o pincel invisível do pintor - notas sobre o simbolismo iniciático nas artes medievais
TRANSCRIPT
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 1/18
O P i n c e l I n v i s ív e l d o P i n t o r
o t a s s o b r e o S i m b o l i s m o
I n i c i át i c o n a s A r t e s M e d i e v a i s
Eduardo
Carreira
A p r o x i m a çõe s
P e n s a r o m u n d o m e d i e va l é s e m p r e u m a a v e n t u r a v e r
t i g i nosa
qu e s e r e v e l a m a i s p e r t u r b a d o r a a i n d a q u a n d o nos
d e p a r a m o s
com o s im bólico d e
sua s a r t e s .
Não só
pe lo tra jeto
e rud i t ís s im o a qu e somos obr igad os a p e r co r r e r pa r a te r êxito
e m t a l j or n a d a ,
m a s ta m b ém
pe lo exot ismo
a o
ol h a r c on t em
porâneo da s t eses a í n a t u r a l m e n t e
im p l i cad a s ,
som os cham ad os
a
nos
debruçar
sob r e u m
objeto
difícil e
i n qu i e t an t e , qu e
oferece,
d isc re tamente , pe r i gos t a i s como aque l es qu e c on s u m i r a m o
ju í zo do m em orável
fi da lgo m anchego . Tb da v i a , n e s t a cu r i o sa
em pr e i t a da , c on so la b a s t an t e s ab e r qu e a idé ia d e u m a
I d a d e
Média , pass íve l de se r a p r e e n d i d a e x e m p l a r m e n t e a t ravés de
métodos únicos e rote iros per fe i tos, só pode s e r e n t e n d i d a a
t ítu lo d e u m a redu ção ideológica qu e não corresp onde à r i qu e za
d a
exp er iência p l u r a l , a p e s a r d e seus r iscos .
A i n d a
q u e a
so l ide z
d o
p ro jeto
cristão e de
su a h eg emo
n i a
como a r t i cu l ado r d a m e n t a l i d a d e m e d i e v a l a p o n t e m u m
objeto
a p a r e n t e m e n t e m onolítico, a E u r o p a d os séculos V ao X V,
p a r a
u t i l i z a r u m m arco r edondo, conheceu e v i v e u u m a r ed e d e
c i rcui tos
c u l t u r a i s tão v a s t a e com p l exa , qu e não pe rm i t e r eco
n h e ce r u m a
ún ica
Id ad e
Média , senão
qu e vár ias ,
já
suspe i t adas
Eduardo
Carreira
é
doutor
em H is tó r ia da Arte e bo ls is ta do CNP q n a UnB .
Textos
ist
[2] 1993): 32-*9.
T E X T O S D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 2/18
O P I N C E L
IN V I S ÍV E L D O
P I N T O R 33
i n c l u s i v e
p e l a l i t e r a t u r a
h istórica
co r r en t e quando
opõe
a l t a
e
ba i x a I d a d e Méd i a , medioevo n órdico e m ed i terrân ico, ou , p a r a
u s a r u m e x emp l o m a i s específico, quando percebe as vár ias
versões d o projeto cristão n o contexto d a s l u t a s h erét icas. Já se
d i sse que a c u l t u r a m e d i e v a l é aque l a que s e expre s sa e m l íngua
l a t i n a
e
ocorre entre
as úl tim as
c r i ses
d o
m u n d o rom a n o
e a s
p r i m e i r a
d o m e r ca n t i l i s m o
1
. O m éri to d e s t a def inição está em
que assoc ia a idéia d e Id a d e Méd ia com as ques tões de l in g u a
g em
e d e
t empo ,
e não às questões d o
t r a b a l h o
— o
f euda l i smo
— e d a re l i g ião — o cr i s t i a n i s m o — , suger indo -nos a existência
de u m a t r a m a i r re g u l a r (n o s en t i do têxt i l ) an t e s qu e de u m
s i s t e m a .
E s t a
t r a m a , com pos ta po r e l emen tos tão d iv ers os com o
os
ecos
confusos
d a an t igü idad e , o gên io
naif
d a s
e t n i a s
g e r
m ânicas e a m o d e r n i d a d e árabe m uçu lm ana , é u m a s ín t e s e
o r i g i n a l e i n c r i v e lm en t e c om p l ex a qu e só pode s e r reconst i tuída
po r me io
d e
teses
a p r o xi m a t i v a s . C o m o
e m
todo
e s tudo a rque
ológico, t a l re f lexão a s s eme l h a - s e mu i t o m a i s a u m exercício de
br i co l a g em d o qu e à m on t a g e m d e u m a e s t r u t u r a i d e a l onde são
assoc iados a expressão i n s t i t u c i o n a l d e u m a i g re j a p a r t i cu l a r
com u m s i s t e m a p r o du t i v o d e t e rm i n a do e u m as f ron t e i r a s
fechadas . C omo todo m u n d o d o p a s s ad o, o m u n d o m e d i e va l não
se dá aos olhos d o h i s t o r i a do r senão po r fragm entos qu e d e v e m
se r r ecompos to s s i n t e t i c amen te
a t rav és d e u m exercício — o
r e l a to
h is tór ico , a memór ia das
coisa s
—
p r a t i c a m e n t e
i n f i n
dáve l . A s s i m , m a i s d o que p r opor modelos p e rm ane n t em en t e
ques t ionados
p or exceções, é
e s ti m u l a n t e t r a b a l h a r
e
exp l o ra r
as reflexões c r i ado ras qu e não i g no r em o aspec to inv en t i vo d a
fa la d o h i s t o r i a do r e a s s u m a m o seu cará t e r i n t e r p r e t a t i v o ,
a p ro fundando a p e r s p e c t i v a he rmenêut i ca , na qu a l , como r e
corda
H e r m a n n B a u e r
e m u m
fe l iz a r gu m en to ,
a interpretação
s e r i a
j u s ta m e n t e (...) com preensão e t ransm issão de t udo aqu i
lo
qu e
possa
s e r
t r a n s m i t id o
e m
l in g u a g e m .
A interpre tação não
se confunde
c om o
objeto,
n e m
p r o cu r a a t i n g i r
o
pon to
ze ro d e
s u a reconstrução p e r fe i t a , ma s a o contrário, v i s a e v i d enc i a r su a
H - l - S - T - Ó - R - l - A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 3/18
34
E D U A R D O
C A R R E I R A
d imensão
t e m p o r a l
e
e sp ac i a l , i nse r i - l o
em p a râm e tros d e
com
preensão in te l ig íve is e
r e a l i z a r
u m a com unicação
tomando-o
como ponto de re ferênc ia
2
.
J a n u s I a n i t o r
Não há como fazer interpretações históricas
rigorosas
n e m
com un icações válida s
sobre
o
que que r que se ja , i gn oran do-
se
a ins crição n o
t em p o
d o
objeto
qu e nos
a t r a i . T ra t a ndo -s e
d a
a r t e med i eva l , i s to s i gn i f i ca
qu e o
p r i m e i r o ol h a r p a r a
o
p rob l e
m a d e v e
d i r ig i r -s e p r i o r i t a r i a m en t e
à ant igüida de l a t i n a , qu e é
onde com eçam a s e r
ca r dad as
a s
f r i b ras
qu e i rão
com por m a i s
t a r d e
o
tec ido c u l t u r a l
sob o
q u a l acontece
a
I d a d e
Méd ia .
