde 2006 estive no Peloto de Reconhecimento, que executa um trabalho muito importante na funo no batalho, em que apoia todo o batalho. o peloto que vai na frente, sempre o primeiro a chegar e o ltimo

  • 8Rogrio Amante

    a sair no terreno, e nossa misso no somente pilotar motos, somos adestrados para misso de defesa externa, operando como olhos do batalho no terreno, a misso do Pel Rec est to prxima do xito, quanto ao fracasso.

    Hoje, aps seis anos de servio militar, sinto o grande orgulho da misso que cumprimos, dos princpios que se-guimos e da nobre misso que servir no Exrcito Brasileiro.

    Quando houve o boato da misso para o Haiti, isso logo se tornou o meu sonho, mas confesso que me assus-tei e senti um pouco de medo de no poder participar, pois recentemente havia tido um acidente no batalho e ainda estava usando gesso no brao, mas mesmo assim me voluntariei, naquela espera e nsia de ser um dos esco-lhidos, at porque quase o batalho inteiro era voluntrio ento a concorrncia era enorme, e as vagas por subuni-dade eram poucas e no meu caso somente quatro vagas para mais de treze que estavam espera, e o comandante de companhia aps vrias reunies com outros militares, pois a seletiva bem rigorosa e deve ser assim, no dia 10 de dezembro sairia em boletim a listagem completa dos escolhidos segundo os critrios exigidos para a misso. O Cap. Morgero, hoje major, reuniu Caldeira, Wirlon, Dirceu e eu para nos dar a notcia que tnhamos sido os escolhidos da companhia entre os cabos. Nossa ale-gria era imensa! Tnhamos muita confiana, pois sempre demos o mximo , e nossa felicidade era visvel; vibra-mos demais com a notcia, pois no qualquer um que vai para uma misso no exterior onde representamos o prprio pas e dentro do Exrcito algo muito difcil, e em especial para quem serve de corao e tem vibrao e

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    veste a camisa camuflada, est pronto para fazer qualquer coisa, mesmo que possa valer sua prpria vida, e nosso orgulho era imenso.

    O militar do Exrcito sempre almeja a misso real; era, realmente, um sonho, que estava para se realizar, e no via a hora de contar para todos da minha famlia.

    Eu, Caldeira e o Dirceu comeamos a nos abraar e a chorar, e o capito nos elogiou dizendo que fomos escolhi-dos como recompensa do nosso trabalho durante todo esse tempo. No mesmo dia fui escalado para ajudar na seletiva e cadastramento do pessoal do contingente, e agora seria todo um processo minucioso, pois fizemos recolhimentos de dados, cadastramos um a um dos dados, entregas de documentos, providenciamos passaporte e tudo mais, e numa das listas eu tinha visto tambm o nome do cabo Pe-reira. Chamei o Dirceu e disse que ele tinha sido escolhido tambm, e que estava no meu peloto, ele na hora vibrou com a notcia que eu tinha dos bastidores, e disse Vamos falar para o Rondon, e eu disse: No, vamos esperar o ca-pito falar com ele. Resultado: as vagas do pessoal que era de outra qualificao militar haviam sido cortadas, no caso do Pereira que de Comunicaes e no de Infantaria, en-to a vaga do cabo Pereira tinha sido cancelada. Sentimos muito por isso quando ficamos sabendo, pois ele merecia ir conosco, sempre deu o seu melhor no Exrcito e todos os que o conhecem sabem disso.

    Gozamos nossas frias no ms de dezembro de 2008, e logo no incio de janeiro de 2009 comeamos os treinamen-tos, mudana de companhia, um privilgio que o batalho nos deu. Ficamos na companhia batizada de Companhia

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    Rogrio Amante

    Haiti atravs do capito Dornelles, onde formou os pelotes e assim comearam os treinamentos fsico, mental e psico-lgico. Na parte fsica no tnhamos muita dificuldade, pois faz parte da rotina militar, o treinamento fsico; A questo mental de grande valia e importncia, pois o militar pas-sa por todos os tipos de processos sentimentais, saudade da famlia e amigos, mudana de local onde vive e passar a viver agora por mais de seis meses, e no nada fcil, ainda mais para quem nunca saiu de casa por mais de dez dias ou mesmo tem seu filho em casa a sua espera todos os dias. A dor grande, mas isso tem que ser controlado na mente de cada um. Tudo para que a misso fosse a melhor possvel e no fssemos pegos de surpresa em nenhuma situao, para que quando chegssemos a Lins ou em Campinas, que foi uma de nossas sedes de treinamento.

    Nosso treinamento fora executado e organizado pelo comando do 11 Batalho de Fora de Paz e nos-sa sede era em Campinas, no 28 Batalho de Infantaria Leve, onde aprendemos todos os tipos de situaes que enfrentaramos nesses prximos seis meses. Ento estva-mos todos prontos. Uma tropa adestrada e pronta para honrar o nome do Exrcito, e ns de So Vicente no queramos ser diferentes e desde o incio dos treinamen-tos sempre fomos destaques perante o Batalho de Fora de Paz. ramos elogio e exemplo. Exemplo de tropa uni-da e adestrada, com objetivo a ser traado.

