o que É o sucesso no tratamento com implantes...

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Rev. Cient. InFOC v.2 n.1 jan-jun. 2017 ISSN 2525443X ODONTOLOGIA O QUE É O SUCESSO NO TRATAMENTO COM IMPLANTES OSSEOINTEGRADOS? *Luiz Rodrigo Cortes Lopes **Júlio César Joly RESUMO A reabilitação oral obteve um grande aliado nos tratamentos complexos com o advento da Implantodontia. Com o passar dos anos, foram sendo também incorporadas nesses eventos os tratamentos menos complexos, até chegar ao tratamento de elementos unitários através dos implantes, com essa evolução as expectativas depositadas nestes tratamentos também foram se alterando. O presente estudo teve como finalidade uma revisão de literatura sobre a percepção dos índices de sucesso na implantodontia ao longo dos anos, uma vez que tal percepção vem sofrendo alterações tanto por parte dos implantodontistas quanto por parte de seus pacientes. Uma busca eletrônica foi realizada na base de dados MEDLINE até agosto de 2014, limitada a estudos nas línguas portuguesa e inglesa, empregando estratégias de busca específicas. Foram incluídos ensaios clínicos controlados e não controlados. Palavras-chave: Implantes dentários. Interface implante/pilar. Cone Morse. ABSTRACT Oral rehabilitation gained a strong ally in complex treatments with the advent of implantology. Over the years, the less complex treatments were also incorporated in these events, until the treatment of unit elements through the implants, with this evolution the expectations deposited in these treatments were also changing. The present study aims to review the literature on the perception of success rates in implantology over the years since this perception is undergoing changes both by the implantodontists and by their patients. An electronic search was conducted in the MEDLINE database until August 2014, limited to studies in the Portuguese and English languages, using specific search strategies. Controlled and uncontrolled clinical trials were included. Keywords: Dental implants. Implant/abutment interface. Morse taper. *Doutorando em Implantodontia Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic Campinas SP. Professor do Centro Universitário Fluminense UNIFLU Campos dos Goytacazes RJ. **Doutor em Periodontia UNICAMP Recebido em 04∕11∕2016 Aceito em 11∕11∕2016 Endereço para correspondência: [email protected]

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Rev. Cient. InFOC v.2 n.1 jan-jun. 2017 ISSN 2525443X ODONTOLOGIA

O QUE É O SUCESSO NO TRATAMENTO COM IMPLANTES OSSEOINTEGRADOS?

*Luiz Rodrigo Cortes Lopes **Júlio César Joly

RESUMO

A reabilitação oral obteve um grande aliado nos tratamentos complexos com o advento da

Implantodontia. Com o passar dos anos, foram sendo também incorporadas nesses eventos os

tratamentos menos complexos, até chegar ao tratamento de elementos unitários através dos implantes,

com essa evolução as expectativas depositadas nestes tratamentos também foram se alterando. O

presente estudo teve como finalidade uma revisão de literatura sobre a percepção dos índices de

sucesso na implantodontia ao longo dos anos, uma vez que tal percepção vem sofrendo alterações

tanto por parte dos implantodontistas quanto por parte de seus pacientes. Uma busca eletrônica foi

realizada na base de dados MEDLINE até agosto de 2014, limitada a estudos nas línguas portuguesa

e inglesa, empregando estratégias de busca específicas. Foram incluídos ensaios clínicos controlados

e não controlados.

Palavras-chave: Implantes dentários. Interface implante/pilar. Cone Morse.

ABSTRACT

Oral rehabilitation gained a strong ally in complex treatments with the advent of implantology. Over

the years, the less complex treatments were also incorporated in these events, until the treatment of

unit elements through the implants, with this evolution the expectations deposited in these treatments

were also changing. The present study aims to review the literature on the perception of success rates

in implantology over the years since this perception is undergoing changes both by the

implantodontists and by their patients. An electronic search was conducted in the MEDLINE database

until August 2014, limited to studies in the Portuguese and English languages, using specific search

strategies. Controlled and uncontrolled clinical trials were included.

Keywords: Dental implants. Implant/abutment interface. Morse taper.

*Doutorando em Implantodontia Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic Campinas SP. Professor

do Centro Universitário Fluminense UNIFLU Campos dos Goytacazes RJ.