Desd e
o
r e l a to
d e
P l u t a r c o
3
,
qu e
con ta
d a
r e f orm a u r b a
n a p r o m o v i d a
n a
R o m a e t r u s c a
dos
l a d r i l h o s , v eme l h a
e
t e r r o sa ,
p o r
N u m a P o m p i li o
—
onde
são
es tab e l ec idas zonas
e
setores d a
c idad e
d e
acordo
c om a s
a t i v i da de s p ro f is s i ona i s
d e
seus hab i t an t es , i ns t i tu indo- lhes cu l tos r e l i g i osos
e prát icas
ce r imon ia i s a f i ns
—, a an t i gü idad e l a t i n a
r e p a s s a
à civilização
m e d i e v a l
a noção de que os ofícios e as
a r t es i m p l i c a v a m
e m
ritos
específicos q u e não se
r e s t r i n g i a m
a propósitos d e
o r d em
soc ia l ou técn ico-ar tesanal . D a
m e s m a f or m a
qu e a h is tór ia d e
N u m a , o
sen t ido dos
traçados e m
c ru z
qu e
ca ra c t e r i za os a sse n
tam entos o r i g i n a i s das u rb es , rom an as , sobre os qua i s
s e
d e s en
vo l v e r am impor t an t e s c i dade s med i e va i s
como
B a r c e l ona , L y on
e
Lon d r e s , en t r e ou t r a s , r e corda
u m a d iv isão s im bólica do es
paço
u r b a n o
qu e
t r a d u z
e m b oa
m e d i d a e s ta
noção de t r a n -
cendência das
a r t e s
e dos ofícios que o
a r t i s t a m e d i e v a l
v a i
h e r d a r
d o
m u n d o
clássico s e m
m u i to
esforço.
T r a d i c i ona l men t e mon t a d a s
a
p a r t i r
d e u m
p l an o d i r e
tor
básico, iden tificável
i n c l u s i v e
n o Pomerium d a
R o m a m a i s
a n t i g a e
s e m e l h a n t e
a o
d e s enho
d o
a ca m p a m e n t o m i l i t a r
d a s
T E X T O S D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 4/18
O P I N C E L
IN V I S Í V E L D O
P I N T O R
35
l eg iões , a
c i d a d e r o m a n a i n s c r e v i a - s e b a s i c a m e n t e
e m u m
quad r ado a t r a v e s s ado
p o r
dua s v i a s c en t r a i s p e r p en d i cu l a r e s
qu e o d i v i d i a m r e g u l a r m e n t e
4
. U m a da s r e ta s t om a v a a d ireção
nor t e - su l , o
c h a m a d o cardo,
ou dobrad iça , qu e s e
r e f e r i a
à
l i n h a i d e a l d a abóboda ce les te . A o u t r a r e t a , ou o decumanus,
vocábulo de significação i n c e r t a , t o m a v a a direção or iente-oc i -
den te , t endo como referência a tra jetór ia do so l . O s quad r a do s
m eno re s formado s a s s im p e lo d e s enho con t i nu a v am a s e r d i v i
d idos
e m quad r ícu las
(decumani
e
ca rdines),
p a r a l e l a s
a os
eixos
p r i n c i p a i s , s i t u ando - s e n o pon to d e intersecção d a c r u z o
ca pitó
lio,
ou c abeça d a
u r b e
— u m
t e m p l o
e m
g e r a l d ed i c ado
a
Júpiter, J u n o e M i n e r v a — , e n a s quadr ícu las os b a i r r os , d e
acordo
c om a
esp ec i fi cidad e func iona l
d e
s e u s h a b i t a n t e s
6
.
N o s
ex t r emos i gua i s d os eixos s e e d i fi c a v am a s po r ta s p r i n c i p a i s d a
c i d a d e , v o l t a d a s n a t u r a l m e n t e p a r a os pon to s ca rdea i s . Ta i s
po r t a s , únicas v i a s d e a c e s so p e rm i t i d a s à c id ad e , e s t a v a m
con sa g r ada s
à
J an us .
U m a
d a s d i v i n d a d e s m a i s a n t i g a s do pan teão r omano ,
J a n u s
e r a p r o p r ia m e n t e o ianitor, ou o po r t e i ro , qu e a b r i a e
f echava a s po r t a s , ianuae, d o ciclo a n u a l , ianua caeli e ianua
inferiu, ou se ja , os solstícios d e i n v e r n o e ve rão, pontos ext rem os
do curso so lar n o c ic lo zodiaca l . Destas v inculações s u r g i u o
n o m e d e j a n e i r o , ianuariiis, a o p r i m e i r o m ês do an o , e a s
representações iconográficas
d e s t a d i v i n d a d e , r e g i s t r a d a
c om
b i f ron te
e/ou
p o r ta do r a
d e
d u a s c h a v e s
6
. Sug e r i n do
a idé ia do
h ie ro fan te ,
d os
r i t u a i s
de inic iação e dos
cham ad os pequenos
m is tér ios , d e
fato e r a Janus
a
d i v in d a d e
qu e
p r e s i d i a
os
cu l tos
mistér icos r e l ac ionados à prática a r t e s a n a l , ch e g a n d o a s e r no
período i m p e r i a l a d i v in d a d e p a d r o e i ra d os Collegia Fa brorum,
a s g r ande s corporações de artesãos
7
. M i t o qu e
r e m e t e
a u m a
tradição i n t e r i o r dos ofícios e re fere -se a u m conhec imen to
s a g r ado
e
secreto
(arcanum magisterium),
Janus
Ianitor
a d
v e r t e sobre a exis tênc ia d e u m s a b e r m i s te r io s o q u e s e v e r i f i c a
v a p r e c is a m e n t e n o exercíc io d a s a r t e s
8
.
H - l - S - T - Ó - R - l - A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 5/18
36
E D U A R D O C A R R E I R A
C o m
essas
e
ou t r a s i m a g e n s ,
a ant i gü idad e
l a t i n a
r e pa s
s a à l a t in i d a d e cristã a
forte
t radição d e qu e a p rát ica a r t e s a n a l
en vo l v i a
u m
c a r ac t e r
extraord inár io,
recobr indo-se
a
a t i v i d ad e
do a r t ífi ce de u m im po r t a n t e s i gn i fi cado demiúrgico, s ímbolo
v i v o d e potências m etafís icas. E s t a sug estão i m p r e s s i o n ou v i v a
m e n t e
a
a l m a m e d i e v a l
e foi
i n t e n s a m e n t e t r a b a l h a d a
po r
aque l e s qu e s e v i a m n e l a r e p r e s en t ado s .
M e r c ú r i o
A noção d e u m a o r ig e m o u n a t u r e z a não h u m a n a d e
cer tas a r t es
está
p r e s en t e
não só no
p r es t i g ioso d eus r es pon
sáve l
pe las por tas
e
ca m i n h o s ,
m a s ta m b ém e m
out ra s conhe-
cidíss imas figuras d a m i t o lo g i a g r eco- l a t i n a , como P r om e t e u ,
Vu lcano e , p r i n ci p a l m e n t e , Mercúrio, o s e r v i do r d a a m b r o s ia à
m esa dos im o r t a i s
e
e m b a i xa d o r
plenipotenciár io
des t es ,
o
m a i s
ocupado e i nqu i e t o d os d euses , aque l e qu e i n v e n t a r a a e s c r it a e
a l i ra .
D e n t r o d o contexto cris tão e n a s u a express ão as trológi -
ca ,
dep o is d o So l , p a i c e l e s t i a l , e d a L u a , m ãe u n i v e r s a l , M e r
cúrio se
m an i fe s t a v a como
o
filho
e
p a r t i cu l a rmen t e , c omo
o
m ediad or , aspec to reforçad o p e l a figu ra a m b i v a l e n t e d e H e r m e s
qu e d e u o r i g em a o s im bo l i s m o zod iaca l . Pe r son i f i cad o como
m e n s a g e i r o
d a
d i v i n d a d e ,
Mercúrio ou
H e r m e s s i g n i fi ca v a ,
d e
a l g u m a
f o rma , a pon te concre ta e a t i v a en t r e e s t a e o in te lec to
h u m a n o , ou , e m ou t r a s p a l a v r a s , o com ércio en t r e dua s d i s t i n
t a s e conom i a s . R ep r e s en t an do
u m a s ituação fronte ir iça , e le
a s s u m e o r a o asp ecto de interm ed iár io (o pr inc íp io úm ido qu e se
opõe à potência do enxofre n os t r a t ados a lquím icos ), ora de
i n t e r v e n t o r
(a
c a r t a
d o
m a g o
ou
ba teleur
d o
t a r o
d e
M a r s e l h a ) ;
se ja sob a f orm a d e u m d e u s m ítico, u m a s t r o, u m m e t a l , ou u m
princípio com o o
r e g en t e
dos ofícios ar tísticos an t es que a m e la n
col ia
r e n a s c e n t i s ta
o su bsti tuísse
p e lo s im bo l i smo
d e
s a t u r n o
9
,
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 6/18
O P I N C E L
IN V I S Í V E L D O
P I N T O R
37
e vocava s empre
a
m e s m a
noção de
1
.xòcendência p róp ria d o
s a b e r
específico que
o r ie n t a v a
a p rática
das a r t e s ,
j á
a n u n c ia do
p e l a i m a g e m d e J a n u s d en t r e ou t r a s do reper tór io l e g ado p e l a
ant i gü idade .