    Ento, a partir da separao dos pelotes, eu agora fazia parte do 4 peloto da 3 Companhia de Fuzilei-ros de Fora de Paz do 11 contingente de Fora de Paz da MINUSTAH. (MISSO DAS NAES UNIDAS

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    O QUE VI O QUE VIVI HAITI

    PARA ESTABILIZAO DO HAITI).Teramos que honrar o nome do 2 BIL e suas tradi-

    es, e assim fizemos at o ultimo minuto, at o retorno. Nosso embarque teve uns imprevistos, ento nossa mis-so deu uma atrasada por pelo menos quase dois meses. Iramos em maio e voltaramos em novembro de 2009, mas Deus quis que fssemos em julho de 2009, ento nosso retorno seria l pelos meados de janeiro de 2010.

    Infelizmente nossa misso no foi exatamente como o previsto, foi da maneira que Deus quis. Somos muito egostas, queremos as pessoas que amamos para sempre nas nossas vidas, para sempre ao nosso lado, e de repente quando olhamos para o lado, as pessoas que nos fazem bem, que nos apoiam sempre, no esto mais ao nosso lado. Aps as despedidas da famlia, e o dia do embarque to o esperado, logo chegaria.

    Fora Anhanguera!!!

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    Rogrio Amante

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    O QUE VI O QUE VIVI HAITI

    Dia do embarque 9 de julho

    Sei que complicado para explicar qual esse sen-timento que hoje eu estou sentindo, nunca pude imagi-nar que estaria passando por momentos to inesquecveis como estes de hoje, mas creio que Deus tem um prop-sito em tudo na nossa vida. Ele fiel e nos honra sempre, sempre nos mostra que nosso grande Pai.

    Um dia nunca durou tanto quanto esse; despedi-me de vrias pessoas sem imaginar que daria tempo. Arrumei minhas coisas, ajeitei as minhas contas para minha noiva acertar no Brasil, e sabia que estava tudo no controle, no controle de Deus.

    Tantas expectativas para uma misso to esperada, que s vezes nos parece impossvel, um sonho que quem est para viver por certas vezes no imagina o que possa ser.

    Chegou o dia do embarque, hoje dia 9 de julho, a famlia quase toda reunida, a maioria dos que pude-ram ir, me, pai, madrasta, sogra, noiva, irmo, cunhada, tia, tio, amigos, e claro a minha grande princesa, minha estrela iluminada: minha filha Luza, que nesse dia me deu muita alegria de estar compartilhando uma emoo

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    Rogrio Amante

    e realizao de um sonho, mais um passo na vida. Infe-lizmente no puderam ir minhas cunhadas, meu sogro e minha prima por questes de trabalho, mas tivemos nossas despedidas pessoais.

    No saguo da Base Area de Guarulhos estavam fa-miliares e amigos de todos os militares. Iam por volta de uns 130 militares no ltimo embarque para poder assim completar o 11 Contingente do Batalho de Fora de Paz, todos na expectativa do embarque. Ningum sabia quando seria exatamente a hora do embarque, pois por vrias vezes nos reunimos, e acontecia aquela despedida com a famlia. Logo depois de alguns minutos, voltva-mos novamente para junto da famlia, e assim foi por vrias vezes, at que por volta das 14h tivemos que dar o ltimo tchau famlia.

    Formamos uma fila indiana e de um em um, passa-mos pegando nosso catanho (lanche) para consumir no avio e avistamos aquela galera, todos da famlia vibran-do, pulando, acenando com as mos. Uma cena que nun-ca pude imaginar ver, uma espontaneidade enorme, emo-cionante, inesquecvel. Lembro-me da minha filha sobre os ombros do meu irmo Danilo. Cada sinal que eu dava com as mos, recebia de volta do grupo, de longe avistava uma grande baguna. Quando cheguei base e falei com quem estava l, me disseram que nessa baguna estavam bradando os nomes dos militares um por um, mas pelo grande som que soa das turbinas do grande Hercules da Fora Area Brasileira no podamos ter noo do que nossos familiares bradavam.

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    O QUE VI O QUE VIVI HAITI

    Entramos no avio, eu fui um dos ltimos a entrar. Fiquei perto de uma minscula janela. Cada lado do avio s possua trs janelas, uma delas estava eu, que l de dentro, ainda conseguia ver a turma toda l fora acenando com as mos. O destaque era a Luza em cima dos ombros do Danilo. Ali naquela hora tive que encarar a realidade, mesmo que ainda no tivesse cado a ficha, era uma realidade.

    Dentro do avio nos ajustamos em cada lugar aper-tado que sobrava, claro que isso era raro. Aguardamos a decolagem do Hercules. Exatamente s 14h27min, hor-rio de Braslia, l se foi o grande Hrcules. Um voo suga-do, cansativo, muito calor dentro da aeronave, mas todos numa apreenso, envolvida num sentimento que outrora nunca havamos sentido, sem saber o que poderia acon-tecer nas prximas horas. s 21h40min, depois de mais de 7 horas de voo, sem nenhuma escala pisamos no solo do Norte, atravessamos o pas, descemos em Roraima, no final do Brasil. Desde pequeno ouvi falar de Roraima, onde minha prima mora, mas no imaginava pisar ali to cedo, mas Deus sabe de todas as coisas, e l estava eu. Por volta das 23h, samos da base area e fomos a 1 BDA de Selva, quando era quase meia-noite estvamos jantando. Ainda tinha tomar banho, arrumar as coisas, devolver ar-mamento, s depois fui dormir, e no dia seguinte tnha-mos que levantar cedo, pegar nossas coisas, e preparar para mais uma viagem, rumo ao nosso objetivo: o Haiti.

    Acordamos cedo, tomamos caf. Agora era s esperar as ordens de sada. Chegamos base area de Roraima. Es-peramos todos arrumarem as coisas, colocarem a bagagem

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