**Doutor em Periodontia UNICAMP

Recebido em 04∕11∕2016 Aceito em 11∕11∕2016 Endereço para correspondência: [email protected]

Rev. Cient. InFOC v.2 n.1 jan-jun 2017 ODONTOLOGIA

LOPES Luiz Rodrigo Cortez JOLY Júlio César

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1. INTRODUÇÃO

A possibilidade de se repor dentes perdidos com implantes aumentou as opções de

tratamento restauradores capazes de oferecer satisfação estética e funcional (PIETRABISSA et al.,

2000). Com o aumento do número de casos implantados, cresceram também os números de

insucessos (HECKER et al., 2006). O sucesso na terapia com os implantes osseointegrados não

consiste, somente, na união do implante ao osso. Considera-se que uma perfeita adaptação entre o

pilar protético e o implante também seja um requisito importante (COPPEDÊ et al., 2009). Alguns

fatores ainda permanecem sujeitos à discussão, já que, biomecanicamente, as forças aplicadas ao

conjunto implante/pilar protético poderiam promover riscos à manutenção da osseointegração. A alta

incidência do afrouxamento dos parafusos de fixação e a presença de fenda na adaptação entre o

implante e o pilar protético são exemplos de possíveis complicações em médio e longo prazo (KANO

et al., 2007).

Na conexão tipo cone Morse, as cargas funcionais apresentam melhor distribuição, com

alta pressão na área de contato, permitindo uma retenção estável da posição pelas forças de atrito

(MERZ et al., 2000). A forma do cone Morse previne o afrouxamento dos componentes sob carga

axial direta. Enquanto a pré-carga nos filetes de rosca pode ser minimizada, o atrito no cone garante

uma ligação estável e livre de rotação entre o implante e a conexão (MERZ et al., 2000). Na literatura

sugere-se que o torque médio para soltar o parafuso foi maior do que o torque de aperto de 25 N/cm

preconizado pelos fabricantes nas conexões do tipo morse (HAACK et al., 1995).

O implante cone Morse com 11° de conicidade apresentou alto desempenho no destorque

do pilar protético, indicando que as ligações cônicas entre o implante e a conexão aumentam

substancialmente a capacidade do sistema de resistir aos ensaios mecânicos (FERNANDES et al.,

2011). Pesquisadores propuseram uma ligação com afunilamento de 8° entre o implante e a conexão

como uma combinação ótima de posicionamento vertical previsível e características de

autofechamento (SUTTER et al., 1993). Resultados similares foram obtidos com as conexões cônicas,

as quais aumentaram a resistência às forças de curvamento, e ao torque para remoção dos parafusos

do abutment após ciclagem mecânica, maior que o torque inicial aplicado. Isto pode ser devido à

melhora da fixação entre o pilar sólido reto e o cone Morse, aumentando a força necessária para a

remoção do parafuso, pois a conicidade induz forças friccionais entre o componente e o implante,

possibilitando uma melhor adaptação entre as superfícies sobrepostas (NORTON, 1999).

Segundo Zipprich et al. (2007), quanto menor a angulação interna das paredes da conexão

Morse, menor será o desajuste do pilar quando submetido à carga.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

Adell et al. (1981) citaram que a osseointegração implica em uma firme, direta e

duradoura conexão entre o osso vital e os implantes de titânio em formato de parafuso com definido

acabamento e geometria, não havendo interposição de nenhum outro tecido entre o implante e o osso.

Sua ocorrência é dependente da técnica cirúrgica de instalação, do período de cicatrização e da

apropriada distribuição do stress do implante em função. Durante seu estudo, num período de 15 anos

(1965-1980), 2768 implantes foram instalados em 410 maxilares edêntulos de 371 pacientes. Após

um período de cinco a nove anos de observação, 130 maxilares com 895 implantes puderam ser

reavaliados. Destes, 81% dos implantes maxilares e 91% dos implantes mandibulares permaneceram

estáveis, suportando próteses. Em 89% dos maxilares e em 100% dos casos mandibulares, as próteses

continuavam em função.

Skalak (1988) afirmou que a sobrecarga aplicada aos implantes pode levar à reabsorção

óssea marginal, gerar um aumento no braço de potência do complexo implante/pilar protético e

aumentar a possibilidade de fratura do implante, o que remeteria à ocorrência de fracassos. Muitos

outros trabalhos foram desenvolvidos e apresentaram taxas de sucesso diferentes para cada estudo

conforme o tamanho da amostra, as características da população estudada, a localização dos

implantes, os tipos de implantes e as técnicas utilizadas.