No processo
de formação do vocabulár io s imból ico da
a r t e m e d i e v a l , a di f ícil a da pta ção d e certos f ragm en tos d o
m u n
do clássico aos p rincípios dou trinários cristãos, com o a m i to l og i a
es t r i to senso ,
contará
f u n d a m e n t a l m e n t e
c o m o
a m p a r o
d e
herança pi tagór ica e neoplatônica —
sob re v i v en t e
a
d u r a s
p e
n as n a cu l t u r a o c id en t a l ap ós o f ina l d a an t igü idade — e com o
supo r t e d a
gn ose
o p e r a t i v a de inspiração egípcio-alexandrina,
p a r a
r ec i c l a r essa t rad ição e com pat ib i li zá-la com u m a nova
cu l t u r a q u e s e ca r a c t e r i za v a p or s e r a l érg i ca a tudo aqu i l o qu e
pude s s e s e r ide nt i f icad o com a crescente degeneração p a g a qu e
a c o m p a n h a r a
o im pério r om an o .
P la tão é conhec ido e m todo o medioevo a t ravés d e co
mentár ios de
P l o t i n o ,
d e
A g o s t in h o ,
d e Ca lcíd io e de tradu ções
do T i m e u , p r o v a v e l m e n t e
a única
o b r a
ínteg ra do fi lósofo i n
t r o d u z i d a
no ocieden te
a té
os
séculos X
e
X I e
j u s t a m e n t e a q u e l a
qu e m a i s p r o x i m i d a d e a p r e s e n t a
c om a trad ição pi tagór ica e
m a i s
desenvo l ve
o
a specto p r opr i am en te
cosm ológico d o
d i s cu r
so
platôn ico.
A p e s a r
d a I d a d e Méd ia n ão t e r
ti do me l ho r
noção
d o p i t a g o r i s m o
d o q u e d e
o u t r o s i s t e m a
f i losóf ico grego
qua lque r , a própr ia v inculação d a g e ome t r i a e d a m ús ica d en t ro
do e squ em a das a r t e s l i b e ra i s , b e m como os conceitos b ásicos d e
consonantia o u proportio n a s t e or i a s m e d i e v a i s d o b e l o
1 0
,
d e m o n s t r a m q u e o in f luxo pitagórico d e sde o início i n s p i r ou a
cu l t u r a cristã européia, não sendo poucos aque les f i lósofos e
teólogos p r ofu n da m e n t e míst icos, es tud iosos d as m atem áticas e
d a a s t r onom ia , p r eocupad os com a m e l od i a e p ron tos a a t r i b u i r
aos as t ros ,
a os
objetos,
às
p a l a v r a s
e aos núm eros
m i s t e r i o s a s
signif icações, crédulos nos m i la g r e s e nos e n can t am en to s .
H l S T Ó R l A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 7/18
8
E D U A R D O
C A R R E I R A
E s s a
p e r s p e c t i v a
se
con fund e ,
a
p a r t i r
do século
V I , com
e l emen t o s
da
c u l t u r a a l e xa n d r i n a ,
e
m a i s p a r t i cu l a r m e n t e c om
a q u e l a s u a
expressão
r e l a c iona d a
aos
cu l tos m i s t e r i osos
de
Is is
e de Osíris,
qu e
v e i o a dar
n o
que se
conh ece
por
h e r m e t i s m o
ou
g no s t i c i smo
egípcio.
D u r a n t e
os séculos IV e
V, co inc id ind o com
a
estabilização
i n s t i tu c i on a l
da I g r e j a ,
s u r g e
em
a m b i e n te
c r i s
tão de língua
g re g a u m a
série de
p e r s ona g en s , m a i s
ou
m eno s
lendárias, que nos
f a l a m
de uma discussão
s i t u a d a e n t re
as
proposições
m a i s m a t e r i a l i s t a s
de Demócrito,
T eo f r a s t o
e
Dióscorides e o
d i s c u r s o
iniciático que se
v i n c u l a
à
figura
de
H e r m e s T r i m e g i s t o s
e, por conseqüência, aos
cu l tos
místicos.
D e s d e
M a r i a
e
J u d i a ,
ch a m a d a
também de
M a r i a
P r o f e t i s a
ou
irmã de Moisés ,
c r ia d o r a
do Kerotakis
( a t ano r
de
cob r e p a r a
exposição a
vapores ) ,
lendária
i n v e n t o r a
do
famoso ba nh o -
m a r i a , até Hipátia, a neo-platônica
m o s tr a
de Zózimo
P a n o p o-
l i t ano ,
d i t o
a
coroa
dos filósofos ,
e n c on t r a mos
uma série de
artífices ou filósofos que
t r a b a l h a m
a
gno s e
metafísica
como
referência
i n t e l e c t u a l
e se
u t i l i z a m
das
i m a g e n s
do
m u n d o
n a t u r a l
como base
simbólica
11
. Com um
i n t e r e s s e
unânime
ac e r ca
de
p e d r a s ,
pós,
p i g m e n t os , e r v a s , i n s t r u m e n t o s
e
ou t r a s
t a n t a s
espécies de
coi sa s s em e l h a n t e s
(além, é
c l a ro ,
de métodos
e técnicas,
ou
do arcan um mag isterium
p r op r i a m en t e d i to ), e s t a
gno s e
o p e r a t iv a a r t i c u l a v a u m a
r e d e
de
s ab e r e s
que se
p a u t a v a
p r e c i s a men t e s ob r e
o
u so
de
s u a s
matérias básicas
como su por
te
simbólico,
sobre
o
t r a b a l h o m a n u a l com o n o r m a
e
sobre
a
philosophia
como pe r sp ec t i v a i n t e l e c tu a l , t endo como c en t r o u m
p r o g r a m a
de tranformação e/ou mutação da
n a t u r e z a
e do
m u n d o
das
fo r ma s .
E
nes t e con tex to
que a associação que se
d e s e n h a
sob o
s i g no
de Mercúrio,
e n t r e
as
c h a m a d a s
ciências
s a g r a d a s
(a
a l qu i m i a s ob re t u do ),
a
m e d i c in a (p a r t i cu l a r m e n t e
a farmácia) e as
a r t e s (e sp ec i a lm en t e
as fundições e a
p i n t u r a ) ,
s i g n i f i c a
m u i t o m a i s
do que
u m s i m p l e s a c id e n t e
de
p e r cu r so .
Nos
ecos
d i s t a n t e s
das
fonte s
pitagóricas e
a l e xa n d r i n a s
q u e t r a n s p a r e c e m
no
s i m b o l is m o
do Mercúrio, se
c on f i r m a
as-
T E
- X
T
- O - S
D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 8/18
O P I N C E L IN V I S ÍV E L D O P I N T O R
39
s im
u m a
associação
s u g e s t iv a
qu e d e m ão em m ão e d e
boca
a
ouv ido , l en t amen t e como e r a própr io do t emp o ag rá rio qu e
cad enc i a va a v i d a f e u d a l , v e m a c o n s t i t u i r u m a t rad ição tão
i mp o r t an t e
e m
t e rmos
d a
c u l t u r a m ed i e v a l como ,
p o r
exem p lo ,
a
c a v a l a r i a , g u a r d a d a s a s d e v i d a s proporções, e o d i s t i n t o mo-
dus operandi d e a m b a s
1 2
. T an t o os a r t i s t a s anôn imos que
p e r am b u l a v a m p e los c an t ei ros
d e
obras
d a s
ca t e dra i s o fe r ecen
do os seu s serviços, com o os ar tífices p i edosos que faz ia m a fam a
de
l egendár ias
of ic inas
comunitár ias
(Sa in t
G a l l
n a Suíça, o
círculo d e São E l o y n a Fran ça ), ou os ar tesãos pr o le tár ios qu e
e n c a n t a v a m a s ma i s d i v e r sas co r t e s semi-bárbaras com s u a s
m a r a v i l h o s a s h a b i l i d ad e s , fo r am t ecendo
com
e s t as
noções a
s u a p a r t e , s e m dúv ida a l g u m a m icroscópica, m a s ao m e s m o
t empo m u i t o cu r i o sa , d a v a s t ís s im a t e i a ou t r a m a c u l t u r a l qu e
en vo lv e a s a r t e s m ed i e v a i s . B a s t a o l h a r a cade i a l i terár ia qu e s e
conso l ida c om o t r a t a d o anôn im o conh ecido com o Compositione
ad tingenda,
d o século V I I I
1 3
,
ou
a
ob r a
pictórica d e
H i e r o n i m u s
B o s h ,
já no século X V, p a ra cer t ifi car -se do r ot e ir o, m u i t a s v ezes
con fuso m as sem pre de tectáve l , d a construção d e s s a trad ição.
rs
A t r a v és d a
p a l a v r a l a t i n a
ars , a
c u l t u r a m e d ie v a l
v e i o a
c i r cun sc r e v e r
conce i t u a lmen t e ,
não u m a idéia
r e l a c i o n ad a
a
t eor ias estét icas, posto qu e e s t as a r i g o r não e x i s t i r a m d u r a n t e
a
I d a d e Méd i a , m a s , a n t e s , u m a t e or ia d o fazer e u m a lógica d o
cons t ru i r
r e l a c i onadas com a p oét ica. E nesse s en t i do qu e ,
r e t o man d o u m p e n s a m e n t o qu e v e m de A r is t ót e le s e p a s s a p o r
Cícero, p a r a os q u a i s a poética é p r op r ia m e n t e o
modus operan
di ou a ratio faciendi d o su j e i to no a to do f a z e r
1 4
, Tbmás de
A q u i n o a f i r m a v a qu e Ars est recta ratio factibilium
]5
, ou se ja ,
p r e c i s amen t e u m a ciência do fazer, en vo l vend o se m pr e u m a
operação
p r o d u t i v a
(fa ciendi,
factibilium)
e
u m processo cogn i t i
v o
(ratio, cogitatio).
C a r a c t e r i z a d a p r e ci s amen t e como
operação
H - l - S - T - Ó - R - l - A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 9/18
4
E D U A R D O C A R R E I R A
s ob r e m a t e r i a i s
físicos e
m a t e r i a i s m e n t a is
—
o
m árm ore
p a r a
o
escultor, a lógica p a r a o docente — , a a r t e e r a t om ad a como u m
m e i o p a r a a consecução de u m a fi na l i d ad e , ou u m a
opus,
q u e
ex i g i a , a lém d e esforço físico, o esforço i n t e l e c tu a l . Co in c i d ind o
com a sentença do m e s tr e d e o b r a s p a r i s i e n s e , J e an M i g no t ,
coordenador
d a s
obras
d o
D u om o
d e
M i l a n o ,
e m
1 398 , p a r a
o
q u a l Ars sim
scientia nihil
esi
m
,
a
p e r spe c ti v a
teológica
v i a
n o
exercíc io da
fa cu ldade i n t e l e c tua l , r eque r i d o s em pre
e p o r
definição ao
t r a b a l h o
do ar t ífice , u m
e l emen t o
qu e
d i gn i f i ca va
s u a a t i v i d a d e .
A lém d e
cara c ter izar-s e com o
ação
i n t e l ig en t e ,
a idé ia de
ars
e s t e v e
t ambém
a s soc i ada
à
i m a g e m
d a
v i r t u d e ,
qu e s e
r e f e r e , p o r s u a
v e z ,
u t i l i za n d o
a expressão d e
I s idoro
d e
S e v i l l a ,
àquelas
coisas
qu e são de
ta l m a n e i r a ,
m a s
podem
s e r d e
ou t r a
— em oposição às
d i s c i p l i n a s ,
qu e são
aqu i l o
qu e são e não
pod em
s e r d e
ou t ra f orm a
—, ou
s e j a ,
qu e
en vo lv em processos
de
cr iação
1 7
.
Sobre
a
n a t u re za des t e p rocesso ,
é
sug e s t i v o
qu e a
d e u s a
a legór ica
V i r t u d e , filha
d a
Ve rdade , fosse r e p r e s en t a d a
i conog ra fi cam en t e s en t ad a sob r e
u m
cubo
e
e n c im a d a
p o r
u m a
coroa
d e
l o u r o s
1 8
.
A
s imbo log i a
d o
quad r a do
e d o círculo
i n d i c a
d a ,
a s s im ,
e m re ferênc ias
c l a r a s , d em a rc a um a po l a r id a d e e n t r e
símbolos
t e r r e s t r e s
e s ímbolos
ce les tes , conf i rmada pe lo d i to
p o p u l a r
d e q u e a
v i r t u d e
es tá no
m e i o, Ion médio stat virtus .
No
âmb i to
p a r t i c u l a r
d a p i n t u r a , pode ver -se qu e no
preâmbulo dos
e s t a tu tos
d a corporação dos
p i n t o r e s
d e
S i e na ,
e l abo rado
p or
v o l t a
d e
1357 ,
o
r e d a t o r
d e
d o cum en t o a f i rm a v a
qu e
Nós
somos pe la
g raça de
D eu s , m an i fe s t a n t e s
a os
h omen s
r u d e s
qu e não têm
l e t ras , das co isas m i r acu losas ope rad as pe la
v i r t u d e
e e m
v i r t u d e d a s a n t a fé
1 9
. A r t e
d e
m an i fe s t a r co is a s ,
d e
fazer
v is íve is as
coisa s
não
h u m a n a s
d o
m u n d o d i v in o ,
a
a t i v i
d a d e
d o
a r t i s t a
e r a
u m a
m ediação
en t r e
o terr i tór io da s
form as
— o
m u n d o m a t e r i a l m e n t e e n t e n d id o
o u
daque l e s
qu e não
s a b e m
l e r —, e o t e r r i tó r i o das
r e a l i d a d e s
metaf ís icas que
T E X T O S D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 10/18
O P I N C E L
I N V I S Í V E L D O
P I N T O R
41
pe r t en c em
a u m
out ro r eg i s t r o .
G r e gór io
M a g n o
j á
a s s i n a l a v a ,
por vo l ta d o a n o 600 , e s t a função de f a z e r v e r , qu e n o r t e a r i a
p a r t i c u l a r m e n t e
a
a r t e
cristão d o
ociden te ( d i s t in t a por
e x em p lo
do c r is t i a n i sm o o r i e n t a l
onde a tradição
dos
ícones
p r e s s u p u n h a
a p rópr ia m ag ne t i zação do objeto a r t í s t i co)
2 0
e q u e t or n a v a a
a t i v i d a d e
d o
a r t i s t a ,
a lém de
i n t e l e c tua lme n t e d i g n a , m e t a f i s i-
c a m e n t e
ne cessária. O
a r t i s t a s e r i a a s s i m
não só
u m
i l u s i on i s t a ,
u m
f ab r i can t e d e i m a g e n s , u m técn ico d o be lo , m a s ta m b ém , e
e x a t a m e n t e
p o r
c on t a d e s t a h a b i l i d a d e
esp ecífica , u m
t r a d u t o r
ao p l ano
d a s
r e a l i d ad e concr e ta s d aque l a r e a l id ad e v i r t u a l
e
imp r e c i s a
d a s p a l a v r a s d i v i n a s .