Smith & Zarb (1989) estabeleceram um padrão de comparação entre os resultados dos

estudos com o objetivo final de formatar critérios de sucesso, a saber: a) um implante individual e

não unido a outro implante ou dente deve estar imóvel quando testado clinicamente; b) não deve

haver evidência de radiolucidez peri-implantar quando avaliado em radiografia sem distorção; c)

nenhuma dor persistente, desconforto ou infecção deve ser atribuída ao implante; d) a média de perda

óssea vertical deve ser menor do que 0,2 mm, anualmente, após o primeiro ano de uso; e) o desenho

do implante deve permitir a colocação de uma coroa ou prótese com aparência satisfatória para o

paciente e o cirurgião-dentista e; f) taxas de sucesso mínimas de 85% ao final de um período de cinco

anos de observação e de 80% ao final de dez anos.

Jemt & Lekholm (1995) ressaltaram que o tabagismo foi citado como um fator de risco

em implantodontia por todos os autores revisados, não sendo clara, no entanto, a relação entre a

quantidade de cigarros consumida por dia e a taxa de complicações. Observaram, ainda, um consenso

em relação à sobrecarga oclusal como principal fator causal de falhas tardias e, como complicação

mais rotineira, o afrouxamento e a fratura de parafusos e componentes.

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Norton (1997) relatou que as vantagens da utilização do sistema de conexão CM são: a)

a ausência de microfendas na junção pilar protético/implante (maior justeza) graças ao encaixe

preciso entre as superfícies cônicas, porquanto diminui o risco de formação de espaços e evita a

contaminação bacteriana; b) melhor transmissão de força do pilar protético ao implante, tendo em

vista que provoca melhor distribuição das cargas mastigatórias nas paredes internas do implante,

fazendo com que o gradiente de tensão na região cervical seja transmitido ao osso de forma mais

adequada, protegendo o parafuso de retenção do pilar protético e evitando o seu afrouxamento; c)

melhor estabilidade do conjunto pilar protético/implante; d) as próteses são inseridas no sulco

gengival e afastadas da superfície óssea, a fim de que se proporcione a ausência de odores e de

inflamação gengival peri-implantar, além de muito menor perda óssea e; e) o ângulo do cone é

produzido com precisão, provocando grande retenção por atrito, dificultando a remoção do pilar do

seu respectivo implante.

Priest (1999) apresentou estudo que acompanhou, por dez anos, 96 pacientes tratados com

116 implantes e 112 próteses unitárias implantossuportadas. Três implantes falharam nesse período,

com índice de sobrevivência de 97,4%. Dentre as complicações protéticas encontradas estavam: perda

de parafusos (7,1%), falha na cimentação (5,4%), perda da prótese (1,8%), fratura de parafuso (1,8%),

exposição da margem (1,8%) e fratura da cerâmica (0,9%) - que somaram um índice total de

complicações de 18,8%. A perda de parafusos foi a falha predominante.

Spiekermann (2000) classificou as complicações em trans-operatórias e pós-operatórias

(imediatas ou tardias). Dentre as complicações trans-operatórias, o autor incluiu: hemorragia; lesão

ao nervo; perfuração do seio nasal ou maxilar; fratura da mandíbula; e consequências da técnica

inadequada de instalação dos implantes (deiscência óssea, perfuração óssea, danos aos dentes

adjacentes, estabilidade primária insuficiente). Foram definidas como complicações pós-operatórias

imediatas: hemorragia; hematoma; edema; infecção; separação das margens da ferida; perfurações da

mucosa; enfisema cirúrgico; e mobilidade do implante. Como complicações pós-cirúrgicas tardias,

listam-se: patologia peri-implantar; fratura do implante; sinusite crônica; dor crônica; danos

secundários ao nervo; e irritação da mucosa. O autor apresentou como principais complicações

protéticas a localização e o eixo de orientação desfavoráveis dos implantes; o afrouxamento e a fratura

do pilar protético; o afrouxamento e a fratura dos parafusos oclusais; a fratura da estrutura metálica;

as complicações estéticas e a perda do implante. As principais causas para o afrouxamento ou a fratura

de pilares protéticos e parafusos oclusais são: a falta de precisão de adaptação; a ausência de

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estabilidade posicional; e as relações oclusais da supraestrutura - assim como a ausência de

ancoragem sólida dos implantes ao osso.