C o n t r a d i çõe s
A i n d a que a
I d a d e
Méd ia t e n h a h e rd a d o d o e sc rav i smo
clássico o
preconce i to
e m r e lação ao
t r a b a lh o m a n u a l ,
e o
própr io
m i t o
d e
o r i g em
cristão
su g e r i s s e
a idé ia do
t r a ba l ho
como
exp iação,
h a v i a u m a
pe rcepção d e
v i d a , c om pa r t i d a e n t r e
e rud i to s
e
i gna ro s , na qu a l toda
e
qu a l qu e r a t i v i d a d e
n o
m u n d o
e r a v i s t a como danação, posto que a própr ia ex is tência nes te
mundo d e co r r i a
d a expu l são de u m
out ro , i d ea l
e paradis íaco,
onde a
r e a l i dade co rpo ra l , i d en t i f i c ada
com as pa ixões e as
t r e v a s , não t i n h a ra zão d e ser . A a t i v id a d e artíst ica e a r t e s a n a l
não
e r a a s s i m u m c as o
a
p a r t e
e m re lação a
qu a l qu e r o u t r a
ação
ne s t e mundo ,
com o o exercício d a
gu e r r a ou dos
h ábitos
a l im e n -
ta r e s , d i fe r enc iando - s e conce i tua lm en te somen te das a t i v i d ad es
c o n t e m p l a t i v a s ,
qu e
g u a r d a v a m
em re lação a
t u do m a i s
u m a
transcendência única
2 1
.
M a s , j u s t a m e n t e p or qu e
s e
o cup a va
d o
p ro l on g amen to , invenção e ree laboração da n a t u r e z a , a a t i v i
d ad e a r t e s a na l , s e ja
d o
p i n to r ,
d o
f e r re i ro
o u d o
a rqu i t e t o,
e r a
e n c a r a d a
t ambém como u m a
e p i f an i a
d e
D e u s a t u a n d o
n o
m u n d o .
A
p e r s p e c t iv a
d e qu e o art í fice constrói ou reconstrói a
obra
d i v i n a
e
n e s s e
exercício
r e d im e
e m
p a r t e s eu
p ecado
o r i g i
n a l , g a r a n t i a - l h e a s s i m u m a r e s p e i t a b i li d a d e intr ínseca ao p e n -
H - l - S - T - Ó - R - l - A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 11/18
42
E D U A R D O C A R R E I R A
s a m e n t o
cr is tão que ,
d i ga - s e
d e
p a s s a g e m , s e qu e r
excluía por
definição os escravos d o u n i v e r s o d a sa lvação.
C e r t a m e n t e
não
pa s sou de sape rceb i do
a o
o l h a r m e d i
e v a l ,
p a r t i c u l a r m e n t e a c u ra d o e m m a tér ia de he rm enêut ica , o
f r a gmen t o 3 1 d o
Êxodo,
n o
q u a l ,
e m m om e n t o tão i m p o r t a n t e
como a consagração d o sábado e a e n t r e g a a Moisés d a s Tábuas
d a
L e i , H a h v e h u n ge com o esp í r ito d e E l o h i n a B e s a f e l , e o
e n c a r r e g a
d a confecção d e todo o
a p a r a t o
cenográfico d o
T a b e r -
náculo. D a m e s m a f or m a , a l e gendár ia h i s tór ia do r e t r a t o d e
Je s u s
m e n in o com
M a r i a ,
qu e t e r i a e n t ra d o t r i u n f a l m e n t e e m
C o n s t a n t i n o p l a n o
f i n a l
do século V,
feito
por São L u c a s k —
e v a n g e l i s t a e p o s s i v e lmen t e médico, p a t r ono das corporações
med i e v a i s r e l a c i onada s
à p i n t u r a e à fa rm ácia — , tam bém não
p a s s a r i a
d e s a p e r c e b i d a
2 2
. E n e m p od e r i am . Com o Toda s a s
ciências e a r te s d e v em su a o r ig em a os p a t r i a r ca s e p rofe tas qu e
r e c e b e r am e x t e r i o rmen t e as reve lações d e D e u s e i n t e r i o r m e n t e
sua s i lum inações , s e gu n d o a s p a l a r a s e o a r g u m e n t o d e Roge r
B a c o n
2 3
,
n a d a m a i s
n a t u r a l
q u e a
a t i v id a d e
artíst ica se
r e ves
t i s s e ,
a os o lhos d a r e l ig i o s id a d e cr istã, d e u m c a ra c te r
m i r a cu l o
so,
objeto d e m a r a v i l h a e a ten ção.
Da s m u i t a s a r te s
qu e a c u l t u r a
m e d i ev a l
c r iou ,
conser
v ou e
e s t im u l o u ,
o
conhec ido
(ou m a l
conhecido) esquema esco-
lást ico do Trivium e d o Quadrivium, qu e p r e s s u p u n h a a
compart imentação hierárquica en t r e a r t e s mecânicas e a r t e s
l i b e r a i s ,
não p a s s ou d e u m a e xp re ss ão p a r t i c u l a r d e cunho
e m i n e n t e m e n t e
i n s t i t u c i ona l
qu e , a p e s a r d e não t e r s id o cr iad o
do nada
e
p o r t a n t o
t e r
boas
razões
p a r a e x is t i r ,
não
cor resp on
d eu à
c omp l e x i d a d e
d os
c i r cu i t o s , d i gam os
artíst icos, com os
qua i s
c o n v i v i a (o ofício do a rqu i t e t o p e r t ence à e s f e ra d a s a r t e s
l i b e ra i s o u d a s a r t e s mecânicas?, onde
s i t u a r
a c h a m a d a
ars
regia ou
a rs
magna?) .
T E X T O S D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 12/18
O P I N C E L I N V IS Í V E L D O P I N T O R
43
Já o própr io Tomás de
A q u i n o
pe rc ebe
qu e há
a l g o
d e
e s t r an h o n o s is t e m a d a s s e t e a r t e s , quando no t a q u e a s a r t es
l i b e r a i s , d e f i n i das s egu ndo a t rad ição que v e m d e C a s s i o d o ro
2 4
,
s e r e ssen t em d e a l g u m a s características a r t e s an a i s e p r o d u t i
va s d a a r t e d e f i n i d a e m ab s t r a t o. E a i n d a qu e reconheça qu e
e l as possam s e r cons id e r a das , ap esa r d i s so, t ambém a r t e p e r
quandam similitudinem
25
, não consegue s up e ra r o paradoxo
de q u e a a r t e - s e d e fi n indo n o d i scu r so e ru d i t o m ed i e v a l p e l a
ação
c on s t r u t i v a ,
e
s endo t an to ma i s
e l a
m e s m a q u a n t o m a i s
constrói
é cons i d e r ada , quan t o m a i s r e a l i z a su a própr ia essên
c ia , menos nobre e i mp o r t an t e a os olhos d a s e l it e s cu l t a s
2 6
.
C e r t a m e n t e não i n t e r e s s a e n t r a r a q u i n o m é ri to da s con
tradições en t r e a lógica soc ia l d o f euda l ism o e o
proje to
o r i g i n a l
do c r i s t i an i sm o qu e p e r m i t iu
e sse
t i po d e coi sas , m as
v a l e
f r i sar
que es ta a m bigü idad e é s in tom ática d e u m c i rcu i to c u l t u r a l
esp ecífico q u e não r e p r e s en t a m a i s do qu e e l e mesmo .
Q u a n d o C e n n i n o C e n n i n i , n o p r i me i r o capí tu lo de s e u
Libro deWArte,
r e i v i n d i c a
a herança ar t ís t ica de
G i o t t o
e dos
G a d d i , d os qua i s fo i a l u n o p o r m a i s d e d e z a n o s
2 7
, ou quando
V i l l a r d d e Honn ecou r t , n a s p r im e i r a s pág inas de s eu cade rno d e
notas , r ecorda
a
l i n h a g e m
d e
a rqu i t e t os
a qu e e le e s e u a v ô
fa z iam p a r t e
2 8
, ambos f az em uma referência o r gu l ho sa e i ncon
fun díve l à tradição a qu e
p e r t e n cem .
C e n n i n i ,
p i n t o r
d e
e s t r i t a
observância g iot t esca , começa a r e d i g i r s eu t ra t ado e m Pádu a ,
onde passou pa r t e
d e
s u a m a t u r i d a d e , p a r a
te rminá- lo
a l g u n s
anos ma i s t a rde , en t r e 1 3 9 0 e 1 3 9 5 , e m Co l l e d e Va l d e l s a ,
p r i v i n c i a n a c idade próxim a a F lorença , n a qua l n a sc e r a . C e r ca
de 150 anos an tes , V i l l a r d ,
qu e
pode s e r ch am ad o
d e
u m a r t i s t a
m u l t i m e i o s
d e v i do
às s u a s preocupações com a e s c u l t u r a , a
p i n t u r a , a a r q u i t e t u r a e a e n g en h a r i a p r op r i am en t e d i t a , t e r m i
n a
d e
enche r
o
seu cadern o p or vo l t a
d e
1235
( v a l e
l e m b r a r
qu e
s e t r a t a l i t e r a lmen t e
d o
e n c h i m e n t o
d e u m
cade rno
d e
notas
que i nc lu i desenhos e pequenos
textos ) ,
e s t ando e m a l g u m l u g a r
do noroeste francês depois d e v i a j a r p o r m u i t os can t e i r os d e
H l S T Ó R l A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 13/18
44
E D U A R D O C A R R E I R A
ob ra s
d a
E u r op a C e n t r a l .
A p e s a r da s g r a n d e s
d i ferenças
en t r e
V i l l a r d e
C e n n i n i ,
os
a p r o x im a
a
m e s m a
preocupa ção e m
r e g i s
t r a r u m a
m em ória , a
s u a a r t e ,
e
d a r co n t in u i d a d e
a
u m a ca d e i a
de cos tum es que lhes con fe re i de n t ida de
e
lhes
p o s s i b i l i ta
encon
t ra r - s e no m u n d o.
Não
fosse es sa
consciência d e
sabe r - se
p róprio
e com u m a m issão específica , o art ífice
m e d i e v a l
não
t e r i a
construído
a l go
tão
complexo como
a franco-ma çonar ia ou a
a l q u i m i a ,
p a r a
u t i l i z a r
do is
d os
exem p los m a i s conh ec idos
d e
tradições
a r t e s a n a i s
típica s
d a Id a d e
Méd ia . Trad ição de
m u i t a s
faces, esta
memór i a ind ica u m
p ro je to in t e l ec tu a l p rec i so
e
su g e r e
u m a
p e r s p e c ti v a
cosmológica de
g r a n d e e n v e r g a d u r a ,
e xp r e s s a
e x e m p l a r m e n t e
n a fórmu la d e
Deus como
Artifex
Afundi, tão
q u e r i d a
dos p latônicos
m e d i e v a i s .
O l e v a n t a m e n t o
dos ep íte tos
u t i l iz a do s
n a s re ferências
aos a r t i s t a s
e artesãos nos
t e xt os m ed i e v a i s con f i rm a e s t a s
impressões .
A c e r ca
d e
s e u r e nome p e s s oa l
são
c om u n s
a s
p a l a
v r a s
famosus,
egregius, electus ,
incoparabilis,
ocorrendo o m e s
m o
em re l ação à sua
h a b i l i d a d e
técnica,
onde
são
n o r m a i s
os
mot e s
peritus, ingen iosus , pra ecellentissimus,
optimus, mirabi-
lis e virtuosus. E m r e fe r ência ao
s eu s abe r ,
d e ord inár io
encon
t r am os a s
expressões
doctus ,
exquisitus , subtilissimus , litteratus ,
argutus e sub tilis ingenii
29
. N e m o
com ba te r igoroso
d e
i n f lu e n
t e s p r ed i c ado re s como Be rna rdo
d e
C h i a ra ,
n e m o s ilêncio dos
teólogos
i n s t i t u c iona i s
com
s u a s
m ãos
d e l ic a d a s , n e m m e s m o
a
crônica
n e g r a
d os
t empos
d a po lêmica
i conoc las t a , onde
u m ou
ou t ro a r t i s t a che gou
a s e r
l i n ch a d o
p or populações
e n s and e c i-
d a s , p e r m i t e s u p o r q u e a c u l t u r a m e d i ev a l não r e conh ec e r i a d e
a l g u m a f o rma aque l e s que , como
e m
u m a
m etáfora d a
o b r a
d e
D e u s , e r a m
os
cr i adores por
excelência.
O u t r o a s s u n t o
é o
q u a n t o
os ar t í f i ces
m e d i e v a i s
q u i s e r a m s e r reconh ec idos e d a r a c onhe c e r i n d i s t i n t amen t e o
s eu
m ag is tér io.
T E X T O S D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 14/18
O P I N C E L I N V IS Í V E L D O P I N T O R
45
R e t o r n o
Havendo cu tucado o su f i c i en t e a onça co m a v a r a —
quem sab e o quão cu r t a (o que ficou p o r d izer , os equívocos, a
insuf ic iência da expressão e
d epo i s ,
o
fa to
inexoráve l das
pa l a r a s imp r e s sa s )
e à
g u i s a
d e conclusão do périplo
l i g e i r o
q u e
fo i rea l izado -- , cabe r i a d i z e r a i n d a , como e m u m a cáp su la d e
descom pressão no r e t o rno à su pe rfíc ie , d u a s ou três p a l a v r a s . A
p r i m e i r a
d e l as
é
qu e , p a r a
a
p e r sp ec t iv a
d e u m
r e s g a t e
r e a l
d a
h is tór ia da
a r t e m ed i e v a l , im po r t a pouco ( isto
não
que r d i z e r
qu e
não
impor t e nada ) ,
q u e a s
t e ses aqu i com en t adas soem
e s t r an h a s à m a i o r i a d os própr ios med i e v a i s . Fo s s e u m p a t r i
mônio d ado e u m s en so c om u m , a tra dição a r t e s a n a l não i m p l i
ca r i a e m processos re st r i tos d e in iciação. D a m e s m a for m a q u e
u m a p esqu i sa ace rca
do qu e
p e n s a
a
m a i or i a
d os cristãos
con
temporâneos
sobre
a s
fes tas r e l i g iosas r e ve la r i a m u i to pouco d a
comp l i c ada
h is tór ia d o
t emp o sa g rad o ,
e
i sso ap es ar de l es es ta
r em i me r s os n e l a , t o ma r a metaf ís ica sub j acen t e a cer tas
tradições e certos s ímbo los da I d ad e Méd ia pe lo qu e de les
p e n s a v a
o ind iv ídu o pad rão não
r e v e l a r i a m u i t o m a i s
do qu e a s
interpolações ideológicas que
c a r a c t e r iz am
o
c r u z amen t o
dos
c i rcui tos p opu l a r - e r ud i t o e sag rado-pro fano . C om o não e r a nos
so p ropóstio fazer aqui sociologia d a a r t e , m u i t o m enos d a a r t e
m ed i e v a l , nos l im i t am os a c om en t a r u m as e ou t r as idéias cer ta
men t e b a s t an t e c l a r a s p a r a a l g u n s h o men s
e
m u l h e r e s m e d i
e v a i s .
T a m b é m é
im po r t an t e r e s sa l t a r exp l i ci t am en t e , an t e s
que passe d esav i sado o qu e d e v e r i a s e r no tado à dis tância , qu e
ao t r a t a r c om a c u l t u r a medieva l f i zemos u m u so se l e t i vo d a
p a l a v r a
re l ig ião e , a p e s a r do qu e p o s sa su g e r i r u m a l e i t u r a
d i a g o n a l ,
n os
o cupam os aqu i
com
a l g o
qu e e s tá a l ém d a
es fera
r e l i g i o sa
(ou d a s u a
n a t u r e z a
exotérica
p r op r i am en t e d i t a ),
mu i t o emb o r a ,
e
i s to
é
certo,
s e
man i f e s t e
e m b o a
m e d i d a
a t ravés d e l a . P o r outro lad o, e q u an t o à a r t e toca , n os p e r m i t i
m os u t i l i z a r com r e l a t i v a fl ex ib i l i d ade os termos conexos (ar
tesão,
artíf ice e
a r t i s t a ,
p or e xem p l o )
p a r a j u s t am en t e s u g e r i r
H - l - S - T - Ó - R - l - A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 15/18
4 6
E D U A R D O
C A R R E I R A
u m a
indis t inção qu e é e m
s i r e v e l a do r a
d o
objeto
que es t i vem os
e sp i ando .