Mangano et al. (2010) estudaram implantes unitários e avaliaram a incidência de

afrouxamento do parafuso do pilar protético nas conexões do tipo CM, a taxa de sobrevivência dos

implantes CM e o sucesso das restaurações sobre os implantes. Ao todo, foram analisados 295

pacientes e instalados 307 implantes (Leone Implant System). Testou- se o conjunto com 12, 24, 36

e 48 meses após serem colocados em função. Os autores utilizaram os seguintes critérios para

determinar a taxa de sobrevivência: ausências de afrouxamento do pilar protético, de mobilidade do

implante, de imagem radiolúcida peri-implantar e de supuração. No total, cinco implantes falharam,

contudo houve taxa de sobrevivência de 98,4% e a incidência de afrouxamento de parafuso foi de

0,66%. Os exames radiográficos apontaram perda óssea de 0,90 mm, 0,92 mm e 1,02 mm e 1,14 mm

em 12, 24 e 36 e 48 meses. Concluíram que a conexão CM representa um tratamento ideal para

implantes unitários, bem como apresenta incidência de afrouxamento de parafuso de 0,66%,

sobrevida de 98,4% e sucesso do conjunto implante/coroa de 97,07% num período de quatro anos.

Ricomini Filho et al. (2010) alertaram para o fato de que a perda da pré-carga pode

favorecer o desajuste da interface implante/pilar e que a colonização bacteriana nesta interface pode

levar à perda de implantes. Os autores avaliaram a perda de pré-carga e a infiltração bacteriana através

da interface implante/pilar de sistemas de conexão cônica e hexágono externo, submetidos à ciclagem

térmica e fadiga mecânica (CF). Quatro diferentes sistemas de conexão implante/pilar foram

avaliados (n = 6): hexágono externo com munhão universal; cone Morse com munhão universal; cone

Morse com munhão universal; parafuso passante; e cônica justaposição com pilar padrão. Os

espécimes (implante/pilar) foram submetidos à ciclagem térmica (1000 ciclos a 5°C e 55°C) e à fadiga

mecânica (1,0 milhão de ciclos, 1,0 Hz, 120 N). Os espécimes foram imersos em caldo (Tryptic Soy

+ Yeast Extract contendo Streptococcus sanguinis) e incubados a 37°C e 10% de CO2 por 72 horas.

Os valores de destorque foram registrados. A infiltração bacteriana foi avaliada e os pilares foram

observados por microscopia eletrônica de varredura. Todos os sistemas de pilares parafusados

apresentaram maiores valores de destorque quando submetidos à CF (p < 0,05) e todos os sistemas

cônicos apresentaram infiltração bacteriana. Os resultados mostraram que não houve relação entre a

perda da pré-carga e a infiltração bacteriana.

Coppedê et al. (2011) avaliaram o torque de remoção de parafusos de pilar de dois

sistemas de implantes: conexão em hexágono externo e conexão em triângulo interno, utilizando

parafusos convencionais e parafusos experimentais cone Morse. Os implantes e pilares foram

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divididos em quatro grupos: grupo 1) hexágono externo/parafuso convencional (HE); grupo 2)

triângulo interno/parafuso convencional (TI); grupo 3) hexágono externo/parafuso cone Morse

(HECM); grupo 4) triângulo interno/parafuso cone Morse (TICM). Os pilares foram instalados em

seus respectivos implantes com torque de 32 Ncm. Após dez minutos, os pilares foram removidos e

os torques de remoção dos parafusos medidos utilizando-se um torquímetro digital. Houve diferença

significativa (p > 0,001) entre os dois tipos de parafusos, com melhores resultados para os parafusos

cone Morse. Não houve diferença significativa entre os dois sistemas de implante. Foi possível

concluir que os parafusos cone Morse representam uma alternativa para evitar os afrouxamentos de

parafusos em próteses implantossuportadas, independentemente do sistema de implante utilizado.

Freitas-Júnior et al. (2013) realizaram um estudo para avaliar a resistência e os modos de

falha de restaurações unitárias anteriores sobre implantes de interface interna cônica. Quarenta e dois

implantes foram distribuídos em dois grupos (Astra Tech (AT) x Signo Vinces (SV)). Os pilares

correspondentes foram parafusados aos implantes e as coroas metálicas padronizadas de incisivos

centrais superiores foram cimentadas. Luz polarizada e microscópio eletrônico de varredura foram

utilizados para a análise de falha. Os resultados mostraram que a fadiga foi um fator acelerador de

falha para os dois grupos. Os resultados mostraram que a confiabilidade para o grupo AT foi de 0,95

e para o grupo SV foi de 0,88, mas não houve diferença significativa entre os grupos testados. Em

todas as amostras dos dois grupos, o tipo de falha mais comum foi a fratura do pilar na região da junta

cônica e a fratura do parafuso na região do pescoço. A resistência não foi diferente entre as conexões

investigadas, que suportavam coroas de incisivos superiores. Os modos de falha foram similares.

Pozzi et al. (2014) avaliaram, num ensaio clínico controlado e randomizado, 34 indivíduos

parcialmente edêntulos que receberam aleatoriamente pelo menos um implante NobelActive de

conexão cônica interna, e um implante NobelSpeedy com hexágono externo. Não foram observadas

falhas entre os conjuntos implante/pilar num período de três anos de acompanhamento. A perda óssea

peri-implantar foi significativamente diferentes entre os tipos de implantes, com melhores resultados

para os implantes NobelActive. Os implantes NobelActive apresentaram reabsorção óssea vertical de

0,66 mm, em comparação com 1,25 mm para os implantes NobelSpeedy. A reabsorção óssea

horizontal média foi de 0,19 mm para os implantes NobelActive e 0,60 mm para os implantes

NobelSpeedy. Os resultados sugerem que a perda óssea peri-implantar pode ser afetada pelo tipo de

conexão implante/prótese.

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3 DISCUSSÃO

Quando se iniciaram os tratamentos reabilitadores através de implantes osseointegrados,

as análises de sucesso dessas reabilitações estavam muito focadas na manutenção da osseointegração

dos implantes. Com o passar dos anos começou a ser observada a perda das próteses sobre implantes,

porém com a manutenção da osseointegração. Principalmente após os avanços dos tratamentos

através de implantes quando as reabilitações se voltaram para resolução de casos de arcadas

parcialmente desdentadas e chegando ao tratamento de elementos unitários. A partir desse avanço,

passou a ser mais frequente o aparecimento de afrouxamento e fratura do pilar protético, o que levou

a uma maior preocupação sobre essa união entre implante e pilar protético.

Dessa forma, atualmente os índices de sucesso de implantes vão além da osseointegração,

sendo também observadas as taxas de sucesso das próteses sobre os implantes, a perda óssea peri-

implantar vertical e horizontal, o sangramento à sondagem e o índice de placa, citados por Coppedê

et al. (2009), bem como também por Smith & Zarb (1989), entre outros. Com novos índices de

sucesso da implantodontia, observou-se, então, a necessidade de uma união entre o implante e pilar

que possam dar mais estabilidade mecânica ao conjunto, que minimizem a infiltração bacteriana e

diminuam a perda óssea peri-implantar tanto no sentido vertical quanto no sentido horizontal.

Segundo Levine et al. (1999), em 22,2% das coroas de implantes unitário, os parafusos

afrouxavam. De acordo com Jung et al. (2008), o afrouxamento dos parafusos é a segunda maior

causa de complicações em próteses fixas sobre implantes - sobretudo maior em coroas unitárias - e

atinge uma taxa acumulada após cinco anos de 12,7%. Já Theoharidou et al. (2008) consideraram que

o afrouxamento do parafuso do pilar protético em próteses unitárias é um evento raro,

independentemente do tipo de conexão, desde que componentes antirrotacionais e torque adequado

sejam empregados. Apesar da controvérsia na literatura, o fato é que, nos dias atuais, a implantodontia

moderna está cada vez mais focada no estudo da união entre implante e pilar protético - para que tal

união seja cada vez mais estável ao logo dos anos. Os resultados obtidos no presente estudo sugerem

uma maior estabilidade da união entre implante e pilar protético na conexão do tipo morse.

Um dos grandes problemas da conexão entre implante e pilar protético era o

afrouxamento do parafuso, o que trazia como consequência a perda de pré-carga. Foi observado que,

com a perda da pré-carga, poderia haver um favorecimento ao desajuste da interface entre implante e

pilar - desajuste que vem a favorecer a colonização bacteriana nessa interface, o que poderia levar à

perda de implantes segundo Jemt et al. (1990). Vidigal Junior et al. (1995) concluíram que a falta de

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boa adaptação entre o implante e seu pilar protético implica em acúmulo de biofilme, suscita peri-

implantite e compromete a manutenção da osseointegração.