S e m
p r e t en de r e s g o ta r
o
t em a
ou
s eque r ci r cuns c r e
v e r
com
t oda
s egurança o âmbi to do
p rob l ema , va l e f r i s a r ,
f i n a l m e n t e , qu e e s t a com un icação ou
e s t e
exercício d e i n t e r p r e
tação é
a p e n a s ,
e
a n t e s
d e
m a i s n a d a ,
u m
conv i t e ,
u m
aceno ,
à
reflexão
sobre
a
a r t e m e d i e v a l .
No m a i s , s e r i a r e o r d en a r n o va s n o ta s , u m a o i t a v a ac i
m a ,
é
c la ro .
otas
1.
U m b e r t o E c o ,
Arte. e Be.lle.zza NeW Es tetica M edievale (M i lão :
E d . B o m -
p i a n i ,
1987 ) ,
p p . 3 e s s .
2. H e r m a n n B a u e r ,
H istoriografia
dei Arte ( M a d r i d : E d . T a u r u s , 1 984 ) , p .
168 .
3 . P l u t a r c o ,
Viés,
T o m o I ( Th é s e e -Ro mu lu s , L i c u r g e - N u m a ) ,
Numa,
17/1
a 4 ( P a r i s : E d . B e l l e s L e t t r e s , 1 9 6 4 ) , p p . 2 0 5 /2 0 6 .
4 . E l e g i t i m o s u p o r q u e e s t a co inc idênc ia d os t raçados s e d e v e a n t e s à
e c o n o m i a d e s ím bo lo s qu e n o r t e a v a a
c u l t u r a
d os p r i m e i r o s p ov os
l a t i n o s
—
s a c r a l i z a d a com o
u m
todo
e
r e s u m i d a
n a
figura
d o
Pontífex
—, qu e à s d e t e rm in a ç õe s d e or d e n s m a t e r i a i s o u m i l i t a r e s . N a o c u
pação n o r m a l d o t e r r i t ó r i o, a n t e s m e s m o q u e o a g r im e n s o r começasse
a s med i çõ e s do t e r r e n o , e o m a g i s t r a d o o u c h e fe m i l i t a r o f i ci a l i z a s s e o
a s s e n t a m e n t o , o a r a u t o c o n s u l t a v a os aus píc ios e a s s e g u r a v a - s e m e d i
a n t e os s i g n o s v i s í v e i s a s cond ições m e ta f ís icas d o a m b i e n t e . H á q u e m
s u p o n h a u m a o r d e m d i f e r e n t e d e p r i o r i d a d e s . P a r a m a i o r e s d e t a l h e s
p o d e m s e r c on s u l t a d a s a s o b r a s d e P i e r r e
G r i m a l ,
Les
Villes Roma ines,
( P a r i s : E d . P r e s s e s U n i v e r s i t a i r e s d e F r a n c e , 1 9 5 5 ) ; e d e E . S m i t h ,
Architectural Simbolism
of Imperial Rome an d the
M iddle
Ages ,
( P r i n -
c e t o n :
E d . U n i v e r s i t y
o f P r i n c e t o n ,
1 956 ) ,
p p . 3 0 e s s .
5 .
Cons t i t u í da ad exmeplum
republicae,
a
c o m u n i d a d e
d e c i dadãos e s
t a v a d i v i d i d a e m ordos e
sodales
e , t a l c om o o exérc i to , s e a p r e s e n t a v a
T
E X T O S D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 16/18
O P I N C E L I N V IS Í V E L D O P I N T O R
47
n a s
a s s emb l é i a s
s o l e n e s f o rm a d a
e m c en túr ia s e
d e c u r i a s
q u e s e
p o s i c i o n a v a m r i t u a l m e n t e
n o e spaço
c e r i m o n i a l .
6 . L o u i s C h a r b o n n e a u - L a s s a y , U n a n c i e n e m b lèm e d u m o is d e j a n v i e r ,
Regnabit , V o l . I ( ju lho/1929).
7. J e a n P i r r e W a l t i z i n g ,
Les
Corpora tions Professionelles
chez les Ro-
mains ( L ov a in : s/ed ., 1985 ) , vo l .
I, p p .
20 8
e s s .
8 . D e r i v a d o d o g r e g o misterion, c u j a r a i z é mu, d e ond e p roc ed e o m o t e
l a t i n o mutus,
a p a l a v r a m i s t ér i o i n d i c a o r i g i n a r i a m e n t e a n t e s o i n e x -
p r im í v e l qu e o i n cogn i s c ív e l , a q u i l o q u e n ã o s e n d o s u s c e tív e l d e s e r
d i r e t a m e n t e e x p r e s s ad o
n ão
p o d e
s e r
m a i s
q u e
s u g e r i d o
p o r
r e p r e s e n
t ação s imbó l ica .
9 . R u d o l f W i t t o k o w e r , Bojo ei
signo
de Saturno ( M a d r i d : E d . C á te d r a ,
1982) , p p . 7 9 e s s .
10 .
E m
R o g e r B a c o n ,
Opus Maius, IV , 17 e
V i c e n t e
d e
B o u v e a i s ,
Especu-
lum Maius, v o l . I I , 11/12/14 (E xtr a tos i n
Fu entes y Documentos
para
la
H istória dei Arte, o r g . Joaqu ín Y a r z a , v o l . I I , E d . G u s t a vo G i l l i B a r c e
l o n a ,
1 9 8 2), e n c o n t r a m o s d u a s t e n t a t i v a s , d e s i g u a i s p o r s u p o s t o, d e
e x p l o r a r e s t a s noções d e i n sp i r ação p i t a gó r i ca n o âm b i t o d e u m a t e o r i a
d a s f o rm a s .
1 1 . C h i a r a C r i s c i a n i , Alvhemie et Philosophie a u Moyen Age ( M o n t r e a l :
E d . L ' A u r o r e / U n i v e r s , 1 9 8 0 ) , p p . 1 3 e s s .
12. Não é d e s p r o p o s i t a d o e s t a b e l e c e r p a r a l e l o s e s t r e i t o s e n t r e a t rad ição
a r t e s a n a l e a c a v a l a r i a . O s t r a t a d o s d e R a i m o n L l u l s ob r e os dois
t e m a s ,
b e m
com o
a
t r a m a
q u e e n v o l v e o m a g o M e r l i n e o r e i
A r t h u r ,
i n d i c a m i n c l u s i v e u m a c e r t a r e l ação de c o m p l e m e n t a r i e d a d e e n t r e
a m b a s .
1 3 . C o n h e c i d o c o m Compositione a d tingenda musiva o u M a n u s c r i t o d e
L u c c a ,
o
t ex to
q u e t e m o
m o d o
d e t í t u lo o
n o m e m u i t o m a i s e xt e n s o
e
s u g e s t i v o d e
Compositione
a d tingenda musiva,
pelles,
et alia, a d
deaurandiim ferrum, ad mineralia, ad chrysographia, ad glutina,
quaedam confacienda, aliaque artium documenta, an te ann os nongen -
tos
scripta, r e p r es e n t a — j u n t o a o u t r o opúsculo p r a t i c a m e n t e c on t e m
po rân eo e t am bém anôn im o , o ch a m a d o Ma ppae Clavicula — a f on t e
m a i s c o p i a d a e r e p r o d u z i d a p el os a r t i s t a s , p a r t i c u l a r m e n t e p e los p i n
t o r e s , e n t r e os séculos X e X V . A m b os os t r a t a d o s r e co l h e m c o m g r a n d e
p rec i são u m col e ção he t e rogênea d e a r t i g o s d e f on t e s l i t e r a i a s c lás s i
ca s ( T e o f r a s t o , P l ín i o , e t c ) , a l e xa n d r i n a s ( r ep e t i çõe s d e f r a g m e n t o s d o s
p a p i r o s
d e
S t o k o l m o
e
L e y d e n )
e d a t r a d i ç ão
o r a l c i r c u l a n t e
n a s
o f i c inas d a It á l ia u m s écu l o ou do i s d ep o i s d e C a r l o s M a g n o . A m b o s s e
i n s c r e v e m e m u m a h i s tó ri a l it e r ár i a q u e r e m o n t a a os t a b l e t e s d a
b i b l i o t e c a d e A s s u r b a n í p a l , c e rca d e 6 5 0 a C ( D a n i e l T h o m p s o n , T h e
C o m p o s i t i o n e a d T i n g e n d a ,
Technical
Studies (F og g A r t M u s e u m ,
H a r v a r d ) , v o l . I II , p p . 220 -231 .
H l S T Ó R l A
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 17/18
48
E D U A R D O C A R R E I R A
14 .
Rosá r i o
A s s u n t o , P o e t ic h e ,
Enciclopédia
Universale. delVArte
( V e n e
za/Roma , 1958/1967 ) , vo l . X , p p . 6 7 0 - 6 9 7 .
15 . T o m á s d e A q u i n o , Suma Teológica, I - I I , 57 , 4 ( M a d r i d : E d . C a tó l i ca ,
1954 ) .
V e r t a m b ém
I,
1 4 , 8 :
(...) S c i e n t i a a u t e m a r t i f i ci s
e s t
c a u s a
a r t i f i c i a r u m ; q u o d a r t i f e x o p e r a t u r
p e r s u u m
i n t e l l e c t u m (...). .
16 . A n a n d a C o om a r a s w a m y ,
Traditional Art an d Simbolism
( P r i n c e t o n :
P r i n c e t o n U n i v e r s i t y P r e s s , 19 8 9 ), p p .
2 2 9 .
17. I s i d o r o
d e
S e r v i l h o ,
E timologias,
L i r o
I,
c a p .
I , a r t . 2
e
3
( Ma d r i d :
E d .
B i b l i o t e c a d e
A u t o r e s C r i s t i a n o s , 1 9 54 ),
p p . 6 .
18 .
M i g u e l C o n t r e ra s
e t a l t . ,
Atlas
Iconográfico de
la
M itologia Griegal
Romana,
v o l . II ( B a r c e l on a : E d . B e l l a t e r r a , 1 98 3 ), p p .
2 1 9 .
19 . A l e s s a n d r o
C o n t i ,
L ' E v o l u z i o n e
d e i
A r t i s t a ,
i n Storia delVArte Itali
ana, v o l . II (T u r i m : E d . G i u l i o E i n a u d i , 1 969 ) , p p . 2 0 8 .
20 .
G r e g o r i o M a g n o , Epistolae, i b d e m , n o t a 1 1 . H á u m a g r an d e co inc idên
c i a
e n t r e e s t e a s p e c t o
d a
a r te m e d i e v a l e a l g u n s
p r inc íp ios da
a r t e
h i n d u e d a
a r t e
taoís ta
r e l a c i o n a d o s
às idé ias d e rasa e ching,
r e s p e c
t i va m e n t e . E d u a r d o C a r r e i r a , L o s T r a t a d o s d e P i n t u r a M e d i e v a l e s .
( B a r c e l o n a : t e s e d o u t o r a i , m i m e o , 1 9 9 2 ),
p p . 2 6 3 e s s .
21 . A o m e n os é e s t a a p o s t u r a d a q u e le s cr istãos v i n c u l a d o s a u m a p e r s p ec
t i v a m a i s
m ís t i ca ,
c omo
o
M e s t r e E c k h a r t , p a r a q u e m (...)
a
a l m a
só
a t i n g e a s u p r e m a b e a t i tu d e e n t r a n d o
n a
d i v i n d a d e d e s e r t a on d e
não
e x i s t e n e m o b r a n e m i m a g e m (...). Sermones, I, 3 {Opere, v o l . I , R o m a :
E d . M a l l a t e s t a , 1 9 8 2).
22. S c h a e f e r , J e a n O w e n s : S a i n t L u k e
a s
P a i n t e r : F r o m S a i n t
to
A r t i s t ,
i n
Artistes, Artisan s et P roductioti Artistique ou Moyen Age, c o l .
I
( R e n n e s / P a r i s : E d . U n i v e s i té d e R e n n e s , 1 9 8 3 / 1 98 6 ), p p . 4 1 4 . V e r
t a m b é m T o m á s d e
A q u i n o ,
Suma Teológica, I I I , 25 , 3
e
4 ( Id e m
n o t a
15) .
23 .
R o g e r B a c o m ,
Opus
Maius, v o l .
I I , 3 ( i n
Y a r z a ,
p p .
1 9 4, i d e m n o t a
1 0 ) .
24 .
C a s s i d o r o ,
D e
A r t i b u s
e t D i s c i p l i n i s
L i b e r a l i u m
A r t iu m , P I . 70 , co l .
1 1 5 1
( i n
A s s u n t o
Rosár io , e En ciclopedie delVOcc idente M edievale,
T u r i m : E d . L o e s c h e r , 1 9 8 1 ).
25 . T o m á s d e
A q u i n o ,
Suma Teológica, I- I I ,
5 7 ,
3
( Ib i d e m n o t a
15 ) .
26 . U m b e r t o E c o , I b i d e m n o t a
1,
p p .
1 3 9 .
27. (...) E n t ã o co m o p e q u e n o m e m b r o e x e r c i t a n t e n a a r t e d a p i n t u r a ,
C e n n i n o d ' A n d r e a
d a
C o l le
d e
V a l d e l s a n a t o,
f u i
i n f or m a d o
n a
d i t a a r t e
d o z e a n o s
p o r
A g n o lo
d e
T a d d e o
d e F lo re n ça m e u
m e s t re , o q u a l
a p r e n d e u
a
d i t a
a r t e
d e
T a d e o
s e u
p a i ;
o
q u a l
s e u p a i fo i
b a t i z a d o
p o r
G i o t t o e
fo i s e u d i s cípu lo
a n o s v i n t e e q u a t r o . (...) A p i n t u r a m e r e c e
T
E X T O S D E
7/23/2019 O Pincel Invisível Do Pintor - Notas Sobre o Simbolismo Iniciático Nas Artes Medievais
http://slidepdf.com/reader/full/o-pincel-invisivel-do-pintor-notas-sobre-o-simbolismo-iniciatico-nas-artes 18/18
O P I N C E L I N V IS Í VE L D O P I N T O R 4 9
e s t a r s e n t a d a
a o
l a d o
da c i ênc i a e s e r
c o r o a d a
d e
p o e s i a
(...) •
Libro
delVArte,
c a p . I ( V oi c e n z a : E d . N e r i P o z z a , 1 9 7 1 ), p p . 2/3.
28 . N e s t e l i v r o você poderá e n c o n t r a r os e n g e n h o s d o b o m f id a l g o A l e s s i s
F u l l i b i e n m e u a v ô o
q u a l
s e
c h a m a
o
s e n h o r
d e
M o n t g n i e ,
você
l e m b r e
d e l e e d e
t o d a
s u a
l i n h a g e m
d e
a r q u i t e t o s . Carnet
de Villard de
Nonnecourt ,
v o l . l / v e r so ( P a r i s : E d . C e n t r e N a t i o n a l
d e s
L e t t r e s , 1 9 8 6 ).
29 .
M u r a t o v a ,
X e n i a :
R e m a r q u e r
s u r 1 'Im a g e s o à a l e e L i t t é r a i r e d e
1 'A r t i s t e a u M o y e n A g e , i n
Artistes, Artisan s et Prodiiction Artistique
au Moyen Age, v o l . I
( R e n n e s / P a ri s : E d .
U n i v e r s i t é d e
R e n n e s ,
1 9 8 3 /
1986 ) ,
p . 5 7 .
H l S T Ó R l A