Merz et al. (2000) mostraram que as conexões Morse foram superiores mecanicamente a

longo prazo. No presente estudo, foi observado que os implantes cone Morse conferem uma melhor

estabilidade ao conjunto. Isto pode ser devido ao mecanismo de travamento entre as peças passou a

não depender mais somente de um parafuso passante entre pilar e implante, chegando em alguns casos

a três tipos de travamento: parafuso passante, cone Morse e o índex, que acaba funcionado como um

hexágono interno (antirrotacional).

Pozzi et al. (2014) observaram que não houve falhas entre os conjuntos implante/pilar

num período de três anos de acompanhamento. Esses resultados sugerem que a perda óssea peri-

implantar pode ser afetada pelo tipo de conexão implante/prótese. Assenza et al. (2003) apoiaram que

as mudanças no nível da crista óssea podem depender da localização da microfenda entre o implante

e o pilar protético. Quanto mais estável for a união entre implante e pilar protético e mais distante do

osso essa união se der, menor a possibilidade de colonização bacteriana com potencial patogênico

que possa causar peri-implantite e perda óssea marginal ao implante e possíveis perda de

osseointegração. Durante o presente estudo, também foi observado que todos os conjuntos de

implante e pilar protético trabalham com o conceito de plataforma reduzida, que afasta essa união do

osso, como passaram a sugerir os autores citados.

Diante dessa nova realidade de índices de sucesso focados na manutenção das próteses

sobre os implantes, surgiu a necessidade de uma interface entre implante e pilar mais estável. Alguns

modelos foram propostos até chegar na conexão do tipo Morse, que consiste em estrutura formada

por dois cones - um “macho” e uma “fêmea” - e baseia-se no princípio de “cone dentro de cone”. Tal

configuração se apresenta com angulações de 8º a 5,5º que promovem uma extensa área de contato

entre as superfícies e provocam o travamento por fricção entre os componentes. Dessa forma, a

conexão do tipo Morse prometeu resolver as situações mais problemáticas dessa união. Mangano et

al. (2010) chegaram à conclusão que a conexão do tipo Morse representava um tratamento ideal para

implantes unitários, bem como apresenta incidência de afrouxamento de parafuso de 0,66%,

sobrevida de 98,4% e sucesso do conjunto implante/coroa de 97,07% num período de quatro anos.

Coppedê et al. (2011) concluíram que as conexões Morse representam uma alternativa para evitar os

afrouxamentos de parafusos em próteses implantossuportadas. Portanto a conexão do tipo Morse

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entre implante e pilar protético promete dar mais estabilidade ao conjunto, minimizando as falhas

decorrentes do afrouxamento do pilar protético.

Figura 1 Imagem de laboratório de reabilitação com implantes, onde se observa a preservação dos

tecidos osseo e gengival ao redor do implante. Fonte: Lopes LR, 2014.

Figura 2 Imagem oclusal de reabilitação com implante do dente 14, onde se observa a preservação dos

tecidos osseo e gengival ao redor do implante. Fonte: Lopes LR, 2014.

Figura 3 Imagem vestibular de reabilitação com implante do dente 14, onde se observa a preservação

dos tecidos osseo e gengival ao redor do implante. Fonte: Lopes LR, 2014.

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4 CONCLUSÃO

Na literatura consultada foi observado que os índices de sucesso em implantodontia foi se

alterando ao longo dos anos, por uma evolução dos tratamentos. Os primeiros estudos mediam como

sucesso apenas o simples fato do implante se manter osseointegrados ao logo dos anos. Atualmente

fatores como ausência de perda óssea e sangramento ao redor dos implantes, estabilidade da prótese

sobre o implante, manutenção da anatomia óssea e gengival ao redor dos implantes e estética tem

sido cada vez mais levado em consideração como fatores de sucesso na implantodontia.

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TRITTO, M. A. Estudo comparativo do torque de remoção dos parafusos de conexão de pilares

protéticos sobre implantes com conexão de hexágono interno e Cone Morse após ensaio de

ciclagem mecânica. J Health Sci Inst, v. 29, n. 3, p.161-5, jul-set., 2011.

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